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Oficina educativa com adolescentes sobre hanseníase: relato de experiência

RESUMO

Objetivo:

Relatar a experiência de docentes e discentes na elaboração e aplicação de oficina educativa sobre hanseníase com adolescentes.

Método:

Trata-se de um relato de experiência a partir de ações contidas em um projeto de extensão universitária.

Resultados:

O roteiro da oficina foi elaborado com duração de duas horas, englobando cinco técnicas de dinâmicas adaptadas à temática: adjetivo, face, semáforo, verdadeiro ou falso e mosaico. Verificou-se a construção de conhecimento diante da verbalização dos adolescentes e do interesse em atuar na sociedade em que vivem por meio do compartilhamento desse conhecimento, principalmente dos que se mostraram mais envolvidos durante o processo.

Conclusão:

Conclui-se que as oficinas aplicadas possibilitaram a construção do conhecimento e a desmistificação de mitos e estigmas socialmente construídos aos adolescentes, assim como permitiram aos discentes de enfermagem a vivência em intervenções educativas sobre hanseníase com adolescentes.

Descritores:
Adolescentes; Educação em Saúde; Promoção da Saúde; Hanseníase; Cuidados de Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To report the experience of professors and students in the development and implementation of an educational workshop on leprosy with adolescents. Method: This is a case report from actions contained in a university extension project.

Results:

The workshop program was elaborated with duration of two hours, including five dynamic techniques adapted to the topic: adjective, face, traffic light, true or false and mosaic. It was verified that the construction of knowledge in light of the verbalization of the adolescents and the interest in working in the society they live through sharing this knowledge, especially those who were more involved in the process.

Conclusion:

It was concluded that the applied workshops enabled building knowledge and demystifying myths and stigmas socially constructed to adolescents, as well as allowed Nursing students to experience educational interventions on leprosy with adolescents.

Descriptors:
Adolescent; Health Education; Health Promotion; Leprosy; Nursing Care

RESUMEN

Objetivo:

Relatar la experiencia de docentes y discentes en la elaboración y en la aplicación de taller educativo sobre la enfermedad de Hansen con adolescentes.

Método:

Se trata de un relato de experiencia desde acciones contenidas en un proyecto de extensión universitaria.

Resultados:

El programa del taller fue elaborado con duración de dos horas, englobando cinco técnicas de dinámicas adaptadas a la temática: adjetivo, caras, semáforo, verdadero o falso y mosaico. Se certificó la construcción del conocimiento delante de la verbalización de los adolescentes y del interés en actuar en la sociedad en que viven por medio del compartir de ese conocimiento, principalmente de los que se mostraron más involucrados durante el proceso.

Conclusión:

Se concluye que los talleres aplicados posibilitaron la construcción del conocimiento y la desmitificación de mitos y estigmas socialmente construidos a los adolescentes, así como permitieron a los discentes de enfermería la vivencia en intervenciones educativas sobre enfermedad de Hansen con adolescentes.

Descriptores:
Adolescentes; Educación en Salud; Promoción de la Salud; Enfermedad de Hansen; Cuidados de Enfermería

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica, conhecida como moléstia milenar e estigmatizante pela forma como induz as deformidades e incapacidades físicas. Ainda que seja mais manifesta em adultos, os menores de 15 anos são considerados mais suscetíveis a adquirir uma infecção, principalmente quando contatos de casos novos não tratados(11 Romero-Montoya IM, Beltran-Alzate JC, Ortiz-Maríi DC, Diaz-Diaz A, Cardona-Castro N. Leprosy in Colombian children and adolescents. Pediatr Infect Dis J. [Internet] 2014 [cited 2017 Mar 25];33(3):321-2. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24030349
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2403...
). A prevalência do agravo nesse público é maior em regiões endêmicas e sugere a precocidade da exposição, a continuidade na transmissão do bacilo e a deficiência na vigilância e no controle da doença(22 Barreto JG, Bisanzio D, Guimarães LS, Spencer JS, Vazquez-Prokopec GM, Quitrom U, et al. Spatial analysis spotlighting early childhood leprosy transmission in a hyperendemic municipality of the Brazilian Amazon region. PLoS Negl Trop Dis [Internet]. 2014 [cited 2017 Mar 30];8(2):e2665. Available from: http://www.cnpq.br/documents/10157/cb450892-8f47-4aa4-9bce-24592bb46ba5
http://www.cnpq.br/documents/10157/cb450...
).

