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O modo e a ordem de conhecer na Suma Teológica de Tomás de Aquino: aspectos essenciais para a formação do mestre na universidade medieval 1 1 Editor responsável: Alexandre Filordi de Carvalho. https://orcid.org/0000-0003-4510-9440 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Maria Thereza Sampaio Lucinio - thesampaio@uol.com.br 3 3 Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Número do processo: 307523/2021-7.

Resumo

O objetivo do artigo é analisar o modo como o teólogo dominicano Tomás de Aquino entende os procedimentos pelos quais o intelecto humano conhece as coisas inferiores a si mesmo, bem como a importância de se conhecer esse processo para a formação do mestre no Ocidente medieval. A fonte para o desenvolvimento deste estudo é a Questão 85 da Primeira Parte da Suma Teológica, intitulada “O modo e a ordem de conhecer”. A Questão supracitada apresenta um dos fundamentos da Filosofia da Educação tomasiana e pode, a nosso ver, ensinar lições importantes para os professores do século XXI. O método empregado para o desenvolvimento da pesquisa é o da História Social, cujos pressupostos teóricos remontam às obras de Bloch, Febvre, Braudel e outros historiadores ‘herdeiros’ da escola dos Annales.

Palavras-chave
Filosofia da Educação; Formação Docente; Conhecimento da Realidade; Intelectuais

Abstract

The objective of the article is to analyze how Thomas Aquinas understands the procedures of the intellect to understand things inferior to the human soul, as well as the importance of knowing this process for the education of the master in Western medieval times. Our source is Question 85 of First Part of Summa Theologica, entitled ‘Of the mode and order of understanding’. This Question shows one of the main fundamentals of the Thomasian Philosophy of Education and can, in our opinion, teach important lessons for 21st century teachers. The method of research is Social History, whose theoretical principles can be found in the works by Bloch, Febvre, Braudel, and other historians, ‘heirs’ of Annales school.

Keywords
Philosophy of Education; Teacher formation; Knowledge of reality; Intellectuals

Considerações iniciais

Este artigo tem como tema a complexa relação entre alma e educação concebida pelo teólogo dominicano Tomás de Aquino, importante mestre universitário do século XIII. Nosso objetivo principal é analisar alguns aspectos da compreensão de Aquino sobre o processo de aprendizagem, com a intenção de fomentar o estudo dos textos tomasianos no necessário processo de formação docente sem, contudo, pretender esgotar o debate. Para isso, utilizaremos como fonte a Questão 85 da Primeira Parte da Suma Teológica, intitulada “O modo e a ordem de conhecer” e na qual o autor investiga como os homens podem conhecer as coisas que estão abaixo de si na hierarquia dos seres criados.

Reconhecemos a complexidade da discussão sobre o intelecto e a aprendizagem na obra de Tomás de Aquino. O teólogo dominicano dedicou-se ao estudo da problemática educativa em diversas obras, principalmente naquelas voltadas ao público universitário, como a Suma Teológica, o Compêndio de Teologia, as Questões Disputadas, A Unidade do Intelecto Contra os Averroístas, entre outras. Nenhum artigo científico conseguiria abranger integralmente todos os detalhes do pensamento do mestre de Aquino sobre o assunto, de modo que nos dedicamos, neste texto em particular, a um aspecto que julgamos importante e com potencial de suscitar em nós, professores e professoras do século XXI, reflexões necessárias sobre nosso ofício. A Questão mencionada sobre como conhecemos as coisas existentes e que estão, segundo a cosmologia tomasiana, abaixo de nós na hierarquia dos seres, contém em si essa complexidade do pensamento do teólogo dominicano, que pode e deve ser estudado em suas próprias obras e, também, nas obras daqueles que, corajosamente, se dedicaram ao estudo das ideias de Tomás de Aquino sobre o conhecimento e a educação4 4 Alguns dos estudos sobre o assunto podem ser verificados em Rousselot (1999), Amatuzzi (2008), Sanguineti (2011), Muñoz (2012), Cuccia (2017) e Cuccia e Muñoz (2018). .

Diante disso, nossa intenção é demonstrar a preocupação de Tomás de Aquino com a formação dos intelectuais cristãos ocidentais do século XIII, expressa em suas ideias sobre como o conhecimento das coisas se processa. Com efeito, a Suma Teológica, como o próprio teólogo demonstrou no Prólogo, destinava-se aos estudantes da Faculdade de Teologia, que precisavam conhecer os temas e abordagens teológicas de maneira metódica a fim de se tornarem bons Doutores em Teologia e, portanto, bons professores.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que constituem um tema teológico, o modo e a ordem de conhecer são também problemas de ordem didático-pedagógica. A Questão 85 integra um tratado sobre o homem, que pode ser subdivido em duas partes. A primeira subdivisão é composta por 9 Questões (q. 75-83) e focaliza a constituição do homem como ser criado, isto é, desde a essência da alma, passando pela união da alma com o corpo até chegar às suas potências (intelectivas e apetitivas). A segunda compreende 6 Questões (q. 84-89) e trata, especificamente, do pensamento humano. A Questão 85 está inserida nesse segundo grupo, que aborda os seguintes problemas: 1) como é possível que a alma conheça alguma coisa (q. 84)?; 2) qual é o itinerário do pensamento, isto é, quais os processos e procedimentos inerentes ao ato de pensar (q. 85)?; 3) como a alma conhece as coisas materiais (q. 86), a si mesma (q. 87) e as coisas superiores a ela (q. 88)?; 4) enfim, como se pode conhecer alguma coisa no caso da alma separada do corpo (q. 89) ? Como podemos verificar, o autor procurou sintetizar o debate sobre o ato humano de pensar, de modo que o aluno da Faculdade de Teologia pudesse, na medida do possível, se aprofundar na temática, buscando novos estudos, se necessário, e se posicionar nos debates universitários. Além disso, a abordagem do mestre de Aquino revela uma preocupação em fornecer ao estudante uma visão abrangente acerca da ‘natureza’ do pensar, permitindo uma perspectiva de totalidade sobre os caminhos pelos quais um homem pensa.

Acreditamos, portanto, que os escritos tomasianos sobre o modo e a ordem de conhecer fomentavam saberes essenciais a toda pessoa que se destinava, de uma maneira ou de outra, à docência. Não temos como afirmar que todo estudante da Faculdade de Teologia que ouviu e leu as lições de Tomás de Aquino se tornou professor. No entanto, defendemos a tese de que toda ação humana que produz no outro alguma mudança é, em algum sentido, uma ação educativa. Assim, um Doutor em Teologia, que fora aluno de Tomás de Aquino e que, eventualmente, se tornara sacerdote responsável por uma paróquia, ensinava todas as vezes em que fazia um sermão ou exortação, de modo que os ensinamentos do mestre de Aquino poderiam ser úteis tanto do ponto de vista do conteúdo como do método e da abordagem. Por isso, acreditamos ser fundamental entender a Questão 85 da Primeira Parte da Suma Teológica como uma reflexão teológica com importantes desdobramentos pedagógicos, contribuindo, assim, para a compreensão de uma filosofia da educação tomasiana, fundamental também para os educadores do século XXI.

