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COMPREENSÕES DO CONCEITO DE INFORMAÇÃO: TRADUZINDO INSCRIÇÕES DE ESPECIALISTAS À LUZ DA EPISTEMOLOGIA POLÍTICA DE BRUNO LATOUR

Understanding of the information concept: translating expert registration based on Bruno Latour's political epistemology

RESUMO

Objetivo:

Aborda compreensões de cientistas da informação acerca do conceito de informação. Especificamente, discute inscrições desses especialistas à luz da epistemologia política de Bruno Latour.

Método:

Sob abordagem metodológica da semiótica material, utiliza a noção de “inscrição” e o procedimento de “tradução” para fins de descrição e análise bibliográficas das inscrições de especialistas estrangeiros e brasileiros via questionário.

Resultado:

Constata diferentes redes semiótico-materiais que compreendem o conceito de informação. Dentre outras, compreende-o como multifacetado e polissêmico, partilham conceituações próprias e outras que utilizam a própria literatura para tal conceituação.

Conclusões:

A construção dessas redes semiótico-materiais que compreendem o conceito de informação por meio de Bruno Latour permite apreender as relações entre saberes e interesses contraditórios do conhecimento científico, enquanto processos de identificação e diferenciação político-epistemológicos, para além de qualquer purificação disciplinar objetivista via epistemologia informacional ou epistemologia ciência da informação.

PALAVRAS-CHAVE:
Epistemologia; Ciência da Informação; Conceito de Informação; Cientistas da Informação; Bruno Latour

ABSTRACT

Objective:

It addresses understandings of information scientists about the concept of information. Specifically, it discusses the inscriptions of these specialists in the light of Bruno Latour's political epistemology.

Methods:

Under a methodological approach of material semiotics, it uses the notion of “inscription” and the procedure of “translation” for the purpose of description and bibliographic analysis of the inscriptions of foreign and Brazilian specialists via questionnaire.

Results:

It notes different semiotic-material networks that comprise the concept of information. Among others, they understand it as multifaceted and polysemic, they share their own conceptualizations and others that use the literature itself for such conceptualization.

Conclusions:

The construction of these semiotic-material networks that comprise the concept of information through Bruno Latour allows apprehending the relationships between knowledge and contradictory interests of scientific knowledge, as processes of political-epistemological identification and differentiation, beyond any objectivist disciplinary purification via epistemology informational or information science epistemology.

KEYWORDS:
Epistemology; Information Science; Information Concept; Information Scientists; Bruno Latour

1 INTRODUÇÃO

Comumente, a informação é considerada objeto do conhecimento científico por meio de diferentes bases epistemológicas. Concentra-se no mecanismo de transmissão de informações, desconsiderando os fatores psicológicos desse processo (HARTLEY, 1928HARTLEY, R. Transmission Information. Bell System Technical Journal, v. 7, n. 3, p. 535-563, 1928.), bem como na comunicação de mensagem, afastando-se dos aspectos semânticos da informação (SHANNON, 1948SHANNON, E. C. A Mathematical Theory of Communication. System Technical Journal, [s.l.], v. 27, p. 1-55, jul. 1948. Disponível em: https://people.math.harvard.edu/~ctm/home/text/others/shannon/entropy/entropy.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023.
https://people.math.harvard.edu/~ctm/hom...
). Assim, parte da epistemologia da informação desenvolve um processo de purificação do conhecimento via epistemologia natural, desconsiderando a complexidade conceitual inerente a qualquer objeto do conhecimento e suas relações transdisciplinares, cuja produção social traz consigo tanto questões epistemológicas quanto políticas, além de aspectos históricos, semânticos, culturais e até institucionais. Também são encontradas discussões que buscam compreender o conceito de informação em torno de diferentes disciplinas, áreas do conhecimento e suas relações, seja com história, teoria da comunicação, biologia molecular, pedagogia ou a própria filosofia (CAPURRO; HJØRLAND; 2003CAPURRO, R.; HJØRLAND, B. The Concept of Information. Annual Review of Information Science and Technology, [s.l.], v. 37, section 4, p. 343-411, 2003. Disponível em: http://www.capurro.de/Capurro_Hjoerland.pdf. Acesso em: 22 mar. 2022.
http://www.capurro.de/Capurro_Hjoerland....
; CUNHA, FELIX, 1970CUNHA, F.; FÉLIX, M. O conceito de informação na ciência contemporânea: coloquios filosoficos internacionais de Royaumont. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. 221 p. v. 2. [Série ciência e informação]. [Coloquios Filosóficos Internacionais de Royaumont].).

Nesse sentido, por um lado, a epistemologia informacional parece pretender, explicitamente, produzir um conhecimento científico que teorize a “informação” enquanto objeto puro. Trata-se de interesses que não conseguem afastar das práticas científicas desejos e escolhas teoréticas enquanto questões políticas inerente à produção (social) das ciências. Podendo-se, dessa forma, não se importar com os movimentos de politização do conhecimento científico via epistemologia.

Por outro lado, no caso da epistemologia do que se convencionou chamar de “Ciência da Informação” isso diz respeito aos processos de convergência e divergência disciplinares ocorridos contraditoriamente na área, que, inclusive, de algum modo, perpassa questões relacionadas ao objeto “informação” e sua conceituação. Por exemplo, Haroldo Borko, psicólogo e participante da então equipe de Tecnologia de Sistemas de Informação da System Development Corporation, afirmou em seu ensaio Information Science: what is it? que, desde que o American Documentation Institute (Instituto Americano de Documentação) votou por alterar seu nome para American Society for Information Science (Sociedade Americana de Ciência da Informação), os chamados cientistas da informação tiveram que explicar forçosamente o que seria essa disciplina que se preocupa com a natureza, os processos e os fluxos da informação, enquanto objeto científico (BORKO, 1968BORKO, H. Information Science: What Is It? American Documentation, [s. l.], p. 3-5, 1968. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EdbertoFerneda/k---artigo-01.pdf. Acesso em: 17 nov. 2022.
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).

Assim, o escopo tecnocientífico da Ciência da Informação deveria representar diferentes membros advindos de outros saberes por meio daquela instituição, cujos interesses e fundamentos epistemológicos, relacionados aos processos de organização e preservação dos registros do conhecimento, estariam a partir dali sobrepostos via interesses contraditórios. Desde então, vem se tentando compreender as condições de produção acerca da informação enquanto objeto científico de uma ciência - a Ciência da Informação, ponderando mais ou menos sua complexidade conceitual de natureza aporética, perpassando o jogo de diferenciação entre questões simbólicas e materiais, epistemológicas e políticas, dentre outras.

