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DA NEURASTENIA AO ESTRESSE: NOTAS PARA UMA HISTÓRIA DAS DOENÇAS NERVOSAS1 1 Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia utilizadas são referenciadas.

FROM NEURASTENIA TO STRESS: NOTES FOR A HISTORY OF NERVOUS DISEASES

Resumo

O texto trata de alguns aspectos da história da neurastenia e do advento do estresse, incluindo suas relações com o imaginário das doenças nervosas, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. O objetivo principal é o de perceber as diferenças entre aquelas duas patologias, assim como as controvérsias por elas desencadeadas entre cientistas brasileiros e estrangeiros. A hipótese central é fruto de uma pesquisa mais ampla, na qual as doenças são consideradas não apenas como tendo uma história reveladora das maneiras de conceber as fragilidades e as potências do corpo, mas indicam, também, ambições ligadas à produtividade no trabalho e ao progresso social.

Palavras-chave
neurastenia; estresse; doença; saúde; medicina

Abstract

The text deals with some aspects of the history of neurasthenia and the advent of stress, including its relations with the imaginary of nervous diseases, between the end of the 19th century and the first decades of the 20th century. The main objective is to understand the main differences between those two pathologies, as well as the controversies triggered by them between Brazilian and foreign scientists. The central hypothesis that runs throughout the text, the result of broader research, is that diseases not only have a history that reveals the ways of conceiving the weaknesses and strengths of the body, but also indicate ambitions linked to productivity in the field work and social progress.

Keywords
neurasthenia; stress; illness; health; medicine

Introdução

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

Um sino dobra em mim, Ave-Marias!

(Neurastenia, Florbela Espanca)

Em meados de 1869, a neurastenia aparecia no cenário científico norte-americano como uma doença difusa e abrangente, incluindo uma variedade impressionante de sintomas. O neurologista Georges Miller BeardBEARD, George Miller. American nervousness. Its causes and consequences. New York: G.P. Putnam’s Sons, 1881. foi o principal responsável por cunhar o termo daquela patologia, justamente em uma época de “nervos em frangalhos” que levavam muitos americanos a buscar “alívio em spas e remédios”, além de massagens e eletroterapia (TONE, 2009TONE, Andrea. Anxiety. A History of America’s turbulent affair with tranquilizers. New York: Basic Books, 2009., p. 8). Não apenas nos Estados Unidos, mas em diversos países nos quais o capitalismo industrial se expandia rapidamente, o antigo problema das fibras nervosas deixava de ser considerado um fenômeno típico das classes altas: o “problema dos nervos” não era mais uma experiência das classes abastadas que padeciam de uma fragilidade diagnosticada, por exemplo, pela medicina inglesa do século XVIII.

Na era das locomotivas e dentro do cotidiano metropolitano, os antigos males nervosos passaram a ser considerados o resultado de uma exaustão generalizada. A imprensa norte-americana e a europeia destacavam que as crescentes pressões do trabalho cerebral poderiam produzir seres neurastênicos, que oscilavam entre tédio e agitação, mal-estar e fadiga. Ou seja, não se tratava mais “de uma perda do fluido vital”, anteriormente vista como a principal fonte das doenças, mas, sim, de uma redução da força produtiva, de uma diminuição acentuada da capacidade para trabalhar em um momento de transição rumo ao estabelecimento do modo de vida capitalista (JANSSON, 2021JANSSON, Asa. From melancholia to depression. Disordered mood in nineteenth – century psychiatry. London: Palgrave Macmillan, 2021., p. 111-112).

Entretanto a neurastenia se conjugava com muitos sintomas relacionados ao que se denominava “doenças nervosas”, acenando para mudanças abruptas de humor, conjugando-se frequentemente com uma certa dose de melancolia e, em alguns casos, degeneração moral e sexual. Segundo a historiadora da medicina, Andrea Tone,

O Manual Merck de 1899, um compêndio de preparações publicado pela empresa farmacêutica Merck e escrito para químicos, médicos e farmacêuticos, catalogou dezenove remédios para neurastenia, todos relatados como sendo de bom uso entre os profissionais atualmente. Estes incluíam fósforo, prescrito a Charlotte Perkins Gilman, e também recomendado para tratar impotência, insônia e aflições nervosas relacionadas. Para o nervosismo, o Manual sugeria ópio, camomila e eletricidade. As drogas para insônia incluíam beladona

(TONE, 2009TONE, Andrea. Anxiety. A History of America’s turbulent affair with tranquilizers. New York: Basic Books, 2009., p. 10).

Ainda nesse contexto, conforme Zorzanelli, a suposição de que a civilização poderia produzir doença mental havia marcado “toda uma geração de alienistas do século XIX” (ZORZANELLI, 2010ZORZANELLI, Rafaela Teixeira. Neurasthenia. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, v. 17, 2010, p. 431-446., p. 435). Na Rússia do final do século XIX, por exemplo, Leonid Andreev, escritor que se tornou célebre após a sua morte em 1919, foi diagnosticado com uma neurastenia aguda em uma época de profundas mudanças sociais em seu país e de receio médico diante da suposição de que as doenças nervosas poderiam levar toda uma população a involuir (WHITE, 2014WHITE, Frederick. Degeneration, decadence and disease in the Russiane fin de siècle. Neurasthenia in the life and work of Leonid Andreev. New York: Manchester University Press, 2014., p. 24).

