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PANORAMA DE PESQUISAS SOBRE GÊNERO: UMA VISÃO DIACRÔNICA

Overview of Genre Research: A Diachronic View

Panorama de la investigación de género: una mirada diacrónica

Resumo

Investiga-se neste artigo como a categoria gênero é abordada em dissertações e teses da área de Linguística. O estudo fundamenta-se principalmente na sociorretórica (Bazerman, 2015; Bhatia, 1993; Miller, 2009; Swales, 1990), na teoria dialógica (Bakhtin, 2003; Bakhtin; Volochinov, 2009) e nos estudos textuais (Marcuschi, 2008; 2010). Trata-se de uma pesquisa de natureza quanti-qualitativa, baseada na análise documental de um corpus constituído por resumos e introduções das teses e dissertações de Linguística defendidas na Universidade Federal de Alagoas entre 1991 e 2017. A análise indica que os trabalhos investigados focam gêneros diversos, em distintas esferas discursivas, concentrando-se entre descrição do gênero e sua aplicação pedagógica; que são predominantemente filiados aos estudos textuais ou à linguística aplicada; e que Bakhtin e Marcuschi são dois consensos teóricos nas análises empreendidas.

Palavras-chave:
Esfera acadêmica; Pesquisa em linguística; Abordagens de gênero

Abstract

This article investigates how the genre category is approached in dissertations and theses in the area of ​​Linguistics. The study is mainly based on socio-rhetorical (Bazerman, 2015; Bhatia, 1993; Miller, 2009; Swales, 1990), dialogic theory (Bakhtin, 2003; Bakhtin; Volochinov, 2009) and textual studies (Marcuschi, 2008; 2010). This is quantitative-qualitative research, based on documentary analysis of a corpus consisting of abstracts and introductions of Linguistics theses and dissertations defended at the Federal University of Alagoas, Brazil, between 1991 and 2017. The analysis indicates that the works investigated focus on genres diverse, in different discursive spheres, focusing on the description of the genre and its pedagogical application; which are predominantly affiliated with textual studies or applied linguistics; and that Bakhtin and Marcuschi are two theoretical consensuses in the analyzes undertaken.

Keywords:
Academic Sphere; Research in Linguistics; Genre Approaches

Resumen

Este artículo investiga cómo se aborda la categoría de género en disertaciones y tesis del área de Lingüística. El estudio se basa principalmente en la sociorretórica (Bazerman, 2015; Bhatia, 1993; Miller, 2009; Swales, 1990), la teoría dialógica (Bajtín, 2003; Bajtín; Volóshinov, 2009) y estudios textuales (Marcuschi, 2008; 2010). Se trata de una investigación cuantitativa-cualitativa, basada en el análisis documental de un corpus compuesto por resúmenes e introducciones de tesis y disertaciones en Lingüística defendidas en la Universidad Federal de Alagoas, Brasil, entre 1991 y 2017. El análisis indica que los trabajos investigados se centran en géneros diversos, en diferentes ámbitos discursivos, centrados en la descripción del género y su aplicación pedagógica; que están predominantemente afiliados a estudios textuales o lingüística aplicada; y que Bajtín y Marcuschi son dos consensos teóricos en los análisis realizados.

Palabras clave:
Ámbito académico; Investigación en lingüística; Enfoques de género

1 INTRODUÇÃO

As primeiras pesquisas sobre gêneros floresceram no Brasil no último quartel do século XX. De lá para cá, esses estudos avançaram progressiva e significativamente, de modo que, hoje em dia, gênero tornou-se um construto relativamente conhecido, pois saiu da academia e adentrou as escolas de educação básica (Nunes, 2020NUNES, V. S. Gênero textual na esfera jornalística. São Paulo: Pá de Palavra, 2020.). Essa popularização do conceito (ou dos conceitos) de gênero pode indicar, por um lado, que a ciência da linguagem tem extrapolado os muros das universidades, o que é positivo; mas, por outro lado, há o risco de cair no equívoco de simplificação do conceito, pois a noção de gênero é bastante complexa e, muitas vezes, circula sem os devidos fundamentos epistemológicos (Nunes, 2017a).

Nesse sentido, o presente artigo - que resulta de uma pesquisa de pós-doutoramento - visa a discutir a circulação da noção de gênero em teses e dissertações, da área da Linguística, defendidas no Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura (PPGLL)1 1 Conforme denominação anterior, Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística. da Faculdade de Letras (FALE) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) no período compreendido entre 1991-2017. A partir desse objetivo mais amplo, o estudo buscou: (a) identificar os gêneros estudados por mestrandos e doutorandos e as esferas discursivas a que esses construtos genéricos se vinculam; (b) identificar o enfoque dado aos gêneros, enquanto objeto de investigação; (c) examinar as perspectivas teórico-metodológicas adotadas ou postas em diálogo em cada um dos trabalhos acadêmicos analisados; e (d) verificar que produções acadêmicas que discutem gêneros são citadas com maior frequência nesses estudos.

A bem da verdade, no âmbito da pesquisa linguística brasileira já há disponível não só um elevado número de publicações científicas que abordam gêneros, como também diversos eventos científicos se têm consolidado como disseminadores da pesquisa nessa área. Dentro desse campo de investigação, diversos autores se propuseram a investigar de que maneira as teorias de gêneros estavam sendo abordadas; disso resultou uma série de publicações que constroem cartografias de gêneros, quer no Brasil, quer no exterior. Entre outros, destacam-se os trabalhos de Hyon (1996HYON, S. Genre in Three Traditions: Implications for ESL. TESOL Quarterly, v. 30, n. 4, p. 693-722, 1996.) e Bawarshi e Reiff (2013BAWARSHI, A. S.; REIFF, M. J. Gênero: história, teoria, pesquisa, ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2013.) no plano internacional e de Marcuschi (2008MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.), Meurer, Bonini e Motta-Roth (2005MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (org.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.), Araújo (2009ARAÚJO, A. D. Mapping Genre Research in Brazil: An Exploratory Study. In: BAZERMAN, C. et al. (org.). Traditions of Writing Research. New York, USA: Routledge, 2009. p. 44-57.) e Nunes (2017NUNES, V. S. Análise de gênero no mundo do trabalho: os usos do memorando nas práticas profissionais do Instituto Federal de Pernambuco/Campus Recife nos séculos XX e XXI. 2017. 305 f. Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2017b.b) no plano nacional.