Com base nisso, enfatiza-se a necessidade de apreender as questões epistemológicas da Ciência da Informação via abordagem político-epistemológica, considerando, no caso, o conceito de informação, via complexidade coexistente em termos semântico-materiais “naturalmente” produzida em quaisquer redes do conhecimento científico e para além deste. Toma-se, assim, a ciência como uma produção nem mais, nem menos social para além de uma epistemologia pura que visa politizar qualquer arcabouço epistemológico das ciências (LATOUR, 2004aLATOUR, B. Politicas da natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru, SP: EDUSC, 2004a.; STENGERS, 2002STENGERS, I. A invenção das ciências modernas. São Paulo: Ed. 34, 2002.).

Entretanto, ressalta-se que, não se trata da epistemologia informacional ou da própria Ciência da Informação enquanto escopos de abordagem teórico-metodológica, que poderiam se ater às investigações científicas via procedimentos filosóficos aplicados aos problemas do conhecimento, sem querer se afastar de questões políticas. Mas, a partir da epistemologia política de Bruno Latour, a produção das ciências pode ser considerada como efeito da relação construída entre os epistemólogos e suas condições de produção política do conhecimento científico e outros saberes (LATOUR, 2004aLATOUR, B. Politicas da natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru, SP: EDUSC, 2004a.). E, desse modo, compreender como esse tipo de ação técnica e política tenta manter o controle dos conflitos “sociais”, a fim de afastar a prática científica dos interesses político-institucionais inerentes ao conhecimento científico compartilhado no mundo material - cuja inquietação política é até mais forte, como vimos anteriormente em Borko (1968BORKO, H. Information Science: What Is It? American Documentation, [s. l.], p. 3-5, 1968. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EdbertoFerneda/k---artigo-01.pdf. Acesso em: 17 nov. 2022.
https://www.marilia.unesp.br/Home/Instit...
).

A respeito, em consonância com Ortega (2004ORTEGA, C. D. Relações históricas entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. DataGamaZero, Rio de Janeiro, v. 5, n. 5, p. 16, 2004. Disponível em: http://www.brapci.inf.br/index.php/article/view/0000002048/e908b9a74b0fb8f5aff3bd1881eec6b2/. Acesso em: 27 jul. 2022.
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), deve-se considerar a história das instituições, profissões e disciplinas científicas, principalmente, aquelas responsáveis pelos processos de organização e preservação da informação registrada (como biblioteconomia, documentação, ciência da informação), sobretudo, em termos de convivência interdependente, ora via conflitos, ora em termos de dominação ou assimilação. Isso possibilitaria compreender a complexidade conceitual de um objeto, como a informação, enquanto fenômeno de produção social. No caso, tais limites e alcances teórico-conceituais e metodológicos são tanto delimitados quanto atravessados pela prática científica socialmente construída, por exemplo, pelos chamados cientistas da informação1 1 Cientista da informação pode ser definido como uma pessoa formada, treinada e, sobretudo, atua como pesquisador(a), educador(a) ou especialista no campo da Ciência da Informação, colaborando efetivamente com pesquisas, criando e desenvolvendo conceitos, teorias e técnicas de manipulação dos registros do conhecimento e informações (ALVARADO-URBIZAGASTEGUI; OLIVEIRA, 2008). , enquanto “especialistas” da área, e outros não especialistas. Logo, a trama do desenvolvimento histórico e da consolidação epistemológica de uma “Ciência da Informação” - com “c” e “i” maiúsculos - transborda diferentes aspectos epistemológicos, políticos, institucionais e culturais.

A partir disso, conjectura-se que a epistemologia da Ciência da Informação não contém dificuldades em sua formação teórico-metodológica apenas devido ao grau elevado de aporia conceitual contida no objeto informacional. Pois, a complexidade conceitual da informação, tomada como objeto disciplinar e científico, é produto de uma produção social do conhecimento devidamente atravessada por questões de natureza filosófica, epistemológica, ontológica e política. E isso implica questionar as condições de produção político-epistemológica tanto da informação enquanto “objeto” científico, quanto dessa noção epistemológica de complexidade condicionada puramente a esse fenômeno social, “de” uma ou mais ciências.

Considerando esse contexto de produção, questiona-se como cientistas da informação compreendem o conceito de informação. Especificamente, discute inscrições desses especialistas à luz da epistemologia política interpretada pelo filósofo francês e antropólogo das ciências Bruno Latour2 2 Foi um dos fundadores dos chamados Estudos da Ciência e da Teoria do Ator-Rede, cujo foco de pesquisa busca analisar a atividade científica enquanto produção social do conhecimento, considerando seus interesses contraditórios e conexões entre atores humanos e não-humanos, epistemologia e política, natureza e cultura, sob princípio de simetria generalizada. . Metodologicamente, baseia-se na semiótica material para encaminhar nossa abordagem do conhecimento científico, considerando especificamente a compreensão conceitual da informação. Utiliza-se a noção de “inscrição” e o procedimento de “tradução”, para interpretar e descrever bibliograficamente inscrições obtidas por meio de respostas via questionário enviado a cientistas da informação.

2 TRADUÇÕES DE INSCRIÇÕES DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO A PARTIR DA SEMIÓTICA MATERIAL

Enquanto produção social, o conhecimento científico é construído a base de elos de significação material construídos socialmente no mundo. As condições de produção do processo discursivo produzido pela prática científica têm a linguagem como agência transformadora das relações entre humanos e não-humanos, natureza e cultura, sujeito e objeto, epistemologia e política. Ela se constitui por meio de jogos de inscrição resultantes da própria produção tecnocientífica, atravessando a materialização da produção do conhecimento em termos de estabilização e socialização.

Nesse contexto, algumas abordagens teórico-metodológicas visam estudar a materialidade do conhecimento científico enquanto produção social resultante de múltiplas relações de significação e materialização. Dentre elas, a semiótica material é um conjunto de ferramentas e sensibilidades para explorar como as práticas do mundo são tecidas de fios, formando tramas que são simultaneamente semióticas e materiais, uma vez que são relacionais carregando significados e tratam do mundo físico apanhado e moldado nessas relações (LAW, 2019LAW, J. Material Semiotics. Heterogeneities, [s. l.], p. 1-19, 2019. Disponível em: www.heterogeneities.net/publications/Law2019MaterialSemiotics.pdf. Acesso em: 4 abr. 2022.). Dessa forma, busca-se compreender as diferentes práticas das ciências, com base em seus próprios fios tecidos em termos de significação materialmente estabilizados nos discursos científicos. Isto é, para além da semiótica tradicional - que foca sua observância no simbolismo discursivo ou ideológico - atém-se, no caso, às próprias relações da materialidade simbolicamente construída, enquanto efeitos de qualquer produção social presentes no mundo.

