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O futuro do sambista e o sambista do futuro: juventude, sociabilidade e associativismo nas escolas de samba mirins do Rio de Janeiro

The future of the samba musician and the samba musician of the future: youth, sociability and associativism in children’s samba schools from Rio de Janeiro

RESUMO

Crianças e adolescentes participam, com as suas famílias, das atividades das escolas de samba, tendo, há décadas, espaços próprios: ala das crianças; escolinhas de mestre-sala e porta-bandeira; baterias mirins, com a perspectiva de profissionalização e renovação nas próprias escolas; e escolas de samba mirins. Hoje há 16 escolas, majoritariamente derivadas das escolas-mães, que fecham os desfiles na terça-feira, com mais de 25 mil participantes, e tentam inserir-se nas políticas sociais para a juventude, para a promoção da cidadania e a revitalização do sentido de comunidade. Mantêm estreito laço com sua vizinhança, contribuem para a valorização da cultura carioca e se apresentam como elemento fundamental do samba nas últimas décadas.

PALAVRAS-CHAVE:
Escolas de samba mirins; juventude; políticas sociais; sociabilidade; associativismo

ABSTRACT

Children and teenagers participate with their families in the activities of samba schools. These young people have their own spaces for decades: children’s section; master of ceremonies and flag-bearer (courses); drum sections, allowing for professionalization and renovation within the samba school itself; and children’s samba schools. Nowadays there are 16 schools, mostly derived from the mother schools, which parading more than twenty-five thousand youngsters on Fat Tuesday, closing the Carnival festivities. They try to insert themselves into the social policies for the youth, for the promotion of citizenship and the revitalization of the sense community. They maintain close ties with their neighborhood, contribute to the appreciation of the carioca culture and present themselves as a fundamental element of samba in the last decades.

KEYWORDS:
Children’s samba schools; youth; social policies; sociability; associativism

O presente artigo tem como objetivo apresentar as redes de sociabilidade e associativismo que compõem o universo das escolas de samba mirins do Rio de Janeiro, a partir do entendimento de que essas escolas são projetos sociais (e culturais) com foco na juventude da cidade do Rio. Capitaneadas pela Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (AESM-Rio), essas escolas teriam como projeto a circulação da cultura afro-brasileira a partir dos ensinamentos orais dentro das quadras das escolas de samba, tendo como forte componente as relações intergeracionais e como objetivos a formação para o trabalho e o movimento de manutenção/transformação do samba carioca.

Nesse sentido, as escolas de samba mirins investiriam em jovens que potencialmente assumiriam o compromisso de um projeto que passe pelo conhecimento nas escolas de samba e nas trocas entre elas, fortalecendo redes vicinais e redes no samba, gerando emprego e renda, trazendo autonomia e possibilidade de empoderamento da juventude do samba.

Este artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado desenvolvida entre 2005 e 2009 e ampliada com observação fotoetnográfica em anos posteriores à defesa da tese. Aqui me restrinjo a trabalhar com os dados coletados naquele primeiro momento, a saber: entrevistas com presidentes e vice-presidentes de escolas de samba mirins, análise de material da mídia e observação participante de festas e eventos2 2 Nota metodológica: pesquisa qualitativa, privilegiei a observação participante, as entrevistas realizadas com um conjunto de interlocutores que naquele momento (e ainda hoje) estiveram engajados no fazer das escolas mirins. Este artigo, de caráter etnográfico, foi beneficiado desses diálogos. Durante o período que durou a pesquisa, acabei por fotografar os desfiles das escolas mirins e seus protagonistas - crianças e jovens. De 2010 até 2014 continuei a fotografar os desfiles e de muitas formas a acompanhar o campo, gerando uma pesquisa fotoetnográfica. . Optei por manter alguns nomes de personalidades públicas do carnaval e das próprias escolas de samba mirins, de modo a valorizar os esforços de existência dessa juventude no carnaval carioca.

Por conta da pesquisa desenvolvida, percebi que os espaços destinados aos jovens nas escolas de samba não são recentes e a circulação dos mesmos tampouco o é. Crianças e jovens acompanhavam familiares e vizinhos que faziam parte das escolas de samba e aprendiam, por observação, imitação e estímulo, a cultura carioca do samba dentro das casas, terreiros, quadras e rodas. Era nesse movimento de sociabilidade que se desenvolvia o apreço pela arte do samba, onde se aprendia o que é essa expressão artística e o que significa uma escola de samba, o carnaval e a relação com o poder público. Além disso, era dessa forma que se entendia o que era a cidade e se lidava com pessoas de várias gerações e inserções profissionais. Dali também saíram compositores, intérpretes, mestres-salas e porta-bandeiras, ritmistas, presidentes de agremiações, sambistas e amantes do samba e do carnaval.

Para dar conta desse universo heterogêneo, divido este texto em três partes. A primeira, intitulada “Carnaval carioca e seu universo”, introduz o universo do carnaval carioca, das escolas de samba e o cenário de existência das escolas de samba mirins. A segunda parte, “A juventude no samba e suas relações vicinais e intergeracionais”, trata do surgimento e da existência das próprias escolas mirins e suas relações associativas e de sociabilidade. A terceira parte, “A relevância das associações: o caso da AESM-Rio”, visa apresentar a própria AESM-Rio como mantenedora dessas relações e mediadora do fazer carnaval com a comunidade e o poder público.

Carnaval carioca e seu universo

As primeiras escolas de samba do Rio de Janeiro foram fundadas entre as décadas de 1920 e 1930 e, ao longo de sua história, tornaram-se conhecidas como redutos de produção cultural e espaço de criação de um dos ritmos brasileiros mais ricos do século XX: o samba.

Ao longo de sua quase secular história, elas sofreram diversas modificações na estrutura e no funcionamento, assim como o carnaval - momento em que elas têm seu momento máximo, o desfile - também sofreu mudanças estéticas, rítmicas, entre outras. Alguns críticos afirmam que o carnaval e as escolas de samba, por terem perdido seu aspecto mais popular, acabaram. Ao se tornarem empresas na década de 1980, fundarem a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) e passarem a desfilar na Passarela do Samba, o sambódromo, teriam perdido a ligação com a comunidade e com a vizinhança.

Ao mesmo tempo, as escolas de samba ainda são continuamente acusadas de serem despolitizadas, de não serem uma “necessidade” frente a direitos sociais como saúde e educação, ou de não terem consciência étnico-racial, não sendo entendidas como movimentos de (re)organização da cultura (afro)brasileira, assim como importantes construtoras dessas mesmas comunidades e vizinhanças.

