Acessibilidade / Reportar erro

A cidade no campo dos estudos organizacionais

Resumo

O objetivo desse artigo é tão só refletir sobre uma possível abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais, o que se desenvolve com, em primeiro lugar, a definição do conceito de cidade encontrado nesse campo e, em segundo lugar, a formulação da crítica sobre esse conceito. Conclui-se que é possível ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais.

Abstract

The objective of this article Is only reflecting on a possible approach of the object city as study object of in the field of organizational studies. Which is developed by, first, defining the concept of city found in that field and, second, formulating the critic about that concept, It Is concluded that is possible amplifying the approach of the object city as a study subject in the field of organizational studies.

OBJETO CIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO NO CAMPO DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Parte-se da crença de que há de fato um objeto ou, melhor, inúmeros e diferentes objetos que são ou podem ser conceituados como cidade, quer sejam designados pelo próprio termo "cidade", quer por outros termos quaisquer, tais como "aglomeração urbana", "área urbana", "capital", "espaço urbano", "local", "município", "metrópole", "povoação", "nucleação urbana" e "urbe" (COSTA; DOUCHKIN, 1982COSTA, Eunice R.; DOUCHKIN, Tatiana. Thesaurus Experimental de Arquitetura Brasileira. São Paulo: FAUUSP, 1982.).

Vale observar que se dá preferência ao termo "cidade" por sua imprecisão, considerando que pode designar não só vários objetos, como também vários conceitos, mais ou menos inseridos, por um lado, em inúmeros campos de conhecimentos e, por outro lado, em também diversas reflexões.

Um dos fatores de imprecisão do termo "cidade" e, paradoxalmente, um dos meios empregados para torná-lo mais preciso, é sua freqüente associação a adjetivos, possivelmente com o propósito de abranger e ordenar a diversidade de objetos e conceitos.

Mas os objetos e os conceitos que o termo "cidade" designa não são abordados apenas por um campo de conhecimento, nem se reduzem a uma simples variação de forma e função, como podem sugerir Costa e Douchkin (1982COSTA, Eunice R.; DOUCHKIN, Tatiana. Thesaurus Experimental de Arquitetura Brasileira. São Paulo: FAUUSP, 1982.) ao identificar a cidade nos campos da arquitetura e do urbanismo e adjetivar como "administrativa", "capital", "comercial", "do futuro", "dormitório", "em xadrez", "estância", "organizacional", "histórica", "hospitalar", "industrial", "jardim", "linear", "metropolitana", "mista", "mononucleada", "nova", "polinucleada", "rádio-concêntrica", "região", "santuário", "satélite" e "universitária".

A imprecisão do termo "cidade" contribui para a inconsistência do seu conceito que, segundo Lakatos (1995LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 2. ed. rev. e amp. São Paulo: Atlas, 1995.), se deve às limitações que apresenta, tais como: não ser facilmente traduzido de uma língua para outra, ter significado em diferentes contextos e mudar de significado e ser designado tanto por um termo que se refere a fenômenos diversos quanto por diversos termos aplicados a um mesmo fenômeno.

Em que pese a inconsistência e a indefinição do conceito, mantém-se a crença no objeto cidade, até porque este é abordado como objeto de estudo em diversos campos de conhecimento, tanto no urbanismo, cujo objeto é mesmo cidade, neste caso melhor designado pelo termo "urbe", quanto em campos tais como a administração, a antropologia, a arquitetura, a economia, a geografia, a história, a política e a sociologia, cujos objetos podem não ser exatamente cidade, mas a integram, quer na sua totalidade, quer em parte.

O que parece justificar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo na administração como campo de conhecimento é o fato de ser este um objeto de atuação da administração como campo profissional, a ponto de haver administradores atuando no que se designa como "administração municipal", "administração urbana", "gestão urbana" etc.

Na administração como campo de conhecimento, o que se observa é que o objeto cidade tem sido tomado como objeto de estudo apenas na administração pública, ao tempo em que tem sido quase absolutamente ignorado nos estudos organizacionais.

No campo dos estudos organizacionais, um indício de que o objeto cidade tem sido quase absolutamente ignorado evidencia-se na análise de trabalhos publicados em um dos fóruns de administração mais representativos do Brasil, o Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, ENANPAD, e, particularmente, na área de Organizações.

Ao se analisar os trabalhos publicados na área de Organizações do ENANPAD no período de 1996 ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996. a 2001ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 25., 2001, Campinas, SP. Anais eletrônicos ... Campinas, SP: ANPAD, 2001., verifica-se que poucos deles fazem referência à cidade e, quando o fazem, tomam-na quase sempre como contexto e, mais exatamente, localização de organizações que são os reais objetos de estudo. Vale acrescentar que, dentre os trabalhos analisados, o único que faz referência à cidade tomando-a como objeto de estudo é o artigo Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais (FISCHER, 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.).

Essa verificação de que o objeto cidade tem sido quase absolutamente ignorado como objeto de estudo na área de Organizações do ENANPAD pode ser generalizada para o campo dos estudos organizacionais, isto sem deixar de ressaltar a inevitabilidade do erro em função tanto de tempo, quanto de espaço e, inclusive, do universo de análise ser limitado à produção de conhecimento dita brasileira, ou, extrapolando as fronteiras, ser aberto a toda e qualquer produção de conhecimento, quer se identifique sua nacionalidade, quer não.

