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A morte e o morrer na infância de imigrantes letões: representações na revista Rihta Rasa (1925-1926)

La muerte y el morir en la infancia de los inmigrantes letones: representaciones en la revista Rihta Rasa (1925-1926)

Death and dying in latvian immigrants' childhood: representations in the magazine Rihta Rasa (1925-1926)

La mort et le mourir à l’enfance d’immigrés lettons: représentations dans la revue Rihta Rasa (1925-1926)

Resumo

A formação da colônia de imigrantes letões em Varpa, interior de São Paulo, iniciou em 1922. Devido às precárias condições sanitárias e de alimentação, mortes começaram a ocorrer, em especial de crianças de até 14 anos. O objetivo foi analisar textos sobre a finitude da vida, da revista Rihta Rasa, em suas publicações de 1925 e 1926. Foram analisados cinco contos e um poema que remetiam ao processo de saúde-doença-morte. Observou-se que o material deu centralidade às crianças, condição que direcionou condutas e crenças dos personagens ficcionalizados. A prática religiosa, articulada à predominância das crenças do protestantismo batista, funcionou como elo entre os membros da comunidade, o que se expressou também em suas representações da infância e da finitude. A presença regular de tais recursos sinalizou a frequência do óbito de crianças e atualizou o emprego da retórica cristã natureza-eternidade, como forma de educar sobre as perdas, inclusive as precoces.

Palavras-chave:
infância; história da educação; imigrantes letões; finitude de vida

Resumen

La formación de la colonia de inmigrantes letones en Varpa, en el interior de São Paulo, comenzó en 1922. Por las precarias condiciones sanitarias y alimentarias, comenzaron a producirse muertes, especialmente entre los niños menores de 14 años. El objetivo fue analizar cinco cuentos y un poema que se referían al proceso salud-enfermedad-muerte, de la revista Rihta Rasa, publicados en 1925 y 1926. El material se enfocaba en la infancia, que orientaba la conducta y las creencias de los personajes ficcionales. La práctica religiosa, vinculada al predominio de las creencias protestantes baptistas, actuó como vínculo entre los miembros de la comunidad, lo que se expresó en sus representaciones sobre la infancia y la finitud de la vida. La presencia de estos recursos indicaba la frecuencia de las muertes infantiles y el uso de la retórica cristiana como forma de educar sobre las muertes, incluidas las prematuras.

Palabras clave:
infancia; historia de la educación; inmigrantes letones; finitud de la vida

Abstract

The formation of the Latvian immigrant colony in Varpa, in the interior of São Paulo, began in 1922. Due to precarious sanitary and food conditions, deaths began to occur, especially among children under the age of 14. The aim was to analyze texts about the finitude of life from the Rihta Rasa magazine, published in 1925 and 1926. We analyzed five short stories and one poem that referred to the health-disease-death process. The material gave centrality to children, a condition that directed the conduct and beliefs of the fictionalized characters. Religious practice, linked to the predominance of Baptist Protestant beliefs, acted as a link between the members of the community, which was also expressed in their representations of childhood and finitude. The presence of such resources signaled the frequency of child deaths and updated the use of Christian nature-eternity rhetoric as a way to educate about loss, including early losses.

Keywords:
childhood; history of education; latvian immigrants; finitude of life

Résumé

La formation de la colonie d’immigrés lettons à Varpa, à l’intérieur de São Paulo, a eu son début en 1922. Dû aux conditions sanitaires et alimentaires précaires, des morts ont commencé à avoir lieu, surtout chez des enfants âgés jusqu’à 14 ans. L'objectif était d'analyser des textes sur la finitude de la vie, de la revue Rihta Rasa, parue entre 1925 et 1926. Nous avons analysé cinq nouvelles et un poème qui font référence au processus santé-maladie-mort. Le matériel a ciblé les enfants, conditions qui a conduit à des comportements et à des croyances des adultes y fictionnalisés. La pratique religieuse et convictions protestante, de la domination baptiste, a fonctionné comme un lien entre les membres de la communauté, ce qui a eu des conséquences aussi sur ses représentations de l’enfance et da la finitude. La présence systématique de telles ressources a indiqué la fréquence de la mort d’enfants, ce qui a actualisé l’emploi de la rhétorique chrétienne nature-éternité comme forme d’éduquer et affronter les pertes, surtout les plus précoces.

Mots-clés:
enfance; histoire de l’éducation; immigrés lettons; finitude de la vie

Durante os anos de 1922 e 1923, aproximadamente 2.300 pessoas emigraram da Letônia e fundaram uma colônia em meio à floresta nativa do interior de São Paulo. Uma viagem que durava de 30 a 40 dias, em navios que saíram principalmente do porto de Hamburgo, na Alemanha (TUPES, 1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.). O grupo foi estimulado por um movimento religioso entre os protestantes batistas letões, que se denominava “Despertamento”1 1 “Despertamento” (em língua letã, Atmodas) foi um termo adotado pelos batistas letões no início do século XX. Estava relacionado a um movimento de avivamento que propunha atividades voltadas à promoção da vida espiritual mais intensa e fervorosa, mas sem alterar a estrutura organizacional estabelecida na igreja ou romper com os preceitos do protestantismo histórico. Além disso, havia um forte encorajamento para se dirigirem ao Brasil, baseado em interpretações de profecias religiosas, que se intensificou entre os batistas do “Despertamento” na Letônia com as propagandas do governo brasileiro quanto às facilidades de aquisição de terras por imigrantes, bem como a vinda de Janis Iņķis, um pastor do movimento, que foi convidado para atuar na Igreja Batista Letã em Nova Odessa (SP), iniciando-se assim a preparação para o deslocamento (CERUKS, 2022). .

A Letônia, país da Europa Setentrional, tem uma história de dominação por povos estrangeiros, com seus cidadãos colocados sob regime de servidão e escravidão, até o final do século XX2 2 A Letônia integrou a União Soviética, reconquistando sua independência em 21 de agosto de 1991. . A busca por liberdade religiosa e novas possibilidades de vida esteve entre os principais motivos para a migração ao Brasil, com o apoio de letões de outras colônias presentes no país sul-americano (TUPES, 1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.; RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.).

As terras adquiridas pelos imigrantes letões para fundarem a colônia foram denominadas de Varpa e eram agregadas ao município de Campos Novos (SP). Além de serem inabitadas, eram distantes aproximadamente 30 quilômetros da estação de trem de Sapezal, outro distrito do mesmo município, onde iniciava o acesso à colônia, por uma trilha que cortava a mata.

O primeiro grupo desembarcou no porto de Santos em 26 de outubro de 1922 e seguiu no trem que era especificamente destinado aos que imigravam e os levava diretamente à estação ferroviária anexa à Hospedaria de Imigrantes, no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. O trajeto era feito em algumas horas e as bagagens seguiam separadamente. Após avaliação médica e orientações, dentro de alguns dias, os imigrantes eram despachados também por trem para alcançarem os locais de destino no interior do estado3 3 Segundo Chrysostomo e Vidal (2014), o imigrante somente saía da Hospedaria de Imigrantes de São Paulo após assinatura de contrato de trabalho. (CHRYSOSTOMO e VIDAL, 2014CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um “território da espera” no caminho da emigração para o Brasil. Dossiê Brasil no Contexto Global, 1870-1945, História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 21, n. 1, p. 195-217, jan-mar 2014.https://doi.org/10.1590/S0104-59702014005000008.
https://doi.org/10.1590/S0104-5970201400...
).

O grupo de imigrantes letões seguiu por trem da Estrada de Ferro Sorocabana para a estação em Sapezal, a mais próxima do local comprado4 4 Os imigrantes letões haviam se organizado e encaminhado um grupo de representantes para pesquisar locais no estado de São Paulo de modo a instalarem a colônia e foram denominados de “Procuradores”. Eles foram auxiliados por letões que residiam na colônia de Nova Odessa. Segundo Ronis (1974), o grupo foi composto por Julio Malves (chefe da expedição) e Jānis Iņķis (guia espiritual). Como procuradores, vieram Roberts Rudzits, Peteris Veinbergs, Mikelis Rimsha, Janka Kruse e Pauls Ceipe; de Nova Odessa, foram Vilis Lieknis, Jānis Peterlevitz, Augusto Malves, Theodors Eidocks e Eduards Lieknins. O brasileiro de descendência alemã de nome Ervino acompanhou o grupo como agrimensor e guia da região. O nome dos procuradores foi encontrado nos arquivos da Hospedaria de Imigrantes em São Paulo, a partir do registro de entrada em 31 de agosto de 1922, com destino a Nova Odessa. Segundo Ronis (1974), Roberts Rudzits, Peteris Veinbergs e Mikelis Rimsha eram de famílias com mais posses e foram os responsáveis por transportarem o dinheiro recolhido para a compra das terras. Foi escolhida a Fazenda Pitangueiras, uma área de 2.000 alqueires de mata nativa, que estava à venda e ficava na Alta Sorocabana, no oeste do estado de São Paulo. A compra foi oficializada em 13 de outubro de 1922, pelo valor de 200:000$000 (duzentos contos de réis), com a escritura lavrada no 13º Tabelião da cidade de São Paulo (VASSILIEFF, 1979). para a formação da colônia. Ao chegarem à Sapezal, após uma noite de descanso, seguiam viagem por dentro da floresta, até as margens do Rio do Peixe, onde se situava a Fazenda Pitangueiras, que havia sido comprada e se tornou a colônia de Varpa. Apesar da denominação “fazenda”, a única estrutura construída até então era um barracão para caçadores em meio a uma grande área de mata nativa (TUPES, 1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.; RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.).

O primeiro grupo de imigrantes chegou ao local da colônia em 1 de novembro de 1922, sendo composto por 437 letões5 5 Quando os imigrantes desse grupo chegaram, estavam no local os representantes que haviam sido enviados para a escolha da terra e mais alguns que foram apoiar a chegada. Eram 28 integrantes, que se deslocaram a fim de preparar um local para a vinda dos outros (RONIS, 1974). , com homens e mulheres das mais diversas faixas etárias. Ao longo de 1922 e 1923, chegaram a Varpa diversos grupos, que totalizaram mais de dois mil imigrantes6 6 Há variações no valor exato de imigrantes que formaram a colônia entre 1922 e 1923. Um dos dados que pode ter maior proximidade é o citado na obra de Ronis (1974), de 2.223 imigrantes, obtido dos arquivos de André Klavin, que foi o administrador do primeiro acampamento e manteve um registro particular. . Havia poucos recursos e condições de vida e subsistência, porque além de não terem materiais básicos, não havia alimentos suficientes disponíveis, por estarem afastados de locais de comércio, além de que ainda precisavam desmatar para plantar as lavouras e caçar, se quisessem obter proteína animal para suprir as necessidades de um grande grupo de pessoas (TUPES, 1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.; RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.).

