COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO: PADRÕES DO TEMPO DE ACEITE DE ARTIGOS INDEXADOS NA BRAPCI

Information literacy: Analysis of the acceptance time of articles indexed in BRAPCI database

RESUMO

Objetivo:

Analisar aspectos relacionados ao tempo de aceite dos artigos brasileiros que contemplam a competência em informação indexados na base BRAPCI, indicando evolução temporal, padrões medianos de tempo de aceite, periódicos e a relação entre tempos de aceite e qualidade dos periódicos.

Método:

Trata-se de análise estatística relacionada ao período entre a submissão e aprovação de artigos científicos originais brasileiros indexados na base BRAPCI entre os anos de 2000 a 2019, a partir de estratégia de busca que contempla os termos ‘competência em informação’ e seus sinônimos na literatura científica em Ciência da Informação.

Resultados:

Foram úteis para a investigação um conjunto de 177 artigos publicados entre 2004 e 2019, sendo a maioria deles com tempo de aceite aceitável e esperado, conforme parâmetros levantados na literatura. Há, ainda, uniformidade da distribuição anual dos tempos de aceite entre os anos de 2014 e 2018. Os resultados evidenciam que não há relação entre a qualidade do periódico e tempos mais curtos de aceite.

Conclusões:

É possível observar, pelo menos a partir dos resultados levantados nesta investigação, que o tempo de aceite é um elemento favorável no processo de comunicação científica da temática de competência em informação no Brasil e pode, como consequência, constituir-se como um fator contribuidor para o desenvolvimento da temática em âmbito social, na ocasião em que os resultados das investigações são celeremente divulgados à sociedade.

PALAVRAS-CHAVE:
Tempo de aceite; Comunicação Científica; Competência em informação; Produção científica

ABSTRACT

Objectives:

The objective is to analyze the acceptance time of Brazilian articles on the subject information literacy indexed in the BRAPCI database until the year of 2019. It seeks to indicate temporal evolution, median standards of acceptance time, journals and the relationship between acceptance times and quality of scientific journals

Methods:

This is a statistical analysis related to the period between submission and approval of original Brazilian scientific articles indexed in the BRAPCI database between the years 2000 to 2019, based on a search strategy that includes the terms 'information literacy' and their synonyms in scientific literature in Information Science.

Results:

A total of 177 articles published between 2004 and 2019 were found, most of them accepted for publication in a period designated in the literature as acceptable and expected. There is also uniformity in the annual distribution of acceptance times between the years 2014 and 2019. The results show that there is no relationship between journal quality and shorter acceptance times.

Conclusions:

Finally, it is possible to observe that the acceptance time can be favorable in the scientific communication process of the information literacy theme and can, therefore, be a contributing factor to the development of the theme in the social sphere.

KEYWORDS:
Acceptance time; Scientific comunication; Information Literacy

1 INTRODUÇÃO

Recentemente, algumas investigações do campo da Ciência da Informação têm dado conta de analisar a trajetória científica da competência em informação no Brasil. Tais análises possibilitam mapear desde a evolução temporal e autorias compreendidas nas publicações de artigos de periódicos (Santos Neto; Miranda, 2020; De Lucca; Leite; Neubert, 2022), instituições e programas de pós-graduação envolvidos na produção de teses e dissertações (Farias et al., 2021) e, inclusive, as abordagens temáticas das pesquisas publicadas em diferentes tipologias documentais, como as teses e dissertações (Abreu; Farias, 2021) e artigos publicados em anais de congressos (Mata, 2021). Esses estudos têm possibilitado vislumbrar ações necessárias para o crescimento da temática, identificando, inclusive, abordagens de pesquisa pouco compreendidas e que necessitam ser exploradas cientificamente para que o movimento possa progredir também em âmbito social.

No fluxo da comunicação científica, o intervalo de tempo entre a submissão de um artigo e o aceite do editor do periódico tem sido objeto de estudo em diversas áreas, como a Medicina (Sebo et al., 2019) incluindo, especificamente, a Cirurgia Plástica (Chawla et al., 2021) e Neurocirurgia (Jubran et al., 2023); Enfermagem (Mendes et al., 2021); Energia e combustíveis (Lin, 2021) ou Química Analítica (Dióspatonyi; Horvai; Braun, 2001). No âmbito brasileiro, dentre as áreas exploradas estão a Contabilidade (Dias; Barbosa Neto; Cunha, 2011; Coelho et al., 2018a; Coelho et al., 2018b), Geriatria e Gerontologia (Jerez-Roig et al., 2014; Cesário et al., 2021), Psicologia (Hohendorff et al. (2016), Administração (Oliveira; Reis; Affonso, 2021), Educação (Sozinho et al., 2022) e Ciência da Informação (Rosa et al., 2019; Rosa et al., 2020). São parte dos estudos da comunicação científica e tendem a contribuir para a avaliação do desenvolvimento de uma área do conhecimento, de um periódico (ou conjunto de periódicos) ou, ainda, de uma temática específica de pesquisa.

Com relação a padrões aceitáveis de tempo de aceite, é uma tarefa árdua determinar parâmetros para todas as áreas do conhecimento, uma vez que tais parâmetros são condicionados a culturas de avaliação e publicação que evoluíram no decorrer do desenvolvimento das ciências, tendo sido então moldadas socialmente dentro das diferentes comunidades acadêmicas (Björk; Solomon, 2013; Björk, 2021).