Em 2015, foram registrados 210.758 novos casos de hanseníase no mundo, com o Brasil na segunda posição no ranking mundial (26.395 registros), apresentando 7,35% dos casos na população menor de 15 anos(33 World Health Organization. Global leprosy update, 2015: time for action accountability and inclusion. Wkly Epidemiol Rec [Internet]. 2016[cited 2017 Jan 10];91(35):405-20. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/249601/1/WER9135.pdf?ua=1.pdf
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
).

No Brasil, a doença distribui-se de forma heterogênea, apresentando hiperendemicidade em alguns estados, como o Mato Grosso, que registrou nesse mesmo ano 93 casos novos/100 mil habitantes, sendo 21,3 destes em menores de 15 anos(44 Ministério da Saúde (BR). Sala de Apoio à Gestão Estratégica (Sage). Situação epidemiológica da hanseníase no Brasil (SINAN/SVS/MS) [Internet]. sd[cited 2017 Jan 11]. Available from: http://sage.saude.gov.br/
http://sage.saude.gov.br/...
). Adicionalmente, uma pesquisa realizada no estado constatou tendência crescente de casos multibacilares e com incapacidade física grau 2 no momento do diagnóstico ao longo de treze anos (2001-2013) em menores de 15 anos, sugerindo a detecção tardia dos casos e o avanço nas complicações do agravo(55 Freitas BHBM, Cortela DCB, Ferreira SMB. Trend of leprosy in individuals under the age of 15 in Mato Grosso (BR), 2001-2013. Rev Saúde Públ [Internet]. 2017[cited 2017 Jan 2];51(28):1-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/0034-8910-rsp-S1518-87872017051006884.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/0034-89...
).

A doença pode afetar o cotidiano desses indivíduos, principalmente devido aos sinais e sintomas, que levam a frequentes hospitalizações e atendimentos de saúde para o tratamento e acompanhamento. Esses eventos podem comprometer o processo de crescimento e desenvolvimento devido às modificações na vida do indivíduo afetado e sua família, além do estigma e preconceito, gerando perdas nas relações sociais, exigindo readaptações diante da nova situação e estratégias para o enfrentamento(55 Freitas BHBM, Cortela DCB, Ferreira SMB. Trend of leprosy in individuals under the age of 15 in Mato Grosso (BR), 2001-2013. Rev Saúde Públ [Internet]. 2017[cited 2017 Jan 2];51(28):1-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/0034-8910-rsp-S1518-87872017051006884.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/0034-89...
).

Segundo o Ministério da Saúde, uma das ações para reduzir da carga da hanseníase no Brasil é a educação em saúde, que visa, sobretudo, o incentivo à demanda espontânea dos indivíduos com suspeição ao serviço de saúde para avaliação, a eliminação de falsos conceitos relativos à doença, a informação quanto aos sinais, sintomas da doença e tratamento oportuno, e a adoção de medidas de prevenção de incapacidades(66 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública: manual técnico-operacional [Internet]. Brasília (DF); 2016 [cited 2017 Jan 10]. Available from: http://portal.saude.pe.gov.br/sites/portal.saude.pe.gov.br/files/diretrizes_para_._eliminacao_hanseniase_-_manual_-_3fev16_isbn_nucom_final_2.pdf
http://portal.saude.pe.gov.br/sites/port...
).

Nesse sentido, o ambiente escolar é reconhecido como uma área institucional privilegiada para o desenvolvimento de tais ações com os adolescentes. No entanto, esta deve suceder de modo participativo, criativo e interativo, propiciando a emancipação dos sujeitos alvo da ação, por meio de uma abordagem multifacetada e específica. As práticas educativas para esse público têm melhores resultados quando desenvolvidas por meio de oficinas com uso de jogos educativos, de forma descontraída, com comunicação aberta e expressão de ideias(77 Coscrato G, Pina JC, Mello DF. Use of recreational activities in health education: Integrative review of literature. Acta Paul Enferm [Internet]. 2010 [cited 2017 Jan 10];23(2):257-63. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v23n2/en_17.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ape/v23n2/en_17...
-88 Mariano MR, Pinheiro AKB, Aquino OS, Ximenes LB, Pagliuca LMF. Jogo educativo na promoção da saúde de adolescentes: revisão integrativa. Rev Eletr Enferm [Internet]. 2013[cited 2017 Jan 20];15(1):265-73. Available from: https://revistas.ufg.br/fen/article/view/17814/15546
https://revistas.ufg.br/fen/article/view...
).