Ao se tornarem empresas, elas passam a profissionalizar as atividades de criação já existentes, como a produção de carros alegóricos, fantasias e adereços, além de reinventar uma indústria cultural e turística que movimenta milhões por ano. Essa profissionalização do trabalho nos barracões, antes entendido como voluntário, vem a inserir, ao invés de afastar, a vizinhança em outros espaços e funções da associação que é a escola de samba. O carnaval carioca como espetáculo dura apenas quatro dias, mas, enquanto empresas, as escolas de samba que realizam tal espetáculo funcionam o ano inteiro.

Porém, nosso carnaval é muito heterogêneo. Da profissionalização e da transformação em empresa, podemos falar apenas das escolas do grupo especial que compõem a Liesa ou, no máximo, das escolas do grupo de acesso. Isso porque as escolas abaixo desses grupos continuam lutando por sua sobrevivência e mantendo laços mais comunitários, próprios de associações vicinais. Enquanto as escolas do grupo especial recebem foliões de todos os cantos do Brasil e do mundo, as escolas de samba dos outros grupos são menos visíveis e dependem da participação mais ativa e voluntária de seus membros. Em escolas de samba menores e na maioria das escolas de samba mirins, essa seria a regra, inclusive pelo baixo valor financiado a cada uma delas para fazer um carnaval e desfilar.

É nesse sentido que principalmente as escolas de samba do grupo especial e do grupo A trazem receita para a cidade do Rio de Janeiro, fazem parte da agenda turística e empregam um número significativo de pessoas a cada ano. O trabalho desenvolvido nos barracões e na Cidade do Samba3 3 A Cidade do Samba Joãosinho Trinta foi fundada em 2006 no Santo Cristo, Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro, mas muda de nome em 2011 após decreto do então prefeito Eduardo Paes para homenagear o famoso carnavalesco. Cidade do Samba, como é conhecida, é a área destinada aos barracões das escolas de samba do grupo especial. gera recursos que são reinvestidos no carnaval. A capacidade de se manter em boas colocações no grupo especial significa gerar mais recursos para a escola e, por consequência, mais recursos para a sua manutenção, para empregar moradores da vizinhança onde se localiza a escola e para organizar projetos sociais que porventura poderiam se financiar de forma independente. Não são tão poucas, nesse caso, as escolas de samba que financiam e estimulam o financiamento de projetos em escolas mirins, tanto no grupo especial quanto em outros grupos. O investimento em alas das comunidades e nos jovens do entorno onde as quadras se localizam é algo corrente.

À medida que os dirigentes das escolas se sentem comprometidos com a vizinhança, com a comunidade e com a juventude do entorno de suas quadras, eles buscam a inclusão social e a cidadania dos moradores, entendendo que as práticas esportivas e culturais locais, somadas aos direitos sociais básicos como saúde e educação, são fundamentais.

Esses movimentos começam no final da ditadura, quando se visava reconstruir a cidadania e os direitos sociais do país. É nesse momento que emergem as associações de moradores, organizadas para atender às demandas das populações locais, assim como as escolas de samba mirins, marcando uma transformação na própria forma de se ver o papel da criança e do adolescente nas escolas de samba4 4 Crianças e adolescentes sempre participaram das escolas de samba, mas só é possível encontrar um olhar específico para a juventude a partir das décadas de 1970-1980, com a emergência de trabalhos sociais organizados por bicheiros e pelas próprias associações de moradores nas quais as escolas de samba estavam inseridas. . Essa preocupação transforma-se em ação efetiva, com participantes das escolas de samba buscando recursos para manter suas oficinas de samba, percussão e porta-bandeira e mestre-sala, que cresceram muito entre os anos 1980 e 2000.

A juventude no samba e suas relações vicinais e intergeracionais

Ressalto que, antes dos projetos desenvolvidos surgirem, já existiam situações partilhadas por indivíduos nas quais tanto a solidariedade quanto a dádiva estavam presentes, assim como as relações entre diferentes gerações de sambistas e esportistas, sem nenhum interesse econômico.

Tanto na literatura existente sobre o papel da vizinhança e da comunidade na consolidação do samba carioca (VALENÇA; VALENÇA, 1981VALENÇA, Rachel; VALENÇA, Suetônio. Serra, Serrinha, Serrano. O império do samba. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1981.), quanto em entrevistas realizadas por pesquisadores de samba e carnaval, fica evidente que, na formação dos subúrbios e de algumas favelas, criou-se uma espécie de relação familiar extensa para além dos laços óbvios de consanguinidade. Os amigos, os vizinhos e os parentes formavam uma só grande família, unida pelas atividades profissionais ou pelo lazer.

Reuniam-se homens e mulheres para festas de casamento, batizado, aniversário e mesmo velório. Juntos estavam também nas festas religiosas, ladainhas, devoções de santos e procissões, assim como nos carnavais, piqueniques ou em qualquer outro evento que consolidasse a amizade e que os entretivesse nos dias de folga. As atividades dos sindicatos profissionais eram comuns, e as atividades da própria escola de samba iam desde a escolha do figurino até a montagem da ala para o carnaval, fortalecendo assim os laços de compadrio, de amizade e de parentesco (ZALUAR, 1998ZALUAR, Alba. Para não dizer que não falei de samba: os enigmas da violência no Brasil. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). História da vida privada no Brasil volume 4 - Contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.; GONÇALVES, 2003GONÇALVES, Maria Alice Rezende. A vila olímpica da verde e rosa. Rio de Janeiro: FGV, 2003.; RIBEIRO, 2003RIBEIRO, Ana Paula Alves. Samba são pés que passam fecundando o chão... Madureira: Sociabilidade e conflito em um subúrbio musical. 137 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.).

Ensinar a tocar algum instrumento musical ou a arte de ser porta-bandeira e mestre-sala e de orientar a bateria da escola de samba; reunir as pessoas para fazerem as fantasias e adereços; tomar conta dos filhos de amigos e vizinhos; explicar matérias quando as crianças estavam em dificuldades escolares: tudo isso fazia - e ainda faz - parte do cotidiano de muitos moradores dos subúrbios e das favelas que estão inseridos em alguma atividade da escola de samba.

Muitos dos entrevistados apontaram essa convivência com “os mais velhos” como fundamental para a definição de quem eles seriam no futuro. A dádiva expressa nessas relações é considerada um fenômeno importante ou um princípio base no modelo sociológico. Para Godbout (1988, p. 44), “de modo negativo, entende-se por dádiva tudo o que circula na sociedade e não está ligado nem ao mercado, nem ao Estado (redistribuição), nem à violência física. De modo mais positivo, é o que circula em prol do ou em nome do laço social”.

