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A construção cultural de significados sobre adoção: um processo semiótico

Adoption meanings cultural construction: a semiotic process

La construcción cultural de significados sobre adopción: un proceso semiótico

Resumos

Buscamos compreender o processo de construção de significados sobre adoção abordando um membro da família extensa de um caso de adoção satisfatória, utilizando os fundamentos teórico-metodológicos da Psicologia Cultural Semiótica de orientação idiográfica. Destacamos a dinâmica entre os significados que existem na cultura coletiva, em transformação, e a construção pessoal de significados. A construção dos significados da adoção, mesmo numa família cuja adoção é aceita por todos, é caracterizada pela existência de uma tensão constante e pela ambivalência entre a cultura coletiva - carregada de mitos e preconceitos partilhados num sistema de mensagens redundantes, mas também refletindo um processo atual no qual a adoção se apresenta como louvável e desejável - e a construção progressiva de uma cultura pessoal. Algumas sugestões sobre direções úteis para o trabalho de orientação a pretendentes à adoção e aos grupos de apoio a mesma são sugeridas.

adoção; psicologia cultural semiótica; regulação semiótica; campos afetivos; ambivalência


We searched to understand the process of meaning making about adoption, addressing a member of the extended family of a satisfactory case of adoption, using the theoretical and methodological foundations of Semiotics Cultural Psychology from idiographic orientation. We highlighted the dynamic between the meanings that exist in the collective culture, in transformation, and the personal meaning making. The construction of the meanings of adoption, even in a family whose adoption is accepted by all, is characterized by the existence of a constant tension and by the ambivalence between the collective culture - full of myths and prejudices shared in a system of redundant messages, but also reflecting a current process in which the adoption is presented as commendable and desirable - and the gradual construction of a personal culture. Some suggestions on useful directions for the work of guidance to prospective parents and adoption support groups are suggested.

adoption; semiotics cultural psychology; semiotic regulation; affective fields; ambivalence


Buscamos comprender el proceso de construcción de significados sobre la adopción abordando un miembro de la familia extensa de un caso de adopción satisfactoria, utilizando los fundamentos teórico-metodológicos de la Psicología Cultural Semiótica de orientación ideográfica. Destacamos la dinámica entre los significados que existen en la cultura colectiva, en transformación, y la construcción personal de significados. La construcción de los significados de adopción, aunque en una familia cuya adopción es aceptada por todos, es caracterizada por la existencia de una tensión constante y por una ambivalencia entre cultura colectiva - cargada de mitos e prejuicios compartidos en un sistema de mensajes redundantes, pero también, reflexionando un proceso actual en el que la adopción se presenta como laudable y deseable - y la construcción progresiva de una cultura personal. Algunas sugerencias sobre direcciones útiles al trabajo de orientación a los que pretenden adoptar y a los grupos que apoyan esa acción también aparecen.

adopción; psicología cultural semiótica; regulación semiótica; campos afectivos; ambivalencia


ARTIGOS

A construção cultural de significados sobre adoção: um processo semiótico

La construcción cultural de significados sobre adopción: un proceso semiótico

Adoption meanings cultural construction: a semiotic process

Tatiana Alves de Melo ValérioI; Maria C. D. P. LyraII

IInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Belo Jardim/PE, Brasil

IIUniversidade Federal de Pernambuco, Recife/PE, Brasil

RESUMO

Buscamos compreender o processo de construção de significados sobre adoção abordando um membro da família extensa de um caso de adoção satisfatória, utilizando os fundamentos teórico-metodológicos da Psicologia Cultural Semiótica de orientação idiográfica. Destacamos a dinâmica entre os significados que existem na cultura coletiva, em transformação, e a construção pessoal de significados. A construção dos significados da adoção, mesmo numa família cuja adoção é aceita por todos, é caracterizada pela existência de uma tensão constante e pela ambivalência entre a cultura coletiva – carregada de mitos e preconceitos partilhados num sistema de mensagens redundantes, mas também refletindo um processo atual no qual a adoção se apresenta como louvável e desejável – e a construção progressiva de uma cultura pessoal. Algumas sugestões sobre direções úteis para o trabalho de orientação a pretendentes à adoção e aos grupos de apoio a mesma são sugeridas.

Palavras-chave: adoção; psicologia cultural semiótica; regulação semiótica; campos afetivos; ambivalência.

RESUMEN

Buscamos comprender el proceso de construcción de significados sobre la adopción abordando un miembro de la familia extensa de un caso de adopción satisfactoria, utilizando los fundamentos teórico-metodológicos de la Psicología Cultural Semiótica de orientación ideográfica. Destacamos la dinámica entre los significados que existen en la cultura colectiva, en transformación, y la construcción personal de significados. La construcción de los significados de adopción, aunque en una familia cuya adopción es aceptada por todos, es caracterizada por la existencia de una tensión constante y por una ambivalencia entre cultura colectiva – cargada de mitos e prejuicios compartidos en un sistema de mensajes redundantes, pero también, reflexionando un proceso actual en el que la adopción se presenta como laudable y deseable – y la construcción progresiva de una cultura personal. Algunas sugerencias sobre direcciones útiles al trabajo de orientación a los que pretenden adoptar y a los grupos que apoyan esa acción también aparecen.

