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REAd: UM BREVE BALANÇO (2020-2022)

Assumi a tarefa de ser Editor-chefe da REAd em 15 de setembro de 2019, com o compromisso de dar sequência ao trabalho de qualificação do periódico que havia sido iniciado por Andrea Oltramari (2017) e consolidado por Maria Ceci Misoczky (2017MISOCZKY, M. C. Editorial. Revista Eletrônica de Administração, [S. l.], v. 23, n. 3, p. 1-4, 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/read/article/view/78010. Acesso em: 30 mar. 2023.
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-2019). Mais do que uma alteração dos processos de editoração da Revista, o foco e escopo foram ajustados para dar conta de uma especificidade ainda necessária em nossa área: “REAd publica ensaios e trabalhos teórico-empíricos das diversas áreas da Administração. Acolhemos trabalhos das diversas vertentes onto-epistemológicas, com alta consistência teórica e rigor metodológico (quando for o caso)”. O foco em manuscritos que expressem a diversidade do conhecimento e estejam comprometidos com o avanço da teoria em nosso campo alterou significativamente o perfil das publicações que divulgamos, destacando os artigos de Administração, ainda que interessados na interdisciplinaridade que constitui a área, com contribuições para o avanço do conhecimento (MISOCZKY, 2017MISOCZKY, M. C. Editorial. Revista Eletrônica de Administração, [S. l.], v. 23, n. 3, p. 1-4, 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/read/article/view/78010. Acesso em: 30 mar. 2023.
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). Com isso, precisamos deixar de publicar trabalhos estritamente descritivos, como relatos de experiências, sistematizações de percepções, bibliometrias e revisões sistemáticas sem o devido aprofundamento teórico, e outros cujo foco estava na Contabilidade ou no Turismo.

Inexoravelmente, foi necessária uma desk review criteriosa que garantisse que as normas de submissão e o foco e escopo eram observadas pelos autores interessados em publicar no periódico. Em média, a REAd recebe 279 submissões por ano, número que se mantém mais ou menos estável mesmo durante o período mais duro da pandemia. Desde que assumi como Editor-chefe, foram 1.092 artigos recebidos, com uma média de 37 publicados por ano. Publicamos, até o momento de escrita desse Editorial, 103 submissões, em 3 números anuais, alguns dos quais temáticos, nos quais contamos com a colaboração preciosa de editores convidados, que assumiram o fluxo editorial.

Em 2020, reforçamos nossa política de malversação e ética de publicação, aderindo aos Princípios de Transparência e Boas Práticas nas Publicações Acadêmicas do COPE (Committee on Publication Ethics), os quais visam incentivar a identificação de plágio, más práticas, fraudes, possíveis violações de ética e abertura de processos.

Com o intuito obtermos indexação na Scopus, também passamos a trabalhar de modo muito atento à qualidade dos títulos e resumos dos textos publicados, prezando pela objetividade, clareza e qualidade das traduções.

O resultado do trabalho de todos que se envolvem de alguma maneira com o periódico se consolidou na última avaliação Qualis/CAPES, na qual a REAd ficou no estrato A3, dentre os principais períodos da área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Agradeço aos mais de 5.000 leitores cadastrados no site da Revista, aos dedicados avaliadores e aos autores que confiam à REAd os seus manuscritos.

É com a alegria do reconhecimento do trabalho da REAd que apresento os textos que compõem o atual número, os quais ilustram de modo qualificado nosso compromisso de acolher textos das diversas vertentes onto-epistemológicas da área.

Os primeiros dois artigos trazem abordagens distintas sobre estratégia. Em “The strategy-as-practice through the lens of the microfoundations of dynamic capabilities”, Fernando Eduardo Cardoso, Carlos Ricardo Rossetto e Joaquim Ramos Silva abordam as práticas organizacionais enquanto elo entre os níveis micro e macro das organizações. O estudo tem como objetivo analisar a estratégia como prática, através das lentes das microfundamentações das capacidades dinâmicas.

Já Gabrielle Damo Rossato, Dinorá Eliete Floriani e Mohamed Amal analisam como as empresas podem se renovar estrategicamente e romper sua dependência de trajetória para sobreviver em mercados internacionais, apesar da inegável influência da dependência de trajetória. O artigo “International survival and strategic renewal through disrupt path dependence” faz um estudo de caso de uma empresa de mercado emergente, com uma análise histórica e orientada por processos, com dados em tempo real e retrospectivos.