Todos esses trabalhos têm o mérito de mapear teorias de gêneros em diferentes contextos. Contudo, em nenhum deles há menção às pesquisas sobre gêneros realizadas no Programa em debate. Com efeito, o estado de Alagoas tem apenas um programa de pós-graduação stricto sensu em Letras/Linguística, com uma considerável produção acadêmica, visto que funciona desde 1989, vinculado à maior universidade pública do estado - a UFAL. Em sendo assim, verificou-se uma lacuna que reclamava um estudo epistemológico acerca da evolução das pesquisas sobre gêneros no estado de Alagoas, de modo que elas pudessem alcançar uma projeção no cenário nacional. A carência de um estudo especializado sobre o mapeamento das teorias de gêneros no âmbito desse Programa, no período compreendido entre 1991-2017, a partir de dissertações e teses defendidas nesse Programa, por si só justifica a presente investigação.

Os pressupostos teóricos do trabalho assentam-se preponderantemente na Sociorretórica (Bazerman, 2015BAZERMAN, C. Retórica da ação letrada. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.; Bhatia, 1993BHATIA, V. K. Analysing Genre: Language Use in Professional Settings. London: Longman, 1993.; Miller, 2009MILLER, C. R. Gênero como ação social. In: MILLER, C. Estudos sobre gênero textual, agência e tecnologia. Recife: EDUFPE, 2009. p. 21-44.; Swales, 1990SWALES, J. M. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.); na teoria dialógica (Bakhtin, 2003BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306.; Bakhtin; Volochinov, 2009); e na Linguística Textual (Marcuschi, 2008MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.; 2010). Do ponto de vista metodológico, trata-se de um estudo de natureza quanti-qualitativa, baseado na análise de um corpus constituído principalmente por resumos e introduções das teses e dissertações supracitadas; portanto, usa como técnica de investigação a análise documental (Chizzotti, 2014; Lüdke; André, 2015LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2. ed. Rio de Janeiro: E.P.U., 2015.; Triviños, 2015TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2015.).

Quanto à organização retórica, este artigo encontra-se dividido em mais quatro seções. A segunda seção aborda os fundamentos teóricos do trabalho, discutindo alguns conceitos de gênero e sua base epistemológica, bem como algumas cartografias de gênero que nos serviram de referência; a terceira detalha o aporte metodológico da pesquisa; a quarta descreve, analisa e discute os dados coletados; e a quinta tece algumas considerações finais sobre os achados da pesquisa.

2 GÊNERO: CONCEITOS E EPISTEMOLOGIAS

Um desafio que se impõe hoje aos pesquisadores que se dedicam ao estudo dos gêneros é compreender, de antemão, que se trata de uma categoria complexa - assim como as noções de língua, texto e discurso -, visto que não existe um conceito unificado de gênero na literatura linguística. Nesse sentido, é preciso cautela para entender que cada um desses conceitos surgiu em conjunturas diversas, para públicos distintos, com finalidades específicas e fundamentado em pressupostos teóricos diferentes.

Uma das abordagens de gênero difundidas no Brasil é a chamada Sociorretórica, tomada aqui como uma macroteoria que estabelece um diálogo entre os pressupostos dos Estudos Retóricos de Gêneros (ERG) com a perspectiva do Inglês para Fins Específicos (ESP). De fato, há uma aproximação produtiva dos conceitos de cada uma dessas tendências; todavia, não podemos esquecer que cada uma tem suas particularidades.

Por um lado, na perspectiva dos ERG, “uma definição retoricamente válida de gênero precisa ser centrada não na substância ou na forma de discurso, mas na ação que é usada para sua realização” (Miller, 2009MILLER, C. R. Gênero como ação social. In: MILLER, C. Estudos sobre gênero textual, agência e tecnologia. Recife: EDUFPE, 2009. p. 21-44., p. 22); daí dizer-se que a noção de gênero implica entender os contextos que dão origem aos gêneros, entendidos como ação social motivada por situações retóricas tipificadas e recorrentes. Nessa mesma direção, Bazerman (2015BAZERMAN, C. Retórica da ação letrada. São Paulo: Parábola Editorial, 2015., p. 35) afirma que os gêneros “são modos de fazer coisas - e como tais corporificam o que se deve fazer, trazendo marcas do tempo e lugar no qual se realizam tais coisas, bem como os motivos e ações realizados nesses lugares”. Sob esse prisma, os gêneros são tomados dentro de sistemas de atividades, como um complexo emaranhado, e muitas vezes são regulados por metagêneros (Giltrow, 2002GILTROW, J. Meta-genre. In: COE, R.; LORELEI, L.; TESLENKO, T. (org.). The Rhetoric and Ideology of Genre: Strategies for Stability and Change. Creskill, New Jersey, USA: Hampson Press, 2002. p. 187-205.; Nunes; Silveira, 2018NUNES, V. S.; SILVEIRA, M. I. M. O papel dos metagêneros na construção do gênero: um fator de estabilidade genérica? Calidoscópio, São Leopoldo, v. 16, n. 2, p. 303-314, maio/ago. 2018.).

Os estudos de gênero do ESP, por outro lado, nasceram do interesse pelo ensino instrumental de línguas para estudantes de pós-graduação falantes não nativos de inglês. Sua preocupação com os aspectos textuais do gênero - essencialmente o propósito comunicativo e sua organização retórica - é visível; por essa razão, um gênero é compreendido como “uma classe de eventos comunicativos, cujos exemplares compartilham os mesmos propósitos comunicativos”, em que “o propósito comunicativo é o critério que é privilegiado” (Swales, 1990SWALES, J. M. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., p. 58). Sob esse olhar, de fato, o gênero é “um evento comunicativo socioculturalmente dependente e é julgado eficaz na medida em que pode garantir o sucesso pragmático no negócio ou em outro contexto profissional em que é usado” (Bhatia, 1993BHATIA, V. K. Analysing Genre: Language Use in Professional Settings. London: Longman, 1993., p. 39). Em síntese, vemos que a própria Sociorretórica apresenta mais de um conceito de gênero, embora eles não se excluam nem se contradigam.

A Abordagem Dialógica, corrente de estudos de gêneros que toma como referencial as ideias de Bakhtin e seu “Círculo”, fundamenta-se numa visão de língua como prática discursiva, tomando-a como “um processo de evolução ininterrupto, que se realiza através da interação verbal social dos locutores” (Bakhtin; Volochinov, 2009, p. 131-132, itálico no original), em cujo âmago subjaz o dialogismo, que dá vida à língua, uma vez que “a orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo o discurso” (Bakhtin, 2014, p. 88). Dessa maneira, os gêneros são “tipos relativamente estáveis de enunciados” (Bakhtin, 2003, p. 262), situados dentro de esferas discursivas, que possibilitam as interações humanas, numa intricada relação entre o que foi dito com o que ainda se vai dizer, já que, segundo Bakhtin (2003, p. 300), “o falante não é um Adão bíblico, só relacionado com objetos virgens ainda não nomeados, aos quais dá nome pela primeira vez”. As esferas discursivas, por sua vez, relacionam-se a “todos os diversos campos da atividade humana” (Bakhtin, 2003, p. 261), a exemplo da academia. Essa abordagem teórica toma os gêneros em sua acepção sócio-histórica e ideológica, num contínuo jogo de forças entre a conservação e a dispersão.