Estudo de revisão integrativa acerca de práticas educativas sobre hanseníase com adolescentes detectou nove estudos que desenvolveram essas intervenções, sendo que mudanças de conhecimento foram percebidas quando estas se alicerçaram em métodos construtivistas, com técnicas apropriadas às concepções do conhecimento, da educação e dos sujeitos que participaram da intervenção pedagógica. A maioria dos estudos mencionava o enfermeiro como o principal profissional envolvido nessas ações(99 Jesus JMF, Alencastro MAB. Práticas educativas sobre hanseníase com adolescentes: revisão integrativa da literatura. [Monografia]. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso (BR); 2017. 22 p.).

OBJETIVO

Relatar a experiência de docentes e discentes na elaboração e aplicação de oficina educativa sobre hanseníase com adolescentes em capital hiperendêmica no Brasil.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa na modalidade relato de experiência, desenvolvida a partir de uma das ações do projeto de extensão “PROHANSEN: Projeto de combate à hanseníase em menores de quinze anos em Cuiabá (MT)”, aplicada aos estudantes do 5º ao 9º ano, com idades entre 10 a 14 anos, matriculados em escolas estaduais do município de Cuiabá. O objetivo das oficinas educativas consiste na promoção, reflexão e conscientização sobre a hanseníase ao público-alvo.

Há 57 escolas estaduais de Cuiabá. Em 2016 havia 21.886 indivíduos elegíveis matriculados, segundo a Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso, que autorizou a realização desse projeto, porém com a ressalva de que a gestão de cada escola teria autonomia para aceitar ou recusar a proposta. Assim, a oficina foi executada gradativamente conforme autorização e agendamento pela gestão de cada escola.

A atividade foi desenvolvida em grupos pequenos de participantes (cinco a seis em média). Para a composição desses grupos, realizou-se a divulgação da ação educativa nas salas de aula de cada escola, esclarecendo-se os objetivos da pesquisa. Aos adolescentes interessados, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, destacando-se a importância de conversarem com os pais ou responsáveis, consultando-os sobre a permissão para participar do estudo. Após a autorização dos pais/responsáveis, houve orientações quanto às dúvidas e encaminhamentos das questões éticas, com assinatura do Termo de Assentimento.

No primeiro ano do projeto, no período de junho de 2016 a junho de 2017, a oficina foi desenvolvida em 31 escolas. Todos os indivíduos elegíveis de cada uma das escolas tiveram a oportunidade de participar de tal ação, porém atingiu-se o total de 1.263 participantes.

Este estudo faz parte de uma pesquisa matricial intitulada “Educação em saúde e busca ativa de hanseníase em menores de quinze anos em Cuiabá, MT”, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), em 8 de junho de 2016.

CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO DA OFICINA

O roteiro da oficina foi elaborado e adaptado pelas docentes, englobando cinco técnicas de dinâmicas já conhecidas e disseminadas no meio eletrônico, como descritas no Quadro 1. Essa escolha baseia-se na concepção de que esse recurso vem sendo considerado potencialmente capaz de contribuir tanto para o desenvolvimento da educação como para a construção do conhecimento em saúde, além de ser uma atividade divertida, estimulante e interativa para quem participa(1010 Yonekura T, Soares CB. O jogo educativo como estratégia de sensibilização para a coleta de dados com adolescentes. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2017 Mar 24];18(5):7 telas. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n5/pt_18
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n5/pt_1...
).

Quadro 1
Técnicas de dinâmicas, objetivo, conhecimento trabalhado e tempo de aplicação da oficina educativa com adolescentes sobre hanseníase, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2017

Após a confecção do roteiro foi marcado um encontro com os graduandos de enfermagem para demonstrar a aplicação da oficina, de modo que – já que ela fora trabalhada com esses discentes – eles a reproduziram subsequentemente com os adolescentes durante a intervenção educativa.

No primeiro momento realizou-se a técnica de dinâmica do adjetivo como quebra-gelo, que foi desenvolvida de forma que cada um mencionava o próprio nome acrescentando um adjetivo que começava com a mesma inicial do seu nome – por exemplo: Antônio amoroso. O seguinte repetia o nome do companheiro com o adjetivo e se apresentava acrescentando um adjetivo para o seu nome, e assim sucessivamente; por exemplo: Antônio amoroso, Bruna bonita e Maria maravilhosa.

