Acessibilidade / Reportar erro

Biossegurança: um enfoque histórico através da história oral

Biosafety: a historical focus through oral history

D E P O I M E N T O

Biossegurança: um enfoque histórico através da história oral

Biosafety: a historical focus through oral history

A biossegurança é uma área de conhecimento relativamente nova, que impõe desafios à gerência de qualidade dos produtos das empresas públicas e privadas, especialmente aquelas que investem em pesquisa básica e na prestação de serviços em saúde e diversos outros setores. A biossegurança designa não propriamente uma disciplina, em sentido estrito, mas um campo de conhecimentos e um conjunto de práticas e ações técnicas, com preocupações sociais e ambientais, destinados a conhecer e controlar os riscos que o trabalho científico pode oferecer ao ambiente e à vida.

A biossegurança no Brasil só se estruturou, como área específica, nas décadas de 1970 e 1980, mas desde a instituição das escolas médicas e da ciência experimental, no século XIX, vêm sendo elaboradas noções sobre os benefícios e riscos inerentes à realização do trabalho científico, em especial nos ambientes laboratoriais.

O projeto que estamos desenvolvendo intitula-se ‘Biossegurança: das práticas laboratoriais à construção de um campo do conhecimento – um projeto de história oral’. Ele prevê a constituição de um acervo de depoimentos orais sobre a história da biossegurança, envolvendo profissionais de laboratório, pesquisadores e técnicos, gestores institucionais e outros atores. As entrevistas ajudarão a reconstruir as trajetórias acadêmicas e profissionais destes atores, suas diferentes percepções sobre o trabalho científico e sobre os recursos teóricos, técnicos e metodológicos disponíveis e em disputa nas práticas laboratoriais. As entrevistas serão um dos principais insumos para a análise histórica das políticas relacionadas com os benefícios e riscos inerentes às pesquisas científicas e da evolução dos procedimentos técnicos que resultaram nos primeiros projetos de biossegurança no Brasil, com ênfase naqueles formulados na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A entrevista que apresentamos a seguir foi feita com um médico cearense, formado na década de 1960. Desde criança já era um apaixonado por história natural, com grande habilidade para lidar com insetos e animais. Chegou a construir pequenos museus com as coleções científicas que formou. Estamos falando de Ítalo Sherlock, entomologista do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, da Fiocruz. Em seu depoimento, ele ressalta por várias vezes o papel marcante dos drs. Leônidas e Maria Deane, pesquisadores que deram enormes contribuições científicas ao campo da parasitologia brasileira, abrangendo em especial as endemias rurais. Durante uma viagem para realizar um inquérito epidemiológico, o casal Deane conheceu o menino Sherlock em Sobral, no Ceará, um menino que fazia jus ao personagem de Conan Doyle. O avô era um homem muito curioso, que gostava de investigar tudo que achava interessante. Por conta dessa característica passou a ser conhecido como Sherlock, e o nome passou à família.

Anna Beatriz de Sá Almeida

Historiadora, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Av. Brasil 4036 Rio de Janeiro – RJ Brasil

Marli Brito M. de Albuquerque

Doutora em história da ciência, pesquisadora da Casa de

Oswaldo Cruz e colaboradora do Núcleo de Biossegurança da Fiocruz

Av. Brasil, 4036, sala 716 Rio de Janeiro – RJ Brasil

Lembranças da infância

Dr. Ítalo, gostaríamos de saber um pouco de sua vocação para a medicina.

Meu pai era um sujeito muito inteligente, e é claro que isso influiu e muito em minha formação, porque ele tinha uma cultura muito grande, lia todos aquele livros de romancistas famosos da Europa, Shakespeare, Zola, Balzac, Cervantes etc. Era também um grande técnico. Um dia ele fez um relógio. Passou mais de dois anos fazendo, minha mãe me falou. Esse relógio ainda existe; marcava as horas, minutos, segundos, a data, as fases da lua, os dias da semana, os meses... Ele que fabricou todas as peças do relógio, sozinho. ... Meu pai sabia pintar, minha mãe também. Os dois eram pintores e desenhistas amadores, e eu herdei essa tendência, esse tipo de habilidade.