Palabras-clave: adopción; psicología cultural semiótica; regulación semiótica; campos afectivos; ambivalencia.

ABSTRACT

We searched to understand the process of meaning making about adoption, addressing a member of the extended family of a satisfactory case of adoption, using the theoretical and methodological foundations of Semiotics Cultural Psychology from idiographic orientation. We highlighted the dynamic between the meanings that exist in the collective culture, in transformation, and the personal meaning making. The construction of the meanings of adoption, even in a family whose adoption is accepted by all, is characterized by the existence of a constant tension and by the ambivalence between the collective culture - full of myths and prejudices shared in a system of redundant messages, but also reflecting a current process in which the adoption is presented as commendable and desirable - and the gradual construction of a personal culture. Some suggestions on useful directions for the work of guidance to prospective parents and adoption support groups are suggested.

Keywords: adoption; semiotics cultural psychology; semiotic regulation; affective fields; ambivalence.

Estudos sobre adoção de crianças e adolescentes podem ser entendidos como dizendo respeito tanto à própria adoção como fazendo parte da temática da inclusão da diversidade (Schettini, 2009). Nos últimos anos, a sociedade tem, rapidamente, mudado as ideias e conceitos relativos à adoção. Essa crescente modificação no significado da adoção se reflete tanto em mudanças jurídicas como no aumento de grupos de apoio à adoção. Todavia, também é um fato que são raros estudos que examinem a construção de significado tanto nas pessoas que pretendem adotar – pretendentes à adoção – como no círculo familiar mais amplo, ou família extensa, no qual se insere a criança ou adolescente. Este trabalho pretende contribuir com a compreensão do processo de construção de significados abordando um membro da família extensa de um caso de adoção satisfatória. Particularmente, procuramos destacar a dinâmica entre os significados que existem na cultura coletiva, em transformação, e a construção pessoal investigada no referido familiar.

Compreender como as pessoas constroem significados parece ser uma das tarefas e contribuições centrais da Psicologia (Bruner, 1997). Tanto do ponto de vista teórico como na sua aplicação, a Psicologia precisa de teorias e métodos que se adequem à compreensão dos processos através dos quais o significado é construído, na interseção e inserção das pessoas na sociedade. Propomos, neste trabalho, que a Psicologia Cultural apresenta uma das mais ricas possibilidades de contribuição nessa área (Sato, Yasuda et al., 2007; Valsiner & Rosa, 2007). Adotando a perspectiva semiótica da Psicologia Cultural (Valsiner, 2007), este trabalho é resultante de um estudo de caso que buscou discutir a dinâmica da construção de significados sobre adoção por pessoa do convívio próximo de crianças adotadas, cujos pais pertencem à militância da adoção.

A construção de significados nas experiências quotidianas de vida das pessoas foi analisada como um processo semiótico. A investigação desse processo requer a adoção de um contexto social e histórico específico e a noção de tempo irreversível como fundamentos teóricos e metodológicos para essa análise. Estudar a adoção a partir de tais noções permite-nos entender não apenas os significados sobre adoção no contexto proposto, mas, ao investigar a dinâmica dessa construção, possibilita também entender a relação da cultura coletiva com a construção pessoal e única de significados que se estabelece nesse processo semiótico. Nesta última perspectiva, entendemos que processos gerais podem ser investigados a partir do estudo de casos particulares (Salvatore & Valsiner, 2010).

Comumente, as pesquisas sobre o tema estão mais relacionadas às motivações dos pretendentes à adoção e à percepção ou significados da adoção pela própria família adotiva, além de estudos teóricos sobre o trabalho realizado por profissionais da área de proteção do direito da criança e do adolescente no contexto da adoção. O foco de análise recai nas figuras parentais, nos filhos e, em menor número, na família extensa. No Brasil, embora a adoção seja uma prática social frequente, reflexões sobre o assunto ficam restritas às famílias adotivas e aos profissionais que as assistem, incluindo, ainda, os Grupos de Apoio à Adoção (GAAs) existentes no país (Maux & Dutra, 2010). Um fator destacado em estudos e em encontros regionais e nacionais sobre adoção é a motivação à parentalidade adotiva. A principal motivação encontrada nas pesquisas acadêmicas é a infertilidade (Levinzon, 2006; Schettini Filho, 1998; Weber, 2003). Duas correntes opostas sobre os possíveis riscos advindos de motivações inadequadas (substituir um filho que faleceu; medo da solidão na velhice; não querer engravidar por razões estéticas, entre outros) são discutidas. Levinzon (2009) ressalta que a clareza das motivações para adotar "ajuda a criar um espaço de prevenção para dificuldades futuras no contato com os filhos" (p. 18). No entanto, Weber (1997), que também investiga as motivações a partir de pesquisas com famílias adotivas, revela que não existe correlação entre a motivação dos adotantes e o sucesso da adoção. Isso porque, a partir da chegada do filho adotivo, a família pode desmistificar medos e preconceitos sobre o tema (Dias, 2006). Reppold e Hutz (2003) investigaram os aspectos psicossociais da maternidade adotiva relacionados à reflexão social, à percepção de apoio social recebido, entre outros, e os resultados revelaram que 60% das participantes relacionaram a adoção a problemas de fertilidade, consoante com as demais pesquisas.

