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Promoção à Saúde de Adolescentes: um Programa de Extensão em Medicina Social

Adolescent Health Promotion: a Community Program in Social Medicine

Resumo:

Apresentam-se as atividades realizadas em um programa de promoção a saúde junto ao Projeto dos Meninos, que atende 40 adolescentes em situação de risco psicossocial, ligado a um centro comunitário em Uberaba (MG). As atividades são desenvolvidas por docentes do Departamento de Medicina Social e acadêmicos do primeiro ano de medicina durante um semestre letivo, buscando não somente contribuir para compreensão da realidade circundante, estudando-a em diálogo com outros setores, mas também para incorporação de valores transcendentes, como direitos humanos, solidariedade, e ética e responsabilidade social. Foram realizadas visitas domiciliares e discussão de temas de saúde através de equipe constituída de acadêmicos de medicina, adolescentes e educadores do Projeto, entre outros. Os resultados das discussões são compartilhados com a equipe do Programa de Saúde da família que atua na microárea, servindo de subsidio para que desenvolvam também ações junto àquela população. O processo evidenciou entre os acadêmicos resistência inicial a conhecera realidade social dos meninos, a assumir compromisso com aspectos de saúde-doença daquela comunidade e a desenvolver atividades conjuntas. Durante o processo, ocorreu mudança para comportamento mais afetuoso de ambos os grupos (meninos e estudantes) troca de informações e experiências, bem como elaboração conjunta de eventos educativos. Esta atividade fez com que, de um lado, os alunos pudessem estar atuando na promoção à saúde física e mental dos meninos e, de outro, pudessem estar refletindo sobre seu compromisso social e a importância do trabalho em equipe, habilidades que deverão ser exercidas pelo futuro médico.

Palavras-chave:
Medicina Social; Educação Médica; Adolescência; Promoção da Saúde; Serviços de Saúde a adolescentes

Abstract:

This study discusses the activities carried out in a health promotion program conducted with the Boys' Project, which involves 40 adolescents at psychosocial risk affiliated with a community center in Uberaba, Minas Gerais State. The activities, lasting one semester, are conducted by faculty members from the Department of Social Medicine and first-year medicine students, aimed at helping understand the surrounding reality (studying it through a process of dialogue with other social segments) and incorporating more highly-developed values like human rights, solidarity, ethics, and social responsibility. Activities included home visits and discussion of health themes through a team consisting of medical students, adolescents, and teachers from the Boys' Project among others. Results of the discussions are shared with the staff of the Family Health Program working in the area, serving as back-up to develop activities with the target population. The process showed that medical students were initially resistant to learning about the boys' social reality, assuming a commitment vis-à-vis health/disease aspects in the community, or developing joint activities. During the process a change occurred towards a friendlier behavior among both groups (boys and medical students), exchange of information and experiences, and the collaborative preparation of, educational events. Students were thus able to help promote the boys' physical and mental health, while reflecting on their own social commitment and the importance of teamwork, essential skills for their future practice as physicians.

Key-words:
Social Medicine; Education, Medical; Adolescence; Health Promotion; Adolescent Health Services

INTRODUÇÃO

O debate sobre a situação da infância e adolescência no Brasil tem recrudescido nas últimas décadas. Para Santana11. Santana JSS. Saúde-doença no cotidiano de meninos e meninas de rua: ampliando o agir da enfermagem. [dissertação] Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998., a fundamentação teórica sobre a situação de adolescentes em risco psicossocial coaduna-se com a proposição de que essa problemática representa uma situação urgente e de responsabilidade de todos.

