Acessibilidade / Reportar erro

A importância do HDL-C e da PCR na avaliação do risco cardiovascular em idosos longevos

RESUMO

A associação entre mortalidade total, lipoproteínas e marcadores inflamatórios, e suas implicações com o envelhecimento e a longevidade são, muitas vezes, controversas. Entre os marcadores mais estudados, encontram-se o colesterol HDL baixo e a proteína C-reativa alta. Particularmente, nos octogenários, espera-se que o impacto da inclusão do colesterol HDL e da proteína C-reativa melhore a estratificação do risco cardiovascular absoluto. No presente trabalho, realizamos uma revisão da literatura por meio do PubMed sobre a relação entre colesterol HDL, inflamação e longevidade. Aplicando os critérios de inclusão e exclusão adotados, selecionamos 30 estudos, dentre os quais 1 revisão sistemática sobre a relação entre colesterol HDL e acidente vascular cerebral, 1 meta-análise sobre a relação entre colesterol total e colesterol HDL com mortalidade, 22 estudos longitudinais e 6 estudos transversais. Os resultados mostram uma associação inversa entre o colesterol HDL e a mortalidade total, e entre a mortalidade cardiovascular e a proteína C-reativa, assim como uma associação positiva entre a proteína C-reativa e a mortalidade em longevos. A proteína C-reativa e o colesterol HDL apresentam características promissoras como preditores de mortalidade cardiovascular em idosos longevos.

Descritores:
Longevidade; Proteína C-reativa; Lipoproteínas HDL; Colesterol HDL; Mortalidade; Sistema cardiovascular; Lipídeos

ABSTRACT

The association between total mortality, lipoproteinS, and inflammatory markers, and their implications with aging and longevity are often controversial. Among the most often studied markers are low HDL cholesterol and high C-reactive protein. Particularly in octogenarians, it is expected that the impact of the inclusion of HDL cholesterol and C-reactive protein will improve the stratification of absolute cardiovascular risk. In the present study, we performed a literature review in PubMed about the relation between HDL cholesterol, inflammation and longevity. Applying the inclusion and exclusion criteria adopted, we selected 30 studies, among which one systematic review on the relation between HDL cholesterol and stroke, one meta-analysis on the relation between total cholesterol and HDL cholesterol with mortality, 22 longitudinal studies, and six cross-sectional studies. The results show an inverse association between HDL cholesterol and total mortality, and between cardiovascular mortality and C-reactive protein, as well as a positive association between C-reactive protein and mortality in longevous individuals. C-reactive protein and HDL cholesterol displayed promising characteristics as predictors of cardiovascular mortality in longevous elderly persons.

Keywords:
Longevity; C-reactive protein; Lipoproteins, HDL; Cholesterol, HDL; Mortality; Cardiovascular system; Lipids

INTRODUÇÃO

A prevalência de doença cardiovascular aterosclerótica aumenta exponencialmente com o envelhecimento, sendo a principal causa de morbimortalidade em idosos. A estratificação de risco é fundamental para a determinação das metas de tratamento. Porém, o valor preditivo dos fatores de risco tradicionais diminui com a idade, enquanto a identificação de marcadores de risco emergentes apresentam maior importância, principalmente para idosos longevos.

A proteína C- reativa (PCR) elevada é um biomarcador bem estabelecido em adultos de meia-idade. Albert et al., em estudo transversal realizado em 2003, mostraram correlação significativa entre os níveis de PCR e escore de risco de Framingham(11. Albert MA, Glynn RJ, Ridker PM. Plasma concentration of C-reactive protein and the calculated Framingham coronary heart disease risk score. Circulation. 2003;108(2):161-5.)

Danesh et al.(22. Danesh J, Wheeler JG, Hirschfield GM, Eda S, Eiriksdottir G, Rumley A, et al. C-reactive protein and other circulating markers of inflammation in the prediction of coronary heart disease. N Engl J Med. 2004;350(14):1387-97.), em estudo prospectivo pesquisaram a relação entre PCR e doença arterial coronariana (DAC) em 2.459 participantes que desenvolveram doença arterial coronariana DAC e 3.969 controles. A média de idade foi de 56 anos, sendo a razão de chances para o desenvolvimento de DAC entre o tercil com maior e menor PCR (> 2 mg/L e < 0,78 mg/L, respectivamente) de 1,45 (IC95%: 1,25-1,68). Esses autores também realizaram uma meta-análise com os mesmos objetivos, envolvendo 22 estudos prospectivos e 7.068 participantes, resultando em uma razão de chances para o desenvolvimento de DAC no grupo com PCR elevada de 1,58 (IC95%: 1,48-1,68). O Emerging Risk Factors Collaboration realizou nova meta-análise em 2010 envolvendo 54 estudos prospectivos, com 160 mil participantes e média etária de 60 anos, obtendo risco relativo de 1,55 com o aumento de um desvio padrão no log da concentração da PCR(33. Emerging Risk Factors Collaboration, Kaptoge S, Di Angelantonio E, Lowe G, Pepys MB, Thompson SG, Collins R, Danesh J. C-reactive protein concentration and risk of coronary heart disease, stroke, and mortality: an individual participant meta-analysis. Lancet. 2010;375(9709):132-40.).