No segundo momento foi trabalhada a técnica de dinâmica da face, em que cada adolescente deveria levantar uma das duas placas que continha duas faces – uma triste e outra feliz – a cada pergunta realizada. As perguntas eram: “O que é a hanseníase? O que você pensa sobre a hanseníase? O que pensam seus pais, amigos e vizinhos? Você já teve a doença? Se sim, conte-me sobre sua experiência. Quais são seus medos, dúvidas e sentimentos em relação à hanseníase?” Após levantarem a placa, cada adolescente deveria justificar sua resposta. Ao término das perguntas, os alunos de enfermagem trabalharam com os adolescentes os conceitos sobre a hanseníase, bem como o estigma e preconceito em relação à doença.

No terceiro momento, o tema trabalhado consistiu em classificação, sinais, sintomas e transmissão da hanseníase, por meio da técnica de dinâmica do semáforo, aplicada, consecutivamente, nessa respectiva ordem. Foram selecionadas gravuras contendo os tipos de classificação da doença, sinais, sintomas e transmissão da hanseníase e de outras doenças endêmicas. As perguntas disparadoras foram: “Você sabe qual a classificação e quais os sinais e sintomas da hanseníase? Você sabe como a hanseníase é transmitida?”. Cada aluno colocou uma gravura em cima de um cartão (vermelho, amarelo e verde) para classificar a doença (grave, atenção e não grave), identificar sinais e sintomas (perigo para a doença, atenção para a doença e não são características da doença) e seu modo de transmissão (perigo, atenção e não tem risco). Ao final do jogo, os graduandos trabalharam com os alunos a classificação, os sinais e sintomas da hanseníase, a maneira como a doença é transmitida, além de esclarecer mitos e conversar sobre a realidade de transmissão da hanseníase.

A quarta parte da oficina corresponde à técnica de dinâmica do verdadeiro (V) ou falso (F). Selecionaram-se gravuras diversas sobre modos de diagnóstico e tratamento de hanseníase e outras doenças. Dispararam-se perguntas como: “Você sabe dizer como é realizado o diagnóstico e tratamento da hanseníase?”. Sob as gravuras, os adolescentes colocaram a letra “V”, se acreditavam que era uma maneira correta de diagnosticar e tratar a hanseníase, ou “F”, se acreditavam que o diagnóstico e tratamento ilustrado na gravura não estava relacionado à hanseníase. Ao término da dinâmica trabalharam-se as formas de diagnóstico e tratamento da hanseníase, ressaltando a importância do tratamento para a prevenção de incapacidades e cura.

Por fim, a oficina foi encerrada por meio da técnica de dinâmica do mosaico, que consistiu em recortar figuras de revistas, com apresentação da representação/significado da participação na oficina educativa pelos adolescentes.

Experiência na aplicação da oficina educativa sobre hanseníase com os adolescentes

Durante a graduação, os discentes de enfermagem adquirem pouco contato com a temática hanseníase, o que torna pertinente a participação em projetos de extensão que abordem o assunto, propiciando conexões entre o cotidiano da prática profissional e a teoria. Há possibilidade, também, de imersão nos estudos relativos à doença e aos métodos de trabalho na educação em saúde com os adolescentes, o que contribui para sua formação profissional. Assim, a participação dos discentes de enfermagem no encontro de demonstração das técnicas de dinâmica foi de suma importância, uma vez que proveu autonomia para aplicar a oficina posteriormente com os adolescentes.

Anteriormente à aplicação da oficina houve necessidade de entrar em contato com os gestores de cada escola a fim de solicitar autorização para o desenvolvimento do projeto. Identificaram-se facilidades e dificuldades durante esse processo. Alguns gestores mostraram-se favoráveis à realização da oficina em suas escolas, pois acreditavam no potencial e importância do projeto e se tornaram parceiros. Verificou-se que houve maior adesão nas escolas em que os gestores incentivaram a participação dos adolescentes. Os gestores que não apoiaram o projeto apontaram como empecilhos: professores desfavoráveis ao desenvolvimento da oficina, por acreditarem que prejudicaria as aulas; falta de salas para sua realização; infraestrutura precária; e devido ao calendário escolar.

Após a autorização de cada escola, o projeto era apresentado aos adolescentes que, em sua maioria, não demonstrava interesse pela temática, recusando-se a participar da oficina. Ainda, entre os interessados, alguns não entregavam os termos para os pais, outros esqueciam em casa ou os pais não autorizavam, com a justificativa de que o filho não tinha a doença, então, não seria necessário participar da oficina e conhecer sobre a hanseníase, segundo relatos dos próprios adolescentes. Isso evidencia a falta de atitude quanto à temática por parte dos pais/responsáveis e adolescentes.