Macêdo22. Macêdo MJ, Brito SMO. A luta pela cidadania dos meninos do movimento nacional de meninos e meninas de rua: uma ideologia reconstrutora. Psicol Reflex Crit 1998; 11:511-522. considera que a tomada de consciência da realidade propicia a esses meninos uma constante luta por seus direitos. Santos e Silva33. Santos e Silva A, Reppoldi CT, Santos CL, Prade LT, Silva MR, Alves PB, Koller SH. Crianças em situação de rua de Porto Alegre: um estudo descritivo. Psicol Reflex Crit 1998; 11:411-417. enfatizam a importância da realização de estudos descritivos para caracterizar essa população e desvendar as relações familiares, com o trabalho e com a escola, bem como a forma como os meninos ocupam seu tempo. Maciel44. Maciel C, Brito S, Camino L. Caracterização dos meninos em situação de rua de João Pessoa. Psicol Reflex Crit 1997; 10:315-334. estuda a inserção desses meninos na escola e aponta neles um forte desejo de estudar, embora a necessidade de realizar qualquer tipo de trabalho dificulte e até inviabilize essa proposta. Villarosa55. Villarosa FN, Bunchaft A. Meninos de rua e acesso aos serviços de saúde em Salvador-Bahia. Rev Baiana de Saúde Pública 20:13-22. aponta a escassez de oferta de serviços de saúde para esse tipo de clientela, em que não há acompanhamento de doenças. Minayo66. Minayo MCS. Quando o conhecer é parte do compromisso social. In: Minayo MCS. O limite da exclusão social: meninos e meninas de rua no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1993. p.17-30. traça o perfil dos adolescentes em situação de risco psicossocial no Brasil do ponto de vista socioeconómico e cultural, dando atenção aos problemas familiares, educacionais, sanitários e às condições de vida, chamando a atenção para a necessidade de políticas sociais para enfrentar o problema.

No município de Uberaba (MG), várias instituições têm atendido o adolescente; a maioria delas dirige-se à recuperação de infratores ou oferece abrigo para menores em situação de risco psicossocial.

Preocupados com essa problemática, iniciamos, em 1999, uma discussão no Departamento de Medicina Social da FMTM, no sentido de encaminhar projetos que possibilitassem a construção de uma proposta de ensino em saúde voltada para esta realidade. Estaríamos, assim, contribuindo para a formação de profissionais com compro­ misso social e capazes de estabelecer vínculos com a sociedade para enfrentamento de problemas desta natureza77. Brasil. Ministério da Educação. Minuta do anteprojeto das diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em Medicina. Comissão de especialistas do ensino médico. Brasília: MEC, 1999.. Na disciplina Saúde e Sociedade, busca-se uma melhor compreensão do processo saúde-doença, das práticas de saúde e de suas articulações com a estrutura social, partindo-se de situações concretas no município88. Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes pedagógicas do curso de graduação em Medicina. Uberaba: Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. 2000. p. 59-61..

O objetivo deste trabalho é apresentar uma atividade realizada em um programa de promoção à saúde junto a adolescentes em situação de risco psicossocial em Uberaba (MG) por docentes de Medicina Social e acadêmicos de medicina e enfermagem no período de outubro de 1999 a dezembro de 2000.

MATERIAL E MÉTODOS

A partir de um primeiro contato com a diretoria de um centro comunitário, fomos conhecer o Projeto dos Meninos e identificar as possíveis ações de ensino e promoção à saúde que poderiam ser ali desenvolvidas.

O projeto atende 40 adolescentes, que recebem, diariamente, R$0,60 (sessenta centavos de real) para com parecerem à sua sede e se engajarem em suas atividades, abandonando a permanência livre nas ruas do município. De segunda a sexta-feira, têm atividades educativas, destacando-se um curso de valores humanos e outros profissionalizantes (informática, artesanato, fabricação de detergentes) e recreativas (futebol, outros esportes e artes). Na primeira reunião com os meninos, foram explicitados os interesses da disciplina Saúde e Sociedade em atuar conjuntamente na área da saúde e indagou-se a respeito dos problemas de saúde que seriam relevantes naquela comunidade. Os meninos sinalizaram a importância das doenças de idosos falta de saneamento básico, violência doméstica e outros problemas familiares em sua vivência diária. Colocaram-se à disposição para ajudar os acadêmicos de medicina a realizar um diagnóstico de saúde da área circunvizinha ao projeto a partir de visitas domiciliares ciceroneadas por eles.

A partir de então, foi realizado um acordo verbal entre os membros do Centro Comunitário e o corpo docente para que os meninos ajudassem ativamente, em seu horário de atividades e com a participação do coordenador do projeto, na identificação dos problemas de saúde da área. Essa atividade estaria também subsidiando a discussão de questões teóricas das disciplinas Saúde e Sociedade, e Políticas de Saúde, do Departamento de Medicina Social, oferecidas aos cursos de medicina e enfermagem da FMTM. Em contrapartida, a instituição universitária procuraria responder às demandas surgidas, em benefício da população moradora naquela localidade, encaminhando também os resultados à equipe de Saúde da família que atua na área no sentido de colaborar para o desenvolvimento de suas atividades.

