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Tradições comerciais da Bahia: primeiro quartel do século XX

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Tradições comerciais da Bahia: primeiro quartel do século XX

Edgard Carone

Tradições Comerciais do Bahia: Primeiro Quartel do Século XX

Por Deolindo Amorim. Bahia, Publicação Salvador, 1968 (Centro de Estudos Bahianos, 48).

Até agora, com raras exceções, têm sido descuidados os estudos sobre atividades econômicas regionais. Esta falha não nos permite o aprofundamento de questões particulares a cada região, levando-nos sempre a generalizações. Entretanto, a necessidade destes trabalhos fez com que o próprio Capistrano de Abreu encarecesse a sua necessidade, levando-o muitas vezes a sugerir, dos seus discípulos e amigos, vários temas de estudo sobre economia regional.

O pequeno trabalho de Deolindo Amorim é a chegada ao estudo das atividades comerciais na Bahia, no início do século XX. Apesar de não aprofundar o tema, o material que fornece é de grande utilidade.

O comércio português, como nota o autor, é preferencialmente de portugueses, mos, com a abertura dos portos, começam a chegar a Salvador contingentes de franceses, ingleses, suíços, "sem falar no espanhol, que teve e ainda tem muita participação no comércio de circulação local. Judeus, árabes e outros grupos étnicos, por sua vez, também desenvolveram atividades características, entrando pelo interior. No alto comércio, entretanto, o chamado comércio a grosso, e que fazia exportação em larga escala para outras partes do país e abastecia o interior do Estado... o elemento lusitano sempre teve porcentagem acentuada". É assim que, entre as grandes firmas, encontramos as casas Catarino, Wildberger, Costa Ribeiro etc.

Os viajantes ou cometas é que fazem o contato entre as casas comerciais do Salvador e o interior baiano. A sua função não é só de vendedor, mas, também, de recebedor, pois, numa época em que existe pequeno número de bancos, os viajantes são recebedores de dinheiro. Além disto, a sua função freqüentemente amplia-se porque num momento em que é difícil o contato com a capital é comum os viajantes servirem de intermediários entre as reivindicações municipais e o Governo do Estado.

O mais comum é a existência de viajantes especializados, por exemplo, aqueles que só negociam com tecidos, ou ferragens, ou miudezas, ou drogas etc. Raramente existem casas que vendem uma série de produtos, de comércio heterogêneo.

O problema básico, porém, é o da circulação de mercadorias. A cidade de Cachoeira ainda permanece como ponto de contato - como na Colônia e Império - entre Salvador e o sertão: "tudo era difícil e moroso. Havia pontos de desembarque, onde os tropeiros vinham receber as cargas destinadas aos come-cíantes. Grande parte desembarcava em Cachoeira e, dali, em transporte animal, seguia para o sertão. O consignatário recebia as mercadorias em Cachoeira e fazia os despachos para as diversas praças. Em Sítio Novo, ramal de Machado Portela, em direção às Lavras Diamantinas, havia outro ponto de consignação. Depois da Estrada de Ferro, uma vez posta a mercadoria nos armazéns de consignação, o único meio de transporte era a tropa de burros, que levava dias e dias para chegar a destino. Cada fardo de fazenda ou caixão de encomendas levava apenas as iniciais de negociante e o nome da praça".

No entanto, existem algumas exceções ao modelo geral. Certos comerciantes mais poderosos deixam de comprar dos viajantes, indo periodicamente à capital, onde fazem o seu sortimento, o que lhes permitia especular melhor. Mas, o método mais freqüente, segundo o autor, é aquele já descrito largamente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1972
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