Contrariando a inferência de que objeto cidade tem sido quase absolutamente ignorado como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais, registra-se mais recentemente dezesseis trabalhos reunidos sob o tema Cities:creative spaces of societal developmentem em um dos fóruns de estudos organizacionais mais representativos da Europa, o European Group of Organisational Studies,EGOS (2003)EGOS. European Group of Organizational Studies, 19., 2003. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/ Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
http://www.egos.cbs.dk...
. Dentre esses dezesseis trabalhos, aqui se destaca o artigo City-organization: a contribution towards a wider approach of the object city as a study subject in the field of organizational studies (MAC-ALLISTER, 2003bMAC-ALLISTER, Mônica. City-organization: a contribution towards a wider approach of the object city as a study subject in the field of organizational studie In: European Group of Organisational Studies, EGOS, 19., 2003b, Copenhague. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
http://www.egos.cbs.dk...
) que resume a tese de doutorado Organização-cidade: uma contribuição para ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais (MAC-ALLISTER, 2001MAC-ALLISTER, Mônica. Organização-cidade: uma contribuição para ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais. 2001. 204 f. Tese (Doutorado em Administração) - Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador.) defendida junto à Universidade Federal da Bahia, UFBA. A propósito, o presente artigo é um extrato da referida tese.

Não se trata, contudo, de refutar ou confirmar, ainda que como probabilidade, uma hipótese, possível e falível, de que o objeto cidade tem sido quase absolutamente ignorado como objeto de estudo rio campo dos estudos organizacionais. Que seja mais uma crença!

O objetivo desse artigo é tão só refletir sobre uma possível abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais, o que se desenvolve com, em primeiro lugar, a definição do conceito de cidade encontrado nesse campo e, em segundo lugar, com a formulação da crítica a esse conceito.

CONCEITO DE CIDADE NO CAMPO DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Afora a tese defendida junto à UFBA (MAC-ALLISTER, 2001MAC-ALLISTER, Mônica. Organização-cidade: uma contribuição para ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais. 2001. 204 f. Tese (Doutorado em Administração) - Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador.) e os trabalhos apresentados no EGOS (2003), há pelo menos quatro trabalhos do campo dos estudos organizacionais que tomam o objeto cidade como objeto de estudo:

três trabalhos de autoria de Fischer, o artigo Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e reconfigurações do local (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.), o artigo Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais (1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.) e o já citado artigo A Cidade como Teia Organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle (1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.);

um trabalho de autoria de Czarniawska-Joerges, o artigo Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw (1997CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997.) que é baseado no material de um programa de pesquisa mais amplo, Managing the Big City: a 21st-Century challenge to technology and administratíon, o qual consiste em um estudo etnográfico sobre "cidade grande".

Ao analisar os artigos de Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997., o que se verifica é que apresentam mais semelhanças do que diferenças quanto aos conceitos de organização e cidade.

No que se refere ao conceito de organização, enquanto Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) o define como "realidade social", "concreta" e "virtual" e, ainda, "metáfora", Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. o define como "ficção social", dando maior importância ao "processo organizacional" do que à organização, mas trata-se, em ambos os casos, de "organização social", quer esta seja considerada uma "realidade" "concreta" e "virtual", quer seja uma "ficção" ou "metáfora", cujos "estado" (tanto como recorte temporal e espacial na condição de artifício de análise ou representação, quanto como resultante de um Processo) e "processo" (que ocorre no tempo e no espaço) apresentam, na atualidade, características tais como ambigüidade, complexidade, contradição, dinâmica, diversidade, invisibilidade, pluralidade e singularidade.

No que se refere ao conceito de cidade, Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. o definem em função da maior ou menor importância dada ao conceito de organização, mas trata-se, em ambos os casos, de uma "organização social", tal como qualquer outra organização social - real ou concreta, virtual, fictícia ou metafórica, dinâmica e processual, ocorrendo no tempo e no espaço -, que, particularmente, consiste em um conjunto de organizações, teias organizacionais, redes organizacionais ou redes de ações e ainda indivíduos não organizados, isto em grandes dimensões e de alta complexidade.

Ao conceituarem cidade como uma organização social, Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. desenvolvem análises sob focos diferenciados - aprendizagem, cultura, estrutura, poder e linguagem - que convergem, dentre outros pontos, no sentido de uma cultura associada a ações coletivas e individuais, o que parece aproximar as _cidades de Salvador e Varsóvia.

A cidade de Salvador é analisada por Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) como uma organização que é em si e é dotada de cultura, a qual, por sua vez, é produzida num processo sujeito a "continuidades, rupturas e inovações" e do qual resulta, "preservada e fortalecida", uma "identidade cultural".

A cidade de Varsóvia é analisada por Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. como uma organização dotada de uma cultura de gestão que está sendo forçada a passar por profundas mudanças que envolvem linguagem, aprendizagem social e cognitiva, transformações de velhas práticas e desaprendizado de velhos hábitos.

Trata-se, em ambos os casos, da cultura da cidade, cultura esta que é processada coletivamente, ainda que incorporando processos individuais, continuamente e, em última instância, resulta numa identidade cultural tanto da totalidade da cidade como organização social, quanto da gestão desta totalidade.

Por outro lado, ao conceituarem cidade como uma organização social, Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. privilegiam a dimensão social em detrimento da dimensão espacial, isto é, privilegiam a "sociedade" em detrimento do "espaço", o que não impede que se refiram ao espaço no qual está e se processa esta organização.

Trata-se, em ambos os casos, do espaço da cidade, espaço este que é dado como físico e definido como localização da organização social da cidade, sendo esta organização social, e não a cidade na sua totalidade, o objeto de estudo dos referidos trabalhos.

Em síntese, Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. conceituam cidade, no campo dos estudos organizacionais, como organização social no que se refere a um conjunto de organizações sociais e indivíduos não organizados que se situa no tempo e no espaço, tem grandes dimensões e alta complexidade, processa coletivamente, ainda que incorporando processos individuais, e, continuamente, uma cultura e possui, como resultado deste processo, uma identidade cultural tanto relativa à totalidade da cidade quanto à gestão desta totalidade.

