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Uso de bebida alcoólica em períodos pré e pós- operatório de cirurgia bariátrica

Resumos

OBJETIVO:

avaliar a ingestão de bebidas alcoólicas nos períodos pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica.

MÉTODOS:

os pacientes foram entrevistados no ambulatório de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas/UFPE, no período de julho/2011 a março/2012. Foram analisadas variáveis socioeconômicas, antropométricas e clínicas. A avaliação do consumo de álcool nos últimos 12 meses, foi realizada pelo questionário AUDIT C (alcohol use disorders identification test).

RESULTADOS:

foram estudados 119 pacientes com média de idade de 41,23+11,30 anos, com predominância do sexo feminino (83,2%), raça não branca (55%), casados ou em união estável (65,5%), com ensino médio (40,3%) e ativo ao mercado de trabalho (37%). O peso no período pré-operatório foi 128,77+25,28Kg e IMC 49,09+9,26Kg/m2, classificado em obesidade classe III, e no pós-operatório foi 87,19+19,16Kg e IMC 33,04+6,21Kg/m2, classificado em obesidade classe I, com p<0,001. A doença mais frequente no pré (66,6%) e pós operatório (36,5%) foi a hipertensão. No período pré-operatório 26,6% faziam uso de álcool, sendo 2,2% uso de alto risco e no pós-operatório 35,1%, sendo 1,4% provável dependência, não sendo encontrada diferença significativa entre os grupos de pré e pós-cirúrgico (p = 0,337).

CONCLUSÃO:

foi encontrada uma prevalência do uso alcoólico superior àquela detectada na população brasileira, no entanto não foi evidenciado consumo de alto risco/provável dependência, nem elevação deste consumo em período pós-operatório.

Obesidade Mórbida; Cirurgia Bariátrica; Bebidas Alcoólicas; Etanol; Perda de Peso


OBJECTIVE:

to assess alcohol intake in the bariatric surgery pre and postoperative periods.

METHODS:

Patients were interviewed atSurgery Clinic of the Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco - HC/UFPE (Brazil) from July 2011 to March 2012. We analyzed socioeconomic, anthropometric and clinical variables. We used the Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT C).

RESULTS:

One hundred nineteen patients were enrolled (mean age: 41.23+11.30 years), with a predominance of the female gender (83.2%), non-Caucasian race (55%), married individuals or in a stable union (65.5%), with a high school education (40.3%)and active in the job market (37%). Weight and body mass index (BMI) were 128.77+25.28Kg and 49.09+9.26Kg/m2,respectively in the preoperative period (class II obesity) and 87.19+19.16Kg and 33.04+6.21Kg/m2, respectively in the postoperative period (class I obesity) (p<0.001). Hypertension was the most frequent disease in the pre (66.6%) and postoperative (36.5%) periods. The prevalence of alcohol use was 26.6% in the preoperative period, of which 2.2% of high risk, and 35.1% in the postoperative period, of which 1.4% of probable dependence; this difference did not achieve statistical significance (p=0.337).

CONCLUSION:

The prevalence of abusive alcohol intake and/or probable dependence was low in both the pre and postoperative periods, with little evidence of risky consumption among the patients submitted to bariatric surgery.

Obesity, Morbid; Bariatric Surgery; Alcoholic Beverage; Ethanol; Weight Loss


INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença crônica não transmissível caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal11. Fagundes ALN, Ribeiro DC, Naspitz L, Garbelini LEB, VieiraJKP, Silva AP, et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares da região de Parelheiros do município de São Paulo. Rev paul pedriatr. 2008;26(3):212-7.. Trata-se de um fenômeno multifatorial envolvendo componentes genéticos, comportamentais, psicológicos, sociais, metabólicos e endócrinos22. Prevedello CF, Colpo E, Mayer ET, Copetti H. Análise do impacto da cirurgia bariátrica em uma população do centro do Estado do Rio Grande do Sul utilizando o método Baros. Arq Gastroenterol. 2009;46(3):199-203..

