Open-access Selvagens e confinados: uma história dos zoológicos colombianos e suas revelações sobre os destinos de animais e entrelaçamentos do Estado, décadas de 1930 a 1990

Resumo

Este artigo apresenta a primeira história dos zoológicos colombianos e é uma das poucas contribuições à história dessas instituições na América Latina. Nele, propõe-se que nos zoológicos dessa região predominavam animais nativos, indício da crescente transformação de florestas e outros ecossistemas nativos em terrenos agrícolas e pastos, assim como do gradativo distanciamento entre pessoas e natureza. Os zoológicos colombianos também evidenciam as limitações do Estado no período de sua mais rápida expansão. Eles revelam como os interesses privados eclipsaram o Estado fornecendo comodidades públicas, mas também como ofereceram soluções não convencionais a algumas das dificuldades na formação do Estado.

Colômbia; animais; Estado; história

Abstract

This article presents the first history of Colombian zoos and one of the few contributions to the history of these institutions in Latin America. It proposes that in this region’s zoos native animals tended to predominate, signaling the increasing transformation of forests and other native ecosystems into croplands and pasturelands, as well as the growing distance between people and natural environments. Colombian zoos additionally underscore the limitations of the State in its period of most rapid expansion. They reveal how private interests overshadowed the State by providing public amenities, but also how they offered unconventional solutions to certain hurdles of State formation.

Colombia; animals; State; history

Alguns anos atrás, quando comecei a lecionar em um curso sobre os animais na história, levei meus alunos e crianças para visitar o Zoológico Santa Cruz, local onde, quando criança, pude conhecer as antas, animais pelos quais fiquei fascinada desde então. Atravessamos Bogotá, situada a 2.600m de altitude, e viajamos por uma hora no sentido sudoeste, descendo 800m rumo a um clima mais ameno para criaturas da mata em comparação com o clima frio e nublado da capital. Assim que chegamos, caminhamos por vias sinuosas em declives e aclives na montanha, em meio à exuberante vegetação, observando os animais em suas diminutas jaulas. Eram encantadores com seu visual, seus movimentos e interações; o espetáculo, porém, era triste. Desde a inauguração em 1975, o zoológico vinha sobrevivendo quase que milagrosamente com parcos recursos. Contudo, o diretor e a equipe de funcionários nos contaram sobre os esforços envidados para oferecer aos animais a experiência de vida mais decente, dentro do possível.

Figura 1
: Zoológicos colombianos e cobertura florestal; mapa de Christian Medina Fandiño; informações sobre cobertura florestal baseadas em Etter, McAlpine, Possingham (2008) e Betancourth (2007)

Esse zoológico tardio foi o melhor que a capital da Colômbia pôde conquistar depois de iniciar, na década de 1930, os planos de construir um jardim zoológico que melhoraria o status da cidade e forneceria aos seus habitantes um tipo de divertimento educativo. Fazia parte de uma tendência de criação de zoológicos na América Latina que passou a ocorrer a partir de meados do século XX – período que viria a ser chamado de Grande Aceleração, devido ao aumento sem precedentes da pegada humana no planeta (McNeill, Engelke, 2014). Antes do Santa Cruz, para constrangimento de Bogotá, havia os zoológicos de Medellín, Barranquilla e Pereira, criados ao final da década de 1950, além de outro em Cali, inaugurado uma década depois. A insólita Hacienda Nápoles, em atividade por pouco tempo, também faz parte dessa onda. Localizada entre Medellín e Bogotá, no cálido vale do rio Magdalena, exibia herbívoros exóticos à solta, os quais haviam sido contrabandeados para o país pelo narcotraficante Pablo Escobar ao final da década de 1980. São Paulo (1958) e Belo Horizonte (1959) no Brasil, Lima (1964) no Peru e Córdoba (1967) na Argentina também construíram zoológicos nessas décadas, quando a América Latina se tornava mais urbana do que rural e a destruição de habitat – particularmente florestas – acelerava. Com a diminuição das populações de animais, alguns indivíduos removidos acabavam sendo levados para morar nos zoológicos que brotavam nas cidades em desenvolvimento, assinalando o alargamento da distância entre pessoas e ecossistemas nativos.

Ao contrário dos países que se anteciparam na transição urbana, a Colômbia ficou totalmente para trás nessa primeira onda de criação de zoológicos na América Latina (Duarte, 26 Sept. 2017). As capitais de Argentina, Uruguai e Chile foram as primeiras a criar zoológicos, em 1875, 1894 e 1925, respectivamente. Capitais relativamente proeminentes, como Havana (1943) e Caracas (1945), também antecederam, ainda que de maneira muito mais discreta, a onda de criação de zoológicos da qual a Colômbia participou. À medida que as cidades latino-americanas ganhavam protagonismo, suas elites passaram a defender a criação de zoológicos que viriam a selar o posicionamento tanto dos centros urbanos quanto dos países sob seu comando. Em 1883, Carlos Pellegrini, senador e futuro vice-presidente da Argentina, solicitou que o setor zoológico do Parque Tres de Febrero, de Buenos Aires, fosse modernizado para se tornar um jardim zoológico propriamente dito. Durante viagem pela Europa, escreveu ao prefeito de Buenos Aires afirmando que “em toda a Europa, não há nenhuma cidade mediana sem zoológico”, oferecendo-se, em seguida, a encomendar a compra de elefantes indianos, hipopótamos, camelos, zebras e diversos felinos de grande porte de “Carlos” Hagenbeck, renomado comerciante de animais selvagens (citado em Del Pino, 1979, p.40). A aprovação de tal oferta incluía mamíferos cativos de outros países para asseverar o status cosmopolita de sua cidade. Algumas décadas depois, no início do século XX, Jesús Sánchez, entomologista mexicano, lamentou em carta para Justo Sierra, ministro de Instrução Pública e Belas Artes do governo Porfirio Díaz, ser “espantoso e constrangedor que em plena capital do país não tenhamos um jardim zoológico-botânico à altura da cultura e do progresso inegáveis alcançados por seus habitantes” (Sánchez, 1911, p.XXXIII). A Cidade do México aguardou até 1923, após a revolução, para que o grande Parque Chapultepec inaugurasse seu zoológico.

Como mostram esses exemplos, os zoológicos da América Latina seguiram um modelo europeu consagrado no século XIX. No entanto, as semelhanças provenientes da imitação não levam em consideração alguns dos aspectos mais cruciais que definem e explicam os zoológicos latino-americanos. Ainda que de ambos os lados do Atlântico os zoológicos tenham simbolizado a ascensão dos estilos de vida urbanos e tenham sido concebidos para denotar o grau de civilização de cidades e países, em parte ancorados no fascínio científico, os animais predominantemente nativos da América Latina revelam que a relevância histórica dessas instituições advém das próprias trajetórias ambientais e políticas de suas sociedades. Ao contrário de seus antecessores na Europa e também no Japão, os zoológicos latino-americanos não estavam associados a sua política de expansão imperial (Ritvo, 1989; Miller, 2013; Cowie, 2014; Bruce, 2017). Os jardins zoológicos europeus seguiam uma tradição, iniciada pelas menageries, segundo a qual exibiam-se animais exóticos, sobretudo asiáticos e africanos, mas também alguns das Américas. Espécies importadas de terras distantes com muita dificuldade, assim como arquitetura extravagante imitando pagodes ou templos egípcios, serviam como poderosos símbolos imperiais. O zoológico de Londres, por exemplo, inaugurado em 1828, “funcionava … como um microcosmo do Império Britânico, no qual britânicos comuns podiam ter uma ideia tangível do poderio e do empreendimento britânicos no exterior” (Cowie, 2014, p.26; Ritvo, 1989; Rothfels, 2008). Animais estrangeiros, como hipopótamos e tigres-de-bengala, não eram apenas raros e impressionantes, mas também assinalavam um agudo contraste com a fauna europeia, acuada e aniquilada muito antes do século XIX uma vez que a Europa ocidental acabara com suas florestas (Kaplan, Krumhardt, Zimmermann, 2009). Íbis, ursos, lobos e cervos podiam ser interessantes, mas também difíceis de adquirir e, de todo modo, não eram páreo para girafas e elefantes.

Por outro lado, os zoológicos latino-americanos se beneficiavam de uma fonte prolífica de animais selvagens: vastas florestas e savanas naturais que, quando transformadas em terra para agricultura e pastagem, privaram seus habitantes de abrigo e sustento. O Zoológico de Buenos Aires, que mais se aproximou dos padrões do Velho Mundo haja vista a importação de mamíferos africanos com as receitas das lucrativas exportações portuárias, iniciou sua coleção com fauna nativa. À medida que a cidade ampliava seus domínios pelos pampas adjacentes criando estancias (ranchos), seus proprietários, que lideravam a cidade, doaram um furão, um lobo-guará, um guanaco, uma dupla de raposas, um casal de cutias, uma ema, uma capivara, um puma e diversos pássaros, juntamente com três alpacas (domésticas), para iniciar a coleção de animais da cidade (Del Pino, 1979). Zoológicos mais recentes, como os abertos na Colômbia nas décadas de 1950, 1960 e 1970, tinham em comum com seus equivalentes mais antigos o fato de serem produto do crescente distanciamento entre as pessoas e os animais selvagens ensejado pela urbanização e transformação paisagística. Durante o século XX e por toda a região, as visitas a zoológicos, onde a quantidade de animais nativos ultrapassava a de espécimes exóticos, passaram a substituir os encontros de seres humanos com a fauna silvestre em áreas rurais.