São fios que se definem nas relações entre diferentes atores humanos e não-humanos já em redes coproduzidas técnica e socialmente, logo, redes sociotécnicas, enquanto efeito da produção social do conhecimento técnico e científico. Carregam consigo múltiplos significantes materializando tais atores já presentes e distribuídos em discursos científicos. Assim, a linguagem é um tecido do aparato material da produção tecnocientífica, como agência do conhecimento. Pois, sabe-se que os atores-redes se estabelecem, se agenciam, via rastros construídos histórico e discursivamente nesse tipo de produção social, resultando como condições de produção semiótico-material entre as ciências, a própria filosofia e outros saberes.

Pondera-se que tais discursos se estabelecem por meio de uma produção semiótico-material devidamente inscrita. Latour (2001LATOUR, B. A esperança de Pandora: ensaio sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, 2001.) define “inscrição” como uma operação “anterior” à escrita, cujo funcionamento desse conceito com o mundo serve para resumir todos os tipos de transformação que materializam uma entidade em signo, representando e se representando em um documento, um pedaço de papel, um traço, e até enunciados e discursos em geral. A inscrição é um processo semiótico-material cuja produção social atravessa a própria linguagem, no qual atores humanos e não-humanos, por exemplo, uma pessoa e um lápis, uma autora e seu texto, produzem simbolicamente “outros” (“novos”) atores em cadeia (redes) e associações no e com o mundo material - intermediados ou mediados por outras redes de atores, como a história, a subjetividade, a cultura, a tecnologia e a sociedade.

Apreende-se, então, a “inscrição” como fundamento nocional da semiótica material cuja prática mapeia discursos científicos, enquanto abordagem teórico-metodológica desse estudo. Entretanto, segundo o próprio Latour (2001LATOUR, B. A esperança de Pandora: ensaio sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, 2001.), vale ressaltar que, por vezes de forma usual, mas nem sempre, as inscrições são bidimensionais e estão sujeitas a superposição e combinação. Elas são sempre móveis, ou seja, permitem novas traduções, e ao mesmo tempo mantêm intactas algumas formas de relação. Por isso, elas também são chamadas “móveis imutáveis” - termo que enfatiza o movimento de deslocamento e as exigências contraditórias da tarefa” (LATOUR, 2001LATOUR, B. A esperança de Pandora: ensaio sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, 2001.).

A partir disso, constrói-se movimentos de inscrição por meio de um procedimento chamado de “tradução”. Em suma, trata-se de um artifício metodológico oriundo das reflexões desenvolvidas de Michel Serres. Matemático e filósofo francês abordou temas como o tempo, o espaço, os números e a comunicação, discutindo as formas de transferência e transformação do conhecimento acerca de diferentes conteúdos e contextos de produção relacionados à filosofia, às guerras, à matemática e até à informação. Inclusive, de acordo com o próprio Latour (2012LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Salvador; São Paulo: Edfuba; Edusc, 2012.), esse filósofo mostra como a informação e comunicação, em geral, operam através de um todo em série de transformações, transportes e traição, que, em suma, há comunicação apenas sobre um fundo de ambiguidade e de não compreensão.

A tradução se constitui como cartografia que observa o mundo material e produz deslocamentos e articulações “com” linguagens e discursos, transformando conhecimento por meio múltiplos interesses. É um mecanismo que conecta diferentes atores, de modo que, pessoas e coisas, sujeitos e objetos, traduzidos em múltiplas redes de interesse, constroem fluxos de ação e mobilizam a prática entre pensamento, informação e realidades simbolicamente materializadas. Há nessas ações de tradução um movimento de fluidez desenvolvido pela própria construção e constatação do conhecimento por meio de suas práticas de informação e comunicação.

A tradução aqui desenvolvida buscou mapear a dinâmica de discursos tecnocientíficos relacionados especificamente ao conceito de informação, considerando movimentos de interpretação e negociação textual, como processos analíticos de construção da realidade aplicados pela semiótica material (LATOUR; BASTIDE, 1986LATOUR, B; BASTIDE, F. Writing Science - Fact and Fiction: the analysis ofthe processo/reality construction through the application of socio-semiotic methods to scientific texts. In: CALLON, Michel; LAW, John; RIP, Arie (eds.). Mapping the dynamicsofscience and technology: sociology of science in the real world. London: Palgrave Macmillan, 1986. Cap. 4, p. 51-66.). Para tanto, na pesquisa geral, foram alistados alguns cientistas da informação da comunidade acadêmica nacional e internacional, para responder a um questionário semiestruturado com 5 questões - tratando desde o conceito de informação até as condições efetivas da interdisciplinaridade na área. De um total de 40 pesquisadores, somente 11 pesquisadores responderam às perguntas. No entanto, nesse momento, nossa atenção é direcionada somente a seguinte questão: “como você compreende o conceito de informação?”

Como critérios de delimitação e escolha, valeu-se dos pesquisadores em destaque na produção científica sobre epistemologia (geral), interdisciplinaridade (específico) e/ou interdisciplinaridade na ciência da informação, nível nacional e/ou internacional - considerando, sobretudo, os índices de produção elencados por Francelin (2018FRANCELIN, M. M. Epistemologia da Ciência da Informação: evolução da pesquisa e suas bases referenciais. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 23, n. 3, p. 89-103, jul. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pci/a/LNf9PZshWv9HhXWzFwGKN9k#. Acesso em: 8 set. 2023.
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) e Silva e Freire (2020SILVA, Tiago José da; FREIRE, Isa Maria (org.). Epistemologia e historiografia na ciência da informação. João Pessoa: Editora UFPB, 2020.). Isto é, são cientistas que discutem, dentre outras questões, epistemologia da Ciência da Informação, a interdisciplinaridade e a informação. A partir disso, alistamos os seguintes porta-vozes:

Quadro 1
Porta-vozes da pesquisa

Ressalta-se que se desenvolveu uma codificação simbólico-numérica para categorizar e descrever analiticamente as inscrições advindas das falas desses porta-vozes, por exemplo, PV1, PV2 e assim por diante (ver Apêndice A). Por questões éticas, tal procedimento foi definido para não identificar a relação direta entre os nomes dos pesquisadores e as respostas obtidas.

A partir de tais fundamentos e instrumentos, foi possível abordar a conceituação de informação e, por conseguinte, discutir tais compressões com a epistemologia política de Bruno Latour, além de intercalar tais discussões com a literatura da área. Ressalta-se, contudo, que, tais redes foram atravessadas pelo próprio jogo de inscrição e tradução, ao apresentar múltiplos interesses acerca do conceito de informação, que são devidamente preservados, tecnicamente estabilizados e construídos discursivamente (via coleta de dados, citação, interpretação, interpolações e/ou argumentação) e, novamente, traduzidos na própria pesquisa via comunicação, produção e representação semiótico-materiais.