Valores excessivos de tempo de aceite - que retardam a disseminação de resultados de pesquisa na sociedade - representam um impacto significativo no avanço das diferentes áreas da ciência (Björk; Solomon, 2013). Em âmbito mais específico, possuem consequências multidimensionais: interferem no fator de impacto de publicações - que leva em conta um tempo de dois anos (Rosa et al., 2020); podem entravar processos de progressão ou promoção funcional (Sozinho et al., 2022) da vida profissional dos autores e retardar a disseminação de bolsas de estudo, representando um fardo significativo também para as carreiras acadêmicas dos pesquisadores (Björk; Solomon, 2013).

Sendo também um elemento determinante para o avanço de uma temática, o tempo de aceite - considerando temáticas específicas de investigação - é oportuno para investigação científica, sendo as evidências resultantes dessas análises úteis para a observação de trajetórias específicas de subcampos do conhecimento. Dessa forma, esta pesquisa compreende considerar, para a análise, a temática de competência em informação, que é investigada no campo da Ciência da Informação e, no cenário brasileiro, inaugura sua trajetória no ano de 2000 (De Lucca; Leite; Neubert, 2022).

Ainda que seja incoerente determinar parâmetros de tempo de aceite, consideramos o tempo razoável de aceite estabelecido pela Scientific Eletronic Library Online (SciELO), o qual indica o período de seis meses (neste trabalho, adaptado para 180 dias) para a aprovação de um artigo (SciELO, 2020). Silva e Dobránszki (2017) também utilizam referência similar na ocasião em que consideram adequado um período de cinco a oito meses entre a submissão e o aceite. Dilatações desse prazo, oriundas de problemas com o processo editorial de um periódico ou com a comunidade de pesquisadores avaliadores (Silva; Dobránszki, 2017) podem comprometer a organicidade do processo de desenvolvimento científico de uma temática.

Assim, essa investigação busca analisar aspectos relacionados ao tempo de aceite dos artigos brasileiros que contemplam a competência em informação indexados na base BRAPCI até o ano de 2019. Essa tarefa envolve, para o tempo de aceite: a) identificar periódicos e períodos de publicação; b) descrever características dos prazos mínimo e máximo; c) identificar período ou série histórica com maior quantidade de publicações. Para a série histórica e tempo mediano de aceite, inclui: d) descrever a evolução temporal; d) testar hipótese de adequação ao parâmetro de 180 dias da SciELO; e) testar hipótese de homogeneidade do padrão de distribuição; f) testar hipótese para a flutuação aleatória ou tendência monotônica (crescimento ou decrescimento); e g) caracterizar e identificar padrões dos periódicos que mais publicaram.

A despeito dos diversos níveis e complexidades dos fenômenos investigados na ciência da informação, os estudos de produção científica gozam do seu aspecto essencialmente quantitativo. São, dentro de uma área do conhecimento reconhecida pelo seu caráter social (Araújo, 2003) e, consequentemente qualitativo, um dos poucos fenômenos cujas análises estatísticas são capazes de descrever; ainda que, por muitas vezes, análises qualitativas possam adentrar num nível de compreensão inviável às pesquisas quantitativas.

A descrição dos tempos de aceite proposta nesta investigação requer, além do emprego de estatística descritiva (valor mínimo, primeiro quartil, mediana, terceiro quartil, valor máximo, média, desvio padrão e coeficiente de assimetria de Bowley), também a estatística inferencial (via testes de hipótese não-paramétricos).

Essa proposta leva em consideração o ano de submissão do artigo e não o ano de publicação do artigo e a limitação a pesquisa até o ano de 2019 permite compreender a evolução da competência da informação sem a interferência da pandemia mundial de 2020, cuja análise merece ser ponto de investigação posterior.

2 O ESTUDO CIENTÍFICO SOBRE TEMPO DE ACEITE

O tempo de aceite das publicações científicas é um dos elementos explorados na temática da comunicação científica. Está condicionado a um processo iterativo de revisão de submissões e posterior publicação, em que estão compreendidos autores, revisores e editores em etapas distintas do processo editorial que podem, ocasionalmente, sofrer retardos (Björk, 2021).

Bjökr e Solomon (2013, p. 921) manifestam que há uma diversidade de fatores idiossincráticos que influenciam a duração da avaliação de artigos e, consequentemente, os padrões de tempo de aceite. É essencialmente distinto o padrão de diferentes áreas do conhecimento, e também de periódicos com níveis de popularidade distintos (mensurados pelo fator de impacto). Esses padrões também estão condicionados à realidade regional de cada esfera geográfica, que culturalmente constrói conhecimento nas diferentes áreas do conhecimento a partir de modos socialmente condicionados.

As pesquisas sobre tempo de aceite são desenvolvidas a partir de diversas abordagens, conforme mencionado na introdução. Nesta seção, são apresentadas as investigações publicadas na literatura brasileira, cuja realidade regional tende a ser homogênea, respeitada a diversidade das áreas do conhecimento. São apresentadas investigações que se dedicaram a explorar o tempo de aceite de publicações das áreas de Ciências Sociais Aplicadas (Ciências Contábeis, Administração e Ciência da Informação), Ciências Humanas (Educação e Psicologia) e Ciências da Saúde (Geriatria e Gerontologia), de modo a cobrir toda a produção científica brasileira sobre tempo de aceite.

