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“Glória” e “concórdia” nas moedas do imperador Graciano (367-383 d.C.)

“Glory” and “concord” on the coins of Emperor Gratian (367-383 BC)

RESUMO

Em um momento de enfrentamentos dos exércitos romanos sob a liderança do imperador Graciano contra alamanos, godos, alanos e sármatas, este augusto mandou cunhar moedas que validavam seu poder de império e angariavam apoio de seus súditos. Neste artigo, atenho-me a analisar os discursos promovidos em três dessas moedas, pertencentes ao acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro (MHN-RJ), sob as identificações 163968, 163979 e 163987. Para analisar tais documentos, fotografei-os e criei quadros informativos para cada um deles. Por fim, a partir de exames próprios da numismática, de minhas leituras em bibliografia especializada e em outros documentos antigos, procedi à interpretação documental. Noto que os valores destacados nesses numerários, entre eles a “glória” e a “concórdia”, ressaltavam as habilidades de Graciano como militar e líder dos romanos e, assim, propagavam a opinião de que esse imperador era necessário à sua sociedade.

Palavras-chave
Imperador Graciano; moedas; glória; concórdia; virtudes

ABSTRACT

At a time of confrontation between the Roman armies under Emperor Gratian's leadership against the Alamanians, Goths, Alans, and Sarmatians, this august emperor ordered the minting of coins to validate his power in the Empire and gain support from his subjects. In this article, I analyze the speeches promoted in three of these coins, which belong to the collection of the National History Museum of Rio de Janeiro (MHN-RJ), identified as 163968, 163979 and 163987. To analyze such documents, I photographed them and created informative tables for each one of them. Finally, from examinations of numismatics, from my readings in specialized literature and other ancient documents, I proceeded with documentary interpretation. I have observed that the values emphasized in these coins, among them “glory” and “concord”, emphasized the abilities of Gratian as a military man and leader of the Romans, thus propagating the opinion that this emperor was necessary to his society.

Keywords
Emperor Gratian; coins; glory; concord; virtues

A imagem do imperador é um tema historiográfico frequente nas pesquisas brasileiras e internacionais. Fator certamente impulsionado pela variedade de biografias imperiais e outros documentos, escritos e provenientes da cultura material, que foram produzidos durante a Antiguidade para diferenciar os “bons governantes” dos “maus governantes”, e caracterizar aqueles como líderes legítimos. Minhas pesquisas estão inseridas nessa temática e observo que trato de um cenário de contestações do poder de império por possíveis usurpadores e por líderes de tribos estrangeiras. Um momento em que os imperadores romanos da IV centúria lideraram seus exércitos para combater os inimigos e elaboraram (ou mandaram elaborar) discursos que validavam seu poder e sua utilidade pública. Práticas comuns e adotadas por Graciano (367-383 d.C.) durante seu governo. Neste artigo, atenho-me a analisar os discursos promovidos em três moedas cunhadas sob este governo. Quais imagens de imperador estes documentos carregavam pelas terras romanas neste cenário de legitimação e de disputa de poderes? Noto que os valores destacados nesses numerários ressaltavam as habilidades de Graciano como militar e líder dos romanos e, assim, propagavam a opinião de que este imperador era necessário à sua sociedade.

De acordo com os escritos do senador vinculado às antigas tradições greco-romanas e orador Quinto Aurélio Símaco, desde tenra idade, Graciano havia atuado ao lado de seu pai, Valentiniano I, e de seu tio, Valente, para defender os romanos dos perigos impostos por tribos estrangeiras, normalmente, denominadas “bárbaras” pelo autor (SÍMACO, Laudatio in Gratianum Augustum, 10; 12 [1883SÍMACO EUSÉBIO, Quinto Aurélio. Relationes: Q. Aurelli Symmachi V.C. praefecti urbis relationes. In: SEECK, Otto. Q. Aurelii Symmachi quae supersunt. Berolini: APVP Weidmannos, 1883]). Tal afirmação foi proclamada publicamente pelo orador, em Tréveris, no ano de 369, logo após importantes vitórias romanas sobre os alamanos. As palavras escritas e anunciadas por Símaco, portanto, relembravam e louvavam as conquistas imperiais. Elas traziam para o ambiente da urbs as vitórias conseguidas nos campos de batalha. Essa era uma das maneiras do imperador ter seu poder valorado e sua utilidade pública sustentada.

Nesse mesmo documento, o autor afirmou que Graciano seria capaz de vencer os tiranos (SÍMACO, Laudatio in Gratianum Augustum, 7 [1883SÍMACO EUSÉBIO, Quinto Aurélio. Relationes: Q. Aurelli Symmachi V.C. praefecti urbis relationes. In: SEECK, Otto. Q. Aurelii Symmachi quae supersunt. Berolini: APVP Weidmannos, 1883]). Neste caso, Símaco lançou mão do termo “tirano” para nomear o “usurpador”, aquele que se apoderava de algo sem direito, conforme afirmação da historiadora espanhola María Victoria Escribano Paño (1990ESCRIBANO PAÑO, María Victoria. Usurpación y religión en el s. IV d. de C. Paganismo, cristianismo y legitimación política, cristianismo y aculturación em tempos del Imperio Romano. Antiguidade e Cristianismo, Murcia, n. VII, p. 247-272, 1990., p. 250). Certamente, a tentativa de usurpação de Procópio contra o imperador das terras romano-orientais, Valente, em 365, havia concretizado uma das ameaças constantes enfrentadas pelo poder de império e por seus apoiadores. Este era um perigo que certamente marcava a memória e as ações dos augustos Valentiniano I, Valente e Graciano, e do próprio senador.

Ainda no rol dos inimigos dos romanos apontados por Símaco, no ano de 376, o autor apontou Maximino como perseguidor dos senadores e causador de conflitos sociais sob o governo de Graciano (SÍMACO, Pro patre [1883SÍMACO EUSÉBIO, Quinto Aurélio. Relationes: Q. Aurelli Symmachi V.C. praefecti urbis relationes. In: SEECK, Otto. Q. Aurelii Symmachi quae supersunt. Berolini: APVP Weidmannos, 1883]). Tal personagem havia desempenhado as funções de prefeito de Roma (368-370) e prefeito das Gálias (371-376). Um administrador público considerado pelo orador como “criminoso” e “tirano”, pois Maximino “julgava que era um prejuízo para sua prefeitura que o poder imperial tivesse alguma faculdade” (Pro patre, 11 [1883]). Mais uma vez, Símaco ressaltou a ameaça a que o poder de império estava sujeito. E tal ameaça estava dento do próprio Império, vinha de um dos homens públicos escolhidos para auxiliar na administração de territórios romano-ocidentais.