Em sua forma mais grave é denominada de obesidade mórbida, onde o índice de massa corporal (IMC) está acima de 40kg/m2 e é um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência cardíaca congestiva, dislipidemia e aterosclerose, artropatias, hipoventilação, síndrome da apneia do sono e outras doenças, que reduzem a qualidade de vida e a autoestima do paciente22. Prevedello CF, Colpo E, Mayer ET, Copetti H. Análise do impacto da cirurgia bariátrica em uma população do centro do Estado do Rio Grande do Sul utilizando o método Baros. Arq Gastroenterol. 2009;46(3):199-203. , 33. Barhouch AS, Zardo M, Padoin AV, Colossi FG, Casagrande DS, Chatkin R, et al. Excess weight loss variation in late postoperative period of gastric bypass. Obes Surg. 2010;20(11):1479-83..

A orientação nutricional, a prática de atividade física regular e o uso de fármacos antiobesidade são a base para a perda de peso. No entanto, pacientes com obesidade mórbida não conseguem manter esta perda de peso e por consequência não reduzem comorbidades. Neste aspecto, a cirurgia bariátrica tem se mostrado o melhor tratamento no que diz respeito à perda e manutenção de peso e comorbidades em longo prazo44. Schouten R, Wiryasaputra DC,van Dielen FM, van Gemert WG, Greve JW. Long-term results of bariatric restrictive procedures: a prospective study. Obes Surg. 2010;20(12):1617-26..

Nos últimos anos, alguns relatos levantaram a hipótese de que os indivíduos submetidos ao tratamento cirúrgico da obesidade, poderiam estar com o risco aumentado para o abuso do consumo de álcool após a operação. Isto poderia ocorrer, devido a incapacidade de continuar com hábitos alimentares passados, como consumir grandes volumes de alimentos palatáveis, gerando uma procura por substâncias de recompensa semelhantes ao alimento, como o álcool55. Heinberg LJ, Ashton K, Coughlin J. Alcohol and bariatric surgery: review and suggested recommendations for assessment and management. Surg Obes Relat Dis. 2012;8(3):357-63.

6. Welch G, Wesolowski C, Zagarins S, Kuhn J, RomanelliJ, Garb J, et al. Evaluation of clinical outcomes for gastric bypass surgery: results from a comprehensive follow-up study. Obes Surg. 2011;21(1):18-28.

7. Suzuki J, Haimovici F, Chang G. Alcohol use disorders after bariatric surgery. Obes Surg. 2012;22(2):201-7.

8. Wendling A, Wudyka A. Narcotic addiction following gastric bypass surgery-a case study. Obes Surg. 2011;21(5):680-3.

9. Ertelt TW, Mitchell JE, Lancaster K, Crosby RD, SteffenKJ, Marino JM. Alcohol abuse and dependence before and after bariatric surgery: a review of the literature and report of a new data set. Surg Obes Relat Dis. 2008;5(4):647-50.
- 1010. Buffington CK. Alcohol use and health risks: survey results.BT Online. 2007;4(2):21-3.. Alguns autores também levantaram a hipótese de haver uma correlação entre a perda de peso, após a operação, e o consumo de álcool55. Heinberg LJ, Ashton K, Coughlin J. Alcohol and bariatric surgery: review and suggested recommendations for assessment and management. Surg Obes Relat Dis. 2012;8(3):357-63. , 77. Suzuki J, Haimovici F, Chang G. Alcohol use disorders after bariatric surgery. Obes Surg. 2012;22(2):201-7., porém ainda não há um consenso na literatura.

Diante dos resultados contraditórios, e pela escassez de trabalhos brasileiros neste assunto, o objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência da ingestão de bebida alcoólica em período pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica e se há diferença de ingestão de álcool entre estes períodos.

MÉTODOS

Foi realizado estudo prospectivo tipo série de casos, envolvendo 119 pacientes (45 no pré-operatório e 74 no pós-operatório), submetidos à cirurgia bariátrica pela técnica de bypass gástrico em Y de Roux, atendidos no ambulatório de Cirurgia Geral do HC/UFPE, no período de julho de 2011 a março de 2012. Foram incluídos pacientes de ambos os sexos, com idade superior a 20 anos, e excluídos aqueles com distúrbios psiquiátricos graves, reoperados por complicações da operação anterior e os que realizaram abdominoplastia.

A pesquisa foi conduzida após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco, registro do SISNEP FR 410772, em obediência à Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/96 sobre "Pesquisa envolvendo Seres Humanos". A participação no estudo foi voluntária, após obtenção do consentimento dos pacientes mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A coleta de dados foi feita através de entrevista e transcrição de informações dos prontuários. As variáveis socioeconômicas pesquisadas foram: cidade, idade, sexo, etnia, estado civil, grau de escolaridade e condição ocupacional. A avaliação antropométrica foi realizada a partir dos dados de maior peso já atingido e altura no pré-operatório, coletados em prontuários, para o cálculo do índice de massa corporal (IMC), classificado segundo os critérios da American Society for Bariatric Surgery 1111. American Society of Bariatric Surgery. Rationale for surgery(1)1: 13 telas. Available from: URL: http://www.asbs.org.
http://www.asbs.org...
.

