Efeito da prática do método canguru na formação e fortalecimento do vínculo mãe-bebê: uma revisão sistemática

Caetano, Carolina; Pereira, Bianca Baptista; Konstantyner, Tulio

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Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil

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Sumário

REVISÃO • Rev. Bras. Saúde Mater. Infant. 22 (01) • Jan-Mar 2022 • https://doi.org/10.1590/1806-93042022000100002 copiar

Efeito da prática do método canguru na formação e fortalecimento do vínculo mãe-bebê: uma revisão sistemática

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Objetivos:

estudo de revisão sistemática com objetivo de estimar o efeito da prática do método canguru (MC) na formação e fortalecimento do vínculo mãe-bebê (VMB).

Métodos:

foram realizadas buscas independentes em três bases de dados internacionais nas bases de dados United States National Library of Medicine - PubMed, Scientific Electronic Library Online - Scielo e Web of Science. As buscas foram feitas sem limite para idioma e ano de publicação.

Resultados:

a seleção final foi composta por 27 estudos, 14 de caráter quantitativo (nove ensaios clínicos e cinco observacionais) e 13 qualitativos. Todos os artigos qualitativos e a maioria dos quantitativos (n=10) apontaram a prática do MC como favorável à formação e ao fortalecimento do VMB. Os demais estudos quantitativos não apresentaram diferenças estatisticamente significantes nas comparações realizadas entre grupos. Nenhum dos 27 estudos encontrou efeitos desfavoráveis resultantes da prática do MC sobre o VMB.

Conclusão:

os resultados sugerem que o MC favorece a formação e o fortalecimento do VMB independentemente do peso e idade gestacional dos recém-nascidos e do ambiente de medição (hospital ou domicílio). Assim, o incentivo a execução desta intervenção biopsicossocial de atenção qualificada e humanizada é recomendada para a promoção de saúde da criança.

Palavras-chave
Método canguru; Relações mãe-filho; Recém-nascido; Saúde da criança; Saúde materno-infantil; Enfermagem materno-infantil