A literatura também nos apresenta estudos centrados na construção da parentalidade adotiva. A esse respeito, resultados demonstram que para pais e filhos adotivos, mesmo com a indicação de intervenções para minimizar possíveis riscos ao desenvolvimento infantil, as relações familiares aparecem estruturadas (Santos, Raspantini, Silva, & Escrivão, 2003). Para Andrade, Costa e Rossetti-Ferreira (2006), investigando a paternidade adotiva, os homens saem lentamente de um papel de pai mais tradicional para uma postura em que a troca de carinho e afeto, os cuidados físicos e a transmissão de valores são também realizados por eles, embora ainda permaneça o papel de provedor da família como a mais forte significação de paternidade. Segundo Passos (2012), a parentalidade, em sua dimensão psíquica, "é o princípio de legitimação dos filhos e condição fundamental à emergência do sujeito no grupo familiar" (p. 127). Ela destaca, nesse estudo, a importância do reconhecimento parental e filial, afirmando que ele "deve ser compreendido como um elemento central do laço, pois permite que cada sujeito se sinta integrado a um dado contexto, e ao mesmo tempo aceito, e identificado pelo outro" (p. 138).

A adoção vive um momento de intensa exposição na mídia no Brasil, e em outros países também. Chaves (2008) usa o termo glamourização da adoção, em referência a essa exposição e à adesão de celebridades a essa prática. Podemos pontuar casos brasileiros como o da jornalista Glória Maria, que adotou duas irmãs pequenas, da cantora Elba Ramalho, que adotou duas crianças quando estava casada com Gaetano, e, após o divórcio, adotou mais uma filha, e ele mais duas filhas com a atual esposa. Recentemente, a cantora Vanessa da Mata adotou, com o marido, três irmãos. Essa visibilidade e glamourização da adoção podem também ser vistas em outros países. No cenário internacional, as adoções com maior repercussão são as do casal Angelina Jolie e Brad Pitt, que adotaram três filhos, e o caso de Madonna, que adotou uma criança. Riley e Van Vleet (2012), sobre o atual cenário da adoção nos Estados Unidos, relatam o crescimento dessa visibilidade na direção de transmitir a normalidade das famílias construídas com filhos adotivos.

É possível perceber que, embora a adoção, a partir da sua evolução histórica, tenha saído do campo privado para o público, quando pretendentes decidem adotar, eles enfrentam uma situação complexa, visto que precisam lidar "com questões de intimidade, amor e perda, preocupação e comprometimento, paixão, pesar e luto" (Levizon, 2009, p. 13), além de provar, juridicamente, que serão bons pais, o que não acontece na parentalidade biológica. Para seguir os trâmites legais vigentes na Lei da adoção do país (Lei n. 12.010, 2009), o pretendente deve habilitar-se e, nesse processo, um elemento decisivo é a avaliação psicossocial realizada por uma equipe multidisciplinar. Costa e Campos (2003), que investigaram o contexto jurídico na experiência de famílias durante o processo de adoção, concluíram que o mesmo pode ser um importante catalisador para sua própria mudança, mas pode ser precursor de arbitrariedade, uma vez que é o responsável por avaliar positiva ou negativamente os pretendentes à adoção, determinando quem pode e quem não pode adotar.

O processo de habilitação à adoção ocorre a partir do atendimento a um conjunto de exigências do ponto de vista jurídico e de uma avaliação psicossocial dos pretendentes, que não abrange o restante da família. Segundo Dias (2006), a não aceitação da criança pelos demais familiares pode acarretar em um fracasso na adoção. Uma criança só é verdadeiramente adotada quando é introduzida na tradição da família do pai e da família da mãe. Segundo Dolto (1989), "uma criança é adotada por uma família, e não por duas pessoas ... A adoção é a família que cada um dos pais dá à criança, um lugar nas duas linhagens, um lugar simbólico" (citada por Schettini, 2007, pp. 22-23).

Dias (2006), em sua pesquisa com a família extensa de filhos e filhas adotivos (avós, tios e primos), concluiu que, embora haja um quadro extremamente favorável à adoção, o que demonstra a aceitação desta pela maioria dos participantes, ainda persistem preconceitos evidenciados nas falas de alguns familiares. Outro achado do estudo dessa pesquisadora, que merece destaque, foi a compreensão de que, tanto para a criança adotiva como para os pais e para os familiares, a adoção ocorre como um processo. Assim, os pais e familiares "vão revendo suas crenças e preconceitos e se apegando à criança à medida que o tempo passa" (p. 190). Esse resultado ratifica os achados de Weber, descritos acima, sobre a possibilidade de a família adotiva, mesmo tendo motivações iniciais consideradas inadequadas, reconstruírem seus significados sobre adoção ao longo da experiência de vida, que, segundo Valsiner (2007), é sempre afetiva e cognitiva.