“Bárbaros” e “tiranos”, portanto, foram os inimigos de Graciano apontados por Símaco entre 369 e 376. Já entre 378/380(?) e 383, AmbrósioAMBRÓSIO. De fide ad gratianum augustum. (Texto latino). Disponível em: http://www.documentacatholicaomnia.eu/02m/0339-0397,_Ambrosius,_De_Fide_Ad_Gratianum_Augustum_Libri_Quinque,_MLT.pdf. Acesso em: 15/01/2017.
http://www.documentacatholicaomnia.eu/02...
, bispo de Milão, registrou a ameaça goda imposta a Graciano e a vitória divina profetizada em favor do augusto (AMBRÓSIO, De fide AMBRÓSIO. De fide: Sobre la fe. Introducción, traducción y notas de Secundino García. Madrid: Editorial Ciudad Nueva, 2009., II, 16, 137-138). Novamente, os bárbaros, foram identificados como inimigos e deram corpo e rostos à ameaça estrangeira. Com Símaco, o destaque eram os alamanos. Com Ambrósio, os godos.

O historiador brasileiro Renan Frighetto afirma que os problemas com os godos já eram sentidos há muito tempo pelos romanos, mas os conflitos foram intensificados em 378, quando a união entre godos, alanos, sármatas da Trácia e outros grupos estrangeiros, promoveu a derrota de Valente e sua morte em batalha na cidade de Andrinopla (FRIGHETTO, 2012FRIGHETTO, Renan. A antiguidade tardia: Roma e as monarquias romano-bárbaras numa época de transformações (Séculos II - VIII). Curitiba: Juruá, 2012. 226 p., p. 125).

Graciano, então, deveria agir e organizar sua teoria política2 1 Entendo que teoria política é um conjunto de construções discursivas (leis, editos, sermões, tratados, imagens visuais, entre outras formulações) que rege a vida em sociedade e ampara a legitimidade de um governo. Entre os elementos associados à teoria política sugerida por Norbeto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, destaco a autoridade e a legalidade (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 88 e 675). contra essas ameaças, vencendo os enfrentamentos e punindo os culpados, como fez no caso de Maximino. Simultaneamente, ter essas empreitadas anotadas em discursos escritos, pronunciadas oralmente e propagadas também visualmente, em numerários espalhados por distintos territórios, corroborava as habilidades de Graciano como augusto e validava sua liderança e sua utilidade pública. As imagens provenientes desses discursos representavam a importância do comando de Graciano para o mundo dos romanos.

Noto que no latim o termo repraesentare significava “tornar presente” e hoje representar é um conceito que permeia as Ciências Humanas. O historiador francês Roger Chartier aborda a dualidade da representação que, por um lado, lembra algo ausente e, por outro, exibe uma presença (CHARTIER, 2002CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. 2. ed. Lisboa: Difusão Editorial, 2002. 244 p., p. 20). Sob este ponto de vista, uma vez que Graciano não podia estar presente em todas as terras que governava, considero que sua presença deveria ser sentida através de discursos (em palavras e imagens) que proclamavam a legitimidade de seu poder. Forjada discursivamente, essa presença sustentava as bases de apoio do augusto e afastava as possíveis ações usurpatórias. Mesmo que o imperador não estivesse lá, os discursos que o representavam traziam à memória dos súditos as habilidades do governante em sua missão de administrar o Império.

É nesse contexto de reforçar a utilidade da figura imperial, mesmo para aqueles que pouco ou nunca viam o imperador, que ressalto a importância das imagens divulgadas nas moedas de Graciano. As elaborações nelas gravadas corriam de mão em mão e valoravam as ações imperiais.

A glória de Graciano

Em 1975, o historiador espanhol José Manuel Roldán Hervás assegurou que a numismática era um caminho para os historiadores conhecerem as ideias políticas e as propagandas que circulavam na Antiguidade. Por isso, ele convidou-nos a refletir sobre os significados das moedas em um mundo no qual poucas pessoas tinham acesso à leitura (ROLDÁN HERVÁS, 1975ROLDÁN HERVÁS, José Manuel. Introducción a la Historia Antigua. Madrid: Ediciones Istmo, 1975. 295 p., p. 166). E o numismata italiano Salvatore Mirone já havia esclarecido que as figuras cunhadas nos reversos das moedas romanas eram cópias de estátuas ou representavam atitudes habituais ou símbolos repetidos ou, ainda, referiam-se à vida imperial, militar, civil e religiosa. Tal estratégia facilitava o reconhecimento da mensagem (MIRONE, 1930MIRONE, Salvatore. Numismática: nozioni di numismática greca, romana, bizantina, barbárica ed araba, italiana (medioevale e moderna) - medaglie. Milano: Ulrico Hoepli, 1930. 230 p., p. 179). Observo, portanto, que quando a letra não conseguia ser lida, a imagem visual cumpria o papel de difundir uma mensagem cuidadosamente elaborada e que não cedia espaço à leitura criativa, uma vez que estava baseada em elementos da vida cotidiana daquela sociedade. Organizada com atenção, essa mensagem era rapidamente interpretada e alimentava uma política considerada legítima. Política, esta, que por sua vez preservava o status quo daquela sociedade e o poder do governante vigente.

Em suas análises sobre moedas na Grécia antiga, a arqueóloga brasileira Maria Beatriz Borba Florenzano aborda três aspectos metodológicos da numismática com os quais costuma trabalhar:

São eles: os estudos sobre os sistemas ponderais, os estudos que apontam os contextos de achados das moedas levando-nos ao conhecimento da circulação monetária e os estudos sobre a iconografia, ou seja, sobre as imagens monetárias. (FLORENZANO, 2004FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. Moeda na Grécia Arcaica e Clássica - séculos VII a IV a.C.: arqueologia e mudança cultural. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 14, p. 67-83, 2004., p. 67).

