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SCHUMACHER. O negócio é ser pequeno

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Claude Machline

Professor no Departamento de Administração da Produção e de Operações Industriais, da EAESP/FGV

Schumacher, E. F. O negócio é ser pequeno , 2. ed. Trad. Otávio Alves Velho. Rio de Janeiro, Zahar, 1979. 0 título do original desta obra, em inglês, e Small is Beautiful. A tradução em língua portuguesa é baseada na 6.ª reimpressão, publicada em 1976, por Blond & Briggs, de Londres.

O negócio é ser pequeno consiste numa coleção de artigos escritos e de conferências proferidas pelo autor entre 1964 e 1977, ano do seu falecimento. Alguns capítulos inéditos foram acrescentados, para ajudar a compor um todo orgânico desta coleção de ensaios, que nos permite obter uma clara noção do pensamento básico do autor, economista, professor e presidente da Junta Nacional de Carvão da Grã-Bretanha de 1950 a 1970.

Desde seu aparecimento, em 1973, esta apologia da pequenez constituiu-se em grande êxito junto à crescente legião dos que se inquietam pelo futuro da economia e das instituições humanas.

Os problemas que Schumacher aborda abrangem extensa gama de questões de aguda atualidade, ainda mais para os países menos desenvolvidos:

- ecologia e combate à poluição, sob todas as suas formas;

- preservação dos recursos naturais;

- alternativas energéticas, esgotamento de combustíveis fósseis, ameaças dà energia nuclear e do lixo atômico;

- transferência de tecnologia aos países do Terceiro Mundo; escolha da tecnologia adequada para os países em desenvolvimento; uso de tecnologia intermediária, em oposição à tecnologia requintada, como sendo, mais apropriada para os países menos avançados;

- desenvolvimento regional rural, a fim de combater a excessiva urbanização e a proliferação de favelas em volta das megalópoles;

- aumento da eficiência da ajuda aos países pobres, para que se evite os desapontamentos verificados na década de 70 com a pouca eficiência desse auxílio;

- criação de pequenas e médias empresas,-revertendo-se a tendência de desumanização do trabalhador, característica da grande indústria;

- educação, única fórmula para se controlar a explosão populacional, causa da pobreza que se alastra na maior parte do mundo.

O autor compartilhava a inquietação dos membros do Clube de Roma e do Grupo de Dinâmica de Sistema do Massachusetts Institute of Technology, que, na mesma época, se dedicavam aos problemas de explosão populacional e esgotamento de recursos naturais. Schumacher, entretanto, não perece apreciar modelos matemáticos. Acha desnecessário usar computadores e simulação para concluir que "não há crescimento infinito num mundo de recursos finitos" e que, portanto, devemos procurar equilíbrio e limitar o crescimento.

Schumacher esmera-se em desmascarar o "culto obsessivo do crescimento econômico ilimitado" e também o próprio mito do desenvolvimento econômico forçado por meio de industrialização.

As recomendações centrais do autor, para os países menos desenvolvidos, são contidas em quatro proposições, que transcrevemos:

1. Têm de ser criadas indústrias nas áreas onde as pessoas vivem agora e não, primordialmente, em regiões metropolitanas para as quais tendem a migrar.

2. Essas indústrias têm de ser, em média, suficientemente baratas para que possam ser criadas em grande quantidade sem exigir um nível inatingível de formação de capital e de importações.

3. Os métodos de produção empregados devem ser relativamente simples, de sorte que a demanda de. grandes qualificações seja minimizada, não apenas no processo de produção, mas também em matérias de organização, fornecimento de matérias-primas, financiamento e comercialização.

4. A produção deve ser, sobretudo, dependente de materiais locais e destinada ao consumo local.

Estes quatro requisitos só podem ser satisfeitos se houver um enfoque regional de desenvolvimento e, mais ainda, se houver um esforço consciente para criar e aplicar o que se pode denominar uma "tecnologia intermédia".

Para os países industrializados, o autor propõe como missão fundamental alcançar a pequenez dentro da organização grande, "de modo que cada pessoa possa abarcá-la na mente e imaginação".

Ser pequeno, observa Schumacher no epílogo do seu livro, é praticar quatro virtudes cardinais: prudência, justiça, fortitude e temperança.

Assim, talvez, o homem poderá construir um sistema de produção que não violente a natureza e um tipo de sociedade que não mutile o homem, cerne do pensamento do autor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1982
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