No encontro inicial entre alunos da FMTM e adolescentes do projeto, buscou-se desenvolver atividades que aproximassem os adolescentes e os acadêmicos através de dinâmica de grupo. Foi elaborada uma proposta de trabalho conjunto e levantados os temas de interesse dos participantes do projeto para serem aprofundados. Por votação, foram escolhidos drogadição e doenças sexualmente transmissíveis.

As visitas de reconhecimento de área foram iniciadas nos domicílios da área do bairro onde se situa a instituição, contando com duplas de acadêmicos do primeiro e segundo períodos de medicina, dois adolescentes e uma educadora do projeto. Em cada domicílio era aplicado um questionário predefinido a um de seus moradores, e, ao longo de todo o semestre, essa atividade constituiu-se nas aulas práticas regulares da disciplina Saúde e Sociedade para alunos de medicina do primeiro ano.

O formulário de entrevistas focalizava questões de ambiente físico, socioeconómico, de saúde e características gerais, como recursos para a vida cotidiana, infra-estrutura, hábitos, lideranças e organização comunitária no bairro99. Divillarosa FNA. Estimativa rápida e a Divisão do Território no Distrito Sanitário: manual de instruções. Brasília: OPAS, Cooperação Italiana em Saúde, 1993..

Foram realizadas 40 entrevistas domiciliares. A seguir, foram consolidados os dados coletados e, com eles, traçou-se a caracterização geral da área e a identificação dos problemas mais frequentemente apontados pelos moradores entrevistados. A partir de eleição entre os adolescentes do projeto, foram definidos quatro problemas a serem trabalhados prioritariamente, drogadição, verminose, violência e pediculose. Para a discussão desses temas com os meninos, optou-se pela técnica de construção da rede explicativa1010. Tancredi FB. Planejamento em Saúde. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP. 1998. (Saúde e Cidadania). com discussão sobre a causalidade destes problemas (Anexos de 1 ANEXO 1 Rede Explicativa do Problema Drogadição a 4 ANEXO 4 Rede Explicativa do Problema Pediculose ).

A seguir, foram planejadas ações com vistas ao enfrentamento de nós críticos de dois dos problemas priorizados (verminose e drogadição), devido à limitação de tempo para abordar e enfrentar todos eles. Como desdobramento das atividades, os adolescentes do projeto visitaram o Laboratório de Parasitologia da FMTM para visualização macroscópica de parasitas e microscópica de ovos e larvas.

Para aprofundar os outros temas demandados pelos adolescentes na primeira reunião, foram realizadas ações educativas relacionadas a drogadição e doenças sexualmente transmissíveis, através de dramatização, colagem em cartazes e composição de paródia. A equipe do Programa de Saúde da Família também abordou esta temática a partir de dramatização, num encontro do qual participaram os acadêmicos de medicina e os adolescentes do projeto.

Ao longo de todo esse processo, também foi possível aos acadêmicos desenvolver habilidades através do teatro de percussão realizado no projeto. Trata-se de atividade preexistente à parceria com a FMTM, constituída de dramatização e sonoplastia a partir de percussão rítmica em material de sucata de tambores plásticos já utilizados como recipientes de produtos químicos atóxicos. Realizada duas vezes por semana durante duas horas, essa atividade representa um momento em que ocorre socialização, desenvolvimento psicomotor, artístico e de equipe, disciplina e expressão corporal. Alguns alunos do curso de medicina demonstraram interesse em integrar-se a essa atividade e foram aceitos. Durante o desenvolvimento da disciplina, os alunos tocaram os instrumentos e integraram todo o esquema do teatro de percussão.