Os primeiros anos da colônia foram árduos para os novos imigrantes, pois entre eles havia bebês, crianças, jovens, adultos e idosos de ambos os sexos. A adaptação ao clima, as dificuldades para garantir a alimentação, o preparo da terra e a falta de recursos foram alguns dos desafios enfrentados. As precárias condições precipitaram as mortes na nova terra, principalmente nos extremos de idade.

Segundo Tupes (1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.), o primeiro óbito se deu em 19 de novembro de 1922, dezessete dias após a chegada do primeiro grupo. Conforme a autora, tratava-se de uma criança que, por causa de uma alimentação escassa e árduos trabalhos de sua mãe, que não conseguiu mais amamentá-la, passou a lhe oferecer caldo de feijão, pois não havia leite ou outros alimentos adequados à idade. O próprio pai construiu uma pequena urna, para então sepultar seu filho.

O primeiro cemitério de Varpa, denominado "Cemitério dos Pioneiros", está pouco preservado, mas nele foi erigido um monumento com placas, apresentando os nomes e as datas de nascimento e falecimento dos que ali se encontram sepultados. Com base nestes registros, o primeiro óbito ocorreu em 14 de novembro de 1922: um pequeno menino, que faleceu com um ano e sete meses de idade. O segundo ocorreu em 19 de novembro de 1922: um bebê de 10 meses. Tais pistas corroboram as informações de Tupes (1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.).

Até a data de 29 de dezembro de 1922, haviam falecido 17 imigrantes, sendo um homem com 77 anos e os demais com idades entre 5 meses e 6 anos. Durante o ano de 1923, morreram 137 imigrantes, seguidos por mais 19 em 1924 e por outros 14, em 1925. Houve um óbito sem definição de data. Assim, foram 188 falecimentos entre novembro de 1922 e 20 de novembro 1925, data do último identificado por meio da listagem extraída das placas do memorial do cemitério dos pioneiros.

Ao serem classificados por faixa etária, ocorreram 27 (14,4%) óbitos de crianças de até 12 meses de idade, 59 (31,4%) da idade de 1 a 5 anos, 22 (11,7%) entre 6 e 14 anos e 2 (1,1%) dos 14 aos 18 anos. O total de mortos até 18 anos chegou a 110 pessoas (58,6%). Acima de 18 anos, ocorreram 74 óbitos. Dois registros não apresentavam ano de nascimento, não sendo possível estabelecer a idade.

Foram registrados outros dois indivíduos, cujos nomes não correspondiam aos de letões, aparentando serem de brasileiros, ambos com óbito ocorrido em 1925. Os números corroboram o estudo de Wenczenovicz (2007WENCZENOVICZ, Thaís Janaina. Luto e silêncio: doença e morte nas áreas de colonização polonesa no Rio Grande do Sul (1910-1945). 2007. Tese (Doutorado em História) - Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Porto Alegre. 2007.), que pesquisou sobre o luto nas colônias polonesas, durante a primeira metade do século XX, no Rio Grande do Sul. A mortalidade infantil também foi elevada entre esses imigrantes, desencadeada por precárias condições socioeconômicas, isolamento e doenças que assolavam a localidade, situação análoga à experimentada pela colônia dos letões.

Na cidade de São Paulo, identificou-se que a porcentagem de óbito de menores de um ano alcançou 31,3%, em 1901 (BUCHALLA, 2003BUCHALLA, Cassia Maria; WALDMAN, Eliseu Alves; LAURENTI, Ruy. A mortalidade por doenças infecciosas no início e no final do século XX no Município de São Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 6, n. 4, p. 335-344, 2003.). Na região do Brás, onde ocorria uma aglomeração de imigrantes, a taxa de mortalidade de menores de 5 anos correspondia a 74% dos óbitos em 1904. Esses números evidenciam a fragilidade das crianças imigrantes, que sofriam com as precárias condições de vida, o que desencadeava doenças gastrointestinais, como enterite e enterocolite, ou respiratórias, como as bronquites, broncopneumonia e pneumonia (BASSANEZI, 2018BASSANEZI, Maria Silvia. A mortalidade em tempos de ventura e desventura: o Brás na virada do século XIX para o século XX. Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 26, n. 1, p. 137-152, jan./jun. 2018.).

O livro oficial de registro de sepultamentos de Varpa iniciou em 2 de janeiro de 1939 e, das páginas 95 a 97, são apresentadas as informações dos óbitos anteriores à sua abertura. Elas registram 89 nomes, mas somente 25 com indicação da data, sendo um de 1926, dois de 1927 e um de 1929. Os demais são de anos posteriores. A maior parte contém o nome e o número de ordem, sem as demais informações.

Devido aos escassos registros, os números de mortes nos primeiros anos da colônia de Varpa podem ser somente aproximados. Os dados existentes levam a deduzir que doenças associadas às condições deficientes de subsistência provavelmente levaram à ocorrência de falecimento desses imigrantes.

Bassanezi (2018BASSANEZI, Maria Silvia. A mortalidade em tempos de ventura e desventura: o Brás na virada do século XIX para o século XX. Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 26, n. 1, p. 137-152, jan./jun. 2018.) apontou que os imigrantes chegavam ao Brasil em condições precárias de saúde, afetadas pela viagem extenuante e precária. Após passarem pela Hospedaria de Imigrantes, aqueles que ficaram em São Paulo, na região do Brás, encontraram trabalhos e casas em condições insalubres e uma alimentação insatisfatória. Esse conjunto de fatores levou diversos imigrantes, principalmente crianças, a serem vitimados pelas afecções gastrointestinais e pulmonares.

Entre o final do século XIX e o início do XX, o estado de São Paulo experimentou um período de modernização, financiada pelo dinheiro proveniente do café. Houve desenvolvimento dos serviços sanitários, influenciado pelas políticas de imigração e receio de doenças que poderiam evoluir para epidemias, advindas com os estrangeiros. Porém a capital concentrou a oferta desses serviços, como a Hospedaria de Imigrantes, o Departamento de Trabalho do Estado e o Desinfectório Central do Serviço Sanitário de São Paulo (MARQUES, AFONSO e SILVEIRA, 2014MARQUES, Maria Cristina da Costa; AFONSO, Fernanda de Carvalho; SILVEIRA, Cássio. A atenção à saúde do Imigrante no Contexto Histórico da Saúde Pública em São Paulo. In: MOTA, André; MARINHO, Maria Gabriela S. M. C.; SILVEIRA, Cássio (Orgs.). Saúde e história de migrantes e imigrantes: direitos, instituições e circularidades. São Paulo: USP, Faculdade de Medicina: UFABC, Universidade Federal do ABC: CD.G Casa de Soluções e Editora , 2014, p. 73-89.).

Também, em 1912, foi fundada a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, a primeira instituição de ensino médico do estado, conhecida hoje como Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (MORAIS, 2012MORAIS, Isabela. Os cem anos da faculdade de medicina. Espaço aberto, n. 136, 2012. Disponível em: https://www.usp.br/espacoaberto/?materia=os-cem-anos-da-faculdade-de-medicina . Acesso em: 10 jan. 2023.
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). Na década de 1920, a saúde surgiu como questão social no Brasil e pelo Decreto nº 15.003, de 15 de setembro de 1921, conhecido como Reforma Carlos Chagas, procurou reorganizar e criar uma compreensão sanitária na sociedade, imputando regras que deveriam ser seguidas pela população, para alcançarem um estado idealizado de saúde.

Também foi ampliada a relação do Governo Federal com os estados, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, composto por profissionais que atuavam como inspetores e fiscalizadores do cumprimento do regulamento sanitário (GIOVANINI, 2005GIOVANINI, Telma. A Enfermagem no Brasil. In: GEOVANINI, Telma; et al. História da Enfermagem: versões e interpretações. 2ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2005, p. 31-34.; LIMA e PINTO, 2003LIMA, Ana Luce Girão Soares de; PINTO, Maria Marta Saavedra. Fontes para a história dos 50 anos do Ministério da Saúde. História, Ciências, Saúde, v.10, n.3, 2003, p. 1037-1051.).

Assim, os imigrantes que se mantiveram na cidade de São Paulo tinham maior possibilidade de acesso a cuidados e tratamentos de saúde. Mas aquele que se dirigia ao interior, encontrava uma realidade diferente. Os núcleos coloniais eram independentes, mas eram muito mais considerados apenas braços para o trabalho na lavoura cafeeira, do que para o intuito de povoamento

Para Ferlini e Filipini (1992FERLINI, Vera Lucia Amaral; FILLIPINI, Elizabeth. Os núcleos coloniais em perspectiva historiográfica. Revista Brasileira de História, v. 13, n. 25/26, 1992, p. 121-132.), estabelecer os imigrantes em núcleos foi uma estratégia dos fazendeiros de café para não terem que sustentar as famílias, pois eles eram úteis somente no período da colheita. Quando Carlos Botelho ficou à frente da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, os núcleos tiveram novas estruturas e foram localizados em terras férteis próximas às linhas férreas.

Entretanto, seu objetivo era o povoamento de terras distantes, nos moldes da colonização americana. Ainda assim, eles eram trabalhadores das fazendas de café e, no oeste paulista, a pequena propriedade particular passou a ser uma forma de atrair imigrantes ou como reservatório de mão-de-obra (FERLINI e FILLIPINI, 1992FERLINI, Vera Lucia Amaral; FILLIPINI, Elizabeth. Os núcleos coloniais em perspectiva historiográfica. Revista Brasileira de História, v. 13, n. 25/26, 1992, p. 121-132.).

Com o Decreto nº 2.400, de 9 de julho de 1913SÃO PAULO. Decreto no 2.400, de 9 de julho de 1913. Manda observar a consolidação das leis, decretos e decisões sobre a immigração, colonização e patronato agrícola. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 12 de julho de 1913, p. 2.911., sobre imigração, colonização e patronato agrícola em São Paulo, os núcleos coloniais eram formados e os lotes concedidos pelo governo do estado. Neles, haveria um diretor, que encaminhava relatórios à Secretaria de Estado quanto aos pagamentos dos lotes e o núcleo contaria com um médico e com um ajudante administrativo, sendo todos mantidos pelo governo.

O médico seria acionado conforme a necessidade de atendimento, mas deveria fazer visitas periódicas, encaminhar à Secretaria de Agricultura um relatório quanto ao "estado sanitário" e propor medidas que poderiam auxiliar nas condições de saúde do núcleo (SÃO PAULO, Decreto nº 2.400, 9 de julho de 1913SÃO PAULO. Decreto no 2.400, de 9 de julho de 1913. Manda observar a consolidação das leis, decretos e decisões sobre a immigração, colonização e patronato agrícola. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 12 de julho de 1913, p. 2.911., Artigo 183). Assim, houve uma preocupação de controlar a saúde, possivelmente com o intuito de minimizar riscos de doenças que poderiam se alastrar.