Nessa perspectiva, salientamos que nossa motivação para os estudos emerge do contexto universitário, de cursos e programas destinados à formação docente, que nos vinculam aos campos da Filosofia da Educação e da História da Educação e à tradição metodológica da Escola dos Annales (Bloch, 2001Bloch, M. L. B. (2001). Apologia da história, ou, O ofício do historiador. Jorge Zahar Ed.; Braudel, 2014Braudel, F. (2014). Escritos sobre a história. Perspectiva.; Febvre, 1985Febvre, L. (1985). Combates pela história. Editorial Presença.; Mendes, 2011Mendes, C. M. M. (2011). A importância da pesquisa de fontes para os estudos históricos. Acta Scientiarum. Education, 33(2), 205-209. http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciEduc/article/view/14174
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/A...
). De acordo com esses teóricos, o trabalho do historiador encontra sentido quando ele se volta para a História a partir dos problemas de seu presente, procurando explicações essenciais sobre as ações humanas no tempo, portanto, nos vestígios deixados pelos antigos. Desse modo, em razão de nossas preocupações com a formação do educador no Brasil contemporâneo, voltamo-nos para a experiência de Tomás de Aquino na cristandade ocidental do século XIII. Que espécie de provocações as obras tomasianas suscitam nos homens do presente, com potencial para fazê-los repensar suas próprias práticas? Essa é, a nosso ver, a pergunta essencial que nos orienta na análise da fonte.

Além disso, a realidade educacional brasileira exige dos pesquisadores da área da educação um esforço coletivo para a proposição de questões e de soluções que deem conta da atual conjuntura nacional. Ao lado dos problemas que as avaliações nacionais e internacionais evidenciam ano após ano e que refletem a urgência de se repensar a ação educativa com vistas à satisfação das necessidades de aprendizagem da população brasileira, educadores e estudantes têm enfrentado sucessivas crises de natureza política, que impactam negativamente a educação escolar5 5 Ainda que estejamos a tratar, nesse trecho em particular, da educação escolar, entendemos que o fenômeno educativo encara, hoje, uma espécie de crise generalizada. Podemos observar evidências desse processo em diversos âmbitos da sociedade. O fenômeno das fake news, por exemplo, é, ao mesmo tempo, causa e efeito dessa crise. É causa na medida em o texto falso assume-se como legítimo e, portanto, tem pretensão de evidenciar a ‘verdade’ acerca de um acontecimento, o que resulta em não aprendizagem e em desinformação. É efeito porque, em nosso entender, fake news não prosperariam em sociedades formadas com base nos saberes e valores da ciência, da filosofia e da arte, enfim, no conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, segundo os termos de Saviani (2012). . A escola e as instâncias que concebem, formulam e viabilizam políticas educacionais passaram a ser, nos últimos anos, palco de divergências ideológicas aparentemente inconciliáveis, em que os protagonistas agem com o objetivo de eliminar seus antagonistas – vide a organização de grupos em torno da ideia de uma ‘escola sem partido’ –, como se fossem entidades incapazes de coexistirem. Coloca-se em risco, nesse contexto, a possibilidade do conhecimento reflexivo e do debate, condições fundantes de uma sociedade civilizada, orientada pelos valores do Estado democrático e de direitos.

Por isso, submetemos ao debate da comunidade científica as lições da Filosofia e da História da Educação Medieval, que entendemos ser importantes. Acreditamos que a relevância do estudo ora apresentado reside no potencial explicativo da fonte que elegemos, reconhecidamente um clássico6 6 Ali Benmakhlouf (2018) ilustra o status de ‘clássico’ de Tomás de Aquino, referendado pela tradição historiográfica ocidental: “É aconselhável esboçar o retrato de Tomás de Aquino como um ‘homem da Idade Média’, pois o peso da obra frequentemente faz com que se esqueça de seu autor. Há séculos que ele se tornou o principal doutor da Igreja católica. Sua estatura de teólogo também repousa sobre uma base filosófica forte e rigorosa. Que fique claro: não se trata de minimizar sua contribuição: depois de Alberto, ele soube adaptar o patrimônio aristotélico à doutrina cristã. Seu trabalho minucioso sobre a forma substancial única permitiu reintegrar o corpo na doutrina cristão. Ele soube afrontar as tensões inerentes ao cristianismo, não por uma simples ultrapassagem formal, mas por um verdadeiro aprofundamento. Defendeu a força da razão humana. [...] Para resumir, ele foi um prodigioso pensador” (p. 250). do pensamento ocidental – e a opção pela análise de um texto clássico é outro aspecto teórico que merece atenção. Nesse ponto em particular, seguimos o exemplo de outros estudiosos da História e da Filosofia da Educação Medievais, como Luiz J. Lauand, Carlos A. R. do Nascimento, Ruy A. da C. Nunes, Reinholdo A. Ullmann e tantos outros que entendem a necessidade do estudo dos clássicos como os fundamentos para a formação docente. Com efeito, historiadores e historiadores da Filosofia (cf. Libera, 1990Libera, A. (1990). A filosofia medieval. Jorge Zahar Editor.; Gilson, 1995Gilson, E. (1995). A filosofia na Idade Média. Martins Fontes.; Oliveira, 2005Oliveira, T. (2005). Escolástica. Editora Mandruvá: Universidade do Porto.; Boehner & Gilson, 2007Boehner, P., & Gilson, E. (2007). História da filosofia cristã. Vozes.; Le Goff, 2010Le Goff, J. (2010). Os Intelectuais na Idade Média. José Olympio.) concordam que o trabalho de Tomás de Aquino foi essencial para o desenvolvimento da escolástica como filosofia e como método da Universidade medieval, sendo considerado, por um lado, um dos principais promotores da conciliação da Razão com a Fé, da Filosofia com a Teologia; por outro, um professor sistemático, claro e profundo, que conduzia a lectio e a disputatio, as duas instâncias principais do método escolástico, com rigor e dedicação. A Suma Teológica é exemplar dessas características e um demonstrativo da condição de ‘clássico’ de seu autor, que se empenhou em integrar-se às questões de sua época e entendê-las numa perspectiva de totalidade.