Eu já com nove ou dez anos pintava algumas coisas muito interessantes. Tenho peças de que eu próprio me admiro... como é que consegui? Os drs. Leônidas Deane e Maria Deane e o prof. Samuel Pessoa, viajando pelo Nordeste, foram a Sobral, lá no Ceará, e então lhes disseram: "Tem um menino aqui que é extraordinário!" Esse menino era eu. Eles foram me conhecer, e eu lhes mostrei meu museu de história natural. Eu fazia as próprias caixinhas de "vidro" com malacacheta, uma pedra que tem muito no Nordeste. A gente tira as camadas, corta e faz chapas. Eu as costurava e fazia bem direitinho as caixinhas e as vitrinazinhas para manter os insetos, cobras e essas coisas todas. Os drs. Deane e o prof. Pessoa ficaram muito admirados com essa minha habilidade. Perguntaram-me se queria trabalhar com eles como auxiliar de entomologia. Eu achei uma coisa espetacular e, claro, nem titubeei, fui. Devia ter uns 14 anos, por aí. Então, eu ingressei na Campanha contra a Leishmaniose, observando cães, observando os flebótomos e ajudando os Deane a preparar e montar tudo.1 1 Samuel Pessoa desenvolveu relevantes pesquisas sobre leishmaniose, esquistossomose, doença de Chagas e outras endemias. Na década de 1940, integrou uma equipe de cientistas responsável pela realização de vasto inquérito sobre a leishmaniose tegumentar, inquérito este apoiado pelo Departamento de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pela Comissão de Estudos da Leishmaniose do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo. Leônidas e Maria Deane trabalharam para o Serviço Especial de Saúde Pública no período entre 1942 e 1949. Nessa época, Leônidas Deane integrou a equipe dirigida por Evandro Chagas, que realizava estudos pioneiros sobre leishmaniose visceral e outras endemias rurais no Ceará. A pesquisa resultou na tese de livre-docência do dr. Deane, intitulada Leishmaniose visceral no Brasil: estudos sobre reservatórios e transmissores realizados no estado do Ceará, e submetida à Faculdade de Medicina da USP. Leônidas Deane trabalhou também no Serviço de Malária do Nordeste, em 1939, e realizou pesquisas relevantes sobre essa doença e sobre a doença de Chagas, juntamente com a esposa, Maria José von Paumgartten Deane, cientista que também se destacou pelos trabalhos na área de protozoologia médica. Ambos trabalharam no Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina da USP e, depois, no Departamento de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Eles me levaram para São Paulo, e lá conseguiram uma licença para eu fazer um curso da Faculdade de Higiene, pois eu era bem novinho, não tinha permissão oficial, só tinha o ginásio. Ganhei a permissão e fiz um curso livre de entomologia na Universidade de São Paulo. Daí publiquei um trabalho científico, orientado pelos Deane, e continuei na Campanha contra a Leishmaniose. Depois fui para o Instituto Oswaldo Cruz, fazer um estágio, e lá conheci Octávio Mangabeira Filho, que, por sugestão dos Deane, me convidou para ir com ele para a Bahia. Foi assim o início da minha carreira de entomologista.

O senhor disse que brincava de montar um museu de história natural. Quem o estimulou? Foi por conta própria?

Espontaneamente. Eu tinha curiosidade. A gente ia para os matos, as florestas não, porque lá não tinha floresta. Pegava insetos, cobras e com isso eu ficava muito fascinado, e ia preparando. Procurava nos livros informações sobre esse material. Meu pai tinha uma coleção chamada Tesouro da Juventude, feita por Clovis Bevilacqua. Dava os nomes das espécies, e eu anotava os nomes, botava nas caixinhas e, ao mesmo tempo, desenhava as espécies, fazia fichas, tudo da minha cabeça, ninguém me ensinou nada disso. No íntimo, eu tinha um desejo muito grande de fazer medicina, mas a gente era muito pobre.... Meu pai tinha 14 filhos, e eu fui o primeiro a sair de casa. Com as oportunidades, consegui me formar, trabalhando, ganhando bolsas. Formei-me por conta própria.

O senhor pode falar um pouco sobre sua vida de estudante, as disciplinas que mais lhe interessavam?

Sempre fui um aluno médio, nunca fui um aluno bom, porém jamais repeti ano. Também tive de trabalhar desde criança, pois a gente ajudava o pai na oficina dele. Então eu não podia ser um aluno brilhante. Sempre gostei de biologia e zoologia... Acho que estavam enraizadas comigo. Eu tinha dentro da cabeça que existia uma conexão muito grande entre biologia e medicina, então achei que, seguindo este caminho da entomologia e parasitologia, ia no rumo da medicina.

Durante a revolução de 64, quando o prof. Samuel Pessoa ficou na minha casa escondido, aqui na Bahia, ele achou que era uma grande besteira o que eu estava fazendo. Considerava-me um menino muito inteligente. Ele me chamava de menino porque eu era franzino, mas já era adulto, tinha meus vinte e poucos anos. Então, ele achava que eu devia largar esse negócio de pesquisa. "O Brasil não precisa disso; você está sacrificando sua vida inutilmente, largue isso." Ele e d. Jovina, sua mulher, estavam sendo perseguidos pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em São Paulo, e vieram para a Bahia se esconder. "Você é um menino que já tem trabalhos científicos publicados" – eu já tinha uns dez ou 12 trabalhos científicos. "Largue isso, precisa fazer uma especialidade em medicina que dê dinheiro! " E nós, juntos, escolhemos a otorrinolaringologia, uma especialidade que dava muito dinheiro. Então os dois, que ficavam sem poder fazer nada na Bahia, ensinaram-me otorrinolaringologia teórica, pelos livros. Lembro-me que foi uma dificuldade para eu ingressar naquela especialidade. Ninguém saía da parasitologia para ela, pois a única conexão que tinham era a leishmaniose, que atacava o nariz. Fui fazer a especialidade, como eles me ensinaram. Lembro-me da primeira aula que tive que dar para o professor da matéria, para ser admitido no curso de especialização. Mandaram eu falar sobre a pirâmide nasal, e eu fiquei apavorado. Praticamente não tem quase nada para a gente falar da pirâmide nasal. Mas os profs. Samuel e Jovina ilustraram-me muito a respeito, inclusive com história da humanidade. Mandaram eu começar pelas pirâmides de Quéops, Quefrén e Miquerinos, depois passar pela mudança do rumo da história da humanidade por causa da pirâmide nasal de Cleópatra, por quem Marco Antônio se apaixonou. Aí o professor da cadeira ficou surpreso por eu ter "tanta cultura" e me aplaudiu dizendo que eu estava aprovado porque nunca um assistente dele tinha dado uma aula dessas. Então fui fazer otorrinolaringologia, uma especialidade puramente médico-cirúrgica, onde passei dois anos. Ao lado dessa "cultura geral muito boa", eu já tirava garganta de mosquito; para tirar garganta de gente, não tive nenhuma dificuldade. Eu operava muito bem!