Não foi identificado algum tipo de apoio à saúde dos imigrantes para aquelas colônias que não se encontravam sob controle do estado, como estava a de Varpa, uma terra adquirida de forma privada pelo próprio grupo, em compra direta do seu proprietário. Portanto, a administração interna seria determinada pelo que o grupo alcançasse com seu próprio esforço ou decidisse de forma coletiva.

Neste sentido, organizar um conjunto de pessoas que pudesse prestar assistência aos imigrantes doentes era essencial na situação de isolamento geográfico em que se encontravam. Aqueles que tinham alguma experiência ou formação poderiam suprir algumas dificuldades do grupo, como no caso dos imigrantes Gustavo Narkevics e Aleksandrs Áboliņs.

Narkevics, segundo Ronis (1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.), atuou como enfermeiro e farmacêutico durante a Primeira Grande Guerra, adquirindo uma "experiência razoável" durante esse período (RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p., p. 237). Áboliņs tinha formação em Medicina Veterinária, em “Voroñeža”7 7 Em uma busca, foi identificada Voronej, cidade russa próxima à Ucrânia. Bastante distante da Letônia, porém foi a correspondência de maior proximidade encontrada. , subentendendo que atuava a serviço do exército russo, uma vez que cuidou de um grupamento de cavalaria russa e depois foi chefe dos veterinários no distrito de Riga (K, 1937K. Mums zudušie ... Latvija, B. Aires, p. 12, novembro, 1937.).

Pouco foi relatado sobre a atuação deles, somente que, de alguma forma, lideraram a atenção à saúde. Mas são encontrados em menor quantidade registros das mulheres que participavam e eram denominadas de “enfermeiras”. Muito provavelmente, elas se mantiveram no cuidado direto aos doentes e ficaram próximas das dores e dificuldades de cada indivíduo.

Os imigrantes pouco conheciam sobre as enfermidades que ocorriam no Brasil, pois as notícias veiculadas pelas mídias e pelo governo brasileiro tinham direcionamentos em tom promissor, sem maiores menções às doenças e outras dificuldades. O desflorestamento em todo o país, resultante das políticas de expansão, colonização de áreas consideradas “despovoadas”8 8 As áreas dos povos indígenas, à época, eram consideradas selvagens e desocupadas (JOVIANO, 2011). Houve muitos movimentos na história do Brasil de invasão e eliminação das populações autóctones, tornando-se posteriormente regiões de colonização (SILVA, 2002). , a construção de ferrovias e o grande crescimento econômico com a ocupação do espaço agrário promoveram a disseminação de doenças transmitidas por vetores, como a Malária, Leishmaniose, Febre Amarela, Peste e Doença de Chagas (JOVIANO, 2011JOVIANO, Carlos Vitório Martins. O colono e o índio na ocupação da nova alta paulista. Periódico eletrônico fórum ambiental da Alta Paulista, v. 7, n. 10, 2011. Disponível em: https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/forum_ambiental/article/view/205 . Acesso em: 11 maio 2022.
https://publicacoes.amigosdanatureza.org...
; BARATA, 2000BARATA, Rita Barradas. Cem anos de endemias e epidemias. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n.2 , 2000, p. 333-345.).

As condições precárias de vida no início da colônia podem ter favorecido o desenvolvimento de doenças como as gastroenterites, que desencadeiam diarreia e desidratação, uma das grandes causas de mortalidade infantil ainda ao final do século XX (BOSCHI-PINTO, VELEBIT e SHIBUYA, 2008BOSCHI-PINTO, Cynthia; VELEBIT, Lana; SHIBUYA, Kenji. Estimating child mortality due to diarrhea in developing countries. Bulletin of the World Health Organization, v. 86, n. 9, p. 710-717, 2008.).9 9 A doença diarreica pode ser causada por vírus, bactéria ou protozoário e pode levar à desidratação, desnutrição e óbito (BUCHALLA, 2003). Ou seja, por um século ela permaneceu uma das causas mais prevalentes de mortalidade infantil. Considerada uma doença infecciosa, durante a década de 1930, essa patologia chegou a ser a causadora de 50% dos óbitos no Brasil, estando entre as principais razões do falecimento de menores de 5 anos na zona rural do país (BARRETO et al., 2011BARRETO, Maurício L.; TEIXEIRA, Gloria M.; BASTOS, Francisco I.; XIMENES, Ricardo A. A.; BARATA, Rita B.; RODRIGUES, Laura C. Successes and failures in the control of infectious diseases in Brazil: social and environmental context, policies, interventions, and research needs. The Lancet, v. 377, p. 1877-1889, 2011.).

Associada às doenças, havia ainda a dificuldade de acesso aos cuidados de saúde. No início da colônia, foi organizada uma enfermaria, conduzida por Narkevics e Áboliņs, porém, pela dificuldade de recursos ou mesmo de conhecimento, pouco podiam oferecer aos imigrantes acometidos pelas doenças tropicais (RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.).

Com as inúmeras perdas, o processos de morte passaram a fazer parte do cotidiano da colônia, cercando as expectativas de cada imigrante e suas famílias. Ao considerar este quadro mais geral, buscamos identificar textos sobre a finitude da vida na revista Rihta Rasa (Orvalho Matinal10 10 As traduções do idioma letão para o português foram realizadas pelos autores. ). Este impresso foi publicado entre 1925 e 1939, na tipografia situada na Fazenda Palma11 11 A Fazenda Palma foi formada por um grupo de aproximadamente 350 letões que, na divisão de terras de Varpa, solicitaram uma área para formarem uma comunidade. As justificativas para essa organização foram quanto à dificuldade de subsistência de alguns imigrantes, como solteiros, viúvos, idosos, mas também pela aspiração de viverem sob preceitos de vida cristã dos quais compartilhavam (TUPES, 1988). , fundada por um grupo desses imigrantes letões de Varpa. Suas edições estão preservadas no acervo da fazenda, que desde 2018 voltou a ser administrada por uma corporação formada por descendentes de imigrantes e apoiadores de sua preservação (DIÁRIO TUPÃ, 2020DIÁRIO TUPÃ. Varpa: Fazenda Palma volta a ser atração turística no distrito. Tupã, 12 jan. 2020. Disponível em: Disponível em: http://www.diariotupa.com.br/Noticias/noticia.php?varpa-fazenda-palma-volta-a-ser- atracao-turistica-no-distrito&IdNoticia=17233&IdCategoria=0 . Acesso em: 15 out. 2020.
http://www.diariotupa.com.br/Noticias/no...
)12 12 No ano de 1929, os moradores da Fazenda Palma se organizaram e fundaram a Corporação Evangélica de Palma (CEP) para uma administração mais efetiva dos trabalhos ali realizados. Em 1964, a Fazenda Palma foi doada à Convenção Batista Brasileira (CBB), uma decisão realizada por um grupo remanescente de pioneiros imigrantes. No ano de 1971, sua jurisprudência passou à Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), uma instituição ligada à CBB (RONIS, 1974). Em 1995, a Fazenda Palma recebeu a intervenção da Associação Batista Leta do Brasil (ABLB) pois estava em risco de ser vendida, devido a dívidas da JUERP. A CEP foi reorganizada e a fazenda passou a ser administrada pelo Sr. João Augstroze Junior até́ 2015, ano de seu falecimento. Posteriormente, por estar em risco de perda de parte das terras, em setembro de 2018, com uma nova intervenção da ABLB e uma liminar da Justiça, a CEP foi reativada de forma oficial, após eleições da diretoria, realizada em Assembleia Geral Extraordinária (DIÁRIO TUPÃ, 2020). A partir dessa reorganização, um amplo movimento de recuperação tem sido executado, entre eles a revitalização da Tipografia. .

Seu conteúdo era direcionado ao público infantil e sua publicação era mensal, em tamanho 12,2x16,7 cm, contendo oito páginas cada edição. Foi impressa em papel jornal, de espessura mais fina em seu miolo, além da capa com o mesmo tipo de papel, mas com gramatura maior. Era distribuída de forma gratuita como suplemento da revista Meera Wehsts (Mensageiro da Paz), que tinha um conteúdo predominantemente de caráter religioso e educativo.

A revista ainda não foi localizada em outros acervos13 13 A Biblioteca Nacional Digital da Letônia (http://periodika.lndb.lv/) disponibiliza um amplo acervo de publicações em idioma letão de várias localidades do mundo, inclusive das publicações da Tipografia da Fazenda Palma, dentre elas a revista Meera Wehsts, desde o seu primeiro número, em outubro de 1925. Porém, a Rihta Rasa ainda não está disponível em sua plataforma. , mas foram doados alguns exemplares por descendentes de letões que contribuíram com a campanha para a formação da biblioteca da Tipografia da Fazenda Palma. Há possibilidade de ser uma publicação que poucos tenham guardado, por ser direcionada ao público infantil e devido ao formato e papel utilizados, que a deixavam mais vulnerável às intempéries do tempo.

Foi realizada uma busca nas publicações dos anos correntes de 1925 e 1926, com o intuito de identificar e analisar nos textos as representações referentes às doenças, à morte e ao morrer14 14 A morte é considerada o momento em que uma pessoa não tem mais sinais vitais, assim, por motivos diversos, um coração que deixa de pulsar, um cérebro que não recebe oxigênio, leva um indivíduo à morte. Porém o morrer envolve causas, práticas, contextos e até mesmo as convicções religiosas de um grupo. No cotidiano, a morte é discutida e percebida, mas a vivência do morrer é diferente a cada indivíduo. A partir do final do século XIX, a intolerância quanto à morte passou a ser um alvo, “quanto mais distante se estivesse da morte, melhor seria o ato de viver” (WENCZENOVICZ, 2007, p. 254). Todavia, a morte na infância não é esperada e tem diferentes significados a adultos e crianças. Para Yamaura (2016), que abordou sobre comunicação da morte, a construção de uma imagem de quem partiu auxilia a criança a compreender que as pessoas podem reviver e continuar vivas, se não forem esquecidas, ao permitir que se lembrem com sentimentos de afeto. , neste caso endereçadas às crianças da colônia. Como procedimento, identificamos as matérias que se referiam aos processos de adoecimento, saúde, morte ou dificuldades de sobrevivência. Com isso, optamos por agrupar os temas por similaridade, de modo a evitar uma ação impressionista e/ou tratamento aleatório das fontes (BARROS, 2020BARROS, José D’assunção. A fonte histórica e seu lugar de produção. Petrópolis: Vozes, 2020. 274 p.).