No contexto franco-suíço, emerge o Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), fruto do interacionismo social enquanto posição epistemológica, cujas bases assentam-se na filosofia bakhtiniana e na psicologia social de Vygotsky. Sob essa visão, os gêneros são “espécies de textos, que apresentam características relativamente estáveis [...] e que ficam disponíveis no intertexto como modelos indexados, para os contemporâneos e para as gerações posteriores” (Bronckart, 1999BRONCKART, J. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sociodiscursivo. São Paulo: EDUC, 1999., p. 137, itálico no original); além disso, o gênero constitui-se como “um instrumento semiótico complexo, isto é, uma forma de linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a compreensão de textos” (Schneuwly, 2004SCHNEUWLY, B. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 19-34., p. 24); noutros termos, o gênero é um instrumento que medeia as relações entre o sujeito e a situação. Cumpre ressaltar, ainda, que o ISD tem larga influência na pedagogia brasileira de gêneros, já que se debruça sobre a transposição didática dos construtos genéricos, tal como evidencia a noção de sequência didática (Dolz; Noverraz; Schneuwly, 2004DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 81-108.) e, mais recentemente, a de itinerário didático (Barros; Ohuschi; Dolz, 2020BARROS, E. M. D.; OHUSCHI, M. C. G; DOLZ, J. Itinerários didáticos: um novo caminho para sequenciar atividades de leitura e de produção a partir de gêneros textuais. Na Ponta do Lápis, São Paulo, 2020, vol. 16, n. 36, p. 10-19.).

A Linguística Textual - também conhecida como abordagem sociocognitivista - tem como representantes mais notáveis no Brasil Marcuschi (2008MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.; 2010) e Koch (2009KOCH, I. G. V. Os gêneros do discurso. In: KOCH, I. G. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. p. 159-168.). Sabemos que o objeto central de pesquisa da Linguística de Texto é o próprio texto; não obstante, sustentamos o ponto de vista de que não há texto sem gênero, visto que se constituem em realidades imbricadas. Diante disso, essa corrente teórica também lança um olhar para os gêneros “particularmente no que diz respeito às práticas sociais que os determinam, a sua localização no continuum fala/escrita, às opções estilísticas que lhes são próprias e à construção composicional, em termos macro e microestruturais” (Koch, 2009, p. 167-168). É com Marcuschi (2010) que a noção de gênero ganha um contorno avivado, posto que este autor traduz obras de autores pouco conhecidos no Brasil e torna o conceito mais acessível, dando-lhe uma feição peculiar, ao cotejar conceitos como gênero textual, tipo textual, domínio discursivo, suporte, dentre outros. Contudo, sublinhamos que “seria muito restritivo inserir o legado de Luiz Antônio Marcuschi apenas na abordagem sociocognitivista, porque hoje ele é tratado praticamente como um consenso teórico nos estudos brasileiros de gêneros” (Nunes, 2017NUNES, V. S. Análise de gênero no mundo do trabalho: os usos do memorando nas práticas profissionais do Instituto Federal de Pernambuco/Campus Recife nos séculos XX e XXI. 2017. 305 f. Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2017b.b, p. 60).

Para este artigo, julgamos os conceitos acima suficientes, pois foram os mais recorrentes nos dados analisados. Entretanto, enfatizamos que há outras correntes consolidadas dos estudos de gêneros que não são mencionadas no corpus, a exemplo da perspectiva sistêmico-funcional (Martin; Rose, 2008MARTIN, J. R.; ROSE, D. Genre Relations: Mapping Culture. London: Equinox, 2008.) e da análise crítica de gêneros (Motta-Roth, 2008), ou que apareceram em baixa recorrência, tal como o paradigma das tradições discursivas (Kabatek, 2005KABATEK, J. Tradiciones discursivas y cambio lingüístico. Lexis: Revista de Lingüística y Literatura, v. 29, n. 2, p. 151-177, 2005.), que é citado em somente uma tese. Em suma, chama atenção o fato de todas essas teorias, a despeito de suas particularidades, manterem traços comuns, tais como a noção de língua como prática social, a visão de sujeito ativo e a ideia de gênero relacionado às situações de interação.

3 APORTE METODOLÓGICO

A análise de dissertações e teses defendidas no Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura da UFAL2 2 Como o Programa tem 2 (duas) áreas de concentração, excluíram-se, nesta pesquisa, todas as dissertações e teses relativas à área de Literatura, pois não constituem escopo da investigação. serviu de base para a construção do corpus. O chronos da pesquisa (1991-2017) justifica-se em razão de a primeira dissertação de mestrado ter sido defendida em 1991 (o Programa iniciou-se em 1989), momento que coincide com os primeiros estudos sobre gênero no Brasil, uma vez que eles se iniciam na década de 1980 e consolidam-se a partir dos anos 1990. A data tomada como limite para a delimitação do chronos explica-se por ser o ano em que este pesquisador defendeu sua tese de doutoramento no referido Programa, encerrando um ciclo como estudante de pós-graduação.

Para a seleção do corpus, foram utilizados como apoio 5 (cinco) suportes que se complementam: (a) as dissertações de mestrado e as teses de doutorado impressas disponíveis no Programa; (b) as dissertações e as teses digitais disponíveis no Repositório Institucional da Universidade Federal de Alagoas (RIUFAL)3 3 Disponível em: http://www.repositorio.ufal.br/. Acesso em: 3 nov. 2023. ; (c) o livro Pós-graduação em Letras e Linguística: 20 anos na formação de mestres e doutores, organizado por Moura (2009MOURA, M. D. Pós-Graduação em Letras e Linguística: 20 anos na formação de mestres e doutores. Maceió: Edufal, 2009.), que faz uma cronologia de todas as dissertações e teses defendidas no Programa, desde seu funcionamento até o ano de 2009; (d) os números 43 e 44 da revista Leitura (2009)4 4 Disponível em: http://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/index. Acesso em: 3 nov. 2023. , que trazem dados relevantes, por ser uma edição comemorativa dos 20 anos do PPGLL; (e) e os livros de atas de defesa de dissertações e teses disponibilizados pela secretaria do Programa.

Para atingir os objetivos da pesquisa, recortamos das dissertações e teses somente algumas partes: (a) o título do trabalho; (b) o resumo em português; (c) as palavras-chave; (d) a introdução (quando necessária à complementação das informações constantes do resumo); e (e) as referências bibliográficas (raramente recorremos ao texto dos capítulos para confirmar alguma informação específica).