Os zoológicos colombianos da segunda metade do século XX não só representam mudanças importantes no relacionamento de latino-americanos com a natureza, mas também proporcionam uma análise não convencional da formação, da atuação e dos entrelaçamentos do Estado com a iniciativa privada. Os zoológicos tendiam a ser projetos estatais por alguns motivos irrefutáveis: necessitam de considerável influência em apoio à compra, exibição e manutenção dos animais vivos; fornecem um serviço público; e oferecem (ou pelo menos ofereceram) prestígio às cidades e suas autoridades. A aparente exceção aos pioneiros latino-americanos confirma a regra: Alejo Rossel y Rius, o empreendedor que criou o zoológico de Montevideo em 1894, fez a doação para o município em 1913. Entretanto, foram as Sociedades de Melhorias Públicas – instituições privadas criadas para fornecer serviços para as cidades – que criaram os três primeiros zoológicos colombianos, ao passo que Santa Cruz e Nápoles foram produtos unicamente de empresários, ainda que muito distintos. Apenas o zoológico de Cali foi fruto de esforços municipais. As histórias de coleções fracassadas de animais de Bogotá, o Zoológico Santa Fe de Medellin, além de Santa Cruz e Nápoles – descritas aqui – revelam as insuficiências da atuação estatal e algumas das estratégias desesperadoras ou hábeis empregadas por instituições estatais para superar suas limitações. Elas também expõem as rivalidades e colaborações entre o Estado e as elites que o controlavam (ou desejavam fazê-lo) em sua busca por obter reconhecimento por meio da oferta de comodidades públicas. Mais importante, contam sobre o passado e as perspectivas das criaturas selvagens que nós, seres humanos, estamos destruindo.1

Fiasco

Da década de 1930 até a de 1970, pelo menos três iniciativas estatais fracassaram em dotar Bogotá, capital do terceiro maior país da América Latina em termos populacionais, de uma instituição que viabilizaria à população o divertimento com a observação de animais nacionais em cativeiro. Em 1933, quando o país colhia os benefícios da expansão econômica liderada pelas exportações de café e Bogotá tinha cerca de 300 mil habitantes, políticos podiam enfim alimentar o sonho de ter um zoológico. O congresso aprovou a Lei 34, que criava a Academia de Ciências, e a ela confiava a construção de um museu de ciência natural, além de jardins botânicos e zoológicos, na capital da nação. Com o início das operações da Academia, seu secretário, Alberto Borda, reiterou a necessidade de “a capital ter … jardins botânicos e zoológicos, assim como a maioria das capitais sul-americanas” (citado em Ospina Pérez, 2020, p.30). O momento era propício para Bogotá recuperar o tempo perdido: a cidade estava começando a construir seu Parque Nacional, uma ampla área de recreação englobando cerca de cinquenta hectares que incluiria a exposição de animais (De la Cruz, 1934). Ainda que não fossem essenciais como água limpa, sistema de esgoto ou eletricidade, os zoológicos melhoravam consideravelmente a envergadura de grandes parques urbanos e a experiência dos citadinos que os visitavam. Entretanto, a conjunção de forças de duas das instituições estatais de maior destaque do país – congresso e autoridades municipais da capital – só conseguiram providenciar uma única gaiola abrigando um par de macacos.

A ideia de criar um zoológico em Bogotá ressurgiu na década de 1950 como desdobramento das expedições de biólogos para coleta de espécimes botânicos e zoológicos. Dessa vez, o órgão fracassado por trás dos esforços era a mais distinta instituição educacional pública do país. Em 1940, o Departamento de Botânica da Universidade Nacional (criado em 1936) foi alçado a Instituto de Ciências Naturais e se tornou o principal centro de pesquisas biológicas do país. Considerando que as ciências naturais na Colômbia giravam em torno de um esforço quixotesco para construir um inventário de espécies, não causaria surpresa o fato de o incentivo para acumular peles de animais para identificação ter levado à gradual formação de uma coleção negligenciada de animais vivos mantida atrás das instalações do instituto. No início de 1959, a administração do instituto tentou aprimorá-lo e expandi-lo. Foram construídas novas gaiolas para abrigar “animais colombianos, assim como algumas espécies de outros continentes, na esperança de que assim poderia, aos poucos, ser criado um verdadeiro parque zoológico” (Se reorganiza…, 19 Mar. 1959, p.9). Apesar dos esforços para erguer o ambicionado zoológico, em 1960 ele foi destruído por falta de fundos, fazendo cair por terra a conquista de “uma antiga aspiração: o grande zoológico da capital, tantas vezes projetado, planejado e anunciado” (Un zoológico…, 12 Apr. 1960).

A esperança se manteve e, ao final da década de 1960, ressurgiram os planos de exibição de animais no Parque Nacional com uma estrutura de 23 jaulas. Assim como no caso da coleção do Instituto de Ciências Naturais, essa montagem rudimentar também não poderia ser considerada um zoológico propriamente dito. Meu pai, um bogotano que a mim transmitiu o amor aos animais criando cães e visitando zoológicos, nunca me levou a esse, embora eu, ainda criança com 10 anos incompletos, estivesse na idade perfeita para tal passeio. Ele sequer se recorda da existência de animais no Parque Nacional. A exibição banal desapareceu da memória coletiva da cidade, a ponto de recentemente, o artista gráfico Gustavo Villa ter resgatado o que restou da base das jaulas para uma exposição devidamente intitulada “Museu Efêmero do Esquecimento”. A exposição incluía trechos de um relatório oficial do início da década de 1980, quando os animais já não estavam mais lá, que descrevia a empreitada como “lastimável” e o local como “um escárnio de zoológico”.2

Enquanto os limites do Estado se confirmavam em Bogotá depois de a cidade não conseguir anunciar sua maturidade recebendo fauna selvagem de modo subjugado, Medellín criou um zoológico que serviu para valorizar a reputação de sua classe empresarial, em vez de enfatizar a legitimidade municipal.

Fauna nativa em exposição

Durante alguns meses, meu pai compensou a falta de zoológicos na minha infância em Bogotá construindo seu próprio menagerie quando vivia na região de Urabá, no caribe colombiano. Em 1960, foi destacado para a vila de Chigorodó quando servia como oficial do Exército para o National Geographic Institute. Ainda faltavam medições fundamentais para o traçado cartográfico do país, portanto o Exército foi escalado para a tarefa em áreas consideradas difíceis. Chigorodó era produto da economia extrativista de marfim-vegetal do final do século XIX, que consistia na coleta e exportação de sementes de uma palmeira usadas para a fabricação de botões. No período em que meu pai morou na região, Chigorodó era ainda apenas uma rua com poucas casas que viviam da obtenção de recursos da floresta no entorno – não mais sementes, mas madeira de lei tropical. A floresta também fornecia lenha, materiais de construção e carne. Por vezes, a população local adentrava a cidade com animais vivos que havia capturado. Fascinado pelos encontros casuais com essas criaturas, meu pai terminou adquirindo um macaco-prego, uma jiboia, um pequeno leopardo, um bicho-preguiça e uma arara. Atividades de caça os deslocaram da floresta, e a monocultura da banana não tardaria a destruir seu habitat. Após oito meses trabalhando em Chigorodó, meu pai foi transferido para Medellín, onde doou os animais para o zoológico recém-aberto (Leal Buitrago, 2019).

Conforme já mencionado, o Zoológico de Santa Fe iniciou as operações mais ou menos na mesma época que outros zoológicos colombianos, que também exibiam sobretudo fauna nativa adquirida nas cercanias do país. Assim como os zoológicos de Barranquilla e Pereira, o Santa Fe foi obra da Sociedade de Melhorias Públicas da cidade, que iniciara o projeto anos antes. Em reunião em 13 de outubro de 1933, ao mesmo tempo em que o Congresso pressionava pela construção de um zoológico nacional, Gabriel Echavarría “sugeriu a ideia … de iniciar a formação de uma coleção de animais na Floresta da Independência” (Acta n.1.177, 16 Oct. 1933, p.454). Desde a sua concepção em 1910, a Sociedade exercia um papel crucial na criação de áreas verdes na cidade. Entre as de maior destaque havia a floresta plantada com um lago que começou a ser formado em 1913 (García Estrada, 1999). Como um dos principais empresários da Colômbia, Echavarría (fundador de renomadas fábricas de tecido e de utensílios de alumínio) expressou as aspirações de uma classe cujos membros haviam viajado para o exterior e almejavam viver em uma cidade moderna. Sua proposta se concretizou um quarto de século depois, quando a cidade havia crescido passando a cerca de 650 mil habitantes e a Sociedade herdava de Mercedes Sierra de Pérez a hacienda Santa Fe. Localizada na margem sul da cidade, essa propriedade havia pertencido ao pai dela, o famoso Pepe Sierra, um almocreve que acabou por acumular imensa fortuna. A Sociedade convocou os melhores homens da cidade para transformar o local em um zoológico. Elías Zapata, um jovem arquiteto que, à época, também trabalhou na modernização do aeroporto da cidade, esboçou o projeto, enquanto o irmão Daniel, um naturalista de renome da congregação La Salle Roman Catholic, presidia a comissão responsável pelo desenvolvimento do zoológico (Labores de la Sociedad, 1960).