Os anos aqui elencados não representam o conjunto da coleção da revista, já que ainda não foram recuperados os números do período de 1927 a 193015 15 Há uma possibilidade de a revista não ter sido publicada de 1928 a 1930, pois também não foi identificado nenhum exemplar na biblioteca da Associação Brasileira de Cultura Leta, instalada nas dependências da II Igreja Batista, em Nova Odessa. . No acervo da Fazenda Palma, há exemplares dos anos de 1925, 1926 e a partir de 1931. Apesar de tal incompletude, consideramos que os números iniciais possuem material indiciário que permite refletir a respeito das condições de produção desses enunciados, bem como das situações das crianças e os desafios enfrentados durante o início da colônia16 16 A respeito do trabalho com impressos, cf. Gondra & Nery (2018). , frente às doenças e ao risco de morte.

A escolha de textos literários para a análise do tema possibilita que exploremos as representações acionadas pela perspectiva do adulto, visto que os textos e a própria revista não são produzidos por crianças. Apesar de não ser o objetivo desta pesquisa, a exploração dos escritos também permite observar elementos do mundo infantil e da cultura que o envolvia, a partir da construção de universos narrativos por seus autores, com seus signos, que se constituem como representações de uma realidade (GOUVEA, FARIA FILHO e ZICA, 2007GOUVÊA, Maria Cristina Soares de. A escrita da história da infância: periodização e fontes. In: SARMENTO, Manuel; GOUVÊA, Maria Cristina de Souza. Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 97-118.).

Porém, identificamos que o organizador do periódico, J. Rosenberg, incentivou que os pequenos escritores (Masajeem rakstnekeem) enviassem contos, poemas e reflexões para serem publicados. Essa oportunidade foi exposta ao final da edição número 8, de 1926. Assim, há possibilidade de alguns dos textos terem sido expressões das próprias crianças, leitoras da revista.

Rosenberg, que utilizava os pseudônimos de Kalnu Jekabs (Jacó do Monte) e Dzintars (Âmbar), era escritor, poeta e considerado um líder entre os jovens imigrantes (IŅĶIS sen, 1948IŅĶIS sen, Jahnis. Atmiņu schwitras muhsu Brasilijas latweeschu dsejneeka un literariska darbineeka Kalnu Jekaba mihļai peeminai. Kristigs Draugs, maijs, 1948, p. 10-14.). Assim, podemos considerar que ele foi um dos idealizadores e incentivadores da imprensa dos imigrantes letões de Varpa e, como pudemos identificar, também estimulava que as produções literárias ocorressem desde a infância.

O ORVALHO MATINAL E SUA COLABORAÇÃO À EDUCAÇÃO INFANTIL DE IMIGRANTES LETÕES

A revista Orvalho Matinal iniciou sua publicação em 1925, como suplemento do periódico Meera Wehsts (Mensagem de Paz). O editor, Arvido Eichmann, em conjunto com J. Rosenberg e J. Bukmanis, fez uso de uma máquina impressora manual seminova17 17 A década de 1920 é considerada um período de intenso desenvolvimento da imprensa brasileira, inclusive associada ao "poder de influenciar a sociedade" (VIEIRA, 2007, p. 19). Durante o período colonial, a Coroa portuguesa empregou muitos recursos para evitar o funcionamento de prelos longe do rígido controle censório, com o intuito de evitar o surgimento de ideias emancipatórias, todavia é possível evidenciar a produção de impressos no Brasil a partir de meados do século XVIII. Com a presença da Corte no Brasil, após 1808, impôs-se a necessidade de um mecanismo para a comunicação com os súditos. Desse modo, ainda naquele ano, foi organizada a tipografia oficial, a Impressão Régia. , que levaram à fazenda de café em que trabalhavam, na região de Dourado (SP)18 18 A partir de 1924, um grupo de imigrantes letões de Varpa se deslocou para trabalhar em fazendas de café da região, a fim de adquirirem recursos para desenvolverem suas propriedades. Por esse motivo, a minerva comprada por Rosenberg e Bukmanis foi instalada na fazenda de café na cidade de Dourados (SP). Em 1926, o grupo de imigrantes que era da Fazenda Palma e estava nessa cidade retornou a Varpa e levaram junto a Minerva, instalando-a onde hoje se encontra, na oficina tipográfica. .

Enquanto Eichmann produzia a revista para o público geral, seu auxiliar Rosenberg editou o suplemento para o público infantil. O primeiro número saiu ao final de 1925 e o segundo com a data de 1926, seguindo a sequência até o 12º, neste mesmo ano.

No conjunto de fascículos encontrados, estão encadernados os 12 números publicados entre 1925 e 1926. Na capa, há o título da revista e, abaixo, a inscrição do ano de 1926, seguida de uma imagem com um casal sentado e um rapaz em pé, que aponta para algo sobre a mesa. A ilustração aparenta que o homem sentado está escrevendo e, no chão, atrás do seu banco, há algo semelhante a uma folha de papel. Próximo aos pés da mesa, há um objeto que alude a um tinteiro. O rapaz de pé usa uma boina e segura um objeto quadrado abaixo do braço direito, que poderia representar um livro ou revista (Figura 1).

Figura 1 -
Capa da coletânea de 1925 e 1926 da revista Rihta Rasa

O primeiro número traz, logo abaixo do nome, a identificação dos gêneros textuais presentes, Stahstiņi un dsejas behrneem (Contos e poemas para crianças), colocado entre o número da edição e o ano (Figura 2).

Figura 2 -
Primeiro número da revista Rihta Rasa, publicado em 1925

No acervo da Fazenda Palma, foi possível recuperar um número avulso dessa primeira edição, que continha uma anotação de que fora distribuído como lembrança de Natal, em dezembro de 1925, na Igreja Batista Leta da cidade de Nova Odessa. Tal informação sugere que, mesmo sendo uma impressão inicial, ela circulou fora da colônia de Varpa.

Inicialmente, considerando a diversidade dos gêneros textuais que abordam a problemática da finitude, exploramos os contos para, em seguida, trabalharmos com os poemas, em especial o selecionado nesta pesquisa19 19 Para Silva (2013), há uma diversidade de estruturas textuais que podem ser consideradas como literatura, como o conto, o poema, o romance, entre outros. Porém, o que promove “forte adesão do leitor” são as estratégias utilizadas pelo autor para a recriação da linguagem cotidiana, formando assim o que denomina de “acervo cultural” (p. 196-197). As imagens criadas pela leitura desses textos permitem que seu leitor entre em contato com realidades próximas ou distantes de seu cotidiano, levando-o a “experimentar algumas sensações pouco comuns em sua vida” (p. 197) quando cria um elo com o personagem e vivencia as experiências pela leitura. Essas experiências, em muitos casos livres da pressão pedagógica e das carteiras escolares, possibilita um “conhecimento cognitivo, como meio de informação e como possibilidade de ascensão social” (p. 29). . O primeiro número apresenta um conto intitulado Neredsiga Ansischa bilschu grahmata (Livro de gravuras para a cega Ansi), publicado do final da página quatro, até o início da página sete.

A protagonista do conto em questão é uma menina cega chamada Ansi, que mora com a mãe, pois o pai havia falecido quando ela tinha 3 anos. Na história, ela pergunta se o menino Jesus pode devolver-lhe a visão como presente de Natal. A mãe, em lágrimas, afirma que sim, era algo que poderia ocorrer, se ela pedisse de coração. Durante a noite da véspera natalina, Ansi faz sua oração e a mãe pensa que esse poderia ser o último pedido de sua filha, que estava muito fraca e doente.

Durante o sono, a criança tem um sonho, em que anjos a levavam para conhecer lindas imagens contidas em um livro. A garota acorda muito feliz e conta para a mãe a sua experiência, a qual pressente ser um aviso. Ela deixa sua filha em casa para ir ao trabalho. Ao retornar, encontra-a dormindo tranquilamente. Ao acordar na manhã de Natal, a mãe descobre que durante a noite sua filha partiu, que os anjos a levaram para passar o Natal junto ao menino Jesus e enxergar tudo o que ela queria.

O conto foi assinado por Zeļineeks, que no letão moderno seria Ceļinieks (Viajante). Dentre os imigrantes, havia vários literatos, que escreviam poemas e contos, cabendo ressaltar que muitos assinavam seus textos com pseudônimos (VILMANE, 2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.)20 20 Havia um círculo literário em Varpa, que a pesquisadora Vilmane (2019) apresentou em sua pesquisa, correlacionando os pseudônimos com os seus autores, porém Zeļineeks (Ceļinieks, em letão moderno) não foi identificado entre os citados, permanecendo até o momento como anônimo. A autora citou o imigrante letão e autor Fricis Juris Janovskis como o que utilizava o pseudônimo Vēlais Ceļinieks (Antigo Viajante). .

O segundo conto, intitulado Atvehrtas durwis (Portas abertas), ocupa as páginas sete e oito ainda do primeiro fascículo. Esse texto abordou as dificuldades de uma família quanto à obtenção de alimentos, o que pediam diariamente em suas orações. Ao indagar a mãe, o menino perguntou se Deus havia mandado pão por meio de corvos a uma pessoa necessitada, recebendo uma resposta positiva. Então, o garoto se dirige até a porta e a abre, assinalando que assim os pássaros poderiam entrar.

Neste momento, o prefeito da cidade, vestido de preto, mesma cor das penas do corvo, está passando e convida o menino a ir até sua residência, onde entrega pão e manteiga para levar à sua família. Ao regressar para casa, entrega os alimentos à mãe, que os reparte entre todos, então o garoto se dirige à porta e, olhando para o céu, agradece em voz alta a Deus pelo alimento. A assinatura do conto indicou que foi uma tradução feita por Alfreds, mas não cita a origem da versão.

O mesmo fascículo apresentou o conto Luhgshanas meitene (Menina da oração), nas páginas 21 e 22. A história, de autoria de Svešinieks (Estrangeiro), focalizou a menina Wijolite (Violeta), de seis anos, a qual sempre fazia orações por seu pai, que era soldado. A cada saída para a guerra, ela tinha conhecimento de que poderia não mais vê-lo. À noite, ao orar, pedia a Deus que protegesse o pai durante a batalha, para que não morresse. O pai retornou vivo e ela fica conhecida como a menina da oração.

O fascículo cinco, das páginas 36 a 38, abordou a história do garoto imigrante Misha, que veio da Rússia com sua família para o Brasil. Escrito por O. Sware e intitulado Nehraudi mahmin - labak luhds! (Não chore mamãe - melhor orar!), apresentou aos seus leitores a condição de adoecimento do garoto, situação que afetava sua visão do novo mundo ao redor. Detalhou os sintomas da doença, como a sensação de cabeça pesada, o ar quente que vinha de sua expiração e a febre que o deixava encharcado de suor.

Ao redor de sua cama, os adultos estavam sentados e sua mãe chorava. No texto, foram expressos os pensamentos dela, repletos das preocupações de estar em uma terra nova, com um povo novo, um idioma novo e ainda com uma criança doente. Um médico foi visitá-lo, tendo acenado negativamente com a cabeça, o que suscita uma compreensão de que não havia muitas possibilidades de cura da criança.