Em meu trabalho, tenho as análises iconográficas como foco. A partir delas, observo as representações figuradas das moedas, estendendo meus estudos para os símbolos, para as legendas e as letras gravados nessas moedas.

FlorenzanoFLORENZANO, Maria Beatriz Borba (ed.); RIBEIRO, Angela Maria Gianeze; LO MONACO, Viviana. A coleção de moedas romanas da Universidade de São Paulo: Museu Paulista - Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP). São Paulo: MAE-USP, 2015. afirma que a partir de Augusto (31 a.C.-16 d.C.), a reponsabilidade de fazer moedas, que antes cabia a três magistrados, os triunviri monetales, passou a ficar a cargo do Senado e do próprio imperador (FLORENZANO et al., 2009FLORENZANO, Maria Beatriz Borba; VIANNA, Salvador Teixeira Werneck; CASTRO, Maurício Barros de. Faces da moeda. São Paulo: Editora Olhares, 2009. 179 p., p. 46-50). Especialmente a partir do final do século III d.C., os funcionários das cortes provinciais também assumiram essa prerrogativa devido ao aumento dos centros de cunhagens permanentes (HEESCH, 1993HEESCH, Johan Van. The las civic coinages and the religious policy of Maximinus Daza (AD 312). Numismatic Chronicle, n. 153, p. 65-76, 1993., p. 65). Portanto, as imagens dos numerários possuíam a intervenção direta do poder imperial ou eram geridas por uma elite vinculada a este poder. Nesta conjuntura, percebo que a escolha dos tipos monetários tinha como objetivo produzir um impacto positivo da imagem imperial sobre os súditos para que a ordem social vigente fosse mantida2 Janira Feliciano Pohlmann é Professora Doutora, Pós-doutoranda em História pela Universidade Federal do Paraná. Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná (2016). Mestra (2012), Bacharel e Licenciada (2009) em História também pela Universidade Federal do Paraná. Desde a graduação até o doutorado, foi bolsista de instituições de fomento à pesquisa no Brasil: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), durante a graduação; Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), no mestrado. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no doutorado. Realizou pesquisas de pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista, campus Franca (São Paulo). Neste período foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Entre 2013 e 2014, realizou estágio de pesquisa na Univesidad de Salamanca (Espanha). Entre 2018 e 2019, realizou estágios na Universidad de Zaragoza (Espanha) e na Università degli Studi di Perugia (Itália). Desenvolve suas pesquisas considerando as transformações, reelaborações e permanências ocorridas entre o século III e V no Ocidente romano, período que entende estar inserido no arco cronológico da Antiguidade Tardia. Atuou como professora de História (nível técnico) nos cursos da Escola Técnica da Pontifícia Universidade Católica de Curitiba. . Observo que a expansão territorial do Império e a necessidade de aumentar a cunhagem de moedas para o pagamento dos militares fez o número de oficinas monetárias crescer. Entretanto, por mais que cada oficina apresentasse seus próprios traços na execução dos códigos, a mensagem tinha o caráter universal e identificador requerido pelo imperador3 3 Quanto aos conceitos de “código” e de “mensagem”, sigo as argumentações do doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada José Teixeira Coelho Netto: “código [é] o esquema que permite a elaboração da mensagem e o ponto de referência a partir do qual é possível determinar o significado desta mensagem”. (NETTO, 1983, p. 19). .

Especialista em numismática antiga, a espanhola Carmen Herrero Albiñana menciona que, diferentemente do que ocorria nas moedas da época republicana, os tipos e legendas das moedas imperiais se referiam exclusivamente aos fatos do Império e aos acontecimentos vinculados à figura do imperador. Sendo assim, por possuir a efigie e o nome do governante, a moeda dessa época está sempre datada (HERRERO ALBIÑANA, 1994HERRERO ALBIÑANA, Carmen. Introducción a la numismática antigua (Grecia e Roma). Madrid: Editorial Complutense, 1994. 268 p., p. 21). Além disso, noto que, ao reproduzir os empreendimentos ou as virtudes imperiais, as mensagens ali organizadas ressaltavam a utilidade pública do governante.

Dentre as trinta e duas moedas de Graciano que compõem o acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro (MHN), neste artigo, destaco três numerários cunhados entre 367 e 383, período em que Graciano foi augusto. Suas localizações no acervo museológico são: 163968, 163979 e 163987. Advirto que, ao longo do meu texto, nomearei os numerários a partir de sua localização no acervo. Para analisar tais documentos, realizei uma visita técnica ao MHN-RJ, fotografei cada um dos numerários e preenchi os quadros informativos que eu havia elaborado. Posteriormente, interpretei as moedas com base em bibliografia especializada, em outros documentos antigos e em meus conhecimentos de historiadora.

O primeiro desses numerários ofereceu destaque à virtude da glória (Figura 1):

Figura 1.
Primeiro numerário analisado neste artigo.

Esta pequena peça de bronze carregava consigo, em palavras, símbolos e signos, uma mensagem que oferecia a Graciano valores virtuosos. Ele era Dominus noster (D N), ou seja, o senhor dos romanos. Tal título provém da autotitulação de Aureliano (270-275), que “se declarou senhor e deus (dominus et deus)” (FRIGHETTO, 2012FRIGHETTO, Renan. A antiguidade tardia: Roma e as monarquias romano-bárbaras numa época de transformações (Séculos II - VIII). Curitiba: Juruá, 2012. 226 p., p. 89).

A partir de Aureliano o princeps, o primeiro entre os senadores, passou a ser chamado de dominus. Muitos pesquisadores consideram que com esta mudança teve início o período imperial conhecido como Dominato. Na Antiguidade romana, dominus era o senhor da casa (domus). Este indivíduo era responsável pela proteção de todos os membros de sua casa e, também, proprietário de todos aqueles que ali viviam. A historiadora brasileira Andréia Tamanini ressalta o duplo sentido do termo domus na Antiguidade romana, que se refere ao local de habitação e, também, àqueles “ligados por parentesco (biológico ou não)” (TAMANINI, 2015TAMANINI, Andréia. Domus Liviae: família, gênero e identidade na gens imperial. Ágora: Estudos Clássicos em Debate, n. 17, p. 215-228, 2015., p. 215). Durante a Tetrarquia, a fórmula Dominus noster (D N) se fortaleceu e tornou-se comum a partir da dinastia constantiniana (HERRERO ALBIÑANA, 1994HERRERO ALBIÑANA, Carmen. Introducción a la numismática antigua (Grecia e Roma). Madrid: Editorial Complutense, 1994. 268 p., p. 246).