3 COMPREENSÕES DO CONCEITO DE “INFORMAÇÃO”: TRADUZINDO INSCRIÇÕES DE ESPECIALISTAS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS

Constatou-se uma multiplicidade de inscrições diferentes e contraditórias que compreendem o conceito de informação. São inscrições ora bastante comuns, ora com aspectos bem diferentes em termos de produção terminológica e conceitual presentes e distribuídas nessas redes que compreendem tal conceituação. Tais redes semiótico-materiais alistam e negociam as traduções representadas nas relações entre as respostas dos porta-vozes (novamente, ver Apêndice A), a literatura da área e outras traduções aqui delineadas no próprio texto com base nos escritos de Bruno Latour. Isto é, são redes de interesses complexas de significação material tecnicamente estabilizadas e produzidas socialmente.

Os PVs 1, 6 e 11 denominaram o conceito de informação como “multifacetado”, de “muitos significados diferentes” e “polissêmico”, respectivamente. Enquanto isso, os PVs 2, 4 e 9 buscaram elaborar “sua própria” definição. E outros (3, 5 e 10) subscrevem concepções de informação já comunicadas na própria literatura, utilizando-se de autores tecnicamente representados com ou sem datas, por exemplo, “Aldo Barreto”, “González de Gómez (1999)”, “Capurro, Hjørland e Frohmann”, “Saracevic (1999)”, “Borko (1968BORKO, H. Information Science: What Is It? American Documentation, [s. l.], p. 3-5, 1968. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EdbertoFerneda/k---artigo-01.pdf. Acesso em: 17 nov. 2022.
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)” e “Belkin”3 3 Ressalta-se que tais dados textuais não se configuram tecnicamente como citações, embora possa parecer, a fim de serem referenciadas no final do texto. São menções obtidas da própria pesquisa, uma vez que foram extraídas (ipsis litteris) do questionário, que foi enviado aos cientistas da informação. Por isso, tão somente expostos como menções entre aspas. . Dessa maneira, essas redes semiótico-materiais apresentam diferentes cadeias de inscrição que perpassam as compreensões e a transformação do conceito de informação.

Primeiro, a multiplicidade de sentidos dados à informação ocorre devido tanto à pluralidade de outros significantes conectados simbolicamente na materialização conceitual de informação quanto ao próprio processo de significação que atravessa quaisquer movimentos de inscrição, resultante da produção social de caráter simbólico-material. Enquanto efeitos dessas redes, as compreensões dos PVs 1, 6 e 11 traduzem-se, a nosso ver, como aquilo que González de Gómez (1990) chamou de “desencontro da informação com ela mesma”. Pois, ainda que o conceito de informação seja produzido simbolicamente e materializado enquanto processo de delimitação conceitual - como algo “multifacetado e polissêmico”, por exemplo -, observa-se que tal conceituação precisa estar atenta tanto aos limites naturalmente compreendidos pela representação social quanto ao alcance que tal representação possibilita enquanto movimentos de estabilização e desestabilização discursivos.

De outra maneira, a conceituação de informação parece negociar com aquilo que Latour (2004bLATOUR, B. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. In: PARENTE, André (org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2004b. p. 39-63.) chamou de “móveis imutáveis”, para distingui-la dos “signos”, ou melhor, dos dados, logo, de sua aparência amorfa. E, nesse sentido, define informação como uma

relação estabelecida entre dois lugares, o primeiro, que se torna uma periferia, e o segundo, que se torna um centro, sob a condição de que entre os dois circule um veículo que dominamos muitas vezes forma, mas que, para insistirem seu aspecto material, eu chamo de inscrição (LATOUR, 2004bLATOUR, B. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. In: PARENTE, André (org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2004b. p. 39-63., p. 40, grifos do autor).

A informação se colocaria no “entre meio” desses dois lugares pontuados por Latour (2004bLATOUR, B. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. In: PARENTE, André (org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2004b. p. 39-63.). Uma vez sendo produzida conceitualmente, mas logo movimentada como inscrição, tal relação precisa desenvolver-se na complementaridade de dois, quiçá, três processos, cuja produção social parece se colocar em movimentos ininterruptos de desordem-ordem/desordem, abertura-fechamento/abertura. Eis o jogo da compreensão simbólica do conceito de informação por meio de palavras, números, símbolos, enunciados e outras inscrições. Assim, deve-se apreender a demarcação e a abrangência que qualquer materialidade, também simbólica, permite desenvolver-se no mundo das inscrições por intermédio de possíveis conexões (consideradas informacionais, mas já des-informadas) entre histórias sensíveis, pensamentos aparentemente estabilizados e (outras) linguagens a serem compostas e comunicadas.

Daí que reintroduzimos o conceito de informação como um construto epistemológico que procura resgatar o construto cultural moderno da informação como operador de relação. Esse operador de relação indica o ponto ou momento sobre o qual se instala as ações de transferência de informação, desdobrando-se em duas linhas principais de intervenção: através dos arcabouços sociais de transferência de informação e dos operadores informacionais da transferência (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1995GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. A informação: dos estoques às redes. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-11, 1995. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/611. Acesso em: 25 jul. 2022.
http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/...
, p. 8).

No que refere a outras definições de informação, alguns PVs apresentaram “suas próprias” conceituações. Os PVs 2, 4 e 9 conceituaram-na como “conhecimento em estado compartilhado”, “ações de informação” e “princípio de organização e ordem, promotor de sentido para gerar conhecimento e produzir realidades”, respectivamente. Ainda que se identifiquem aspectos nocionais comuns, principalmente, a partir da noção de “conhecimento”, cuja conceituação se definiria por meio de uma relação gnosiológica a fim de produzir sentidos, observa-se um processo de diferenciação conceitual aqui inscrito. Pois, trata-se de uma relação simbólico-material a partir da qual se estabelece o processo informacional sob a tutela de uma certa comunicação gnosiológica (CAPURRO, 1978CAPURRO, R. Information: Ein Beitrag zur etymologischen und ideengeschichtlichen Begründung des Informations-begriffs. Müchen: Saur, 1978. Disponível em: http://www.capurro.de/information.html. Acesso em: 21 set. 2022.
http://www.capurro.de/information.html...
).

Tais conceituações fariam certamente parte de um escopo epistemológico no qual se insere a Ciência da Informação enquanto corpo teórico-metodológico disciplinar preocupado com os processos tecnológicos e sociais da informação, de algum modo, definindo epistemologicamente o tal objeto (informacional) para uma ciência, a Ciência da Informação. Pode-se dizer, todavia, que

A ciência da informação surge após a constituição e expansão de um novo campo de interesses e investimento social ao qual pertence essa “dobra” que diferencia as informações do que seja a informação sobre as informações e que também levou a considerar o conhecimento, a comunicação, os sistemas e usos da linguagem como objetos de pesquisa científica e tecnológica. No recorte que lhe é particular, se o conhecimento é focalizado desde a comunicação, a comunicação do conhecimento é colocada no contexto da ação, das práticas sociais (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1995GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. A informação: dos estoques às redes. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-11, 1995. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/611. Acesso em: 25 jul. 2022.
http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/...
).