O estudo configura-se como quanti-qualitativo. Investigações de natureza qualitativa são aquelas que “usando, ou não, quantificações, pretendem interpretar o sentido do evento a partir do significado que as pessoas atribuem ao que falam e fazem” (Chizzotti, 2014, p. 28). Ratifica-se, ainda, a visão de que uma dicotomia entre qualitativo e quantitativo “não tem razão de existir” (Triviños, 2015TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2015., p. 117), uma vez que “toda pesquisa pode ser, ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa” (Triviños, 2015, p. 118).

A técnica de investigação é a análise documental, entendida como um “tipo de estudo descritivo que fornece ao investigador a possibilidade de reunir uma grande quantidade de informação” (Triviños, 2015TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2015., p. 111), cujo propósito é “fazer inferência sobre os valores, os sentimentos, as intenções e a ideologia das fontes ou dos autores dos documentos” (Lüdke; André, 2015LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2. ed. Rio de Janeiro: E.P.U., 2015., p. 47). Nesse sentido, entende-se por documento qualquer material que, aos olhos do pesquisador, possa servir de fonte de informação, tais como as dissertações e as teses constitutivas do corpus. De fato, os documentos “não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto” (Lüdke; André, 2015, p. 45). Isso posto, adotamos os seguintes procedimentos: (a) identificação dos gêneros estudados e das esferas correspondentes; (b) análise do(s) enfoque(s) dado(s) aos gêneros; (c) análise da(s) perspectiva(s) teórico-metodológica(s) sobre gênero; e (d) identificação das obras sobre gêneros que são citadas com maior frequência.

Chegamos, desse modo, à construção das categorias de análise, que se consubstanciarão na apresentação dos resultados a seguir. Para a apresentação dos dados do corpus, ao longo da seção de resultados, valemo-nos de códigos alfanuméricos, em que D (= Dissertação) e T (= Tese) referenciarão o corpus utilizado, obedecendo à sequência cronológica das defesas desses trabalhos acadêmicos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Olhando em perspectiva, a pesquisa sobre gênero no PPGLL/FALE/UFAL foi introduzida um tanto tardiamente. Enquanto no panorama mundial e nacional os estudos de gênero floresceram nos anos 1980 e consolidaram-se nos anos 1990, as primeiras dissertações e teses sobre esse tema na UFAL remontam à virada do século XX para o século XXI. Contudo, é importante esclarecer que esse Programa surgiu somente em 1989, especialmente com o curso de Mestrado em Letras - fundado pela saudosa professora Maria Denilda Moura -, tendo suas primeiras defesas de dissertação realizadas em 1991. O curso de Doutorado em Letras, por sua vez, foi criado em 1991 e iniciou suas aulas em 1995; a primeira defesa de tese ocorreu apenas em 1998. Até hoje, o Programa é o único de pós-graduação stricto sensu em Letras (Linguística/Literatura) do estado de Alagoas - daí sua relevância. O levantamento de dados revelou que, entre 1991-2017, foram defendidas 311 (trezentas e onze) dissertações e teses, na área de Linguística. Vejamos a tabela 1:

Tabela 1
Teses e dissertações em Linguística (1991-2017)

As informações contidas na Tabela 1 envolvem todas as linhas de pesquisa contempladas pela área de Linguística do Programa, ao longo de seus 30 (trinta) anos de existência. Com efeito, este Programa consolidou-se com foco em alguns campos de pesquisa específicos e organiza-se em 3 (três) linhas de pesquisa5 5 Mais recentemente, a linha Linguística Aplicada e Processos Textual-Enunciativos subdividiu-se em duas, como a própria denominação já sugeria. Atualmente, portanto, o Programa conta com 4 linhas de pesquisa na área de Linguística, conforme se pode verificar no seu portal virtual. Disponível em: https://fale.ufal.br/ppgll/. Acesso em: 3 nov. 2023. : (a) Discurso: Sujeito, História e Ideologia (com ênfase na Análise de Discurso Francesa de orientação pecheutiana); (b) Teoria e Análise Linguística (cujo foco recai especialmente sobre estudos fundados no formalismo saussuriano, no gerativismo chomskyano e na sociolinguística quantitativa); e (c) Linguística Aplicada e Processos Textual-Enunciativos (com destaque para a pesquisa sobre ensino e aprendizagem de línguas, especialmente filiados aos estudos bakhtinianos; genética textual; linguística textual; e estudos retóricos da linguagem). A pesquisa aqui relatada agrega-se, portanto, a essa última linha, que também se interessa por gênero.

Esta seção organiza-se em quatro subseções: (a) a primeira descreve os gêneros estudados em teses e dissertações, situando-os em suas respectivas esferas discursivas; (b) a segunda subseção explicita os principais enfoques dados aos gêneros pelos pesquisadores; (c) a terceira apresenta as principais perspectivas teóricas adotadas nos trabalhos investigados; (d) e a quarta subseção mostra quais as principais obras referidas nas teses e dissertações investigadas.

4.1 GÊNEROS E SUAS RESPECTIVAS ESFERAS DISCURSIVAS

É importante elucidar que, das 311 (trezentas e onze) dissertações e teses defendidas (1991-2017), apenas 31 (trinta e uma) mencionam o conceito de gênero, conforme revelaram seus resumos e introduções. Diante dessa constatação, afirmamos que o corpus da pesquisa é formado exclusivamente por essas 31 (trinta e uma) produções acadêmicas, o que equivale a aproximadamente 10% (dez por cento) do total geral informado.

Tabela 2
Teses e dissertações que abordam o conceito de gênero

Ademais, a pesquisa revelou que, embora haja defesas de trabalhos acadêmicos em Linguística no Programa desde 1991, o conceito de gênero começa a aparecer apenas a partir de 1998, na dissertação de mestrado intitulada Texto e ensino: uma análise em relatório de alunos do 2º grau, de Zoélia da Silva Pinto Moreira, orientada pela professora Irandé Antunes. Por outro lado, a primeira tese de doutorado que faz menção à noção de gênero denomina-se Letramento: as marcas da oralidade nas produções escritas dos alunos jovens e adultos, de Marinaide Lima de Queiroz Freitas, orientada pela professora Maria Francisca Oliveira Santos, de cuja banca de defesa participara o saudoso professor Luiz Antônio Marcuschi, em 1998. Curiosamente, o ano de defesa da primeira dissertação que trata de gênero coincide com o da primeira tese que aborda o conceito de gênero: 1998. Isso indica que as discussões sobre esse construto estavam em efervescência no fim daquela década, chegando também ao Programa em tela.

Contudo, verificamos que no período de 1991-1997 não foi localizada nenhuma dissertação que abordasse o conceito de gênero; já no período de 1998-2001 não foi encontrada nenhuma tese que discutisse gênero. Dessa forma, a análise do corpus revelou que as pesquisas de mestrado estudaram os gêneros da tabela 3, a seguir.