Podemos também destacar a importância do estudo “Justification for the Use of Statins in Prevention: an Intervention Trial Evaluating Rosuvastatin” (JUPITER) de intervenção, o qual demonstrou que o tratamento da inflamação, avaliada por meio da PCR, foi efetivo, independentemente da meta do colesterol LDL (LDL). Esse ensaio clínico que acompanhou 17.802 indivíduos, com média etária de 66 anos e seguimento médio de 1,9 anos, com LDL-C < 130 mg/dL e PCR > 2 mg/L, avaliando o benefício da introdução de rosuvastatina. O grupo que usou a medicação apresentou redução de 37% dos níveis da PCR, com risco relativo para mortalidade cardiovascular ou eventos cardiovasculares > 0,56 (p<0,00001)(44. Ridker PM, Danielson E, Fonseca FA, Genest J, Gotto AM Jr, Kastelein JJ et al Nordestgaard BG, Shepherd J, Willerson JT, Glynn RJ; JUPITER Study Group. Rosuvastatin to prevent vascular events in men and women with elevated C-reactive protein. N Engl J Med. 2008;359(21):2195-207., 55. Glynn RJ, Koenig W, Nordestgaard BG, Shepherd J, Ridker PM. Rosuvastatin for primary prevention in older persons with elevated C-reactive protein and low to average low-density lipoprotein cholesterol levels: exploratory analysis of a randomized trial. Ann Intern Med. 2010;152(8):488-96, W174.).

A relação entre colesterol HDL (HDL-C) baixo e doença cardiovascular também é bem estabelecida em adultos de meia-idade. Gordon et al., avaliaram os dados de 4 grandes estudos prospectivos americanos, resultando em 15.252 participantes, com idades entre 30 e 69 anos, e obtiveram uma relação protetora significativa entre o HDL-C e DAC. O aumento de 1 mg/dL do HDL-C resultou em redução de DAC de aproximadamente 2 e 3% em homens e mulheres, respectivamente(66. Gordon DJ, Probstfield JL, Garrison RJ, Neaton JD, Castelli W P, Knoke JD, et al. High-Density lipoprotein cholesterol and cardiovascular disease. Four prospective American studies. Circulation. 1989;79(1):8-15.).

Cooney et al. investigaram o impacto da inclusão do HDL-C na estratificação de risco cardiovascular de 104.961 adultos com 47 anos, de 12 coortes europeias que originaram a Systematic Coronary Risk Evaluation (SCORE), mostrando melhora estatisticamente significante do índice de reclassificação de riscos, com risco relativo de 0,62 e 0,76 em mulheres e homens, respectivamente, e discreta modificação do risco absoluto (6,5% dos participantes aumentaram em 1% o risco)(77. Cooney MT, Dudina A, Bacquer DD, Fitzgerald A, Conroy R, Sans S, Menotti A, De Backer G, Jousilahti P, Keil U, Thomsen T, Whincup P, Graham I, SCORE Investigators. How much does HDL cholesterol add to risk estimation? A report from the SCORE investigators. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2009;16(3): 304-14.). Os mesmos autores, em outro estudo publicado em 2009, avaliaram o efeito do HDL-C na morbimortalidade cardiovascular também por meio das coortes do estudo SCORE; porém dessa vez, foi incluída a faixa etária acima de 65 anos. Nestes, o aumento de 19,3 mg/dL resultou em um risco relativo de 0,53 (IC95%: 0,42-0,8) e 0,79 (IC95%:0,64-0,98) para mulheres e homens, respectivamente. Esses dados tornam-se ainda mais relevantes porque em idosos longevos os riscos relativos são frequentemente atenuados, pois a idade é um fator de risco importante, porém as reduções do risco absoluto são geralmente maiores, devido à alta prevalência de doenças cardiovasculares(88. Upmeier E, Lavonius S, Lehtonen A, Viitanen M, Isoaho H, Arve S. Serum lipids and their association with mortality in the elderly: a prospective cohort study. Aging Clin Exp Res. 2009;21(6):424-430.).