Clínica e pesquisa

Eu tinha uma habilidade muito grande nas mãos e, por causa disso, passei a ser assistente da clínica de otorrino, e fiz uma clientela muito grande, que tenho até hoje. Infelizmente, não pude abandonar a otorrinolaringologia, que, na verdade, não é uma satisfação íntima para mim. Foi mais uma questão de necessidade, pois gosto mesmo é da medicina tropical, isso sim. Faço uma especialidade puramente médica por que ela me deu sustento financeiro, e eu pude continuar a pesquisar. Eu realmente ganhava muito dinheiro. Operava três pessoas por dia. Naquele tempo, era obrigatório trabalhar seis horas por dia, de meio-dia às seis, no Centro de Pesquisas. Eu trabalhava pela manhã na minha clínica. Ganhei muito dinheiro, operei muito, viajei pelo mundo inteiro, a maioria das vezes pagando minhas despesas. Mas jamais abandonei ‘meu fraco’, a medicina tropical, e continuei trabalhando com os vetores e como se processa a transmissão das doenças parasitárias.

Quais eram as doenças com que o senhor trabalhava?

Segui a escola tradicional dos profs. Samuel Pessoa, Leônidas e Maria Deane; Amilcar Vianna Martins, Alencar e Mangabeira, que também eram especialistas em leishmaniose. Mangabeira foi um dos maiores especialistas do mundo em vetores de leishmaniose. Por último foi o prof. Prata.2 2 Aluízio Rosa Prata destacou-se como professor da cadeira de doenças tropicais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e posteriormente exerceu suas atividades acadêmicas na Universidade Nacional de Brasília (UnB). Trabalhou em projetos de combate à esquistossomose e doença de Chagas. Amilcar Viana Martins foi diretor do Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu) em 1956-58. Foi pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (1958-66) e do Departamento Nacional de Endemias Rurais 07(DENERu, 1960-61). Em 1966, organizou o Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do qual foi o primeiro diretor. Realizou pesquisas importantes sobre doença de Chagas. Octávio Mangabeira Filho, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, foi o fundador da Turma de Pesquisadores da Bahia, posteriormente Núcleo de Pesquisas da Bahia (decreto 45.237, de 18.6.1959). Em 1963, esse núcleo vinculou-se ao DENERu e, no ano seguinte, ao INERu. Em 1979, foi realizado termo de comodato entre o governo da Bahia, Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz, convertendo-o no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, vinculado a esta última instituição. Tive um professor, John Lane, que me admirava, lá em São Paulo. Convidou-me para ficar na Universidade de São Paulo, mas não me interessei. Então, ele me botou como conselheiro da Sociedade Brasileira de Entomologia, embora eu fosse muito jovem ainda. Eu achava que seria difícil, fiquei com medo. Sou um cara tímido, sabe. Isso tem a ver com a influência de meu pai. A criação dele era muito rígida. Era daqueles pais do sistema antigo, em que a pessoa tinha que respeitar totalmente os mestres e professores. Por isso, sempre tive dificuldade de falar em público. Tenho também um sotaque muito ruim. Não sei, que diabo, de onde é que tirei esse sotaque horrível!

Fale-nos sobre sua rotina no laboratório.

Eu me dedicava, mesmo, e ainda me dedico. No início, trabalhava de manhã no antigo Instituto Nacional de Endemias Rurais, depois passei a ser bolsista do Instituto Oswaldo Cruz. O dr. Mangabeira Filho, que era pesquisador de lá, arranjou para eu ser bolsista de iniciação científica. Mais tarde, passei a pertencer ao quadro do Instituto Oswaldo Cruz, na época em que entraram, também, os drs. Hermam Schatzmayr, Sérgio Coutinho, José Jurberg, Pedro Jurberg, Ana Kohn e outros. Quando passei a ser pesquisador, o expediente também era de seis horas, acho que das 12h às 18h. E, como já disse, de manhã, eu apenas trabalhava na clínica. Nunca fui desses caras de boa vida. Estou gordo assim, mas acho que é glandular, ou velhice mesmo, pois também nunca fui de comidas. Sempre fui acostumado a lanches e à pressa de comer. Então, eu tinha 15 minutos para almoçar. Tomava café às carreiras, de manhã, e me dedicava totalmente à clínica, até às 11h.


Em primeiro plano, o pesquisador Octávio Mangabeira Filho, quando chefiava o núcleo de pesquisa da Bahia, atual Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (1958). Ao fundo, o estudante de medicina Ítalo Sherlock.

O senhor trabalhava em que laboratório?

Eu trabalhava no Núcleo de Pesquisas da Bahia, do Instituto de Endemias, que foi englobado pela Fiocruz e passou a se chamar Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, da Fiocruz. Depois que o Mangabeira morreu, tivemos problemas com a sede do Centro de Pesquisas. O Mangabeira conseguiu que o pai dele, através da dotação especial de uma verba, desapropriasse essa sede.3 3 Octávio Mangabeira Filho era filho de Octávio Mangabeira, governador do estado da Bahia na época. Mas ele morreu de repente, e eu não tive prestígio para sustentar o centro. Com muita dificuldade, a gente continuou trabalhando, arranjando uma pequena verba aqui, outra ali, principalmente no exterior. Foi assim que publicamos inúmeros trabalhos, uns quatrocentos, neste período todo, de Mangabeira até a entrada de Zilton Andrade.4 4 Zilton Andrade realiza pesquisas importantes sobre doença de Chagas. Entre setembro de 1980 e dezembro de 1989 dirigiu o Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz.

