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Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

José Carlos Garcia Durand

Stein, Stanley, Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil, 1850-1950. Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1979.

A obra desse historiador econômico, precursor da safra mais recente de brazilianists, chega ao leitor brasileiro com ponderável atraso (edição original de 1957). A demora em torná-lo mais acessível ao leitor brasileiro só pode ser explicada por inércia editorial, posto que o texto vale muito a pena. Apesar de que, desde o título até a conclusão final, o autor circunscreve, disciplinadamente, ao que tomou por objeto - a produção têxtil nacional - a amplitude temporal abrangida e a posição dominante do setor no conjunto da indústria da época fazem do livro de Stein contribuição importante à história da industrialização brasileira.

O leitor poderá encontrar uma periodização nítida no processo analisado, que assinala nos anos 80, na transição para a República, o final de uma etapa inicial do setor. Nele o empresário, órfão do amparo estatal, retraído perante o comerciante atacadista nas suas relações com o mercado, sobrevivia das vantagens de custo e preço em substituir importações de tecidos grosseiros. Nem mesmo perante os fornecedores de fibra sua figura se impunha, pois foi destinatário, por muito tempo, das sobras de uma lavoura basicamente voltada à exportação. Valer-se de mão-de-obra escrava ou livre recrutada em asilos era prática corriqueira, antes da formação de um mercado de força de trabalho.

As quatro décadas da primeira república compreendem uma fase de prosperidade acentuada. A aglutinação dos grandes produtores têxteis em torno da Associação Industrial, fundada em 1881, e a cooptação de grandes atacadistas mediante alianças acionárias, que carreia às principais empresas cariocas uma indispensável experiência comercial, estão entre os fatores políticos mais importantes para a imposição dos interesses setoriais. Em decorrência, obtém-se uma tarifa eficaz contra o tecido importado e empréstimos generosos captados pelo Governo junto ao público.

A ampliação do mercado consumidor comandada pela difusão do trabalho assalariado, a oferta interna de energia elétrica substituindo a hidráulica e a importação facilitada de teares ingleses (inclusive vendidos a prazo) compõem os demais fatores que impulsionam rápida e seguramente o setor.

A I Guerra Mundial contém a oferta de tecidos importados e permite que, em 1919, três quartos do consumo brasileiro sejam satisfeitos internamente. Por sua vez, a Segunda Grande Guerra fará com que a indústria brasileira possa fornecer ao restante da América Latina, e o consumo externo absorva um quarto da produção total. O desafogo que propicia faz abrandar os temores e as queixas de um setor cujos industriais admitiam o estado de superprodução. É interessante acompanhar o relato da campanha movida pela oligarquia industrial, a fim de conseguir, com a mediação do Estado, conter o aumento da produção e da importação de teares. Reconstruindo o terreno da disputa, Stein conta-nos o quanto de falso havia nas demandas contencionistas da produção e a estratégia monopolística que elas dissimulavam.

Como dizem analistas recentes, o têxtil é o setor onde menos consenso existe entre empresários quanto às condições do mercado. Certamente, na raiz da confusão, está a operar novamente o fantasma da superprodução e a disputa difícil por um mercado externo que ora não conta com guerras para derrubar barreiras protecionistas. Por tudo isso, o livro é indispensável a quem pretenda uma visão inteligível do setor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1981
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