Autor (ano)	Metodologia					Resultados
Autor (ano)	País	Amostra	Intervenção	Desfecho	Análise	Resultados
Lewis et al.¹⁹19 Lewis TP, Andrews KG, Shenberger E, Betancourt TS, Fink G, Pereira S, et al. Caregiving can be costly: A qualitative study of barriers and facilitators to conducting kangaroo mother care in a US tertiary hospital neonatal intensive care unit. BMC Pregnancy Childbirth. 2019 Jul; 19: 227. (2019)	EUA	n=20 BMB (IG 30-37 sem)	MC na IH	Experiências maternas (ESE na AH)	I	75% das mães se sentiram mais próximas ao bebê
Maastrupet al.²⁰20 Maastrup R, Weis J, Engsig AB, Johannsen KL, Zoffmann V. “Now she has become my daughter”: parent’s early experiences of skin-to-skin contact with extremely preterm infants. Scand J Caring Sci. 2017 Jun; 32 (2): 545-53. (2017)	Dinamarca	n=13 BMB (IG<28 sem)	1 ses MC na IH	Opinião materna (ESE)	I	Mães apontaram o CPP essencial na formação do VMB
Flacking et al.¹⁰10 Flacking R, Thomson G, Axelin A. Pathways to emotional closeness in neonatal units - a cross-national qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth. 2016 Jul; 16: 170. (2016)	Europa MuC	n=23 BMB (IG<37 sem)	MC na IH	Experiências maternas (EA na IH)	T	Mães afirmaram que MC promoveram VMB
Hagen et al.²¹21 Hagen IH, Iversen VC, Svindseth MF. Differences and similarities between mothers and fathers of premature children: a qualitative study of parent’s coping experiences in a neonatal intensive care unit. BMC Pediatr. 2016 Jul; 16 (92): 1-9. (2016)	Noruega	n=8 BMB (IG<32 sem)	MC na IH	Experiências maternas (ESE 1 e 6 meses após AH)	F	Mães afirmam que o MC foi mais efetivo que o colo no fortalecimento do VMB
Cooper et al.²²22 Cooper L, Morrill A, Russell RB, Gooding JS, Miller L, Berns SD. Close to me: enhancing kangaroo care practice for NICU staff and parents. Adv Neonatal Care. 2014 Dec; 14 (6): 410-23. (2014)	EUA	n=50 BMB (IG 26-35 sem)	MC 1 ses 1h/d por 6d + IE	Opiniões e sentimentos (Registros maternos na IH)	TF	Mães relataram sentir maior VMB “durante” o MC
Borck²³23 Borck M, Santos EKA. Método canguru: práticas investigativas e de cuidado de enfermagem no modelo de adaptação de Roy. Esc Anna Nery. 2012 Jun; 16 (2): 263-9. (2012)	Brasil	n=6 BMB (IG<37 sem)	MC durante e após IH	Opinião materna (ESE após AH)	CA	A maioria das mães afirmou que o MC favoreceu o afeto
Dalbyeet al.²⁴24 Dalbye R, Calais E, Berg M. Mothers’ experiences of skin-to-skin care of healthy full-term newborns - a phenomenology study. Sexual Reprod Healthc. 2011 Aug; 2 (3): 107-11. (2011)	Europa MuC	n=20 BMB (IG 37-41 sem)	MC na IH e após AH	Experiências maternas (EA 1 sem após o parto)	F	Mães afirmaram que MC aumentou VMB
Arivabene e Tyrrell²⁵25 Arivabene JC, Tyrrell MAR. Método mãe canguru: vivências maternas e contribuições para a enfermagem. Rev Latino-Am Enferm. 2010; 18 (2): 262-8. (2010)	Brasil	n=13 BMB (IG<37 sem)	MC na IH e após AH	Experiências maternas (EA com GF após AH)	T	Mães afirmaram que MC aumentou VMB
Guimarães e Monticelli²⁶26 Guimarães GP, Monticelli M. A formação do apego pais/recém-nascido pré-termo e/ou de baixo peso no método mãe-canguru: uma contribuição da enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2007; 16 (4): 626-35. (2007)	Brasil	n=3 BMB (IG<37 sem)	MC na IH	Opinião materna (EA na IH)	CA	Mães afirmaram que MC promove VMB durante IH
Johnson²⁷27 Johnson AN. The maternal experience of kangaroo holding. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2007 Nov/Dec; 36 (6): 568-73. (2007)	EUA	n=18 BMB ( $\bar{X}$ IG 28,8 sem)	MC 1 ses de 1h/d por 3d	Opiniões e sentimentos maternos (EA)	T	Mães relataram aumento de apego e maior conexão com o bebê
Flacking et al.²⁸28 Flacking R, Ewald U, Nyqvist KH, Starrin B. Trustful bonds: a key to “becoming a mother” and to reciprocal breastfeeding. Stories of mothers of very preterm infants at a neonatal unit. Social Sci Med. 2006; 62 (1): 70-80. (2006)	Suécia	n=23 BMB (IG<32 sem)	MC na IH	Opinião materna (ESE após 2 sem da AH)	TF	Mães afirmaram que a MC aumentou o VMB
Roller²⁹29 Roller CG. Getting to know you: mothers’ experiences of kangaroo care. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2005 Mar/Apr; 34 (2): 210-7. (2005)	EUA	n=10 BMB (IG 32-36 sem)	MC na IH	Experiência materna (EA na IH)	F	Mães afirmaram que MC é mais efetivo que a AM para VMB
Neu³⁰30 Neu M. Parents’ perception of skin-to-skin care with their preterm infants requiring assisted ventilation. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 1999 Mar/Apr; 28 (2): 157-64. (1999)	EUA	n=8 BMB ( $\bar{X}$ IG 27,2 sem)	MC 2 ses (1h)	Opinião materna (EA na IH e após 4 m)	T	A maioria das mães afirmou que o MC aumentou o VMB