Portanto, o título dominus fazia do imperador o grande defensor dos romanos, o senhor da casa e benfeitor dos seus membros, ao mesmo tempo em que ampliava os laços de parentesco daquela sociedade. Esse título, ainda, reforçava as posições sociopolíticas do augusto e dos súditos imperiais. Dessa forma, tais estratégias criavam e propagavam uma identidade romana e geravam uma unidade ideal dentro de um Império múltiplo.

Aqui retomo Roger Chartier e sua noção de “representações sociais” como um modo de construir uma realidade social e que “embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses do grupo que as forjam”, por isso, não são discursos neutros (CHARTIER, 2002CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. 2. ed. Lisboa: Difusão Editorial, 2002. 244 p., p. 17).

Ao empregar no anverso de suas moedas a titulação dominus, Graciano se associava à tradição do Dominato e requeria dos romanos o reconhecimento de sua posição no topo da hierarquia daquela sociedade: ele seria o senhor de todos. Saliento que as mensagens divulgadas nos testemunhos monetários deveriam ser resumidas, devido ao pouco espaço disponível para sua elaboração, e muito claras para que fossem facilmente compreendidas pelo seu receptor. Logo, vincular-se a elementos tradicionais e enraizados na cultura romana era a estratégia ideal para o bom entendimento de uma mensagem.

Ao título dominus de Graciano, juntou-se a denominação “augusto” (AVG), expressão máxima do caráter divino do poder imperial. A filósofa e arqueóloga italiana Alessandra Bravi afirma que o poder imperial vinha recrutando para si uma dimensão sagrada desde o século I a.C., quando Augusto fez de César um deus e, associando-se ao defunto divinizado, esta característica, então, seria herdada pelo próprio Augusto. Segundo a autora, Augusto utilizou o título de Divus Iulius para afirmar seu poder (BRAVI, 2011BRAVI, Alessandra. Immaginario dell’apoteosi e politiche imperiali a Roma tra Cesare e i Flavi. In: ANDREU, Javier; ESPINOSA, David; PASTOR, Simone (coord.). Mors omnibus instat: aspectos arqueológicos, epigráficos y rituales de la muerte en el Occidente Romano. Madrid: Liceus, 2011. p. 143-158., p. 145). Frighetto observa que, entre o final do século II d.C. e início do século III d.C., a noção da divinização imperial ganhou força por meio dos vários discursos que a sustentavam (FRIGHETTO, 2008, p. 153FRIGHETTO, Renan. Imperium et orbis: conceitos e definições com base nas fontes tardo-antigas ocidentais (séculos IV-VII). In: DORÉ, Andréa; LIMA, Luis Filipe S.; SILVA, Luiz Geraldo (org.). Facetas do Império na História. São Paulo: Aderaldo & Rothschild; Brasília, DF: CAPES, 2008. p. 147-162.). Portanto, mais do que “senhor dos romanos”, Graciano era também esse governante atrelado a divindades que o fortaleciam e validavam sua atuação e liderança. Recordo que trato de um momento de contestações do poder de império por grupos estrangeiros e por personagens públicos integrantes da comunidade sociopolítica e militar romana. Elaborações discursivas que exaltavam a imagem de Graciano ajudavam a manter e a ampliar sua base de apoio e corroboravam sua atuação contra os inimigos e em favor do bem comum.

Esse senhor-divino (dominus e augustus), encarnado em Graciano, ainda requeria para si o encargo das virtudes da piedade e da felicidade, evocada pela abreviação P F (pius felix, ou seja, piedoso e feliz). De acordo com o historiador espanhol Manuel J. Rodríguez Gervás, a piedade (pietas) era a virtude responsável por agenciar a ligação entre os membros do Império romano (RODRÍGUEZ GERVÁS, 1991RODRÍGUEZ GERVÁS, Manuel J. Propaganda política y opinión pública en los panegíricos latinos del Bajo Imperio. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1991. 168 p., p. 79). Um governante piedoso, por sua vez, era o exemplo máximo dessa virtude essencial para a existência e manutenção dos vínculos humanos que formavam o Império. Impossível seria a existência de um Império sem sua gente!

Ainda de acordo com Gervás, felicidade, fortuna e paz eram as virtudes que contemplavam o aspecto militar dos imperadores, sendo a felicidade um sinal da ajuda dos deuses ao governante (RODRÍGUEZ GERVÁS, 1991RODRÍGUEZ GERVÁS, Manuel J. Propaganda política y opinión pública en los panegíricos latinos del Bajo Imperio. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1991. 168 p., p. 79). Noto, então, mais um aspecto do caráter sagrado do poder de Graciano: era augusto, ou seja, divino e, por isso, auxiliado pelos deuses, felix.

No anverso do numerário 163968, o universo militar, portanto, foi marcado pela virtude da felicidade e também pelo busto do imperador com capacete. Por isso, reforço a complementariedade entre a unidade linguística das legendas e da iconografia gravada na efígie. As pessoas que carregavam diariamente essas moedas recebiam uma mensagem formada por diferentes elementos e compreendiam-na por que as informações ali expressas eram constantemente reelaboradas, unindo tradição e novidades próprias do contexto.

O numismata Alain Jean Costilhes observa que “as inscrições ou legendas têm normalmente duas funções: identificar a autoridade emissora e levar uma mensagem que a autoridade queira transmitir” (COSTILHES, s/d, p. 50COSTILHES, Alain Jean. O que é numismática. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. 86 p. (Coleção Primeiros Passos)). Acrescento a esta afirmação que as imagens completavam essa mensagem que distinguia o imperador dos demais romanos e o definia como líder e protetor de seus súditos.