O modo e a ordem de conhecer na Suma Teológica

A Questão 85 da Primeira Parte da Suma Teológica está dividida em 8 Artigos. No primeiro, questiona-se se o intelecto humano conhece as coisas corpóreas e materiais a partir da abstração das representações imaginárias. No segundo, o problema que se coloca é se as espécies inteligíveis, produtos da abstração, figuram no intelecto como o que é conhecido ou como aquilo por meio do que conhecemos. No terceiro, pergunta-se se aquilo que é mais universal é anterior na ordem do conhecimento. No quarto, procura-se estabelecer se o intelecto pode conhecer muitas coisas ao mesmo tempo. No quinto, investiga-se se o intelecto conhece por composição e divisão. No sexto, indaga-se se o intelecto pode errar. No sétimo, pergunta-se se alguém pode conhecer alguma coisa melhor do que outrem. No oitavo, enfim, questiona-se se o intelecto conhece o indivisível antes do divisível.

O primeiro Artigo é, talvez, o mais importante dessa Questão, pois os outros sete são uma espécie de desdobramentos das conclusões firmadas nele. Por isso, compreendê-lo bem é fundamental para entender o debate e atingir os objetivos propostos. Na resposta do primeiro Artigo, Tomás de Aquino explica que há três graus da potência cognoscitiva: um primeiro, vinculado aos sentidos corporais; um segundo, desvinculado totalmente dos sentidos corporais; e um terceiro que está, ao mesmo tempo, vinculado aos sentidos corporais e desvinculado deles. No primeiro grau, encontram-se os animais irracionais e, no segundo, os anjos. O intelecto humano vincula-se ao terceiro grau da potência cognoscitiva e, por um lado, depende dos sentidos corporais por causa da união da alma com o corpo e, por outro, vai além do conhecimento sensível e chega até o conhecimento das coisas imateriais7 7 Para se aprofundar na compreensão desses diferentes graus da potência cognoscitiva, além das outras Questões que compõem, juntamente com a Questão 85, o Tratado sobre o homem, será preciso ler as Questões Disputadas Sobre a Alma, conjunto de lições ministradas por Tomás de Aquino no Studium de Santa Sabina, provavelmente, entre 1266 e 1267, na mesma época em que escrevia a Suma Teológica – esta última iniciada em 1265. Além desse texto, recomendamos a leitura do Livro II da Suma Contra os Gentios, do opúsculo A Unidade do Intelecto Contra os Averroístas, das Questões Disputadas Sobre as Criaturas Espirituais e das Questões Disputadas Sobre a Verdade. :

O intelecto humano se põe no meio: não é ato de um órgão, mas é uma potência da alma, que é forma do corpo, como ficou demonstrado. Por isso, é sua propriedade conhecer a forma que existe individualizada em uma matéria corporal, mas não essa forma enquanto está em tal matéria. Ora, conhecer dessa maneira, é abstrair a forma da matéria individual, que as representações imaginárias significam. Pode-se, portanto, dizer que nosso intelecto conhece as coisas materiais abstraindo das representações imaginárias. E mediante as coisas materiais consideradas dessa maneira, chegamos a um conhecimento das coisas imateriais, enquanto os anjos ao contrário, conhecem as coisas materiais pelas imateriais.

(Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 523, grifo nosso)[8 8 (ST, I, q. 85, a. 1, conc., grifo nosso). Para garantir o acesso do leitor a qualquer edição da Suma Teológica, indicaremos, em nota de rodapé, a referência que permite a consulta. ‘ST’ designa ‘Suma Teológica’; o número romano na sequência refere-se à Parte da Suma Teológica na qual está a Questão; depois, vem o número da Questão acompanhada de ‘q.’; na sequência, apresenta-se o número do Artigo citado acompanhado de ‘a.’, depois, a informação de qual parte do Artigo estamos citando, se a resposta do mestre, identificado com a sigla ‘conc.’, se a resposta do mestre às objeções, identificada com a sigla ‘resp.’ seguido do número da objeção respondida. ].

Essa concepção de intelecto humano reflete, a nosso ver, no processo de formação da alma. Em primeiro lugar, a educação dependeria da experiência sensível, mas não de qualquer experiência sensível. Não é porque, por exemplo, em algum momento da vida nos deparamos com um jabuti que conhecemos sua forma inteligível. Os dados oriundos dos sentidos são matéria-prima para a produção, em nossa alma, do que Tomás de Aquino chama de ‘representações imaginárias’, ou fantasmas, a partir das quais o intelecto agente abstrai a forma inteligível. Essa ação de abstrair as formas inteligíveis das representações imaginárias pressupõe, segundo o teólogo dominicano, certo modo e certa ordem – daí o título da Questão, ou seja, o modo e a ordem de conhecer.

As representações imaginárias são princípios do conhecimento intelectivo de que o ser humano é capaz e são produzidas pela e para a alma a partir de suas potências sensitivas e cognitivas. Com isso, chegamos à segunda implicação essencial dessas concepções acerca do intelecto humano: o progresso da alma intelectiva estaria atrelado à ampliação da experiência sensível, que cresce qualitativa e quantitativamente com a maturação do organismo e com o convívio social.

Honoré de Balzac (1959)Balzac, H. de. (1959). O filho maldito. In H. de Balzac. A comédia humana (vol. XVI). Globo., romancista do século XIX, demonstra essa questão na caracterização do personagem Estevão, de O filho maldito. Fruto de um romance anterior ao casamento entre Joana e o Duque de Hérouville, Estevão foi renegado pelo pai e protegido pela mãe durante a infância e parte da adolescência. A privação do convívio com a sociedade, aliada à superproteção diante do sofrimento inerente à vida humana, tornou Estevão frágil demais para lidar com os problemas cotidianos da nobreza francesa do século XVI – o que o levou à morte. Esse exemplo da literatura é importante porque retrata uma realidade que não é radicalmente diferente da nossa e que é tema de pesquisas em diversas áreas do conhecimento, como a apresentada no livro Podres de mimados: as consequências do sentimentalismo tóxico, de Theodore Dalrymple (2015)Dalrymple, T. (2015). Podres de mimados: As consequências do sentimentalismo tóxico. É Realizações.. Privar as crianças e adolescentes dos problemas da vida em sociedade não significa, necessariamente, protegê-los; pode significar privá-los da aprendizagem necessária à uma vida adulta saudável.

A ideia de que o ato de pensar do homem, a abstração, está relacionado às representações imaginárias desenvolvidas pela alma a partir dos dados dos sentidos, por um lado, e que culminam na apreensão das formas inteligíveis, por outro, desencadeia os problemas abordados por Tomás de Aquino nos Artigos subsequentes. Assim, no segundo Artigo, o teólogo investiga se a espécie inteligível é o que, de fato, o intelecto conhece ou é aquilo pelo qual ele conhece. Na conclusão do Artigo, ele defende que, na verdade, as espécies inteligíveis são aquilo pelo que o intelecto conhece a realidade, e o conceito que torna isso possível é o de ‘semelhança’ (Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 527-529)9 9 (ST, I, q. 85, a. 2, conc.). .