Considerando o argumento de que uma criança é adotada por duas famílias, e não apenas por seus pais, nosso interesse, neste artigo, se volta à investigação do processo semiótico da construção de significados sobre adoção por uma tia adotiva, ou seja, por um membro da família extensa.

A psicologia cultural semiótica e a construção de significados

No final dos anos 1980, observou-se uma síntese da antropologia, da psicologia, da sociologia e da história, além das ciências médicas, para o surgimento da Psicologia Cultural (Valsiner & Rosa, 2007). Esta tem como berço a perspectiva sócio-histórica de Vigotsky que, em seu desdobramento, se filia às contribuições de teóricos como Bruner, Rogoff e Valsiner, entre outros. Do ponto de vista teórico-metodológico, a psicologia cultural contemporânea transita da teoria da atividade à semiótica, sempre tendo a cultura como ponto central. A orientação que fundamenta este artigo é a orientação semiótica (Valsiner, 2000, 2007), cujo foco recai sobre a capacidade humana de criar e usar signos (dispositivos semióticos).

Para a Psicologia Cultural, a cultura é entendida como processo semiótico, e não como uma entidade, caracterizando-se em uma troca constante entre a construção única do sujeito – cultura pessoal – e a cultura coletiva historicamente construída e reconstruída (Valsiner, 2000). A cultura, nessa perspectiva, pode ser entendida como mediação semiótica, isto é, mediação que se estabelece por signos e que integra o sistema de funções psicológicas desenvolvidas pelo indivíduo na organização histórica de seu grupo social, além de desempenhar uma função reguladora nos processos inter e intrapsicológicos (Valsiner, 2007). A cultura trabalha tanto pela transformação (flexibilidade) quanto pela manutenção (estabilidade) de normas e valores, estes funcionando como guias e reguladores semióticos das nossas experiências de vida.

A Psicologia Cultural é pautada na realidade social do dia a dia das pessoas em contextos variados, considerando sempre a historicidade dos fenômenos psicológicos. Essa abordagem valoriza a construção de significados das experiências de vida (Sato, Watanabe, & Omi, 2007), pelas pessoas, em contexto social e histórico (Bruner, 1997), pela mediação semiótica (Vigotsky, 2007) e num tempo irreversível (Lyra, 2006; Valsiner, 2002), isto é, o tempo nunca repete um acontecimento vivido.

A experiência de vida, nessa abordagem, é declarada como a mais importante alternativa (Sato, Yasuda et al., 2007) para expansão do objeto de investigação em psicologia, sendo vista a partir de sua natureza sociocultural e histórica (Valsiner & Rosa, 2007). Tal posição possibilita pensar o ser humano a partir da noção de sistemas abertos (Bertalanffy, 1968, citado por Toomela & Valsiner, 2010), ou seja, os seres humanos para se desenvolverem recebem informações e interagem dinamicamente ou trocam com seus ambientes (Valsiner & Sato, 2006). Assumindo a visão de sistemas abertos, a dimensão tempo do fenômeno psicológico muda, e o desenvolvimento de qualquer organismo passa a ser considerado com o tempo, e não no tempo (Valsiner, 2000). Aí reside a noção de tempo irreversível.

A manutenção da cultura ocorre a partir de sistemas reguladores de suas mensagens que se organizam em hierarquias, abstratamente construídas, criando significados hipergeneralizados que funcionam como reguladores semióticos. Por exemplo, definir a adoção como "um ato de amor" ou pensar que "filho adotivo dá sempre trabalho" são significados hipergeneralizados regulados por um sistema de crenças que "guiam sentimentos e pensamentos das pessoas num dado contexto" (Valsiner, 2007, p. 96); nesse caso, no contexto da adoção.

As mensagens que circulam na sociedade formam o sistema de controle redundante, de onde surgem os signos hipergeneralizados. Histórias infantis, mitos, filmes, propagandas, rituais, propostas educativas (formais ou informais), entre outras, são exemplos de onde eles são distribuídos coletivamente. Valores pessoais e crenças, presentes nos significados pessoais, são reconstruções internalizadas das sugestões sociais (Valsiner, 2007) existentes nessas mensagens redundantes.

Contudo, há sempre a possibilidade de quebra/resistência desses reguladores semióticos e, quando isso acontece, as transformações/reconstruções culturais podem ocorrer, resultando na transformação dessa ordem social. Os signos hipergeneralizados, portanto, estão presentes na cultura coletiva e funcionam como guias, para o sujeito, do processo semiótico de internalização/externalização dos significados em um dado contexto social e histórico.