Esse conceito de cidade verificado nos trabalhos de Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. pode ser generalizado para o campo dos estudos organizacionais, considerando-se que foram revisados "cem por cento" dos trabalhos identificados como pertencentes ao referido campo e que tomam o objeto cidade como objeto de estudo.

Mas, ao generalizar esse conceito, não se está considerando a comprovação de uma certeza ou mesmo uma probabilidade, até porque "cem por cento" se traduz a exatos "quatro" num universo de inúmeros trabalhos passíveis de serem identificados como pertencentes ao campo dos estudos organizacionais, afora -a constante ameaça de vir a se descobrir um trabalho que contrarie o verificado anteriormente.

Verifica-se, tão só como uma possibilidade, que o objeto cidade, quando tomado como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais, é conceituado como organização social no que se refere a um conjunto de organizações sociais e indivíduos não organizados que se situa no tempo e no espaço, tem grandes dimensões e alta complexidade, processa coletivamente, ainda que incorporando processos individuais, .e, continuamente, uma cultura e possui, como resultado deste processo, uma identidade cultural tanto relativa à totalidade da cidade quanto à gestão desta totalidade.

CRÍTICA AO CONCEITO DE CIDADE NO CAMPO DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

No campo dos estudos organizacionais, ao se definir o conceito de cidade como organização social não se está aí reduzindo cidade a uma dimensão social em detrimento de outras dimensões, isto na ilusão de, através da dimensão social, abarcar toda e qualquer dimensão? Não se está também reduzindo o campo dos estudos organizacionais ao campo das ciências sociais e, em particular, da sociologia?

No campo da sociologia e, particularmente, da sociologia urbana, a cidade já é estudada no século XIX como um "tipo distinto de organização social" com "problemas de desorganização social, relacionados com a industrialização e urbanização aceleradas", e no século XX, mais exatamente entre os anos 20 e 30, passa a ser estudada sistematicamente pela Escola de Chicago, cujos membros, inclusive Park, tomam a própria cidade de Chicago como objeto de estudo (DELLE DONNE, 1979DELLE DONNE, Marcella. Teorias sobre a Cidade. Tradução José Manuel de Vasconcelos. Lisboa: Martins Fontes, 1979. Título original: Teorie sulfa Citá.).

Permeia essa associação original entre organização e cidade, uma analogia entre o conceito de organismo, da biologia, e o conceito de sociedade, da sociologia (HEGEDÜS, 1996HEGEDÜS, András. Organização. ln: BOTTOMORE, Tom; OUTHWAITE, William (Ed.). Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Tradução Álvaro Cabral e Eduardo Francisco Alves. 1 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 537-538.), possivelmente sustentada na crença de que, como explicita Lowie (1970LOWIE, Robert H. Organização Social. Tradução Asdrúbal Mendes Gonçalves. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970. p. 139-155. Título Original: Social Organization. Originalmente publicado no Encyclopedia of the Social Sciences, v. XIV, p. 141-148. (Coleção Biblioteca de Ciência Sociais, v. 9.)), toda associação de seres humanos é organizada em função de relações de dependência mútua, o que resulta no conceito de organização como totalidade, tal qual o organismo, sendo que de seres humanos e, portanto, não só social, como também humana.

As analogias entre conceitos biológicos e sociológicos e o paralelo entre biologia e sociologia e, numa perspectiva mais ampla, entre ciências naturais e sociais podem não ter sido desenvolvidos apenas na Escola de Chicago, mas a marcaram a ponto do conjunto dos estudos nela desenvolvidos serem referidos como ecologia humana.

O conceito de ecologia humana das ciências sociais tem origem no conceito de ecologia das ciências natura. Nas ciências naturais, segundo Haeckel (apud DELLE DONNE, 1979DELLE DONNE, Marcella. Teorias sobre a Cidade. Tradução José Manuel de Vasconcelos. Lisboa: Martins Fontes, 1979. Título original: Teorie sulfa Citá.), ecologia é o estudo dos seres animais em geral, nas suas relações de economia e habitação entre si e com os seres vegetais e o ambiente inorgânico, o que se traduz na luta pela existência identificada por Darwin. Analogamente, nas ciências sociais, segundo Mackenzie (apud DELLE DONNE, 1979DELLE DONNE, Marcella. Teorias sobre a Cidade. Tradução José Manuel de Vasconcelos. Lisboa: Martins Fontes, 1979. Título original: Teorie sulfa Citá.), ecologia humana é o estudo dos seres· humanos nas suas relações espaciais, simbióticas e institucionais de seleção, distribuição e adaptação ao ambiente físico. No entanto, ressalta Delle Donne (1979)DELLE DONNE, Marcella. Teorias sobre a Cidade. Tradução José Manuel de Vasconcelos. Lisboa: Martins Fontes, 1979. Título original: Teorie sulfa Citá., a concepção generalizada na ecologia humana de que a organização dos seres humanos resulta tão só de relações de competição é superada por Park que identifica não apenas a competição, mas também, e, principalmente, a comunicação.