Notamos, em primeiro lugar, que dentro das partilhas “busca-se romper o isolamento do indivíduo e situá-lo no contexto de suas relações sociais. Isso significa que cada indivíduo possui um sentimento de identidade compartilhada com os outros” (GODBOUT, 1998GODBOUT, Jacques T. Introdução à dádiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 38, out. 1998., p. 43). Em segundo lugar, notamos que os atores envolvidos nas partilhas valorizam o prazer na dádiva e negam a obrigação desse ato. Apenas nesse sentido a dádiva ganha equivalência: ela é importante tanto para quem dá quanto para quem recebe. E até aqui, talvez, a equivalência pretendida pelo mercado seja negada, já que

[a dádiva] é fundamental para romper o próprio isolamento e sentir a própria identidade. Daí o sentimento de poder, de transformação, de abertura, de vitalidade que invade os doadores, que dizem que recebem mais do que dão, e muitas vezes do próprio ato de dar. (GODBOUT, 1998GODBOUT, Jacques T. Introdução à dádiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 38, out. 1998., p. 49).

Esses projetos ou cursos, como os desenvolvidos pelas escolas de samba mirins e pelas escolas de samba sem tal divisão entre mirim e adulta, trabalham com a perspectiva intergeracional dentro da lógica da dádiva. É nesse sentido que percebemos uma mudança do propósito das atividades e da natureza da reciprocidade entre os membros das escolas de samba. Se antes havia a sociabilidade, no sentido que Simmel (2006SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.) demonstra, e a reciprocidade tradicional tal como definida por Godbout (1998GODBOUT, Jacques T. Introdução à dádiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 38, out. 1998., p. 49, nota 8) - pura, sem interesses imediatos ou grandes problemas estruturais, mas restrita aos círculos de conhecidos de longa data -, hoje essa circulação ganha um novo significado, abrangendo também os desconhecidos. A escola de samba modernizou-se quanto à sociabilidade e à reciprocidade.

Maria Alice Rezende Gonçalves afirma que:

As escolas de samba podem ser entendidas como associações que inicialmente se restringiam a relações primárias, envolvendo pessoas que se conheciam entre si. Ao longo do tempo tornaram-se associações formadoras de redes sociais que incorporam estranhos, cujo objetivo final seria a distribuição de bens baseada em critérios amplos de justiça, ou seja, critérios que vão mais além dos locais, característicos das associações onde predominam os laços de amizade, vizinhança e parentesco. (GONÇALVES, 2003GONÇALVES, Maria Alice Rezende. A vila olímpica da verde e rosa. Rio de Janeiro: FGV, 2003., p. 25, nota 6).

Nossas escolas de samba estão mais conscientes dessa transformação; cada vez mais o sentido da socialização se apresenta. Se antes se contava com a confraternização espontânea e a sempre difícil união dos moradores, hoje boa parte do convívio e da cooperação passa pela criação de projetos sociais e culturais. Estes, por sua vez, não apenas dariam conta de manter e divulgar a história da escola de samba, legitimando o papel de polo cultural de algumas comunidades (e de alguns bairros) do Rio de Janeiro, mas também poderiam orientar os jovens na direção de alternativas profissionais dentro do universo do samba.

Mesmo com todas as críticas que se possam fazer ao espírito mercantil e ao espetáculo midiático aos quais as escolas de samba teriam aderido, mesmo que haja críticas aos projetos relacionados e uma tensão entre o que é tradição e o que é inovação, a dedicação e a solidariedade que transparecem no trabalho (por vezes ainda voluntário) de alguns sambistas e no amor que eles manifestam por sua arte e cultura reforçam essa impressão. É o que já se nota na retomada das escolas de samba pelos seus componentes, no novo prestígio das velhas guardas, na recuperação das raízes afro-brasileiras da cultura local e no trabalho de prevenção e tratamento da violência entre os jovens, realizados formal e informalmente nas escolas de samba e, nas mirins, entendidas como projetos sociais.

Os entrevistados durante a pesquisa eram da classe popular e enfatizaram a importância da convivência com os mais velhos - alguns considerados mestres, mas chamados de tios e tias - nos espaços familiares, de trabalho e de lazer, ressaltando a importância da memória e o fato de terem aprendido seus ofícios, tanto no mundo do trabalho quanto no samba, a partir de uma tradição transmitida por meio da história oral.

Entre os entrevistados jovens, encontramos muitos meninos e meninas que iniciam hoje uma carreira na música, na dança e continuam seus estudos, sob a orientação dos mais velhos; não é raro escutarmos que “fulano é meu padrinho” ou “minha madrinha” por dar força ou ajuda na carreira.

Alguns dos moradores mais velhos de um bairro - aqueles que se engajariam na construção da eficácia coletiva e da cultura cívica - apresentam uma face do princípio moderno da reciprocidade (PUTNAM, 2006PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2006.; 2003; ZALUAR; RIBEIRO, 2009ZALUAR, Alba; RIBEIRO, Ana Paula Alves. Teoria da eficácia coletiva e violência: o paradoxo do subúrbio carioca. Revista Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 84, p. 175-197, jul. 2009.). Ampliam os laços para além da família, orientando jovens que estão em um momento de fragilidade e vulnerabilidade próprias da idade, investindo na preservação da memória de seu grupo social, da mesma maneira que evitam a perda de seus papéis sociais e o antigo isolamento da esfera social à medida que envelhecem.

Assim, é possível entender que, antes mesmo da existência de projetos culturais e sociais, já existia a preocupação de lideranças comunitárias em passar adiante a tradição do samba. Bem mais do que isso, existia também a preocupação de cuidar para que no cotidiano os fundadores ou baluartes fossem reconhecidos por sua autoridade e prestígio social. Império Serrano (e Império do Futuro) e Estação Primeira de Mangueira (e Mangueira do Amanhã) são dois bons exemplos.