Autor (ano)	Metodologia				Resultados
Autor (ano)	Desenho	Amostra	Estratégia Canguru	Desfecho	Resultados
Cho e Jeong³¹31 Cho H, Jeong IS. The relationship between mother-infant contact time and changes in postpartum depression and mother-infant attachment among mothers staying at postpartum care centers: an observational study. Nurs Health Sci. 2021 Jun; 23 (2): 547-55. (2021)	Co Coreia do S	n=101 BMB2 PA: 14 d durante IH	MC $\bar{X}$ 58min/d	Percepção materna sobre o VMB (MAS)	As mães se sentiram mais próximas ao seu bebê após realizar MC (p=0,001)
Kurt et al.³²32 Kurt FY, Kucukoglu S, Ozdemir AA, Ozcan Z. The effect of kangaroo care on maternal attachment in preterm infants. Niger J Clin Pract. 2020 Jan; 23(1): 23-32. (2020)	ECR Turquia	n=60 BMB (IG <37 sem) GI 30 x GC 30	MC 5 ses 1h/d por 5d	Percepção materna sobre o VMB (MAS)	$\bar{X}$ GI (35,03) > GC (29,87); p=0,001
Tanejaet al.³³33 Taneja S, Sinha B, Upadhyay RP, Mazumder S, Sommerfelt H, Martines J, et al. Community initiated kangaroo mother care and early child development in low birth weight infants in India-a randomized controlled trial. BMC Pediatr. 2020; 20 (150): 1-12. (2020)	ECR Índia	n=552 BMB (PN 1500-2250g)2 GI 276 x GC 276	IE: MC + AME até 28 d de vida	Percepção materna sobre si e o bebê (PHQ-9)	Não houve diferença entre os grupos (p>0,05)
Nuneset al.³⁴34 Nunes CRN, Campos LG, Lucena AM, Pereira JM, Costa PR, Lima FAF, et al. Relação da duração da posição canguru e interação mãe filho pré termo na alta hospitalar. Rev Paul Pediatr. 2017; 35 (2): 136-43. (2017)	Co Brasil	n=32 BMB (IG 28-32 sem) PA: IH	Tempo total de MC na IH	Interação do BMB na alta (Filmagem) (POIMB 0-6)	Contato físico do bebê com a mãe: r=0,38 (p=0,03) Contato verbal da mãe com o bebê: r=-0,47 (p=0,01). Demais 18 itens (p>0,05)
Cho et al.³⁵35 Cho ES, Kim SJ, Kwon MS, Cho H, Kim EH, Jun EM, et al. The effects of kangaroo care in the neonatal intensive care unit on the physiological functions of preterm infants, maternal-infant attachment, and maternal stress. J Pediatr Nurs. 2016 Jul/Aug; 31 (4): 430-8. (2016)	ECC Coreia do S	n=40 BMB (IG 33-37 sem) GI 20 x GC 20	MC 30min 3x/sem (10 sem)	Percepção materna do VMB (MIA)	GI > percepção (p=0,001)
Kritzinger and Rooyen³⁶36 Kritzinger A, Van Rooyen E. The effect of formal, neonatal communication-intervention training on mothers in kangaroo care. Afr J Prim Health Care Fam Med. 2014 Nov; 6 (1): E1-E9. (2014)	ECR África do S	n=30 BMB (IG <37 sem) GI1 10 x GI2 10 x GC 10	GI1: 1 ses MC+IE GI2: 1 ses MC	Reações da mãe e bebê (Filmagem) (KB)	GI1> $\bar{X}$ de estimulação tátil (p=0,02); prazer em interagir com RN (p=0,001); responder ao sofrimento do RN (p=0,04); contato visual (p=0,008); sorrir para RN (p<0,001); conversa com RN (p<0,001)
Muddu et al.³⁷37 Muddu GK, Boju SL, Chodavarapu R. Knowledge and awareness about benefits of kangaroo mother care. Indian J Pediatr. 2013 Oct; 80 (10): 799-803. (2013)	Co Índia	n=46 BMB (IG 28-37 sem)	MC por 1h 1 ses	Percepção materna (Entrevista)	93,5% (IC95% 82,1- 98,6) das mães se sentiram mais próximas ao seu bebê após o MC