Na área das Ciências Sociais Aplicadas registram-se trabalhos sobre tempo de aprovação desenvolvidos nas Ciências Contábeis, na Administração e na Ciência da Informação. No campo das Ciências Contábeis, Dias, Barbosa Neto e Cunha (2011), Coelho et al. (2018a; 2018b) são as publicações que se destinam a explorar o tempo de aceite. Os primeiros pesquisaram oito periódicos desta área entre 2004 e 2009, e, considerando os padrões de tempos razoáveis de aceite da SciELO, somente quatro periódicos apresentaram prazos médios inferiores a 180 dias para todos os anos. Portanto, os outros quatro periódicos, em algum momento, apresentaram tempos médios superiores a 180 dias. Importante ressaltar no trabalho de Dias, Barbosa Neto e Cunha (2011) que periódicos de estrato Qualis B2 e B3 apresentaram tempos médios de aceite muito superiores ao do periódico de estrato Qualis B1; ou seja, nem sempre maior estrato Qualis significa maior tempo de aceite.

Coelho et al. (2018a; 2018b) pesquisaram o tempo médio de avaliação de 17 periódicos de Contabilidade entre 2013 e 2016. Os achados mostraram comportamento variável: enquanto alguns periódicos aumentaram o tempo médio de aprovação, outros diminuíram, talvez indicando tentativas do corpo editorial em acelerar o processo de tempo de aceite e posterior publicação.

Outro aspecto que chama a atenção nos dados de Coelho et al. (2018a; 2018b) é relativo ao ano de 2016: quatro periódicos do estrato A2 apresentaram tempo médio de aceite inferior ao de alguns periódicos do estrato B1 e B2, ou seja, tais evidências parecem novamente indicar que, pelo menos na área de Contabilidade, um maior estrato Qualis não significa necessariamente maior tempo de aceite.

Já no campo da Administração, o tempo de aprovação foi objeto de estudo Oliveira, Reis e Affonso (2021) que estudaram cinco periódicos do estrato A2 (indexado no campo da Administração) entre 2012 e 2017. Inicialmente, é realçado que o tempo mediano de todos os cinco seriados no período de análise foram iguais ou superiores a 180 dias. Contudo, quatro periódicos procuraram diminuir o prazo de avaliação, talvez demonstrando compromisso do corpo editorial em sanar os elevados tempos, e o quinto periódico manteve um comportamento praticamente constante no período de 2012 a 2017.

O tempo de aceite de artigos em periódicos da Ciência da Informação (CI) foi contemplado nos estudos de Rosa et al. (2019) e Rosa et al. (2020), que direcionaram a análise para a relação entre tempo de aceite e qualidade dos periódicos. Entre os principais achados, Rosa et al. (2019) encontraram um tempo médio de avaliação de 164,19 dias entre 2013 e 2016 em 24 periódicos entre os estratos A1 a B5. Outro detalhe é o tempo médio do estrato A2 de 176,27 dias não é tão superior ao do estrato B1 de 171,03 dias; uma diferença de pouco mais de cinco dias.

Rosa et al. (2020) pesquisaram 16 periódicos de CI entre 2014 e 2019. Os três periódicos do estrato A1 apresentaram um tempo mediano de avaliação de 187 dias. Aspecto curioso foi que os dois periódicos do estrato B2 pesquisados apresentarem tempo mediano de aceite de 69 dias; inferior ao tempo mediano de avaliação de 85 dias de três seriados do estrato B5, demonstrando que, também para a área de Ciência da Informação, nem sempre maior estrato Qualis significa maior tempo de aceite. Todavia, Rosa et al. (2020) comentaram que, nos achados específicos do estudo desenvolvido pelos autores, houve uma relação direta entre maior estrato Qualis e maior tempo de aceite.

Na área de Ciências da Saúde, mais especificamente na subárea da Geriatria e Gerontologia, a Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (RBGG) foi objeto de estudo de Jerez-Roig et al. (2014) e Cesário et al. (2021). Em relação ao tempo médio de aprovação, Jerez-Roig et al. (2014) estudaram o período de 2006 a 2013, e os achados mostram que, entre 2009 e 2013, o período foi sempre superior a 6 meses; sendo que estes tempos elevados de aceite também ocasionaram um aumento no tempo de publicação da RBGG. Os autores então ponderaram que, dentre as possíveis causas desse aumento no tempo de publicação, está o prestígio da RBGG junto aos pares (indicado pela indexação do periódico em várias bases de dados) e ao consequente aumento do número de submissões recebidas, que aumentou de 30 em 2006 para 180 em 2013 - um aumento anual de 29,12% de submissões entre 2006 e 2013.

A inclusão da RBGG na SciELO ocorreu em 2012, conforme Jerez-Roig et al. (2014); e constata-se então um esforço do corpo editorial em reduzir tanto o tempo de aceite quanto de publicação e adequar-se aos prazos recomendados por SciELO (2020), notadamente nos anos de 2018 e 2019, conforme se depreende de Cesário et al. (2021).

Nas Ciências Humanas (Psicologia e Educação), e, especificamente, no campo da Psicologia, consta a investigação desenvolvida por Hohendorff et al. (2016), que também concentrou a análise para a relação entre tempos de aceite e qualidade dos periódicos. Os autores pesquisaram 44 periódicos de Psicologia, sendo três do estrato A1, 19 do estrato A2 e 22 revistas do estrato B1, entre novembro de 2014 a janeiro de 2015. Os achados mostram que os três periódicos de estrato A1 apresentaram tempos médios superiores a 180 dias; dos 19 seriados do estrato A2 somente cinco deles apresentaram prazo médio inferior a 180 dias; e dos 22 seriados do estrato B1, dez apresentavam prazos inferiores a 180 dias. Além disto, constata-se a ocorrência de tempos médios de aceite de periódicos de estrato inferior maiores que os de estrato superior.