Resultados

No início do semestre, foi possível observar, nas primeiras atividades em equipe, tanto entre os acadêmicos quanto entre os adolescentes, um comportamento arredio e desconfiado. Com o desenvolvimento do trabalho conjunto, os meninos do projeto foram se desinibindo, expressando-se com mais liberdade, comunicando-se melhor tomando iniciativa no desenvolvimento das ações e, a partir de então, foi possível observar a presença de líderes entre eles. Estes colaboravam na organização das atividades e no comando do grupo. Essa experiência possibilitou a muitos deles redefinições sobre seu valor, sua capacidade de trabalho e seu papel no grupo. Por exemplo, um adolescente do projeto dificultava o desenvolvimento das atividades: ridicularizando os outros que se propunham desenvolvê-las, ria acintosamente e tentava cooptar os mais velhos e mais antigos, porque eram de seu grupo mais íntimo. Ao percebermos isso, solicitamos que ele representasse os adolescentes na elaboração de um roteiro de pesquisa de hábitos de higiene entre os participantes do projeto. Após esse convite, o menino mostrou-se extremamente colaborador, interessado, solícito e passou a melhorar seus próprios hábitos de cuidados pessoais. No grupo, passou a incentivar os colegas a participar das atividades, o que evidenciou sua inteligência e capacidade de liderança1111. Bordenave JD, Pereira AM. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1977..

A Resistência Inicial dos Acadêmicos

A postura inicial dos acadêmicos de medicina foi semelhante, embora manifestada de outras formas. Alguns alunos ficavam em pé, próximo à porta de salda, alguns nem chegavam a entrar no salão do projeto; outros sentavam se, mas em local distante dos meninos, sem entabular qualquer diálogo, e outros ainda chegavam a verbalizar reclamações contra a temperatura ambiente, o odor exalado pelo terreno contíguo, a presença de poeira na rua sem pavimentação. Alguns afirmavam não entender a relação entre o conteúdo da disciplina, sua opção profissional e as atividades práticas ali desenvolvidas. No trajeto entre a FMTM e a sede do projeto, alguns alunos falavam alto, riam e causavam constrangimento aos moradores, que dirigiam um olhar desconfiado à equipe. Ao ser solicitado a adotar postura mais discreta e adequada, um grupo de alunos chegou a dizer que não se sentia responsável pela situação de vida daquelas pessoas e não via motivos para não expressar sua alegria.

A partir dessa afirmação, foi possível trabalhar em sala a questão da responsabilidade social do acadêmico, do profissional de saúde e da pessoa humana diante da situação social de exclusão, adversidade e iniquidade.

Ao final da disciplina, um desses alunos considerou-se mais humanizado pela prática ali realizada, por ter se sensibilizado e apreendido a necessidade de estabelecer uma relação empática com o sofrimento de outras pessoas no convívio acadêmico e profissional.

Além disso, no intuito de diminuir as atitudes resistentes, tentamos atribuir e, conjuntamente, escolher os papéis que mais se adequassem às potencialidades, talentos e desejos dos alunos na realização de tarefas.

A Avaliação da Disciplina pelos Alunos

A disciplina Saúde e Sociedade foi avaliada pelos 40 alunos que a cursaram após a divulgação da nota e média final. Foi solicitada de toda a turma a redação de um texto referente aos seguintes aspectos: conteúdo teórico, prático, coerência entre teoria e prática, desempenho do professor e contribuição da experiência vivida na formação médica. Segundo avaliação deles, todo o processo permitiu, a partir do reconhecimento e debate de problemas detectados em um território, que os alunos refletissem sobre seu papel social. Consideraram na importante para a humanização do futuro profissional, seu amadurecimento e crescimento pessoal. Estas conquistas puderam ser reconhecidas através, por exemplo, da mudança de postura diante de situações anteriormente vivenciadas.

Os alunos não negaram a diferença existente entre eles e os meninos do projeto. Entretanto, superaram, em alguma medida, a alienação deles mesmos em relação a grupos sociais como o dos meninos, a seus próprios colegas de turma e à sociedade em geral. Isto pode ser percebido também a partir do reconhecimento e valorização, por parte dos acadêmicos, das capacidades não desenvolvidas deles mesmos e dos meninos. Esta potencialidade foi reconhecida tanto no aspecto cognitivo quanto no afetivo, na capacidade de estabelecer vínculos que favoreceram a socialização, a expressão no grupo e a busca de soluções para problemas que se apresentavam no cotidiano das atividades. Além disso, alguns alunos referiram a percepção de quão difícil pode ser a vida para algumas pessoas na sociedade, motivando neles a solidariedade, o desejo de maior integração, de desenvolver outros trabalhos semelhantes no decorrer do curso de graduação. Houve também o grupo de alunos que inicialmente resistiu ao programa proposto, o que despertou a manifestação de outros.