Com efeito, o intelecto processa as representações imaginárias e extrai delas as ‘semelhanças’, que são como uma relação de correspondência entre a coisa a ser conhecida e sua forma inteligível. O conhecimento que podemos ter de certa realidade, nesse sentido, nunca compreende a coisa em sua integralidade e depende, em grande medida, de condicionantes do processo de aprendizagem. O conhecimento que podemos ter da realidade ‘cavalo’ dependerá de como o processo de pensar essa realidade será conduzido. Há quem pense que um cavalo é um animal para o trabalho e outras pessoas que o consideram um animal de recreação, ou mesmo um meio de transporte. Essas diferentes ideias acerca da realidade ‘cavalo’ são semelhanças, isto é, certas correspondências entre a coisa conhecida e sua espécie inteligível.

Isso não significa, porém, que, na perspectiva tomasiana, o conhecimento da realidade é sempre relativo. O que determina a ‘verdade’, por assim dizer, são as espécies inteligíveis a partir das quais forjamos essas semelhanças. O ato de pensar se relaciona com as espécies inteligíveis de maneira dinâmica, de modo que é possível que as pessoas tenham diferentes ideias acerca da realidade. As espécies inteligíveis tomadas integralmente são inacessíveis aos homens por causa da união da alma com o corpo, mas isso não significa que elas não desencadeiam o processo abstrativo que resulta na aprendizagem.

A questão que se coloca, diante disso, é o procedimento que torna esse processo possível. E aqui entramos nos temas abordados nos próximos Artigos da Questão 85, que demonstram a natureza gradual do conhecimento intelectual. Assim, no terceiro, Tomás de Aquino analisa se conhecemos, primeiramente, o que é universal. Para responder a esse problema, o autor esclarece que, na passagem das representações imaginárias para a abstração, nosso conhecimento progride do que é singular até chegar ao que é universal, diferindo do ponto de vista do pensamento abstrativo, em que o movimento parte do universal para o singular (Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 531-532)10 10 (ST, I, q. 85, a. 3, conc.). .

Quando empregamos os sentidos para apreender certa realidade, o que se coloca diante de nós é algo caótico, confuso. À medida que formamos as representações imaginárias, a realidade em processo de conhecimento é ordenada, paulatinamente, até formamos uma ideia global dessa realidade. Tomás de Aquino dá o exemplo da visão: quando enxergamos algo a uma distância muito grande, percebemos que é um animal; quando esse animal se aproxima, notamos que se trata de um homem, isto é, não é um leão ou um cervo, mas um homem; quando esse homem se aproxima ainda mais, percebemos que se trata de João, não de Pedro ou Carlos, mas sim João.

Na abstração, o processo ocorre de modo distinto. Quando adquirimos certo grau de conhecimento da realidade, aplicamos esse conhecimento para aprender sobre novas realidades. As semelhanças, das quais já tratamos acima, são aplicadas, e colocam-se em processo os atos intelectivos de composição e divisão, que são explicados no quinto Artigo da Questão 85. No momento em que nos encontramos com o humano João, temos uma ideia universal do que ele é (animal racional) e, mediante as informações que podemos obter depois de conhecê-lo melhor, podemos verificar se ele é um homem corajoso ou covarde, leal ou desleal etc. Essas ideias de ‘corajoso’, ‘covarde’, ‘leal’ e ‘desleal’ são também semelhanças, que são ensinadas e aprendidas mediante a correspondência entre representações imaginárias e espécies inteligíveis, assim como as ideias de ‘homem’ e ‘cavalo’.

Essas reflexões são fundamentais tanto para os mestres do século XIII quanto para nós, educadores do século XXI. Elas suscitam questionamentos de ordem pedagógica que não podemos deixar de fazer como, por exemplo, a necessidade de aprender por aproximação, ou seja, de nos aproximarmos do que não conhecemos por meio do que já conhecemos. Considerando as distâncias que separam o século XIII da contemporaneidade, afirmar que aprendemos coisas novas a partir do que é conhecido não é muito diferente do que afirmam educadores próximos de nós, como Saviani (2012)Saviani, D. (2012). Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. Autores Associados., Libâneo (2013)Libâneo, J. C. (2013). Didática. Cortez. e Gasparin (2009)Gasparin, J. L. (2009). Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Autores Associados.. Observamos, diante disso, que o estudo das reflexões tomasianas sobre a aprendizagem demonstram a importância de uma análise de longa duração da prática educativa, a fim de verificar aspectos essenciais do ensino e da aprendizagem que são esquecidos ou negligenciados numa ação educativa aligeirada e desprovida de fundamentação teórico-metodológica. Seja qual for a razão do esquecimento ou da negligência, se ignorância ou má-fé, cabe à ciência, particularmente à História, lembrar o homem de sua própria humanidade.

O próximo elemento importante para compreendermos os procedimentos do ato de pensar é a possibilidade de conhecermos várias coisas ao mesmo tempo, tema do quarto Artigo. Sobre isso, Tomás de Aquino argumenta que o homem conhece coisas diversas se essas coisas compuserem uma unidade. Nesse sentido, é possível conhecer várias coisas ao mesmo, desde que estejam relacionadas e ligadas à mesma espécie inteligível (Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 535)11 11 (ST, I, q. 85, a. 4, conc.). . Voltemos ao exemplo do cavalo: quando aprendemos o que é o cavalo, percebemos que há uma espécie inteligível de cavalo; circunscrita nessa mesma espécie inteligível, há várias coisas distintas que apreendemos ao mesmo tempo, isto é, as partes do corpo de um cavalo, o fato de ele ser um quadrúpede, forte e veloz etc.

Essas considerações também são relevantes para a compreensão da perspectiva tomasiana da formação humana, de modo que se configura como princípio da formação docente: a possibilidade, segundo Tomás de Aquino, de desenvolvermos um saber complexo a respeito da realidade, ou seja, a aprendizagem deve ‘fazer sentido’. A aprendizagem de diversas coisas ocorre se elas formarem uma unidade, isto é, se estiverem relacionadas entre si de alguma maneira. Considerando que aquele que aprende só se encontra nessa condição porque não sabe, a responsabilidade de organizar os diversos objetos da aprendizagem a fim de que eles formem uma unidade que ‘faça sentido’ é daquele que ensina, do educador. Essa organização ocorre mediante o domínio do conteúdo e do planejamento prévio do ensino12 12 Tomás de Aquino desenvolve essa discussão sobre o ensino em outras obras, como na Questão 11 das Questões Disputadas Sobre a Verdade (Tomás de Aquino, 2004) e no Artigo 3 da Questão 181 da Segunda Seção da Segunda Parte da Suma Teológica (ST, II-II, q. 181) (Tomás de Aquino, 2016, p. 1013-1014). . Ora, esses princípios também aparecem na Pedagogia contemporânea, evidenciando a pertinência do texto de Tomás de Aquino para a formação docente.