Já nas investigações sobre tempo de aceite no campo da Educação, consta o trabalho de Sozinho et al. (2022), que pesquisaram o tempo médio de avaliação, entre 2019 e 2020, de seis periódicos do estrato A1, seis periódicos do estrato A2 e nove periódicos do estrato B1. Os achados também contribuem para deslegitimar a concepção de que quanto maior o estrato Qualis, maior o tempo de avaliação: no ano de 2019, sete dos nove seriados do estrato B1 apresentaram prazos médios superiores a 180 dias; e nenhum do estrato A2 foi inferior a 180 dias. Já no ano de 2020, seis seriados do estrato B1 produziram tempos médios maiores que 180 dias, ao passo que somente uma revista do estrato A2 obteve tempo médio superior a 180 dias.

Em suma, é possível compreender que os estudos sobre o tempo de aceite, no cenário brasileiro, tomam como ponto de análise as áreas específicas do conhecimento, e concentram majoritariamente a investigação na relação entre a qualidade dos periódicos e os prazos de aceite. Ainda, a apresentação dos achados desta seção de revisão da literatura parece indicar a ausência de correlação entre tempo de aceite e estrato Qualis, em contraposição ao asseverado por Rosa et al. (2020). Contudo, muitos seriados apresentam prazos superiores a 180 dias, trazendo consigo um dilema, tanto para autores e pesquisadores que em geral anseiam publicar rapidamente (Coelho et al., 2018a; Sozinho et al., 2022), como para o corpo editorial na questão da gestão com agilidade, ética e idoneidade no processo de avaliação do artigo (Hohendorff et al. (2016); Rosa et al., 2019; Rosa et al., 2020; Oliveira; Reis; Affonso, 2021; Cesário et al., 2021).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A consecução dos objetivos da pesquisa envolve uma pesquisa caracterizada como básica, descritiva e de caráter quantitativo, ressalvando que, como é natural no processo de construção científica, as análises estatísticas são acompanhadas de alguma interpretação qualitativa à luz da literatura científica destinada a análises de tempo de aceite. De acordo com os procedimentos de coleta de dados, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, na ocasião em que os dados são originados das publicações indexadas na BRAPCI, uma base que indexa publicações da área de Ciência da Informação do Brasil e de alguns países da Iberoamérica. Para Bufrem, Oliveira e Sobral (2018), a BRAPCI pode ser considerada o mais completo acervo digital da produção científica periódica da área da Ciência da Informação no Brasil.

Essa investigação faz parte de um projeto de pesquisa em nível mais abrangente que buscou mapear a produção científica em torno da temática da competência em informação durante toda a trajetória do movimento científico no Brasil, que iniciou em 2000. Desse modo, o corpus de dados da pesquisa é composto por artigos publicados no período entre os anos de 2000 e 2019 que possuem a indicação de datas de submissão e aceite no documento. Foram úteis para a investigação os artigos de periódicos científicos de ritmo normal, excluindo-se as edições especiais ou temáticos ou de fast track, cujo fluxo editorial segue padrões distintos do usual, conforme apontado por Rosa et al. (2020).

As etapas que compõem a consecução deste relatório de pesquisa são: etapa 1 - Levantamento bibliográfico na BRAPCI; a etapa 2 - coleta de dados e estruturação no Microsoft Excel®, com a aplicação dos critérios de exclusão; etapa 3 - cálculos de estatística descritiva e posterior inferência; por fim, a etapa 4 - análise e interpretação dos dados.

A coleta de dados contemplou as seguintes palavras-chave: competência em informação (646); competência informacional (329); letramento informacional (91); alfabetização em informação (68); alfabetização informacional (47) e habilidades informacionais (27), ocorrida de 29 de março a 10 de maio de 2021; e information literacy (358); alfabetización en información (26); alfabetización informacional (156) e habilidades informativas (0), ocorrida de 29 de março a 10 de maio de 2022. Não houve delimitação de idioma e o recorte temporal designado compreende os anos de 2000 a 2019.

Do total de 1748 resultados, foram aplicados os seguintes critérios de exclusão, respectivamente: a) documentos repetidos (720); b) resultados que não se tratam de artigos científicos publicados em periódicos (196); c) desajuste no alinhamento do resultado levantado com a temática de investigação (188); d) artigos que não possuem data de submissão e aceite (288); e) artigos publicados em revistas estrangeiras (51); f) artigos publicados em números especiais de revistas (edições temáticas), ou números cujo fluxo editorial segue padrões distintos (29); g) dados inconsistentes - data de submissão posterior à data de aceite registrada no documento (6); h) documentos publicados em periódicos cuja tipologia pode seguir fluxos editoriais distintos: revisões de literatura, ensaios, relatos de experiências, recensões, memória de evento científico, apresentações breves (pôster) e publicações à convite (93).