O peso pré-operatório e o peso atual nos períodos de <3 meses; de >3-6 meses; >6-12 meses e >12-18 meses foram coletados. O percentual de perda do excesso de peso foi calculado através da equação: % de perda do excesso de peso = (peso pré-operatório - peso atual x100) / peso pré-operatório - peso ideal. A classificação foi baseada em Higa et al. 1212. Higa KD, Boone KB, Ho T, Davies OG. Laparoscopy Roux-en-Y gastric bypass for morbid obesity: technique and preliminary results of our first 400 patients. Arch Surg. 2000;135(9):1029-33; discussion 1033-4. que consideram adequado a perda de 15% em três meses, 35% em seis meses e 65% a 75% de perda de excesso de peso corporal entre 12 e 18 meses pós-operatório. Os dados clínicos avaliados foram: presença de diabetes mellitus, dispneia, apneia do sono, dislipidemia, refluxo gastroesofágico, alteração menstrual, doenças endócrinas e hipertensão arterial. Estas foram referidas pelos pacientes no momento da entrevista.

Para avaliação do consumo de álcool, o entrevistado foi inicialmente questionado se fazia uso de bebida alcoólica e, nos casos positivos, foi aplicado o questionário AUDIT C1313. World Health Organization. Global status report on alcohol and health.Switzerland; 2011. p.286.; foi avaliado ainda a o tipo da bebida, a forma de uso e sua associação ou não com alimentos.

Foram utilizados os testes Qui-quadrado de Pearson ou o teste exato de Fisher, quando as condições para utilização do teste Qui-quadrado não foram verificadas e, t- Student foi empregado para amostras independentes.

RESULTADOS

Entre os 119 pacientes estudados, 79 (66,4%) eram procedentes da Região Metropolitana do Recife, com média de idade 41,23+11,30 anos e faixa etária prevalente entre 20 e 39 anos, 60 (50,4%). O sexo feminino apresentou-se em maior proporção, 83,2% dos pacientes, não brancos 55%, casados ou em união estável 65,5%, tendo cursado até o ensino médio 40,3% e ativo ao mercado de trabalho 37%. O peso no período pré-operatório foi 128,77+25,28Kg e IMC 49,09+9,26Kg/m2, classificado em obesidade classe III, e no pós-operatório foi 87,19+19,16Kg e IMC 33,04+6,21Kg/m2, classificado em obesidade classe I, com p<0,001. A hipertensão arterial sistêmica foi a doença associada mais frequente (Tabela 1).

Tabela 1 -
Prevalência de doenças e distúrbios clínicos no pré e pós-operatório.

Verificou-se que no período pré-operatório, 26,6% dos pacientes ingeriam bebida alcoólica, e no pós-operatório, 35,1%. Não foi encontrada diferença estatística entre os grupos, p=0,337. A classificação de risco no uso de álcool de acordo com o AUDIT C mostrou que a maioria dos pacientes era de baixo risco, tanto no pré, como no pós-operatório (Tabela 2).

Tabela 2 -
Classificação do AUDIT C nos pacientes que ingeriam bebidas alcoólicas.

O tipo de bebida mais usada no período pré (91,6%) e pós cirúrgico (88,5%) foi a cerveja. Dentre os entrevistados, 91,6% do grupo de pré-operatório, e 88,5% do grupo de pós-operatório consumiam alimentos durante a ingestão de álcool. O amendoim foi o alimento mais consumido no pré (91,6%) e o queijo integral, no pós-operatório (73,1%). Quanto ao consumo de alimentos e uso de álcool, observou-se que um baixo percentual, não se alimentava antes de beber, sendo no pré 16,6% e pós-cirúrgico 11,5%. Não foi encontrado nenhum resultado significativo entre hábito de beber nos períodos pré e pós-operatório e sua associação com as variáveis socioeconômicas em questão (Tabelas 3 e 4).

Tabela 3 -
Associação do uso de bebidas alcoólicas no período pré-operatório com fatores socioeconômicos.
Tabela 4 -
Associação do uso de bebidas alcoólicas no pós operatório com fatores socioeconômicos.