Esse zoológico exemplifica o modo como as elites locais contribuíram decisivamente para o fornecimento de comodidades urbanas em seu papel de filantropos no lugar de funcionários públicos comprometidos. Embora os projetos da Sociedade de Medellín fossem muitas vezes executados em colaboração com a câmara municipal, permaneciam como empreendimentos privados que exaltavam a elite da cidade em vez do estado local. Em vez de canalizar recursos por meio da prefeitura, de cuja administração participavam, os empresários preferiam uma postura discricionária, atuando com mais eficácia nas contribuições às melhorias urbanas. Sua estratégia de formação de “uma empresa ou pessoa jurídica executando … funções públicas” ficou evidente na Federação Nacional de Produtores de Café, cujas funções eram consideradas “essenciais [para] o interesse nacional”, e incluíam a compra e a exportação de café, bem como a oferta de assistência técnica aos produtores (Palacios, 1980, p.217). A construção de um zoológico não era crucial para a economia nacional, mas seria útil para modernizar a segunda maior cidade da Colômbia e dotar seus cidadãos de um “símbolo de orgulho cívico” (Hanson, 2002, p.3).

Figura 2
: Capa de Progreso (n.32, 1960), revista da Sociedad de Mejoras Públicas

A criação desse símbolo urbano dependia, em última instância, da aquisição de animais. Ainda que doações como a realizada por meu pai fossem bem-vindas, a nova instituição necessitava de uma fonte mais segura de cativos. Na edição de 1960 de sua revista, dedicada a promover o zoológico, a Sociedade explicou que “os animais haviam sido obtidos em diversas partes do país, principalmente a Amazônia” (Labores de la Sociedad, 1960, p.23). Assim como Urabá na época, Leticia, porto da Colômbia no rio Amazonas, vivia da extração de algumas das poucas formas perenes de vida que compunham as florestas tropicais. Na década de 1950, após garantir transporte aéreo regular, esse porto se especializou no fornecimento de animais para zoológicos, centros de pesquisa e até mesmo residências, em grande parte nos EUA (Pantevis, draft). Uma dessas infelizes criaturas, um saimiri ou macaco-de-cheiro, acabou frequentando a missa em Bogotá escondido nos cabelos de minha avó paterna. Em 1952, um pretendente de minha tia visitou Leticia, como rotina de seu trabalho no Banco Agrário, e tentou agradar a futura sogra com esse presente original. Outros animais amazônicos foram levados para Medellín e exibidos em gaiolas.

A revista da Sociedade de 1960 também cita o recebimento de “animais que foram exibidos na Feira de Bogotá, doados por Pablo Leyva da Universidade Nacional” (Labores de la Sociedad, 1960, p.23). Leyva, diretor do Instituto de Ciências Naturais, aparentemente emprestou os animais da instituição para exposição na Feira Pecuária de Bogotá, realizada em agosto de 1959 (Hoy a las 2pm…, 5 Ago. 1959). Alguns meses depois, quando o pretenso zoológico foi fechado, o jornal de Bogotá El Espectador informou que “os melhores e mais caros animais foram confiados a uma entidade … em Medellín”, que não poderia ser outra além do Zoológico Santa Fe (Un Zoológico…, 12 Apr. 1960). Alguns desses animais também vieram da Amazônia, usurpados de seus habitats em nome da ciência. Georg Dahl (8 Mar. 1959), o ictiólogo da expedição biológica mais importante do país de que se tem notícia até hoje, que havia explorado a La Macarena Mountain Biological Reserve, escreveu que seus membros caçavam animais para trazê-los com vida a fim de realizar “estudos biológicos e também aprimorar o jardim zoológico de Bogotá, que está em obras”. Referia-se à tentativa de transformar a coleção do instituto em zoológico, a qual consistia em “três tigres colombianos [jaguares], duas antas trazidas das Planícies Orientais, três caititus, seis raposas, um guaxinim, quinze macacos …, trinta tipos de pássaros, dois condores, uma harpia e um gavião-andino, além de quinze cobras e algumas tartarugas e jabutis” (Se reorganiza…, 19 Mar. 1959, p.9). Em vez de atenderem ao anseio da capital, alguns desses animais apenas trocaram o frio de Bogotá pelo clima mais quente de Medellín.

Por meio de Bogotá, porém usualmente sem intermediações, os animais aprisionados em zoológicos tinham origem nas fronteiras florestais do país, locais de atração de cientistas naturais, engenheiros trabalhando na construção de rodovias ou realizando pesquisas, empresários extraindo madeira ou plantando capim para engorda de gado, além de camponeses sem terras em busca de oportunidades de sustento. A maior parte dessas pessoas era originária das montanhas andinas, onde a maioria de colombianos historicamente vivia. Aventuravam-se pelas florestas que ainda cobriam 60% do território do país; florestas predominantemente quentes e úmidas localizadas na Amazônia, a costa do Pacífico, e o vale do rio Magdalena (Etter, McAlpine, Possingham, 2008). Quando o Zoológico Santa Fe iniciou suas atividades, acelerava-se a transformação desses ecossistemas em terras para agricultura e pecuária, propiciando mais encontros entre humanos e animais. Algumas das criaturas que perigosamente se aproximaram das pessoas acabaram atrás das grades. A revista de 1960 que promovia o Zoológico Santa Fe enumerava com orgulho as espécies que os leitores veriam ao visitá-lo. Todos aqueles doados por meu pai constavam da matéria, além de pássaros deslumbrantes como mutuns, tucanos, águias e condores, bem como jacarés, antas, capivaras, cerdos e pumas (Labores de la Sociedad, 1960).

Figura 3
: Jacaretinga, Zoológico Santa Fe, Medellín (Cortesia do Archivo de la Sociedad de Mejoras Públicas de Medellín)

Quase duas décadas depois, bogotanos como eu podiam visitar tipos semelhantes de animais no Zoológico Santa Cruz. Na qualidade de menagerie, essa coleção pertencia a um homem, não a uma Sociedade de Melhorias Públicas. Contudo, essa empreitada revela mais do que iniciativa privada; de um modo particular, era produto do Estado, ou na verdade, o nature state, aqui definido como o conjunto de instituições, regulamentações e relações que se desenvolveram com a responsabilidade por cuidar – e não apenas usar ou conquistar – da natureza (Kelly et al., 2017).

Preenchendo as lacunas

O Zoológico Santa Cruz ilustra uma abordagem à formação estatal caracterizada pela convocação de iniciativas e potenciais dos cidadãos, sejam empreendimentos privados ou movimentos comunitários, para compensar as carências institucionais. Essa abordagem salientou as limitações do Estado no período de sua mais célere expansão (Uricoechea, 1986; Orjuela, 2010), concomitante com a construção do zoológico durante a Grande Aceleração. Os conselhos participativos comunitários, criados a partir de 1958, constituem exemplos representativos; eleitos pelas comunidades entre seus membros, ajudavam a construir escolas, rodovias e sistemas de água e esgoto por todo o país, conferindo mais eficiência aos investimentos públicos (Bagley, Edel, 1980). Uma estratégia similar contribuiu para o surgimento do nature state colombiano, que alcançou seu primeiro marco em 1968 com a criação do Instituto Nacional de Recursos Naturais Renováveis e do Meio Ambiente (Inderena).

A fauna selvagem entrou no escopo da nova instituição, cujas diversas responsabilidades incluíam a regulamentação da caça comercial e esportiva, além do eventual confisco de criaturas silvestres indevidamente em posse da população (Colombia, 18 Dec. 1974, 31 July 1978 ). Uma vez perdida a capacidade de sobrevivência por conta própria, esses animais não podiam ser devolvidos à natureza. Obrigados a encontrar uma solução para o destino dessas espécies, as autoridades recorreram a um método que poderíamos chamar de rebusque, segundo a gíria colombiana. Embora a palavra seja empregada, de modo geral, para designar os diversos tipos de trabalhos informais executados sobretudo por pessoas pobres para conseguir fechar as contas do mês, aplica-se muito bem às soluções não convencionais para contornar as dificuldades enfrentadas na construção de instituições estatais. Representantes do Inderena e Chacón concordaram que ele receberia e zelaria pela fauna confiscada. A exposição de animais se tornou um modo de financiar a operação (Monsalve, 16 Apr. 2016).3 Ainda que os conselhos participativos comunitários houvessem melhorado a autonomia comunitária, as operações de Chacón com o Estado permitiram que ele estabelecesse um negócio incomum e a seu gosto.

Esse homem possuía credenciais limitadas para que lhe fosse confiada tamanha responsabilidade: ele havia estudado uma profissão relacionada a animais, porém apenas os domésticos e adaptados à produção; acima de tudo, ele os amava (Ortiz, 24 May 2015). Com a ajuda de trabalhadores trazidos de sua terra natal – San Gil, uma grande cidade na província de Santander – ele criou o zoológico. Trabalharam com entusiasmo e recursos relativamente baixos para tratar os animais fornecidos sobretudo pelo Estado. Em 1980, um lote, possivelmente o maior de todos, chegou da famigerada coleção do Parque Nacional. Além de 30 porquinhos-da-índia, o zoológico recebeu 58 animais, entre eles diversos pássaros (incluindo faisões, papagaios, araras, cucos, um gavião e uma águia), alguns macacos, lhamas e leopardos (Capturado…, 23 Mar. 1982).