Nessa moeda de Graciano, a legenda pius felix, em conjunto com o busto do governante adornado com o capacete, destacavam a potência militar do augusto. Uma elaboração discursiva fundamental para se obter e preservar apoios em um contexto de conflitos frequentes. Através do anverso dessa moeda, Graciano simultaneamente se identificava perante os romanos como a autoridade emissora, ou consentidora da emissão, daquele numerário. Portanto, o imperador era o responsável pelos assuntos econômicos; um poderoso militar e senhor (dominus), capaz de defender seus súditos; e augusto, um ser quase divino e, por isso, amparado pelas divindades.

O reverso da moeda 163968 complementava esses atributos positivos edificados em torno do imperador. A legenda ressaltava a “glória dos romanos” (gloria romanorum), uma virtude que evocava o reconhecimento público das qualidades do elogiado (PEREIRA, s/d, p. 333PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de História da cultura clássica: Vol II: Cultura Romana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984 584 p.). Um reconhecimento, por sua vez, alcançado devido aos serviços prestados pelo augusto em favor dos assuntos públicos. Ao empregar suas habilidades em benefício dos romanos, o governante era glorificado e homenageado publicamente - como ocorria nas cerimônias de triunfo, em outros cerimoniais e em discursos que anunciavam as vitórias imperiais. Eram estas conquistas militares que nutriam a tradição da Eternidade Romana, sobre a qual trato nas páginas seguintes deste artigo.

No contexto de guerras com os alamanos na região do rio Reno, também foi a glória uma das virtudes escolhidas por Quinto Aurélio SímacoSÍMACO EUSÉBIO, Quinto Aurélio. Informes - Discursos. Introducciones, traducción y notas de Jose Antonio Valdés Gallego. Madrid: Editorial Gredos S.A., 2003. para louvar as vitórias (atuais e futuras) de Graciano sobre as tribos estrangeiras: “Quanta glória alcançarás quando no futuro, com teu pai incólume, conduzirás um exército, seja por onde queiras que conduzas és objeto de súplicas!” (SÍMACO, Laudatio in Gratianum Augustum, 12 [1883SÍMACO EUSÉBIO, Quinto Aurélio. Relationes: Q. Aurelli Symmachi V.C. praefecti urbis relationes. In: SEECK, Otto. Q. Aurelii Symmachi quae supersunt. Berolini: APVP Weidmannos, 1883]). Saliento que estas elaborações discursivas - moedas e laudações - caminhavam juntas na edificação de uma imagem imperial ideal e virtuosa. Recordo que a moeda 163968 era um instrumento de troca que pululava pelas terras romanas. Visto que ela era cunhada em bronze e possuía baixo valor monetário, atendia a um público amplo.

Esse numerário, bem como os outros dois tratados neste artigo, é um asse - identificado na numismática pela sigla AE. De a acordo com Mirone, essa moeda passou a ser emitida na época de Augusto e sobreviveu à reforma monetária de Diocleciano. Era a menor e a menos valiosa das moedas de bronze, pesando aproximadamente 12 gramas (MIRONE, 1930MIRONE, Salvatore. Numismática: nozioni di numismática greca, romana, bizantina, barbárica ed araba, italiana (medioevale e moderna) - medaglie. Milano: Ulrico Hoepli, 1930. 230 p., p. 177).

A respeito das moedas de bronze na Antiguidade, Herrero Albiñana alude que essas pequenas peças, antes depreciadas por especialistas, atualmente são tão analisadas quanto as de ouro e de prata. Além disso, os numismatas têm dirigido seus interesses para períodos até então pouco conhecidos, como o Baixo Império ou épocas mais antigas (HERRERO ALBIÑANA, 1994HERRERO ALBIÑANA, Carmen. Introducción a la numismática antigua (Grecia e Roma). Madrid: Editorial Complutense, 1994. 268 p., p. 65). Neste ínterim, meu artigo integra um quadro de estudos que ganhou muito espaço no último século.

Observo que a mensagem proposta na moeda 163968 era compartilhada enquanto o numerário passava de mão em mão. E como era uma peça muito pequena e de baixo valor, a moeda alcançava muitas mãos e a mensagem nela gravada podia ser identificada por um público variado e até mesmo iletrado. Por isso, esses numerários eram um eficiente meio de comunicação das virtudes imperiais.

A laudação de Símaco, por sua vez, havia sido lida publicamente em Tréveris, no ano de 369, na presença de Valentiniano I, de Graciano e de um conjunto de funcionários públicos e comandantes militares, ou seja, uma audiência vinculada aos imperadores e, possivelmente, letrada. Sendo assim, noto que mesmo sendo uma idealização, a noção de que Graciano era um imperador glorioso foi difundida em discursos de diferentes naturezas e aceita em grupos sociopolíticos diversos.

Conforme a tradição romana e os diferentes discursos redigidos e proclamados no século IV, portanto, glória e vitória estavam entrelaçadas. Afinal, o reconhecimento público que glorificava o imperador ocorria após suas vitórias. No reverso do numerário 163968, a própria deusa Vitória foi representada sentada no leme do navio para guiar Graciano. De acordo com o historiador brasileiro Carlos Augusto Machado, a proliferação das representações dessa divindade remonta à noção da “vitória eterna” a que os romanos estavam predestinados, uma tradição que ganhou força com Augusto e era bastante difundida no século IV (MACHADO, 1998MACHADO, Carlos Ribeiro Augusto. Imagens e ideologia nas cunhagens de Teodósio I. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 4, n.1, p. 59-68, 1998., p. 63).

Nesse numerário de Graciano, legenda e tipo foram articulados para construir a imagem de um governante habilidoso nas artes militares, guiado pela Vitória e, por isso, capaz de expandir os territórios romanos para além dos limites naturais impostos pelos rios, visto que o imperador e a deusa foram apresentados aos súditos sobre um barco. Uma elaboração discursiva que fazia desse augusto um líder propício para defender os romanos e dar continuidade à idealizada herança da dilatação do poder de império.

A segunda moeda examinada neste artigo também trouxe a glória em sua legenda do reverso (Figura 2). Todavia, esta virtude foi atrelada a outros tipos:

Figura 2.
Segundo numerário analisado neste artigo.