Inicialmente, convém afirmar que cada uma das dissertações foco da pesquisa debruçou-se sobre um gênero específico; todavia, algumas delas - marcadas com (*) na Tabela 3 - abordam mais de um artefato genérico. Trata-se, na verdade, de duas pesquisas que se concentram em “gêneros acadêmicos”: a primeira (D13) contempla resumo, diário e análises textuais; a segunda (D18) leva em consideração o relato, a carta ao editor, o resumo e a resenha, conforme ilustram os fragmentos abaixo:

[1] “[A] coleta de dados adota como instrumentos de análise (...) produções escritas dos alunos: diários, resumos e análises textuais” (D13, p. 6, negritos nossos)

[2] “Nesse período, foram produzidos 59 textos (...) em 6 gêneros discursivos (relato pessoal, relato de entrevista, carta ao editor, resumo e resenha)” (D18, p. 74, negritos nossos)

Tabela 3
Gêneros estudados em dissertações de mestrado

Quanto a dissertações que analisam apenas um gênero, foi mais fácil localizá-lo, pois muitas vezes estava explicitado até mesmo no título do trabalho, conforme se pode ver a seguir, no que se refere especificamente aos gêneros relatório, defesa pública, fôlder turístico, carta do leitor e debate, em que as passagens enfatizadas foram negritadas por nós:

[3] “Texto e ensino: uma análise em relatório de alunos do 2º grau” (D01)

[4] “Uma análise retórica do gênero defesa pública” (D03)

[5] “Análise sociorretórica do gênero fôlder turístico” (D05)

[6] “O gênero carta do leitor no Jornal do Commercio de Pernambuco: uma abordagem sociorretórica” (D07)

[7] “Uma abordagem retórica do gênero debate em sala de aula” (D16)

Evidentemente, esses diferentes gêneros organizam práticas discursivas diversas na vida social e respondem a necessidades comunicativas distintas; por essa razão, podem estar inseridos em diferentes esferas discursivas. Nesse prisma, é fato que a esfera predominante nas dissertações analisadas é a escolar; no entanto, em maior ou menor proporção, outras instâncias da vida social são objeto de estudo (cf. tabela 4).

Chama atenção o fato de a maior parte das dissertações focalizarem gêneros das esferas escolar e acadêmica. Nesta categorização, estamos entendendo esfera escolar como as instâncias de Educação Básica e esfera acadêmica como os domínios discursivos onde acontece a Educação Superior, ligada à pesquisa. De fato, grande parte dos mestrandos do Programa são professores dos Ensinos Fundamental, Médio e Superior e, muitas vezes, estão preocupados com a realidade educacional em suas próprias instituições de trabalho; por essa razão, usam suas salas de aula como verdadeiros laboratórios de pesquisa.

Tabela 4
Esferas discursivas estudadas em pesquisas de mestrado

Sublinhamos, também, o interesse de uma parte significativa dos pesquisadores por gêneros que não necessariamente estão sendo investigados em uma situação didático-pedagógica, a exemplo das arenas jurídica e jornalística. Aliás, as práticas discursivas permeiam praticamente todas as práticas sociais; logo, investigar a linguagem é tentar compreender como se tecem as relações sociais no seio da coletividade; daí dizermos que analisar gêneros das esferas cotidiana e do turismo é tão meritório quanto analisar gêneros em situações de ensino-aprendizagem. A menção a todas essas esferas pode ser verificada por meio das pistas linguísticas negritadas nos trechos abaixo:

[8] “A pesquisa teve como objetivo investigar qual abordagem de gêneros textuais/discursivos orientou o manual do professor e o livro do aluno para a produção de texto” (D09, p. 6)

[9] “A construção dos dados ocorreu em uma sala de aula do curso de extensão (...), que teve o objetivo de trabalhar alguns gêneros discursivos (...) do contexto acadêmico (...)” (D18, p. 9)

[10] “Este trabalho resulta de uma pesquisa que investigou como o gênero textual carta do leitor funciona no universo midiático impresso (...)” (D07, p. 8 )

[11] “Antes do andamento desta pesquisa, é preciso situá-la no quadro (...) [das] conversações espontâneas on-line , a saber, o popular bate-papo ou chat eletrônico” (D02, p. 8).

[12] “O foco das nossas análises foi o cenário jurídico, precisamente as sessões de júri” (D03, p. 6)

[13] “A relevância do trabalho deve-se ao fato de ser o fôlder um gênero de uso muito frequente nesta importante atividade do terceiro setor da economia - o Turismo” (D05, p. 4)

A propósito das pesquisas realizadas em nível de doutorado, observamos que elas seguem a mesma lógica das pesquisas de mestrado, isto é, umas focam exclusivamente um gênero, enquanto outras abordam mais de um gênero (cf. tabela 5, mais adiante).

Sobre os gêneros apresentados na Tabela 5, verificamos que todos eles são novos, quando comparados aos que foram analisados nas pesquisas de mestrado. A única exceção é (T06), cujo objeto de estudo são os gêneros “defesa e acusação”, na esfera jurídica, pois se trata de uma ampliação da pesquisa de mestrado (D03) do mesmo autor, quando ele estudou apenas a “defesa oral”. Diagnosticamos, ainda, que 4 (quatro) teses tomam como objeto de estudo mais de um gênero - as quais estão marcadas com (*) -, uma vez que, em geral, ocupam-se também de investigar outros fenômenos linguístico-discursivos. As passagens abaixo (negritos nossos) se reportam aos gêneros estudados nessas teses.

Tabela 5
Gêneros estudados em teses de doutorado

[14] “Nos dados analisados, o foco dirige-se à constituição dos gêneros relato pessoal e resenha acadêmica” (T03, p. 43)

[15] “São feitas, portanto, reflexões entre o dizer e o fazer da professora em aulas nas quais são utilizados diferentes gêneros discursivos (...)” (T05, p. 14)

[16] “Este trabalho centrou-se na análise dos elementos retórico-textuais dos gêneros discursivos orais do judiciário: acusação e defesa” (T06, p. 6 )

[17] “[O fenômeno foi investigado] (...) com base na produção textual/discursiva de gêneros opinativos (Exposição Oral de ponto de vista e Artigo de Opinião)” (T12, p. 9)

Ressalvamos que, em (T05), embora se mencione a categoria “gêneros discursivos”, não há gêneros específicos arrolados pelo pesquisador, pois a pesquisa focava a prática de sala de aula de uma professora, quando ela usava (ou não) gêneros. Por sua vez, as teses que relatam pesquisas que focam apenas um gênero específico explicitam, em seu título ou resumo, o gênero foco de estudo, seja para analisá-lo, seja para tomá-lo como pano de fundo para análise de outra natureza, como se pode ver a seguir (as expressões em negrito foram destacadas por nós):