Entretanto, Briel et al., em revisão sistemática realizada em 2008 incluindo 108 ensaios clínicos, não obtiveram benefício adicional com o aumento do HDL-C em relação à redução isolada do LDL-C, sinalizando que, nos adultos de meia-idade, possivelmente as frações do HDL-C sejam mais importantes do que o seu valor total(99. Briel M, Ferreira-Gonzalez I, You JJ, Karanicolas PJ, Akl EA, Wu P, et al. Association between change in high density lipoprotein cholesterol and cardiovascular disease morbidity and mortality: systematic review and meta-regression analysis. BMJ. 2009;338:b92.). Em outro estudo prospectivo com 89 indivíduos adultos, a PCR (24% apresentaram nível > 3 mg/dL) e o HDL-C baixo (72% de prevalência) foram mais prevalentes e importantes preditores comparados aos fatores de risco tradicionais nos indivíduos com antecedente familiar de doença coronariana(1010. Sailam V, Karalis DG, Agarwal A, Alani F, Galardi S, Covalesky V, et al. Prevalence of emerging cardiovascular risk factors in younger individuals with a family history of premature coronary heart disease and low Framingham risk score. Clin Cardiol. 2008;31(11):542-5.).

Particularmente nos octogenários espera-se que o impacto da inclusão do HDL-C e da PCR melhore a estratificação do risco cardiovascular absoluto. Portanto, o objetivo deste trabalho foi investigar, na literatura, dados sobre a associação entre mortalidade total, lipoproteínas e marcadores inflamatórios, e suas implicações com o envelhecimento e a longevidade.

MÉTODOS

Tratou-se de um estudo de caráter exploratório e natureza descritiva, baseado no método qualitativo de investigação.

Realizamos uma busca na literatura do PubMed, da National Library of Medicine (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) combinando os seguintes descritores MeSH (medical subject headings): “lipids,” “C-reactive protein,” “lipoproteins, HDL,” “mortality” e “cardiovascular system”. A pesquisa considerou os artigos publicados no período de Janeiro de 2003 até o dia 15 de Agosto de 2010.

A seguir, aplicamos os seguintes critérios de inclusão:

  • revisões sistemáticas;

  • estudos observacionais (coortes, transversais, casoscontrole e estudos ecológicos);

  • idiomas: inglês, português e espanhol;

  • inclusão de indivíduos com mais de 80 anos.

Foram critérios de exclusão:

  • estudos com população específica (por exemplo, pacientes em hemodiálise), pela dificuldade de aplicação dos dados para a população geral.

A partir da seleção dos estudos que preencheram esses critérios, iniciamos a análise detalhada, conforme o nível de evidência.

RESULTADOS

Por meio da estratégia de busca do PubMed foram identificados 2.617 estudos de potencial relevância para a combinação dos descritores “C-reactive protein” e “lipids;” 519 publicações combinando os termos “lipoproteins, HDL” e “C-reactive protein;” 750 com os termos “lipoproteins, HDL” e “cardiovascular system;” 1.191 combinando os termos “lipids” e “mortality;” 60 com os termos “lipoproteins, HDL” e “mortality;” 290 com os termos “C-reactive protein” e “mortality” e 1.423 com a combinação de termos “C-reactive protein” e “cardiovascular system”.

Aplicando os critérios de inclusão e exclusão adotados, selecionamos 30 estudos, dos quais 1 revisão sistemática sobre a relação entre HDL-C e acidente vascular cerebral(1111. Amarenco P, Labreuche J, Touboul PJ. High-density lipoprotein-cholesterol and risk of stroke and carotid atherosclerosis: A systematic review. Atherosclerosis. 2008;196(2):489-96.), 1 meta-análise sobre a relação entre colesterol total e HDL-C com mortalidade(1212. Prospective Studies Collaboration, Lewington S, Whitlock G, Clarke R, Sherliker P, Emberson J, Halsey J, Qizilbash N, Peto R, Collins R. Blood cholesterol and vascular mortality by age, sex, and blood pressure: a meta-analysis of individual data from 61 prospective studies with 55 000 vascular deaths. Lancet. 2007;370(9602):1829-39.), 22 estudos longitudinais e 6 estudos transversais(1313. van Vliet P, Oleksik AM, van Heemst D, de Craen AJ, Westendorp RG Dynamics of traditional metabolic risk factors associate with specific causes of death in old age. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2010;65(5):488-94.4040. Hoekstra T, Geleijnse JM, Schouten EG, Kok FJ, Kluft C. Relationship of C-reactive protein with components of the metabolic syndrome in normal-weight and overweight elderly. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2005;15(4):270-8.). A descrição desses artigos consta no quadro 1.