As análises estatísticas descritiva e inferencial são conduzidas para verificar hipóteses via testes não-paramétricos ou livre de distribuição (Triola, 2013; Siegel, Castellan Júnior, 2006) sobre os padrões de tempo de aceite, sendo utilizado o software BioEstat 5.0. Para aceitar a hipótese, o valor de probabilidade (valor-p unilateral ou bilateral, conforme o caso) obtido na inferência estatística deve ser maior que 0,05 (ou 5%). Caso contrário (se valor-p igual ou inferior a 0,05 ou 5,0%) refuta-se a hipótese proposta.

Estão disponíveis no repositório digital de dados Zenodo¹ os dados da pesquisa e análises iniciais, a saber: a) os dados de identificação dos documentos recuperados na BRAPCI, organizados em base de dados relacional no Software Excel®; b) Resultados quantitativos do rol do tempo de avaliação, por ano e por periódico.

São considerados, para a análise, os documentos que obtiveram aprovação e seguiram até a publicação. Os documentos rejeitados ou não publicados por alguma razão não fazem parte da análise conduzida, demonstrando, dessa forma, uma limitação dessa investigação. Também há de se ressaltar a reduzida quantidade de artigos com data de submissão e aceite registrada nos documentos, fato já apontado como limitador em outro estudo dessa natureza (Björk; Solomon, 2013).

4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Foram úteis para a análise um conjunto de 177 artigos, submetidos entre os anos de 2004 e 2019. A distribuição desse conjunto de documentos por periódico está assim designada (quantidade indicada por parênteses): Convergência em Ciência da Informação (1); Informação em Pauta (1); Liinc em revista (1); Revista Bibliomar (1); Biblionline (2); Perspectivas em Gestão & Conhecimento (2); Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (2); Ágora: Arquivologia em debate (3); Biblioteca Escolar em Revista (3); Ciência da Informação em Revista (4); Brazilian Journal of Information Science (5); Revista Analisando em Ciência da Informação (5); Informação & Informação (7); Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina (7); Transinformação (7); Perspectivas em Ciência da Informação (8); InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação (10); Ciência da Informação (11); Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação (RDBCI) (12); Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (RBBD) (13); Informação & Sociedade: Estudos (I&S) (16); Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação (RIACI) (16); Em Questão (EQ) (18); Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação (EB) (22).

Já por ano de submissão do artigo, a distribuição dos dados (quantidade indicada por parênteses) está assim determinada: 2004 (1); 2005 (1); 2006 (1); 2007 (6); 2008 (2); 2009 (4); 2010 (8); 2011 (4); 2012 (10); 2013 (9); 2014 (24); 2015 (21); 2016 (25); 2017 (27); 2018 (27); 2019 (7). A quantidade reduzida de dados no último ano analisado se dá em função da própria delimitação da pesquisa até o ano de 2019, considerando, nesse caso, a data de submissão do manuscrito. Nesse aspecto, o período de 2014 a 2018 apresenta uma quantidade de dados significativos para análises estatísticas de padrões de tempo de aceite e evolução temporal destes.

Com relação aos tempos de aceite, ainda para os 177 artigos publicados entre 2004 e 2019, tem-se: 104 (58,8%) artigos aceitos até 180 dias, 52 (29,4%) entre 181 a 360 dias, 15 (8,5%) trabalhos aceitos entre 360 dias a 540 dias, 4 (2,2%) artigos aprovados entre 541 a 720 dias, e 2 artigos aceitos com tempo superior a 720 dias. Ou seja, em sua maioria, os prazos são inferiores a 180 dias.

Chama a atenção que o tempo mínimo de aceite foi de 2 dias de um artigo submetido em 29 de dezembro de 2014 e aceito em 31 de dezembro de 2014. Neste quesito, Rosa et al. (2019), Coelho et al. (2018a) e Hohendorff et al. (2016) encontraram zero como prazo mínimo em dias, e especificamente em Rosa et al. (2020), que realizou análise também a partir dos estratos Qualis, o tempo de aceite nulo em dias zero na área de CI entre 2014 e 2019 ocorreu nos estratos A1, B1, B2 e B5. Sozinho et al. (2022) também realizou análise a partir dos estratos Qualis e identificou que a ocorrência de prazo nulo de avaliação ocorreu em todos os estratos pesquisados, ou seja, A1, A2 e B1.

Sobre o fenômeno do aceite instantâneo, Hohendorff et al. (2016) o pontua como questionável, haja vista a necessidade de revisão pelos pares. Contudo, Coelho et al. (2018a) lembram que estes prazos muito mínimos podem ser artigos oriundos de congressos ou eventos, que são selecionados pelo procedimento de fast track.

Em relação aos prazos superiores a 720 dias, os dados apontam a ocorrência de período de 786 dias (artigo submetido em 2013) e 1229 dias para a aprovação de um artigo submetido no ano de 2015. Hohendorff et al. (2016) relatam que, no campo da Psicologia, foi encontrado um tempo máximo de 1492 dias (mais de quatro anos) e, nesse aspecto, os pesquisadores manifestam preocupação em virtude de uma possível obsolescência dos achados à época de sua divulgação, ocasionados justamente pelo processo de avaliação pelos pares. Tal ocorrência prejudica a comunicação científica da temática da competência em informação.

O máximo período de 1229 dias levantado nesta investigação (periódico Perspectivas em Ciência da Informação, estrato A1) foi identificado pioneiramente por Rosa et al. (2020) na Ciência da Informação, sendo também compatível com os seguintes resultados: a) Coelho et al. (2018a), de 1220 dias na área de Contabilidade; b) 1190 dias na área de Ciência da Informação, identificado por Rosa et al. (2019); c) 1247 dias do periódico de estrato A2 de Administração RAUSP Management Journal entre 2012 a 2017; d) inferior aos 1548 dias (mais de quatro anos) do periódico O&S de Administração estrato A2 entre 2012 a 2017; f) inferior também aos 1085 dias ocorrido em 2020 no seriado Cadernos de Saúde Coletiva, conforme achados de Sozinho et al. (2022).