O senhor considerava as instalações dos laboratórios boas?

Não, de jeito nenhum! Eu inclusive viajava para o exterior, conhecia muito bem a Inglaterra. Até botaram uma sala, lá, com o meu nome, no Departamento de Parasitologia da London School of Tropical Medicine. Fui homenageado com um coquetel. Acho que assim que virei as costas eles arrancaram o nome, mas tinha. Conhecia as grandes instalações do Rio de Janeiro, São Paulo, França, Inglaterra, Holanda etc. Também estive em institutos da Alemanha. Eu achava o nosso centro sem condição nenhuma, mas não havia outro jeito. Era preciso segurar meu estandarte para manter o Centro de Pesquisas.

Trabalhava-se sempre improvisando demais. Lembro-me do trabalho pelo qual ganhei um prêmio no Brasil, a medalha Gerhardt Domack.5 5 Os trabalhos de Ítalo Sherlock são considerados de grande relevância para os estudos sobre leishmaniose e doença de Chagas. Um dos que despertaram grande interesse no exterior foi o estudo sobre transmissores de doença de Chagas na Bahia, que recebeu em 1974 o prêmio Gerhard Domack (prêmio Nobel de Medicina em 1939). Para estudarmos os triatomíneos, fizemos excursão pela Bahia toda. Examinamos praticamente o estado todo. Eu e o auxiliar que ainda trabalha comigo, o Antônio Carlos. Íamos pegar copinhos de sorvete vazios jogados na rua para manter os triatomíneos. A gente não tinha condições sequer de comprar essas coisas, que eram importadas. Era um improviso muito grande. Fico admirado como é que o pessoal tem tantas condições, agora, para fazer as coisas, e ninguém faz nada...

Em algum momento, o senhor sentiu que as pessoas, os pesquisadores, se expunham a riscos em função do trabalho, para que ele andasse?

Nós sempre estivemos em risco, mas nunca peguei qualquer doença. Mangabeira dizia, também, que nunca tinha pegado doença. Já o Deane um dia pegou malária. Eu sempre me meti nos piores campos. Botei tudo quanto é bicho para me sugar. Nunca me inoculei propositadamente, mas fiquei exposto, fui picado por flebótomo, barbeiro e tudo quanto é vetor de doenças, e nunca peguei nada. Acho que o sangue nordestino fez isso. Era imunizado.

No laboratório era a mesma coisa. A gente não tinha sequer luvas para vestir. Não tinha nada! Todo o material era reciclado, seringas, agulhas, tudo. Não tinha essa história de descarte, não. Posteriormente, de 1980 para cá, até um pouco antes, 1975 por aí, fizemos um convênio com a Harvard School of Tropical Medicine and Hygiene, e então o prof. Thomas Weller, um Nobel de Medicina, diretor daquela escola, me convidou para ir aos Estados Unidos.6 6 O virologista Thomas Huckle Weller (1915, Ann Arbor, Michigan) da Research Division of Infectious Diseases do Children’s Medical Center, de Boston, trabalhou como pediatra e pesquisador na Harvard Medical School em 1940-41 e depois em 1948-85. Ganhou o prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina em 1954 com John Franklin Enders, da mesma instituição, e Frederick Chapman Robbins, da Western Reserve University, Cleveland, pelas descobertas sobre o vírus da poliomielite e seu crescimento nos tecidos. Fiquei em sua casa, e ele depois me ajudou muito, com material descartável inclusive. Foi aí que começamos a ‘luxar’ um pouco e a fazer pesquisa mais tecnológica, atualizada, com material adequado. Pertencíamos ao Instituto de Endemias Rurais, que era parte da Fiocruz, 7 7 Durante a gestão de Vinicius Fonseca (1975-79), a Fiocruz, criada em 22 de maio de 1970, foi reorganizada, incorporando-se os institutos de Leprologia e de Endemias Rurais ao Instituto Oswaldo Cruz, e transformando-se os núcleos do ex-INERu nos centros de pesquisa René Rachou, Gonçalo Moniz e Aggeu Magalhães, em Belo Horizonte, Salvador e Recife, respectivamente. e que tinha como objetivo realizar pesquisas aplicadas sobre as nossas doenças tropicais. Então, se você pegar minha lista de trabalhos publicados, verifica que eles se dirigem para as doenças parasitárias e endêmicas. Foi por isso que eu jamais entrei por estes caminhos da biologia molecular, a não ser utilizando-a como ferramenta, mas nunca fui especialista neste tipo de ciência pura. Eu fazia ciência aplicada. Trabalhei muito com leishmaniose, doença de Chagas, peste bubônica, esquistossomose e filariose. Tenho trabalhos sobre todas essas doenças, dando sugestões para controle, tratamento, informações sobre como elas se processam nos ambientes naturais, para se ter uma brecha e alcançar o controle.

O senhor se sente orientado pela escola de Samuel Pessoa?

Também dos Deane. O dr. Deane uma vez me disse, já perto de morrer, que o pessoal o chamava de entomologista mas na verdade ele não se considerava um entomologista, e sim parasitologista. Foi ser diretor do Departamento de Entomologia do IOC por circunstâncias, por não ter onde ficar: "me botaram lá e eu aceitei". Então, eu segui o mesmo caminho do dr. Deane, que foi o maior espelho para minha carreira, minha profissão de pesquisador. Foram meu grande espelho, ele e a dra. Maria. Fiquei um tempo com eles, em São Paulo, e achava que o que estavam fazendo era o que eu queria fazer, apesar de não ter podido, por questões financeiras, seguir exatamente o que faziam. Se tivesse feito isso, realmente teria contribuído muito mais para o Brasil.