Quadro 1
Artigos selecionados que analisaram a importância do HDL-C e da PCR na avaliação do risco cardiovascular em idosos longevos

DISCUSSÃO

O objetivo desta revisão foi pesquisar na literatura os estudos que avaliaram a relação entre HDL-C, PCR e longevidade. Encontramos um número relativamente pequeno de trabalhos, sendo que a maioria mostra uma forte associação do HDL-C baixo e da PCR elevada com morbimortalidade cardiovascular em adultos idosos longevos.

Dados do “Cardiovascular Health Study,” que incluiram somente indivíduos com mais de 65 anos, com média de idade de 72 anos, mostram que aproximadamente 50% das mulheres e 60% dos homens sem doença cardiovascular clínica apresentam doença subclínica, definida por alterações do ecocardiograma ou do eletrocardiograma, espessura carotídea ou estenose de carótidas no ultrassom Doppler, e índice tornozelo-braquial diminuído(4141. Mukamal KJ, Kronmal RA, Tracy R P, Cushman M, Siscovick DS. Traditional and novel risk factors in older adults: cardiovascular risk assessment late in life. Am J Geriatr Cardiol. 2004;13(2):69-80.) Dessa forma, a apresentação subclínica da doença e os fatores que aceleram a progressão ou desestabilizam a doença aterosclerótica parecem ter maior relevância do que os fatores aterogênicos nessa faixa etária. O HDL-C e a PCR apresentam diversas propriedades que influenciam na estabilidade da placa. O HDL-C participa do transporte reverso do colesterol e apresenta também propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e antitrombóticas, além de contribuir com o reparo dos danos endoteliais(4242. Rye K, Barter PJ, Anti-inflammatory Actions of HDL: A new insight. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2008;28(11):1890-1.) A PCR sustenta um estado pró-trombótico, pró-inflamatório e pró-aterosclerótico por meio de seus efeitos na regulação das células endoteliais, no remodelamento vascular, na função dos macrófagos, no aumento da migração, proliferação e produção de radicais livres de oxigênio pelas células musculares lisas dos vasos sanguíneos e no aumento da atividade das metaloproteinases, com consequente degradação da matriz biológica e instabilidade da placa aterosclerótica(4343. Verma S, Devaraj S, Jialal I. Is C-reactive protein an innocent bystander or proatherogenic culprit? C-Reactive protein promotes atherothrombosis. Circulation. 2006;113(17):2128-51.)

Weverling-Rijnsburger et al.(3232. Weverling-Rijnsburger AW, Jonkers IJ, van Exel E, Gussekloo J, Westendorp RG. High-density vs low-density lipoprotein cholesterol as the risk factor for coronary artery disease and stroke in old age. Arch Intern Med. 2003;163(13):1549-54.), em estudo envolvendo 599 idosos, todos com mais de 85 anos, mostraram um risco relativo de 2 para mortalidade cardiovascular no grupo com menores níveis de HDL-C, sendo a mortalidade cardiovascular independente dos níveis de LDL-C. Ruijter et al.(1717. de Ruijter W, Westendorp RG, Assendelft WJ, den Elzen W P, de Craen AJ, le Cessie S, et al. Use of Framingham risk score and new biomarkers to predict cardiovascular mortality in older people: population based observational cohort study. BMJ. 2009;8;338:a3083.) estudaram a mesma coorte de idosos com mais de 85 anos, porém excluíram os participantes com antecedente pessoal de doença cardiovascular, resultando em 302 idosos. Nestes, o nível de HDL-C não foi preditor de risco cardiovascular. Entretanto, ao excluir os portadores de cardiopatias, foram excluídos também os participantes com HDL-C mais baixo, sendo o HDL-C encontrado entre 42 e 62 mg/dL, com média de 50,2 mg/dL, enquanto o tercil com HDL-C mais baixo da coorte inicial apresentava valores entre 32 e 40 mg/dL.