A evolução da doença foi descrita detalhadamente pelo autor, bem como o agravamento dos sintomas. Apesar de estar em estado avançado de adoecimento, em um trecho do conto, o garoto reconheceu a mãe e perguntou porque ela chorava. A resposta refletiu a angústia materna, frente à possibilidade de morte de seu filho, "Como posso não chorar, filhinho, você está tão doente. Eu sinto muito por você"21 21 Texto original, em língua letã: Ká lai es neraudatu, dehliņ, tu tatschu esi tik slims. Man tewis ir ļoti schel. .

Diante da aflição materna, o garoto respondeu o que se tornou o título do texto, "Não chore mamãe - melhor orar!". A mãe se apoiou em sua fé em Deus e em orações pelo filho. Apesar de todo o quadro caracterizado, o garoto sobreviveu e, na conclusão do texto, o autor apontou a fé e a oração como fundamentos do cristão. Ao finalizar, o narrador reafirmou que Deus sempre ouve, entende e atende.

O último texto encontrado que abordou sobre doença e morte foi publicado ao final do fascículo sete. Intitulado Mahmin, uhdeni! (Mamãe, água!), esse pequeno conto foi composto por dois parágrafos, de quatro e de três linhas, com o autor identificado como D. O texto iniciou com a frase do título, pronunciada por uma pequena menina doente e acamada. Seu pedido foi atendido, porém ao levarem água para a criança beber, ela diz que quer água para se lavar, porque quer encontrar seu Salvador (subentende-se que estava se referindo a Jesus Cristo) como uma rosa branca como a neve e que o encontrará em ruas de ouro, onde “...o impuro não pode entrar”22 22 Texto original, em língua letã: […] neschķihsts nedrihkst ee-eet. .

Nestes cinco contos, as fragilidades ou necessidades da vida funcionaram como eixo condutor, acopladas a uma dimensão religiosa, a que os personagens se remetem para mitigar ou mesmo resolver os problemas enfocados. Pode-se compreender que seus autores apresentaram formas e estratégias para que seus leitores pudessem compreender e se portar em momentos de dificuldades físicas.

Vilmane (2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.), ao se referir à produção de gêneros da Literatura em Varpa, apontou que possivelmente as difíceis condições de vida, as preocupações de sobrevivência e a consciência da própria insignificância terrena tenham encorajado a expressão dos sentimentos através da criação literária.

Os poemas eram muito frequentes nas publicações dos impressos produzidos na tipografia da colônia de Varpa. No Orvalho Matinal, mesmo sendo direcionado ao público infantil, alguns também foram publicados e os conteúdos apresentados exploram o universo que, atualmente, seria considerado como direcionado ao público geral, porque não são do gênero fantasia ou de conteúdo infantil e abordam maturidade, vida, fé e as condutas.

Assim, de acordo com a ordem de aparição, a página 17 do fascículo três contém a publicação do poema Rosīte un Mīlestība (A rosa e o amor), de autoria de Svešinieks (Estrangeiro) (OSIS e ALBRECHT, 2022):

Cresce bela em meu jardim uma rosa, Que graciosa e viçosa floresce; Sua doce fragrância se espalha, Enquanto a tempestade fenece... Logo a rosa perecerá E suas pétalas cairão, O fio da sua vida Em natural dissipação... Mas o amor, divinal, Florescerá agora e eternamente, Através do seu magnífico perfume, A cura de todo coração dolente.

O conteúdo abordado em seus versos direciona o leitor à finitude da rosa como um processo inevitável da natureza. Representada como “natural dissipação”, o conforto advém da eternidade, assegurada pelo amor divinal, representado como cura para o coração entristecido.

Os fascículos de 7 a 12 não trouxeram contos ou poemas com ênfase em processos de doença e morte, mas textos sobre condutas cristãs consideradas apropriadas para com amigos, escola, família e igreja.

Podemos considerar que a Rihta Rasa foi um apoio na formação e educação das crianças que tiveram acesso ao seu conteúdo, lendo ativamente ou ouvindo a leitura dos contos e poemas por uma outra pessoa. É um momento em que o universo imaginário pode ser estimulado, permitindo um aprendizado, enriquecendo com um conteúdo social, cultural e moral (ROBERTO, SANTIAGO E FERREIRA, 2020ROBERTO, Michele Aparecida da Rocha; SANTIAGO, Gilberto da Silva; FERREIRA, Geraldo Generoso. A leitura na Educação Infantil: uma prática plural. Revista Educação Pública, 2020, v. 20, n. 40. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/40/a-leitura-na-educacao-infantil-uma-pratica-plural . Acesso em: 3 nov. 2023.
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/a...
). Ainda,

Oferecer o contato com os livros às crianças é abrir as portas para o conhecimento e para a formação de futuros cidadãos mais conscientes e com capacidade de interpretar textos, de falar com maior facilidade e de adequar seus discursos ou linguagem em diferentes situações de comunicação (ROBERTO, SANTIAGO e FERREIRA, 2020ROBERTO, Michele Aparecida da Rocha; SANTIAGO, Gilberto da Silva; FERREIRA, Geraldo Generoso. A leitura na Educação Infantil: uma prática plural. Revista Educação Pública, 2020, v. 20, n. 40. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/40/a-leitura-na-educacao-infantil-uma-pratica-plural . Acesso em: 3 nov. 2023.
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/a...
, p. 20).

Nessa mesma perspectiva, a revista pode ter proporcionado uma forma de conteúdo educativo a esse grupo de crianças da colônia afastado de centros urbanos, com características bastante distintas, por se manterem isolados pela dificuldade de acesso a outras comunidades. Para além disso, havia pouco apoio do governo quanto à educação formal, pois as escolas existentes foram organizadas e mantidas pelos próprios imigrantes até 1932, ano em que foram reconhecidas como escolas públicas pela Delegacia de Ensino de Marília (VILMANE, 2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.)23 23 A colônia deu início à primeira “escola” em janeiro de 1923, com uma sala de aula ao ar livre (RONIS, 1974). Após a distribuição da terra entre os imigrantes, três escolas foram formadas, com organização e manutenção pela comunidade, em conjunto com a Igreja Batista de Varpa. Os professores eram imigrantes letões que atuavam como docentes em seu país. Em 1932, com o reconhecimento como escola pública, foram nomeadas três professoras brasileiras para lecionarem em Varpa (VILMANE, 2019; RONIS, 1974). .

A MORTE NA INFÂNCIA E SUAS REPRESENTAÇÕES EDUCATIVAS NO ORVALHO MATINAL

A morte faz parte do processo de vida, cujo desfecho é inevitável. Mas a educação da finitude de vida permeia e engloba questões pessoais, sociais e de crenças (YAMAURA, VERONEZ, 2016YAMAURA Luciana Parisi Martins; VERONEZ, Fulvia de Souza. Comunicação sobre a morte para crianças: estratégias de intervenção. Psicologia Hospitalar, v. 14, n. 1, p. 79-93, 2016.). Neste mesmo sentido, a construção da infância de uma criança é conformada pela sociedade em que ela se dá. Há diferenças entre infâncias europeias e infâncias tropicais, infâncias natais e infâncias imigrantes. O impacto da sociedade acarreta determinadas percepções, hábitos e crenças sobre o período considerado infantil, assim como a forma de as crianças serem vistas em seu contexto e seus papéis sociais (ARIÈS, 1986ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.).

A produção de impressos para o público infantil deve ser compreendida como parte de um projeto de formação das crianças. Afinal, entre os imigrantes letões, a educação foi um fator primordial para o processo de organização e funcionamento da colônia de Varpa. Desde o início do acampamento, formado pelos primeiros que desembarcaram em novembro de 1922, há relatos de que havia uma sala/escola ao ar livre, na qual as crianças estudavam (VILMANE, 2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.; RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.), o que sugere fortemente o compromisso com a formação dos/as filhos/as, a preocupação dos adultos como responsáveis pelas crianças, que necessitam de proteção e de orientação ao seu desenvolvimento intelectual e emocional (FERREIRA e SARAT, 2013FERREIRA, Eliana Maria; SARAT, Magda. “Criança(s) e infância(s)”: perspectivas da história da educação. Revista Linhas, Florianópolis, v. 14, n.27 , jul./dez. 2013. p. 234 - 252.). De modo equivalente, também explicita direcionamentos característicos do protestantismo, de que a educação era um caminho para o esclarecimento (OSMER, 2000OSMER, Richard R. The christian education of children in the protestant tradition. Theology today, v. 56, n. 4, p. 506-523, 2000.).

O editor de Orvalho Matinal, Jakob Rosenberg, era reconhecido entre os imigrantes como literato. Em um texto com sua biografia pós-morte, foi descrito como um homem do mundo das ideias (IŅĶIS sen, 1948IŅĶIS sen, Jahnis. Atmiņu schwitras muhsu Brasilijas latweeschu dsejneeka un literariska darbineeka Kalnu Jekaba mihļai peeminai. Kristigs Draugs, maijs, 1948, p. 10-14.). Escreveu diversos contos e poemas, publicados nos impressos da tipografia de Palma, abrangendo todos os públicos. Também publicou uma coletânea de poemas, intitulada Kad sird mekle sirdi (Quando o coração procura o coração).

Foi um dos fundadores do grupo literário Stars (Raio) que, juntamente com outros jovens da colônia de Varpa, produziram o primeiro jornal, o Domas (Pensamentos) (UPMALEETIS, 1930UPMALEETIS. Pa zelmlauschu pikadem. In: WAHWERA, R., ROSENBERGA, J. Brazilijas Latveeschu Jaunatnes Gada grahmata 1930. Varpa: B.L.J. Weenibas isdewums, 1930. p. 58-61. ). Também foi responsável, junto com J. Bukmanis, pela aquisição da primeira máquina tipográfica (RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.). Essas iniciativas demostram que ele pode ser considerado um dos protagonistas da imprensa letã, que não se limitou à sua condição de isolamento na colônia, na medida em que buscou ferramentas para uma produção efetiva e de maior alcance, por meio de equipamentos adequados à época.

Sua diligência em editar um material para o público infantil pode representar uma visão diferenciada desse estrato social, o que se torna perceptível pelas ocorrências e necessidades educativas por ele identificadas. Por meio de publicações, buscou representar à comunidade formas alternativas de sobrevivência e de compreensão dos novos desafios na terra de destino.