Certos tipos de conceituação comumente dobram a própria informação via outros fenômenos, ações ou coisas representadas por alguns tropos, tais como “Tecnologias da Informação”, “Tecnologias da Informação e Comunicação”, “Sociedade da Informação”, “Sociedade do Conhecimento” e até o nome “Ciência da Informação” (DAY, 2001DAY, R. The modern invention of information: discourse, history, and power. [s.l.]: Southern Illinois University Press, 2001.). Isto é, uma vez que se forma simbolicamente a informação, sua materialidade produz menos ou mais informação e outras informações, seja de cunho tecnológico, comunicador, científico, etc. Desse modo, para Saldanha (2020SALDANHA, G. S. Ciência da Informação: crítica epistemológica e historiográfica. Rio de Janeiro: IBICT, 2020.), a epistemologia da Ciência da Informação tomou emprestado os objetos de análise de disciplinas da organização do conhecimento, como a bibliografia, a documentação e a biblioteconomia, relacionando-os ao contexto favorável da grande corrida modernista do séc. 20. Seria a informação um objeto de poder, enquanto poder da informatização, ou seja, uma corrida pela representação.

Pode-se dizer que isto diz respeito à constitutividade daquilo que se chamou “meta informação”, isto é, informação sobre informações. Como se uma representação aplainasse outrem, seja dado, conhecimento, tecnologia, saber, comunicação, etc. Segundo González de Gómez (1995, p. 1), “Isto não acontece, porém, de maneira imediata e sem ressalvas”, tal como um dos frutos do estatuto científico desta considerada ciência - “da (ou para a) informação” - seja ela própria considerada solução ou sintoma. Visto que, tal processo é condicionado como um efeito da trajetória epistemológica do ocidente via status científico ou cientificista propagado pela modernidade (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1995GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. A informação: dos estoques às redes. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-11, 1995. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/611. Acesso em: 25 jul. 2022.
http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/...
).

Assim sendo, isso se alastra tanto em sua caracterização institucional quanto objetiva. Pois, ao afirmar simplesmente que a informação é um fenômeno, tal como objeto de uma ciência, assim como uma Ciência “da” Informação, prende-se a epistemologia a um poder distintivo, a um só tempo, cientificista e objetivista. Isto é, por um lado, uma politização epistemológica de uma Ciência - feita para a informação, e, por outro, inversamente, uma fetichização por um objeto - a informação - preso por uma Ciência; assim, a “Ciência” da “Informação” com “c” e “i” maiúsculos.

Nesse sentido, para Latour (2002LATOUR, B. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru; São Paulo: EDUSC, 2002.), em sua reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches, ao considerar-se um objeto simplesmente inanimado ou animado feito pelo homem ou produzido pela natureza, quando atribuindo-o um poder sobrenatural e prestando-lhe culto, constrói-se, então, um fetiche (LATOUR, 2002LATOUR, B. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru; São Paulo: EDUSC, 2002.). E, segundo Saldanha (2020SALDANHA, G. S. Ciência da Informação: crítica epistemológica e historiográfica. Rio de Janeiro: IBICT, 2020.), no caso da Ciência da Informação, trata-se de uma “fábula da criação” epistemológica, visto que não se dá conta que, ao emponderar tão somente a informação enquanto objeto de e para uma ciência, convém ser produto do imaginário coletivo de uma névoa bélica instituída pela revolução tecnológica (dita informacional). Pois, assim, ela - a Ciência da Informação - toma emprestado os objetos de análise de disciplinas da organização do conhecimento em um contexto favorável, tendo em vista a corrida do séc. 20 pela “era da informação” e da informatização via tropos de representação, novamente, tais como “sociedade da informação”, “tecnologias de informação”, entre outros.

No entanto, não basta sermos anti-fetichista. Para Latour (2002LATOUR, B. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru; São Paulo: EDUSC, 2002.), é preciso uma operação duplamente socio-lógica a fim de denunciar a construção fe(i)tchista4 4 Termo originário da palavra francesa “faitiche”. Conforme nota do tradutor, em Latour (2002), usa-o a fim de sugerir uma conservação tanto das sutilezas encontradas no sentido de algo “feito” (fato), remetendo à realidade exterior, quanto de “fetiches” (confiança ou desejo), relacionados às crenças absurdas do sujeito, como possível causa interior. Daí, uma construção fe(i)tichista, que, inclusive, traz consigo uma desconstrução simbólico-material do próprio “i”, símbolo tão característico da representatividade distintiva na área em itálico (i). , simultaneamente, exercida ora pelo sujeito sobre o objeto, ora pela energia deste sobre aquele. No caso, a nosso ver, não seria suficiente justificar epistemologicamente que cientistas da informação se apropriam dos registros do conhecimento via conceito de informação, já condicionados teoricamente pela bibliografia ou pela biblioteconomia, por exemplo. E, nem mesmo, construir uma inversão política da epistemologia da Ciência da Informação - via epistemologia crítica - ao considerar, simbolicamente, a possibilidade de uma “ciência sem informação” - como o fizera, discursivamente, alguns epistemólogos da área, segundo o próprio Saldanha (2020SALDANHA, G. S. Ciência da Informação: crítica epistemológica e historiográfica. Rio de Janeiro: IBICT, 2020.), quando se tenta construir uma teorização para esta ciência sem tanto poder distintivo dado à informação.

Compreende-se, então, que, devemos dar importância às mediações, às traduções as quais atravessam a ontologia do objeto e a epistemologia da ciência. Respectivamente, a informação torna-se ora mais, ora menos objetiva (e não objetivista), mas, sobretudo, real, material e presente via suportes (como o livro ou o próprio smartphone; porque não), que possibilitam o registro e a materialização da informação enquanto produção social do conhecimento, bem como ora mais, ora menos disciplinar, interdisciplinar e até transdisciplinar, quiçá, via interesses e relações contraditórias entre a bibliografia, a biblioteconomia, a Ciência da Informação e até a própria matemática (desde que atentas à complexidade do saber via limites e alcances teórico-conceituais e metodológicos).

Assim, as traduções e mediações são semanticamente materializadas, a um só tempo, nos objetos informacionais, nos conceitos de informação e no próprio desenvolvimento epistemológico daquilo que denominamos Ciência da Informação, tanto para além de qualquer fetiche epistemológico e conceitual pela informação, quanto equidistante da crítica epistemológica que também parece politizar, inversamente, a epistemologia da Ciência da Informação. O efeito semântico-material dessas mediações se encontra, por assim dizer, aliado a outro ator humano ou não humano via redes de informação e conhecimento, seja via cientista, epistemólogo, registros do conhecimento, dados, inscrição, etc., ou seja, “um ator-rede naturalmente social”.