Dois alunos (5.0%), que participaram com postura mais distante, fizeram comentários desfavoráveis quanto à importância e efetiva contribuição da disciplina em sua formação.

A Avaliação dos Alunos pela Disciplina

O desempenho dos alunos foi avaliado a partir de frequência e participação nas atividades de campo. Todos foram aprovados, obtendo mais do que 75% de presença. O envolvimento com a proposta foi heterogêneo, porém todos participaram ativamente. Ocorreram faltas em véspera de provas de outras disciplinas (anatomia, principalmente), porém em menor número nas práticas em comunidade, em relação àquelas desenvolvidas em sala de aula.

Observou-se que os alunos mais envolvidos têm história anterior de trabalho comunitário no movimento secundarista ou em outros ligados a instituições religiosas ou filantrópicas.

COMENTÁRIOS FINAIS

A Declaração de Edimburgo sustenta que o objetivo da educação médica é formar médicos que contribuam para a promoção da saúde das pessoas e que este objetivo não tem sido cumprido apesar do progresso nas ciências biomédicas. Devem ser envidados esforços para introduzir maior consciência social nas faculdades de medicina no sentido de contribuir para a equidade na atenção à saúde e prestação humanitária dos serviços de saúde. Para isto, uma das estratégias recomendadas seria a de que os programas educativos contemplassem também recursos da comunidade e não somente os hospitais, assegurando a aprendizagem junto a outras profissões e a capacitação para o trabalho em equipe1212. Organização Mundial da Saúde. Resolução XII: informe sobre la Conferência mundial de educación médica. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out17]; 14(2): 206-209 [4 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/ revistas/sem/indice.html
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),(1313. Federación mundial para la educación médica. Cumbre mundial de educación Médica: declaración de Edimburgo 1993. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out 17]; 14(3): 270-83 [4 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/revistas/ems/indice.html
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O Projeto dos Meninos foi um ponto de partida singular para a formação dos académicos, que não seria conseguida com o ·engajamento em outro projeto social qualquer. A filosofia que rege o funcionamento daquela instituição é baseada em princípios humanistas, de justiça e desenvolvimento social. Assim, consideramos a importância de haver critérios não só utilitários para estabelecer parcerias, mas também éticos e filosóficos.

A educação superior deveria ser instrumento para enfrentar os desafios do mundo moderno e para formar cidadãos capazes de construir uma sociedade mais justa, baseada na solidariedade e no respeito aos direitos humanos1414. Unesco. Conferencia regional sobre políticas y estrategias para la transformación de la educación superior en América Latina y el Caribe. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out 17]; 14(3): 284-306 [4 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/revistas/ems/indice.html
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Neste novo século, as novas gerações deverão estar preparadas com novas competências, novos conhecimentos e novas ideais. E à educação superior cabe o papel de contribuir para que a sociedade contemporânea, que vive uma profunda crise de valores, possa transcender as questões meramente econômicas e assumir dimensões de moralidade e de espiritualidade mais arraigadas1515. Unesco. Declaración mundial sobre la educación superior en el sieg lo XXI: visión y acción. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico online] 2000 [capturado em 2001 Out 17]; 14(3):253-269 [5 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/ revistas/ems/indice.html
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. Para tanto, o conteúdo tem que “provocar emoção, estimular nossa identidade e mover fibras afetivas”, a fim de que os valores formadas sejam expressão legitima e autêntica do sujeito que os assume e não somente um valor formal que regula a atitude diante de situações de pressão ou controle externos1616. Maura VG. La educación de valores en el curriculum universitario: un enfoque psicopedagógico para su estudio. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out 17]; 14(1): 74-82 [5 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/revistas/ems/indice.html
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O desenvolvimento das atividades junto ao Projeto dos Meninos permitiu uma reflexão sobre aspectos pedagógicos, sociais e político-institucionais que tanto podem facilitar como dificultar o desenvolvimento de um currículo comprometido com estas propostas1212. Organização Mundial da Saúde. Resolução XII: informe sobre la Conferência mundial de educación médica. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out17]; 14(2): 206-209 [4 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/ revistas/sem/indice.html
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)-(1616. Maura VG. La educación de valores en el curriculum universitario: un enfoque psicopedagógico para su estudio. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out 17]; 14(1): 74-82 [5 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/revistas/ems/indice.html
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A educação superior precisa trabalhar com métodos pedagógicos para formar graduados que aprendam a aprender e a empreender, favorecendo o desenvolvimento da pessoa como um todo, de sua autonomia e socialização1414. Unesco. Conferencia regional sobre políticas y estrategias para la transformación de la educación superior en América Latina y el Caribe. Rev Cubana Educ Méd Sup [periódico on line] 2000 [capturado em 2001 Out 17]; 14(3): 284-306 [4 telas]. Disponível em: Disponível em: http://bvs.sld.cu/revistas/ems/indice.html
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. Do ponto de vista pedagógico, no Projeto dos Meninos, trabalhou-se a dificuldade de estabelecer comunicação, aceitar o diferente e a percepção da existência de outros valores. Os acadêmicos perceberam a potencialidade dos meninos, sua capacidade de acolhimento e de integração em equipe. Isso, de certa forma, pode colaborar para que, no futuro exercício profissional, o médico olhe para essa parcela da população de forma menos discriminativa.