É um marco dessa história a favela da Serrinha, localizada em Madureira, de onde emerge em 1983 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mirim Império do Futuro, em referência à sua escola-mãe, Império Serrano. Passo aqui a me referir à escola-mãe como aquela escola de samba que acolhe e assume de maneira mais efetiva uma ligação com as escolas mirins que surgem nesse contexto. A escola mirim Império do Futuro, criada pela família Cardoso dos Santos, importante dentro do cenário imperiano, é a pioneira enquanto projeto (LINO, 2001LINO, Valdemir dos Santos. Futurarte: causas que levam adolescentes a negar sua cultura e buscar o tráfico de drogas como forma de vida. 2001. Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na Disciplina Projeto de Monografia, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2001.; 2002). Nos anos 1990, essa mesma Serrinha viu nascer o Centro Cultural Jongo da Serrinha (CCJS). Iniciado pelo Mestre Darcy do Jongo, o projeto passou a ser executado por vários de seus parentes, músicos e pesquisadores profissionais parceiros, que não pertenciam ao mesmo grupo que havia fundado a escola de samba mirim. Tanto no Império do Futuro quanto no CCJS, localizados no mesmo território, havia claramente um projeto social a ser desenvolvido, como aponta Ribeiro (2009_____. Novas conexões, velhos associativismos: projetos sociais em escolas de samba mirins. 200 f. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva). Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.; 2016). No CCJS, havia espaços que funcionavam como escola e como creche para os moradores e ainda como escolas de dança e de percussão. No G. R. C E. S. M. Império do Futuro, aulas de percussão e adereços eram possíveis graças a projetos de capacitação profissional. Em ambas as iniciativas, laços comunitários foram restabelecidos, outros foram criados, e hoje, com a existência da Casa do Jongo5 5 Casa do Jongo: sede do Jongo da Serrinha. Casa cedida por decreto da prefeitura de Eduardo Paes em 2013 que garante por 12 anos a utilização de uma casa no Morro da Serrinha, em Madureira, para o Centro Cultural Jongo da Serrinha. , esses movimentos ficam mais evidentes.

No momento em que este texto é escrito, tanto o Império do Futuro permanece em atividade, produzindo seu desfile com as crianças do Morro da Serrinha, como a Casa do Jongo retoma suas atividades, acolhendo crianças e jovens em seu espaço. Em ambos os casos, os desafios são muitos: desde a diminuição de verbas e projetos demandados do governo municipal até o enfrentamento da violência urbana. Nesse sentido, pensar a tradição, as relações intergeracionais e o engajamento cultural nesses espaços continua a ser uma constante para se realizar um trabalho bem-sucedido com a juventude local.

É relevante citar um outro caso. Desde a criação da Vila Olímpica da Mangueira, em 1984, e o início da parceria dessa escola de samba com diversas empresas, a existência de projetos culturais e esportivos nas escolas de samba tornou-se afinal uma realidade. Como isso ocorreu?

A tradicional escola de samba da Mangueira, do grupo mais importante do desfile de carnaval, havia iniciado seus projetos um pouco mais tarde, em 1985, mas, ao final da década de 1990, já tinha parcerias invejáveis e atendia várias turmas de jovens e adultos ao longo do mês, sempre com uma ampla variedade de cursos. Conseguiu, ainda naquele período, construir uma vila olímpica que funcionava e competia profissionalmente, com parcerias com a Xerox do Brasil, as Organizações Globo e a Petrobras. A escola de samba da Mangueira se institucionalizou, virou empresa parceira e cidadã nos moldes da responsabilidade social então emergente. Por fim, a Mangueira se tornou um paradigma para tantas outras escolas de samba, como aponta Gonçalves (2003GONÇALVES, Maria Alice Rezende. A vila olímpica da verde e rosa. Rio de Janeiro: FGV, 2003.).

Nos projetos desenvolvidos dentro das escolas de samba mirins, uma das questões que mais nos chamam atenção é a ênfase na tradição, no passado e na história com base na cultura oral e na transmissão do conhecimento de geração a geração, ou seja, por meio da socialização. Isso abre a possibilidade de haver a capacitação profissional simultaneamente ao estabelecimento do respeito às regras da organização, assim como o respeito mútuo entre pessoas de diferentes idades.

Escolas de samba como empresas, escolas de samba mirins como projetos sociais: essas relações passam a se dar a partir desse processo de redemocratização e de reorganização dos movimentos sociais vicinais. É nesse contexto de novos movimentos sociais e associativismos revistados que se agregam líderes comunitários e do carnaval carioca em torno da criação da Associação de Escolas de Samba Mirins, a AESM-Rio.

Aqui fazemos uma observação: ao trazermos exemplos do Morro da Serrinha, em Madureira/Vaz Lobo (Império Serrano, Jongo da Serrinha e hoje Casa do Jongo), e do Morro da Mangueira, podemos também refletir sobre a importância da AESM-Rio e das próprias relações entre as escolas-mães e escolas mirins. Se há uma ênfase nas relações vicinais (pensando o contexto comunitário) e nas relações intergeracionais (pensando internamente a organização de tais escolas mirins), as relações entre escolas-mães e escolas mirins são diferentes. Enquanto a Mangueira do Amanhã nasce e é gerida em estreito diálogo com a Estação Primeira de Mangueira, o mesmo não ocorre necessariamente com o Império do Futuro/Império Serrano, sendo a aproximação negociada gestão a gestão, e com o Império do Futuro funcionando de forma mais independente na gestão da escola mirim e na busca por recursos, por exemplo.

Esses modelos distintos de gestão e de relações entre escolas-mães e escolas mirins se repetem em outras agremiações. Geralmente escolas maiores e mais consolidadas (não em termos de tradição, mas de recursos) atuam de forma mais efetiva ao longo do ano com suas crianças e jovens em projetos continuados, como é o caso da Pimpolhos da Grande Rio, escola mirim localizada em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, cuja escola-mãe é a Grande Rio. Ou mesmo o caso da Aprendizes do Salgueiro, que funciona nas dependências da sua escola-mãe, o Salgueiro.

A relevância das associações: o caso da AESM-Rio

Ao longo da pesquisa, percebi que seria mais interessante a perspectiva de acompanhar as atividades desenvolvidas pela AESM-Rio, que era atraente porque reunia todas as escolas de samba do Rio de Janeiro e possibilitava o acompanhamento dos projetos negociados e gerenciados pela associação, sem que necessariamente eu precisasse me deslocar entre as escolas de samba mirins e suas quadras, localizadas em toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Também era atraente por possibilitar a observação de uma associação em sua dinâmica, que reúne escolas mirins de diferentes tipos: com maior apoio das escolas-mães, com menor apoio das escolas-mães, surgidas de projetos sociais em determinados territórios e sem ligação com outras escolas de samba, ou surgidas dentro da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Então, em vez de mergulhar em uma escola de samba mirim e suas redes de sociabilidade e perceber os conflitos internos e as negociações que ela precisa fazer para construir seu desfile composto apenas de crianças e adolescentes (o que também teria sido rico como trabalho etnográfico), acompanhar a AESM-Rio proporcionava uma visão mais ampla: 1) das políticas sociais e projetos de responsabilidade social com foco na juventude; 2) da dinâmica de negociação com o governo municipal; e 3) do diálogo com as escolas de samba mirins localizadas no subúrbio. Como regra, cada escola, naquele momento, precisava desfilar com um número de mil a mil e quinhentos componentes, de 6 a 18 anos, obrigatoriamente matriculados em escolas, tanto da rede pública quanto privada. Estar na escola era um pré-requisito para fazer parte do desfile, assim como dos projetos, que atendiam, ao longo do ano, um número significativamente menor de crianças e jovens em suas quadras. Ou seja, havia um conjunto menor de crianças e jovens atendidos pelos projetos financiados pela Prefeitura do Rio de Janeiro (e parceiros, em outros casos) e um grupo maior de crianças e jovens que desfilavam efetivamente no carnaval.