Park (1967PARK, Robert Ezra. A Cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. Tradução Sérgio Magalhães Santeiro. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 29-72. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XX, mar. 1916, p. 577-612.; 1970aPARK, Robert Ezra. Comunicação. Tradução Paulo F. Lopes. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970a. p. 55-76. Título Original: Reflections on Communication and Culture. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XLIV, n. 2, set. 1938, p. 187-205.; 1970bPARK, Robert Ezra. Simbiose e socialização: "quadro de referência" para o estudo da sociedade. Tradução Lavinia Vilela. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970b. p. 109-136. Título Original: Symbiosis and Socialization: a frame of reference for the study of society. Originalmente publicado no The American Journal of Socio/ogy, V. XLV, n. 1, jul. 1939, p. 1-25.) conceitua cidade como uma organização que consiste numa sociedade como uma totalidade - social e humana, produto da relação entre as organizações física ou geográfica e moral ou cultural e da interação entre as organizações física ou geográfica, social ou ecológica e econômica - em que as unidades - seres humanos especiais, como indivíduos e grupos que cultivam uma capacidade intelectual de abstração e uma correlata tendência comportamental à mobilidade e se diferenciam entre si como tipos sociais (profissionais ou vocacionais e temperamentais) - mantêm entre si relações caracterizadas pela tendência à substituição de sentimentos por interesses, do caráter pessoal e irracional por impessoal e racional e do nível direto ou primário por indireto ou secundário, relações estas que são de competição ou competição econômica e de comunicação, da qual participa a linguagem e a qual participa da cultura, bem como através da qual se realizam atos coletivos e, em última instância, se estabelecem instituições. Em adendo, trata-se de uma organização cuja totalidade é processual e fragmentada, no conjunto da organização e em cada uma das organizações que a compõem, cuja condição é de permanente instabilidade e crise crônica; e cujo equilíbrio instável ou de relativa estabilidade depende de um processo contínuo de reajustamento ou de um também relativo controle, o que implica a interação entre a competição e a comunicação e a influência da publicidade e da opinião pública.

Ainda no campo da sociologia, mas fora da Escola de Chicago, Weber (1967WEBER, Max. Conceitos e Categorias da Cidade. Tradução Antônio Carlos Pinto Peixoto. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 73-122. Originalmente publicado no Archiv für Sozialwissenshaft und Sozial politik, v. 47 como parte do trabalho intitulado Die Stadt. (Coleção Textos Básicos de Ciências Sociais).) conceitua cidade como uma organização que consiste em uma sociedade como uma totalidade - social e humana, bem como física, social, econômica, político-administrativa e jurídica, - que na modernidade melhor se enquadra na categoria de cidade-mercado, onde as unidades - seres humanos, como indivíduos e grupos - mantêm entre si relações fundamentalmente econômicas, isto é, de mercado, relações essas controladas por instituições político-administrativas e, principalmente, econômicas ou reguladoras.

Os conceitos de cidade de Park (1967PARK, Robert Ezra. A Cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. Tradução Sérgio Magalhães Santeiro. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 29-72. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XX, mar. 1916, p. 577-612.; 1970aPARK, Robert Ezra. Comunicação. Tradução Paulo F. Lopes. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970a. p. 55-76. Título Original: Reflections on Communication and Culture. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XLIV, n. 2, set. 1938, p. 187-205.; 1970bPARK, Robert Ezra. Simbiose e socialização: "quadro de referência" para o estudo da sociedade. Tradução Lavinia Vilela. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970b. p. 109-136. Título Original: Symbiosis and Socialization: a frame of reference for the study of society. Originalmente publicado no The American Journal of Socio/ogy, V. XLV, n. 1, jul. 1939, p. 1-25.) e Weber (1967WEBER, Max. Conceitos e Categorias da Cidade. Tradução Antônio Carlos Pinto Peixoto. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 73-122. Originalmente publicado no Archiv für Sozialwissenshaft und Sozial politik, v. 47 como parte do trabalho intitulado Die Stadt. (Coleção Textos Básicos de Ciências Sociais).) são particularmente semelhantes por poderem ser ambos definidos como uma organização social, isto é, uma organização que consiste numa sociedade como uma totalidade social e humana - quer seja produto da relação entre as organizações física ou geográfica e moral ou cultural e da interação entre as organizações física ou geográfica, social ou ecológica e econômica, quer seja também física, social, econômica, político-administrativa e jurídica -, onde as unidades, que são seres humanos, como indivíduos e grupos, mantêm entre si relações - quer sejam relações de competição ou competição econômica e de comunicação, da qual participa a linguagem e a qual participa da cultura, bem como através da qual se realizam atos coletivos e, em última instância, se estabelecem instituições, quer sejam relações, fundamentalmente, econômicas ou de mercado e controladas por instituições político-administrativas e, principalmente, econômicas ou reguladoras.

O problema é que os conceitos de cidade de Park (1967PARK, Robert Ezra. A Cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. Tradução Sérgio Magalhães Santeiro. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 29-72. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XX, mar. 1916, p. 577-612.; 1970aPARK, Robert Ezra. Comunicação. Tradução Paulo F. Lopes. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970a. p. 55-76. Título Original: Reflections on Communication and Culture. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XLIV, n. 2, set. 1938, p. 187-205.; 1970bPARK, Robert Ezra. Simbiose e socialização: "quadro de referência" para o estudo da sociedade. Tradução Lavinia Vilela. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970b. p. 109-136. Título Original: Symbiosis and Socialization: a frame of reference for the study of society. Originalmente publicado no The American Journal of Socio/ogy, V. XLV, n. 1, jul. 1939, p. 1-25.) e Weber (1967WEBER, Max. Conceitos e Categorias da Cidade. Tradução Antônio Carlos Pinto Peixoto. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 73-122. Originalmente publicado no Archiv für Sozialwissenshaft und Sozial politik, v. 47 como parte do trabalho intitulado Die Stadt. (Coleção Textos Básicos de Ciências Sociais).), embora considerem, pelo prisma social, aspectos não apenas sociológicos, mas também econômicos, físicos ou geográficos, morais ou culturais, de linguagem e de comunicação, político-administrativos e jurídicos, reduzem o objeto cidade a uma organização social ou ao contexto desta organização.