A precariedade da estratégia do Inderena ficou evidente em uma noite de domingo, em março de 1982, quando Chacón se aproximou de seu Renault 4 para deixar o zoológico e dois homens o assassinaram durante uma tentativa de roubo dos valores dos ingressos do final de semana (Capturado…, 23 Mar. 1982). Ele tinha 56 anos, não era casado e não tinha filhos; sua mãe designou um parente para administrar o zoológico, porém ele não conseguiu evitar o declínio do local durante muitos anos. Hugo Bernal, um jovem primo de Chacón que passou a conhecer melhor sobre animais trabalhando no zoológico, acabou por herdá-lo e seguiu o mesmo triste destino de Chacón (Monsalve, 16 Apr. 2016; Ortiz, 24 May 2015). Mas essa é outra história. Enquanto o Zoológico Santa Cruz entrava em apuro financeiro, os bogotanos que possuíam automóveis e estavam interessados em ver a fauna selvagem puderam apreciar a experiência muito mais excitante de observar animais exóticos à solta na Hacienda Nápoles.

Imigrantes forçados e um estrangeiro nativo

Os zoológicos latino-americanos cobiçavam os imensos e majestosos mamíferos africanos e asiáticos que facilmente ofuscaram a fauna nativa, apesar da diversidade e riqueza desta. Essa disparidade remonta ao final da última Era Glacial (entre 18.000 e 11.000 anos atrás), quando a maioria dos grandes mamíferos americanos se tornou extinta. Segundo estimativas, na América do Norte, 72% dos gêneros de megafauna desapareceram, enquanto a América do Sul foi mais afetada com o desaparecimento de 83%, totalizando impressionantes 52 gêneros. Por outro lado, a África perdeu “apenas” 21% de seus mamíferos de grande porte. Considerando que muitos desses animais americanos haviam sobrevivido às glaciações anteriores, porém não haviam sido expostos às lanças do Homo sapiens, o debate acerca das causas da extinção tende a atribuir a culpa aos caçadores humanos e não à mudança climática. Então, aparentemente nossos ancestrais privaram nosso continente de preguiças gigantes, gliptodontes encouraçados e litopternos, aqueles herbívoros que lembram camelos com focinhos semelhantes a trombas (Koch, Barnosky, 2006; Stuart, 2015; Vergara, 24 May 2018). Na ausência desses animais, os zoológicos latino-americanos aproveitaram a fauna de menor porte que habitava os ecossistemas nativos. Assim também o fez a introspectiva China, que ajudou a transformar o panda em ícone nacional (Songster, 2018). Os zoológicos norte-americanos igualmente exploraram suas próprias riquezas animais, incluindo o difuso bisão, porém – para manter o status de instituições de um império em ascensão – não tardaram a competir com os zoológicos europeus pelas criaturas mais raras e impressionantes do planeta (Hanson, 2002).

A quantidade de animais estrangeiros abrigados por zoológicos latino-americanos variava de acordo com seus meios e conexões. Nos primeiros anos de funcionamento, o Zoológico Santa Fe de Medellín se valeu de sua perspicácia para obter imigrantes, com um resultado modesto. Graças à mediação do United States Office of Technical Assistance viabilizada de acordo com sua solicitação, “os zoológicos de Washington e Nova York doaram dois leões africanos, um búfalo e um chimpanzé” (Labores de la Sociedad, 1960, p.23). Como fora concebido como uma instituição para exposição e estudo da fauna amazônica, o pioneiro zoológico brasileiro inaugurado em 1895 no Pará, no baixo Amazonas, era uma exceção e não possuía animais exóticos (Sanjad et al., 2012). Dotados de potente simbolismo e capacidade de reprodução “rápida em cativeiro” (Hanson, 2002, p.168), felinos asiáticos e africanos de grande porte eram alguns dos residentes mais populares dos zoológicos locais, como atesta a história de Monaguillo, a estrela do Santa Cruz.

Pouco antes do nascimento desse filhote de leão africano no Zoológico Matecaña, na cidade de Pereira, em 1975, o iminente jornalista Daniel Samper Pizano solicitou sua compra. A diretoria do Independiente Santa Fe, um dos times de futebol de Bogotá, havia contratado o profissional para encontrar uma personificação do novo mascote do time, um leão, que “atrairia as crianças e representaria força e potência” (Samper Pizano, 13 May 2010). O time adquiriu Monaguillo “pelo preço de um boxer”, instalou-o no quintal da casa usada como sede e o exibiu em diversas ocasiões para milhares de fãs de futebol (Samper Pizano, 13 May 2010). Os vizinhos de Monaguillo eram crianças de ensino fundamental que provavelmente influenciaram mais a ação estatal tardia do que suas aparições públicas. Quando estava prestes a completar um ano, as autoridades confiscaram o animal e, assim como fizeram anteriormente com os filhotes de caititus, enviaram-no para Santa Cruz (Samper Pizano, 16 July 2012). Tornou-se a principal atração do zoológico até sua morte, poucos anos depois, provocada por um procedimento negligente.

Esse notável estrangeiro nativo faz parte do cenário diante do qual imigrantes forçados à Hacienda Nápoles se destacavam. Os primeiros a chegar, provavelmente em 1981, embarcaram em algum ponto do Texas, no sul dos EUA, e desembarcaram em Necoclí, uma pequena cidade no golfo de Urabá, na direção de Chigorodó, onde vivera meu pai décadas antes. Assim como no caso dos cigarros com os quais Pablo Escobar iniciou a vida no crime, os animais desviavam da alfândega e seguiam por quase 400km até Medellín de caminhão, percorrendo a “nauseante trilha conhecida como estrada para o mar” (Castro Caycedo, 1996, p.285). Chegaram a Nápoles, localizada cerca de 200km adiante, pela nova estrada que ligava a capital de Antioquia até Bogotá, que fora inaugurada oficialmente pouco depois. Os animais que chegaram posteriormente se beneficiaram com as melhorias: viajavam em aviões Hercules que aterrissavam ao cair da noite no aeroporto Olaya Herrera de Medellín, onde os narcotraficantes possuíam hangares para suas aeronaves. Os rinocerontes, os últimos a chegar, aterrissaram diretamente em Nápoles em um DC-3. Pelo menos é o que relata o filho de Pablo Escobar, Juan Pablo, no livro que escreveu sobre o pai (Escobar, 2015).

A versão do próprio Pablo Escobar é diferente, segundo relato mais glamoroso que fez para o jornalista Germán Castro Caycedo. Seus animais teriam chegado todos juntos em sua Arca de Noé pessoal, um avião de carga que aterrissou no aeroporto de Olaya Herrera, atraindo representantes de diversas instituições estatais, começando pelo Inderena. Incapaz de subornar todas elas, Escobar ordenou que os “rolos compressores” (Castro Caycedo, 1996, p.248) – girafas, elefantes, rinocerontes – fossem enviados juntos em diversos caminhões para Nápoles, aproveitando a distração das autoridades focadas em uma segunda remessa de animais menores para o vizinho Zoológico Santa Fe, para onde o Inderena solicitara que a totalidade do embarque fosse entregue. Naquela mesma noite, os homens de Escobar compraram

todo pato, toda galinha pintada, todo papagaio e todo peru que encontrassem pela frente. Compraram cabras, cabritos e ovelhas e, por volta das três da manhã chegaram ao zoológico e recuperaram as antílopes, as cacatuas pretas da Indonésia, as aves da Nova Guiné, os cisnes brancos europeus, os casuares, os faisões, o pato chinês, os grous-coroados, alguns cangurus e deixaram para trás a mercadoria nacional (Castro Caycedo, 1996, p.249).

Com seus rinocerontes e cacatuas, Escobar inadvertidamente seguiu uma longa tradição que remonta à Antiguidade, segundo a qual a realeza colecionava animais silvestres para ratificar seu status. No século XVIII, por exemplo, Carlos III da Espanha construiu uma menagerie com presentes enviados por autoridades trabalhando nas colônias e por governantes de outros domínios. Criaturas americanas, como o tamanduá gigante imortalizado pelo pintor Anton Raphael Mengs, destacavam-se particularmente (Gómez-Centurión Jiménez, 2011). A lista de proprietários de menagerie da realeza é extensa e incluía Kublai Kahn do Império Mongol, Montezuma do Império Asteca e Luís XIV da França (Hoage, Roskell, Mansour, 1996). Até mesmo Juan Manuel de Rosas, em seu papel mais modesto de ditador argentino (1835-1852), criou sua própria coleção de animais selvagens (Del Pino, 1979). Os narcotraficantes latino-americanos, como Chapo Guzmán do México, também reafirmavam sua posição e exibiam sua riqueza colecionando animais, enquanto membros de carteis, inferiores na hierarquia, posavam com felinos (bem como, carros e armas) nas mídias sociais em gesto presuntivo de poder. Foi desses exemplos, e não da história, que Escobar teve a ideia: imitou os irmãos Ochoa, seus parceiros do cartel de Medellín, que mantinham animais exóticos em Veracruz, sua hacienda caribenha.