Os entrevistados com quem estabeleci interlocução demonstravam um profundo comprometimento com as crianças e jovens das suas comunidades. Os presidentes e diretores das escolas de samba mirins mantinham uma próxima relação de vizinhança com os componentes das escolas. Tinham crescido com os pais ou avós daqueles jovens que estavam sob sua responsabilidade. Levavam seus filhos e netos para a escola de samba mirim. O então presidente da escola de samba mirim Nova Geração do Estácio de Sá tinha uma filha porta-bandeira. A família de Dona Neuma6 6 Neuma Gonçalves da Silva (1922-2000) foi uma personalidade do carnaval ligada à Estação Primeira de Mangueira. Era filha de Saturnino Gonçalves, um dos fundadores da escola. , da Mangueira, estava dividida entre a participação na escola de samba mãe e na escola de samba mirim. Jorge Torresmo, da Infantes do Lins, levava seus filhos para as festas, enquanto outras pessoas começaram a participar das escolas de samba mirins apenas para tomar conta de seus parentes.

Quando o foco desses projetos sociais é o desenvolvimento comunitário, como é o caso das escolas de samba mirins, muitas vezes a articulação com a escola é realizada por agentes locais, pessoas que cresceram nas vizinhanças, que conhecem e são amigos dos pais daqueles jovens inseridos no projeto, e que, ao longo do trabalho, acabam por se comprometer mais com a escola e a vizinhança, além de buscar alguma capacitação profissional.

Essa perspectiva simultaneamente familiar e vicinal, trazendo a dimensão do público e do privado nas relações, funciona naqueles espaços e, segundo os entrevistados, complementa a formação dos seus jovens. Quantas e quais são as escolas de samba mirins que estamos apresentando e como são caracterizadas?

Entre os anos 2000 e o carnaval de 2017, o número de escolas de samba mirins flutua. Temos hoje 16 escolas de samba mirins, e a maioria está ligada a uma escola-mãe (14), havendo maior concentração no grupo especial, que pode ter seu quadro alterado conforme os resultados apresentados no carnaval anualmente. Em 2017, são elas: Miúda do Cabuçu, Tijuquinha do Borel, Inocentes da Caprichosos, Golfinhos do Rio de Janeiro, Ainda Existem Crianças na Vila Kennedy, Império do Futuro, Corações Unidos do Ciep, Filhos da Águia, Pimpolhos da Grande Rio, Mangueira do Amanhã, Estrelinha da Mocidade, Aprendizes do Salgueiro, Petizes da Penha, Herdeiros da Vila, Nova Geração do Estácio de Sá, Infantes do Lins. A relação das escolas mirins com as escolas-mães dependerá das questões políticas internas das próprias escolas, dos recursos gerados e dos disponíveis para a confecção do carnaval, isto é, se as escolas-mães contribuem ou não para a confecção do carnaval das escolas mirins. As escolas de samba mirins não competem entre si e estão organizadas em duas associações, recebendo da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro uma ajuda de custo para que, de forma igualitária, consigam montar seus carnavais. A criação de um desfile para as escolas de samba mirins foi concomitante à necessidade de criação de uma liga ou associação que congregasse essas escolas centralizadas em projetos sociais e desenvolvimento local. Como apontei em outro artigo,

A escola Império do Futuro, fundada em 1983, foi a pioneira das escolas mirins, e outras a seguiram, porém não tiveram continuidade imediata. Alegria da Passarela, fundada pela Escola de Samba do Salgueiro também em 1983, e Império das Princesas Negras (ligada à Escola de Samba Lins Imperial), fundada em 1984, não tiveram a mesma visibilidade que a primeira. Alegria da Passarela, de onde saiu o compositor Dudu Nobre e sua irmã, a porta-bandeira Lucinha Nobre, não teve uma continuidade nos desfiles organizados anualmente. Império das Princesas Negras, por sua vez, fez um único desfile em dezembro de 1984, portanto fora do carnaval. (RIBEIRO, 2016_____. Tem criança no samba... ou as três décadas do GRCESM Império do Futuro. In: SANTOS, Myrian Sepúlveda (Org.). Nos quintais do samba da grande Madureira. Memória, história e imagens de ontem e hoje. São Paulo: Editora Olhares, 2016., p. 75-76).

Mangueira do Amanhã, escola mirim da Estação Primeira de Mangueira, é fundada em 1987, oriunda da vila olímpica em funcionamento desde 1984. Foi fundada também com o objetivo de comportar mais crianças que as atendidas na ala específica para elas. A cada ano, a ala das crianças só poderia integrar de 50 a 100 meninos e meninas, e a fundação da escola de samba mirim, integrada com as atividades do colégio e da vila olímpica, resolveria em grande parte o problema das crianças da Mangueira. Perguntada sobre qual papel sua mãe, Dona Neuma, teve na comunidade e na vizinhança, Chininha respondeu:

Minha mãe teve um papel muito importante. Ela era uma espécie de assistente social na comunidade. Ela tomava conta dos filhos das pessoas que iam trabalhar, ela ajudava a alfabetizar... Então ela teve um trabalho muito importante porque ela sempre tinha uma palavra de carinho pra todas as pessoas que a procuravam, que precisavam de ajuda, ela dentro das condições dela ela sempre procurou ajudar. Tanto é que ela, por exemplo, tinha vergonha de pedir a qualquer político alguma coisa pra mim e pra minhas irmãs, mas se qualquer vizinho chegasse com um problema que dependesse de um político pra resolver ela pedia na maior. Pra nós ela tinha certo recato, mas quando outras pessoas necessitavam desse tipo de ajuda ela não titubeava, ela ia imediatamente, telefonava, se identificava “olha, aqui é a Neuma da Mangueira, eu preciso falar a respeito de uma pessoa que precisa disso, daquilo...” E ela ia, na maior boa vontade. Mas pra nós não, ela não pedia nada não. Isso foi uma coisa muito importante na vida dela aqui em Mangueira7 7 Entrevista concedida à autora em 2007. .