Assim, tentamos denunciar tanto os fetiches criados pelos epistemólogos da Ciência da Informação, ao crer em um objeto (informacional) via crenças coisificadas ou ideologizadas, quanto o possível anti-fetiche da informação pela crítica epistemológica via linguagem que, assim como a epistemologia discursiva, parece não se ater aos interesses que permeiam os movimentos purificantes da epistemologia da informação, bem como aos da politização epistemológica da própria Ciência da Informação. Visto que ambas parecem somente querer purificar um objeto, ou um conceito, ou mesmo transcender ao viabilizar nenhum objeto ou conceito epistemologicamente para esta ciência, sem traduzir a conexão entre a teoria do conhecimento e a política, que buscam, respectivamente, compreender filosoficamente a informação e expandir os significantes desse(s) objetos e(m) conceitos por vezes indisciplinados.

Ciente disso, entende-se que essa área pode e deve buscar “redes que a razão desconhece”. Segundo Latour (2004bLATOUR, B. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. In: PARENTE, André (org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2004b. p. 39-63.), especialistas em informações e bibliotecas deveriam não apenas se concentrar nestas últimas; no entanto, em tradução, muito menos naquelas em si, seja em busca tão somente de interesses armazenadores e conservadores, ou apenas visando transcendências informacionais, insisto. Seria abordar textos, livros e outras tecnologias somente sob o prisma da acumulação, tornando sua leitura frágil ao procurar ligar os signos aos mundos que os cercam. A partir disso, laboratórios e coleções não seriam tratados exclusivamente como meros intermediários visando intermediar as relações entre inscrições e fenômenos - por exemplo, um nome de autor e a história ou a subjetividade da pessoa enquanto tal - que não só fabricam corpus documentais, mas, sobretudo, precisa mediar atores já redes - autores são pessoas e cidadãos, e vice-e-versa, se for o caso, que tanto purificam quanto traduzem as almas do conhecimento bibliográfico construído de forma circular e heterogeneamente.

Ressalta-se, contudo, que, isso não seria abandonar nem os fundamentos, nem a ampliação integrativa e institucional da Ciência da Informação - até de qualquer área preocupada com a informação e conceitos afins, as quais, de algum modo, formam-se objetivamente a base de múltiplos conceitos comunicados cientificamente, além da informação. Mas, sim, buscar redes ontológicas e político-epistemológicas que atravessem únicos e múltiplos objetos e conceitos, movimentando-se em processos de identificação e diferenciação. Assim sendo, talvez, revisões da epistemologia social visando uma ecologia sociotécnica do conhecimento à luz dos estudos da ciência possam fornecer um arcabouço epistemológico que compreenda a informação e seu conceito, enquanto ator comum presente em diferentes saberes, para além de uma epistemologia que tenta purificar o conceito de informação para si, politizando a Ciência via epistemologia da Ciência da Informação.

Por fim, os PVs 3, 5 e 10 definiram o conceito de “informação” a partir da própria literatura, especificamente, por meio de citações. No caso, a conceituação de informação passou a ser intermediada por meio de alguns autores/datas, por exemplo, “González de Gómez (1999)”, “Capurro, Hjørland e Frohmann”, “Saracevic (1999)”, “Borko (1968BORKO, H. Information Science: What Is It? American Documentation, [s. l.], p. 3-5, 1968. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EdbertoFerneda/k---artigo-01.pdf. Acesso em: 17 nov. 2022.
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)”. Tais práticas são evidências do registro e uso de citações para fins de representação retórica e técnica do conhecimento científico socialmente comunicado.

Evidencia-se um elo de produção simbólico-material cuja cadeia de tradução produz condições de intencionalidade e reconhecimento. Isso não diz respeito tão somente a procedimentos de legitimação e validação discursivos sob alguma assertiva ou enunciado, por exemplo, como uma definição de conceito. Mas, também, uma prática tecnocientífica de cunho político, uma vez que tais atores humanos e não-humanos, representados, por sua vez, via autores ou datas, trazem consigo fatores psicológicos, econômicos e culturais. Segundo Alvarenga (1998ALVARENGA, L. Bibliometria e arqueologia do saber de Michel Foucault: traços de identidade teórico-metodológica. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 3, p. 253-261, 1998. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-19651998000300002. Acesso em: 1 dez. 2022.
https://doi.org/10.1590/S0100-1965199800...
), mora aqui a importância da Ciência da Informação e outras disciplinas acompanhar-se de visões arqueológicas do saber as quais podem fornecer possibilidades de compreensão do fazer científico para além do campo restrito da epistemologia, considerando a complexidade territorial e existencial dos saberes em sua realidade tendo em vista a profundidade que as representações do saber e comunicação científica carregam consigo.

Tais condições de produção de citações no fazer científico é de suma acuidade para a abordagem semiótico-material dos Estudos em Ciência. Pois, segundo Law (2019LAW, J. Material Semiotics. Heterogeneities, [s. l.], p. 1-19, 2019. Disponível em: www.heterogeneities.net/publications/Law2019MaterialSemiotics.pdf. Acesso em: 4 abr. 2022.), as práticas das ciências se efetivam com base em seus próprios fios tecidos em termos de significação materialmente estabilizados nos discursos e inscrições, seja, por exemplo, via “quase-sujeito” ou um “quase-objeto”, usando termos de Serres (1982SERRES, M. Theory of the Quasi-Object. In: SERRES, Michel. The Parasite. London: Johns Hopkins University Press, 1982. Cap. 4, p. 224-234.).

Este quase-objeto não é um objeto, mas o é, pois não é um sujeito, pois está no mundo; é também um quase-objeto, pois marca ou designa um sujeito que, sem ele, não seria um objeto”, um social. Ele não é um indivíduo; ele não é reconhecido, descoberto, cortado; ele é da cadeia e está na cadeia (SERRES, 1982SERRES, M. Theory of the Quasi-Object. In: SERRES, Michel. The Parasite. London: Johns Hopkins University Press, 1982. Cap. 4, p. 224-234., p. 225).

Nesse sentido, o processo de significação via citações pode se materializar tanto na localização quanto no deslocamento ocorridos na própria ação dos atores-redes envolvidos na trama da linguagem que produz o conhecimento científico (LAW, 2019LAW, J. Material Semiotics. Heterogeneities, [s. l.], p. 1-19, 2019. Disponível em: www.heterogeneities.net/publications/Law2019MaterialSemiotics.pdf. Acesso em: 4 abr. 2022.). Cada entidade, seja um ator humano, representado pelo leitor ou pelo autor - ambos enquanto quase-sujeitos - ou, um não-humano, materializado por uma data ou número de páginas -ambos como quase-objetos - é coproduzida simbolicamente na sua própria rede de inscrição. E, portanto, essa cadeia de comumic-ação e re-presentação via procedimento técnico de citação se materializa coletivamente na interação entre tais atores socialmente construindo redes de comunicação e prática científicas.

