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Editorial

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Com esta edição, chegamos ao final de mais um ano de publicação da RAE. Uma revista científica difere de uma revista pautada, na qual o editor exerce um papel mais centralizador e tem maior liberdade ao estabelecer o que é publicado. A revista científica deve procurar sempre espelhar o que produz o mundo acadêmico, suas idéias, interesses e pulsações.

Assim, entregamos aos leitores em nosso formato habitual quatro artigos, com uma inclinação desta vez para o lado da logística nos artigos de Peter Fernandes Wanke e em outro, de Manuel Fernandes Silva Souza, Roberto Giro Moori e Reynaldo Cavalheiro. O artigo de Fernanda Finotti Perobelli e José Roberto Securato é uma interessante exploração no mundo da gestão de tesouraria, ou do disponível, atualmente ponto central em toda administração financeira saudável. A contribuição do artigo reside na extensão do modelo, usado em empresas financeiras, para empresas de distribuição de energia elétrica. O artigo do tipo ensaio de Fábio Vizeu explora a fecundidade do pensamento de Habermas em possível aplicação ao mundo da construção teórica de organizações.

Prosseguimos na apresentação da seção "RAE-clássicos" com mais uma introdução de Miguel P. Caldas e Sylvia Constant Vergara, continuando na exploração de textos que são fundamentais para a consolidação do interpretacionismo no mundo das construções organizacionais. A pensata convidada é do professor Laurent Lapierre, precedida de breve atualização e contextualização por Thomas Wood Jr. São registradas críticas interessantes e pertinentes ao mundo da Administração e da educação e formação de administradores, tema inegavelmente de grande atualidade, que congrega as mais diferentes inquietações.

A educação em Administração na verdade começou a ser questionada desde o seu início. Já nos primeiros anos do século XX, críticas surgiram às tentativas pioneiras de Wharton e Harvard. Em concomitância com a explosão de MBAs nos Estados Unidos, depois do final da Segunda Guerra Mundial, o relatório patrocinado pela Fundação Ford já mostrava sérias restrições aos programas que então começavam a proliferar. Atualmente autores respeitados na área, como Warren Bennis e Henry Mintzberg, vêm escrevendo de maneira amarga e por vezes cáustica sobre os descaminhos que atribuem à educação e formação de administradores. O que o texto de Lapierre mostra é que possivelmente uma parte das más práticas administrativas pode ser gerada pela má formação dos administradores. Não são apenas as questões sérias da ética dos negócios, mostrando a face inescrupulosa de práticas correntes em administração, mas até mesmo a competência técnica para gerir adequadamente os negócios, levando ao fracasso prejudicial todos os atores empresariais, tanto acionistas, como empregados, clientes, fornecedores e os demais.

Na seção "RAE-documento", temos a reflexão de Marisa Eboli sobre a importante questão das Universidades Corporativas (UC) e a maneira de operá-las. O documento se vincula de certa forma com o texto da pensata de Lapierre, existindo entre eles o denominador comum da educação em administração. O futuro das UCs ainda não é objeto de concordância dentro do mundo da Administração. Alguns acham que elas de forma alguma colidem com as escolas de Administração, na medida em que seus cursos e programas tendem a ser de conteúdo mais técnico e operativo, e não gestionário. Quando se trata de ensinar e atualizar executivos em management, o lugar para fazê-lo são as tradicionais Escolas de Administração (Business Schools). Já outros acham que as UCs podem substituir em grande medida as escolas, especialmente no segmento de educação executiva. O texto de Marisa Eboli discute o papel das lideranças empresariais junto às suas UCs respectivas e a questão da terceirização. Na verdade, as UCs, nessa perspectiva, podem e devem co-existir com as Escolas de Administração por poderem realizar modalidades diversas de parcerias.

Entre as indicações bibliográficas, queremos chamar a atenção para as que estão sendo feitas sobre relações internacionais. Pode parecer estranho a alguns a inclusão do assunto numa revista de Administração. Mas não cremos que seja necessário lembrar sua importância para a área. Primeiramente para os que militam na Administração Pública, para quem o assunto certamente toca mais de perto. Mas os administradores de empresas terão dificuldades crescentes se ignorarem o tradicional, complexo e atualíssimo mundo das relações entre nações num contexto de gestão dos negócios em que a multinacionalização de atividades e a interface empresas/ Estados nacionais tende a adquirir importância crescente. Ainda sobre a questão, é importante lembrar que as relações entre nações podem exercer impactos diversos sobre os negócios. Tente-se entender o mundo sem as relações comerciais, envolvendo barreiras tarifárias e não tarifárias, e vejase se são inteligíveis, quiçá administráveis, sem que se tenha um bom entendimento do relacionamento entre as nações envolvidas.

Finalmente, não podemos deixar de lembrar que a produção de uma revista científica pode valer-se da metáfora do palco nos teatros. Sob os holofotes, e no palco aberto estão atores, atrizes, cantores e bailarinos. Mas nos bastidores, uma multidão de figurinistas, iluminadores, cenaristas, costureiros e ensaiadores tornam o espetáculo possível. Quase sempre o narcisismo espetaculoso daqueles que estão no palco aberto obscurece o talento dos que estão nos bastidores. Neste último número de 2005, estamos abrindo o palco todo e publicando a lista de todos os avaliadores RAE que nos ajudaram a encenar a revista durante este ano.

Palmas a todos eles, e uma boa leitura!

Carlos Osmar Bertero

Diretor e editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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