Os processos de internalização e de externalização possibilitam tanto a manutenção como a transformação da cultura e são definidos da seguinte maneira:

[a internalização é o] processo de análise dos materiais semióticos existentes externamente e de sua síntese na forma de novidade no domínio intrapsicológico. ... Externalização é o processo de análise dos materiais pessoal-culturais intrapsicologicamente existentes (subjetivos), durante sua transposição do interior da pessoa para o seu exterior, e a modificação do ambiente externo como uma forma de nova síntese desses materiais. (Valsiner, 2012, p. 413)

Nesse processo, a pessoa se confronta com mediadores semióticos incompatíveis que, segundo Zittoun, Aveling, Gillespie e Cornish (2011), deflagram uma característica comum à criação de significados. A ambivalência (Abbey & Valsiner, 2005) é produzida para uma dada pessoa pela confrontação desses mediadores semióticos incompatíveis. A pessoa é, então, "chamada a dar um significado à situação, a agir, ou se posicionar socialmente em relação a esta situação" (Zittoun et al., 2011, p. 61).

As noções de internalização e externalização e de ambivalência são, portanto, características do modelo bidirecional de reconstrução cultural (Valsiner, 2000, 2007). Segundo Park e Moro (2006), metaforicamente, o modelo bidirecional de Valsiner foi formulado a partir do conceito médico de contágio. Valsiner comparou as inúmeras sugestões sociais que cercam um indivíduo com vírus culturais. O indivíduo, então, passa a ser considerado como um ser ativo que luta contra esses vírus culturais (sugestões sociais), podendo neutralizá-los, rejeitá-los ou simplesmente aceitá-los. Nesse processo, à medida que as sugestões sociais são internalizadas pelo indivíduo, elas são transformadas em significados pessoais e, então, externalizadas. Como resultado desse processo, surgem novas formas culturais, mas nem sempre ele ocorre sem problemas. Na maioria dos casos, os significados pessoais são construídos a partir de conflitos, negociações e renegociações com as sugestões sociais existentes. Isso garante o não isomorfismo entre as culturas coletiva e pessoal, fazendo com que cada indivíduo seja uma pessoa única enquanto baseado no mesmo background geral da cultura coletiva (Valsiner, 2007).

O processo de construção de significados nos permite criar um distanciamento psicológico dos contextos de vida imediatos (aqui-e-agora) para que reflitamos sobre os mesmos e, também, construamos o nosso futuro. Refletir "permite que o sistema psicológico considere contextos passados e imagine contextos futuros" (Valsiner, 2000, p. 50). O futuro orienta nossas construções no presente – expresso meu pensamento, tomo uma decisão, ou sinto algo guiado por sugestões sociais coletivo-culturais – que nos apontam possibilidades de escolha.

O conjunto de conceitos, acima resumidos, nos possibilita analisar o processo semiótico da construção de significados sobre adoção, procurando discernir a relação da cultura coletiva com a construção pessoal e única presente no caso estudado.

Método

Participantes

Inicialmente, identificamos uma família no perfil que procurávamos – com filhos adotivos e cuja adoção fosse publicamente reconhecida como uma adoção satisfatória – através de um grupo de estudo e apoio à adoção. A família indicada pelo grupo concordou em participar. Nosso próximo passo foi obter, dessa família, a indicação de pessoas de convívio próximo às filhas do casal, pertencentes à família extensa. Foram indicadas quatro pessoas pelo casal. Para esse estudo, optamos por entrevistar uma pessoa da família extensa – uma vez que a mesma foi a primeira a aceitar participar da pesquisa já a partir do contato telefônico. No primeiro encontro, ela leu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da primeira entrevista.

Instrumento e procedimento

Foram realizadas três entrevistas audiogravadas em aparelho de MP4 com a participante: a primeira entrevista foi aberta, tendo como deflagradora a seguinte questão: "Fale-me sobre sua experiência de ser tia adotiva". A partir desse relato, a segunda entrevista foi semiestruturada, e pontuou os seguintes temas: o tratamento que os pais dispensam às filhas; a relação dos pais com a sociedade diante do tema; como as crianças são; como as crianças são imaginadas no futuro; o que seria adoção para a entrevistada. A terceira entrevista foi aberta e objetivou esclarecer e confirmar alguns achados nas entrevistas prévias. Ela foi deflagrada a partir do seguinte questionamento: "Antes de você vivenciar essa experiência em sua vida, como você via a adoção?". As entrevistas foram feitas entre abril e junho de 2012, na casa da participante. Todas as entrevistas foram transcritas integralmente e leituras minuciosas foram necessárias para que pudéssemos identificar os excertos das narrativas que girassem em torno dos temas definidos previamente e apontados acima. Elencados os excertos, passamos a analisá-los à luz do referencial teórico discutido na seção anterior.

Resultados e discussão

Estudo de caso: tia adotiva

Para narrar sua experiência de ser tia adotiva, a entrevistada falou com bastante naturalidade. Entretanto, cada vez que ela precisou responder a questionamentos mais específicos, um regulador semiótico que opera no campo da autorregulação na construção de significados entrava em ação: o silêncio. Isso permitia que a tia organizasse o seu discurso pessoal baseado naquilo que circula como sugestões sociais no discurso militante da adoção (discurso conhecido por ela), através da redundância de mensagens. As sugestões sociais se apresentam como guias que orientam a pessoa na hora em que ela precisa, como nessa situação de entrevistas, a expressar seu pensamento.