Sabe-se que cada processo de estabilização ou desestabilização discursivo carrega consigo uma série de atores que delimitam ou ampliam a rede de inscrição mais que conceitual de um significante, inclusive, no que se refere ao seu procedimento de significação material. Seja ele qual for, depende justamente de sua materialidade já em rede, ou seja, das condições de produção simbólica e material que cada “sujeito e objeto”, “atores humanos e não-humanos”, “leitor e livro”, ou “porta-vozes e frases ou enunciados” são inscritos, traduzidos e deslocados na rede de significação visando mais que o entendimento de uma produção conceitual, sua amplificação. Torna-se interessante se ater à sua aplicação em modos de existência simbólico e material que atravessam, a um só tempo, as demarcações teórico-conceituais instituídas pela epistemologia de um campo (informacional) e as redes (transdisciplinares) das ciências discursivamente produzidas nas compreensões estáveis ou instáveis do conceito de informação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a construção das redes semiótico-materiais que compreendem o conceito de informação por meio de Bruno Latour permite apreender as relações entre saberes e interesses contraditórios do conhecimento científico, enquanto processos de identificação e diferenciação político-epistemológicos, para além de qualquer purificação disciplinar objetivista via epistemologia informacional ou epistemologia Ciência da Informação.

Compreensões acerca dessa conceituação dizem respeito à síntese ou ampliação de aspectos etimológicos, históricos e/ou filosóficos desse objeto construído epistemologicamente dentro e fora da Ciência da Informação, principalmente, em torno de sua aporia semântica representada por uma bastante citada complexidade conceitual. Não obstante, tem-se a impressão de que ao se basear uma conceituação tão somente na complexidade do objeto, no caso a complexidade da informação, não parece compreender os limites e alcances que traduzem a própria compreensão de complexidade. No caso, a complexidade informacional se apresenta, paradoxalmente, mais como algo complicado, em termos simbólicos, do que algo materialmente complexo, de fato.

Conforme alertado criticamente por Saldanha (2020SALDANHA, G. S. Ciência da Informação: crítica epistemológica e historiográfica. Rio de Janeiro: IBICT, 2020.), trata-se de um equívoco epistemológico conjecturar simplesmente a informação como um objeto complexo ao encontro (epistemo-lógico) de uma ciência interdisciplinar, por exemplo. Tal lógica, inversamente proporcional, seria -> um objeto complexo de uma ciência interdisciplinar -> e <- uma ciência interdisciplinar para um objeto complexo. Contudo, é preciso desnaturalizar certa fetichização acerca da concepção de um objeto complexo, assim tratado epistemologicamente, como a informação. E não se trata de não compreender a complexidade informação. Mas, nesse sentido, tentar romper certa purificação epistemológica para fins de uma transformação político-epistemológica, a fim de questionar e aprofundar múltiplos interesses que podem descrever a complexidade coexistente em qualquer objeto. Afinal, como diz aquele autor, não só a informação é um objeto complexo, mas, também, o aborto, eutanásia, medo, verdade, nada, neurônios, energia (SALDANHA, 2020SALDANHA, G. S. Ciência da Informação: crítica epistemológica e historiográfica. Rio de Janeiro: IBICT, 2020.).

Especificamente, discutiu-se como os cientistas da informação compreendem o conceito de informação. Ao problematizar tais compreensões, pode-se dizer que há uma multiplicidade de diferentes e contraditórias inscrições acerca dessa conceituação. Tal característica produzida pela rede semiótico-material aqui cartografada em diferentes discussões, não se trata tão somente de uma variedade de significados dados ao significante ou ao objeto “informação”. Pois, ainda que haja uma particular heterogeneidade simbólica do conceito de informação, foi possível perceber que os PVs da pesquisa materializam inscrições comuns, buscando apresentar uma variedade simbólica desse conceito, mas, ao mesmo tempo, uma variação mais que simbólica, que diz respeito a outros significantes materializados nessa mesma produção social de caráter semiótico-material. Isto é, em síntese, há um jogo de múltiplos interesses, a um só tempo, comum e diferentes, que compreendem o conceito informação.

Objetivamente, denominam tal conceito como multifacetado, de muitos significados e polissêmico (PVs 1, 6 e 11), os subscrevem comunicações cujo conceito já é comunicado na literatura da área (PVs 3, 5 e 10), além daqueles que buscam ampliar tal conceituação em torno de suas próprias e diferentes definições (PVs 2, 4 e 9). De certo modo, isso pode identificar-se com aquilo que, segundo Souza (2011SOUZA, Edivanio Duarte De. A Epistemologia Interdisciplinar na Ciência da Informação: dos indícios aos efeitos de sentido na consolidação do campo disciplinar. 2011. 346 f. Tese (Dourado em Ciência da Informação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Ciência da Informação, Belo Horizonte, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ECID-8P2JNH. Acesso em: 27 jul. 2021.
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/...
), faz parte da construção do objeto de estudo na Ciência da Informação, uma vez que que cada pesquisador se identifica com uma abordagem teórico-metodológica, tentando localizar alguns referenciais da comunidade científica, para considera-los como base de definição de seu campo de abrangência epistemológica.

Contudo, essa cartografia permite alcançar alguns resultados por meio das inscrições semiótico-materiais coproduzidas em redes, que, por sua vez, evidenciam compreensões conceituais topologicamente heterogêneas e singulares, enquanto características marcantes da formação político-epistemológica do conceito de informação. Isso desmonta qualquer tipo de centralidade lógica ou purificação epistemológica que possa super valorizar um ou outro lado que inscreve conceitualmente, seja o autor, o sujeito, a subjetividade, ou, mesmo, o próprio conceito, o objeto, a objetividade. Isto é, não é o cientista, nem o conceito “informação”, mas a própria inscrição e seu processo de tradução quem apreende conceituações (informacionais ou não), trazendo consigo significados, relações e materialização presentes e distribuídas no mundo das palavras e das coisas, dos sujeitos e objetos, dos signos e significantes, dos cientistas e da informação.

Em termos metodológicos, em vez de sintetizar ou ampliar aspectos históricos e epistemológicos acerca de um conceito, área ou tema do conhecimento científico, a perspectiva considerada possibilitou trazer à tona algumas estratégias de discussão para atravessar diferentes saberes e interesses. E, nesse sentido, oferecer um arcabouço teórico-metodológico para a Ciência da Informação e outras áreas, ou discussão qualquer abordar, de algum modo, o conceito de informação articulado com diferentes referenciais, textos e condições de produção objetiva e conceitual. Assim, são estratégias mais abertas que pode evitar certos fetiches informacionais os quais tendem a nos levar não apenas a acreditar piamente na pureza da sociedade da informação que só produz conhecimentos, ou tecnologias de informação como recursos ou ferramentas progressistas. Trata-se, então, de outros interesses teórico-metodológicos que possam auxiliar em novas traduções e compreensões do conceito de informação, dentro e fora da Ciência da Informação com “c” e “i” maiúsculos.