No campo da administração, o que se observa é que, segundo Motta (1986MOTTA, Fernando C. Prestes. Teoria das Organizações: evolução e crítica. São Paulo: Pioneira, 1986.), com a fundamental incorporação da sociologia houve a transição da "teoria da administração" para a "teoria das organizações", isto é, para os estudos organizacionais, o que implica na constituição da organização e, mais especificamente, da organização social como objeto de estudo.

Mas o objeto do campo dos estudos organizacionais não permanece apenas como uma organização social, nem permanece dominado pelo campo da sociologia, a menos que se acredite que a dimensão social sintetiza todas e quaisquer possíveis dimensões do objeto e que a sociologia, dentro de seus limites, seja suficiente para abordar toda a complexidade do objeto ou, ainda, integrar todos e quaisquer campos de conhecimento que, em alguma medida, abordam o objeto (CLEGG; HARDY, 1996aCLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia. Conclusion: Representations. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996a. p. 676-708.; 1996bCLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia. Introduction: Organizations, Organization and Organizing. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996b. p. 1-28.; REED, 1996REED, Michael. Organizational Theorizing: a historically contested terrain. In: CLEGG, Stewart R .; HARDY, Cynthia ; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 31-55.).

No campo dos estudos organizacionais, ao se definir o conceito de cidade como organização social que processa uma cultura e possui uma identidade cultural, não se está privilegiando a dimensão cultural e o campo da antropologia em detrimento de outras dimensões e outros campos de conhecimento? Mas, em sendo a cidade conceituada como organização, o que define e por que e para que definir a cultura e a identidade cultural desta organização e de sua gestão? O que define e por que e para que definir a cultura e, em correlato, a identidade cultural de uma cidade?

No campo da antropologia e, particularmente, da antropologia urbana, Canevacci (1993CANEVACCI, Massimo. A Cidade Polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. Tradução Cecília Prada. 1. ed. São Paulo: Studio Nobel, 1993.) revisa o conceito de cultura da perspectiva "totalizante" para a perspectiva "da fragmentação", em que a cultura e a identidade cultural de uma cidade não mais se definem, se justificam e têm finalidade.

Retornando ao campo dos estudos organizacionais, observa-se que cultura e identidade organizacional - de um modo geral e não apenas quando empregados no estudo de cidade e, particularmente, por Fischer (1996a FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.; 1996bFISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.; 1997FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.) e Czarniawska-Joerges (1997)CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997. - consistem, tal qual cidade, em termos imprecisos e conceitos inconsistentes porque comportam inúmeras e diferentes definições.

Essa inconsistência dos conceitos de cultura e identidade organizacional, agravada por sua ampla difusão no campo dos estudos organizacionais, é tratada, por exemplo, nos artigos The Organizational Culture War Games: A Struggle for Intellectual Dominance (FROST; MARTIN, 1996FROST, Peter; MARTIN, Joanne. The Organizational Culture War Games: a struggle for intellectual dominance. In: CLEGG, Stewart R .; HARDY, Cynthia ; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 599-621.) e Diverse Identities in Organizations (COX JR.; NKOMO, 1996COX-Jr., Taylor; NKOMO, Stella M. Diverse Identities in Organizations. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 338-356.).

O artigo de Frost e Martin (1996FROST, Peter; MARTIN, Joanne. The Organizational Culture War Games: a struggle for intellectual dominance. In: CLEGG, Stewart R .; HARDY, Cynthia ; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 599-621.) refere-se a disputas, lutas, guerras, jogos de guerra em função da conquista do domínio intelectual de um conceito de cultura organizacional sobre os demais. O que aí está em jogo são, em síntese, três conceitos de cultura organizacional definidos como um conjunto de elementos compartilhados por toda a organização, no sentido da integração, por grupos sociais, no sentido da diferenciação, e por indivíduos, no sentido da fragmentação.

O artigo de Cox Jr. e Nkomo (1996)COX-Jr., Taylor; NKOMO, Stella M. Diverse Identities in Organizations. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 338-356. refere-se a conceitos de identidade organizacional paradoxalmente subjacentes a conceitos de diversidade organizacional e, particularmente, a conceitos de identidade organizacional cultural isto considerando que, na realidade organizacional, culturas e identidades culturais de grupos sociais e, até, indivíduo,, diferenciam-se entre si e configuram, no seu conjunto, diversidade cultural.

Por outro lado, o conceito de cidade encontrado no campo dos estudos organizacionais é definido não só como organização social, mas também como localização desta organização. Com esta definição como localização, não se está reduzindo cidade a uma dimensão espacial por sua vez reduzida a uma dimensão físico-espacial? Não se está reduzindo cidade a espaço como apenas espaço físico? Não se está desconsiderando outras dimensões de cidade, como a dimensão espacial, em seu sentido mais amplo, e outros campos de conhecimento que tomam cidade como objeto de estudo, por exemplo, do urbanismo? Não se está, mais uma vez, ignorando cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais?

Em resposta a complexidade da realidade organizacional e a fragilidade e a fragmentação do campo dos estudos organizacionais, Chanlat (1993CHANLAT, Jean-François. Por uma Antropologia da Condição Humana nas Organizações. Tradução Ofélia de Lanna Sett Torres. In: TORRES, Ofélia de Lanna Sett (Org.) O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. Tradução Arakcy Martins Rodrigues et al. 2. Ed. São Paulo: Atlas 1993. p. 21-45.) procura constituir a unidade fundamental do objeto do ser humano como um ser ao mesmo tempo genérico e singular, ativo e reflexivo, de palavra, de desejo e de pulsão (talvez melhor traduzido como impulsão ou impulso), simbólico, espaço-temporal e objeto e sujeito de sua ciência (MAC-ALLISTER, 2003aMAC-ALLISTER, Mônica. City-organization: a contribution towards a wider approach of the object city as a study subject in the field of organizational studie In: European Group of Organisational Studies, EGOS, 19., 2003b, Copenhague. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
http://www.egos.cbs.dk...
).