[18] “No quinto capítulo, (...) enfatizamos sobre a redação no evento concurso (...)” (T01, p. 6)

[19] “(...) esta pesquisa selecionou o gênero piada como objeto de investigação (...)” (T02, p. 6)

[20] “(...) propomos a aprendizagem do gênero textual conto de assombração em dois ambientes distintos de instrução” (T04, p. 7)

[21] “(...) surgiu a proposta de investigação com base em um corpus composto de redações de vestibular (...)” (T07, p. 6)

[22] “(...) o presente trabalho busca analisar o papel do ato narrativo de desenhar no processo de constituição do gênero discursivo ‘desenho infantil escolar’ (...)” (T08, p. 7)

[23] “O ensino implícito teve como objetivo promover a imersão do aluno ao gênero artigo de opinião (...)” (T09, p. 53)

[24] “(...) levar os alunos a desenvolverem a expressão escrita na língua espanhola por meio do uso consciente dos elementos constitutivos do gênero textual narrativa pessoal” (T10, p. 7)

[25] “São nos textos escritos (...) e na conversa coenunciativa de uma díade (...) escrevendo e discutindo atividades escolares de HQ, que o presente trabalho vai focar” (T11, p. 7)

[26] “Esta tese resulta de uma investigação que estudou práticas discursivas no mundo do trabalho, por meio dos usos autênticos do memorando (...)” (T13, p. 9)

Acerca das esferas discursivas nas quais esses gêneros circularam, verificamos que elas retomam, em certo sentido, as já referidas nas pesquisas de mestrado, com prevalência da esfera escolar, possivelmente pelas mesmas razões. Outras esferas já mencionadas também são objeto de estudo (acadêmica, jurídica e cotidiana). A novidade diz respeito ao aparecimento da esfera administrativa.

Tabela 6
Esferas discursivas estudadas em teses de doutorado

Do ponto de vista qualitativo, os fragmentos abaixo confirmam o que apontamos na Tabela 6 sobre as esferas escolar, acadêmica, cotidiana, jurídica e administrativa. Pistas linguísticas que sinalizam essas arenas discursivas - negritadas por nós nos fragmentos abaixo - figuram nas palavras dos próprios pesquisadores:

[27] “Para a realização da nossa pesquisa, escolhemos sujeitos de duas turmas de nona série do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Maceió” (T04, p. 7)

[28] “Esta tese apresenta o relato e os resultados de uma pesquisa-ação desenvolvida (...) no curso de Letras da Universidade Federal de Alagoas (...)” (T09, p. 7)

[29] “As piadas na conversação informal também revelam uma curiosidade em relação aos marcadores conversacionais” (T02, p. 12)

[30] “O foco das nossas análises foi o cenário jurídico (...)” (T06, p. 6)

[31] “Dizendo de outra maneira, investigaram-se algumas particularidades da esfera administrativa estatal” (T13, p. 24)

Finalmente, é pertinente ressaltar que os gêneros não são específicos em determinadas esferas discursivas, pois muitos deles transitam em mais de uma instância discursiva. O caso em análise situa os gêneros em determinados domínios, mas não os assenta perenemente. Negar isso seria transgredir a própria natureza da linguagem, que é versátil por excelência.

4.2 ENFOQUE(S) DADO(S) AOS GÊNEROS

A análise do corpus revelou que tanto as dissertações quanto as teses que abordam gênero podem ser distribuídas em 3 (três) grupos, a partir do enfoque que o trabalho acadêmico pretendeu dar: (a) descrever e analisar o gênero; (b) subsidiar o ensino da produção escrita nas aulas de línguas; (c) e/ou servir de pano de fundo para a análise de outros fenômenos linguístico-discursivos.

No primeiro grupo, trata-se de trabalhos cujo objetivo foi descrever determinado gênero em sua esfera típica de circulação. Em geral, os construtos analisados são gêneros que circulam em instâncias distintas da pedagógica. O cerne dessas pesquisas é procurar entender como a linguagem medeia as práticas sociais por meio de gêneros, seja no jornalismo, na corte de justiça, na cotidianidade, no setor de serviços ou na administração pública, como ilustram os excertos a seguir.

[32] “A pesquisa teve como objetivo descrever a analisar cartas do leitor, a partir de: a) uma análise contextual-enunciativa (...)” (D07, p. 8)

[33] “Este trabalho teve o objetivo de fazer uma análise retórica do gênero discursivo defesa pública (...)” (D03, p. 6)

[34] “Este trabalho objetivou investigar o comportamento da língua escrita nas salas de bate-papo da Internet e em gêneros afins (...)” (D02, p. 06)

[35] “O objetivo desta pesquisa é descrever os aspectos discursivos e enunciativos do gênero fôlder turístico numa perspectiva sociorretórica, (...)” (D05, p. 12)

[36] “(...) esta pesquisa selecionou o gênero piada como objeto de investigação numa perspectiva linguística com o objetivo geral de descrever esse gênero (...)” (T02, p. 6, negrito no original)

[37] “A pesquisa objetivou investigar o memorando em duas frentes inter-relacionadas, em que se procurou lançar um olhar tanto para a dimensão contextual quanto para a dimensão textual do gênero em tela” (T13, p. 09)

No segundo grupo, observamos pesquisas que trazem o conceito de gênero como forma de subsidiar o ensino da produção escrita, nos diferentes níveis da educação formal. De fato, essa parece ser uma das mais importantes funções da pesquisa sobre gênero, pois é quando a academia dialoga com a escola, cumprindo o seu papel social. Vemos nos excertos abaixo que, embora remetam ao conceito de gênero, as pesquisas em destaque têm como foco a produção escrita de diferentes gêneros, cuja ênfase se dá pelo negrito nosso.

[38] “(...) analisar aspectos micro e macroestruturais em produções escritas de alunos (concretamente relatórios)” (D01, p. 2)

[39] “identificar e analisar indícios de autonomia em diferentes versões dos textos produzidos [crônicas] pelos alunos (...)” (D08, p. 12)

[40] “(...) verificar o papel da interação entre a instrução implícita e explícita e do conhecimento do gênero textual conto de assombração (...)” (T04, p. 7)

[41] “(...) estabelecer uma discussão acerca de processos de Retextualização (...), com base na produção textual/discursiva de gêneros opinativos (Exposição Oral de ponto de vista e Artigo de Opinião)” (T12, p. 9)

No terceiro grupo, grande parte das pesquisas acadêmicas vale-se do conceito de gênero como um pressuposto teórico, mas não chega a se debruçar sobre uma análise complexa e efetiva do gênero em discussão; tampouco se aplica a contextos educativos. Diante disso, entendemos que essas pesquisas tomam a noção de gênero para servir de pano de fundo para a análise de outros fenômenos linguístico-discursivos, como uma espécie de pretexto.