O anverso deste documento expunha a mesma legenda do numerário 163968. Entretanto, a este elemento linguístico se uniu o busto de Graciano com o diadema de pérolas como elemento iconográfico. Neste caso, o diadema, uma das insígnias imperiais, coroava o augusto, representado na moeda 163968 com um capacete que valorava seus atributos militares.

Renan Frighetto esclarece que ao se proclamar “senhor e deus”, Aureliano “foi o primeiro governante romano a cingir sobre sua cabeça o diadema, investido pela vontade divina” (FRIGHETTO, 2012FRIGHETTO, Renan. A antiguidade tardia: Roma e as monarquias romano-bárbaras numa época de transformações (Séculos II - VIII). Curitiba: Juruá, 2012. 226 p., p. 89). Na moeda aqui analisada, portanto, ao se fazer representar coroado com um diadema de pérolas, Graciano realçou sua vinculação à tradição de um poder de império divinizado. Retomo aqui a necessidade do governante de se conectar à tradição para que sua mensagem fosse reconhecida, propagada e seu poder corroborado. Tanto a legenda como o tipo monetário caracterizavam a essência divina de Graciano: um augusto (AVG) coroado com pérolas.

Desde Aureliano (270-275 d.C.), e especialmente a partir de Diocleciano (284-305 d.C.), esses elementos que conferiam o caráter sagrado do poder de império integravam discursos de naturezas diversas. No século IV d.C., o diadema complementava o manto púrpuro e o cetro no conjunto das insígnias imperiais. O antigo historiador Amiano Marcelino advertiu que Valentiniano I havia nomeado seu filho Graciano a augusto, não a césar, como fora costume na época de Diocleciano (AMIANO MARCELINOAMIANO MARCELINO. Historia: Edición de Maria Luisa Harto Trujillo. Madrid: Ediciones Akal, 2002., Res Gestae, 27, 6, 16). E, ainda mais, esclareceu que na ocasião dessa nomeação e da simultânea aclamação militar, Graciano “estava adornado com a coroa e com os signos da supremacia imperial” (AMIANO MARCELINOAMIANO MARCELINO. Res Gestae (in three books). Translation by John C. Rolfe. London: William Heinemmann; Cambridge, Massachusetts: Harvard University, 1935. (Texto latino acompanhado da tradução para o inglês)., Res Gestae, 27, 6, 16). Amiano provavelmente publicou seu livro sobre Graciano após a morte desse imperador, logo, observo a continuidade do discurso de sacralização do poder desse augusto.

Esse poder de império divinizado também foi reforçado com a virtude da glória, estampada na legenda do reverso da moeda 163987. Conforme esta construção discursiva, a noção de sacralidade e o reconhecimento público, através da glória, fortaleceriam o poderio de Graciano. Mas por que esse imperador era divino e merecia ser glorificado? Há mais um tipo no reverso desse numerário que responde a esta questão. Graciano foi representado com suas vestes militares e arrastando um cativo pelos cabelos. Neste caso, as vitórias imperiais não foram rememoradas através de uma deusa, mas, sim, por meio de uma ação do augusto: sua capacidade de dominar o inimigo. Carlos Augusto Machado afirma que normalmente esse tipo está associado à submissão do inimigo bárbaro, porém, em períodos marcados por tentativas de usurpação, o oponente representado poderia ser o usurpador (MACHADO, 1998MACHADO, Carlos Ribeiro Augusto. Imagens e ideologia nas cunhagens de Teodósio I. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 4, n.1, p. 59-68, 1998., p. 64). Uma vez que a data exata desse documento é desconhecida, é impossível identificar quem seria o inimigo ali concebido: Maximiano, alamanos, alanos, godos ou sármatas? Todavia, a mensagem era clara: Graciano era vitorioso, prodigioso na arte de fazer guerras, na defesa de seus territórios e de seus súditos e capaz de conquistar outras terras e outras gentes. Remeto, novamente, à idealização da “vitória eterna” articulada através de discursos de natureza escrita e material desde o governo de Augusto.

O arqueólogo alemão Paul Zanker salienta que, em tempos de conflitos, aquele que desejasse ascender ao poder deveria reivindicar para si a qualidade de salvador (ZANKER, 2005ZANKER, Paul. Augusto y el poder de las imágenes. Versión española de Pablo Diener Ojeda. 2ª reimpressão. Madrid: Alianza Editorial, 2005. 440 p., p. 67). Em um contexto de usurpações do poder de império, de magistrados considerados tiranos e de ameaças impostas por tribos estrangeiras, Graciano se apresentava como um salvador ao se fazer representar como garantidor da felicidade, glorioso e amparado pela deusa Vitória. Sendo assim, as moedas 163968 e 163987 integravam uma série de instrumentos de poder que valoravam a utilidade pública de Graciano e sua capacidade de resguardar o poder de império contra ameaças internas e externas.

A concórdia garantida por Graciano

O terceiro numerário analisado neste artigo proporcionava ainda outros elementos à legitimação do poder de império de Graciano (Figura 3):

Figura 3
Terceiro numerário analisado neste artigo.

O anverso deste documento trazia a mensagem articulada no anverso da moeda 163987. O foco, então, era o busto de Graciano coroado com pérolas, seus títulos de augusto e senhor dos romanos, sua piedade e capacidade de obter felicidade para seus súditos. Esta repetição dos elementos linguísticos e dos tipos monetários comprova que as mensagens articuladas nesses documentos deveriam ser simples e frequentemente repetidas para que fossem facilmente identificadas e propagadas.