Para os médicos devotados a acelerar a capacidade de trabalho dos jovens, Andreev seria – tal como Oscar Wilde na Inglaterra – um representante da decadência cultural. A neurastenia seria, desse modo, uma ameaça para a construção de indivíduos saudáveis e produtivos. Na França, outro exemplo, Adrien Proust, pai do célebre escritor, juntamente com o psiquiatra e neurologista Gilbert Ballet consideraram a neurastenia uma doença típica de uma época na qual as nevroses se tornaram mais frequentes do que no passado. Ambos sublinharam o papel do alcoolismo no desregramento dos nervos e afirmaram que a neurastenia era igualmente distribuída para todos os povos civilizados que lutam pela existência e possuem uma exaltação incessante e exagerada das funções do sistema nervoso. Não seria, portanto, unicamente um “mal americano” (PROUST & BALLET, 1987PROUST, Adrien; BALLET, Gilbert. L´hygiène du neurasthénique. Paris: Masson, 1897., p. 10).

Para Proust e Ballet, a neurastenia era vista como um problema mais comum na idade adulta e em determinadas profissões. Primeiramente estariam os comerciantes e os industriais, seguidos de empregados, professores e estudantes, como os mais atingidos pelo mal. Os autores também pressupunham que a neurastenia era mais frequente entre os indivíduos dedicados a trabalhos intelectuais e ao esforço cerebral. Tratava-se aqui de atualizar o antigo receio diante das irritações das “fibras nervosas”, como se houvesse uma perigosa continuidade entre os nervos e as emoções. Os “nervosos” seriam os mais irritáveis e também os mais sensíveis e impressionáveis. Não por acaso, havia uma série de ressonâncias entre neurastenia, histeria e irritabilidade, problemas que, segundo Foucault, estiveram na origem da “psiquiatria científica” do século XIX (FOUCAULT, 1961FOUCAULT, Michel. Histoire de la folie à l’âge classique. Paris: Gallimard, 1961., p. 315). Os nervosos também poderiam denotar uma fragilidade intolerável, uma ausência de vontade, um desânimo ameaçador para a promoção dos valores de autonomia individual e vitalidade física.

Para Ehrenberg, nas últimas duas décadas do século XIX, a neurastenia representou o “ponto de partida de uma nova atenção social ao sofrimento por meio de um distúrbio funcional”, tornando inútil a referência à hereditariedade para explicar “os sentimentos e comportamentos mórbidos” (EHRENBERG, 2000EHRENBERG, Alain. La fatigue d’être soi, Dépression et société. Paris: Odile Jacob, 2000., p. 44). Nesse sentido, a neurastenia pode ser considerada um mal intimamente relacionado ao sentimento de perda de um antigo mundo e à dificuldade para se adaptar ao novo ritmo metropolitano e industrial. Assim, a neurastenia denotava modernidade e ao mesmo tempo acenava para os seus problemas.

A neurastenia seria também um mal-estar que poderia ter níveis muito diversos de gravidade. Sua experiência assinalava a presença de uma perturbação considerada moral e psíquica, uma astenia acompanhada de uma sensação de vazio e perturbações do sono (LEVILLAIN, 1896LEVILLAIN, Fernand. Essais de neurologie clinique, neurasthénie de Beard et états neurasthéniformes. Paris: A. Maloine, 1896., p. 4). O médico francês Levillain – influenciado pelas ideias de Charcot, entre outros cientistas de seu tempo – postulava que a neurastenia deveria ser considerada uma nevrose geral, sem lesão anatômica conhecida (LEVILLAIN, 1896LEVILLAIN, Fernand. Essais de neurologie clinique, neurasthénie de Beard et états neurasthéniformes. Paris: A. Maloine, 1896., p. 32). O fato de não apresentar uma lesão precisa, em algum órgão ou parte do corpo, era um dos grandes problemas e o maior desafio científico apresentado pela neurastenia. O esgotamento nervoso aparecia como o sinal mais elucidativo da presença daquela patologia, mas, mesmo assim, as dúvidas no diagnóstico tendiam a ser maiores do que as certezas de que haveria um tratamento adequado e, ainda, a cura.

Segundo Castel, na Alemanha, por exemplo, “a problemática da vontade (do querer-viver de Shopenhauer até a vontade de potência de Nietzsche)” dava o tom de demandas e expectativas que, evidentemente, extrapolavam o domínio médico e aumentavam as dificuldades em tratar a doença. Havia um imenso receio diante da perda da energia, assimilada à tristeza, à ausência de bravura e da vitalidade. E o receio dos estragos que a neurastenia fazia ou poderia fazer aos trabalhadores alemães levou o Partido Social Democrata a financiar clínicas especializadas para tratar o mal (CASTEL, 2017CASTEL, Pierre-Henri. Le cas de la dépression. In: VIGARELLO, Georges; CORBIN, Alain; COURTINE, Jean Jacques (org.). Histoire des émotions. Paris: Seuil, 2017. t. 3., p. 331).