Esse ser humano é objeto da Antropologia da Condição Humana nas Organizações proposta por Chanlat (1993CHANLAT, Jean-François. Por uma Antropologia da Condição Humana nas Organizações. Tradução Ofélia de Lanna Sett Torres. In: TORRES, Ofélia de Lanna Sett (Org.) O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. Tradução Arakcy Martins Rodrigues et al. 2. Ed. São Paulo: Atlas 1993. p. 21-45.), que se caracteriza por uma interdisciplinaridade e uma concepção dialética dos fenômenos e se estrutura em cinco níveis complexos e interdependentes, quais sejam, do indivíduo, da interação, da organização, da sociedade e mundial (MAC-ALLISTER, 2003aMAC-ALLISTER, Mônica. City-organization: a contribution towards a wider approach of the object city as a study subject in the field of organizational studie In: European Group of Organisational Studies, EGOS, 19., 2003b, Copenhague. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
http://www.egos.cbs.dk...
).

Na análise desses cinco níveis, o que se observa, contudo, é que a dimensão espaço-temporal e, mais Especificamente, a dimensão espacial se reduz a "escala" e, em última instância, acaba por ser esquecida (MAC-ALLISTER, 2003aMAC-ALLISTER, Mônica. City-organization: a contribution towards a wider approach of the object city as a study subject in the field of organizational studie In: European Group of Organisational Studies, EGOS, 19., 2003b, Copenhague. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
http://www.egos.cbs.dk...
). Passados mais de dez anos, Clegg e Kornberg propõem o tema Space and Organization para o EGOS (2003), observando que o campo dos estudos organizacionais tem sido dominado pelas concepções temporais em detrimento das concepções espaciais (MAC-ALLISTER, 2003aMAC-ALLISTER, Mônica. Emergência do Espaço Organizacional para a Gestão Social. Colóquio Internacional sobre Poder Local: gestão XXI, gestão· social e gestão do desenvolvimento, 9., 2003, Salvador. Anais... Salvador: UFBA/NPGA/NEPOL/PDGS, 2003a. CD-Rom.) e, nessa perspectiva, reúnem 24 trabalhos sobre espaço no campo dos estudos organizacionais.

Contudo, o espaço parece continuar sendo sistematicamente ignorado no campo dos estudos organizacionais, apesar de ser eventualmente abordado através de conceitos direta ou indiretamente relacionados a espaço, e, freqüentemente, imprecisos e inclinados a reduzir o espaço, como comenta Mac-Allister (2001)MAC-ALLISTER, Mônica. Organização-cidade: uma contribuição para ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais. 2001. 204 f. Tese (Doutorado em Administração) - Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador., a localização e, em correlato, espaço-físico, quando não à dimensão econômica (MACALLISTER, 2003aMAC-ALLISTER, Mônica. Emergência do Espaço Organizacional para a Gestão Social. Colóquio Internacional sobre Poder Local: gestão XXI, gestão· social e gestão do desenvolvimento, 9., 2003, Salvador. Anais... Salvador: UFBA/NPGA/NEPOL/PDGS, 2003a. CD-Rom.).

Mas, nos campos do urbanismo, da geografia e, particularmente, da geografia urbana, estudar o objeto cidade significa também e, principalmente, estudar o espaço e, inclusive, espaço físico, sem que o primeiro se reduza ao segundo. Quanto ao espaço, trata-se também, como cidade, cultura e identidade cultural, de um termo impreciso e um conceito inconsistente, sendo isto uma preocupação constante do geógrafo Milton Santos (1959SANTOS, Milton. O Centro da Cidade do Salvador: estudo de geografia urbana. Salvador: Universidade da Bahia, 1959.; 1985SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.; 1986SANTOS, Milton et al. (Org.) A Construção do Espaço. São Paulo: Nobel, 1986.; 1987SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.; 1990SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1990.; 1993aSANTOS, Milton et al. (Org.). Globalização e Espaço Latino-americano. 2. ed. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1993a.; 1993bSANTOS, Milton et al. (Org.). O Novo Mapa do Mundo: fim de século e globalização. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1993b.; 1994aSANTOS, Milton et al. (Org.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1994a. p. 45-50.; 1994bSANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. SãoPaulo: Hucitec, 1994b.; 1994cSANTOS, Milton. Por uma Economia Política da Cidade: O Caso de São Paulo. São Paulo: Hucitec/ EDUC, 1994c.; 1994dSANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994d.; 1999SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.).

Reagindo à inconsistência do conceito, Milton Santos (1959SANTOS, Milton. O Centro da Cidade do Salvador: estudo de geografia urbana. Salvador: Universidade da Bahia, 1959.; 1985SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.; 1986SANTOS, Milton et al. (Org.) A Construção do Espaço. São Paulo: Nobel, 1986.; 1987SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.; 1990SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1990.; 1993aSANTOS, Milton et al. (Org.). Globalização e Espaço Latino-americano. 2. ed. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1993a.; 1993bSANTOS, Milton et al. (Org.). O Novo Mapa do Mundo: fim de século e globalização. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1993b.; 1994aSANTOS, Milton et al. (Org.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1994a. p. 45-50.; 1994bSANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. SãoPaulo: Hucitec, 1994b.; 1994cSANTOS, Milton. Por uma Economia Política da Cidade: O Caso de São Paulo. São Paulo: Hucitec/ EDUC, 1994c.; 1994dSANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994d.; 1999SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. dedica uma parte significativa de sua vasta obra à definição de "espaço" ou, mais exatamente, "espaço geográfico" e, em paralelo, geografia, como campo de conhecimento cujo objeto é fundamentalmente "espaço".