No reverso da moeda 163979, a concórdia foi a virtude escolhida para contribuir na constituição dos valores positivos de Graciano. De acordo com Gervás, a concórdia “é uma virtude central da ideologia imperial, é o símbolo da unidade entre o governante e os cidadãos” (RODRÍGUEZ GERVÁS, 1991RODRÍGUEZ GERVÁS, Manuel J. Propaganda política y opinión pública en los panegíricos latinos del Bajo Imperio. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1991. 168 p., p. 79). Conforme indicação do numismata italiano Francesco Gnecchi, a legenda AVGGG (CONCORDIA AVGGG) referia-se à existência de três augustos, (GNECCHI, 1922GNECCHI, Francesco. Manuale elementare di numismática. 6. ed. Milano: Ulrico Hoepli, Editore Libraio della Real Casa, 1922. 232 p., p. 113). Graciano, portanto, compartilhava seu poder de império com outros dois governantes no momento em que a moeda 163979 foi cunhada. Neste caso, têm-se três opções de partilha deste poder: entre os anos 367 e 375, com Valentiniano I e Valente; de 375 a 378, com Valente e Valentiniano II; ou, ainda, entre 378 e 383, com Valentiniano II e Teodósio I. Embora não se tenha certeza da data em que o numerário 163979 foi impresso, o discurso numismático que esta moeda carregava exaltava a concórdia existente (sim, idealizada e desejada) em torno de Graciano. Essa elaboração criava uma unidade que emanava de Graciano e integrava a sociedade romana ao oferecer uma identidade comum aos súditos imperiais. Uma estratégia que reconhecia o poder de império de Graciano em uma época em que o augusto dividia tal poder. Através da concórdia, os laços entre Graciano e os cidadãos romanos eram representados no numerário. Por meio dessa mensagem, então, buscava-se cooptar para esse imperador um grupo de apoio e preservar a ordem social sob seu comando.

Mas não só os vínculos entre indivíduos romanos foram destacados nessa moeda. No anverso do documento, a cidade de Roma foi personificada sentada em um trono, portando um capacete, um globo e uma lança. Esta elaboração discursiva vinculava o augusto à divindade protetora da cidade e sugeria que essa deusa, militarmente poderosa - pois usava um capacete e uma lança - e governante do mundo - pois segurava o globo em suas mãos -, apoiava a concórdia organizada à volta de Graciano. Segundo o numismata espanhol Eladio Gutiérrez Casaos, o globo trazido pela deusa Roma, bem como encontrado no topo do labarum imperial, indicava que a cidade de Roma era o centro do mundo, portanto, o globo era um símbolo de dominação (GUTIÉRREZ CASAOS, 2008, p. 45GUTIÉRREZ CASAOS, Eladio. La moneda del Bajo Imperio Romano (desde la reforma de Diocleciano). Madrid: José A. Herrero, 2008. 900 p.).

O costume de associar a imagem de governantes aos deuses foi herdado dos gregos pelos romanos e amplamente difundido em época republicana. A proteção divina e a proximidade com as divindades foram aspectos importantes na disputa de poderes, na concepção de si e na representação que as personalidades edificavam para si no fim da República (ZANKER, 2005ZANKER, Paul. Augusto y el poder de las imágenes. Versión española de Pablo Diener Ojeda. 2ª reimpressão. Madrid: Alianza Editorial, 2005. 440 p., p. 66). Esta maneira de se identificar ganhou força durante o Império e foi reaproveitada como instrumento de fortalecimento de poderes.

O próprio Augusto assumiu-se como protegido de Apolo após a batalha do Ácio, em 31 a.C., vinculou-se à deusa Roma e, como já mencionado, ao Divus Iulius para validar seu poder. No processo de construção da dimensão sagrada de seu poder, Diocleciano ligou-se a Júpiter e fez de Maximiano (286-305 d.C.) Hércules. Constantino (306-337 d.C.) proclamou-se resguardado pelo Sol Invictus. No caso aqui estudado, Graciano vinculou-se à deusa Roma, uma divindade que remonta ao século II a.C. e que, junto com Vênus, ganhou um suntuoso templo erguido sob os governos de Adriano (117-138 d.C.) e Antonino Pio (138-161 d.C.).

A historiadora argentina Viviana Boch afirma que, na Eneida, Virgílio articulou a noção de que a cidade de Roma recebia proteção divina, por isso, seria eterna e estava destinada a dominar o mundo. Nesta conjuntura, “a Dea Roma e a Roma Aeterna, permaneceram vinculadas de maneira perene em uma mesma concepção” (BOCH, 2017BOCH, Viviana. A construção de um arquétipo: o caso de Vetio Agorio Pretextato. In: CARVALHO, Margarida Maria; FUNARI, Pedro Paulo Abreu; CARLAN, Cláudio Umpierre; PAPA, Helena Amália (org.). Religiões e religiosidade na Antiguidade Tardia. Curitiba: Editora Prismas, 2017. p. 69-89., p. 69-71). Graciano decidiu se aliar a esta divindade quando dividia o poder de império com outros dois augustos. Esta aliança divina o representava como responsável por preservar a eternidade desse Império. Conforme esta argumentação, embora Graciano fosse jovem, ele deveria ter seu lugar assegurado para que o Império mantivesse seu domínio sobre vastos territórios.

A deusa Roma encarnava a preocupação com os assuntos públicos. E que assunto público seria mais importante do que manutenção da concórdia entre o imperador e seus súditos em prol da Eternidade de Roma? Nesta elaboração discursiva, Graciano ganhou a aprovação da deusa para o desempenho de suas ações como um governante que mantinha a ordenação social e lutava em favor da preservação do poder de império, símbolo da Eternidade de Roma.

Nos numerários aqui analisados, noto que Graciano se apresentou aos seus súditos como um augusto glorioso, senhor dos romanos, amparado pela Vitória e por Roma e como um líder que respondia pela concórdia. E aqui saliento uma afirmação de Machado: “a análise destas imagens também permite questionar os limites da tão anunciada ‘vitória do cristianismo’” (MACHADO, 1998MACHADO, Carlos Ribeiro Augusto. Imagens e ideologia nas cunhagens de Teodósio I. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 4, n.1, p. 59-68, 1998., p. 65). Sim, Graciano, um governante apoiador do cristianismo niceno, que buscava amparo religioso no bispo niceno Ambrósio, vinculou-se às tradicionais deusas Vitória e Roma para promover sua legitimidade como imperador de territórios romano-ocidentais.

Observo, novamente, a importância de compreender as estratégias discursivas produzidas pelos numerários de Graciano sob a luz das representações, mais especificamente, das representações sociais. Esses testemunhos monetários espalhavam pelas terras romanas uma imagem necessária à manutenção do poder de império do augusto, lembrando até mesmo aos súditos que nunca tiveram a oportunidade de ver o imperador que este era um governante poderoso, vinculado a antigas tradições, protegido por divindades e defensor dos romanos. Simultaneamente, essas elaborações edificavam uma realidade social comum entre aqueles que manuseavam tais moedas e criavam uma identificação entre eles: todos viviam - e precisavam viver - sob o Império daquele senhor.