A prática é assunto também abordado no terceiro artigo do número, “Rede de delivery de comida e seus atores: práticas de consumo e de mercado”, de Fernanda Guarnieri e Francisco Giovanni David Vieira. Nele, os autores visam compreender como práticas de consumo e de mercados são instituídas e moldadas a partir da mediação de aplicativos de serviços de entrega de comidas que operam em rede. Estudos de Mercado Construtivistas são postos em diálogo com a teoria ator-rede para discutir a digitalização.

O quarto e o quinto artigos trazem fenômenos do setor público.

Silvana Aparecida Medina, Marco Aurélio Marques Ferreira, Tainá Rodrigues Gomide Souza Pinto e Igor Américo dos Santos, em seu “Alocação das emendas parlamentares individuais: correção de assimetria em saúde ou ganho político?”, discutem como as emendas parlamentares individuais se apresentam como oportunidade de o parlamentar beneficiar regiões com maiores necessidades, sobretudo em saúde, assim como privilegiar seu reduto eleitoral, a fim de garantir a sobrevivência política.

Direitos indígenas e políticas públicas de saúde no Brasil: passivo social ou ‘ninguendade’?” é o artigo de Maria Clara Vieira Weiss, que demonstra a relação entre o Estado e a conquista dos direitos indígenas à saúde a partir de cortes transversais ao longo dos séculos XX e XXI e da análise grupal das organizações da saúde indígena em contextos históricos determinados. A base da reflexão é a categoria ‘ninguendade’, de Darcy Ribeiro, que evidencia avanços e recuos sobre o tema nas últimas.

Se traços culturais brasileiros são apontados como parte do contexto dos direitos indígenas à saúde por Weiss, Jonas Rafael Silveira, Guilherme Lerch Lunardi e Lucas Santos Cerqueira abordam o tema de frente no sexto artigo: “Relação entre cultura e segurança da informação: como evitar falhas decorrentes do ‘jeitinho brasileiro’?” investiga o que leva os indivíduos a cumprir as Políticas de Segurança da Informação instituídas pelas organizações. O estudo analisa como a cultura de segurança da informação influencia os indivíduos no cumprimento das políticas de segurança da informação e na diminuição da ocorrência de falhas de segurança associadas ao “jeitinho brasileiro”.

Do extremo sul do Brasil, seguimos para o Norte, com o sétimo texto desse número. “Culturas de mercado: a tradição do comércio na fronteira amazônica”, de Francisco Carlos Dantas de Matos, também aborda a cultura, mas no Alto Solimões, onde o Brasil faz fronteira com o Peru e com a Colômbia. Lá, existe uma área de livre comércio e um comércio transfronteiriço. O artigo propõe a tradição como um conceito sociomaterial da cultura de mercado, desvelando uma tradição em que as pessoas trocam mercadorias, crenças e costumes.

A preocupação com o local também está presente no oitavo texto, de Andréa Pereira da Silva e Henrique Muzzio, “Uma tradução de cidade criativa para potencializar o desenvolvimento local sustentável”. Para os autores, a cidade criativa apresenta potencial para impulsionar a capacidade humana de cocriar soluções para os problemas urbanos e promover o desenvolvimento local sustentável. Para que as cidades adotem essa nova lógica territorial, deve-se avançar na compreensão dos conceitos de espaço, território e sociabilidades, a partir de uma perspectiva sociológica.

Avançando na diversidade de temas, que caracteriza a REAd, apresento os dois últimos textos desse número. O nono artigo é da autoria de Marcello Vinicius Doria Calvosa e Marcos Ferreira. Em “Liderança: representações sociais e modelos mentais dos séculos XX e XXI”, os autores questionam se a pesquisa científica sobre o tema liderança aproxima-se de uma abordagem tradicional ou contemporânea, quando analisadas as principais bases de dados de publicações sobre o tema, entre 2014 e 2021, nas línguas inglesa e portuguesa. Com o artigo, os autores apresentam uma lista atualizada de descritores que poderá ser utilizada para novas investigações sobre o tema liderança.

Por fim, no décimo texto, “Análise das estruturas a termo fixadas pela Susep”, Thiago Pedra Signorelli e Carlos Heitor d'Avila Pereira Campani analisam, sob a ótica das propriedades desejáveis das curvas de juros, a adequação à realidade brasileira das Estruturas a Termo das Taxas de Juros fixadas pela Susep para fins de avaliação dos passivos atuariais e de determinação do requerimento de capital adicional baseado no risco de mercado.

Tenham uma boa leitura e sintam-se à vontade para enviar suas contribuições para a REAd!

REFERÊNCIAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023
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