Escobar estabeleceu a própria marca em sua forma de ostentação: ele afastava os predadores, pois queria que seus animais ficassem “livres” nas pastagens de sua hacienda, onde ele e seus convidados podiam realizar visitas em jipes e bugues. Não projetou jardins rebuscados com áreas cercadas como faziam os duques e príncipes de outrora (embora tivesse gaiolas para os pássaros), mas liderou a nova tendência de exibição de animais criando uma espécie de parque safári. Originalidade, não escala, foi o que imortalizou Nápoles. Sua amante da alta sociedade, Virginia Vallejo, achava que as instalações eram descomunais e careciam de elegância: “Falta à gigantesca [casa] todo o requinte característico das grandes haciendas tradicionais … [mas] as dimensões da área social – equivalentes à de qualquer clube de campo – evidenciam que as instalações foram projetadas para … receber centenas de pessoas” (Vallejo, 2017, p.26-27). Apenas o tamanho do local seria um indicativo medíocre de distinção, e a oferta de roupas de banho e chinelos para os convidados era cafona. Contudo, manter elefantes na propriedade, junto com zebras, camelos, hipopótamos e rinocerontes, atraiu a admiração de Vallejo e os demais. Hipopótamos e rinocerontes no lugar de antas ou mesmo tamanduás gigantes: assim como os zoológicos europeus, o de Escobar só cumpriria sua função social com fauna exótica.

Ferrovias e rodovias

Os fazendeiros que passaram a dominar o vale do médio Magdalena, onde Nápoles está situada, também usavam animais não nativos para demarcar seu status. Criavam uma mistura de gado asiático (Bos indicus) recém-importado com os descendentes crioulos de gado europeu (Bos taurus) recebidos no século XVI (Crosby, 1972; Van Ausdal, 2016). Mas primeiro prepararam os pastos destruindo as florestas que compunham o habitat da fauna nativa que acabou exposta em zoológicos. Essas pastagens, criadas com capim importado africano que coevoluíram com herbívoros de grande porte, permitiram que Escobar promovesse sua hacienda como uma savana africana ornamentada com girafas, antílopes e hipopótamos.

Figura 4
: Hacienda Nápoles, vale do médio Magdalena e infraestrutura de transporte; mapa de Christian Medina Fandiño; informações de cobertura florestal baseadas em Etter, McAlpine, Possingham (2008) e Betancourth (2007)

A fundação ecológica da fantasia de Escobar foi alcançada graças a uma série de importantes projetos de transporte público por meio dos quais o Estado cumpriu uma das suas principais responsabilidades e contribuiu para o desenvolvimento da face sul do vale do médio Magdalena. Em 1929 e 1930 (um tanto quanto tardiamente tomando como base a perspectiva latino-americana) surgiram as ferrovias descendo de Medellín e Manizalez na cordilheira central até os portos de Puerto Berrío e La Dorada e, em 1936, outra surgiria, ligando Bogotá (na cordilheira oriental) a Puerto Salgar. Esses portos atraíram colonizadores e fazendeiros que reivindicavam terras e plantavam capim, enquanto a extração de petróleo abria outra frente de desenvolvimento ao longo do rio, em Barrancabermeja (e, posteriormente, outra em Puerto Boyacá) (Álvarez, 2015). Árvores eram derrubadas não só para abrir espaço para a vegetação herbácea, mas também para fabricar dormentes para as ferrovias, para o transporte de madeira de lei aos centros urbanos e para o fornecimento de lenha para locomotivas a vapor.

Na década de 1950, acelerava-se a transformação dessa região com o andamento da construção do Ferrocarril del Atlántico, ao longo do vale. Seu primeiro trecho, de La Dorada a Puerto Berrío (passando por Puerto Triunfo), começou a ser construído em 1953 e foi inaugurado em 1958 (Currie, 1960). A ferrovia finalmente alicerçou a criação da Hacienda Nápoles: Jorge Tulio Garcés, o homem que vendeu diversas propriedades para Escobar, herdou-as de seu pai, que foi assassinado em 1964 e, muito provavelmente, aventurou-se na região na década de 1950 (Escobar, 2015; En busca del…, 30 Nov. 2013). Após a conclusão total do Ferrocarril del Atlántico em 1960, permitindo o transporte ferroviário em todo o percurso até o litoral caribenho, o mais importante naturalista da Colômbia, Enrique Pérez Arbeláez (s.d.), fez um passeio e ficou chocado com o que viu: “A floresta está em chamas. [A selva] foi devorada por pastagens”.

O fogo fez com que um mamífero doméstico do Velho Mundo substituísse uma miríade de espécies silvestres nativas. As florestas incendiavam, assim como as morrocos (tartarugas de patas vermelhas), lentas demais para escapar, enquanto caititus, macacos e jaguares migraram para florestas vizinhas, que também acabariam por sucumbir às chamas. A morte ou sobrevivência em densos fragmentos de floresta tornaram-se o destino da fauna neotropical, enquanto “o gado zebu cruzado com o gado red nativo” (Randell, 1953, p.28) aos poucos ocupava as terras, elevando seu valor. Esses híbridos fazem parte de uma história muito mais longa em que o Homo sapiens e suas espécies vassalas, o gado em particular, eclipsaram os mamíferos selvagens: a biomassa de gado supera a de mamíferos selvagens em 100 para 7 (Bar-Ona, Phillips, Milo, 2018).

A história de fornecimento de infraestrutura de transporte não termina com as ferrovias; ela inclui uma grande rodovia, conectando Bogotá a Medellín, sem a qual não haveria hacienda, nem zoológico e nem visitantes (Velásquez Hernández, 2018). Embora uma rota entre as duas principais cidades da Colômbia fizesse parte do plano de desenvolvimento rodoviário de 1931, sua realização permaneceu incerta por décadas. Em 1960, Lauchlin Currie (1960, p.209), eminente consultor de desenvolvimento da Colômbia, achava que esse projeto “deveria ser postergado indefinidamente porque é menos relevante que outros projetos”. Essas cidades já eram interligadas por outras rotas, ainda que mais extensas. Entretanto, em 1969, o governo surpreendentemente anunciou que construiria a estrada seguindo uma nova rota de passagem por Puerto Triunfo e, portanto, passando exatamente pelo que viria a ser a Hacienda Nápoles. As obras iniciaram no ano seguinte, de modo que em 1978, quando Escobar pagou generosamente por diversas propriedades na região, somando ao todo quase dois mil hectares, a rodovia estava consideravelmente avançada. Foi concluída apenas quatro anos depois (Barrera Carrasquilla, 1971; Salazar, 2001; Escobar, 2015).

A rodovia de nome pomposo, Bogotá-Medellín Highway, permitia visitas à região, literalmente pavimentando o golpe de mestre de Escobar. Abrindo sua coleção ao público, gratuitamente, o narcotraficante número um da Colômbia superou a elite antioquenha, a qual ele imitou ofuscando o estado local e regional. Por meio da Sociedade de Melhorias Públicas, essa elite substituiu o Estado oferecendo a Medellín, cidade natal de Escobar, parques e boulevards, uma biblioteca pública fantástica e um zoológico. Com o dinheiro do tráfico de cocaína, Escobar reproduziu essa tradição: financiou dezenas de campos de futebol, equipou-os com iluminação de última geração e forneceu moradia aos mais pobres dentre os pobres, sobretudo aqueles que tentavam sobreviver dos depósitos de lixo da cidade (Salazar, 2001). Ademais, fez tudo isso sozinho e por conta própria, não por meio de alguma sociedade ou fundação, e muitas vezes visitava as obras pessoalmente. Não à toa a Revista Semana se referia a ele como o Robin Hood de Antioquia (Robin Hood…, 19 Apr. 1983). Com seu zoológico drive-through, destinado às classes média e alta, Escobar coroou suas demonstrações anteriores de dever cívico.

Esse êxito se fundamentava na infraestrutura de Estado, mas também na capacidade de Escobar de se safar infringindo todas as regulamentações ligadas ao contrabando de diversos animais, ao transporte deles pelo país e à exibição dos mesmos. Contudo, quando a má conduta se tornou total beligerância contra o Estado, Escobar foi derrotado. Foi uma vitória de Pirro: não só o tráfico de drogas e os crimes a ele associados seguiram ininterruptos, como as instituições públicas foram incapazes de manter o fantástico zoológico de Nápoles e, portanto, aproveitar os benefícios simbólicos de sua existência.