Os dois excertos abaixo, pertencentes à segunda entrevista da tia, mostram como o silêncio esteve presente na construção de significados nesse estudo de caso:

Excerto 1:

Pesquisadora: Quando você pensa em adoção, o que lhe vem à mente?

Tia: [silêncio]

Pesquisadora: O que você imagina?

Tia: [silêncio]

Excerto 2:

Pesquisadora: E adotar filhos, mais especificamente... o que você pensa?

Tia: [silêncio]

Embora a tia tenha respondido posteriormente às perguntas feitas, o silêncio que precedeu as respostas revela uma preocupação dela em organizar melhor sua fala, guiada por sugestões sociais, nesse caso, o discurso pró-adoção que é difundido numa redundância de mensagens, pelos pais das crianças, principalmente pelo trabalho militante que realizam.

A seguir, trazemos oito excertos das entrevistas realizadas com a tia para exemplificar a dinâmica do processo de construção de significados da adoção, além de proceder com a análise dos mesmos.

Excertos das três entrevistas:

1. queria fazer a caridade, mas que por outro lado também, tinha muito medo de que viesse a ter problemas com esse filho que não foi gerado, que não, que... carregaria os traços do pai biológico e da mãe... e, um certo receio nesse sentido... de ter problemas.

2. que aquele comportamento daquele filho é... era consequência do fato de não ter... ligação sanguínea... de que era um traço da personalidade da mãe biológica, e que eu nunca iria conseguir mudar aquilo ali, com a convivência.

3. Como se fosse uma criança que nasceu daquela família mesmo.

4. Era uma criança que cativava muito, e isso despertou em mim o amor de sangue, de... como se ela tivesse sido gerada no meio da família.

5. No meu caso, esqueci completamente o que seria um risco, o que seria o fato de não ser da mesma família, de não ter esse laço sanguíneo.

6. A que eu convivo, pelo menos, não vejo nenhum tratamento diferenciado, nada. Tudo perfeito como se fosse uma família biológica mesmo.

7. Pra mim não muda nada o fato de ser filho adotivo ou biológico. Amo do mesmo jeito.

8. O tratamento é igual a qualquer pai a qualquer mãe que ama, que educa, que impõe limites, que, que pune na hora que tem que punir, que protege, que dá carinho.

Analisando a dinâmica do processo de construção de significados sobre adoção

Quando a tia não estabelece diferenças entre o filho biológico ou adotivo, pois o amor para ela é igual [excerto 7], e quando afirma a igualdade entre pais adotivos e biológicos [excerto 8], trazendo ao seu discurso papéis parentais convencionados em nossa cultura coletiva (ama, educa, impõe limites, pune na hora que tem que punir, protege e dá carinho), observa-se a presença de sugestões sociais difundidas na sociedade pela redundância de mensagens do trabalho militante pró-adoção e da vivência de ser pai/mãe.

Embora haja uma reprodução do discurso militante da adoção nos significados construídos pela participante, nota-se que o processo de construção de significados se dá pela ambivalência. Dito de outra forma, haverá sempre uma tensão entre a cultura pessoal e o mundo social no qual a pessoa está inserida, porque "os campos de opostos estão automaticamente implicados a cada momento" (Valsiner, 2007, p. 160), estabelecendo-se, então, as oposições entre as possibilidades que o futuro disponibiliza para que o presente aconteça.

Os excertos 1 e 2 trazem significados ligados à adoção, mas que não são do discurso militante da adoção (adoção como caridade; o filho adotivo dá problema; não ter laço sanguíneo pode ser um problema), são mitos e preconceitos que também foram difundidos através da redundância de mensagens na cultura coletiva, ao longo do tempo.

Para a tia, estar no ponto de percepção-distanciamento-ação (processo psicológico da construção de significados) é estar na fronteira semiótica criada por nós mesmos, sendo impulsionados pelo afeto (discurso militante da adoção; a própria experiência satisfatória de adoção), mas constrangidos por sugestões sociais difundidas na cultura coletiva. Nessa tensão, a possibilidade de cruzar a fronteira é também sempre levantada. Nesse movimento de cruzar a fronteira, podemos manter/reforçar o poder social ou romper com ele, criando a novidade (síntese pessoal/significado pessoal).

Nesse percurso de significar a adoção na sua experiência adotiva – tornar-se tia –, observamos que os significados construídos revelam uma aceitação das crianças adotadas na percepção da tia: são amadas por todos os membros das famílias; foram acolhidas e inseridas na história das famílias de seus pais; não recebem tratamento diferenciado ou superproteção pelos pais (excerto 8) por serem adotivas; as crianças (4 e 5 anos) sabem que são filhas adotivas e que, no futuro, também segundo a percepção da tia, elas irão "aceitar com naturalidade [suas histórias de adoção], uma vez que já é dito, contada a historinha... e sabem que não nasceram daquela barriga ali". No excerto 5, a tia significa a adoção das suas sobrinhas especificamente, não a adoção de forma geral, como uma experiência tão positiva que a faz esquecer tudo aquilo que ela apresentara anteriormente como mitos e preconceitos.