No exterior, na verdade, eu só fiz ser convidado como visitante por muitas instituições, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos, Japão etc. Já estive no mundo inteiro, menos na Austrália. Não fui um realizador de pesquisa no exterior, fui apenas visitante. Fiz pequenos estágios, conheci laboratórios, às vezes me pediam para dar uma palestra. Falo inglês, um pouco... mal... falo um pouco de francês também, e espanhol. Aí está minha carreira.

O senhor disse que as condições de trabalho no exterior eram completamente diferentes, não é? Isso o estimulou a modificar as coisas?

É um paradoxo interessante, mas isso me estimulou. Eu vejo aqui no Brasil o pessoal nadando em coisas supérfluas, coisas caríssimas que a gente não vê por aí. Estive há uns dez anos nos Estados Unidos, na Universidade da Califórnia. Mostraram-me um laboratório semelhante ao meu, muito improvisado. Lá, um prêmio Nobel de Medicina tinha realizado o trabalho que foi premiado. Fiquei muito admirado. Acho que aqui existe uma extravagância de material. Microscópios pouco usados tornam-se obsoletos em pouco tempo, aparelhagens caríssimas que não servem mais e não passam por uma reciclagem. Eu não sou desse estilo. É claro que a tecnologia, a modernidade, tem de ser acompanhada, mas a gente não pode ser desperdiçador, ficar gastando em coisas sem necessidade... É isso o que eu acho.

Seu currículo traz as teses que o senhor defendeu...

Duas teses. Mas uma não pode ser considerada tese, mesmo. Foi feita na USP, sobre entomologia, para uma especialização. A outra foi defendida no Instituto Oswaldo Cruz, sobre biologia parasitária, meu ramo. Nela sustentei hipóteses e lancei algumas novidades práticas. Lancei uma teoria interessante. Quando a gente é jovem, tem grandes ilusões, esperanças, e o pensamento também é mais brilhante. Quando vai ficando mais velho, vai ficando com medo de lançar idéias. Há anos, achei que a leishmaniose visceral teria como um de seus reservatórios naturais, quando nunca ninguém falava nisso, o Rattus rattus, que é uma espécie de rato importada. Posteriormente à minha sugestão, foi descoberto no Mediterrâneo e na Ásia, no Oriente Próximo, que esse roedor é reservatório natural de Leishmania infantum. Aqui não chegamos ainda a esta descoberta, mas claro que ninguém procurou verificar. Também descobri pela primeira vez, no continente americano, um mamífero não canídeo e sim marsupial que é reservatório de leishmaniose visceral. Depois que descobrimos isso na Bahia, foi verificado que ele tem alto índice de infecção natural pelo parasita da leishmânia na Colômbia. Aqui na Bahia a gente chama de sarigüê, no Norte chamam mucura e no Sul, gambá, um tipo que não é o gambá verdadeiro. Lá é o Didelphys marsupialis, o nosso é Didelphys albiventris. São espécies muito próximas. Fiz algumas outras coisas. Pela primeira vez no mundo, fiz fotografias da infecção de um flebótomo por Leishmania chagasi.8 8 O dr. Ítalo Sherlock publicou vários trabalhos científicos envolvendo estudos sobre doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose, peste. Sobre leishmaniose destacamos: ‘Notas sobre leishmaniose visceral no Brasil, Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais, 26(1):19-26; Sherlock e Pessoa, ‘Leptomas infectando naturalmente Phlebotomus em Salvador (Bahia, Brasil), Revista Latino-Americana de Microbiologia y Parasitologia, 8: 47-50; Marsden; Sherlock e Petit, ‘Some observation on xenodiagnosis with Rhodnius prolixus and triatoma infestans in human infections with Bahia strains of Trypanosoma cruzi, Transactions of the Royal Society of Tropical meidicine & Hygiene, 63 (4): 425-2. Deixe eu ver que mais... Depois da vivência de quarenta anos observando focos de leishmaniose visceral, comecei a perceber que, de dez em dez anos, existia uma enxurrada de trabalhos publicados sobre leishmaniose. Comecei a desconfiar que a leishmaniose tivesse, por analogia, uma periodicidade epidêmica. Então lancei a hipótese da periodicidade epidêmica decenal da leishmaniose visceral no continente americano. A gente não sabe ainda quais são as causas, mas na prática se verifica isso. O fato está sendo estudado estatisticamente. Então, está previsto para o ano 2002 um grande surto de leishmaniose visceral no continente. Se eu estiver vivo, irei confirmar minha hipótese. Não foi uma hipótese com dados estatísticos controlados, mas sim minha vivência de quarenta anos num foco de leishmaniose. É muito importante, porque se pode prever que vão ocorrer surtos em determinados anos.

Lembro-me que quando era jovem – estou dizendo que a gente tinha as idéias mais ousadas – publiquei um trabalho com o título ‘Notas sobre a transmissão da leishmaniose visceral no Brasil’. Este trabalho teve repercussão mundial, embora tenha sido publicado em revista brasileira, em português. Lancei a hipótese de que existia a endemia canina da leishmaniose visceral transmitida pelo carrapato do cão. Eu não sabia que tinha uma escola francesa no Mediterrâneo que defendia esta hipótese. Eu a lancei no Brasil, e o trabalho foi traduzido para inúmeras línguas. Recebi muita correspondência a respeito, assim como muita crítica. Há pouco tempo, nos Estados Unidos, em Oklahoma, uma tese de uma dra. Makenzi (nunca consegui um exemplar dela) prova a transmissão da leishmaniose visceral pelo carrapato do cão. Então, continuo acreditando, como a escola francesa também acredita, que o artrópode possa ter alguma interferência na transmissão da doença.