Ahn et al.³⁸38 Ahn HY, Lee J, Shin HJ. Kangaroo care on premature infant growth and maternal attachment and post-partum depression in South Korea. J Trop Pediatr. 2010 Oct; 56 (5): 342-4. (2010)	ECC Coreia do S	n=20 BMB (IG< 36 sem) GI 30 x GC 30	MC por 1h 10 ses em 3 sem	Apego materno (QA) (entrevista)	$\bar{X}$ GI (85,9) > GC (83,2); p=0,066 antes MC $\bar{X}$ GI (89,9) > GC (78,2); p=0,003 após MC
Carbonell et al.³⁹39 Carbonell OA, Plata SJ, Peña PA, Cristo M, Posada G. Calidad de cuidado materno: una comparación entre bebés prematuros en cuidado madre canguro y bebés a término en cuidado regular. Univ Psychol. 2010; 9 (3): 773-86. (2010)	Co controlada Colômbia	n=94 BMB (MA) (IG>30 sem) GMC 49 x GC 44	GMC: PT+ BP+ MC na IH (não descreve número de ses) GC: RNT	Comportamento do BMB (MBQS aos 3m IdC) (EQCTM aos 7m)	Não houve diferença entre os grupos (p>0,05)
Jang e Youg⁴⁰40 Jang MY. Effects of kangaroo care on growth in premature infants and on maternal attachment. Korean Acad Child Health Nurs. 2009; 15 (4): 335-42. (2009)	ECC Coréia do S	n=53 BMB (IG<35 sem) GI 24 x GC 29	MC por 1h 10 ses - 3ses/sem	Apego materno (QA) (entrevista)	GI > apego (p=0,048)
Parmar et al.⁴¹41 Parmar VR, Kumar A, Kaur R, Parmar S, Kaur D, Basu S, et al. Experience with kangaroo mother care in a neonatal intensive care unit (NICU) in Chandigarh, India. Indian J Pediatr. 2009 Jan; 76 (1): 25-8. (2009)	T Índia	n=135 BMB (IG 26-37 sem)	MC 4h/d no mínimo na IH ( $\bar{X}$ 7 d)	Opinião materna (QMC)	98% se sentiram mais próximas ou muito mais próximas do RN após MC
Gathwala et al.⁴²42 Gathwala G, Singh B, Balhara B. KMC facilitates mother baby attachment in low birth weight infants. Indian J Pediatr. 2008 Jan; 75 (1): 43-7. (2008)	ECR Índia	n=100 BMB (PN<1800g) GI 50 x GC 50	MC pelo menos 6h/d na IH 4 ses	Comportamento do BMB (ASFU 3m IdC)	$\bar{X}$ GI > em todos os 9 itens da ASFU (p<0,05)
Ortiz et al.⁴³43 Ortiz JA, Borré A, Carrillo S, Gutiérrez G. Relación de apego en madres adolescentes y sus bebés canguro. Rev Latino-Am Psicol. 2006; 38 (1): 71-86. (2006)	Co controlada Colômbia	n=40 BMB BNS GMC1 10 x GMC2 10 x GC1 10 x GC2 10	GMC1: PT+MA+MC GMC2: PT+MC GC1: RNT+MA GC2: 10 RNT	Comportamento do BMB em casa Q-sort de apego	Não houve diferença entre os grupos: p>0,05
Tallandini and Scalembra⁴⁴44 Tallandini MA, Scalembra C. Kangaroo mother care and mother-premature infant dyadic interaction. Infant Mental Health J. 2006 May; 27 (3): 251-75. (2006)	ECC Itália	n=40 BMB (PN<1800g) GI 19 x GC 21	MC 1h/d (durante IH) ( $\bar{X}$ 24,4d)	Comportamento do BMB (Filmagem) (NCAFS)	GI > $\bar{X}$ em todos os itens (p=0,015)
Tessier et al.⁴⁵45 Tessier R, Cristo M, Velez S, Girón M, Calume ZF, Ruiz-Paláez JG, et al. Kangaroo mother care and the bonding hypothesis. Pediatrics. 1998 Aug; 102 (2): e17. (1998)	ECR Colômbia	n=488 BMB2 (PN<2001g X IG=33sem) GI 246 x GC 242	MC 24h/d (aprox. 3 sem durante IH)	Comportamento do BMB (Filmagem com 1 sem IC) (NCAFS)	Não houve diferença entre os grupos: p>0,05

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[1] Contribuição dos autores

Caetano C: Concepção, redação, coleta de dados e análise dos dados. Pereira BB: coleta e análise dos dados. Konstantyner T: concepção, redação, coleta de dados, análise dos dados e revisão crítica. Todos os autores aprovaram a versão final do artigo. Os autores declaram não haver conflito de interesse.