O percentual de perda de excesso de peso nos tempos < 3meses, >3-6 meses; >6-12 meses; >12-18 meses não mostraram associação com o consumo de álcool (Tabela 5).

Tabela 5 -
Classificação do percentual de perda do excesso de peso (%PEP) associado ao uso de bebida alcoólica.

DISCUSSÃO

Bebeu-se, em todo mundo, o equivalente a 6,1 litros de álcool puro por pessoa em 20051313. World Health Organization. Global status report on alcohol and health.Switzerland; 2011. p.286.. O Brasil aparece em quarto lugar na ingestão de bebidas alcoólicas, no continente americano, com a média de 18,5 litros de álcool puro/ano. Segundo, o Ministério da Saúde1414. Ministério da Saúde. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel); 2011. em 2011, 16% da população brasileira fazia uso de álcool. Dados em pacientes obesos99. Ertelt TW, Mitchell JE, Lancaster K, Crosby RD, SteffenKJ, Marino JM. Alcohol abuse and dependence before and after bariatric surgery: a review of the literature and report of a new data set. Surg Obes Relat Dis. 2008;5(4):647-50. sugerem que <3% dos indivíduos poderão desenvolver problemas de alcoolismo.

Dentre as variáveis socioeconômicas analisadas, vimos um predomínio do sexo feminino, semelhante aos estudos brasileiros de Prevedello et al.22. Prevedello CF, Colpo E, Mayer ET, Copetti H. Análise do impacto da cirurgia bariátrica em uma população do centro do Estado do Rio Grande do Sul utilizando o método Baros. Arq Gastroenterol. 2009;46(3):199-203. e Barhouch et al.33. Barhouch AS, Zardo M, Padoin AV, Colossi FG, Casagrande DS, Chatkin R, et al. Excess weight loss variation in late postoperative period of gastric bypass. Obes Surg. 2010;20(11):1479-83.. Explicado provavelmente por maior preocupação das mulheres com o peso, com a saúde, além da elevada prevalência de excesso de peso nas pacientes brasileiras, principalmente entre aquelas de condições menos favoráveis15. A média de idade e a raça diferem dos achados de Costa et al.1616. Costa ACC, Ivo ML, Cantero WB, Tognini JRF. Obesidade em pacientes candidatos à cirurgia bariátrica. Acta paul enferm. 2009;22(1):55-9. que encontraram em grupo de pacientes em pré e pós-operatório, uma média de idade de 36,07+10,16 anos, com predomínio da raça branca (86,53%). Germano et al.1717. Germano ACPL, Camelo CMBM,Batista FM, Carvalho NMA, Liberali R, Coutinho VF. Perfil nutricional dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e dos critérios adotados para encaminhamento em um hospital de João Pessoa, PB. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde. 2011;14(2):43-59., detectaram em população bariátrica, um predomínio de casados com atividade profissional, dados semelhantes ao desta pesquisa. Por outro lado, relataram que o baixo nível de escolaridade foi prevalente, diferindo dos nossos resultados, onde predominam os pacientes com escolaridade média. A média de peso pré-operatório encontrada por Costa et al.1818. Costa LD, Valezi AC, Matsuo T, Dichi I, DichiJB. Repercussão da perda de peso sobre parâmetros nutricionais e metabólicos de pacientes obesos graves após um ano de gastroplastia em Y-de-Roux. Rev Col Bras Cir. 2010;37(2):96-101. foi 138+28,8kg e IMC 52+8,6kg/m2, enquanto no pós-operatório, de 12 meses, 90+19,5kg e IMC 34+6,6kg/m2, dados superiores a esta pesquisa. A hipertensão arterial sistêmica foi a doença associada mais frequente, corroborando com outros estudos, onde foi visto prevalência de 21,97%1717. Germano ACPL, Camelo CMBM,Batista FM, Carvalho NMA, Liberali R, Coutinho VF. Perfil nutricional dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e dos critérios adotados para encaminhamento em um hospital de João Pessoa, PB. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde. 2011;14(2):43-59. e 35,9%, 1919. Anderi Júnior E, Araújo LGC,Fuhro FE, Godinho CA, Henriques AC. Experiência inicial do Serviço de Cirurgia Bariátrica da Faculdade de Medicina do ABC. Arq Med ABC. 2007;32(1):25-9..