Numa perspectiva que sinaliza a ambivalência como condição necessária para a construção de significados, outros aspectos que orientam tal perspectiva integram a forma de entender essa construção. Um deles, apresentado por Valsiner (2012), é o que ele chama de fabricar oposições, ou seja, a avaliação que fazemos quando estabelecemos distinções para aquilo que vamos significar. Observemos a Figura 1:


Quando a tia percebe o outro – nesse caso as sobrinhas –, segundo a noção acima de avaliação para a percepção da distinção "Eu" (tia) < > "Outro" (sobrinhas adotivas) nessa experiência de vida particular, uma avaliação foi feita.

Nos excertos 3 ("Como se fosse uma criança que nasceu daquela família mesmo"), 4 ("como se ela tivesse sido gerada no meio da família") e 6 ("Tudo perfeito como se fosse uma família biológica mesmo"), é possível identificar uma "intolerância eliminativa", não às sobrinhas, mas à condição adotiva. Logo, o que é desfavorável – a parentalidade adotiva – é eliminado e substituído por fatores ligados a uma filiação biológica, exclusivamente. Essa movência semiótica vivenciada pela tia – que antes eliminara a distinção entre adotivos e biológicos – ratifica a ambivalência que experienciamos à medida que construímos significados, a partir das distinções que fazemos de acordo com o sistema de regulação semiótica que nos guia.

Um segundo aspecto que trazemos à discussão, também proposto por Valsiner (2007), é a noção de campos afetivos semióticos que regula a experiência humana. A vida psicológica humana em suas formas mediadas por signos é afetiva em sua natureza. Damos sentidos às nossas relações com o mundo através de sentimentos que são culturalmente organizados através da criação e uso de signos, e isso é central para a construção da cultura pessoal. Valsiner (2007) propõe que os "campos afetivos semióticos não são abertos ao acesso verbal direto" (p. 306). A inacessibilidade verbal do fenômeno afetivo é parte da centralidade psicológica do afeto no funcionamento humano, isto é, são os sentimentos, não as categorias de emoções (descritas pela língua/linguagem), que ocupam a centralidade da condição humana.

A tia, nos últimos nove anos, experienciou afetivamente inúmeras situações com suas sobrinhas adotivas. No curso dessas experiências diversas, mensagens redundantes circularam na dinâmica familiar, através de rituais (batismo, festas de aniversário, datas importantes celebradas, entre outras) ou das mais corriqueiras situações. Esse campo afetivo, segundo Valsiner (2007), pode ser um signo hipergeneralizado (p. 315) da experiência, nesse caso, de ser tia adotiva para essa mulher.

No excerto 5 ("No meu caso, esqueci completamente o que seria um risco, o que seria o fato de não ser da mesma família, de não ter esse laço sanguíneo") a tia significa a adoção das suas sobrinhas especificamente, não a adoção de forma geral, como uma experiência tão positiva que a faz esquecer tudo aquilo que ela apresentara anteriormente como mitos e preconceitos.

Considerações finais

Propusemo-nos a estudar a dinâmica do processo semiótico que constitui a construção de significados sobre adoção, num contexto definido: pessoa próxima a filhos adotivos, cujas adoções fossem consideradas satisfatórias. As principais características presentes na análise efetuada sugerem a existência de tensão e ambivalência e o destaque dos campos afetivos como signos hipergeneralizados.

A primeira característica encontrada indica que o processo de construção de significados destaca uma tensão constante entre a cultura coletiva e a construção progressiva de uma cultura pessoal. Na cultura coletiva, mitos e histórias sobre adoção integram as sugestões sociais que atuam como guias e reguladores do referido processo, por exemplo, carregando um valor negativo, a forma como a mídia noticia casos de assassinato dos pais por um filho adotivo ("Bispo", 2012) ou como uma novela do principal canal aberto de televisão aborda de forma preconceituosa a filiação adotiva, reforçando mitos e preconceitos. Essas mensagens são contrapostas àquelas que circundam os membros de uma família que é militante pró-adoção. Nesse emaranhado de mensagens contraditórias, lidando, assim, com mediadores semióticos incompatíveis (Zittoun et al., 2011), a pessoa constrói e reconstrói seus significados sobre a adoção, como encontrado no discurso da tia analisado neste trabalho. A ambivalência, portanto, é aspecto permanente de um processo sempre em construção, que caracteriza qualquer significação (Abbey & Valsiner, 2005).

A outra característica marcante na análise efetuada diz respeito ao conceito e dinâmica dos campos afetivos. Na investigação da construção de significados, é importante estarmos atentos para expressões de sentimentos e relatos de vivências de situações concretas como, por exemplo, na descrição de rituais que caracterizam o acolhimento de uma criança na família. Como referido na análise, essas situações experimentadas – batismo, festas de aniversário, natal, passagem de ano, entre outras – guardam momentos nos quais campos afetivos foram criados e atuam como signos hipergeneralizados, não plenamente expressos mas atuantes de forma bastante forte (Valsiner, 2012). Damos sentido às nossas relações com o mundo através de sentimentos que são culturalmente organizados, criando e usando signos, e, assim, construindo a nossa cultura pessoal, e, portanto, o processo de significação (Valsiner, 2007).