[42] “(...) analisar a citação, em contexto de uso, para evidenciar a função de argumento de autoridade enquanto elemento de persuasão no gênero artigo científico (...)” (D10, p. 7)

[43] “(...) evidenciar a incidência e importância das metáforas e funções retóricas para a construção das reportagens e persuasão do leitor (...)” (D11, p. 5)

[44] “(...) refletir, a partir da análise das práticas linguístico-discursivas do gênero consígnia (...), sobre a/s identidade/s do/a professor/a em EaD” (D15, p. 8)

[45] “(...) investigação com base em um corpus composto de redações de vestibular (...), a fim de identificar e analisar as estratégias de referenciação e progressão tópica (...)” (T07, p. 6)

[46] “(...) analisar o papel do ato narrativo de desenhar no processo de constituição do gênero discursivo ‘desenho infantil escolar’ e, através dessa análise, observar (...) indícios de um estilo em constituição” (T08, p. 7)

Os trechos negritados acima evidenciam que o foco de cada trabalho escapa à análise do gênero em si, pois procura investigar outros aspectos dentro do construto genérico, tangenciando sua abordagem. Identificamos, portanto, que os enfoques dados às pesquisas sobre gênero neste Programa, sejam de mestrado ou doutorado, são semelhantes.

Tabela 7
Enfoques dados aos gêneros

Por um lado, os dados apontados na Tabela 7 são reveladores de que a maior parte dos trabalhos acadêmicos investigados (15), a despeito de usarem o conceito de gênero, nem sempre o tomam em sua complexidade, mas somente como um pretexto para a análise de outros fenômenos. Isso pode se explicar pela popularidade de que goza o conceito e pela necessidade dos pesquisadores em mostrar que estão antenados, de alguma forma, com algum tipo de discussão a respeito dele. Por outro lado, os demais trabalhos concentram-se em pesquisas que fornecem algum tipo de suporte ao ensino mediado por gênero (9) e em investigações que descrevem e analisam os gêneros em múltiplas esferas discursivas (7), buscando compreender seu funcionamento discursivo em práticas sociais de interação humana.

4.3 PRINCIPAIS PERSPECTIVAS TEÓRICAS ADOTADAS

A análise dos dados revelou que, de modo geral, as pesquisas de mestrado e de doutorado em debate põem em diálogo mais de uma perspectiva teórica - sejam teorias de gênero ou não. Esclarecemos que a categorização das teorias, neste artigo, deve ser compreendida da seguinte forma: Linguística Textual (estudos desenvolvidos no Brasil especialmente por Luiz Antônio Marcuschi e Ingedore Grunfeld Villaça Koch); Sociolinguística (abordagem quantitativa americana de Willian Labov); Retórica (um misto de Retórica Antiga, especialmente Aristóteles, com Nova Retórica - principalmente Chaïm Perelman e Olivier Reboul); Análise da Conversação (perspectiva introduzida no Brasil por Luiz Antônio Marcuschi); Sociorretórica (abordagem que mescla autores provenientes dos Estudos Retóricos de Gênero, especialmente Carolyn Miller e Charles Bazerman, com a abordagem do Inglês para Fins Específicos, principalmente John Malcolm Swales e Vijay Kumar Bhatia); Abordagem dialógica (estudos que advêm do chamado “Círculo” de Bakhtin); Interacionismo Sociodiscursivo (concepção de base franco-suíça, focada essencialmente em Jean-Paul Bronckart, Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz); Estudos do Letramento (fundamentados em Bryan Street, no panorama internacional, e em Magda Soares e Angela Kleiman no contexto brasileiro); Linguística Aplicada (perspectiva de Luiz Paulo da Moita Lopes e Rita Maria Diniz Zozzoli); Estudos da Multimodalidade (abordagem ligada a Gunther Kress). A tabela 8 apresenta as principais abordagens teóricas citadas por pesquisadores em suas dissertações de mestrado.

Tabela 8
Abordagens teóricas nas dissertações

Os dados mostram um panorama bastante heterogêneo de teorias que são postas em diálogo nas pesquisas de mestrado. A bem da verdade, nem sempre essas teorias são referidas com esses nomes nos textos em análise; entretanto, a partir dos autores citados, foi possível chegar a essa categorização. As pesquisas em nível de doutorado, por sua vez, retomam a maior parte das teorias acima expostas; porém há alguma novidade no modo como elas são articuladas, bem como na introdução de outras perspectivas, quais sejam: Análise do Discurso (na linha francesa de Jean-Michel Adam); Teoria Conexionista (na perspectiva de Márcia Cristina Zimmer); Teoria da Aprendizagem (na visão de Lev Vygotsky); Psicologia Social (na linha de Jerome Bruner); Fenomenologia (na abordagem de Maurice Merleau-Ponty); Teoria da Escrita como Processo (na concepção de Linda Flower); Estudos da Narrativa (baseados em Willian Labov); Genética Textual (ancorada em Pierre Marc de Biasi); e o Paradigma das Tradições Discursivas (fundamentado na perspectiva alemã de Johannes Kabatek).

Tabela 9
Abordagens teóricas nas teses

Em síntese, é possível sistematizar os dados analisados a partir das teorias que mais recorrem nas pesquisas empreendidas. Uma constatação relevante diz respeito ao fato de praticamente todas as pesquisas em discussão pertencerem à linha Linguística Aplicada e Processos Textual-Enunciativos; ademais, grande parte dessas pesquisas está vinculada ao Grupo de Estudos do Texto e da Leitura: perspectivas interdisciplinares (GETEL), liderado pela professora Maria Inez Matoso Silveira. Isso mostra que a linha é profícua no sentido de estimular pesquisas sobre gêneros, seja numa abordagem mais textual, seja numa perspectiva mais discursiva.

Tabela 10
Síntese das teorias mais recorrentes

Constatamos, portanto, que a Abordagem Dialógica é a mais recorrente no corpus analisado, embora apareça sempre em diálogo com outras teorias. Duas razões podem ser apontadas para essa predominância: (a) o fato de Bakhtin ser um consenso teórico na pesquisa sobre gênero, especialmente por meio de seu seminal ensaio “Os gêneros do discurso”, que praticamente se tornou leitura obrigatória no currículo da pós-graduação; (b) e o interesse de alguns pesquisadores do Programa por esse campo de pesquisa, especialmente ligados à Linguística Aplicada, a exemplo da professora Rita Maria Diniz Zozzoli.