As reflexões presentes no terceiro e no quarto Artigos são enriquecidas pela leitura do quinto Artigo, no qual Tomás de Aquino explica os atos intelectivos de compor e dividir. De acordo com o autor, o intelecto humano consegue desenvolver as ‘semelhanças’ das espécies inteligíveis por composição e divisão:

É necessário que o intelecto humano conheça por composição e divisão. Passando da potência ao ato, ele se assemelha às coisas passíveis de geração, que não têm imediatamente toda a sua perfeição, mas a adquirem gradualmente. Igualmente, o intelecto humano não obtém desde a primeira apreensão o conhecimento perfeito de uma coisa; mas conhece primeiramente algo dela, por exemplo, sua quididade, que é o objeto primeiro e próprio do intelecto; depois conhece as propriedades, os acidentes, os modos de ser, que têm relação com a essência da coisa. Desse modo, deve compor os elementos apreendidos ou dividi-los, e em seguida passar de uma composição ou divisão a outra, o que é raciocinar.

(Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 537)[13 13 (ST, I, q. 85, a. 5, conc.). ].

Verificamos, assim, que aprendemos pelo raciocínio, que consiste em compor e dividir as representações imaginárias. Não nos cabe simplificar o pensamento de Tomás de Aquino, mas acreditamos que seja possível inferir que o resultado do raciocínio é uma espécie de síntese, produzida pelo educando a partir de suas representações imaginárias e com a mediação do educador. Assim, apreender a realidade é uma ação racional de aproximação e distanciamento, de divisão e composição, que pode acontecer de diversas maneiras, uma vez que se dá no tempo de maneira contextualizada, como o próprio teólogo afirma na resposta à segunda objeção: “o ato de compor e dividir acontece no tempo” (Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 537)14 14 (ST, I, q. 85, a. 5, resp. 2). .

Um dos aspectos relevantes desse debate reside no fato de que é por causa do raciocínio, isto é, das operações de compor e dividir, que o intelecto pode errar. O erro, no texto tomasiano, pode ser considerado como discrepância entre a realidade e o que se pensa a respeito dela. A possibilidade de erro do intelecto é discutida no sexto Artigo e é apresentada pelo autor de maneira diligente. Isso acontece porque o intelecto, segundo ele, não pode errar quando se trata de seu objeto próprio. O que o intelecto apreende é sempre a quididade, isto é, a essência das coisas. O intelecto pode errar, no entanto, quando relaciona diversos elementos para se chegar ao conhecimento das espécies inteligíveis. Ao compor, dividir e raciocinar, eventualmente, o intelecto pode falhar na concatenação dos dados da aprendizagem, o que pode resultar em não aprendizagem. Isso é importante porque nos permite verificar a origem das falhas do processo educacional, que quase sempre são múltiplas e diversas e podem ser encontradas no processo do ensino, nem tanto no processo de aprendizagem – o que acaba por desmoralizar discursos que costumam transferir aos alunos a responsabilidade pelo seu fracasso:

Toda potência, enquanto tal, está por si ordenada a seu objeto próprio. As coisas que são dessa natureza se comportam sempre da mesma maneira. Assim, enquanto a potência permanece, não erra seu julgamento com relação ao objeto próprio.

O objeto próprio do intelecto é a quididade. Por isso, falando de maneira absoluta, o intelecto não erra sobre a quididade da coisa. Mas o intelecto pode enganar-se sobre os elementos que têm relação com a essência ou quididade, quando ele ordena um elemento para o outro, por composição, divisão ou mesmo raciocínio. Por isso, o intelecto tampouco pode se enganar sobre as proposições, que são imediatamente compreendidas desde que se compreende a quididade dos termos, como acontece com os primeiros princípios. São eles que asseguram a verdade das conclusões, no que se refere à certeza da ciência.

(Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 539)[15 15 (ST, I, q. 85, a. 6, conc.). ].

Há, ainda no Artigo 6, outras reflexões importantes sobre a verdade das conclusões e a certeza da ciência. Como podemos verificar na passagem acima, quando se alcança a quididade dos termos das proposições, consegue-se aproximar-se da verdade possível ao intelecto humano. Se, no raciocínio, nos desviamos dessa quididade, nos afastamos da verdade. É esse afastamento que determina a possibilidade de erro do intelecto. Esse processo ocorre, por exemplo, quando nos esforçamos por enquadrar a realidade em certos pressupostos teórico-metodológicos de nossa preferência, mesmo que esses pressupostos se mostrem insuficientes para compreendê-la. Os intelectuais16 16 Destacamos, aqui, que entendemos ‘intelectuais’ como agentes sociais importantes na compreensão da realidade, de modo que a atuação desse personagem na história deve ser analisada criticamente, numa perspectiva de totalidade e de longa duração (cf. Oliveira, Mendes & Santin, 2016). , estudiosos certificados, têm o compromisso de investigar a realidade e torná-la compreensível ao restante da população, apresentando à sociedade as melhores soluções possíveis para seus problemas, com boa margem de acerto e sempre esclarecendo seus pressupostos. Isso exige do intelectual a humildade de olhar-se no espelho e reconhecer a necessidade de não se dar por satisfeito com o que sabe. O intelectual define-se, também, pelo reconhecimento da própria falseabilidade e das consequências deletérias da vaidade, particularmente naquele cuja profissão é ensinar e praticar a ciência.

Em seguida, no Artigo 7, Tomás de Aquino questiona se uma mesma coisa pode ser mais bem conhecida por uma pessoa do que por outra. Na conclusão, o teólogo dominicano esclarece que há duas formas de considerar esse problema. Em primeiro lugar, podemos considerá-lo na perspectiva da coisa conhecida. Considerando que o objeto próprio do conhecimento intelectual é a quididade17 17 Vale lembrar que o conceito de quididade é empregado por Tomás de Aquino como sinônimo de essência substancial ou substância. Por isso, quando o autor afirmar que o objeto próprio do intelecto é a quididade, está a dizer que ao intelecto cabe apreender a essência substancial das coisas existentes, por meio das representações imaginárias, ou fantasmas, produzidas pelo trabalho integrado das potências da alma – desde as potências ligadas aos órgãos corporais, até as potências que transcendem o corpo, como podemos observar nas Questões Disputadas Sobre a Alma (Tomás de Aquino, 2012) e outras obras do mestre de Aquino. , como já esclareceu o autor, o intelecto não conhece melhor ou pior uma determinada essência substancial. Ou o intelecto a apreende, ou não. Portanto, do ponto de vista da coisa conhecida, não é possível que uma pessoa conheça melhor do que outra. Em segundo lugar, podemos considerar o problema na perspectiva do sujeito cognoscente. Aqui há possibilidade de uma pessoa conhecer melhor uma coisa do que outra, na medida em que a potência de conhecer pode estar mais bem disposta ao conhecimento em um do que em outro. Essa desigualdade de conhecimento, por assim dizer, depende, segundo o autor, de duas condições:

Primeiramente, do próprio intelecto que é mais perfeito. Pois, quanto melhor disposto é o corpo, tanto mais elevada a alma que lhe é atribuída; o que se verifica claramente nos seres de espécies diversas. A razão disso é que o ato e a forma são recebidos na matéria segundo a aptidão desta. E porque, mesmo entre os homens, há alguns cujo corpo é mais bem disposto, cabe-lhes uma alma cujo intelecto é mais vigoroso, razão por que se diz no livro II da Alma: ‘Os de compleição delicada têm a mente mais bem dotada’. – A segunda condição está ligada às faculdades inferiores das quais o intelecto tem necessidade para agir: aquelas que têm mais bem dispostas a imaginação, a cogitativa e a memória, são também as mais bem dispostas para a atividade intelectual. (Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., 541)[18 18 (ST, I, q. 85, a. 7, concl.). ].

Observamos que as concepções do mestre de Aquino em relação à desigualdade de conhecimento estão atreladas às condições de operação do intelecto. No entanto, acreditamos que essa questão necessita ser analisada com base em outros dados importantes, pois, embora possa parecer tão somente um problema de ordem psicomotora, configura-se, na verdade, como um problema multifacetado do qual devem se ocupar os mais variados campos da Pedagogia. Primeiramente, devemos considerar que o conceito tomasiano de intelecto se constitui como base para a formação do mestre na Universidade do século XIII porque é por ele que o ser humano se completa e, por conseguinte, se realiza como criatura (Santin, 2018Santin, R. H. (2018). A proposta tomasiana para a formação do educador no Ocidente Medieval do século XIII: O intelecto como princípio essencial da sabedoria magistral. [Tese de doutorado] Universidade Estadual de Maringá.) – configurando-se como um tema de interesse educacional. Em seguida, cabe ressaltar que o intelecto humano, de acordo com Tomás de Aquino, é uma das potências da alma mobilizadas para a aprendizagem e não a única potência da qual depende a aprendizagem (cf. Tomás de Aquino, 2012Aquino, T. de. (2012). Questões disputadas sobre a alma. É Realizações.).

Com efeito, o intelecto depende das representações imaginárias para realizar sua operação de apreender as essências substanciais das coisas por abstração. A produção, na alma, dessas representações imaginárias, ou fantasmas, depende de atividades sensitivas e intelectivas, passando pelos sentidos externos, pelos sentidos internos, pelas potências apetitivas sensoriais, pelas capacidades de locomoção, enfim, até chegar às potências intelectivas. Assim, percebemos que o processo de aprendizagem, da forma como o entende Tomás de Aquino, é complexo e envolve todo o composto humano. Não seria exagero afirmar que, para o teólogo dominicano, o homem aprende com a totalidade do seu ser. Isso significa que a aprendizagem depende da experiência do sujeito cognoscente.

Verificamos, com isso, que a desigualdade de conhecimento, segundo Tomás de Aquino, pode ser entendida como manifestação de uma capacidade abstrativa extraordinária, como ocorre com as pessoas com superdotação e altas habilidades, ou como manifestação de uma realidade assolada por desigualdades educacionais e de acesso ao conhecimento. Na passagem apresentada acima, extraída da conclusão do Artigo 7, o autor afirma claramente que o intelecto depende de ‘faculdades inferiores’ para agir, que são a imaginação, a potência cogitativa e a memória19 19 Uma análise dessas ‘faculdades inferiores’ pode ser encontrada na Questão 78 da Primeira Parte da Suma Teológica (cf. Tomás de Aquino, 2002). . Essas potências - a imaginação, a ‘cogitação’ e a memória - são atualizadas à medida que o sujeito interage com a realidade, seja por iniciativa e meios próprios, seja pela mediação de alguém mais experiente20 20 Sobre esses dois caminhos para se chegar ao conhecimento, a descoberta e o ensino, consultar as duas Questões já mencionadas neste texto, em outra nota, a Questão 11 das Questões Disputadas Sobre a Verdade e o Artigo 3 da Questão 181 da Segunda Seção da Segunda Parte da Suma Teológica. , pois são mobilizadas pela ação dos sentidos externos (tato, paladar, olfato, visão e audição) e do sentido comum que são, por sua vez, movidos pela vivência com as coisas sensíveis. Por isso, entendemos que a desigualdade de conhecimento, particularmente entre os sujeitos que não apresentam aquela capacidade extraordinária acima referida, deve-se às diversas formas de desigualdade que tornam o conhecimento mais acessível a uns do que a outros21 21 A questão da desigualdade educacional, de suas múltiplas causas e de seus variados efeitos, não é objeto desse estudo. Esse debate é amplo e empreendido por diversos intelectuais desde o século XIX. Podemos citar, por exemplo, Durkheim, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Gramsci, Althusser, Bourdieu, entre outros que dedicaram suas carreiras à investigação da desigualdade educacional e de suas razões, apontando caminhos e perspectivas de análise que pudessem, de algum modo, combater o problema do acesso ao conhecimento sistematizado. Não estamos, com isso, comparando o debate travado por Tomás de Aquino ao debate travado por esses intelectuais contemporâneos. A realidade do século XIII é muito diferente do contexto dos séculos XIX e XX. Contudo, acreditamos que uma análise de longa duração do problema da desigualdade educacional promove o enriquecimento da discussão, de modo que nos permite perceber que a raiz do problema pode não ser unicamente a natureza de um determinado sistema econômico e social. O fato de Tomás de Aquino ter percebido, ainda no século XIII e numa obra ‘científica’, que a desigualdade do conhecimento pode ser gerado por aquilo que estamos a chamar de ‘desigualdade educacional’, como sinônimo de ‘desigualdade de acesso ao conhecimento sistematizado’, evidencia que estamos diante de um fenômeno tipicamente humano, que se manifesta de diferentes maneiras em diferentes épocas, e com o qual temos que lidar, independentemente dos princípios econômicos e sociais que organizam a sociedade. .