Durante os primeiros vinte anos do século XX, a tendência em considerar a neurastenia um problema com origem e sintomas psicológicos ultrapassava cada vez mais a suposição de que se tratava de um mal comum, sobretudo entre os homens das classes abastadas. Mas persistiam tendências antigas ou aquelas que insistiam em considerar que a neurastenia igualmente atingia as mulheres, e, nesse caso, a patologia se manifestava por meio de infecções genitais. Exemplar a esse respeito, foi o médico Jules Batuaud, autor de um livro sobre a “neurastenia genital feminina”, no qual defende que haveria meios de tratá-la a partir do diagnóstico de infecções genitais e “instabilidade uterina” (BATUAUD, 1906, p. 11). Todavia, mais do que propriamente uma doença localizável, tendia-se a ressaltar a predisposição para a neurastenia quando uma mulher tivesse doenças em seu aparelho reprodutor (BATUAUD, 1906, p. 14).

Progressivamente, aumentou a tendência entre médicos europeus de considerar uma aproximação entre a neurastenia e a melancolia (CASTEL, 2017CASTEL, Pierre-Henri. Le cas de la dépression. In: VIGARELLO, Georges; CORBIN, Alain; COURTINE, Jean Jacques (org.). Histoire des émotions. Paris: Seuil, 2017. t. 3., p. 337). Contudo, ao longo da década de 1920, o diagnóstico da neurastenia caiu em desuso (GIJSWIJT-HOFSTRA, 2001GIJSWIJT-HOFSTRA, Marijke. Introduction: cultures of neurasthenia from Beard to the First World War. In: GIJSWIJT-HOFSTRA, Marijke; PORTER, Roy (org.). Neurasthenia, from beard to the first world war. Amsterdam, New York: Rodopi, 2001., p. 5).

“A doença de Beard” passava a ser percebida como um problema diferente de uma série de nevroses, um vocábulo que carecia de precisão e que, para médicos como o doutor Fleury, autor de um livro no qual há um balanço geral sobre o tema entre médicos franceses e americanos, a neurastenia seria bem mais rara do que até então se supunha. Fleury chegou a questionar se ela deveria, de fato, se manter como uma entidade nosológica dotada de especificidades e importância (FLEURY, 1924FLEURY, Maurice de. Les états dépressifs et la néurasthénie. Paris: Félix Alcan, 1924., p. 1-4).

Neurastenias nacionais

As neurastenias descritas pela imprensa brasileira apareciam associadas a diferentes temperamentos nervosos e também integravam pequenas anedotas:

“– Com licença!... Disseram-me que estavas indisposta, vim ver se a tua indisposição resistiria ao apello de minha amizade... Posso entrar?... – Podes entrar, naturalmente. Minha indisposição não é de ordem physica, e que o fosse... não importava!... Sou perfeitamente capaz de mostrar-me indisposto à tua vista. Não tenho vaidade contigo: fica (...) – Fumo (...) um pouco ás escondidas ainda, só para não ficar muito fóra de moda e acalmar-me os nervos (...) mas o cigarro aborrece-me como tudo o mais. Ando chocando uma neurastheniazinha em regra sabes?”

(Revista da Semana, 4 de agosto de 1923, p. 20).

Crônicas e contos com queixas relacionadas ao desânimo, ao tédio e à neurastenia eram publicados com frequência em diversos jornais e revistas nacionais, principalmente entre 1900 e 1920. Nessa época, a neurastenia marcava presença na propaganda impressa associada a uma série de remédios para combater “problemas de nervos”, impotência sexual, melancolia, desânimo, vontade de nada e anemia. Conforme Engel, “até pelo menos o final da década de 1920, muitos psiquiatras brasileiros continuaram acreditando que os males decorrentes da civilização e do progresso” seriam responsáveis pela “proliferação das doenças mentais nas sociedades modernas” (ENGEL, 1999ENGEL, Magali. As fronteiras da “anormalidade”: psiquiatria e controle social. História, Ciências, Saúde-Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, fev. 1999, p. 547-63., p. 27). A neurastenia tendia a ser percebida como um efeito colateral do progresso: indesejável, porém, inevitável.

A carga mais pesada da degeneração costumava ser pensada como resultado do alcoolismo, das “taras sexuais”, da ociosidade e da vadiagem, recaindo principalmente sobre pessoas pobres e negras. Também recaíam facilmente sobre jovens com sexualidade julgada suspeita para a moralidade dominante entre os médicos da época.