Derrota geral

A manutenção e a importação de animais selvagens exigiam autorizações. No entanto, o novo e deficitário state nature, que atribuía a um zoológico instável a responsabilidade pelo zelo de fauna confiscada, não era capaz de controlar o contrabando de animais. Conforme relatado na seção anterior, o Inderena era a autoridade encarregada de regulamentar o uso de recursos naturais. Em 1974, o decreto 2811, conhecido como Código de Recursos Naturais, estabeleceu a responsabilidade do instituto de supervisionar os zoológicos, assim como a importação de fauna. O Inderena era uma instituição nova buscando novo terreno, com muitas responsabilidades e poucos recursos. Escobar era mestre em ludibriar e subornar autoridades do Estado, e por vezes era rude, para dizer o mínimo, diante de obstáculos. Em 1981, antes de seu nome ficar ostensivamente conhecido, mas depois de já ter marcado posição, o departamento alfandegário o acusou de contrabandear 85 animais, e em 1983, o Inderena o multou enquanto o departamento alfandegário ordenava o leilão dos animais (Pablo Escobar…, 20 June 1991). Embora sejam incertos quais efeitos tais medidas teriam provocado, há relatos que comprovariam que Escobar ficou incomodado com as tentativas das autoridades de Estado de exercer algum tipo de controle sobre o zoológico de Nápoles. O filho conta que seu pai se queixava de que “o Estado perseguia os animais do zoológico” (Escobar, 2015, p.153) e, segundo Castro Caycedo (1996, p.248), o narcotraficante teria declarado que “a alta sociedade de Medellín, conspirando com o Inderena, queria impedir [a ele] de trazer os animais”. O filho relata ainda que durante uma das batidas policiais oficiais em Nápoles, autoridades do Inderena confiscaram 12 zebras, as quais seu pai prontamente recuperou, deixando jegues para substituí-las (Escobar, 2015, p.154).

Escobar confrontou as autoridades estatais em escala muito maior após ameaças de extradição para os EUA feitas contra ele e traficantes de drogas. Pela primeira vez, apoiou grupos paramilitares no vale do médio Magdalena, que eram aliados do Exército para aniquilar as guerrilhas (Barón, 2011; Villamizar Hernández, Gómez Duque, Peña Aragón, 2020). Ainda que o ambiente de Nápoles tenha se transformado em um campo de batalha, os animais viveram bem até a morte do narcotraficante. A hacienda foi apreendida pela primeira vez em 1984, após o assassinato de Rodrigo Lara Bonilla, ministro da Justiça, e ocupada permanentemente pela polícia em 1989, após o assassinato do candidato presidencial Luis Carlos Galán – dois crimes encomendados por Escobar (Muertos dos agentes…, 9 Feb. 1991). Em 1991, o chefão das drogas se entregou após negociar a garantia de que não seria extraditado, e foi preso em uma cela luxuosa construída e controlada por ele. Após alguns meses do confinamento de Escobar, a jornalista Olga Behar visitou Nápoles. Em curto artigo publicado na revista Cromos, ela relatou que “os animais estão completamente saudáveis. A pele deles é macia e encantadora, as barrigas estão cheias e seu coração contente. São muito bem alimentados diariamente e foram contratadas mais de 200 pessoas dedicadas aos seus cuidados” (Behar, Set.-Out. 1991). O artigo foi ilustrado por uma foto do dromedário Mustafa e também citava Margarita, a elefanta, e seus três amigos da mesma espécie. O bem-estar dos animais, segundo relatos colhidos pela jornalista, era assegurado por “doações”, o que, para ela, significava que continuavam sob os cuidados do dono. Escobar escapou em julho de 1992, e a polícia o matou em dezembro do ano seguinte, selando o destino desse zoológico.

Em junho de 1993, o Gabinete de Promotoria Pública (Fiscalía) ordenou o confisco da Hacienda Nápoles, e poucos meses depois, o Departamento Nacional de Narcóticos distribuiu os animais entre os zoológicos de Santa Fe e Matecaña, em Medellín e Pereira (Ordenan..., 11 June 1993). Embora muitas autoridades achassem que as criaturas deveriam permanecer na hacienda, nenhuma instituição estava minimamente capacitada para cuidar deles naquele local, o que vale inclusive para o Inderena. Quando Jorge Luis Ochoa (também do cartel de Medellín) se entregou dois anos antes, os animais que possuía na Hacienda Veracruz foram, da mesma forma, enviados a zoológicos, sobretudo o de Barranquilla (Gómez Giraldo, 6 Mar. 1995). Contudo, uma vez cessado o apoio dos chefes, muitos de seus animais sofreram. A maioria dos enviados de Veracruz pereceu, e um dos elefantes de Escobar morreu no Zoológico Matecaña dois meses após sua chegada, ao que tudo indica por ingestão de objetos atirados por visitantes em seu cercado; outro sucumbiu seis meses depois, acometido por pneumonia (No todos…, 11 Nov. 1993; Murió elefante…, 22 May 1994). Os flamingos levados ao Zoológico Santa Fe, por outro lado, sobreviveram por muitos anos, assim como Tantor, um elefante que havia pertencido aos irmãos Ochoa (Descendientes…, 7 Sept. 2008; Así fue…, 11 Nov. 2017). Os hipopótamos deixados em Nápoles não só sobreviveram como vicejaram.

Invasores e refugiados

Os hipopótamos que habitam o vale do médio Magdalena, entre 65 e 80 indivíduos, descendentes de quatro a seis imigrantes, tornaram-se a memória viva do extinto zoológico (Shurin et al., 2020). Conseguindo sobreviver e se reproduzir sem assistência humana, esses mamíferos se tornaram espécies invasoras. A fecundidade é uma famosa característica dos hipopótamos: aos três anos de idade, as fêmeas podem começar a gerar filhotes, e são capazes de parir crias a cada dois ou três anos durante até quatro décadas (Subalusky et al., 2021)! Embora o grupo original tenha vindo dos EUA, os hipopótamos são herbívoros africanos ainda encontrados, em proporção decrescente, em diversos locais da África Ocidental, Central e Oriental. Como o próprio nome científico indica, o Hippopotamus amphibious habita áreas pantanosas entre terra e água. A menos de 14km do rio Magdalena, os ondulantes pastos da Hacienda Nápoles possuem lagos e canais onde esses animais chafurdam durante o dia e de onde emergem para pastar à noite. Alguns cientistas sugeriram que a única manada de hipopótamos selvagens fora da África está reconquistando os espaços vagos deixados por herbívoros de grande porte que se tornaram extintos no Pleistoceno Final (Lundgren et al., 2020).

A extraordinária existência desses hipopótamos, além de sua personalidade perigosa e conexão com o mais famoso filho da Colômbia, atraiu muita atenção aos animais. Primeiramente, jornalistas registraram alguns se aventurando fora de Nápoles. Em 1994, por exemplo, o El Tiempo relatou que “Moradores [da cidade vizinha de Doradal] contaram que [um] hipopótamo vivia na hacienda acompanhado de um casal cuja fêmea estava no cio. O parceiro da fêmea não permitia que outros machos dividissem o território com ele e decidiu importunar [o hipopótamo solitário] até o ponto de levá-lo ao exílio” (León Restrepo, 5 Mar. 1994). Um aventureiro mais famoso, Pepe, ganhou notoriedade em 2009 quando o Exército o matou em Puerto Berrío, 90km a jusante, gerando muita contrariedade (Samper Pizano, 12 July 2009). Dois anos depois, Napolitano, outro errante, foi castrado (através de um procedimento caro e complicado) e levado de volta à Hacienda. Outros três hipopótamos machos foram castrados, porém a manada continua a crescer e, vez ou outra, assustar e ferir os vizinhos (Suárez, 15 Mar. 2011; Subalusky et al., 2021). Como ocorrera com Escobar, a fama dos hipopótamos transcendeu muito além das fronteiras da Colômbia; eles aparecem em vídeos do YouTube, estrelaram em diversos documentários e são tema de artigos acadêmicos (Pablo’s..., 2009, 2012; Los hipopótamos..., 2011).

Com a inauguração do Parque Temático Hacienda Nápoles em 2008, os “hipopótamos de Escobar” reconquistaram o título de atração oficial. Os visitantes costumam parar no Lago dos Hipopótamos para observar as criaturas à distância. Também dirigem seus veículos para ver dois elefantes, os tigres e os leões, encontrando no caminho alguns avestruzes à solta que melhor rememoram o parque safári de Escobar. Além disso, camuflados sob a folhagem tropical, há gaiolas com caititus, macacos e outros animais nativos; em área aberta, é fácil avistar os cercados de antas e capivaras. Os visitantes não se dão conta de que apenas poucas décadas antes, animais como esses viviam livremente na mesma região das florestas de outrora.

No Parque Temático, tanto os cativos nativos quanto os estrangeiros exercem um papel subserviente em relação às atrações aquáticas, assim como outras exposições de animais inauguradas na Colômbia nas últimas décadas são secundárias diante de outros tipos de atrações.4 Os zoológicos, sobretudo aqueles com poucos recursos, perderam parte do encanto. A crueldade do confinamento passou a pesar na consciência das pessoas. Em 2016, o Zoológico de Buenos Aires foi fechado e transformado em um “eco parque”. De maneira análoga, o Ukumarí Bioparque substituiu o Zoológico Matecaña de Pereira. Embora os zoológicos de Santa Fe e de Santa Cruz ainda existam (assim como os de Cali e Barranquilla), outros lugares de divertimento associados à natureza se tornaram mais atrativos. Em 2008, os herdeiros da elite antioquenha que construíram o Zoológico Santa Fe 60 anos atrás criaram o Parque Explora, museu interativo de ciências que eclipsou o zoológico da cidade. Não muito longe da Hacienda Nápoles, outro antioquenho, Juan Guillermo Garcés, restaurou a reserva natural que protege as florestas cársicas no perímetro do río Claro, um rio que corre sobre um leito de mármore. Garcés criou a reserva junto com o irmão, Jorge Tulio, que vendeu a Escobar o lote que viria a ocupar a Hacienda Nápoles. A partir de sua propriedade, Escobar costumava se aventurar pelo río Claro, seu playground favorito (En busca del…, 30 Nov. 2013; Turismo…, 28 Mar. 1983; Escobar, 2015; Vallejo, 2017).