As definições de Milton Santos (1999SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.) sobre o conceito de "espaço", embora difiram em função de categorias de análise (fixos e fluxos; configurações territoriais e relações sociais; sistemas de objetos e sistemas de ações), assemelham-se ao indicarem, de modo mais ou menos explícito, uma indissociável relação entre a dimensão social e a dimensão espacial.·

Essa indissociável relação entre a dimensão social e a dimensão espacial poderia ser traduzida do campo da geografia para o campo dos estudos organizacionais como também uma indissociável relação entre "organização social" e "organização espacial" e, por conseguinte, o conceito de cidade seria definido como "organização" que resulta- de uma indissociável relação entre "organização social" e "organização espacial".

Porém, ao conceituar cidade como "organização" resultante de uma indissociável relação entre "organização social" e "organização espacial" correr-se-ia o risco de estabelecer conceitos tão genéricos, absolutos e presos a regras e padrões quanto o de "cultura" na perspectiva "totalizante", "identidade cultural", "sociedade" e, num certo sentido, "espaço" e, em' contraposição, afastar conceitos mais específicos, relativos,, abertos a diferenciações e dinâmicos como o de "cultura" na perspectiva "da fragmentação", "diversidade cultural" e "lugar" que mantém para com o "espaço" uma relação dialética, de modo que ambos integram as mesmas dimensões, inclusive a social (CANEVACCI, 1993CANEVACCI, Massimo. A Cidade Polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. Tradução Cecília Prada. 1. ed. São Paulo: Studio Nobel, 1993.; COX JR; NKOMO, 1996COX-Jr., Taylor; NKOMO, Stella M. Diverse Identities in Organizations. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 338-356.; FERRARA, 1986FERRARA, Lucrécia D'Aléssio. Leitura sem Palavras. São Paulo: Ática, 1986.; FROST; MARTIN, 1996FROST, Peter; MARTIN, Joanne. The Organizational Culture War Games: a struggle for intellectual dominance. In: CLEGG, Stewart R .; HARDY, Cynthia ; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 599-621.; SANTOS, M., 1985SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.).

Conclui-se, assim, que, mais do que necessário, é possível ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais, considerando que: o pensar e o agir sobre o objeto cidade estão intrinsecamente relacionados, o desenvolvimento do conceito de cidade como organização implica na instrumentalização da gestão desta organização, o campo dos estudos organizacionais integrado a outros campos de conhecimento oferece recursos para o desenvolvimento deste conceito e, em correlato, instrumentalização desta gestão.

