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O ensino superior em São Paulo: aspectos quantitativos e qualitativos de sua expansão

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

O ensino superior em São Paulo: aspectos quantitativos e qualitativos de sua expansão

O Ensino Superior em São Paulo: Aspectos Quantitativos e Qualitativos de sua Expansão - Pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo. Relatório elaborado por José Pastore por solicitação das Secretarias de Educação e Planejamento do Estado de São Paulo. Mimeografado, 1970.

A expansão do ensino superior no Estado de São Paulo faz parte da explosão educacional que parece atingir a sociedade brasileira, a partir da década de 50.

Assim, de acôrdo com o relatório elaborado por José Pastore, havia, no Estado de São Paulo, cerca de 12.000 estudantes universitários em 1950; em 1960, êsse número aproximava-se de 26.000. A partir de 1960 as matrículas em ensino superior tiveram um grande aumento sendo que, em 1968, quase no fim da década, estimava-se em cerca de 85.000 o número de estudantes universitários no Estado de São Paulo (p. 12).

Essa explosão vem provocando uma melhoria qualitativa no nível educacional da população? A provável democratização do ensino superior, acarretada por tal explosão, significa que a educação vem-se colocando mais e mais à disposição do indivíduo e da comunidade?

A leitura do relatório de Pastore deixa a clara impressão de que a resposta a essas perguntas é não. Aqueles que lutarem na sociedade brasileira pela expansão e democratização do ensino, com a esperança de que isso promovesse a melhoria da qualidade de vida da população, puderam, muito bem, ter tido uma vitória de Pirro ou, como queiram os políticos do velho PSD mineiro, "ganharam mas não levaram".

O relatório de Pastore divide-se em três partes principais. Na primeira, o autor examina a evolução do ensino superior em São Paulo. A segunda parte é dedicada ao exame da quantidade e qualidade do ensino superior. Para tanto, Pastore analisa a situação das engenharias, das ciências, da saúde, da economia e administração, das faculdades de filosofia, das faculdades de direito, das escolas de serviço social, das artes e comunicações e, finalmente, da pós-graduação. A terceira parte é dedicada à distribuição geográfica do ensino superior no Estado de São Paulo.

O relatório de Pastore possui a grande virtude de combinar a descrição cuidadosa da realidade com um texto interpretativo.

Tome-se, por exemplo, o caso da economia e administração, que deve interessar mais de perto aos leitores desta revista. Esses cursos contavam, em 1968, com 12.967 estudantes ou 15,2% da população total de alunos de nível superior, em São Paulo. Os cursos eram caracteristicamente masculinos desde que 95% dos alunos eram homens. Um outro traço característico desse ramo era o de ser noturno pois 81% dos estudantes freqüentavam escolas noturnas. Cerca de 70% das escolas de economia e administração têm menos de 18 anos. A ampliação de matrículas nesses cursos foi simplesmente espetacular no período 1940-1968. Em 1940 havia apenas 70 alunos matriculados na 1* série desses cursos; em 1968, êsse montante elevou-se a 5.654. De 1965 a 1968 o incremento de matrículas foi de 130%! (p. 102).

Examinando essa situação, Pastore afirma que o crescimento desproporcional dos cursos desse ramo é injustificado do ponto de vista econômico; considerando-se simplesmente o incremento de 1965 para 1968 é fácil imaginar que tais cursos estão oferecendo um excedente profissional fantástico, que tende a se agravar, considerando que as escolas desse setor demonstram franca disposição de ampliação de matrícula (p. 103).

A simples expansão, que visa a um excedente de profissionais no mercado, não reflete, entretanto, a qualidade do ensino, se bem que não se possa esperar muito de um ramo educacional superior que funciona, praticamente, à noite.

Mas, o relatório de Pastore não termina aí.

Afirma êle que a pobreza das bibliotecas das escolas de economia e administração é um fato alarmante. Embora tôdas elas tenham indicado existência de biblioteca, a observação revelou que na maioria dos casos as escolas têm simplesmente um depósito de livros, em geral poucos e inadequados. Há quatro escolas, que possuem menos de 1.000 livros e 10 que se localizam entre 1.000 e 5.000 volumes. Portanto, quase 50% das escolas tem bibliotecas com um número médio de 2.000 volumes, em sua maioria antiquados e documentos governamentais de distribuição gratuita e automática (p. 109).

O corpo docente nessas escolas é bastante flutuante. Em 70% das escolas, os professores são todos contratados por aula e com níveis de remuneração baixíssimos. Há 5 escolas (17%) que remuneram seus professores na base de Cr$ 5,00 a Cr$ 10,00 por aula; 9 (30%) pagam entre Cr$ 10,00 e Cr$ 15,00; outras declaram pagar entre Cr$ 16,00 e Cr$ 20,00. Apenas 18% dos professores são de tempo integral (p. 111).

Nessas condições, o ensino de economia e administração é uma verdadeira fraude. Êle não existe. A pesquisa científica, então, é inexistente até mesmo nas melhores escolas do ramo.

Mas os bacharéis em economia e administração estão aí. São eles que irão gerir as emprêsas particulares e públicas do Brasil. São eles que irão planejar a nossa economia e as nossas reformas administrativas.

O Governo, cedendo à pressão dos excedentes, recompensa as escolas que expandem suas matrículas de ano para ano. O resultado é um verdadeiro círculo vicioso, que só o Governo será capaz de romper.

O relatório de Pastore está aí. Êle é um retrato fiel da nossa pobre realidade educacional. Como irá reagir o Governo?

Manoel Tosta Berlinck

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1970
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