A antiga ambivalência da neurastenia – mal oriundo da modernidade e ao mesmo tempo a sua prova e o efeito de suas seduções – mantinha-se presente nos discursos médicos e na propaganda de remédios publicada em jornais brasileiros. O receio da degenerescência que alimentou numerosos argumentos de cunho higiênico e eugênico da década de 1920 encontrou na neurastenia uma certa dificuldade em classificá-la como totalmente patológica. Por um lado, era entendida como um sinal de declínio da raça, declínio esse não necessariamente vindo das camadas mais pobres da sociedade. Tratava-se de uma fraqueza difusa, tanto da saúde física quanto da psíquica, que atingia principalmente os homens, fatigados pelas pressões por mais produtividade no comércio e na indústria florescente. Por outro lado, também era entendida como o resultado e a prova de uma vida considerada moderna, dentro de cidades transformadas em metrópoles.

O termo neurastenia, que circulava na imprensa nacional antes da Primeira Guerra mundial, dava motivo a narrativas dramáticas, sobre suicídio e morte. E, ainda, a insistência na relação direta entre nervosismo, impotência masculina e neurastenia caracterizava muitos anúncios de produtos, os mais diversos, tais como aqueles que contavam com a influência da eletroterapia na saúde.

Durante a primeira década do século passado, a propaganda impressa divulgava a venda, pelo correio, de “cinturões elétricos”, com a promessa de curar todos os tipos de dores nas costas. Os anúncios não explicavam como funcionavam. Entre eles, o anúncio para o Cinturão Herculex Electrico, do doutor A. T. Sanden (CORREIO PAULISTANO, 12 de julho de 1906, p. 3) coloca a conquista da felicidade como uma tarefa possível, desde que curada a neurastenia. Mas a referida cura parecia difícil, na medida em que se tratava de um problema sem localização precisa no corpo: “A neurasthenia é uma molestia do século, um mal estar geral, um não sei quê no cérebro, no coração, no espirito todo, uma irresolução no ser moral, eclypses intermitentes no Eu, que a mais viva psycologia não explica” (PENADA, 1900PENADA, João. O Manduca. Almanak da Platea. São Paulo: Typographia de José Soler, 1900., p. 120).

No começo do século XX, as “estações de cura” serviram para acolher nervosos e neurastênicos de vários tipos. O imaginário das elites ociosas e neurastênicas estava presente em romances e crônicas da época. Assim, por exemplo, no livro de João do Rio, A Correspondencia de uma Estação de cura, o personagem de um elegante senhor, chamado Teodomiro, é neurastênico. Grande parte do seu mal vinha, segundo ele próprio, da falta do que fazer e da ausência de necessidades. A neurastenia “deforma em aumentativo a impressão da vida”, causa um grande enfado, mas é, segundo o personagem do romance, produzida pela própria sociedade, podendo ajudar a construir um exilio interior, um isolamento social e muito tédio (RIO, 1912RIO, João do. A correspondencia de uma estação de cura. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1912., p. 54).

Em um artigo sobre os paulistanos como “ianques do sul”, Dorsch relacionou a neurastenia – “a mais moderna e americana das doenças” – à imagem de São Paulo como metrópole atlântica votada ao progresso. Dorsch, em um artigo bastante instigante sobre o tema, propõe uma pergunta essencial para compreender a neurastenia: “por que razão essa doença tinha uma reputação relativamente boa e era bem difundida nos discursos médicos e populares e não na clínica?” (DORSCH, 2014DORSCH, Sebastian. Os paulistanos, ianques do sul, e a “doença moderna”, a neurasthenia nas primeiras décadas do século XX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, v. 21, jan.-mar. 2014., p. 34). Também mostrou que o foco do sofrimento do neurastênico, desdobrado na sua dimensão subjetiva e individual, o diferenciava das doenças epidêmicas correntes.

Interessante observar que, segundo Carrara e Russo, o surgimento dos primeiros psicanalistas e sexólogos brasileiros parece ter sido “marcado pela agitação em torno daquilo que, desde o final do século XIX, vinha sendo designado como o ‘problema’ ou a ‘questão sexual’”. Ora, a neurastenia sexual estava no centro do livro de um médico e professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Antonio Austregésilo, fortalecendo a tendência em se preocupar com a sexologia e com inúmeras suspeitas morais que recaíam sobre o comportamento de brasileiras e brasileiros (CARRARA; RUSSO, 2002CARRARA, Sérgio Luís; RUSSO, Jane Araújo. A psicanálise e a sexologia no Rio de Janeiro de entreguerras: entre a ciência e a auto-ajuda. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, maio-agosto 2002, p. 273-90., p. 275).

No Brasil, a produção médica de textos sobre a neurastenia foi relativamente importante.3 3 Uma parte da nossa pesquisa envolve essa produção e, entre os autores e textos já analisados, constam: AUSTREGÉSILO, Antonio. A cura dos nervosos. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1916; MOREIRA, Juliano. Neurastenia: recentes contribuições ao seu estudo. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Ciências Afins lll, n. 3-4, p. 388-95, 1907; OLINTO, Plínio. As dores vagas dos neurastênicos. Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria XV, n. 8-9, p. 231-32, 1932; PEIXOTO, Afranio. Resenha de Neurastenia e falsas neurastenias, tese de Manoel Paes de Azevedo. Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal 4, n. 1 e 2, p. 199-200, 1908; ALMEIDA, Waldemar de. Resenha de nervosismo intestinal, de Henrique Roxo. Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria, Análises, 10, n. 1, p. 28, 1928; ROXO, Henrique de Britto Belford. Nervosismo. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal 12, n. 1-2, p. 73-106, 1916. Nas décadas de 1910 e 1920, com a influência das pesquisas de inspiração eugênica, a neurastenia foi palco de questionamentos que envolviam tanto o progresso quanto os perigos da degeneração.