O entendimento sobre as infâncias está baseado em aspectos entrelaçados de categorias sociais, como etnia, religião, classe social, entre outras (GOUVÊA, 2007GOUVÊA, Maria Cristina Soares de; FARIA FILHO, Luciano Mendes de; ZICA, Matheus da Cruz e. A literatura como fonte para a História da Infância: possibilidades, limites e algumas explorações. In: OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. Cinco estudos em História e Historiografia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica , 2007. cap 1, p. 41-68.)24 24 A respeito desses entrelaçamentos, cf. Bechi & Julia (1998), Fernandes, Lopes & Faria Filho (2007), Freitas & Khumann Jr. (2002), Gélis (1997) e Gondra (2010), por exemplo. . Nessa perspectiva, a cultura, a religião e os ideais desse grupo de imigrantes procuravam imprimir determinados contornos à infância das suas crianças, bem como o cotidiano e os desafios de serem imigrantes, em uma situação crítica de subsistência.

A mentalidade do grupo que imigrou, não somente por fins econômicos, mas também em razão de um movimento religioso, tornou os impressos uma fonte de educação informal, que poderia auxiliar no processo de adaptação das crianças à nova nação, bem como na manutenção de uma educação moral e religiosa. Os indícios arrolados permitem argumentar que esses elementos contribuíram para configurar a agenda do impresso analisado.

O aprendizado no cotidiano, por meio de estratégias informais, em contraste com a escola como instituição, pode ter um alcance de outra ordem, contribuindo com o conhecimento de saberes e condutas de diversos públicos por meio do impresso, ao qual os sujeitos podem retornar indefinidas vezes para confirmar, ajustar ou mesmo rever determinadas orientações, aspectos de difícil aferição, sobre os quais implicaria explorar os jogos de apropriação e a estética da recepção, que não foram objetos deste estudo (GIBIM e BARBATO, 2016GIBIM, Gabriela Farias Barcelos; BARBATO, Luis Fernando Tosta. A educação não formal enquanto campo de pesquisa no Brasil: algumas considerações e levantamentos primários. In: BARBATO, Luis Fernando Tosta; GIBIM, Gabriela Farias Barcelos; FERREIRA, Gustavo Henrique Cepolini. Práticas de ensino: teoria e prática em ambientes formais e informais. Jundiaí: Paco Editorial, 2016, p. 37-52.)25 25 A respeito da teoria da apropriação, cf. Chartier (2020). .

Neste sentido, envolve temas e conteúdos que não são abordados em ambientes formais de educação e, muitas vezes, representa a necessidade de determinadas agências e agentes sociais (GIBIM e BARBATO, 2016GIBIM, Gabriela Farias Barcelos; BARBATO, Luis Fernando Tosta. A educação não formal enquanto campo de pesquisa no Brasil: algumas considerações e levantamentos primários. In: BARBATO, Luis Fernando Tosta; GIBIM, Gabriela Farias Barcelos; FERREIRA, Gustavo Henrique Cepolini. Práticas de ensino: teoria e prática em ambientes formais e informais. Jundiaí: Paco Editorial, 2016, p. 37-52.). Assim, os textos impressos sobre a morte na infância podem representar a necessidade de o tema ser abordado em contexto social, comunitário e familiar, dentro da colônia dos imigrantes, como expediente que permitiria acoplar a dimensão material da vida com o transcendental.

Adamoviz (2008ADAMOVICZ, Anna Lucia Collyer. Imprensa protestante na primeira república: evangelismo, informação e produção cultural - O Jornal Batista (1901-1922). 2008. Tese (Doutorado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.), ao analisar a imprensa protestante batista pelo O Jornal Batista, apontou que essa poderia ser uma ferramenta de crescimento qualitativo de seus seguidores, proporcionando um aprimoramento não somente religioso, mas também intelectual. Sendo assim um instrumento educativo e estimulador da promoção e construção de um modelo ético-social26 26 A respeito da imprensa batista no Rio de Janeiro, cf. Pereira (2016). .

Entretanto, apesar de toda intencionalidade de um texto, elaborado por seus autores e editores, a leitura está relacionada a um contexto de sentidos atribuídos por seus leitores e, em muitos casos, não corroboram as expectativas de seus produtores. Essa liberdade que a leitura proporciona está acometida pelos hábitos, razões, limitações, cotidianos e expectativas de quem realiza o ato de leitura (CHARTIER, 1999CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1999. 160 p.).

Importa destacar que o Orvalho Matinal foi publicado simultaneamente com uma revista direcionada a jovens e adultos, levando-nos a considerar que as crianças eram consideradas uma faixa social que necessitava de uma atenção privilegiada. Seu editor pode ter buscado apresentar às crianças da colônia de Varpa, assim como a todos aqueles que leriam o seu conteúdo, assuntos que diziam respeito ao dia a dia da comunidade.

Nessas representações sobre a tríade saúde-doença-morte, múltiplas situações transpassam os contos e poemas. Algumas de forma a expor a morte e a doença como processos naturais, que devem ser compreendidos e aceitos, como parte incontornável do ciclo da vida, mas também como um desafio de fé, com desfecho possível de ser alterado, através da esperança de ser atendido em suas orações. No limite, o conforto oferecido pelas tópicas da vontade superior e da eternidade.

Com base em estatísticas apresentadas sobre a mortalidade infantil que ocorria à época, a convivência com a doença e a morte era frequente. Não somente de crianças recém-nascidas, mas entre aquelas com idade até 14 anos. Nos contos com as temáticas da morte, do adoecimento e da falta de alimentos, os personagens infantes dialogam com personagens adultos. Em tais diálogos, aqueles se posicionam como orientadores da postura dos mais velhos, de como eles devem se portar frente às situações experienciadas.

Somente no conto da garota Ansi, o diálogo ocorre orientado ao compartilhamento de sentimentos com a mãe, nos demais, há um fundo educativo direcionado pelas crianças aos adultos. Esse movimento contrário, de uma criança orientando um adulto, pode remeter a valores cristãos protestantes, em que, por uma interpretação teológica, segundo Maas (2000MAAS, Robin. Christ as the logos of childhood: reflections on the meaning and mission of the child. Theology today . v. 56, n. 4, p. 456-468, 2000.), a criança simboliza o cumprimento da plenitude espiritual.

Ou seja, uma representação da criança não como um ser em desenvolvimento ou a evoluir, mas possuidor do espírito de fraternidade. Nesta chave, as crianças são compreendidas espiritualmente em condição superior à dos adultos, com base em diversos trechos da Bíblia, na qual elas são posicionadas como detentoras de uma maior pureza-santidade.

Por essa perspectiva, o conteúdo do Orvalho Matinal podia remeter a um posicionamento diferenciado quanto às crianças e sua importância no cotidiano espiritual da colônia. Em todos os contos, os protagonistas se apresentam como detentores de uma sabedoria que leva os adultos a repensarem as situações envolvidas. As falas das crianças, as condutas, os entendimentos ou até mesmo as formas de superarem a perda deveriam levar a um alinhamento à religião, seja pela convocação a permanecer em oração diante de uma situação-limite, seja por aceitar os desígnios do divino, outra face da confirmação da fé.

Para o público infantil, os contos levavam à reflexão sobre a morte e as crenças espirituais da fé protestante. No texto em que a criança protagonista falece e aquele em que a outra quer se preparar para o encontro com seu Salvador, as transições de final de vida são repletas de palavras de conforto e tranquilizadoras.

Segundo Yamaura e Veronez (2016YAMAURA Luciana Parisi Martins; VERONEZ, Fulvia de Souza. Comunicação sobre a morte para crianças: estratégias de intervenção. Psicologia Hospitalar, v. 14, n. 1, p. 79-93, 2016.), na atualidade, a abordagem sobre o tema morte com crianças pode ser considerada um tabu:

A finitude é inerente à existência de todos os seres vivos e, apesar de a única certeza do homem na vida ser a morte, falar sobre ela, mesmo entre adultos, pode causar desconforto, gerar temores, angústias, medo, insegurança e resultar na esquiva a este assunto. No entanto, falar sobre a morte com crianças parece ser um pouco mais complicado. Por entender que as crianças não estão emocionalmente preparadas para abordar o tema, grande parte dos adultos não sabe como se comportar frente a esta situação, ficam ansiosos com os questionamentos da criança e sempre com medo de qual possa ser a “próxima” pergunta, acabando por desviar o assunto ou finalizar a conversa com alguma explicação sem sentido.

Porém, acreditamos que a cultura, a percepção ou mesmo o próprio tema da morte e do morrer tinham um significado diferenciado para a comunidade no período das publicações. Como Silva (2021SILVA, Elizete da. A morte e a vida pós-morte: uma perspectiva protestante. In: Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia, 2021. São Paulo: ANPUH-Brasil, 2021. Disponível em: https://www.snh2021.anpuh.org/site/anais#E
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) relatou, a percepção do protestante quanto à morte é a de um descanso das agruras da vida terrena e uma passagem para o paraíso. Nessa perspectiva, os textos publicados direcionavam o sentido da morte a esses significados, educavam a criança e os leitores na doutrina batista, bem como auxiliavam os membros da comunidade quanto à temática.

Pela apresentação do conteúdo e da forma como foi exposto nos impressos, é possível observar que o tema morte fazia parte das experiências ordinárias dos letões de Varpa. Ao analisar fotografias dos primeiros anos da colônia, é frequente encontrar aquelas tiradas durante um velório, denominadas fotografias post-mortem. Nestas, quando eram de infantes imigrantes, é bastante comum encontrar diversas crianças ao redor do corpo velado (Figura 3 e 4).

A prática dessas fotografias pode representar que a atribuição ou o sentido dado à morte pode ser diferente da atualidade. Busca-se registrar o finado para a posteridade e apontar os elementos culturais do grupo e sua afetividade, o que confere um reconhecimento social em seu núcleo familiar e comunidade (SOARES, 2007SOARES, Miguel Augusto Pinto. Representações da morte: fotografia e memória. 2007. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. ).

Figura 3 -
Enterro em Varpa

Realizar fotografia dos mortos era bastante comum entre imigrantes italianos, alemães e poloneses, como uma forma de preservação da memória dos mortos, mas também reforçar a existência da vida para além da morte. Assim, essa prática entre os imigrantes letões pode estar associada à cultura, pela dominação da Letônia pela Alemanha, além das influências religiosas e crenças na vida após a morte (SOARES, 2007SOARES, Miguel Augusto Pinto. Representações da morte: fotografia e memória. 2007. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. ).

Figura 4 -
Fotografia post-mortem de uma criança letã em Varpa

Assim, a participação das crianças nessas fotografias, ao redor dos mortos adultos e infantis, pode representar uma efetiva participação desse grupo em momentos diversos da comunidade, inclusive naqueles em que a dor e o pesar estavam presentes pela perda de um parente ou conhecido. Pode também ser compreendido como a participação das crianças no processo inevitável de vida, que finaliza com a morte. Não os separando do momento de luto e despedida, mas possibilitando agregar uma percepção de mortalidade e vida eterna (SIQUEIRA, 2018SIQUEIRA, Adriele. Discursos sobre a infância em fotografias pós-morte e tumulares- Ponta Grossa (1920 -1965). Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem), Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2018. Disponível em: https://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/2523 . Acesso em: 3 nov. 2023.
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).