Vale ressaltar que este texto contém limites inicialmente postos a partir de sua própria fundamentação e construção metodológica. Por um lado, devido as peculiaridades que remontam à pesquisa geral, da qual esta parte é retirada, uma vez enfocando tematicamente o conceito de informação a partir das falas de especialistas. Mas, por outro lado, buscando traduzir essas mesmas inscrições ditas especializadas em novas translações que possam apreender o movimento de conceituação em múltiplos e até contraditórios interesses via referência circulante (LATOUR, 2001LATOUR, B. A esperança de Pandora: ensaio sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, 2001.).

Tendo em vista esses limites, surgem certas lacunas as quais podem ser sanadas em novos estudos. Deve-se considerar, inclusive, a vasta obra do filósofo e antropólogo das ciências Bruno Latour a qual oferece diferentes pontos de vista e ângulos de visão, ora mais próximo, ora mais distante das ciências, e da informação - vide sua crítica a essa concepção modernista de ciência pura, aquela com “C” maiúsculo, as crenças dos fetichistas, dentre tantos. Além disso, seus interlocutores, como a filosofia de Michel Serres e seu mecanismo de tradução, enquanto forma de produção de conhecimentos, a proposta cosmopolítica de Isabelle Stengers para pensar a entrada política em saberes ditos positivos, tais como a própria ciência da informação. Ademais, aparecem específicas sugestões relacionadas à singularidade da informação como um conceito especializado dentro e fora da Ciência da Informação, a ampliação desse conceito visando formar novos personagens e planos de referência ou imanência via filosofia e outras ciências, bem como outras traduções ligadas, por exemplo, ao próprio conceito de complexidade, de fetiche, desinformação, etc.

Sendo assim, tem-se a impressão que se deva discutir o conceito de informação “com” a Ciência da Informação, para além de seu cordão aparentemente umbilical, não só em termos epistemológicos, mas político. À luz da ecologia política (LATOUR, 2004), não se tentaria afastar a complexidade do mundo coexistente em qualquer objeto, a fim de politizar a epistemologia da área, e, consequentemente, enfraquecer a epistemologia informacional. Afinal, a tarefa de se produzir uma teoria do conhecimento voltada à informação, talvez fosse mais característico à filosofia da informação.

Por fim, parece um caminho não conceituar a informação, a priori. Apenas, tentar descrevê-la. Tratá-la como um signo, representado em uma letra, uma frase, um livro, um número, ou foto, a nosso ver, seria um equívoco. Todavia, resta compreendê-la como um acontecimento, uma relação, uma condição, uma inscrição.

Trata-se do que acontece em um movimento circular e expansivo, que recorre mais de uma vez aos mesmos pontos para instalar um domínio do movimento (de alguém, de algo, em alguma direção, por alguma razão). Como operador da relação que o movimento constitui, a informação se constitui no agir relacionante como memória da relação (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1995GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N. A informação: dos estoques às redes. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-11, 1995. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/611. Acesso em: 25 jul. 2022.
http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/...
, p. 5).

Será, portanto, que a informação não se insere no escopo epistemológico fetichista de Uma Ciência da Informação com “c” maiúsculo, nem ela mesma seria um objeto-fetiche, sob os ombros das complicadas “sociedade da informação” e “sociedade do conhecimento”? Do mesmo modo, não seria ambíguo tratarmos de uma “sociedade sem informação” - ainda que metaforicamente? Assim, estaríamos distantes de relações simbólicas e materiais cujos interesses são permeados por dentre tantas outras coisas e objetos, informações. Logo, paradoxalmente, mais próximos do mundo relativista das fake news e do mundo real da desinformação que tanto vive a morte da informação, dos fatos des-in-formados. Interessemo-nos por informações em tradução.

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    » https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ECID-8P2JNH
  • STENGERS, I. A invenção das ciências modernas. São Paulo: Ed. 34, 2002.
  • 1
    Cientista da informação pode ser definido como uma pessoa formada, treinada e, sobretudo, atua como pesquisador(a), educador(a) ou especialista no campo da Ciência da Informação, colaborando efetivamente com pesquisas, criando e desenvolvendo conceitos, teorias e técnicas de manipulação dos registros do conhecimento e informações (ALVARADO-URBIZAGASTEGUI; OLIVEIRA, 2008ALVARADO-URBIZAGASTEGUI, R.; OLIVEIRA, M. A comunidade científica da biblioteconomia e ciência da informação brasileira. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 18, n. 1, 2008. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/92897. Acesso em: 21 dez. 2022.
    http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
    ).
  • 2
    Foi um dos fundadores dos chamados Estudos da Ciência e da Teoria do Ator-Rede, cujo foco de pesquisa busca analisar a atividade científica enquanto produção social do conhecimento, considerando seus interesses contraditórios e conexões entre atores humanos e não-humanos, epistemologia e política, natureza e cultura, sob princípio de simetria generalizada.
  • 3
    Ressalta-se que tais dados textuais não se configuram tecnicamente como citações, embora possa parecer, a fim de serem referenciadas no final do texto. São menções obtidas da própria pesquisa, uma vez que foram extraídas (ipsis litteris) do questionário, que foi enviado aos cientistas da informação. Por isso, tão somente expostos como menções entre aspas.
  • 4
    Termo originário da palavra francesa “faitiche”. Conforme nota do tradutor, em Latour (2002LATOUR, B. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru; São Paulo: EDUSC, 2002.), usa-o a fim de sugerir uma conservação tanto das sutilezas encontradas no sentido de algo “feito” (fato), remetendo à realidade exterior, quanto de “fetiches” (confiança ou desejo), relacionados às crenças absurdas do sujeito, como possível causa interior. Daí, uma construção fe(i)tichista, que, inclusive, traz consigo uma desconstrução simbólico-material do próprio “i”, símbolo tão característico da representatividade distintiva na área em itálico (i).
  • A lista completa com informações dos autores está no final do artigo
  • FINANCIAMENTO

    Não se aplica.
  • CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM

    Não se aplica.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Não se aplica.
  • PUBLISHER

    Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

EDITORES

Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Patrícia Neubert, Genilson Geraldo, Mayara Madeira Trevisol, Jônatas Edison da Silva.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Abr 2023
  • Aceito
    29 Ago 2023
  • Publicado
    28 Set 2023
Creative Common - by 4.0
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