O senhor é membro do Comitê de Ética do Centro de Pesquisas. Fale um pouco sobre isso. Como o comitê vê a bioética?

Não sei ainda se está muito correto como estão funcionado as coisas. Procuramos dar mais um ponto de vista da realidade. Tivemos de adequar nosso pessoal às condições desejadas pela Conep, inclusive absorvendo membros desprovidos de cultura técnico-científica ou médica. Tenho sempre receio disso, porque considero que os membros têm de receber o projeto, analisá-lo e, se não tiverem condições técnicas de analisá-lo, pedir um consultor ad hoc. Será que uma pessoa sem cultura tem condições de funcionar como membro? Sugeri, em algumas reuniões – mas eles acham que minha idéia não é boa – que, quando for realizada uma pesquisa numa comunidade, uma pessoa da comunidade seja nomeada consultora ad hoc, mas não que essa pessoa seja membro efetivo de um comitê que vai opinar sobre diversos tipos de pesquisa. Então, acho que estão exagerando ao convidar membros de ONGs para membros permanentes dos comitês. Tivemos que adequar: 50% dos membros do sexo feminino e os outros 50% do sexo masculino. Uma mesma especialização não pode ultrapassar 50% dos membros. O nosso comitê só pode ter até 50% de médicos. Ainda, as decisões têm de ser imparciais em relação aos grupos. Uma pessoa que seja, por exemplo, feminista, do tipo ativista exagerada na doutrina dela, que ache que tudo tem que ser a favor da mulher, não pode fazer parte de um comitê imparcial. O pensamento tem que ser imparcial, sem tendenciosidade, a não ser para o bem do sujeito e da coletividade, seja homem ou mulher. Se for um membro da raça negra não vai dar um parecer levando em conta só a condição racial do sujeito. ... Eu acho que eles estão no caminho errado no que se refere à nomeação como membros efetivos de um comitê de ética de pessoas sem cultura geral. Eu falei na última reunião que deviam ser convidados apenas como consultores ad hoc, porque constato a dificuldade que tem esse tipo de membro de emitir opinião.

Qual a relação que o senhor estabelece entre a biossegurança e outras questões, como a ética e a preservação ambiental?

Estão diretamente ligadas, não tem nem dúvida. A ética está diretamente ligada à biossegurança. A biossegurança é um instrumento que a ética utiliza, porque muitas questões éticas implicam a exposição do indivíduo a fatores de risco diversos, e à devastação ambiental. A biossegurança, que ensina se tais fatores são prejudiciais ou não, e como evitá-los. Então não podem se desconectar.

Nós falamos em bioética, e ela faz parte das preocupações da biossegurança. O senhor conhece a lei de biossegurança?

Não, só superficialmente. Eu, inclusive, me interessei mais agora por causa do comitê de ética. Na verdade, achava que já tinha embutido em mim aquela necessidade da pessoa ter segurança nas coisas que faz, mas não que eu fosse basear-me na lei que tem a respeito disso. Agora estou me interessando pela teoria, mas na prática já executava alguma coisa, certo? Muitas vezes, no nosso trabalho de exposição no campo, era uma questão pessoal eu me expor e não estar ligando muito.

Acho também que, às vezes, o pessoal não interpreta direito a biossegurança. O uso do jaleco, por exemplo. Alguns não interpretam bem a essência do fato e ficam dizendo coisas engraçadas a respeito. A gente usa jaleco para se proteger, por exemplo, de uma infecção externa que venha de uma fonte qualquer. Dizer assim é mais fácil de entender. Então, às vezes, você está pondo o jaleco não para se proteger, mas para proteger a cultura. Da mesma forma que usa coisas estéreis para não infectar aquela cultura, você veste o jaleco. Quando sai do laboratório com ele tem o maior escândalo, como se a pessoa, com aquilo, fosse o próprio germe, a própria coisa contaminante. Não é isso! Ele não é o germe que sai lá fora só porque está com aquele jaleco. Tudo bem, não se deve calçar luvas, pegar em sangue, em coisas com vírus, e depois sair com as luvas, ir ao restaurante comer. Aí não, de jeito nenhum se pode fazer.

O senhor lembra de algum acidente envolvendo exposição a risco?

Teve, comigo. Fui fazer uma inoculação num animal e esguichou na minha mão uma cultura de tripanossoma. Não fiquei positivo, mas, claro, houve risco. Nunca mais aconteceu, porque não permito que os outros façam isso. É claro que eu adoto o "façam o que eu digo e não o que eu faço".

Quando ocorreu o acidente, que medida o senhor tomou?

Imediatamente passei álcool, limpei as mãos e lavei com sabão e pronto. Depois, como medida de confirmação, fiz pesquisa diagnóstica em mim e fiquei prestando atenção para ver se sentia algum sintoma. Não senti, mas tenho conhecimento, não em meu laboratório, de uma pesquisadora que foi inoculada sem querer com leishmânia, e pegou a doença.

O senhor considera esta preocupação com sua segurança institucional?