A reserva natural Cañon del Río Claro serve de refúgio a espécies animais nativas, como os bugios, em meio ao mar de capim em que se transformou o vale do médio Magdalena décadas atrás. Em outros setores da floresta espalhados pela região, câmeras ocultas captaram imagens de outros refugiados, incluindo antas e até pumas (Link, 2020). Confinados nos remanescentes do que outrora constituíam-se como vastas florestas, mamíferos nativos são obrigados a procriar, como no caso da crescente manada de hipopótamos cuja linhagem provém de um único macho (Leaño Bermúdez, 2015; Subalusky et al., 2021). É difícil observar tanto os hipopótamos quanto os animais nativos remanescentes, mas se conseguíssemos observá-los atentamente, provavelmente veríamos – como acontecia na família Buendía em Cem Anos de Solidão, cujos membros atraíam-se entre si – pequenos rabos de porco surgindo em seus traseiros. Esta história zoológica nos incita a indagar se animais cativos e livres têm uma segunda oportunidade na terra.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Martín Fernández e Juan Sebastián Moreno pela ajuda na obtenção de materiais para este artigo, a Yohana Pantevis pela generosidade no compartilhamento de informações, a Regina Horta Duarte pela inspiração e apoio e aos revisores anônimos pelos relevantes comentários.

Referências bibliográficas

  • ACTA n.1.177. Archivo de la Sociedad de Mejoras Públicas de Medellín, Medellín. 16 Oct. 1933.
  • ÁLVAREZ, José. Legislación sobre tierras e impacto en el desarrollo de haciendas ganaderas en el Magdalena Medio antioqueño, 1920-1940. Historia y Sociedad, n.29, p.203-228, 2015.
  • ASÍ FUE la cirugía con la que Tantor, el elefante de los Ochoa, volvió a sonreir. Semana, 11 Nov. 2017.
  • BAGLEY, Bruce; EDEL, Matthew. Popular Mobilization Programs of the National Front: Cooptation and Radicalization. In: Berry, R. Albert; Hellman, Ronald G.; Solaún, Mauricio. Politics of Compromise: Coalition Government in Colombia. New Brunswick: Transaction Books, 1980.
  • BARÓN, Mauricio. Apogeo y caída de las autodefensas de Puerto Boyacá: del paramilitarismo a los señores de la guerra del Magdalena Medio Thesis (Masters in History) – Universidad Nacional de Colombia, Bogotá, 2011.
  • BARRERA CARRASQUILLA, Antonio. Algunos aspectos generales de la inversión pública en Colombia: el proyecto de carretera Medellín-Puerto Triunfo Bogotá: Fedesarrollo, 1971.
  • BAR-ONA, Yinon M.; PHILLIPS, Rob; MILO, Ron. The Biomass Distribution on Earth. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v.115, n.25, p.6506-6511, 2018.
  • BEHAR, Olga. Los animales del Cartel. Cromos, Sept.-Oct. 1991.
  • BETANCOURTH, Juan Carlos (coord.). Atlas de páramos de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, 2007.
  • BRUCE, Gary. Through the Lion Gate: A History of the Berlin Zoo Oxford: Oxford University Press, 2017.
  • CAPTURADO presunto asesino del zootecnista Gonzalo Chacón. El Tiempo, 23 Mar. 1982.
  • CASTRO CAYCEDO, Germán. En Secreto Bogotá: Planeta, 1996.
  • COLOMBIA, Decree n.1608, 31 July 1978.
  • COLOMBIA, Decree n.2811, 18 Dec. 1974.
  • COWIE, Helen. Exhibiting Animals in Nineteenth-Century Britain Basingstoke: Palgrave-Macmillan, 2014.
  • CROSBY, Alfred. The Columbian Exchange: Biological and Cultural Consequences of 1492 Westport, Conn.: Greenwood Press, 1972.
  • CURRIE, Lauchlin. Programa de desarrollo económico del Valle del Magdalena y Norte de Colombia. Informe de una misión Bogotá: Litografía Arco-Editorial Argra, Ltda., 1960.
  • DAHL, George. Anábasis de la Serranía de La Macarena. El Espectador, 8 Mar. 1959.
  • DE LA CRUZ, Pablo. El Parque Nacional. Registro Municipal, v.54, p.54-56, 1934.
  • DEL PINO, Diego A. Historia del Jardín Zoológico Municipal. Cuadernos de Buenos Aires, n.55, 1979.
  • DESCENDIENTES de una época de derroche. El Tiempo, 7 Sept. 2008.
  • DUARTE, Regina Horta. ‘El zoológico del porvenir’: narrativas y memorias de nación sobre el Zoológico de Chapultepec, Ciudad de México, siglo XX. Historia Crítica, n.72, p.93-113, 2019.
  • DUARTE, Regina Horta. Zoos in Latin America. Oxford Research Encyclopedia, 26 Sept. 2017. Available at: https://oxfordre.com/view/10.1093/acrefore/9780199366439.001.0001/acrefore-9780199366439-e-439 Access on: 29 Sept. 2021.
    » https://oxfordre.com/view/10.1093/acrefore/9780199366439.001.0001/acrefore-9780199366439-e-439
  • EN BUSCA del río Claro. El Espectador, 30 Nov. 2013.
  • ESCOBAR, Juan Pablo. Pablo Escobar, mi padre: radiografía íntima del narco más famoso de todos los tiempos Barcelona: Ediciones Península, 2015.
  • ETTER, Andrés; McALPINE, Clive; POSSINGHAM, Hugh. A historical analysis of the spatial and temporal drivers of landscape change in Colombia since 1500. Annals of the American Association of Geographers, v.98, n.1, p.2-23, 2008.
  • FEW, Martha; TORTORICI, Zeb (ed.). Centering Animals in Latin American History Durham, NC: Duke University Press, 2013.
  • GARCÍA ESTRADA, Rodrigo de Jesús. Sociedad de Mejoras Públicas de Medellín: cien años haciendo ciudad. Medellín: Taller de Edición Gráfica, 1999.
  • GÓMEZ-CENTURIÓN JIMÉNEZ, Carlos. De leoneras, ménageries y casas de fieras. Algunos apuntes sobre el coleccionismo zoológico en la Edad Moderna. In: Morgado García, Arturo; Rodríguez Moreno, José J. Los animales en la historia y en la cultura Cádiz: Universidad de Cádiz, 2011. p.153-189.
  • GÓMEZ GIRALDO, Marisol. Las narcovíctimas que fueron olvidadas. El Tiempo, 6 Mar. 1995.
  • HANSON, Elizabeth. Animal Attractions: Nature on Display in American Zoos. Princeton: Princeton University Press, 2002.
  • HOAGE, R.J.; ROSKELL, Anne; MANSOUR, Jane. Menageries and zoos to 1900. In: Hoage, R.J.; Deiss, William. New Worlds, New Animals: From Menagerie to Zoological Park in the Nineteenth Century Baltimore and London: The John Hopkins University Press, 1996. p.8-18.
  • HOY A LAS 2PM abre la Exposición Nacional. El Tiempo, p.1, 5 Ago. 1959.
  • KAPLAN, Jed O.; KRUMHARDT, Kristen M.; ZIMMERMANN, Niklaus. The Prehistoric and Preindustrial Deforestation of Europe. Quaternary Science Reviews, v.28, n.27-28, p.3016-3034, 2009.
  • KELLY, Mathew et al. Introduction. In: Graf von Hardenberg, Wilko et al. The Nature State: Rethinking the History of Conservation London: Routledge, 2017. p.1-15.
  • KOCH, Paul L.; BARNOSKY, Anthony D. Late Quaternary Extinctions: State of the Debate. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, v.37, p.215-50, 2006.
  • LABORES DE LA SOCIEDAD de Mejoras Públicas. Revista de la Sociedad de Mejoras Públicas, n.32, p.18-23, 1960.
  • LEAL BUITRAGO, Francisco. Al paso del tiempo: mis vivencias Bogotá: Ediciones Uniandes, 2019.
  • LEAÑO BERMÚDEZ, Anamaría. Monos araña albinos, señal de alarma. Nota Uniandina, n.47, p.28-31, 2015.
  • LEÓN RESTREPO, Orlando. Bloque de búsqueda tras un hipopótamo, El Tiempo, 5 Mar. 1994.
  • LINK, Andrés. Magdalena Medio: ciencia y conservación en un hotspot de biodiversidad en Colombia. Paper presented at Seminario del Departamento de Ciencias Biológicas, Universidad de los Andes, Bogotá, 23 July 2020.
  • LOS HIPOPÓTAMOS del capo. Director: Mauricio Vélez Domínguez. Explora Films, 2011.
  • LUNDGREN, Erick J. et al. Introduced herbivores restore Late Pleistocene ecological functions. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v.17, n.14, p.7871-7878, 2020.
  • McNEILL, John R.; ENGELKE, Peter. The Great Acceleration: An Environmental History of the Anthropocene since 1945 Cambridge, MA: The Belknap Press of Harvard University Press, 2014.
  • MILLER, Ian Jared. The Nature of the Beasts: Empire and Exhibition at the Tokyo Imperial Zoo Berkeley: University of California Press, 2013.
  • MONSALVE, Haydy (Director of Santa Cruz Zoo). Interviewer: Claudia Leal, Zoológico Santa Cruz, 16 Apr. 2016.
  • MUERTOS DOS AGENTES que cuidaban hacienda Nápoles, El Tiempo, 9 Feb. 1991.
  • MURIÓ ELEFANTE amigo del tigre. El Tiempo, 22 May 1994.
  • NO TODOS los días entierran elefantes. El Tiempo, 11 Nov. 1993.
  • ORDENAN el decomiso de Nápoles. El Tiempo, 11 June 1993.
  • ORJUELA, Luis Javier. Cuatro décadas de reflexiones sobre el Estado en Colombia. In: Orjuela, Luis Javier. El Estado en Colombia Bogotá: Ediciones Uniandes, 2010. p.19-40.
  • ORTIZ, Oliva (Santa Cruz Zoo). Interviewer: Claudia Leal, Zoológico Santa Cruz, 24 May 2015.
  • OSPINA PÉREZ, Daniel. Para una nueva nación, una nueva ciudad: el Parque Nacional y la idea de nación en la República Liberal Thesis (Masters in Geography) – Universidad de los Andes, Bogotá, 2020.
  • PABLO ESCOBAR fue dejando a su paso un rosario de muerte y terror. El Tiempo, 20 June 1991.
  • PABLO’S Hippos. Director: Antonio Von Hildebrand. Bogotá: 11:11 Films, 2012. (90 min.) Available at: https://www.youtube.com/watch?v=GK7DNA5wNd8 Access on: 23 July 2020.
    » https://www.youtube.com/watch?v=GK7DNA5wNd8
  • PABLO’S Hippos. Directors: Monica Pinzón, Jefferson Beck. Washington. DC: National Geographic, 2009. (26 min.) Available at: https://www.youtube.com/watch?v=6UHFHT1WhPc Access on: 4. Oct. 2021.
    » https://www.youtube.com/watch?v=6UHFHT1WhPc
  • PALACIOS, Marco. Coffee in Colombia, 1850-1970: An Economic, Social, and Political History Cambridge: Cambridge University Press, 1980.
  • PANTEVIS, Yohana. Apropiación de la Amazonia a través de la ciencia Dissertation (PhD in History) – Universidad Nacional de Colombia, sede Amazonia, Leticia, draft.
  • PÉREZ ARBELÁEZ, Enrique. El paraíso incendiado [draft for a newspaper article to be published in El Tiempo] Sección Colecciones, Fondo Enrique Pérez Arbeláez, Artículos periodísticos, Libro 5, artículo n.66. (Archivo General de la Nación). s.d.
  • RANDELL, Cortes G. La industria ganadera en Colombia Washington, DC: [s.n.], 1953.
  • RITVO, Harriet. The Animal Estate: The English and Other Creatures in the Victorian Age. Cambridge: Harvard University Press, 1989.
  • ROBIN HOOD paisa. Semana, 19 Abr. 1983.
  • ROTHFELS, Nigel. Savages and Beasts: The Birth of the Modern Zoo. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2008.
  • SALAZAR, Alonso. La parábola de Pablo: auge y caída de un gran capo del narcotráfico Bogotá: Planeta, 2001.
  • SAMPER PIZANO, Daniel. Santa Fe campeón: ¡Cuidado, hay un león en la oficina! El Tiempo, 16 July 2012.
  • SAMPER PIZANO, Daniel. Yo le compré un león a Santa Fe. Soho, 13 May 2010.
  • SAMPER PIZANO, Daniel. La colombianísima muerte de Pepe. El Tiempo, 12 July 2009.
  • SÁNCHEZ, Jesús. Informe acerca de la visita a algunos de los principales Museos de Historia Natural y Jardines Zoológico-Botánicos de Estados Unidos y Europa, La Naturaleza, v.1, n.2, p.XXXIII-XL, 1911.
  • SANJAD, Nelson et al. Documentos para la história do mais antigo jardim zoológico do Brasil: o Parque Zoobotânico do Museo Goeldi. Boletim do Museo Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v.7, n.1, p.197-258, 2012.
  • SE REORGANIZA el zoológico de la Universidad Nacional. El Espectador, p.9, 19 Mar. 1959.
  • SHARMA, Arandhana; GUPTA, Akhil (ed.). The Anthropology of the State. Malden, MA: Blackwell, 2006.
  • SHURIN, Jonathan. et al. Ecosystem Effects of the World’s Largest Invasive Animal. Ecology, v.101, n.5, p.1-8, 2020.
  • SONGSTER, E. Elena. Panda Nation: The Construction and Conservation of China’s Modern Icon New York: Oxford University Press, 2018.
  • STUART, Anthony John. Late Quaternary Megafaunal Extinctions on the Continents: A Short Review. Geological Journal, v.50, n.3, p.338-363, 2015.
  • SUÁREZ, Alberto Mario. Practican vasectomía al hipopótamo Napolitano. El Tiempo, 15 Mar. 2011.
  • SUBALUSKY, Amanda. et al. Potential Ecological and Socio-Economic Effects of a Novel Megaherbivore Introduction: The Hippopotamus in Colombia. Oryx, v.55, n.1, p.105-113, 2021.
  • TURISMO: rostro, imagen y divisas. Semana, 28 Mar. 1983.
  • UN ZOOLÓGICO… sin animales! Falló el primer intento de crear parque zoológico. El Espectador, 12 Abr. 1960.
  • URICOECHEA, Fernando. Estado y burocracia en Colombia: historia y organización Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, 1986.
  • VALLEJO, Virginia. Amando a Pablo, odiando a Escobar Barcelona: Ediciones Península, 2017.
  • VAN AUSDAL, Shawn. Reimagining the Tropical Beef Frontier and the Nation in Early Twentieth-Century Colombia. In: Winder, Gordon; Dix, Andreas. Trading Environments Frontiers, Commercial Knowledge, and Environmental Transformation, 1750-1990 New York: Routledge, 2016. p.166-192.
  • VELÁSQUEZ HERNÁNDEZ, Nicolás. Political Power in the Peripheries: The Paramilitaries from Magdalena Medio (Colombia), 1978-2003 Dissertation (PhD in International Studies) – University of Miami, Miami, 2018.
  • VERGARA, Germán. Animals in Latin American History. Oxford Research Encyclopedias, 24 May 2018. Available at: https://oxfordre.com/view/10.1093/acrefore/9780199366439.001.0001/acrefore-9780199366439-e-436 Access on: 29 Sept. 2021.
    » https://oxfordre.com/view/10.1093/acrefore/9780199366439.001.0001/acrefore-9780199366439-e-436
  • VILLAMIZAR HERNÁNDEZ, Camilo Ernesto; GÓMEZ DUQUE, Juan Alberto; PEÑA ARAGÓN, Nicolás. Isaza, el clan paramilitar: Las autodefensas campesinas del Magdalena Medio Bogotá: Centro Nacional de Memoria Histórica, 2020.