Essa fala é importante na medida em que explicita, na fundação das escolas mirins, algo que acontecia também nas escolas-mães: para o desenvolvimento das atividades que seriam realizadas durante todo o ano e não se restringiriam apenas ao carnaval, as relações com políticos e pessoas-chaves em cargos do governo eram fundamentais. Se antes, para conseguir um emprego para a, b ou c, a influência e as relações políticas eram utilizadas, agora, com a fundação das escolas mirins, que funcionavam com relativa autonomia e tinham como principal objetivo manter as crianças e jovens ocupados no período pré-carnaval, além de orientar para a profissionalização, esses contatos e uma maior institucionalização dessas relações se faziam necessários.

Segundo Helcy, conhecida como Dona Cissi8 8 Em entrevista concedida à autora em 2007. , também filha de Dona Neuma e ligada à escola de samba Mangueira do Amanhã, foi graças à criação da escola de samba mirim (e da vila olímpica) que crianças e jovens voltaram a estudar.

Após a fundação do Império do Futuro e da Mangueira do Amanhã, principalmente, houve a criação de escolas de samba mirins que tinham o mesmo objetivo: revelar talentos que pudessem ser absorvidos pela escola-mãe e inseri-los no mercado da música e da dança do Rio de Janeiro, assim como capacitar esses mesmos jovens para o trabalho de montagem e construção que o carnaval exigia: alegorias, adereços, fantasias e carros exigiam mão de obra, e nada melhor que unir a importância da cultura do carnaval carioca à inserção no mercado de trabalho.

O crescimento das escolas de samba mirins se dá gradualmente. Em 1988, a Herdeiros da Vila (ligada à escola Vila Isabel) é fundada e, no ano seguinte, a Alegria da Passarela é renomeada para Aprendizes do Salgueiro, por iniciativa e verba de Miro Garcia, patrono da escola. Em 1991, o Império das Princesas Negras volta a desfilar, agora com o nome de Infantes do Lins (Lins Imperial), porém só manterá sua presença constante no carnaval das mirins a partir de 1998. Também em 1991, a Ainda Existem Crianças na Vila Kennedy é fundada, seguida pela escola Estrelinhas da Mocidade, da Mocidade Independente de Padre Miguel, cuja primeira presidente será Beth de Andrade, nora do patrono da escola, Castor de Andrade. Miúda do Cabuçu e Golfinhos da Guanabara são algumas das últimas a serem criadas, ainda na década de 1990, com o objetivo de trabalhar com as vizinhanças onde as escolas estavam organizadas.

Como as escolas mirins se organizavam e organizavam seus desfiles? E como mantinham seus projetos sociais? Naquele momento, década de 1990, as escolas que não tinham patronos para apoiar seus desfiles ou manter os projetos sociais acabavam buscando iniciativas externas. A década de 1990 foi um período de fortalecimento do terceiro setor, que, auxiliado pela estabilidade da nossa moeda e a valorização do dólar frente a ela, manteve vários projetos ativos com recursos internacionais. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiava as atividades do Império do Futuro. Golfinhos da Guanabara e Herdeiros da Vila, por exemplo, tinham recursos do programa Comunidade Solidária, iniciativa da primeira-dama Ruth Cardoso9 9 Ruth Cardoso, antropóloga e professora universitária, foi primeira-dama do país de 1995 a 2003, durante os mandatos do seu marido, o presidente da república Fernando Henrique Cardoso. .

As festas nas quadras e as viagens de seus músicos, entre outros movimentos, auxiliavam em grande parte a manutenção das escolas. Até 2002, seus desfiles eram organizados pela Liga Independente das Escolas Mirins, que, segundo os entrevistados, para efeito prático, não beneficiava as escolas como um todo e orientava que elas deveriam ser encaradas como projetos sociais nos moldes da Mangueira. Mesmo com todo o apoio conseguido, para essas escolas era difícil atender a um número grande de crianças e adolescentes, já que poucas tinham a estrutura que a Mangueira conseguira organizar. A Mangueira tinha virado um paradigma no atendimento àquele jovem, morador das áreas mais precárias da cidade.

Não nos surpreende, portanto, que a institucionalização das parcerias com o poder público e o privado se tenha iniciado com escolas de samba como Império Serrano e Mangueira, justamente as que não tinham patronos para manter e garantir seus carnavais.

No caso das escolas mães, assim como a necessidade de apresentar bons carnavais e ganhar campeonatos, a busca por parceiros e carnavais patrocinados se faz presente, mas com outra perspectiva. Enquanto as escolas mirins necessitam de parceiros para sua manutenção e a manutenção dos projetos desenvolvidos nas suas vizinhanças pois não contam sempre com o auxílio das escolas mães, estas precisam de auxílio financeiro para montar seus carnavais, cada vez mais ricos e caros, dada a competição entre elas. É da necessidade de se ampliar o quadro de crianças e jovens atendidos individualmente por cada escola e da necessidade de se pensar na juventude carioca como um todo, não privilegiando este ou aquele bairro, que surge a proposta da Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (AESM-Rio).

A AESM-Rio, nesse sentido, será fundada como um projeto social que agregue as escolas do Rio de Janeiro e dê condições de igualdade para todas na construção do seu carnaval e na implantação dos seus projetos. Ela é fundada também a partir do rompimento com a antiga Liga das Escolas Mirins e passa, a partir de 2002, a contar com outras escolas e colaboradores.

Foram doze escolas de samba mirins fundadas de 1983 a 2001. Em 2001, com desfile previsto para 2002, a Filhos da Águia, da Portela, é fundada. Com a criação da AESM-Rio em 2002, mais seis escolas de samba mirins surgem, atingindo, com seus projetos sociais, as seguintes localidades: Tijuca, Complexo do Alemão e Estácio, além dos municípios de Duque de Caxias e Niterói, adjacentes ao município do Rio. E o Projeto Mel, iniciativa da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer que atende todo o município do Rio de Janeiro, vira escola de samba mirim em 2003, mas em 2017 já não desfila mais.

A AESM-Rio foi fundada em 2002 pelo professor Sérgio Murilo, então presidente da escola mirim Golfinhos da Guanabara e primeiro presidente da AESM-Rio. Essas escolas de samba foram pensadas em torno da associação como possíveis projetos (ou parceiras de projetos) de educação social que atenderiam a jovens de 14 a 21 anos em diversos ofícios relacionados ao carnaval10 10 Fundadoras da AESM-Rio: Mangueira do Amanhã, Golfinhos da Guanabara, Herdeiros da Vila, Aprendizes do Salgueiro, Petizes da Penha, Miúda do Cabuçu, Corações Unidos do Ciep. .