Renato Kehl (1947, p. 17)KEHL, Renato. A cura do espírito. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1947., um dos nomes célebres da eugenia paulista, defendia que o progresso da raça deveria ocorrer por meio de uma reabilitação física e moral dos brasileiros, em contraposição à imagem dos seres mirrados, raquíticos, doentes e tristes.4 4 Ver, por exemplo, R. Kehl, “O problema racial”, in: Boletim de Eugenia, n. 2, fev. 1929; João do Norte, “O Brasil e a raça”, in: Boletim de Eugenia, n. 8, ago. 1929; E. Apert, “A hereditariedade em pathologia”, in: Boletim de Eugenia, n. 21, set. 1930. Em seu livro intitulado A cura do espírito, Kehl inicia a escrita com o capítulo “O problema da felicidade”. Nele, o autor defende a ideia de que a infelicidade não se deve às causas sobrenaturais, pois “o indivíduo, constitucionalmente equilibrado, bem-dotado, bem adaptado ao meio – não pode deixar de ser bom, porque já nasce bom; dificilmente se desviará para o mal”, e assim a natureza interna e inata de cada um determina seu grau de alegria ou tristeza. A mencionada “natureza interna e inata”, uma vez sendo boa, teria a capacidade de manter o indivíduo no terreno da saúde e das virtudes. Caso contrário, o risco da degeneração seria incontestável.

Kehl também enfatizou a necessidade de se considerar diversos problemas de saúde que poderiam acarretar em irritações e desequilíbrios nervosos. Mas havia outros textos científicos que propunham a ideia de uma neurastenia leve ou de uma “pequena neurastenia”, e ainda os que acreditavam ser natural haver algum grau de neurastenia e nervosismo na vida metropolitana.

Entretanto, a partir de meados da década de 1920, a neurastenia divulgada pela propaganda de jornais e revistas nacionais aparece cada vez mais associada ao cansaço físico e mental. O consumo de licores e fortificantes à base de ferro para combater a debilidade e a palidez ilustrava centenas de anúncios publicados na Revista da Semana e na revista Fon-Fon – tal como o anúncio de ferro nuxado indicado para “anemia, neurastenia, depressão ou debilidade nervosa” (REVISTA DA SEMANA, 28 de novembro de 1924, p. 44). A imprensa tendia a incluir a neurastenia na lista de doenças nervosas, mas, sobretudo, da fraqueza física e mental, tanto de homens quanto de mulheres.

A neurastenia tendia a ser, cada vez mais, dominada pelo universo da fadiga resultante não apenas da vida moderna, mas do excesso de trabalho e de obrigações assumidas individualmente por homens e mulheres. Seu aspecto relacionado a uma minoria ociosa e abastada vai, progressivamente, sendo preterido em favor de novos conceitos, mais apropriados a expressar a aliança entre produtividade, disposição e bem-estar.

Da neurastenia ao estresse

A partir da década de 1930, muitos sintomas do que era considerado neurastenia foram absorvidos por diferentes doenças e, sobretudo, por um problema mais contemporâneo: o estresse. Segundo Abbott, a ideia de que se pode sucumbir diante das tensões cotidianas, originando-se doenças tanto psicológicas quanto biológicas, é antiga, e a palavra “estresse” já era utilizada nos Estados Unidos para definir uma ansiedade geral desde 1914. No entanto, somente a partir de 1950, segundo o mesmo autor, aquele termo se popularizou, o que se deve sobretudo aos trabalhos do médico Hans Selye (ABBOTT, 2001ABBOTT, Andrew. Chaos of disciplines. Chicago: The University of Chicago Press, 2001., p. 37). Nesse contexto, os estudos sobre a fadiga foram precursores das análises sobre o estresse, e a maior parte deles foi atravessada pela ambição de criar indivíduos eficientes para o trabalho (COOPER; DEWE, 2004COOPER, Cary; DEWE, Philip. Stress, a brief history. Hoboken: Wiley-Blackwell, 2004., p. 11-12). Indivíduos considerados desajustados, somados à exaustão nervosa e ao cansaço extremo, compunham a constelação de receios de empresários, médicos e governos.

As iniciativas da medicina psicossomática, colocando em evidência novas pesquisas sobre as conexões entre emoções e doenças, representaram uma nova expectativa de melhorar o equilíbrio entre forças físicas e mentais, além de desembaraçá-las de possíveis vícios. Ademais, o desenvolvimento dos estudos sobre as glândulas endócrinas também contribuiu para proporcionar uma visão mais unificada do organismo, aproximando o psiquismo do âmago fisiológico.