A segunda abordagem mais recorrente é a Linguística Textual, que pode ser justificada, também, por dois motivos: (a) o fato de Luiz Antônio Marcuschi se ter tornado consenso teórico na pesquisa sobre gênero, particularmente no Nordeste; (b) a formação de alguns docentes do Programa - ex-alunos ou ex-orientandos de Marcuschi em Recife -, que consubstanciaram a pesquisa sobre gênero no Programa. Destacam-se, neste caso, as professoras Maria Inez Matoso Silveira e Maria Francisca Oliveira Santos.

A Sociorretórica chega ao Programa por meio da professora Maria Inez Matoso Silveira. Em 2002, a docente defendeu na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sua tese de doutorado, que foi publicada em 2005 no formato de livro pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal). Seus interesses de pesquisa sobre gênero alinham-se a essa abordagem, que se faz perceber nos trabalhos acadêmicos de seus orientandos e ex-orientandos.

A Retórica e a Análise da Conversação ganharam corpo por meio da professora Maria Francisca Oliveira Santos, que introduziu no Programa os estudos conversacionais, também na linha de Marcuschi. Esse campo do saber rendeu - e continua rendendo - uma série de trabalhos dedicados aos gêneros na modalidade oral da língua. Seu interesse por Retórica, por outro lado, introduziu uma abordagem bastante peculiar, pois se dedica aos estudos da argumentação, especialmente por meio de categorias retóricas em gêneros diversos, o que se distancia, em certo sentido, da concepção Sociorretórica propriamente dita.

A Linguística Aplicada também se tem ocupado da pesquisa sobre gêneros no contexto investigado. Contudo, se concentra essencialmente em fazer uma interface com os estudos bakhtinianos. Dizemos, portanto, que se trata de uma linha mais fechada, diferentemente da Linguística Textual já mencionada, que se tornou mais mestiça e mais aberta ao diálogo entre diferentes aportes teóricos. O Interacionismo Sociodiscursivo não tem um lugar definido no Programa, tampouco professores que se filiem especificamente a essa linha. Na verdade, acreditamos que a menção a autores provenientes dessa abordagem se deve à popularidade das obras de Jean-Paul Bronckart, Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz, especialmente para a didática de línguas.

Por fim, convém frisar que outras perspectivas teóricas também aparecem, em menor proporção, nos dados analisados. A bem dizer, é possível concluir que, de fato, as pesquisas do Programa têm predileção por estabelecer diálogos entre pelo menos duas teorias, tendo, assim, a heterogeneidade como sua marca.

4.4 PRINCIPAIS OBRAS CITADAS

Como era de se esperar, em virtude do predomínio da Abordagem Dialógica, da Linguística Textual e da Sociorretórica, os autores e obras mais citados nas teses e dissertações estão associados a essas perspectivas teóricas.

Tabela 11
Autores(as) mais citados(as)

Em relação às obras mais citadas, convém esclarecer que 10 (dez) delas são estrangeiras, das quais 8 (oito) têm tradução para o português: 3 (três) do russo, 3 (três) do inglês e 2 (duas) do francês; 2 (duas) do inglês permanecem sem tradução para o português: Genre Analysis (Swales) e Analysing genre (Bhatia). Também ocupam o ranking das dez primeiras posições 8 (oito) obras brasileiras.

Tabela 12
Obras mais citadas

Os dados analisados comprovam que as obras citadas vinculam-se a uma das três perspectivas teóricas predominantes: Abordagem Dialógica, Linguística Textual e Sociorretórica. Um dado relevante para o contexto investigado diz respeito à presença significativa do livro “Gênero textual: concepção sociorretórica”, de Maria Inez Matoso Silveira, professora do Programa, que se tem tornado uma referência. Silveira (2005SILVEIRA, M. I. M. Análise de gênero textual: concepção sociorretórica. Maceió: Edufal, 2005.) tornou-se o(a) terceiro(a) autor(a) mais citado(a) na pesquisa sobre gênero, depois de Marcuschi e Bakhtin/Volochínov.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa em tela revelou que no PPGLL/FALE/UFAL há um número significativo de trabalhos acadêmicos (dissertações de mestrado e teses de doutorado) que abordam o conceito de gênero, em distintas esferas discursivas, o que mostra que ele tem um legado importante para os estudos de gêneros, em sua abrangência regional, acompanhando as discussões sobre o tema em nível nacional e internacional. Em geral, essas pesquisas - que ganham corpo no Programa na virada do milênio -, fazem descrição de gênero, tomam o gênero como subsídio ao ensino da produção escrita ou fazem uso da categoria como pano de fundo para estudar outros fenômenos linguístico-discursivos.

Ademais, identificamos que há uma predileção desses pesquisadores por colocar em diálogo mais de uma teoria em seus relatos de pesquisa, sejam teorias de gênero ou não. Em resumo, podemos afirmar que há o predomínio de três teorias: a Abordagem Dialógica, a Linguística Textual e a Sociorretórica. Diagnosticamos, também, que todas as produções acadêmicas analisadas filiam-se à linha de pesquisa Linguística Aplicada e Processos Textual-Enunciativos. Chama atenção, ainda, o fato de Bakhtin e Marcuschi figurarem como consensos teóricos na maior parte das pesquisas investigadas, confirmando uma tendência importante dos estudos brasileiros de gênero. Os dados corroboram a ausência de menção às abordagens de gênero da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) e da Análise Crítica de Gênero (ACG), uma vez que não há, no Programa, docentes que se filiem a essas linhas teóricas.

Por tudo isso, concluímos que este artigo, por fazer um recorte temporal (1991-2017), pode encetar investigações futuras, de modo a contemplar outras pesquisas sobre gênero, que continuam sendo realizadas no Programa. Afora isso, enfatizamos que o presente artigo também tem função documental, porquanto é um tributo aos 30 (trinta) anos de existência do Programa, completados em 2019, servindo como um relato para a posteridade.

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  • TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2015.
  • 1
    Conforme denominação anterior, Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística.
  • 2
    Como o Programa tem 2 (duas) áreas de concentração, excluíram-se, nesta pesquisa, todas as dissertações e teses relativas à área de Literatura, pois não constituem escopo da investigação.
  • 3
    Disponível em: http://www.repositorio.ufal.br/. Acesso em: 3 nov. 2023.
  • 4
    Disponível em: http://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/index. Acesso em: 3 nov. 2023.
  • 5
    Mais recentemente, a linha Linguística Aplicada e Processos Textual-Enunciativos subdividiu-se em duas, como a própria denominação já sugeria. Atualmente, portanto, o Programa conta com 4 linhas de pesquisa na área de Linguística, conforme se pode verificar no seu portal virtual. Disponível em: https://fale.ufal.br/ppgll/. Acesso em: 3 nov. 2023.

Editado por

Editor de Seção:

Fábio José Rauen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2022
  • Aceito
    08 Out 2023
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