Desde o início, a proposta de uma associação das escolas mirins se deu de maneira diferenciada. Seu funcionamento, assim como o das escolas mães, é contínuo. Seu tempo se divide entre a manutenção dos projetos sociais conseguidos durante o ano e a construção do seu carnaval. O carnaval está ligado de forma irremediável aos projetos sociais, já que eles privilegiam a própria montagem do carnaval, principalmente as oficinas de costura, adereço e montagem de carros alegóricos ministradas para os componentes mais velhos das escolas mirins.

É notável a predominância das relações intergeracionais: cada ala, cada setor tem um padrinho ou madrinha, que pode participar doando fantasias, comidas para as festas das escolas, ou organizando passeios etc. E, durante os desfiles, cada dez crianças são assistidas por um adulto (geralmente pais e familiares das crianças e integrantes das escolas mães) que se responsabiliza por elas, cuidando da estrutura e do andamento do desfile.

Para a montagem do carnaval e a realização dos desfiles, estas escolas trabalham com doação de fantasias e reciclagem de material. Uma das regras é que as fantasias das crianças não podem ser vendidas; e é por uma questão de logística, já que muitas das escolas não têm condições de manter um carnaval para mais de mil crianças. Mesmo com a subvenção que recebem, os materiais são reaproveitados de ano para ano. Há trocas dentro das escolas mirins e com as escolas mães, as suas próprias e as outras. Aplica-se o mesmo procedimento às estruturas metálicas utilizadas na construção de carros alegóricos e aos instrumentos musicais. É positiva a reciclagem deste material, pois ensina às crianças sobre a necessidade de se preservar o meio ambiente.

Outro ponto positivo é o fato de trabalharem com a lógica comunitária, abrindo vagas nos desfiles para bairros que não têm escolas de samba mirins, estimulando a convivência com outras vizinhanças e o diálogo com outros moradores da cidade. A convivência comunitária se dá assim em um espaço seguro, o da quadra da escola, fortalecendo a sociabilidade entre os moradores do bairro e com os de outros bairros.

Durante o tempo da pesquisa, as escolas mirins desfilavam abrindo o carnaval, na sexta-feira; hoje elas encerram, desfilando na terça-feira. Entre elas não haveria competição - ou seja, uma ganhadora - a partir do julgamento dos quesitos essenciais para um desfile de escolas de samba. Todas as escolas mirins seriam assim privilegiadas no conjunto de suas atividades, sendo premiadas em suas melhores alas, dando a oportunidade para que todas as crianças e adolescentes envolvidos sejam, de alguma maneira, premiados.

Tabela 1
Cronologia das escolas de samba mirins (anos 1960-2006, ano em que as últimas escolas foram fundadas). Fonte: elaboração da Autora11 11 Tabela desenvolvida a partir de entrevistas, de artigos da mídia e do Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro (Iphan/MINC, 2007). Ressalto que as escolas mirins que aparecem no artigo foram fundadas até 2006.

Apoiadas inicialmente pelo projeto Célula Cultural, nos anos 2000 as escolas mirins chegaram a ter 12 núcleos de capacitação de jovens, atendendo quase 2.000 pessoas em diversos bairros do Rio de Janeiro.

Dessa forma criou-se a seguinte rede: escolas-mães financiam as escolas mirins de acordo com suas possibilidades, mas o básico do desfile seria garantido por uma subvenção da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro - Riotur. Cada escola mantém seus projetos sociais de acordo com sua articulação política e capacidade de obtenção de recursos, pois, a partir daquele momento, elas são pensadas como empresas e conseguem recursos para seus projetos na rubrica de responsabilidade social empresarial.

No desenvolvimento dos projetos, priorizam-se a transmissão da cultura carioca e a manutenção do carnaval, com a criação de diversas oficinas que abordam desde adereços e fantasias até dança e percussão, ensinando aos jovens a arte de ser porta-bandeira ou mestre-sala, ou de tocar na bateria da escola, permitindo que comecem bem cedo a se sentir parte do carnaval e de sua escola de samba. Nesse sentido, a criação da AESM-Rio é fundamental pois organizou a profissionalização dos componentes da escola de samba mirim, criando outras perspectivas de emprego, gerando renda para diversas famílias que vivem do carnaval e estimulando o retorno dos componentes aos bancos escolares, já que não há possibilidade de desfile sem a matrícula escolar.

Além da estrutura institucional e dos discursos e práticas sobre políticas sociais instituídos nas escolas de samba, passamos a acompanhar os atores desses projetos: diretores e responsáveis por alas e presidentes das escolas mirins trabalham durante todo o ano na manutenção e preparação do carnaval, não se preocupando apenas com aspectos logísticos, turísticos ou comerciais, como muitos podem pensar.

Foi a partir das entrevistas e das observações participantes que acompanhamos os discursos e as práticas desses atores, suas relações com suas próprias famílias e como a preocupação com o outro e com os projetos desenvolvidos nas suas escolas de samba espelha em grande parte suas próprias preocupações familiares, trajetórias e envolvimentos com a comunidade. Foi também a partir das observações que conseguimos dar conta, sempre em parte, do universo dessas pessoas: suas relações próximas e distantes com o tráfico local, discursos sobre intolerância religiosa e racismo, e a perspectiva sobre qual seria o papel da escola de samba hoje, sempre se modificando e ganhando outros contornos que não apenas o cultural. Na fala de um ex-presidente,

É está ali vendo o trabalho dar frutos, que se fosse uma coisa que não chamasse a atenção não teria público, nós fazemos nossas festas são sempre lotadas, sempre tem muita gente, e é aquilo, dentro de uma organização, dentro de um padrão que a criança acaba aprendendo também a se sociabilizar com as outras entendeu? Não tem aquela competição, é muito comum você ver um presidente de escola mirim tá arrumando a criança da outra, então isso sempre é, a gente consegue também passar pra criança essa ideia entendeu? De não ter concurso e todos se ajudarem12 12 Entrevista concedida à autora em 2007. .

Além da solidariedade e da própria socialização no samba carioca, outras concepções importantes aparecem, como a inserção na escola mãe e futura profissionalização - seja no carnaval, seja nas diversas oportunidades que surgem em forma de oficina - ou como a preocupação com a vizinhança e os vínculos criados entre as crianças.

Algumas conclusões

A história dessas associações tem mostrado que todas elas têm origem na esfera doméstica. São vizinhos, amigos e/ou parentes que se reuniram para entretenimento. Essas reuniões estreitavam relações e mobilizavam seus integrantes a realizar outras atividades sem nenhuma sistematização ou apoio externo. O cerne do trabalho social nelas desenvolvido foi a ação voluntária da parte de alguns integrantes, que posteriormente se estendeu em redes envolvendo estranhos. [...] O samba, neste contexto, é o que alimenta e fortalece o vínculo social neste tipo de associação (GONÇALVES, 2003GONÇALVES, Maria Alice Rezende. A vila olímpica da verde e rosa. Rio de Janeiro: FGV, 2003., p. 25-26).