Estudo de Ertelt et al.99. Ertelt TW, Mitchell JE, Lancaster K, Crosby RD, SteffenKJ, Marino JM. Alcohol abuse and dependence before and after bariatric surgery: a review of the literature and report of a new data set. Surg Obes Relat Dis. 2008;5(4):647-50. revelou um baixo consumo de álcool no pré-operatório, onde 7,1% possuíam uma dependência de álcool e 1,4% faziam uso abusivo, avaliado pelo DSM IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais IV). Em nosso grupo, com o AUDIT C vimos que 2,2% faziam uso de alto risco no pré-operatório. No período pós-cirúrgico obtivemos um percentual 1,4% dos estudados, já com provável dependência; resultado muito inferior ao estudo de Buffington1010. Buffington CK. Alcohol use and health risks: survey results.BT Online. 2007;4(2):21-3., onde 84% consumiam álcool após tratamento cirúrgico. Dados do I levantamento Brasileiro sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira2020. Laranjeira R, Pinsky I, Zaleski M, Caetano R. I Levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas; 2007. p.76. mostraram que a bebida mais consumida no país era a cerveja (61%), corroborando com o padrão encontrado nestes nossos pacientes. Segundo Wendling et al.88. Wendling A, Wudyka A. Narcotic addiction following gastric bypass surgery-a case study. Obes Surg. 2011;21(5):680-3., indivíduos compulsivos, após o tratamento cirúrgico, na impossibilidade de consumir alimentos em excesso poderão substituí-los por álcool. Neste nosso grupo estudado, não foi observado substituição e sim, a associação com alimentos; habito benéfico que provoca redução significativa na absorção alcoólica, quando associado a alimentos gordurosos ou proteicos2121. Maillot F, Farad S, Lamisse F. Alcohol and nutrition. Pathol Biol. 2001;49(9):683-8..

Com relação ao uso de bebidas alcoólicas relacionados a fatores socioeconômicos, evidencia-se que embora não tenha ocorrido associação significativa com hábito de beber, os que o faziam estavam na faixa etária até 39 anos (44%), com predominância do sexo masculino, fato comum nesta idade em nossa região, em homens não operados. Percentuais mais elevados neste sexo foram visto na pesquisa do Ministério da Saúde2020. Laranjeira R, Pinsky I, Zaleski M, Caetano R. I Levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas; 2007. p.76., onde 11% dos homens consumiam álcool muito frequentemente e 28% frequentemente.

Há evidencias de que o consumo de alimentos palatáveis produz no cérebro efeitos semelhantes aos produzidos após a ingestão alcoólica2222. Del Parigi A, Chen K, Salbe AD, Reiman EM, TataranniPA. Are we addicted to food? Obes Res. 2003;11(4):493-5.. As substâncias, como o açúcar ou a gordura, causam um aumento dos opioides endógenos, no sistema de recompensa mesolímbico e na dopamina, embora não tão drasticamente como o álcool e outras drogas2323. Volkow ND, Wise RA. How can drug addiction help us understand obesity? Nat Neurosci. 2005;8(5):555-60.. O uso de bebidas alcoólicas não é preditivo para perda de peso adequada2424. Kopec-Schrader EM, Gertler R,Ramsey-Stewart G, Beumont PJ. Psychosocial outcome and long-term weight loss after gastric restrictive surgery for morbid obesity. Obes Surg. 1994;4(4):336-9.. O percentual de perda de excesso de peso após tratamento cirúrgico e sua associação com álcool, semelhante a outros estudos77. Suzuki J, Haimovici F, Chang G. Alcohol use disorders after bariatric surgery. Obes Surg. 2012;22(2):201-7. , 2525. Sears D, Fillmore G, Bui M, Rodriguez J. Evaluation of gastric bypass patients 1 year after surgery: changes in quality of life and obesity-related conditions. Obes Surg. 2008;18(12):1522-5.não mostrou associação positiva ou negativa com a perda ponderal.

Nesta amostra de pacientes bariátricos em períodos pré e pós-operatórios, foi encontrada uma prevalência do uso alcoólico superior àquela detectada na população brasileira, no entanto não foi evidenciado consumo de alto risco/provável dependência, nem elevação deste consumo em período pós-operatório.

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  • Fonte de financiamento: nenhuma

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2015

Histórico

  • Recebido
    20 Jan 2014
  • Aceito
    15 Abr 2015
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