Considerando a maior quantidade de trabalhos com tempo de aceite entre os anos de 2014 e 2018, o que tornam possíveis análises estatísticas mais representativas, a Tabela 1 mostra dados estatísticos relacionados ao tempo de aceite dos artigos publicados neste período específico, analisados por ano.

Nossos dados evidenciam que os tempos medianos indicados estão de acordo com o parâmetro de 180 dias da SciELO (2020), excetuando-se o ano de 2014, cujo período foi 197,5 dias. Nesse caso, é necessária posteriormente a aplicação de inferência estatística determina se este valor é fruto do mero acaso ou se há algum motivo específico para tal ocorrência.

Tabela 1:
Tempos de aceite (dias): estatística descritiva por ano de submissão

	2014	2015	2016	2017	2018
Número de Dados	24	21	25	27	27
Mínimo	02	25	31	18	16
1º Quartil	89,2	59	72	80,5	77,5
Mediana	197,5	127	127	148	107
3º Quartil	309,2	187	324	238	203
Máximo	627	1229	578	409	428
Desvio interquartil	220	128	252	157,5	125.5
Média	223,0	182,9	209,8	169,9	179,0
Desvio Padrão	176,1	225,3	173,8	112,6	147,4

• Fonte: Dados obtidos na pesquisa

A maior mediana de 197,5 dias do ano de 2014 é congruente aos achados de Hohendorff et al. (2016) de 183 dias como mediana na Psicologia, e com os 187 dias de mediana da área da Ciência da Informação do estrato A1 entre 2014 a 2019 dos achados de Rosa et al. (2020).

Outro aspecto que chama a atenção na Tabela 1 é o ano 2018, que apresenta a menor mediana de 107 dias e o menor desvio interquartil (medida de dispersão ou variabilidade) de 125,5 dias, denotando que especificamente neste ano houve menor período de tempo de aceite das revistas.

Retomando a questão da variabilidade representada pelo desvio interquartil, verifica-se que os maiores valores ocorreram em 2014 (220 dias) e 2016 (252 dias, maior valor da série entre 2014 a 2018), valores muito díspares dos demais (128 dias em 2015, 157,5 dias em 2017 e 125,5 dias em 2018), o que leva a suposição de falta de homogeneidade ao longo dos anos no padrão dos tempos de aceite e, premissa que pode ser confirmada a partir da aplicação de teste de hipótese.

Portanto, em termos de desvio interquartil, nossos valores variaram entre 125,5 dias até 252 dias. Rosa et al. (2020) encontraram desvio padrão (outra medida de dispersão) variando entre 46,2 dias e 194,83 dias entre 2014 e 2019 nos diversos estratos de 16 periódicos em CI. Assim, qualitativamente, nossos achados reforçam o elevado grau de variabilidade das medidas de dispersão no tempo de aceite das revistas em CI.

O coeficiente de assimetria de Bowley foi respectivamente: 0,02 (2014); - 0,06 (2015); 0,56 (2016); 0,14 (2017) e 0,53 (2018). Portanto, assim como ocorreu disparidade de valores no desvio interquartil, o mesmo ocorre no coeficiente de assimetria, o que indica novamente uma suposta falta de homogeneidade no tempo de aceite ao longo dos anos, que corrobora a necessidade de confirmação via teste de hipótese.

Com relação ao padrão de 180 dias da SciELO, é preciso considerar que o ano de 2014 apresentou um tempo mediano de 197,5 dias, em tese, superior aos 180 dias recomendados por SciELO (2020). A aplicação de estatística não-paramétrica via teste de hipótese pode mensurar se esse valor é fruto do mero acaso da variabilidade dos dados coletados, ou então pode indicar que, de fato, tenha havido no ano de 2014 algum elemento determinante para tal variação.

A aplicação do teste não-paramétrico de postos com sinal de Wilcoxon, adotando como hipótese que o ano de 2014 apresenta tempo de aceite inferior ou igual a 180 dias, retorna pelo software BioEstat 5.0 o valor de probabilidade unilateral de 0,24; ou seja, aceita-se a hipótese de tempos menores ou iguais a 180 dias, portanto, a mediana de 197,5 dias - em que pese o fato de ser superior a 180 dias - é, assim, fruto da mera aleatoriedade dos dados.

Com relação à homogeneidade do padrão do tempo de aceite entre os anos de 2014 a 2018, o teste de hipótese também é oportuno para a mensuração das disparidades reveladas pela estatística descritiva, que levantaram a suspeita de que entre 2014 a 2018 não tenha havido homogeneidade no padrão do tempo de aceite.

Assim, adotada a hipótese de que há homogeneidade no padrão da distribuição dos dados do tempo de aceite ao longo dos anos, a aplicação do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis via software BioEstat 5.0 retornou um valor de probabilidade bilateral de 0,57, confirmando a hipótese inicial de homogeneidade no tempo de aceite entre 2014 a 2018; ou seja, as eventuais disparidades no desvio interquartil e coeficiente de assimetria de Bowley são frutos do mero acaso.