Segundo Vigarello, com a emergência do estresse, o ser humano se afirmou como uma unidade psicofísica, acentuando a reciprocidade entre emoções e sistema orgânico (VIGARELLO, 2020VIGARELLO, George. Histoire de la fatigue. Du Moyen Âge à nos jours. Paris: Seuil, 2020., p. 598). Um corpo mais sensível física e mentalmente às agressões do meio ambiente e às transformações hormonais tornar-se-ia, portanto, uma figura importante doravante, especialmente depois dos estudos de Selye, mas também graças a cientistas como Walter Cannon e Richard Lazarus.5 5 A bibliografia é variada e interessante para perceber as tentativas de associar determinadas emoções ao estresse. Ver, por exemplo: COOPER, Cary L.; DEWE, P. Stress: a brief history. Blackwell, 2004, p. 11; ver, também, SILVA, Carlos Leonardo Bahiense da. Nas trincheiras da mente: neurastenia, shell shock e Primeira Guerra Mundial. Boletim Tempo Presente. Rio de Janeiro: UFRJ, v. 24, 2008, p. 1-8. Este último, em 1966, divulgou o conceito de “estresse psicológico”, colocando em pauta “a experiência particular do individuo, prioritariamente associada a fatores cognitivos e emocionais” (TALARICO, 2009TALARICO, Juliana Nery de Souza. Estresse, concentrações de cortisol e estratégias de coping no desempenho da memória de idosos saudáveis, com comprometimento cognitivo leve e doença de Alzheimer. Tese de Doutorado, Escola de Enfermagem, S. Paulo, USP, 2009., p. 19).

O uso do termo “estresse”, no entanto, não ocorreu sem controvérsias. Doublet, em livro célebre, defendeu que haveria algum exagero nas associações comuns entre estresse e uma gama diferenciada de patologias (DOUBLET, 2000DOUBLET, Serge. The stress myth. Chestefield: Science & Humanities Press, 2000., p. 32-45). Mas, diferentemente da neurastenia, o estresse apareceu na imprensa como um problema com vocação a se generalizar rapidamente entre ricos e pobres; homens, mulheres e crianças.

Entre 1930 e 1960, é possível perceber o quanto a experiência do estresse passou a abarcar e a subsumir em seu interior a neurastenia e de inúmeros males dos nervos, além da fadiga extrema. Na mídia, à época, o termo “neurastenia” foi progressivamente abandonado, e o que passou a ser cada vez divulgado foi o “estresse”. Ou seja, tudo se passa como se a “invenção dos estressados” tivesse uma capacidade maior do que existia com a neurastenia de abarcar as diferentes classes sociais, sem necessariamente denotar um transtorno de ordem sexual. Os desequilíbrios diagnosticados entre os estressados tendem a ser doravante muito mais de ordem emocional e ligados a um excesso de esforço muscular e mental, que pode atingir qualquer pessoa.

Em sua história, “ os nervos e sua corte de derivados”, conforme mostrou Duarte, tendeu a ser desdobrado em vários termos e expressões (DUARTE, 1988DUARTE, Luiz Fernando Dias. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1988., p.10). Peter Stearns, por exemplo, mostrou que a sociedade norte-americana passou de uma época na qual se enfatizava a necessidade de dominar os medos e, por conseguinte, a ansiedade, para um período no qual o mais importante seria evitá-los (STEARNS, 2006STEARNS, Peter. Fear. The causes and consequences of high anxiety. New York: Routledge, 2006., p. 63). Tone estudou a banalização mundial dos barbitúricos nos Estados Unidos, antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Barbitúricos como o penthotal ou o “serum da verdade” facilitavam a expressão oral, mas foi com o meprobomato – princípio ativo do Miltown© – que a história das emoções e do individualismo se rebateu intensamente sobre a história da psicofarmacologia. Segundo Tone, aquele produto, apresentado como não tóxico nem causador de dependência, fez parte dos primeiros medicamentos para pessoas ditas normais (TONE, 2012TONE, Andrea. Anxiety. A History of America’s turbulent affair with tranquilizers. New York: Basic Books, 2009., p. 45).

Entretanto, essa suposta normalidade estava inserida em um contexto fortemente influenciado pelos novos receios que caracterizaram o período da Guerra Fria e, em particular, os medos da sociedade norte-americana. Com a ameaça nuclear, somada aos problemas típicos do modo de vida americano, a ansiedade e o cansaço tornaram-se experiências banais, amplamente noticiadas pelos meios de comunicação de massa. Já nos jornais e nas revistas do Brasil, a propaganda de produtos para estressados de ambos os sexos aumentou sensivelmente a partir da década de 1950. É quando o estresse se desdobrou em síndromes e doenças que, se, por um lado, lembram o comprometimento das fibras nervosas verificado na neurastenia, por outro, apostam no incremento de componentes cada vez mais psicológicos e relacionados ao funcionamento cerebral.