O Prospective Studies Collaboration(1212. Prospective Studies Collaboration, Lewington S, Whitlock G, Clarke R, Sherliker P, Emberson J, Halsey J, Qizilbash N, Peto R, Collins R. Blood cholesterol and vascular mortality by age, sex, and blood pressure: a meta-analysis of individual data from 61 prospective studies with 55 000 vascular deaths. Lancet. 2007;370(9602):1829-39.) analisou a relação entre mortalidade e perfil lipídico por meio de uma meta-análise de 61 estudos prospectivos, envolvendo 900 mil pessoas, com idades entre 40 e 89 anos, mostrando redução de 33% da mortalidade por DAC com o aumento de 12 mg/dL do HDL-C(1212. Prospective Studies Collaboration, Lewington S, Whitlock G, Clarke R, Sherliker P, Emberson J, Halsey J, Qizilbash N, Peto R, Collins R. Blood cholesterol and vascular mortality by age, sex, and blood pressure: a meta-analysis of individual data from 61 prospective studies with 55 000 vascular deaths. Lancet. 2007;370(9602):1829-39.). Nesse estudo, o colesterol total perdeu a significância estatística para predizer acidente vascular cerebral e mortalidade vascular em muito idosos, exceto por DAC, concluindo ser o HDL-C um preditor mais importante para mortalidade do que o LDL-C e o colesterol total em longevos.

O HDL-C é classificado por seu tamanho e densidade em duas frações principais: HDL2-C, maior e rico em colesterol, e o HDL3-C, menor e com menor quantidade de colesterol. Possivelmente o HDL2-C é a fração que melhor representa o transporte reverso do colesterol e quando seus níveis estão baixos, há relação com alto risco cardiovascular. Ettinger et al., em estudo transversal com 1.952 idosos com mais de 65 anos, mostraram que o aumento do HDL-C com o envelhecimento provavelmente deve-se ao aumento da fração HDL2-C(4444. Ettinger Jr WH, Verdery RB, Wahl PW, Fried L P, High density lipoprotein cholesterol subfractions in older people. J Gerontol. 1994;49(3):M116-M122.).

A relação entre PCR elevada e mortalidade vascular e não vascular sugere que o gene da PCR é possivelmente um dos relacionados à longevidade(4545. Hindorff LA, Rice KM, Lange LA, Diehr P, Halder I, Walston J, et al. Common variants in the CRP gene in relation to longevity and cause-specific mortality in older adults: the Cardiovascular Health Study. Atherosclerosis. 2008;197(2):922-30.). Polimorfismos do gene da PCR estão associados ao aumento de seu nível sérico. Porém, ainda não foi estabelecida a associação desses polimorfismos com aumento da mortalidade(4646. Zacho J, Tybjærg-Hansen A, Jensen JS, Grande P, Sillesen H, Nordestgaard BG. Genetically elevated C-reactive protein and ischemic vascular disease. N Engl J Med. 2008;359(18):1897-908.). Por sua vez, Mooijaart et al.(2828. Mooijaart S P, van Vliet P, van Heemst D, Rensen PC, Berbée J F, Jolles J, et al. Westendorp RG. Plasma levels of apolipoprotein E and cognitive function in old age. Ann N Y Acad Sci. 2007;1100:148-61) mostraram em uma coorte de longevos que o gene da apolipoproteína E associa-se a menor HDL-C, maiores níveis de PCR e aumento da mortalidade, sendo esse efeito na mortalidade dependente dos níveis de PCR.

O presente estudo mostrou que, em idosos longevos, o HDL-C baixo é melhor preditor de mortalidade cardiovascular do que as outras frações do colesterol, possivelmente substituindo o LDL-C como principal meta de tratamento nessa faixa etária. Entretanto, antes de alterar as metas de prevenção, são necessários mais ensaios clínicos com o objetivo de aumentar o HDL-C na população com mais de 80 anos.

A PCR elevada também se mostrou um excelente preditor de mortalidade cardiovascular nos idosos longevos. Contudo, apesar do estudo JUPITER ter mostrado benefícios na sua redução com rosuvastatina, também faltam ensaios clínicos que incluam os idosos longevos.

A identificação de marcadores biológicos da longevidade possibilitará o desenvolvimento de estudos sobre os mecanismos que protegem o ser humano de doenças comuns e lentificam os processos biológicos do envelhecimento. Idealmente os marcadores de risco cardiovascular devem prover informações prognósticas em diversos níveis de risco, adicionando informações aos fatores de risco tradicionais, e ser reprodutíveis, com custo acessível e alta prevalência na população avaliada.