REFERÊNCIAS

  • CHANLAT, Jean-François. Por uma Antropologia da Condição Humana nas Organizações. Tradução Ofélia de Lanna Sett Torres. In: TORRES, Ofélia de Lanna Sett (Org.) O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. Tradução Arakcy Martins Rodrigues et al. 2. Ed. São Paulo: Atlas 1993. p. 21-45.
  • CANEVACCI, Massimo. A Cidade Polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. Tradução Cecília Prada. 1. ed. São Paulo: Studio Nobel, 1993.
  • CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia. Conclusion: Representations. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996a. p. 676-708.
  • CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia. Introduction: Organizations, Organization and Organizing. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996b. p. 1-28.
  • COSTA, Eunice R.; DOUCHKIN, Tatiana. Thesaurus Experimental de Arquitetura Brasileira. São Paulo: FAUUSP, 1982.
  • COX-Jr., Taylor; NKOMO, Stella M. Diverse Identities in Organizations. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 338-356.
  • CZARNIAWSKA-JOERGES, Barbara. Learning Organizing in a Changing Institutional Order: examples from city management in Warsaw. Management Learning. SAGE Publication. London, v. 28, n. 4, p. 475-495, dez. 1997.
  • DELLE DONNE, Marcella. Teorias sobre a Cidade. Tradução José Manuel de Vasconcelos. Lisboa: Martins Fontes, 1979. Título original: Teorie sulfa Citá.
  • EGOS. European Group of Organizational Studies, 19., 2003. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/ Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
    » http://www.egos.cbs.dk
  • ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996.
  • ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 21., 1997, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1997.
  • ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 22., 1998, Foz do Iguaçu. Anais eletrônicos ... Foz do Iguaçu: ANPAD, 1998.
  • ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 23., 1999, Foz do Iguaçu. Anais eletrônicos... Foz do Iguaçu: ANPAD, 1999.
  • ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 24., 2000, Florianópolis. Anais eletrônicos... Florianópolis: ANPAD, 2000.
  • ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 25., 2001, Campinas, SP. Anais eletrônicos ... Campinas, SP: ANPAD, 2001.
  • FERNANDES, Bruno H. Rocha; FONSECA, Valéria Silva da; SILVA, Clóvis L. Machado da. Cognição e Institucionalização na Dinâmica da Mudança em Organizações. In: CUNHA, Miguel P.; RODRIGUES, Suzana Braga (Org.). Estudos Organizacionais: novas perspectivas na administração de empresas: uma coletânea luso-brasileira. São Paulo: Iglu, 2000. p. 123-150.
  • FERRARA, Lucrécia D'Aléssio. Leitura sem Palavras. São Paulo: Ática, 1986.
  • FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea, Cidades Estratégicas: aprendendo com fragmentos e configurações do local. In: FISCHER, Tânia. Gestão Contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996a.
  • FISCHER, Tânia ; et al. A Cidade como teia organizacional: inovações, continuidades e ressonâncias culturais - Salvador da Bahia, cidade puzzle. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes (Org.) Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 254-269.
  • FISCHER, Tânia ; et al. Teias Urbanas, Puzzles Organizativos: inovações, continuidades e ressonâncias culturais. In: ENANPAD, Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, 20., 1996, Rio das Pedras, RJ. Anais... Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1996b. p. 239-254.
  • FROST, Peter; MARTIN, Joanne. The Organizational Culture War Games: a struggle for intellectual dominance. In: CLEGG, Stewart R .; HARDY, Cynthia ; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 599-621.
  • HEGEDÜS, András. Organização. ln: BOTTOMORE, Tom; OUTHWAITE, William (Ed.). Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Tradução Álvaro Cabral e Eduardo Francisco Alves. 1 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 537-538.
  • LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 2. ed. rev. e amp. São Paulo: Atlas, 1995.
  • LOWIE, Robert H. Organização Social. Tradução Asdrúbal Mendes Gonçalves. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970. p. 139-155. Título Original: Social Organization. Originalmente publicado no Encyclopedia of the Social Sciences, v. XIV, p. 141-148. (Coleção Biblioteca de Ciência Sociais, v. 9.)
  • MAC-ALLISTER, Mônica. Organização-cidade: uma contribuição para ampliar a abordagem do objeto cidade como objeto de estudo no campo dos estudos organizacionais. 2001. 204 f. Tese (Doutorado em Administração) - Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
  • MAC-ALLISTER, Mônica. Emergência do Espaço Organizacional para a Gestão Social. Colóquio Internacional sobre Poder Local: gestão XXI, gestão· social e gestão do desenvolvimento, 9., 2003, Salvador. Anais... Salvador: UFBA/NPGA/NEPOL/PDGS, 2003a. CD-Rom.
  • MAC-ALLISTER, Mônica. City-organization: a contribution towards a wider approach of the object city as a study subject in the field of organizational studie In: European Group of Organisational Studies, EGOS, 19., 2003b, Copenhague. Anais eletrônicos. Copenhague: EGOS/Copenhagen Business School, 2003. Disponível em: Disponível em: http://www.egos.cbs.dk /. Acesso em: 2 jul. 2003.
    » http://www.egos.cbs.dk
  • MOTTA, Fernando C. Prestes. Teoria das Organizações: evolução e crítica. São Paulo: Pioneira, 1986.
  • PARK, Robert Ezra. A Cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. Tradução Sérgio Magalhães Santeiro. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 29-72. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XX, mar. 1916, p. 577-612.
  • PARK, Robert Ezra. Comunicação. Tradução Paulo F. Lopes. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970a. p. 55-76. Título Original: Reflections on Communication and Culture. Originalmente publicado no The American Journal of Sociology, v. XLIV, n. 2, set. 1938, p. 187-205.
  • PARK, Robert Ezra. Simbiose e socialização: "quadro de referência" para o estudo da sociedade. Tradução Lavinia Vilela. In: PIERSON, Donald (Org.) Estudos de Organização Social. v. 2, Leituras de Sociologia e Antropologia Social. São Paulo: Martins, 1970b. p. 109-136. Título Original: Symbiosis and Socialization: a frame of reference for the study of society. Originalmente publicado no The American Journal of Socio/ogy, V. XLV, n. 1, jul. 1939, p. 1-25.
  • REED, Michael. Organizational Theorizing: a historically contested terrain. In: CLEGG, Stewart R .; HARDY, Cynthia ; NORD, Walter R (Org.). Handbook of Organization Studies. 1st ed. London: SAGE, 1996. p. 31-55.
  • SANTOS, Milton et al. (Org.) A Construção do Espaço. São Paulo: Nobel, 1986.
  • SANTOS, Milton et al. (Org.). Globalização e Espaço Latino-americano. 2. ed. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1993a.
  • SANTOS, Milton et al. (Org.). O Novo Mapa do Mundo: fim de século e globalização. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1993b.
  • SANTOS, Milton et al. (Org.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: HUCITECH/Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR, 1994a. p. 45-50.
  • SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
  • SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.
  • SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. SãoPaulo: Hucitec, 1994b.
  • SANTOS, Milton. O Centro da Cidade do Salvador: estudo de geografia urbana. Salvador: Universidade da Bahia, 1959.
  • SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.
  • SANTOS, Milton. Por uma Economia Política da Cidade: O Caso de São Paulo. São Paulo: Hucitec/ EDUC, 1994c.
  • SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1990.
  • SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994d.
  • SPINK, Peter. O Lugar do Lugar na Análise Organizacional. In: ENEO, Encontro Anual de Estudos Organizacionais, 1., 2001, Curitiba. Anais eletrônicos ... Curitiba: ENEO/ANPAD, 2001.
  • VIEIRA, Eurípedes Falcão; VIEIRA, Marcelo Milano Falcão. Geoestratégia dos espaços econômicos: o paradigma espaço-tempo na gestão de territórios globais. In: FISCHER, Tânia (Org.) Gestão do desenvolvimento e dos poderes locais: marcos teóricos e avaliação. Salvador: Casa da Qualidade, 2002. p. 45-60.
  • WEBER, Max. Conceitos e Categorias da Cidade. Tradução Antônio Carlos Pinto Peixoto. In: VELHO, Otávio Guilherme. O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967. p. 73-122. Originalmente publicado no Archiv für Sozialwissenshaft und Sozial politik, v. 47 como parte do trabalho intitulado Die Stadt. (Coleção Textos Básicos de Ciências Sociais).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 2004
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br