No Brasil, o tema do estresse ganhou impulso com a vinda de Hans Selye para apresentar o tema em conferências. Em 1952, o Jornal do Brasil (JB) anunciou a descoberta do “stress” pelo doutor Selye – que logo seria considerada matéria importante para os estudos do funcionamento hormonal e dentro das atividades desportivas (JB, 1 de maio de 1952, p. 6). Em 1955, houve a conferência do professor Peregrino Junior na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Petrópolis. Peregrino era o diretor da Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil e contribuiu para o esclarecimento do tema e sua associação com aquele de síndrome geral de adaptação (JB, 22 de novembro de 1955, p. 9). Em 1956, o jornal Correio da Manhã noticiou a conferência elogiando Selye, quando apresentou seus estudos sobre o estresse para cerca de duzentos médicos. Ele enumerou as experiências em laboratório, concluindo o seguinte:

há no organismo dois hormônios antagónicos e que, para equilíbrio das secreções do córtex supra-renal com as secreções hipofisárias, resulta o esforço de adaptação. Sendo maiores as exigências da vida moderna, o equilíbrio e frequentemente perturbado, surgindo então o Stress

(CORREIO DA MANHÃ, 30 de agosto de 1956, p. 3).

O convite para Selye apresentar seus estudos no Brasil ocorreu a partir do departamento médico da Pfizer e em nome da Universidade do Brasil, conforme informou o mesmo jornal. Chamado também de síndrome geral de adaptação, o estresse interessava, em particular, à medicina psicossomática e aos médicos ligados ao esporte profissional. Diferentemente da neurastenia, o estresse encontrou um imenso terreno favorável à pesquisa entre médicos e técnicos ligados ao esporte de alto nível.

Selye e cientistas brasileiros não tardaram a fomentar um maior intercâmbio de ideias, contribuindo para que o estresse se tornasse um tema pertinente em artigos publicados na imprensa nacional. Um deles, intitulado “O stress e a saúde”, de Oscar Rontaguera, indicou uma associação que tenderia a crescer nos anos seguintes, entre tensão emocional crônica e estresse. Um dos tratamentos indicados deveria ser o reforço no consumo de vitaminas, especialmente quando se tratava de casos considerados extremos (JB, 12 de setembro de 1954, p. 3). No ano seguinte, o mesmo jornal mostrou a “teoria sobre o ‘stress’” de Selye e, sobretudo, os mais variados fatores externos capazes de causar o problema (JB, 25 de setembro de 1955, p. 2). Assim, estava criado o campo de problematizações sobre a fadiga crônica, o esgotamento nervoso e, mais tarde, a Síndrome de Burnout (SB).

O surgimento e o desenvolvimento do interesse pelo estresse no Brasil revelou outro interesse relacionado à ambição econômica, científica e política, da época, de melhorar as capacidades não apenas físicas, mas também mentais e emocionais da população brasileira. Entre 1950 e 1970, o estresse tendia a ser compreendido como sinônimo de exaustão, e vários artigos se dispuseram a explicar didaticamente o que era esse mal considerado moderno e perigoso.6 6 Ver, por exemplo, O Cruzeiro, 23 de maio de 1959, p. 8; O Cruzeiro, 2 de abril de 1969, p. 10. Os casos de suicídio divulgados pela imprensa tenderiam, desde então, a associar o estresse a um tal estado de esgotamento mental que comprometia o equilíbrio de todo o corpo e, em particular, a sanidade mental.7 7 Há várias matérias a esse respeito. Ver, por exemplo, O Cruzeiro, 1 de outubro de 1960, p. 128; e O Cruzeiro, 18 de fevereiro de 1961, p. 113. Ainda, o estresse passou a ser cada vez mais associado a diversas doenças e de diagnósticos, incluindo aqueles referentes à obesidade, ao excesso de consumo de gordura e à má alimentação (O CRUZEIRO, 15 de maio de 1965, p. 119).

No artigo intitulado “Stress, o grande responsável”, publicado no Jornal do Brasil em 1962, o estresse foi considerado uma “nouvelle vague da medicina mundial”, capaz de recolocar, na cena midiática e científica da época, os antigos debates sobre a adaptação do ser humano ao meio (JORNAL DO BRASIL, 6 de janeiro de 1962, p. 4).

Conforme Corbin, no decorrer do século XX, o cansaço psíquico provocou a promoção não apenas de novos estudos sobre o estresse, mas também de experiências voltadas ao descanso ou ao repouso de cada indivíduo, contribuindo para uma renovação dos lazeres e um particular e crescente interesse pelo uso do tempo livre (CORBIN, 2022CORBIN, Alain. Histoire du repos. Paris: Plon, 2022., p. 169).