A criação da AESM-Rio em 2002 veio a consolidar um modelo de gestão de recursos em escolas de samba: uma constante na parceria público-privado, de forma a auxiliar a capacitação política e as demandas dos jovens em suas vizinhanças.

Como, desde o início da sua história, as escolas de samba tinham como prática se organizarem em torno das suas vizinhanças, este aspecto é o que há de mais latente nas escolas mirins. As escolas-mães cresceram e estão abertas a qualquer pessoa que possa pagar para desfilar no carnaval. As escolas mirins não. Como os projetos sociais não têm capacidade para absorver crianças de toda a cidade, só atuam com as das vizinhanças onde se localizam ou cujas famílias mantêm alguma relação com as escolas. Como a ajuda de custo para o profissional que faz parte desses projetos é pequena, geralmente se utilizam voluntários e pessoas da própria escola mirim que conhecem seus integrantes.

Muitas escolas mirins absorvem o contingente discente de suas vizinhanças, estabelecendo maior parceria com as escolas da rede pública municipal e estadual, com troca de espaços de lazer para festas e oficinas, que podem funcionar dentro da própria escola onde a criança estuda caso não haja espaço hábil para desenvolver os projetos na quadra.

Se uma escola de samba hoje está voltada para perspectivas financeiras, empresariais e turísticas, a AESM-Rio já nasce com o objetivo de pensar políticas sociais locais para seus mais de 25 mil integrantes e sua adesão a comunidades locais. Essas políticas sociais são, na maior parte das vezes, apoiadas por empresas nacionais, estatais ou privadas, sob a rubrica de responsabilidade social, e devem se adaptar de alguma forma, mas não necessariamente, aos objetivos do milênio estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde - OMS. Como estamos falando de crianças e adolescentes, esses objetivos não são todos inseridos nos projetos - empoderamento da população feminina, capacitação para o trabalho, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, entre outras, são questões que, integradas, não apenas protegeriam a saúde da população local, como, ao melhorar as condições de vida na vizinhança, diminuiriam a vulnerabilidade juvenil.

Ao ser criada, a AESM-Rio fomenta o (re)encontro das vizinhanças com suas escolas de samba por meio da oferta de cursos existentes nesses espaços, sem privilegiar gênero, cor/raça, religião. Fomenta também que escolas de samba de diferentes vizinhanças dialoguem na busca por melhores projetos para suas crianças e adolescentes, trocando experiências e criando uma rede para a construção do carnaval das crianças. Em comum, essas escolas buscam o desenvolvimento das habilidades pessoais, principalmente as esportivas e culturais, que trazem para essas crianças e jovens noções de cidadania, liderança e construção de identidade, assim como disciplina, confiança, integração e sentimento de pertencimento.

O desenvolvimento dessas habilidades pessoais torna-se mais importante na medida em que há o envolvimento maior do jovem no fazer coletivo e o desenvolvimento do respeito por si próprio, pelos colegas e pelos mais velhos. Essas relações intergeracionais evidenciam o reforço da participação popular e da ação comunitária, já que alguns desses projetos têm-se iniciado dentro das comunidades e por uma demanda delas, sendo apenas institucionalizados no âmbito da AESM-Rio.

Dessa forma, as relações de confiança estabelecidas são construídas entre crianças/jovens e morador local/liderança comunitária, favorecendo as relações intergeracionais e vicinais, questões que, ao acompanharmos o carnaval carioca e os desfiles das escolas de samba mirins, percebemos ainda nos dias atuais.

REFERÊNCIAS

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  • 1
    Artigo desenvolvido a partir da tese de doutorado Novas conexões, velhos associativismos: projetos sociais em escolas de samba mirins (Instituto de Medicina Social/UERJ, 2009), em diálogo com o Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupevi/UERJ).
  • 2
    Nota metodológica: pesquisa qualitativa, privilegiei a observação participante, as entrevistas realizadas com um conjunto de interlocutores que naquele momento (e ainda hoje) estiveram engajados no fazer das escolas mirins. Este artigo, de caráter etnográfico, foi beneficiado desses diálogos. Durante o período que durou a pesquisa, acabei por fotografar os desfiles das escolas mirins e seus protagonistas - crianças e jovens. De 2010 até 2014 continuei a fotografar os desfiles e de muitas formas a acompanhar o campo, gerando uma pesquisa fotoetnográfica.
  • 3
    A Cidade do Samba Joãosinho Trinta foi fundada em 2006 no Santo Cristo, Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro, mas muda de nome em 2011 após decreto do então prefeito Eduardo Paes para homenagear o famoso carnavalesco. Cidade do Samba, como é conhecida, é a área destinada aos barracões das escolas de samba do grupo especial.
  • 4
    Crianças e adolescentes sempre participaram das escolas de samba, mas só é possível encontrar um olhar específico para a juventude a partir das décadas de 1970-1980, com a emergência de trabalhos sociais organizados por bicheiros e pelas próprias associações de moradores nas quais as escolas de samba estavam inseridas.
  • 5
    Casa do Jongo: sede do Jongo da Serrinha. Casa cedida por decreto da prefeitura de Eduardo Paes em 2013 que garante por 12 anos a utilização de uma casa no Morro da Serrinha, em Madureira, para o Centro Cultural Jongo da Serrinha.
  • 6
    Neuma Gonçalves da Silva (1922-2000) foi uma personalidade do carnaval ligada à Estação Primeira de Mangueira. Era filha de Saturnino Gonçalves, um dos fundadores da escola.
  • 7
    Entrevista concedida à autora em 2007.
  • 8
    Em entrevista concedida à autora em 2007.
  • 9
    Ruth Cardoso, antropóloga e professora universitária, foi primeira-dama do país de 1995 a 2003, durante os mandatos do seu marido, o presidente da república Fernando Henrique Cardoso.
  • 10
    Fundadoras da AESM-Rio: Mangueira do Amanhã, Golfinhos da Guanabara, Herdeiros da Vila, Aprendizes do Salgueiro, Petizes da Penha, Miúda do Cabuçu, Corações Unidos do Ciep.
  • 11
    Tabela desenvolvida a partir de entrevistas, de artigos da mídia e do Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro (Iphan/MINC, 2007). Ressalto que as escolas mirins que aparecem no artigo foram fundadas até 2006.
  • 12
    Entrevista concedida à autora em 2007.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2018

Histórico

  • Recebido
    06 Nov 2017
  • Aceito
    23 Jul 2018
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