NOTAS

  • Traduzido por Claudia Freire.
  • 1
    Este artigo contribui para a literatura sobre zoológicos, até então concentrada no mundo desenvolvido, como demonstra o compêndio geral de Vandersommers e McDonald de 2019. Inspira-se no trabalho de Duarte (26 Sept. 2017, 2019) sobre zoológicos latino-americanos, e de acadêmicos que estão criando o campo da história animal latino-americana (ver Few, Tortorici, 2013; Vergara, 24 May 2018). Outra fonte de inspiração é a abordagem de Sharma e Gupta (2006) nos estudos sobre o estado.
  • 2
    Agradeço a Gustavo Villa por compartilhar os materiais de sua exposição. O documento, cujo título desconheço, foi recuperado do Archivo General de la Nación e, aparentemente, pertence ao Ministério de Obras Públicas; as citações são das páginas 69 e 70.
  • 3
    Site do Zoológico Santa Cruz: https://zoosantacruz.org/historia. Encontrei o arquivo do Inderena, cuja organização estava em curso, dentro do Archivo del Ministerio del Medio Ambiente, e obtive acesso a ele na semana em que se iniciou o confinamento devido à covid-19. Consegui ver algumas “atas de confisco” além da “Acta de liquidación Inderena, entrega de expedientes decomiso definitivo, 1995”, que mostra que, em 1989, o zoológico recebeu 36 pássaros, entre eles uma águila real e, em 1991, dois mirlas e dois morichas (Carpeta 4, caja 22).
  • 4
    É o caso dos parques Jaime Duque e Piscilago, ao norte e ao sul de Bogotá, respectivamente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Dez 2021

Histórico

  • Recebido
    17 Fev 2021
  • Aceito
    5 Jul 2021
location_on
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4365, 21040-900 , Tel: +55 (21) 3865-2208/2195/2196 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: hscience@fiocruz.br
rss_feed Stay informed of issues for this journal through your RSS reader
Acessibilidade / Reportar erro