CONCLUSÃO

A PCR e o HDL-C apresentam características promissoras, embora ainda necessitem de maiores evidências. Pesquisas futuras devem explorar as relações deles com a doença cardiovascular em idosos longevos, colaborando com a incorporação dos mesmos aos fatores de risco tradicionais na elaboração de diretrizes para essa faixa etária crescente, mas ainda pouco estudada.

AGRADECIMENTOS

Gabriel Seabra Cendoroglo, por sua colaboração neste trabalho

REFERENCES

  • 1
    Albert MA, Glynn RJ, Ridker PM. Plasma concentration of C-reactive protein and the calculated Framingham coronary heart disease risk score. Circulation. 2003;108(2):161-5.
  • 2
    Danesh J, Wheeler JG, Hirschfield GM, Eda S, Eiriksdottir G, Rumley A, et al. C-reactive protein and other circulating markers of inflammation in the prediction of coronary heart disease. N Engl J Med. 2004;350(14):1387-97.
  • 3
    Emerging Risk Factors Collaboration, Kaptoge S, Di Angelantonio E, Lowe G, Pepys MB, Thompson SG, Collins R, Danesh J. C-reactive protein concentration and risk of coronary heart disease, stroke, and mortality: an individual participant meta-analysis. Lancet. 2010;375(9709):132-40.
  • 4
    Ridker PM, Danielson E, Fonseca FA, Genest J, Gotto AM Jr, Kastelein JJ et al Nordestgaard BG, Shepherd J, Willerson JT, Glynn RJ; JUPITER Study Group. Rosuvastatin to prevent vascular events in men and women with elevated C-reactive protein. N Engl J Med. 2008;359(21):2195-207.
  • 5
    Glynn RJ, Koenig W, Nordestgaard BG, Shepherd J, Ridker PM. Rosuvastatin for primary prevention in older persons with elevated C-reactive protein and low to average low-density lipoprotein cholesterol levels: exploratory analysis of a randomized trial. Ann Intern Med. 2010;152(8):488-96, W174.
  • 6
    Gordon DJ, Probstfield JL, Garrison RJ, Neaton JD, Castelli W P, Knoke JD, et al. High-Density lipoprotein cholesterol and cardiovascular disease. Four prospective American studies. Circulation. 1989;79(1):8-15.
  • 7
    Cooney MT, Dudina A, Bacquer DD, Fitzgerald A, Conroy R, Sans S, Menotti A, De Backer G, Jousilahti P, Keil U, Thomsen T, Whincup P, Graham I, SCORE Investigators. How much does HDL cholesterol add to risk estimation? A report from the SCORE investigators. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2009;16(3): 304-14.
  • 8
    Upmeier E, Lavonius S, Lehtonen A, Viitanen M, Isoaho H, Arve S. Serum lipids and their association with mortality in the elderly: a prospective cohort study. Aging Clin Exp Res. 2009;21(6):424-430.
  • 9
    Briel M, Ferreira-Gonzalez I, You JJ, Karanicolas PJ, Akl EA, Wu P, et al. Association between change in high density lipoprotein cholesterol and cardiovascular disease morbidity and mortality: systematic review and meta-regression analysis. BMJ. 2009;338:b92.
  • 10
    Sailam V, Karalis DG, Agarwal A, Alani F, Galardi S, Covalesky V, et al. Prevalence of emerging cardiovascular risk factors in younger individuals with a family history of premature coronary heart disease and low Framingham risk score. Clin Cardiol. 2008;31(11):542-5.
  • 11
    Amarenco P, Labreuche J, Touboul PJ. High-density lipoprotein-cholesterol and risk of stroke and carotid atherosclerosis: A systematic review. Atherosclerosis. 2008;196(2):489-96.
  • 12
    Prospective Studies Collaboration, Lewington S, Whitlock G, Clarke R, Sherliker P, Emberson J, Halsey J, Qizilbash N, Peto R, Collins R. Blood cholesterol and vascular mortality by age, sex, and blood pressure: a meta-analysis of individual data from 61 prospective studies with 55 000 vascular deaths. Lancet. 2007;370(9602):1829-39.
  • 13
    van Vliet P, Oleksik AM, van Heemst D, de Craen AJ, Westendorp RG Dynamics of traditional metabolic risk factors associate with specific causes of death in old age. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2010;65(5):488-94.