A minha é pessoal, não é institucional ainda. A segurança aqui ainda é mais por iniciativa dos próprios setores, mas ainda não é institucional. Inclusive, você sabe que já melhorou muito com a orientação dada por aquele pessoal da biossegurança? Houve aquela questão dos materiais radiativos. Nós também já andamos vendo a questão dos animais infectados, que se deixavam abertos, expostos. Agora, se tem cuidado, e muito, com isso! A gente já sabia, mas não praticava.

A rotina impede esses cuidados?

As agulhas, seringas, você não deve deixar que outras pessoas, os limpadores, por exemplo, se firam. Então tem que proteger a agulha num saquinho próprio. Os alunos que recebi de outras entidades, para trabalhar aqui, pegavam as seringas com tripanossoma e tudo, com as agulhas abertas, e as jogavam no saco de lixo. Nós dissemos que não podiam fazer isso. "Você tem que cuidar da agulha..." "Mas não precisa, vai para o saco de lixo"; "Precisa, vai para o saco de lixo mas existem limpadores que vão pegar no saco de lixo."

Quando o senhor faz recomendações do tipo use luva, jaleco, existe resistência?

Não, pelo contrário. Só eu mesmo resisto, como um mau exemplo. Mas eles, não.

Então o senhor considera que no seu laboratório já existe a preocupação com a biossegurança?

Sim. Se você olhar, os meninos estão bem vestidinhos, todos protegidos. Os nossos técnicos se preocupam com a segurança. Nós lidamos aqui com transmissão, e a gente tem um cuidado muito grande com isso. Quando a gente infecta um mosquito, como é que vai mantê-lo? É um risco indireto. Antes de nos mudarmos para este laboratório aqui, funcionou um outro laboratório em que trabalhavam com vetores de Chagas. Encontramos aqui triatomíneos fugidos, escondidos em vários setores. Apesar de não estarem infectados, poderiam se infectar porque o próprio cãozinho que tomava conta daqui estava infectado. Era um risco indireto que podia ser direto. Então a gente tem um cuidado muito grande com nosso técnico de manutenção de barbeiros, para que ele não deixe nenhum escapar. Nós ainda não temos as condições ideais, em matéria de insectários, para isso, mas a gente improvisou o máximo que pôde para evitar fuga de barbeiros e essas coisas.

Que medidas o senhor tomaria para tornar seu laboratório seguro?

Faria os insectários como manda a técnica, com pré-portas enteladas para evitar as fugas. O nosso tem uma pré-porta muito ruim, mas que funciona. Foi desenhada por mim, com base na tecnologia que vi publicada e a que assisti pessoalmente no exterior.

O senhor vê alguma possibilidade de modificação de seu espaço físico para que ele se torne um laboratório melhor?

Deixa eu lhe dizer uma coisa... tenho bastante medo disso. Estou convencido de que a gente passa pela humanidade, você nasce, cresce e morre. A gente tem um tempo para o fato. Eu tenho medo de que meu tempo não seja mais o suficiente para reformas demoradas. Estou com 61 anos. Se vierem consertos, reparos e modificações intermináveis... Já sofremos muito com isso. Já perdemos uns oito anos contínuos com estas modificações. Então, prefiro ficar trabalhando num lugar mais modesto, improvisado, que possa funcionar, claro, com aparelhagem adequada, do que fazer grandes reformas para poder funcionar de novo a longo prazo, e eu aí já fui para o beleléu!!!

Ficha técnica:

Data e local da entrevista: 2 de julho de 1998, Salvador (Bahia)

Duração: 2 horas

Entrevistadoras: Marli de Albuquerque e Sheila Sotelino da Rocha

Transcrição: Sheila Sotelino da Rocha

Edição: Anna Beatriz de Sá Almeida e Marli Albuquerque

Revisão: Maria Cristina Ramos Britto

Colaboração: Sheila Sotelino da Rocha

Equipe:

Dra. Marli B. M. de Albuquerque (COC/NUBio)

Anna Beatriz de Sá Almeida (Departamento de Pesquisa da COC)

Sheila Sotelino da Rocha (NUBio/CPqGM)

Laurinda Rosa Maciel (Departamento de Arquivo e Documentação da COC)

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA DE ÍTALO SHERLOCK

Maesden P. D.; Sherlock, I. e Petit, L. 1968 ‘Some observations on xenodiagnosis with Rhodnius prolixus and Triatoma infestants in human infections with Bahia strains of Trypanosoma cruzi’. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine & Hygiene, 63(4): 425- 426

Sherlock, I. e Serafim, E. M. 1967 ‘Triatoma lenti n. sp., Triatoma pessoal n.sp.e Triatoma bahiensis n. sp., do estado da Bahia, Brasil’. Gazeta Médica da Bahia, 67(2):75-92.

Sherlock, I. e Pessoa, S. B. 1966 ‘Leptomas infectando naturalmente Phlebotomus em Salvador (Bahia, Brasil)’. Revista Latino-Amaricana de Microbiologia y Parasitologia, 8: 47-50.

Sherlock, I. e Muniz, T. M. 1965 ‘Observações sobre o combate aos triatomíneos domiciliários com BHC, em Salvador, Bahia’. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais, 27(1): 65-73.

Sherlock, I. 1964 ‘Notas sobre a transmissão de leishmaniose viaceral no Brasil’. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais, 26(1): 19-26.

Sherlock, I. 1963 ‘O problema dos Culicoides em Salvador, Bahia’. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais, 25(4): 567-91.

Sherlock, I. 1962 ‘Nota sobre os criadouros naturais de Phlebotomus em Salvador, Bahia (Diptera, Psychodidae)’. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 60(3): 321-36.