A análise efetuada nos sugere que a construção de significados é um processo em constante transformação situado em um espaço específico que é coletivo e pessoal. O meio no qual essa construção e reconstrução ocorrem é aquele dominado pela linguagem dos signos, no qual o presente depende do passado, mas se faz a partir das perspectivas do futuro (Valsiner, 2002). Ademais, esse processo, sempre em transformação, acontece na intersecção do sujeito, como agente ativo na sua unicidade, e da cultura, como coletividade partilhada.

O significado da adoção aqui explorado, a partir do estudo de um membro da família extensa de um caso de adoção satisfatória, nos conduz a sugerir algumas direções para os grupos e equipes interprofissionais de orientação à adoção, que resumiremos a seguir.

O primeiro ponto a destacar considera que aqueles que propõem e/ou dirigem esses grupos/equipes estejam atentos para todas as mensagens vigentes na cultura coletiva onde eles estão inseridos. Isso requer a compreensão e a sensibilidade para as normas e valores mais amplos, como as leis vigentes e, por exemplo, as mensagens redundantes disseminadas na mídia, como também para as normas e valores locais, por vezes não verbalizados plenamente mas atuantes, tais como: acolher uma criança por um período e procurar legalizar a situação anos depois, ou atuar como "agente" de adoção, intermediando o processo de forma ilegal. A função da perspectiva aqui proposta é a de destacar a importância de mapear as possibilidades e restrições oferecidas pela cultura coletiva, particularmente as tensões e as ambivalências dos significados sobre adoção que estão sendo construídos.

Do ponto de vista da cultura pessoal, é importante obter dos participantes de qualquer grupo a história individual da sua construção de significados sobre o tema adoção. Isso nos permitirá situar as trajetórias percorridas e, também, as deixadas de percorrer, cogitadas anteriormente ou não, mas possíveis. Por exemplo, a adoção ilegal pode nunca ter sido imaginada pela pessoa em foco, mas ela é uma possibilidade vigente na cultura coletiva nos nossos dias no Brasil. Essas trajetórias deixadas de lado estão presentes na construção atual e nas perspectivas de futuro que os significados guardam (Valsiner & Sato, 2006), originando as tensões e ambivalências atuais. O importante aqui é possibilitar que cada participante construa seus significados sobre adoção, deixando fluir a história pessoal, que poderá levar as pessoas que coordenam os grupos /equipes interprofissionais a identificar os campos afetivos nem sempre plenamente acessíveis ao discurso (Valsiner, 2007), mas atuantes nesse processo semiótico.

Na direção sugerida neste trabalho, o desenvolvimento de uma possível mudança do significado da adoção, no sentido de ampliar tanto a faixa etária escolhida como a diversidade de crianças e adolescentes que se encontram em abrigos à espera de adoção, não surgirá através de quaisquer práticas doutrinadoras, independente do valor – positivo ou negativo – nelas contido. Há de se deixar fluir situações que favoreçam a reflexão sobre a adoção, possibilitando que as pessoas (os sujeitos), candidatas a adotar, a partir de sua síntese pessoal, construam seus significados sobre esse ato. Assim, a orientação psicológica e jurídica sobre adoção realizada com pretendentes precisaria ser um espaço permanente de reflexão, e não apenas uma etapa no processo de habilitação, como determina a legislação brasileira vigente. Além disso, esse espaço poderia acolher também os membros da família extensa, uma vez que eles também estão envolvidos no processo de construção de significados da adoção, além daquele ou daqueles que serão pais e/ou mães.

Submissão em: 29/04/2013

Revisão em: 19/10/2013

Aceite em: 06/03/2014

Tatiana Alves de Melo Valério é Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnlógico no IFPE (Campus Belo Jardim). Mestra em Psicologia Cognitiva (Linha de Pesquisa Cultura e Cognição). Endereço: Rua Sebastião Rodrigues da Costa, s/n. Bairro São Pedro. Belo Jardim/PE, Brasil. CEP 55155-730. E-mail: tatiana.valerio@belojardim.ifpe.edu.br

Maria C. D. P. Lyra é Psicóloga e Bacharel em Psicologia pela Universidade Católica de Pernambuco (1972). Mestrado em Psicologia (Cornell University - 1975) e doutorado em Psicologia (Psicologia Experimental - Universidade de São Paulo - 1988). Pós-doutorado North Carolina University e Utah University Visiting Scholar CNPq Pesquisador Senior). Vinculada à pós-graduação em Psicologia Cognitiva UFPE. E-mail: marialyra2007@gmail.com

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2014

Histórico

  • Aceito
    06 Mar 2014
  • Recebido
    29 Abr 2013
  • Revisado
    19 Out 2013
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