  • 14
    Willems JM, Trompet S, Blauw GJ, Westendorp RG, de Craen AJ. White blood cell count and C-reactive protein are independent predictors of mortality in the oldest old. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2010;65(7):764-8.
  • 15
    Cesari M, Onder G, Zamboni V, Capoluongo E, Russo A, Bernabei R, et al. C-reactive protein and lipid parameters in older persons aged 80 years and older. J Nutr Health Aging. 2009;13(7):587-93.
  • 16
    Kravitz BA, Corrada MM, Kawas CH. High levels of serum C-reactive protein are associated with greater risk of all-cause mortality, but not dementia, in the oldest-old: results from The 90+ Study. J Am Geriatr Soc. 2009;57(4):641-6.
  • 17
    de Ruijter W, Westendorp RG, Assendelft WJ, den Elzen W P, de Craen AJ, le Cessie S, et al. Use of Framingham risk score and new biomarkers to predict cardiovascular mortality in older people: population based observational cohort study. BMJ. 2009;8;338:a3083.
  • 18
    Carriere I, Dupuy AM, Lacroux A, Cristol J P, Delcourt C. Pathologies Oculaires Liées à l'Age Study Group Biomarkers of inflammation and malnutrition associated with early death in healthy elderly people. J Am Geriatr Soc. 2008;56(5):840-6.
  • 19
    Berbée JFP, Mooijaart S P, Craen AJM, Havekes LM, Heemst D, Rensen PCN, Westerdorn RGJ. Plasma apolipoprotein CI protects against mortality from infection in old age. J Gerontol Series A. 2008;63(2):122-6.
  • 20
    Clarke R, Emberson JR, Breeze E, Casas J P, Parish S, Hingorani AD, et al. Biomarkers of inflammation predict both vascular and non-vascular mortality in older men. Eur Heart J. 2008;29(6):800-9.
  • 21
    Landi F, Russo A, Pahor M, Capoluongo E, Liperoti R, Cesari M, et al. Serum high-density lipoprotein cholesterol levels and mortality in frail, community-living elderly. Gerontology. 2008;54(2):71-8.
  • 22
    Akerblom JL, Costa R, Luchsinger JA, Manly JJ, Tang MX, Lee JH, et al. Relation of plasma lipids to all-cause mortality in caucasian, african-american and hispanic elders. Age Ageing. 2008;37(2):207-13.
  • 23
    Kompoti M, Drimis S, Papadaki A, Kotsomytis K, Poulopoulou C, Gianneli D, et al. Serum C-reactive protein at admission predicts in-hospital mortality in medical patients. Eur J Intern Med. 2008;19(4):261-5.
  • 24
    Shinkai S, Chaves PH, Fujiwara Y, Watanabe S, Shibata H, Yoshida H, et al. Beta2-microglobulin for risk stratification of total mortality in the elderly population: comparison with cystatin C and C-reactive protein. Arch Intern Med. 2008;28;168(2):200-6.
  • 25
    Spada RS, Toscano G, Cosentino FI, Iero I, Lanuzza B, Tripodi M, et al. Low total cholesterol predicts mortality in the nondemented oldest old. Arch Gerontol Geriatr. 2007;44 Suppl 1:381-4.
  • 26
    Dupuy AM, Jaussent I, Lacroux A, Durant R, Cristol J P, Delcourt C. Waist circumference adds to the variance in plasma C-reactive protein levels in elderly patients with metabolic syndrome. Gerontology. 2007;53(6):329-39.
  • 27
    Jylhä M, Paavilainen P, Lehtimäki T, Goebeler S, Karhunen PJ, Hervonen A, et al. Interleukin-1 receptor antagonist, interleukin-6, and C-reactive protein as predictors of mortality in nonagenarians: the vitality 90+ study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2007;62(9):1016-21.
  • 28
    Mooijaart S P, van Vliet P, van Heemst D, Rensen PC, Berbée J F, Jolles J, et al. Westendorp RG. Plasma levels of apolipoprotein E and cognitive function in old age. Ann N Y Acad Sci. 2007;1100:148-61
  • 29
    Kistorp C, Raymond I, Pedersen F, Gustafsson F, Faber J, Hildebrandt P. N-terminal pro-brain natriuretic peptide, C-reactive protein, and urinary albumin levels as predictors of mortality and cardiovascular events in older adults. JAMA. 2005;293(13):1609-16.
  • 30
    Schupf N, Costa R, Luchsinger J, Tang MX, Lee JH, Mayeux R.0. Relationship between plasma lipids and all-cause mortality in nondemented elderly. J Am Geriatr Soc. 2005;53(2):219-26.