O último Artigo da Questão 85 é dedicado ao início do processo de conhecimento intelectual e questiona se o intelecto conhece o divisível ou o indivisível em primeiro lugar. Em síntese, o autor reafirma que o objeto do intelecto é a quididade abstraída das representações imaginárias para esclarecer que conhecemos, primeiro, o indivisível que caracteriza, justamente, as representações imaginárias. Quando determinada representação é formada na alma, ela se apresenta como um todo indivisível que, aos poucos, decompomos e compomos até chegar à quididade. Por isso, a resposta ao problema colocado, segundo nosso entendimento, é que o intelecto parte do indivisível das representações imaginárias, emprega os recursos do intelecto para compor e dividir o que for necessário, conhecendo, assim, o que é divisível, para chegar, no final, ao conhecimento das essências substanciais, que são, por definição, indivisíveis (cf. Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola., p. 543). Com isso, estabelece-se um determinado itinerário do intelecto para o conhecimento da quididade: parte-se, dialeticamente, do todo ‘confuso’ às partes para, então, voltar ao todo ‘ordenado’.

Considerações finais

Verificamos, nesse estudo, que o modo e a ordem do conhecer, na obra de Tomás de Aquino, eram temas fundamentais para o estudante da Faculdade de Teologia da cristandade do século XIII. Por um lado, os futuros teólogos aprendiam os elementos que caracterizam o processo de formação da alma e, por outro, refletiam sobre a importância desses elementos para a prática educativa, o que nos permite depreender das lições tomasianas ensinamentos relevantes para pensarmos nossa própria prática pedagógica.

O primeiro desses ensinamentos é perceber que, assim como os homens do século XIII, precisamos de uma condição favorável à aprendizagem, que se traduz em conhecimento do conteúdo, organização e direcionamento, uma vez que a alma humana não pode se desenvolver no vazio e no caos, sem fundamento, objeto e propósitos claros.

O segundo relaciona-se à aprendizagem e, por conseguinte, ao desenvolvimento da alma, que dependem de processos que ocorrem no tempo e estão suscetíveis ao erro. O fato de o conhecimento partir das representações imaginárias, passando pela ‘semelhança’ com as espécies inteligíveis e pelas operações de divisão e composição, significa que a educação está, temporal e espacialmente, dependente de determinadas condições que envolvem recursos materiais e humanos. No que tange aos recursos humanos, particularmente, precisamos pensar nas consequências de um educador formado precariamente ou negligente com a aprendizagem dos alunos. Seria muito simples se a educação dependesse apenas de coisas externas ao homem, mas a Questão 85 da Primeira Parte da Suma Teológica demonstra que o problema pode ser mais complexo do que parece, exigindo de todos os agentes formação intelectual e vontade consciente para agir de acordo com o bem dos indivíduos e da sociedade.

Enfim, reiteramos o valor dos estudos dos clássicos para a formação docente no Brasil. Procuramos demonstrar que esse estudo, particularmente das obras de Tomás de Aquino, é capaz de suscitar reflexões sobre problemas fundamentais da educação sob ângulos que, eventualmente, negligenciamos, no afã de oferecer sempre uma novidade o mais rapidamente possível. Seguimos aqui os ensinamentos de Nietzsche (2019)Nietzsche, F. (2019). Da utilidade e do inconveniente da história para a vida. Lafonte., em Da utilidade e do inconveniente da História para a vida, que, ao questionar a pertinência do ‘velho’ e do ‘novo’ para a vida presente, afirma: “o ponto de vista histórico, bem como o ponto de vista não-histórico, são necessários para a saúde de um indivíduo, de um povo e de uma civilização”. (p. 14). Por isso, precisamos recorrer à história a fim de respondermos aos problemas do presente de maneira equilibrada e fundamentada tanto na experiência dos homens e das mulheres de outrora quanto na experiência singular dos homens e das mulheres de hoje.