Já em relação à flutuação aleatória ou tendência monotônica do tempo mediano de aceite entre os anos de 2014 e 2018, é preciso considerar, primeiramente, que os tempos medianos de aceite de artigos submetidos entre 2014 e 2018 foram respectivamente, em dias: 197,5; 127; 127; 148 e 107. Aparentemente, os tempos medianos apresentam um comportamento aleatório, mas com acentuada queda no último ano de 2018.

O teste de correlação de posto-ordem de Spearman (r_s), nesse caso, é utilizado para verificar a hipótese inicial de flutuação aleatória destes tempos, e se rejeitada, há uma tendência monotônica de decrescimento. Os dados inseridos no software BioEstat 5.0 retornaram o valor de r_s = - 0,67 para o coeficiente de correlação, com valor de probabilidade bilateral de 0,22. O sinal negativo do coeficiente de correlação de Spearman parece indicar uma propensão para a diminuição dos prazos de aceite entre 2014 a 2018, contudo, sem evidências para se refutar a hipótese inicial de que há flutuações no tempo mediano de aceite entre 2014 a 2018. Ou seja, em tese, corrobora-se a flutuação aleatória do tempo de aceite entre os anos de 2014 a 2018.

Na literatura nacional sobre o tema tempo de aprovação, não foram encontrados estudos para comparação dos nossos achados sobre flutuação aleatória do tempo de avaliação em série histórica.

Dessa forma, é possível indicar que os achados desta pesquisa reforçam que a temática competência da informação apresentou, no período de 2014 a 2019, a adequação aos prazos recomendados da SciELO (2020), bem como a uniformidade da distribuição anual dos tempos de aceite, e que os tempos medianos anuais nesta série histórica apresentam flutuações aleatórias, sem uma tendência definida.

Com relação aos títulos de periódicos envolvidos na publicação dos artigos sobre competência em informação, há, no período entre 2014 e 2018, seis revistas que publicaram mais de seis artigos na série histórica. São elas (quantidade indicada por parênteses): RBBD (9); RDBCI (10); I&S (11); EB (14); EQ (16) e RIACI (16). As demais revistas recuperadas na investigação apresentam seis ou menos artigos publicados entre 2014 e 2018, sendo, portanto, excluídas do teste de hipóteses pela ausência de significância estatística.

A Tabela 2 apresenta para cada periódico a sua classificação Qualis 2017-2020 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o tempo mediano de aceite em dias entre 2014 a 2018.

Tabela 2:
Relação entre qualidade dos periódicos e tempo mediano de aceite (dias)

Periódico	Classificação Qualis	Tempo mediano de aceite (dias)
EQ	A2	124,5
I&S	A2	131
EB	A2	213,5
RDBCI	A3	55
RBBD	A3	311
RIACI	B3	79

• Fonte: Dados obtidos na pesquisa

Os baixos valores do tempo mediano de aceite da EQ e I&S e da EB (ligeiramente acima de 200 dias) são congruentes com os achados de Rosa et al. (2020) para a área de CI entre 2014 e 2019. Já para a RDBCI, os resultados de Rosa et al. (2020) apresentam mediana inferior a 200 dias, ante os 55 dias da Tabela 2. Essa disparidade parece indicar que o foco da RDBCI seja publicar rapidamente artigos da temática competência da informação.

Já para a RBBD, Rosa et al. (2020) indicaram uma mediana em torno de 200 dias, contudo com elevada variabilidade do desvio interquartil, resultado bastante distinto dos 311 dias de nossos achados. Assim, contrariamente a RDBCI, não foi possível observar, na RBBD, a celeridade em avaliar artigos da área de competência da informação. Isso pode evidenciar um problema localizado do periódico ou uma disparidade entre os dados de Rosa et al. (2020) aos nossos, que excluem do corpus os artigos publicados em ritmo fast track.

Aplica-se o teste de o teste de postos com sinal de Wilcoxon à EB e à RBBD, para verificar se o tempo de aceite é igual ou inferior a 180 dias, não sendo necessária esta análise aos outros periódicos. Os valores de probabilidade unilateral foram: 0,27 (EB) e 0,03 (RBBD). Assim, a EB apresenta prazos compatíveis com o prazo de 180 dias, contudo, o baixo valor da RBBD (0,03) indica prazos superiores a 180 dias, o que parece novamente reforçar que a RBBD não seja célere no processo de aceite de pesquisas sobre a temática da competência em informação.

Os dados mostrados na Tabela 2 também evidenciam que não há, ao menos nos resultados relacionados a esta investigação, relação entre a qualidade do periódico e tempos mais curtos de aceite: a RBBD, de estrato A3, apresentou maior mediana quando comparada aos periódicos do estrato A2; além de prazos superiores a 180 dias conforme o teste de hipótese.

Nossos achados não concordam na área de CI com o exposto por Rosa et al. (2020), indicando a necessidade de mais estudos para ratificar ou não a correlação de maior estrato Qualis com maior tempo de aceite. A ausência de relação entre estrato Qualis e tempo de aceite encontrada nesta pesquisa encontra suporte nos dados socializados na literatura por Dias, Barbosa Neto e Cunha (2011), Coelho et al. (2018a; 2d018b), Hohendorff et al. (2016) e Sozinho et al. (2022).