A oficina ocorreu em espaços cedidos nas salas de aula, na biblioteca e no refeitório das escolas. Encontraram-se alguns aspectos negativos para a condução da oficina, como espaço reduzido, ruídos e interrupções nos intervalos, que culminava na falta de concentração e dispersão dos participantes. Mesmo diante dessas dificuldades, a aplicação da oficina com número reduzido de adolescentes foi essencial para garantir a atenção, o envolvimento e o melhor comportamento desses discentes.

A técnica de dinâmica inicial de “quebra-gelo” foi importante no primeiro contato com os adolescentes, permitindo descontração e interação entre os aplicadores e participantes da oficina. Nos momentos em que foram trabalhados os aspectos gerais da hanseníase, observou-se que os adolescentes atribuem falsos conceitos à temática e apresentam medos, mitos, dúvidas, angústias e preocupação, sobretudo quanto ao método de transmissão e ao risco de morte. Pensam que a doença se transmite pelo abraço, beijo e aperto de mão e não tem cura, apesar de haver muitos relatos sobre casos da doença em familiares. Nesse sentido, o roteiro da oficina permitiu a construção mútua do conhecimento, levando em consideração o conhecimento prévio dos participantes e suas experiências, trabalhando os falsos conceitos, o estigma e o preconceito.

No decorrer da oficina, foi possível perceber diferenças de personalidade entre os adolescentes, sendo que a maioria teve uma boa interação com o grupo, foi comunicativa, participou ativamente expondo suas ideias, dando opiniões e tirando dúvidas, reforçando as vantagens da técnica utilizada para desenvolver a oficina. Entretanto, outros tiveram uma postura mais introspectiva, com pouca interação e participação, possivelmente devido às características próprias do indivíduo.

O último momento permitiu compreender que os adolescentes que se mostraram mais envolvidos durante o processo verbalizaram melhor o conhecimento adquirido sobre os aspectos gerais da doença. No geral, eles afirmaram ter gostado de participar da oficina, ficaram felizes em conhecer mais acerca da doença e serem capazes de atuar na sociedade em que vivem por meio da identificação dos sinais e sintomas da doença, do compartilhamento do conhecimento e da orientação quanto ao serviço de saúde.

Constatou-se que o tempo disponibilizado para a realização da oficina foi suficiente para a execução das técnicas de dinâmicas planejadas. As técnicas utilizadas facilitaram o andamento da oficina, pois permitiram maior envolvimento dos adolescentes, que afirmaram serem favoráveis a esse método de aplicação.

Limitações do estudo

Destaca-se como limitação do estudo o fato de ele se tratar restritamente da experiência dos autores envolvidos no projeto, sem haver uma avaliação robusta da eficácia de tal intervenção educativa.

Contribuições para a área de enfermagem

Considerando que a atuação do enfermeiro na atenção básica vai além do consultório e que a educação em saúde é uma atividade intrínseca a esse profissional, sua atuação nas escolas e outros serviços presentes na sua área de abrangência são imprescindíveis, aproveitando todas as oportunidades de contato com o adolescente e sua família para desenvolver atividades de educação em saúde, principalmente no que tange a um evento com alta incidência em sua área de abrangência.

Nessa perspectiva, o ambiente escolar é um espaço ideal para o exercício de intervenções educativas, em que a ludicidade se torna extremamente importante quando se pretende trabalhar com esse público. As dinâmicas são recursos que permitem a expressão individual e a construção de um conhecimento coletivo, produzido a partir da troca de saberes entre os adolescentes e o profissional enfermeiro – principal precursor de ações educativas.

CONCLUSÃO

Conclui-se que as oficinas aplicadas apresentaram impacto positivo na comunidade escolar, uma vez que os adolescentes participaram ativamente do processo de educação em saúde, no qual foi constatada a construção do conhecimento e a desmistificação de mitos e estigmas socialmente construídos, promovendo a emancipação dos sujeitos quanto à temática hanseníase.

Essa experiência permitiu aos discentes de enfermagem a expansão do conhecimento científico sobre a hanseníase e a vivência em intervenções educativas com aplicações de dinâmicas com adolescentes, compreendendo a importância do planejamento, da implementação e avaliação da atividade, assimilando a necessidade de utilizar métodos apropriados para trabalhar com o público almejado.

  • FOMENTO
    Universidade Federal de Mato Grosso/Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência (UFMT/Procev).

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2019

Histórico

  • Recebido
    22 Set 2017
  • Aceito
    08 Jun 2018
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