No aspecto social, promoveu um encontro que suscitou, inicialmente, agressividade, resistência e postura desafiadora dos meninos contra membros da universidade, o que pode representar a contestação contra a classe dominante ali representada pelos universitários. Quem desafia o líder quer liderar, e a questão, nesse projeto especifico, foi canalizar o potencial de liderança dos adolescentes para projetos construtivos e saudáveis. Caso contrário, poderia resultar em sentimento de abuso, de sentir-se usado, observado e invadido, sem qualquer retorno material, emocional ou social.

As atividades de ensino possibilitaram a promoção da saúde dos meninos e colaboraram também com a saúde dos acadêmicos, uma vez que proporcionaram espaço para a discussão de problemas, lazer, solidariedade, oportunidade de expressar o lado saudável a, criatividade e o resgate da espiritualidade. Foi possível discutir e diferenciar acolhimento de assistencialismo, trabalhando a promoção da pessoa como agente ativo de sua própria vida, construindo uma relação de responsabilidade e compromisso mútuos, com possibilidade de mobilizar potencialidades que afastam e não reforçam o sentimento de impotência, tanto do profissional de saúde diante da realidade, quanto da população marginalizada diante de seu quotidiano1717. Vasconcelos EM. Educação popular e atenção à saúde da família. São Paulo: Hucitec ,1999.),(1818. Minuchin P, Colapinto J, Minuchin S. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999..

Do ponto de vista institucional, esse projeto procurou contemplar as diretrizes curriculares nacionais para cursos de medicina, entre elas o senso de responsabilidade social e capacidade de trabalhar em equipe. A partir d a compreensão da realidade circundante, estudando-a em diálogo com outros setores, buscou-se contribuir para a incorporação de valores transcendentes, tais como direitos humanos, solidariedade e ética, e responsabilidade social. Ressaltamos nossa preocupação e esforço para que atividades desta natureza permeiem todo o currículo e não sejam somente atividades pontuais de uma ou outra disciplina, configurando-se em preocupação institucional, fortalecendo o vínculo até então iniciado entre a comunidade e a FMTM.

Buscamos não somente o contato e a observação por parte de alunos de situações de pobreza, mas sua vinculação e engajamento, tomando parte, juntamente com os adolescentes do projeto, da definição de problemas e do encaminhamento de soluções. Neste sentido, as atividades no Projeto dos Meninos continuam até a presente data.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    Minuchin P, Colapinto J, Minuchin S. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

ANEXO 1

Rede Explicativa do Problema Drogadição

ANEXO 2

Rede Explicativa do Problema Verminose

ANEXO 3

Rede Explicativa do Problema Verminose

ANEXO 4

Rede Explicativa do Problema Pediculose

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2002

Histórico

  • Recebido
    05 Abr 2001
  • Revisado
    12 Dez 2001
  • Aceito
    11 Nov 2001
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