Conclusão

Conforme mostrou Vigarello em todo o seu livro sobre a história do cansaço, a partir da progressiva divulgação do estresse dentro e fora da medicina, tornou-se possível criar discursos com a potência de serem verdadeiros sobre vários tipos e intensidades do esgotamento físico e psíquico, modificando o que se entende por bem-estar e saúde (VIGARELLO, 2020VIGARELLO, George. Histoire de la fatigue. Du Moyen Âge à nos jours. Paris: Seuil, 2020.). A emergência do estresse como um grande problema das sociedades industriais contemporâneas do pós-guerra, revela, cada vez mais amplamente, uma preocupação científica e social com as posições do corpo durante os esforços demandados no trabalho, convocando a área de ergonomia para desenvolver cadeiras, mesas, máquinas e objetos solidários ao conforto, às posturas consideradas corretas e à satisfação de modo geral. Por fim, a crescente preocupação com o estresse abriu espaço para um imenso mercado de ansiolíticos, técnicas de relaxamento, meditação e, sobretudo, um adensamento da consciência dos limites do corpo, acompanhada, paradoxalmente, pela ânsia em ultrapassá-los constantemente.

Dessa maneira, se, durante anos, a neurastenia foi considerada um problema intimamente relacionado às dificuldades em se adaptar às exigências da vida metropolitana e do capitalismo industrial, atingindo principalmente os homens, com o estresse, essas dificuldades passaram a dizer respeito a todos, podendo ainda ameaçar o equilíbrio emocional de crianças e idosos. O estresse, bem mais do que a neurastenia, tendeu a ser compreendido como um desequilíbrio físico e psíquico comum, para o qual uma gama diversificada de produtos e serviços não cessou de ser anunciada como “a melhor solução”.

Nesse sentido, é possível concluir que as patologias são efetivamente um importante indicador cultural e histórico: o estudo de suas definições, a análise dos tratamentos recomendados e a comparação entre os argumentos que as envolvem – em cada época e em cada cultura – revelam os laços construídos entre a saúde individual e as exigências socioeconômicas defensoras de mais rendimento e produtividade.

Conforme indicou Moulin, “a história do corpo no século XX é a história de uma medicalização sem equivalente” (MOULIN, 2015MOULIN, Anne Marie. Le corps devant la médecine. In: VIGARELLO, Georges et al. (org.). Histoire du corps. Paris: Seuil, 2006. t. 3., p. 23). Assim, a passagem entre a problemática da neurastenia e a preocupação diante do estresse não deixa de revelar, igualmente, a positividade social e científica alcançada hoje pelos medicamentos e serviços voltados a relaxar, equilibrar, descansar e acalmar os indivíduos.

  • 1
    Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia utilizadas são referenciadas.
  • 3
    Uma parte da nossa pesquisa envolve essa produção e, entre os autores e textos já analisados, constam: AUSTREGÉSILO, Antonio. A cura dos nervosos. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1916; MOREIRA, Juliano. Neurastenia: recentes contribuições ao seu estudo. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Ciências Afins lll, n. 3-4, p. 388-95, 1907; OLINTO, Plínio. As dores vagas dos neurastênicos. Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria XV, n. 8-9, p. 231-32, 1932; PEIXOTO, Afranio. Resenha de Neurastenia e falsas neurastenias, tese de Manoel Paes de Azevedo. Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal 4, n. 1 e 2, p. 199-200, 1908; ALMEIDA, Waldemar de. Resenha de nervosismo intestinal, de Henrique Roxo. Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria, Análises, 10, n. 1, p. 28, 1928; ROXO, Henrique de Britto Belford. Nervosismo. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal 12, n. 1-2, p. 73-106, 1916.
  • 4
    Ver, por exemplo, R. Kehl, “O problema racial”, in: Boletim de Eugenia, n. 2, fev. 1929; João do Norte, “O Brasil e a raça”, in: Boletim de Eugenia, n. 8, ago. 1929; E. Apert, “A hereditariedade em pathologia”, in: Boletim de Eugenia, n. 21, set. 1930.
  • 5
    A bibliografia é variada e interessante para perceber as tentativas de associar determinadas emoções ao estresse. Ver, por exemplo: COOPER, Cary L.; DEWE, P. Stress: a brief history. Blackwell, 2004, p. 11; ver, também, SILVA, Carlos Leonardo Bahiense da. Nas trincheiras da mente: neurastenia, shell shock e Primeira Guerra Mundial. Boletim Tempo Presente. Rio de Janeiro: UFRJ, v. 24, 2008, p. 1-8.
  • 6
    Ver, por exemplo, O Cruzeiro, 23 de maio de 1959, p. 8; O Cruzeiro, 2 de abril de 1969, p. 10.
  • 7
    Há várias matérias a esse respeito. Ver, por exemplo, O Cruzeiro, 1 de outubro de 1960, p. 128; e O Cruzeiro, 18 de fevereiro de 1961, p. 113.

Referências bibliográficas

  • Fontes

    Hermeroteca Digital/Biblioteca Nacional:
    O Cruzeiro
    Jornal do Brasil
    Jornal dos Sports
    Correio da Manhã
    Outras:
    Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria
    Boletim de Eugenia, 1929-1930.

Referências bibliográficas

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Editado por

Editores Responsáveis

Miguel Palmeira e Stella Maris Scatena Franco

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Mar 2023
  • Aceito
    05 Jul 2023
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