Podemos denotar que esse mesmo contexto foi apresentado nos textos do Orvalho da Manhã, ao darem protagonismo às crianças dos contos, uma forma de dimensioná-las como sujeitos da sociedade e partes importantes do entendimento sobre a vida e morte, dentro dos escritos.

No texto em que o personagem está gravemente doente, os sintomas e o estado físico são bastante detalhados, levando o leitor a compreender que praticamente não haveria possibilidade de sobrevivência. No entanto, ao final, através da oração e fé, o menino fica curado. O mesmo ocorreu no conto dos corvos, em que a fé do garoto, ao abrir a janela, foi recompensada com o suprimento de alimentos de que a família necessitava.

A vida religiosa, portanto, constitui-se um dos alicerces da colônia, de modo a manter o grupo unido e resiliente. Representar para as crianças a relação entre vida, doença e morte no contexto espiritual podia gerar um elo com o impresso Orvalho Matinal, em específico, e conforto àqueles, crianças ou adultos, que tinham perdido entes queridos na nova pátria.

Conclusão

Os impressos produzidos na tipografia de Palma eram predominantemente direcionados à comunidade de imigrantes letões. Dentre os diversos títulos, o Orvalho Matinal se destacou por ser orientado ao público infantil, sendo um dos primeiros a serem publicados, a partir de 1925.

Em suas páginas, foram encontrados cinco contos e um poema que remetiam ao processo de saúde-doença-morte. Seus conteúdos levavam a reflexões sobre a vida e sua finitude, em uma perspectiva espiritualmente pragmática, de acordo com as crenças protestantes dos imigrantes batistas letões, o que justifica as publicações estimularem os princípios que deveriam nortear a comunidade.

Entre os protestantes batistas, pode haver três representações para a morte do cristão, são elas: uma morte bem-aventurada, pela certeza da vida eterna; um sono ou repouso dos fiéis, que aguardam a segunda vinda de Cristo; e a terceira, a morte como uma passagem para a vida eterna (SILVA, 2021SILVA, Elizete da. A morte e a vida pós-morte: uma perspectiva protestante. In: Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia, 2021. São Paulo: ANPUH-Brasil, 2021. Disponível em: https://www.snh2021.anpuh.org/site/anais#E
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).

Nos textos que se referiam ao falecimento, os autores procuraram demonstrar às crianças a morte bem-aventurada ou como uma passagem para a vida eterna. Não foi encontrado em nosso recorte algum que a representasse como um repouso ou sono.

A forma direta e realista de abordagem do tema nos impressos letões infantis, mesmo se ficcionalizadas, demonstrou que não era somente uma vontade dos editores, mas também uma necessidade, possivelmente pelas condições de vida e de risco que enfrentavam. A morte era parte do cotidiano dos imigrantes, que alcançou todo o grupo. As doenças, recursos precários de subsistência, falta de alimentos e de assistência à saúde, foram fatores que colaboraram para que viessem a óbito quase 10% dos habitantes à época, em sua grande maioria crianças.

Corroborando Vilmane (2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.), podemos considerar que as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes letões de Varpa, no início da colônia, levaram-nos a expressar, por meio da literatura, suas preocupações e sentimentos. O conteúdo sobre doenças e falecimento, em contos que buscaram representar o óbito como um processo do cotidiano da vida, pode ter servido como aparato para a sensibilização das crianças e adultos ao processo de morte como algo natural, inescapável.

A convivência religiosa na colônia pareceu funcionar efetivamente como um elo interno e externo, pois a história deles estava atrelada às crenças na vida cristã, levando temas como os aqui discutidos a serem frequentemente abordados, tais como em outros grupos protestantes no Brasil, conforme estudo de Silva (2021SILVA, Elizete da. A morte e a vida pós-morte: uma perspectiva protestante. In: Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico] : história, verdade e tecnologia, 2021. São Paulo: ANPUH-Brasil, 2021. Disponível em: https://www.snh2021.anpuh.org/site/anais#E
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), que analisou os discursos, práticas e representações da morte entre Anglicanos e Batistas, no Brasil dos séculos XIX e XX.

Por meio da análise das fontes, foi possível identificar a cultura e educação sobre a morte, bem como vislumbrar as representações sobre o morrer na infância, dentre os imigrantes letões de Varpa. Apesar de terem sido escritos há quase 100 anos, os textos aqui elencados são notabilizados por sua comunicação aberta e clara, expondo situações de pragmatismo quanto ao cotidiano e seus acontecimentos, proporcionando aos seus potenciais leitores reflexões sobre a frágil existência humana e sua espiritualidade - ambas incontornáveis -, o que reforça a difusão de princípios religiosos como um dos fundamentos para a organização e funcionamento da colônia na terra de destino e recurso para se manterem conectados com a terra de partida.