  • 2
    Normalização, preparação e revisão textual: Maria Thereza Sampaio Lucinio - thesampaio@uol.com.br
  • 3
    Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Número do processo: 307523/2021-7.
  • 4
    Alguns dos estudos sobre o assunto podem ser verificados em Rousselot (1999)Rousselot, P. (1999). A teoria da inteligência segundo Tomás de Aquino. Edições Loyola., Amatuzzi (2008)Amatuzzi, M. M. (2008). A alma humana em Tomás de Aquino: Um debate antigo e atual. Editora Alínea., Sanguineti (2011)Sanguineti, J. J. (2011). La especie cognitiva en Tomás de Aquino. Tópicos, MX(40), 63-103. http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-66492011000100004
    http://www.scielo.org.mx/scielo.php?scri...
    , Muñoz (2012)Muñoz, C. P. D. (2012). Em torno a dos lecturas posibles sobre el conocimiento de las esencias en Tomás de Aquino. Tópicos, MX(43), 123-151. http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-66492012000200005
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    , Cuccia (2017)Cuccia, E. J. (2017). El sentido de la abstracción en Tomás de Aquino. Una revisión a partir del uso textual del término. Scripta Medievalia. Revista de pensamiento medieval, 10(1), 81-110. http://revistas.uncuyo.edu.ar/ojs/index.php/scripta/article/view/1076
    http://revistas.uncuyo.edu.ar/ojs/index....
    e Cuccia e Muñoz (2018)Cuccia, E. J., & Muñoz, C. P. D. (2018). La abstracción en Tomás de Aquino: una vía más allá de la epistemología tomista. ARETÉ Revista de Filosofía, XXX (2), 245-269. http://revistas.pucp.edu.pe/index.php/arete/article/view/20417/20338
    http://revistas.pucp.edu.pe/index.php/ar...
    .
  • 5
    Ainda que estejamos a tratar, nesse trecho em particular, da educação escolar, entendemos que o fenômeno educativo encara, hoje, uma espécie de crise generalizada. Podemos observar evidências desse processo em diversos âmbitos da sociedade. O fenômeno das fake news, por exemplo, é, ao mesmo tempo, causa e efeito dessa crise. É causa na medida em o texto falso assume-se como legítimo e, portanto, tem pretensão de evidenciar a ‘verdade’ acerca de um acontecimento, o que resulta em não aprendizagem e em desinformação. É efeito porque, em nosso entender, fake news não prosperariam em sociedades formadas com base nos saberes e valores da ciência, da filosofia e da arte, enfim, no conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, segundo os termos de Saviani (2012)Saviani, D. (2012). Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. Autores Associados..
  • 6
    Ali Benmakhlouf (2018)Benmakhlouf, A. (2018). Tomás de Aquino. In J. Le Goff, Homens e mulheres da idade média (pp. 250-253). Estação Liberdade. ilustra o status de ‘clássico’ de Tomás de Aquino, referendado pela tradição historiográfica ocidental: “É aconselhável esboçar o retrato de Tomás de Aquino como um ‘homem da Idade Média’, pois o peso da obra frequentemente faz com que se esqueça de seu autor. Há séculos que ele se tornou o principal doutor da Igreja católica. Sua estatura de teólogo também repousa sobre uma base filosófica forte e rigorosa. Que fique claro: não se trata de minimizar sua contribuição: depois de Alberto, ele soube adaptar o patrimônio aristotélico à doutrina cristã. Seu trabalho minucioso sobre a forma substancial única permitiu reintegrar o corpo na doutrina cristão. Ele soube afrontar as tensões inerentes ao cristianismo, não por uma simples ultrapassagem formal, mas por um verdadeiro aprofundamento. Defendeu a força da razão humana. [...] Para resumir, ele foi um prodigioso pensador” (p. 250).
  • 7
    Para se aprofundar na compreensão desses diferentes graus da potência cognoscitiva, além das outras Questões que compõem, juntamente com a Questão 85, o Tratado sobre o homem, será preciso ler as Questões Disputadas Sobre a Alma, conjunto de lições ministradas por Tomás de Aquino no Studium de Santa Sabina, provavelmente, entre 1266 e 1267, na mesma época em que escrevia a Suma Teológica – esta última iniciada em 1265. Além desse texto, recomendamos a leitura do Livro II da Suma Contra os Gentios, do opúsculo A Unidade do Intelecto Contra os Averroístas, das Questões Disputadas Sobre as Criaturas Espirituais e das Questões Disputadas Sobre a Verdade.
  • 8
    (ST, I, q. 85, a. 1, conc., grifo nosso). Para garantir o acesso do leitor a qualquer edição da Suma Teológica, indicaremos, em nota de rodapé, a referência que permite a consulta. ‘ST’ designa ‘Suma Teológica’; o número romano na sequência refere-se à Parte da Suma Teológica na qual está a Questão; depois, vem o número da Questão acompanhada de ‘q.’; na sequência, apresenta-se o número do Artigo citado acompanhado de ‘a.’, depois, a informação de qual parte do Artigo estamos citando, se a resposta do mestre, identificado com a sigla ‘conc.’, se a resposta do mestre às objeções, identificada com a sigla ‘resp.’ seguido do número da objeção respondida.
  • 9
    (ST, I, q. 85, a. 2, conc.).
  • 10
    (ST, I, q. 85, a. 3, conc.).
  • 11
    (ST, I, q. 85, a. 4, conc.).
  • 12
    Tomás de Aquino desenvolve essa discussão sobre o ensino em outras obras, como na Questão 11 das Questões Disputadas Sobre a Verdade (Tomás de Aquino, 2004Aquino, T. de. (2004). Sobre o ensino (DV, q. 11). In Tomás de Aquino, Sobre o ensino (De Magistro): Os sete pecados capitais (pp. 23-62). Martins Fontes.) e no Artigo 3 da Questão 181 da Segunda Seção da Segunda Parte da Suma Teológica (ST, II-II, q. 181) (Tomás de Aquino, 2016Aquino, T. de. (2016). Da vida ativa (ST, II-II, q. 181). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (pp. 1011-1016). Ecclesiae., p. 1013-1014).
  • 13
    (ST, I, q. 85, a. 5, conc.).
  • 14
    (ST, I, q. 85, a. 5, resp. 2).
  • 15
    (ST, I, q. 85, a. 6, conc.).
  • 16
    Destacamos, aqui, que entendemos ‘intelectuais’ como agentes sociais importantes na compreensão da realidade, de modo que a atuação desse personagem na história deve ser analisada criticamente, numa perspectiva de totalidade e de longa duração (cf. Oliveira, Mendes & Santin, 2016Oliveira, T., Mendes, C. M. M., & Santin, R. H. (2016). Contribuições de Jacques Le Goff para a História da Educação Medieval: Totalidade e Longa Duração nos estudos sobre os intelectuais. Brathair, 16, 235-250. https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/1263/991
    https://ppg.revistas.uema.br/index.php/b...
    ).
  • 17
    Vale lembrar que o conceito de quididade é empregado por Tomás de Aquino como sinônimo de essência substancial ou substância. Por isso, quando o autor afirmar que o objeto próprio do intelecto é a quididade, está a dizer que ao intelecto cabe apreender a essência substancial das coisas existentes, por meio das representações imaginárias, ou fantasmas, produzidas pelo trabalho integrado das potências da alma – desde as potências ligadas aos órgãos corporais, até as potências que transcendem o corpo, como podemos observar nas Questões Disputadas Sobre a Alma (Tomás de Aquino, 2012Aquino, T. de. (2012). Questões disputadas sobre a alma. É Realizações.) e outras obras do mestre de Aquino.
  • 18
    (ST, I, q. 85, a. 7, concl.).
  • 19
    Uma análise dessas ‘faculdades inferiores’ pode ser encontrada na Questão 78 da Primeira Parte da Suma Teológica (cf. Tomás de Aquino, 2002Aquino, T. de. (2002). O modo e a ordem de conhecer (ST, I, q. 85). In Tomás de Aquino, Suma Teológica (vol. II, pp. 521-544). Edições Loyola.).
  • 20
    Sobre esses dois caminhos para se chegar ao conhecimento, a descoberta e o ensino, consultar as duas Questões já mencionadas neste texto, em outra nota, a Questão 11 das Questões Disputadas Sobre a Verdade e o Artigo 3 da Questão 181 da Segunda Seção da Segunda Parte da Suma Teológica.
  • 21
    A questão da desigualdade educacional, de suas múltiplas causas e de seus variados efeitos, não é objeto desse estudo. Esse debate é amplo e empreendido por diversos intelectuais desde o século XIX. Podemos citar, por exemplo, Durkheim, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Gramsci, Althusser, Bourdieu, entre outros que dedicaram suas carreiras à investigação da desigualdade educacional e de suas razões, apontando caminhos e perspectivas de análise que pudessem, de algum modo, combater o problema do acesso ao conhecimento sistematizado. Não estamos, com isso, comparando o debate travado por Tomás de Aquino ao debate travado por esses intelectuais contemporâneos. A realidade do século XIII é muito diferente do contexto dos séculos XIX e XX. Contudo, acreditamos que uma análise de longa duração do problema da desigualdade educacional promove o enriquecimento da discussão, de modo que nos permite perceber que a raiz do problema pode não ser unicamente a natureza de um determinado sistema econômico e social. O fato de Tomás de Aquino ter percebido, ainda no século XIII e numa obra ‘científica’, que a desigualdade do conhecimento pode ser gerado por aquilo que estamos a chamar de ‘desigualdade educacional’, como sinônimo de ‘desigualdade de acesso ao conhecimento sistematizado’, evidencia que estamos diante de um fenômeno tipicamente humano, que se manifesta de diferentes maneiras em diferentes épocas, e com o qual temos que lidar, independentemente dos princípios econômicos e sociais que organizam a sociedade.

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  • Saviani, D. (2012). Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações Autores Associados.
1
Editor responsável: Alexandre Filordi de Carvalho. https://orcid.org/0000-0003-4510-9440

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    22 Jun 2020
  • Aceito
    19 Set 2020
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