As moedas analisadas neste artigo são exemplares de bronze, portanto, de valor monetário reduzido quando comparado aos numerários de prata e de ouro. Paul Zanker afirma que diferentemente dos tempos atuais, repletos de impressões visuais, na Antiguidade romana as moedas constituíam algo extraordinário, pois difundiam diversas imagens novas e circulavam por todo o Império (ZANKER, 2005ZANKER, Paul. Augusto y el poder de las imágenes. Versión española de Pablo Diener Ojeda. 2ª reimpressão. Madrid: Alianza Editorial, 2005. 440 p., p. 80). Por isso, percebo que esses numerários de Graciano eram não só instrumentos monetários, mas, também, instrumentos políticos que atingiam um grupo mais amplo do que as moedas de metais nobres. Logo, a mensagem ali gravada alcançava um público quantitativamente importante.

As repetições e a frequente combinação entre as legendas e os tipos contribuíam para a compreensão dessas mensagens mesmo entre o público menos erudito. Recordo, ainda, que as palavras anunciadas por Símaco e por Ambrósio também reforçavam tais idealizações e os perigos enfrentados por Graciano em benefício dos romanos. Aponto, assim, a influência do contexto para o entendimento dessas ideias. Essas idealizações somente podem ser interpretadas quando se considera o momento de contestações do poder de império no qual foram erigidas. Sem este subsídio, a motivação de Graciano em impor sua utilidade pública se perderia. Evidentemente, existem limites para essas interpretações que devem estar calcadas, antes de tudo, no conhecimento sobre o período estudado.

Todo documento responde ao contexto em que foi elaborado e, quando Graciano enfrentava ameaças internas e externas, este imperador lançou mão de moedas que reproduziam por terras distantes a imagem de um augusto necessário aos seus súditos, afinal, era responsável por vitórias militares, pela Eternidade do Império e pela ordenação social, esta, angariada por meio da concórdia.

Considerações finais

Entre os anos 367 e 383, o poder de império de Graciano foi contestado por funcionários públicos, que não aceitavam se submeter a ele, e por líderes de tribos estrangeiras que desafiavam a liderança romana sobre as terras ocidentais. Nesta conjuntura, as ações imperiais, em conjunto com os discursos que as exaltavam, auxiliavam para que o poder de império fosse resguardado por um governante habilidoso.

Na vida prática, Graciano dividiu o poder de império com Valentiniano I, Valente, Valentiniano II e Teodósio I, e empreendeu batalhas contra tribos estrangeiras, dentre as quais destaco as alamanas, godas, alanas e sármatas. No campo teórico, esse governante mandou erigir discursos que rememorassem suas atividades e sustentassem sua utilidade pública como imperador dos romanos. Saliento que a prática alimentava as elaborações teóricas, ao passo que essas elaborações recrutavam apoios práticos às ações do augusto. Em uma via de mão dupla, então, prática e teoria se complementavam e sustentavam a legitimidade da figura imperial.

Neste artigo, explorei, especialmente, os discursos organizados em três moedas cunhadas sob o governo de Graciano, documentos pertencentes ao acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro (MHN) e que gentilmente foram colocados à minha disposição para pesquisa.

A partir dos casos analisados, constatei que durante seu governo, Graciano se fez representar como senhor dos romanos, comandante militar, glorioso, piedoso, fiador da felicidade e da concórdia, um ser sagrado e, por isso, augusto e amparado pelas deusas Vitória e Roma. Baseadas em elementos da tradição romana, estas elaborações discursivas eram facilmente interpretadas por aqueles que manuseavam os numerários. Uma estratégia que levava a presença de Graciano às mais distantes terras imperiais, recordavam aos súditos as habilidades do governante e buscavam manter e atrair apoios significativos para a validação do poder de império desse augusto.

Observo, também, que esses discursos numismáticos não eram singulares naquele contexto. O senador não-cristão Quinto Aurélio Símaco e o bispo cristão-niceno Ambrósio alertaram para os perigos vindos de dentro e de fora dos limites do Império e, como ocorria nas elaborações provenientes das moedas, estes autores louvaram as virtudes de Graciano utilizadas em benefício dos romanos. Por isso, reitero que as mensagens dos numerários 163968, 163979 e 163987 faziam parte de uma ampla rede de instrumentos teóricos que nutria a legitimação de Graciano ao construir uma imagem que representava este governante como ideal e necessário aos romanos.

Agradecimentos

Minhas pesquisas ganharam novo fôlego a partir de meu estágio pós-doutoral realizado durante três meses na Universidad de Zaragoza, sob a supervisão da Profª. Drª. María Victoria Escribano Paño. Agradeço a esta historiadora pela acolhida nessa instituição. Também agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela oportunidade de aprimorar meu trabalho e pelo financiamento de meus estudos de pós-doutorado no Brasil (processo 2016/20942-9), na Espanha (processo 2017/26939-2) e na Itália (processo 2018/03187-8).

Referências

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Sítios de numismática

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Notas

  • 1
    Entendo que teoria política é um conjunto de construções discursivas (leis, editos, sermões, tratados, imagens visuais, entre outras formulações) que rege a vida em sociedade e ampara a legitimidade de um governo. Entre os elementos associados à teoria política sugerida por Norbeto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, destaco a autoridade e a legalidade (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 88 e 675).
  • 2
    Na linguagem técnica da numismática a imagem impressa na moeda é denominada “tipo” (FLORENZANO, 2015, p. 21).
  • 3
    Quanto aos conceitos de “código” e de “mensagem”, sigo as argumentações do doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada José Teixeira Coelho Netto: “código [é] o esquema que permite a elaboração da mensagem e o ponto de referência a partir do qual é possível determinar o significado desta mensagem”. (NETTO, 1983, p. 19).
  • Declaração de financiamento

    Este artigo foi desenvolvido durante meu estágio pós-doutoral em História realizado na Universidade Estadual Paulista, campus de Franca, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), número do processo do Brasil 2016/20942-9, número do processo BEPE-Espanha 2017/26939-2, número do processo BEPE-Itália 2018/03187-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    16 Abr 2019
  • Aceito
    24 Abr 2020
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