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  • VIEIRA, Carlos Eduardo. Jornal diário como fonte e como tema para pesquisa em História da Educação: um estudo da relação entre imprensa, intelectuais e modernidade no anos de 1920. In: OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. Cinco estudos em História e Historiografia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica , 2007. cap 1, p. 11-40.
  • VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.
  • WENCZENOVICZ, Thaís Janaina. Luto e silêncio: doença e morte nas áreas de colonização polonesa no Rio Grande do Sul (1910-1945). 2007. Tese (Doutorado em História) - Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Porto Alegre. 2007.
  • YAMAURA Luciana Parisi Martins; VERONEZ, Fulvia de Souza. Comunicação sobre a morte para crianças: estratégias de intervenção. Psicologia Hospitalar, v. 14, n. 1, p. 79-93, 2016.
  • 1
    “Despertamento” (em língua letã, Atmodas) foi um termo adotado pelos batistas letões no início do século XX. Estava relacionado a um movimento de avivamento que propunha atividades voltadas à promoção da vida espiritual mais intensa e fervorosa, mas sem alterar a estrutura organizacional estabelecida na igreja ou romper com os preceitos do protestantismo histórico. Além disso, havia um forte encorajamento para se dirigirem ao Brasil, baseado em interpretações de profecias religiosas, que se intensificou entre os batistas do “Despertamento” na Letônia com as propagandas do governo brasileiro quanto às facilidades de aquisição de terras por imigrantes, bem como a vinda de Janis Iņķis, um pastor do movimento, que foi convidado para atuar na Igreja Batista Letã em Nova Odessa (SP), iniciando-se assim a preparação para o deslocamento (CERUKS, 2022CERUKS, Andrejs; tradução Arnaldo Ceruks. Vi e ouvi: memórias do avivamento e emigração batista leta ao brasil em 1922/23. São José dos Campos: Mariana Ceruks Madaleno, 2022. 103 p. ).
  • 2
    A Letônia integrou a União Soviética, reconquistando sua independência em 21 de agosto de 1991.
  • 3
    Segundo Chrysostomo e Vidal (2014CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um “território da espera” no caminho da emigração para o Brasil. Dossiê Brasil no Contexto Global, 1870-1945, História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 21, n. 1, p. 195-217, jan-mar 2014.https://doi.org/10.1590/S0104-59702014005000008.
    https://doi.org/10.1590/S0104-5970201400...
    ), o imigrante somente saía da Hospedaria de Imigrantes de São Paulo após assinatura de contrato de trabalho.
  • 4
    Os imigrantes letões haviam se organizado e encaminhado um grupo de representantes para pesquisar locais no estado de São Paulo de modo a instalarem a colônia e foram denominados de “Procuradores”. Eles foram auxiliados por letões que residiam na colônia de Nova Odessa. Segundo Ronis (1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.), o grupo foi composto por Julio Malves (chefe da expedição) e Jānis Iņķis (guia espiritual). Como procuradores, vieram Roberts Rudzits, Peteris Veinbergs, Mikelis Rimsha, Janka Kruse e Pauls Ceipe; de Nova Odessa, foram Vilis Lieknis, Jānis Peterlevitz, Augusto Malves, Theodors Eidocks e Eduards Lieknins. O brasileiro de descendência alemã de nome Ervino acompanhou o grupo como agrimensor e guia da região. O nome dos procuradores foi encontrado nos arquivos da Hospedaria de Imigrantes em São Paulo, a partir do registro de entrada em 31 de agosto de 1922, com destino a Nova Odessa. Segundo Ronis (1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.), Roberts Rudzits, Peteris Veinbergs e Mikelis Rimsha eram de famílias com mais posses e foram os responsáveis por transportarem o dinheiro recolhido para a compra das terras. Foi escolhida a Fazenda Pitangueiras, uma área de 2.000 alqueires de mata nativa, que estava à venda e ficava na Alta Sorocabana, no oeste do estado de São Paulo. A compra foi oficializada em 13 de outubro de 1922, pelo valor de 200:000$000 (duzentos contos de réis), com a escritura lavrada no 13º Tabelião da cidade de São Paulo (VASSILIEFF, 1979VASSILIEFF, Irina. Imigração leta no Brasil: a experiencia da colônia de Varpa na Alta Paulista (1922-1964). Dissertação (Mestrado em História) - Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1979.).
  • 5
    Quando os imigrantes desse grupo chegaram, estavam no local os representantes que haviam sido enviados para a escolha da terra e mais alguns que foram apoiar a chegada. Eram 28 integrantes, que se deslocaram a fim de preparar um local para a vinda dos outros (RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.).
  • 6
    Há variações no valor exato de imigrantes que formaram a colônia entre 1922 e 1923. Um dos dados que pode ter maior proximidade é o citado na obra de Ronis (1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.), de 2.223 imigrantes, obtido dos arquivos de André Klavin, que foi o administrador do primeiro acampamento e manteve um registro particular.
  • 7
    Em uma busca, foi identificada Voronej, cidade russa próxima à Ucrânia. Bastante distante da Letônia, porém foi a correspondência de maior proximidade encontrada.
  • 8
    As áreas dos povos indígenas, à época, eram consideradas selvagens e desocupadas (JOVIANO, 2011JOVIANO, Carlos Vitório Martins. O colono e o índio na ocupação da nova alta paulista. Periódico eletrônico fórum ambiental da Alta Paulista, v. 7, n. 10, 2011. Disponível em: https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/forum_ambiental/article/view/205 . Acesso em: 11 maio 2022.
    https://publicacoes.amigosdanatureza.org...
    ). Houve muitos movimentos na história do Brasil de invasão e eliminação das populações autóctones, tornando-se posteriormente regiões de colonização (SILVA, 2002SILVA, Henrique Manoel da. Os Imigrantes da Letônia no Oeste Paulista. Maringá: Eduem, 2002. 240 p.).
  • 9
    A doença diarreica pode ser causada por vírus, bactéria ou protozoário e pode levar à desidratação, desnutrição e óbito (BUCHALLA, 2003BUCHALLA, Cassia Maria; WALDMAN, Eliseu Alves; LAURENTI, Ruy. A mortalidade por doenças infecciosas no início e no final do século XX no Município de São Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 6, n. 4, p. 335-344, 2003.).
  • 10
    As traduções do idioma letão para o português foram realizadas pelos autores.
  • 11
    A Fazenda Palma foi formada por um grupo de aproximadamente 350 letões que, na divisão de terras de Varpa, solicitaram uma área para formarem uma comunidade. As justificativas para essa organização foram quanto à dificuldade de subsistência de alguns imigrantes, como solteiros, viúvos, idosos, mas também pela aspiração de viverem sob preceitos de vida cristã dos quais compartilhavam (TUPES, 1988TUPES, Milia. Da aurora ao crepúsculo - estudo sócio-religioso da colonização leta de Varpa e comunidade de Palma. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1988. 126 p.).
  • 12
    No ano de 1929, os moradores da Fazenda Palma se organizaram e fundaram a Corporação Evangélica de Palma (CEP) para uma administração mais efetiva dos trabalhos ali realizados. Em 1964, a Fazenda Palma foi doada à Convenção Batista Brasileira (CBB), uma decisão realizada por um grupo remanescente de pioneiros imigrantes. No ano de 1971, sua jurisprudência passou à Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), uma instituição ligada à CBB (RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.). Em 1995, a Fazenda Palma recebeu a intervenção da Associação Batista Leta do Brasil (ABLB) pois estava em risco de ser vendida, devido a dívidas da JUERP. A CEP foi reorganizada e a fazenda passou a ser administrada pelo Sr. João Augstroze Junior até́ 2015, ano de seu falecimento. Posteriormente, por estar em risco de perda de parte das terras, em setembro de 2018, com uma nova intervenção da ABLB e uma liminar da Justiça, a CEP foi reativada de forma oficial, após eleições da diretoria, realizada em Assembleia Geral Extraordinária (DIÁRIO TUPÃ, 2020DIÁRIO TUPÃ. Varpa: Fazenda Palma volta a ser atração turística no distrito. Tupã, 12 jan. 2020. Disponível em: Disponível em: http://www.diariotupa.com.br/Noticias/noticia.php?varpa-fazenda-palma-volta-a-ser- atracao-turistica-no-distrito&IdNoticia=17233&IdCategoria=0 . Acesso em: 15 out. 2020.
    http://www.diariotupa.com.br/Noticias/no...
    ). A partir dessa reorganização, um amplo movimento de recuperação tem sido executado, entre eles a revitalização da Tipografia.
  • 13
    A Biblioteca Nacional Digital da Letônia (http://periodika.lndb.lv/) disponibiliza um amplo acervo de publicações em idioma letão de várias localidades do mundo, inclusive das publicações da Tipografia da Fazenda Palma, dentre elas a revista Meera Wehsts, desde o seu primeiro número, em outubro de 1925. Porém, a Rihta Rasa ainda não está disponível em sua plataforma.
  • 14
    A morte é considerada o momento em que uma pessoa não tem mais sinais vitais, assim, por motivos diversos, um coração que deixa de pulsar, um cérebro que não recebe oxigênio, leva um indivíduo à morte. Porém o morrer envolve causas, práticas, contextos e até mesmo as convicções religiosas de um grupo. No cotidiano, a morte é discutida e percebida, mas a vivência do morrer é diferente a cada indivíduo. A partir do final do século XIX, a intolerância quanto à morte passou a ser um alvo, “quanto mais distante se estivesse da morte, melhor seria o ato de viver” (WENCZENOVICZ, 2007WENCZENOVICZ, Thaís Janaina. Luto e silêncio: doença e morte nas áreas de colonização polonesa no Rio Grande do Sul (1910-1945). 2007. Tese (Doutorado em História) - Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Porto Alegre. 2007., p. 254). Todavia, a morte na infância não é esperada e tem diferentes significados a adultos e crianças. Para Yamaura (2016YAMAURA Luciana Parisi Martins; VERONEZ, Fulvia de Souza. Comunicação sobre a morte para crianças: estratégias de intervenção. Psicologia Hospitalar, v. 14, n. 1, p. 79-93, 2016.), que abordou sobre comunicação da morte, a construção de uma imagem de quem partiu auxilia a criança a compreender que as pessoas podem reviver e continuar vivas, se não forem esquecidas, ao permitir que se lembrem com sentimentos de afeto.
  • 15
    Há uma possibilidade de a revista não ter sido publicada de 1928 a 1930, pois também não foi identificado nenhum exemplar na biblioteca da Associação Brasileira de Cultura Leta, instalada nas dependências da II Igreja Batista, em Nova Odessa.
  • 16
    A respeito do trabalho com impressos, cf. Gondra & Nery (2018GONDRA, José Gonçalves; NERY, Ana Clara Bortoleto (Org.) Imprensa pedagógica na ibero-américa: local, nacional e transnacional. São Paulo: Editora Alameda, 2018.).
  • 17
    A década de 1920 é considerada um período de intenso desenvolvimento da imprensa brasileira, inclusive associada ao "poder de influenciar a sociedade" (VIEIRA, 2007VIEIRA, Carlos Eduardo. Jornal diário como fonte e como tema para pesquisa em História da Educação: um estudo da relação entre imprensa, intelectuais e modernidade no anos de 1920. In: OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. Cinco estudos em História e Historiografia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica , 2007. cap 1, p. 11-40., p. 19). Durante o período colonial, a Coroa portuguesa empregou muitos recursos para evitar o funcionamento de prelos longe do rígido controle censório, com o intuito de evitar o surgimento de ideias emancipatórias, todavia é possível evidenciar a produção de impressos no Brasil a partir de meados do século XVIII. Com a presença da Corte no Brasil, após 1808, impôs-se a necessidade de um mecanismo para a comunicação com os súditos. Desse modo, ainda naquele ano, foi organizada a tipografia oficial, a Impressão Régia.
  • 18
    A partir de 1924, um grupo de imigrantes letões de Varpa se deslocou para trabalhar em fazendas de café da região, a fim de adquirirem recursos para desenvolverem suas propriedades. Por esse motivo, a minerva comprada por Rosenberg e Bukmanis foi instalada na fazenda de café na cidade de Dourados (SP). Em 1926, o grupo de imigrantes que era da Fazenda Palma e estava nessa cidade retornou a Varpa e levaram junto a Minerva, instalando-a onde hoje se encontra, na oficina tipográfica.
  • 19
    Para Silva (2013SILVA, Márcia Cabral da. Leitura, pesquisa e ensino. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013. 204 p.), há uma diversidade de estruturas textuais que podem ser consideradas como literatura, como o conto, o poema, o romance, entre outros. Porém, o que promove “forte adesão do leitor” são as estratégias utilizadas pelo autor para a recriação da linguagem cotidiana, formando assim o que denomina de “acervo cultural” (p. 196-197). As imagens criadas pela leitura desses textos permitem que seu leitor entre em contato com realidades próximas ou distantes de seu cotidiano, levando-o a “experimentar algumas sensações pouco comuns em sua vida” (p. 197) quando cria um elo com o personagem e vivencia as experiências pela leitura. Essas experiências, em muitos casos livres da pressão pedagógica e das carteiras escolares, possibilita um “conhecimento cognitivo, como meio de informação e como possibilidade de ascensão social” (p. 29).
  • 20
    Havia um círculo literário em Varpa, que a pesquisadora Vilmane (2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.) apresentou em sua pesquisa, correlacionando os pseudônimos com os seus autores, porém Zeļineeks (Ceļinieks, em letão moderno) não foi identificado entre os citados, permanecendo até o momento como anônimo. A autora citou o imigrante letão e autor Fricis Juris Janovskis como o que utilizava o pseudônimo Vēlais Ceļinieks (Antigo Viajante).
  • 21
    Texto original, em língua letã: Ká lai es neraudatu, dehliņ, tu tatschu esi tik slims. Man tewis ir ļoti schel.
  • 22
    Texto original, em língua letã: […] neschķihsts nedrihkst ee-eet.
  • 23
    A colônia deu início à primeira “escola” em janeiro de 1923, com uma sala de aula ao ar livre (RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.). Após a distribuição da terra entre os imigrantes, três escolas foram formadas, com organização e manutenção pela comunidade, em conjunto com a Igreja Batista de Varpa. Os professores eram imigrantes letões que atuavam como docentes em seu país. Em 1932, com o reconhecimento como escola pública, foram nomeadas três professoras brasileiras para lecionarem em Varpa (VILMANE, 2019VILMANE, Nora. Latvieši Brazīlijā Vārpas kolonija. Riga: Madris, 2019. 224 p.; RONIS, 1974RONIS, Osvaldo. Uma epopéia de fé: a história dos batistas letos no Brasil. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1974. 633 p.).
  • 24
    A respeito desses entrelaçamentos, cf. Bechi & Julia (1998BECCHI, Egle; JULIA, Dominique. Histoire de l'enfance en Occident - du XVIII siècle à nos jours, v. II. Paris: Seuil, 1998.), Fernandes, Lopes & Faria Filho (2007FERNANDES, Rogério; LOPES, Alberto; FARIA FILHO, Luciano Mendes de (Orgs.). Para a compreensão histórica da infância. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.), Freitas & Khumann Jr. (2002FREITAS, Marcos; KUHLMANN JR, Moysés (Orgs). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.), Gélis (1997GÉLIS, Jacques. A individualização da criança. In: ARIÈS, Philippe; CHARTIER, Roger (Orgs.). História da vida privada - da Renascença ao Século das Luzes. v 3. 6ª reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.) e Gondra (2010GONDRA, José Gonçalves. A emergência da Infância. Educação em Revista, v. 26, p. 195-214, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-46982010000100010.
    https://doi.org/10.1590/S0102-4698201000...
    ), por exemplo.
  • 25
    A respeito da teoria da apropriação, cf. Chartier (2020CHARTIER, Roger. História do livro e da leitura e a “verdade” na História. Revista Heterotópica, [S. l.], v. 2, n. 1, p. 40-50, 2020. DOI: 10.14393/HTP-v2n1-2020-55559. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/RevistaHeterotopica/article/view/55559 . Acesso em: 19 nov. 2022.
    https://seer.ufu.br/index.php/RevistaHet...
    ).
  • 26
    A respeito da imprensa batista no Rio de Janeiro, cf. Pereira (2016PEREIRA, Jonathan. “A primeira cousa que se deve ler depois das escripturas”: A dimensão pedagógica de o Jornal Baptista (1901-1905). Rio de Janeiro; Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado, 2016. Disponível em Disponível em http://www.proped.pro.br/# . Acesso em 19 de nov. de 2022.
    http://www.proped.pro.br/#...
    ).

Editado por

Editor responsável:

Eduardo Cristiano Hass da Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    12 Jul 2023
  • Aceito
    16 Nov 2023
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