Os únicos periódicos que publicaram artigos recebidos em todos os anos entre 2014 a 2018 foram a EB e a EQ. Neste aspecto, a EB apresentou os seguintes tempos medianos anuais em dias: 72 (2014); 59 (2015); 324 (2016); 233 (2017) e 291,5 (2018). O coeficiente de correlação de Spearman foi de 0,60 (ou seja, uma possível tendência de tempos crescentes), contudo, o valor de probabilidade bilateral de 0,28 indica na realidade uma flutuação aleatória dos tempos medianos anuais entre 2014 a 2018 para a EB.

Já para a EQ, os tempos medianos anuais entre 2014 e 2018 foram (em dias): 212 (2014); 151,5 (2015); 91,5 (2016); 89 (2017) e 157 (2018). O coeficiente de correlação de Spearman foi de - 0,67 com valor de probabilidade bilateral de 0,50; ou seja, há até uma possível tendência de tempos decrescentes, todavia, o valor de probabilidade bilateral aponta na realidade uma flutuação aleatória dos tempos medianos anuais entre 2014 a 2018 para a EQ.

O teste de Kruskal-Wallis é usado para a hipótese de que não há diferença no padrão dos tempos de aceites dos periódicos RBBD, RDBCI, I&S, EB, EQ e RIACI entre 2014 e 2018, apresentando um valor de probabilidade bilateral inferior a 0,01, ou seja, há fortíssimas evidências para se rejeitar a hipótese inicial de homogeneidade dos tempos de aceite.

Aplicando o teste de comparações múltiplas de Student-Newman-Keuls, o software BioEstat 5.0 indica diferenças entre a RBBD e a I&S (valor de probabilidade de 0,04), a RBBD e a EQ (valor de probabilidade de 0,03), a RBBD e a RIACI (valor de probabilidade inferior a 0,01), a RBBD e a RDBCI (valor de probabilidade inferior a 0,01) e finalmente a EB e a RIACI (valor de probabilidade de 0,02). Uma possível explicação é justamente tanto a RBBD e a EB apresentarem as maiores medianas para o período entre 2014 e 2018, ou seja, 311 dias e 213,5 dias em relação aos outros periódicos (com mediana iguais ou inferiores a 131 dias).

Em suma, nossos achados evidenciam que, embora possam ter sido observados tempos de aceite superiores aos valores estabelecidos pela SciELO, o período de avaliação dos artigos sobre competência em informação é tido como aceitável. Isso pode indicar que o processo de comunicação científica sobre a temática é orgânico, isto é, há um tempo curto entre a produção de conhecimento científico e a sua divulgação à comunidade científica e, consequentemente, à sociedade, que se ampara nas contribuições da literatura acadêmica para promover iniciativas práticas para a promoção da competência em informação das pessoas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Análises de tempo de aceite são oportunas para o mapeamento da comunicação científica e, nesta exploração, foi possível identificar padrões de períodos entre a submissão e aceite de artigos de periódicos que foram publicados durante a trajetória do movimento da competência em informação no Brasil.

Na investigação, valores mínimos anuais variaram entre dois e 31 dias no período de 2014 a 2018, denotando um tempo bastante exíguo entre submissão e aceite. Isso não é novidade na literatura científica: aceites instantâneos de manuscritos podem indicar resultado de procedimento fast track não indicado explicitamente na edição do periódico ou, inclusive, inconsistência dos dados informados pelas revistas.

Períodos máximos extremamente superiores às recomendações da SciELO também foram observados, com o destaque para o valor máximo registrado de 1229 dias, identificado em publicação do ano de 2019, que é consoante aos resultados apresentados na literatura e comparados no decorrer da análise. Nesse caso, trata-se de ocorrências isoladas, sem valor estatístico.

A despeito da variabilidade dos dados, mais de metade (58,8%) dos artigos que fazem parte do escopo dessa investigação tiveram suas submissões processadas dentro do prazo estabelecido pela SciELO, no entanto, no caso específico da RBBD, tais prazos foram superiores ao sugerido pela SciELO entre 2014 a 2018, e tido como aceitável por Silva e Dobránszki (2017). A evolução temporal da temática competência da informação entre 2014 e 2018 também apresentou uniformidade anual na distribuição dos dados e ausência de tendência de crescimento no tempo de aceite, ou seja, os achados parecem indicar que a comunicação científica da temática da competência em informação seja célere, ao menos se utilizarmos como parâmetro as indicações de Silva e Dobránszki (2017) e os valores estabelecidos pela SciELO. A análise conduzida também não encontrou relação entre a qualidade do periódico e tempos mais curtos de aceite.

Os resultados apontam, por fim, que o processo de comunicação científica da temática de competência em informação pode constituir-se como um fator contribuidor para o desenvolvimento da temática em âmbito social, na ocasião em que os resultados das investigações são celeremente divulgados à sociedade. Estudos quantitativos e qualitativos futuros podem, inclusive, esclarecer possíveis impactos do período de avaliação na produção científica da temática. Ainda, é oportuna a extensão da análise de anos ulteriores a 2019, a qual pode ser capaz de identificar a ocorrência de possíveis efeitos da pandemia mundial sobre o tempo de aceite na temática e, consequentemente, seus possíveis reflexos no campo social.

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• 1
  Disponível no repositório Zenodo sob o número DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.8404381

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• PUBLISHER

  Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

Editado por

EDITORES

Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Patrícia Neubert, Genilson Geraldo, Mayara Madeira Trevisol, Jônatas Edison da Silva.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Abr 2024
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  17 Maio 2023
• Aceito
  24 Maio 2023
• Publicado
  22 Set 2023