  • 31
    Psaty BM, Anderson M, Kronmal RA, Tracy R P, Orchard T, Fried L P, et al. The association between lipid levels and the risks of incident myocardial infarction, stroke, and total mortality: The Cardiovascular Health Study. J Am Geriatr Soc. 2004;52(10):1639-47.
  • 32
    Weverling-Rijnsburger AW, Jonkers IJ, van Exel E, Gussekloo J, Westendorp RG. High-density vs low-density lipoprotein cholesterol as the risk factor for coronary artery disease and stroke in old age. Arch Intern Med. 2003;163(13):1549-54.
  • 33
    Lloyd-Jones DM, Wilson PW, Larson MG, Leip E, Beiser A, D'Agostino RB, et al. Lifetime risk of coronary heart disease by cholesterol levels at selected ages. Arch Intern Med. 2003;163(16):1966-72.
  • 34
    Shor R, Wainstein J, Oz D, Boaz M, Matas Z, Fux A, Halabe A. Low HDL levels and the risk of death, sepsis and malignancy. Clin Res Cardiol. 2008;97(4): 227-33.
  • 35
    Yokokawa H, Goto A, Terui K, Funami Y, Watanabe K, Yasumura S. Prevalence of metabolic syndrome and serum marker levels in patients with four subtypes of cerebral infarction in Japan. J Clin Neurosci. 2008;15(7):769-73
  • 36
    Fujisawa M, Okumiya K, Matsubayashi K, Hamada T, Endo H, Doi Y. Factors associated with carotid atherosclerosis in community-dwelling oldest elderly aged over 80 years. Geriatr Gerontol Int. 2008;8(1):12-8.
  • 37
    Flegar-Mestrić Z, Vrhovski-Hebrang D, Preden-Kereković V, Perkov S, Hebrang A, Grga A, et al. C-reactive protein level in severe stenosis of cerebral arteries. Cerebrovasc Dis. 2007;23(5-6):430-4.
  • 38
    Rontu R, Ojala P, Hervonen A, Goebeler S, Karhunen PJ, Nikkilä M, et al. T. Apolipoprotein E genotype is related to plasma levels of C-reactive protein and lipids and to longevity in nonagenarians. Clin Endocrinol (Oxf). 2006;64(3):265-70.
  • 39
    Lehtimäki T, Ojala P, Rontu R, Goebeler S, Karhunen PJ, Jylhä M, et al. Interleukin-6 modulates plasma cholesterol and C-reactive protein concentrations in nonagenarians. J Am Geriatr Soc. 2005;53(9):1552-8.
  • 40
    Hoekstra T, Geleijnse JM, Schouten EG, Kok FJ, Kluft C. Relationship of C-reactive protein with components of the metabolic syndrome in normal-weight and overweight elderly. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2005;15(4):270-8.
  • 41
    Mukamal KJ, Kronmal RA, Tracy R P, Cushman M, Siscovick DS. Traditional and novel risk factors in older adults: cardiovascular risk assessment late in life. Am J Geriatr Cardiol. 2004;13(2):69-80.
  • 42
    Rye K, Barter PJ, Anti-inflammatory Actions of HDL: A new insight. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2008;28(11):1890-1.
  • 43
    Verma S, Devaraj S, Jialal I. Is C-reactive protein an innocent bystander or proatherogenic culprit? C-Reactive protein promotes atherothrombosis. Circulation. 2006;113(17):2128-51.
  • 44
    Ettinger Jr WH, Verdery RB, Wahl PW, Fried L P, High density lipoprotein cholesterol subfractions in older people. J Gerontol. 1994;49(3):M116-M122.
  • 45
    Hindorff LA, Rice KM, Lange LA, Diehr P, Halder I, Walston J, et al. Common variants in the CRP gene in relation to longevity and cause-specific mortality in older adults: the Cardiovascular Health Study. Atherosclerosis. 2008;197(2):922-30.
  • 46
    Zacho J, Tybjærg-Hansen A, Jensen JS, Grande P, Sillesen H, Nordestgaard BG. Genetically elevated C-reactive protein and ischemic vascular disease. N Engl J Med. 2008;359(18):1897-908.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2011

Histórico

  • Recebido
    22 Dez 2010
  • Aceito
    02 Set 2011
Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein Avenida Albert Einstein, 627/701 , 05651-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 2151 0904 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@einstein.br