Mangabeira, O. e Sherlock, I. 1961 ‘Descrição de quatro novas espécies de Phlebotominae da Bahia (Diptera, Psychodidae)’. Revista Brasileira de Biologia, 21(3): 265-76.

Sherlock, I. Sherlock VA 1959 ‘Criação e biologia, em laboratório, de Phlebotomus longlpalpis Lutz e Neiva, 1912 (Diptera, Psychodidae)’. Revista Brasileira de Biologia, 19(3): 229-50.

Sherlock, I. 1958 ‘Sobre os Phlebotomus renel Martins Falcão e Silva (Diptera, Psychodidae)’. Revista Brasileira de Biologia, 17(4): 547-56.

NOTAS

  • 1
    Samuel Pessoa desenvolveu relevantes pesquisas sobre leishmaniose, esquistossomose, doença de Chagas e outras endemias. Na década de 1940, integrou uma equipe de cientistas responsável pela realização de vasto inquérito sobre a leishmaniose tegumentar, inquérito este apoiado pelo Departamento de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pela Comissão de Estudos da Leishmaniose do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo. Leônidas e Maria Deane trabalharam para o Serviço Especial de Saúde Pública no período entre 1942 e 1949. Nessa época, Leônidas Deane integrou a equipe dirigida por Evandro Chagas, que realizava estudos pioneiros sobre leishmaniose visceral e outras endemias rurais no Ceará. A pesquisa resultou na tese de livre-docência do dr. Deane, intitulada
    Leishmaniose visceral no Brasil:
    estudos sobre reservatórios e transmissores realizados no estado do Ceará, e submetida à Faculdade de Medicina da USP. Leônidas Deane trabalhou também no Serviço de Malária do Nordeste, em 1939, e realizou pesquisas relevantes sobre essa doença e sobre a doença de Chagas, juntamente com a esposa, Maria José von Paumgartten Deane, cientista que também se destacou pelos trabalhos na área de protozoologia médica. Ambos trabalharam no Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina da USP e, depois, no Departamento de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).
  • 2
    Aluízio Rosa Prata destacou-se como professor da cadeira de doenças tropicais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e posteriormente exerceu suas atividades acadêmicas na Universidade Nacional de Brasília (UnB). Trabalhou em projetos de combate à esquistossomose e doença de Chagas. Amilcar Viana Martins foi diretor do Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu) em 1956-58. Foi pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (1958-66) e do Departamento Nacional de Endemias Rurais 07(DENERu, 1960-61). Em 1966, organizou o Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do qual foi o primeiro diretor. Realizou pesquisas importantes sobre doença de Chagas. Octávio Mangabeira Filho, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, foi o fundador da Turma de Pesquisadores da Bahia, posteriormente Núcleo de Pesquisas da Bahia (decreto 45.237, de 18.6.1959). Em 1963, esse núcleo vinculou-se ao DENERu e, no ano seguinte, ao INERu. Em 1979, foi realizado termo de comodato entre o governo da Bahia, Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz, convertendo-o no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, vinculado a esta última instituição.
  • 3
    Octávio Mangabeira Filho era filho de Octávio Mangabeira, governador do estado da Bahia na época.
  • 4
    Zilton Andrade realiza pesquisas importantes sobre doença de Chagas. Entre setembro de 1980 e dezembro de 1989 dirigiu o Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz.
  • 5
    Os trabalhos de Ítalo Sherlock são considerados de grande relevância para os estudos sobre leishmaniose e doença de Chagas. Um dos que despertaram grande interesse no exterior foi o estudo sobre transmissores de doença de Chagas na Bahia, que recebeu em 1974 o prêmio Gerhard Domack (prêmio Nobel de Medicina em 1939).
  • 6
    O virologista Thomas Huckle Weller (1915, Ann Arbor, Michigan) da Research Division of Infectious Diseases do Children’s Medical Center, de Boston, trabalhou como pediatra e pesquisador na Harvard Medical School em 1940-41 e depois em 1948-85. Ganhou o prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina em 1954 com John Franklin Enders, da mesma instituição, e Frederick Chapman Robbins, da Western Reserve University, Cleveland, pelas descobertas sobre o vírus da poliomielite e seu crescimento nos tecidos.
  • 7
    Durante a gestão de Vinicius Fonseca (1975-79), a Fiocruz, criada em 22 de maio de 1970, foi reorganizada, incorporando-se os institutos de Leprologia e de Endemias Rurais ao Instituto Oswaldo Cruz, e transformando-se os núcleos do ex-INERu nos centros de pesquisa René Rachou, Gonçalo Moniz e Aggeu Magalhães, em Belo Horizonte, Salvador e Recife, respectivamente.
  • 8
    O dr. Ítalo Sherlock publicou vários trabalhos científicos envolvendo estudos sobre doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose, peste. Sobre leishmaniose destacamos: ‘Notas sobre leishmaniose visceral no Brasil,
    Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais, 26(1):19-26; Sherlock e Pessoa, ‘Leptomas infectando naturalmente Phlebotomus em Salvador (Bahia, Brasil),
    Revista Latino-Americana de Microbiologia y Parasitologia, 8: 47-50; Marsden; Sherlock e Petit, ‘Some observation on xenodiagnosis with
    Rhodnius prolixus and triatoma infestans in human infections with Bahia strains of
    Trypanosoma cruzi,
    Transactions of the Royal Society of Tropical meidicine & Hygiene, 63 (4): 425-2.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2000
    Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4365, 21040-900 , Tel: +55 (21) 3865-2208/2195/2196 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: hscience@fiocruz.br