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Resiliência em tempos incertos: Jornadas durante a Pandemia

RYAN, J. M.. COVID-19: Surviving a Pandemic. 1. ed.Routledge: 2023

Este livro, publicado pela renomada Editora Routledge, é um representante de uma série que tematizou os efeitos sociais da covid-19. Em termos gerais, o objetivo dessa série não foi modesto, pois foi justamente aglutinar “um canal para a produção acadêmica de ponta em ciências sociais que está surgindo em torno da pandemia” (Ryan, 2023RYAN, J. M., & NANDA, S. Vaccines: Are We Really All in This Together? In COVID-19: Surviving a Pandemic. Routledge. 2023.). Dessa forma, “Sobrevivendo a uma Pandemia - Surviving a Pandemic”, organizado por Michael J. Ryan2 2 É professor associado de sociologia na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão. Ele já ocupou cargos acadêmicos em Portugal, Egito, Equador e Estados Unidos da América. Além disso, também é o editor fundador da série "The COVID-19 Pandemic" da Routledge. , respeitou essa vontade e explorou contribuições de como pessoas em todo o mundo empregaram estratégias para lidar com a crise promovida pela doença. Há na obra um olhar atento para as consequências e contradições da pandemia do coronavírus, bem como para as maneiras pelas quais políticas públicas podem ser melhoradas para atender demandas da sociedade, sendo tal perspectiva bem representativa de uma antropologia/sociologia médica norte-americana marcada pelo intervencionismo em saúde.

Tendo isso em consideração, as reflexões críticas apresentadas na maioria dos capítulos excedem teorias e conceitos, fornecendo insights sobre as razões pelas quais intervenções em saúde pública têm sucesso ou falham: são discutidos temas como a lacuna entre o que é planejado e o que é realizado na prática, bem como as consequências não intencionais que podem resultar dessas práticas (Stellmach, 2018STELLMACH, D., Beshar, I., Bedford, J., et al. Anthropology in public health emergencies: what is anthropology good for? BMJ Global Health, e000534. 2018.). Por outro lado , há uma percepção de que cientistas sociais desempenham um papel importante no mundo atual, maior do que o crédito que nos foi dado até agora (Corsi e Ryan, 2023RYAN, J. M., & NANDA, S. Vaccines: Are We Really All in This Together? In COVID-19: Surviving a Pandemic. Routledge. 2023.).

Apesar do título, Ryan articulou que a maioria dos trabalhos apresentados no livro foi implicitamente fundamentada a partir do conceito de Sindemia, do renomado antropólogo norte-americano Merril Singer3. Cerca de quinze anos atrás, Singer (2009SINGER, M. Introduction to Syndemics: a Critical Systems Approach to Public and Community Health (1st ed.). San Francisco (CA): Jossey-Bass. 2009.) publicou uma abordagem inovadora para se pensar a saúde pública, na qual, em termos metodológicos, a investigação ao processo de saúde e doença não deveria começar com a parte ou com o segregado (uma doença ou uma condição social), mas sim com o todo, incluindo a completa gama de problemas de saúde e sociais sofridos individualmente ou por uma comunidade. Aqui, caberia ao profissional de saúde pública, assim como ao cientista social, produzir uma avaliação da natureza das interconexões entres as partes, criando assim uma complexa rede de problemas de saúde e sociais intrinsecamente entrelaçados. Nessa premissa, poderíamos perceber como exemplo que sofrer sintomas mais severos da covid-19 pode ser interseccionalmente relacionada com outros problemas de saúde e sociais, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares, assim como propriamente marcadores aos quais estamos acostumados, tais como classe e raça. A sugestão, feita por Singer, abre margens para se pensar que políticas públicas de saúde não devem tratar a causa do adoecimento essencialmente, mas, sim, todo o contexto relacional imbricado no adoecimento, redimensionando a responsabilidade de pesquisas e políticas.

Cabe reforçar que grande parte4 4 Como exceção a essa problemática, haveria alguns artigos que se aproximam da psicologia social. Apesar de reconhecermos a importância dos tópicos levantados, uma parcela significativa dos autores não explorou profundamente teorias comportamentais e acabou se limitando a uma mera descrição, o que impactou na análise e interpretação dos dados qualitativos adquiridos. dos artigos apresentou propostas extremamente inovadoras para se pensar uma agenda em ciências sociais. Isso incluiu a teorização do sociólogo britânico Turner (2023) do que poderia se chamar de uma “sociologia da catástrofe”. Ciente da necessidade sociológica de distinção entre catástrofe e desastre, seu argumento é que vivemos em tempos catastróficos e não desastrosos, afinal a catástrofe trata de um evento ou uma série dos quais não há uma recuperação clara, pois envolve uma transformação total da sociedade, trazendo à tona a existência de uma sociedade ou mundo diferente (Turner, 2023). Por seu ponto de vista, certos eventos formulam novas configurações sociais em que não se há uma recuperação completa, como um exemplo, as bombas de Hiroshima e Nagasaki, que deram um fim direto à sociedade japonesa tradicional5 5 Um exemplo disso pode ser visto na própria literatura do país. Uma manifestação icônica do fim da sociedade japonesa pode ser encontrada no dramaturgo e escritor Yukio Mishima, que percebeu a influência ocidental no país a partir da erosão dos valores tradicionais, incluindo estruturas sociais hierárquicas, disciplina e honra, tão característicos da sociedade japonesa, como também atestado na obra de Ruth Benedict. Tamanho foi o descontento de Mishima com tal situação, que ele tentou um golpe de estado em 1970, tentando restaurar o império japonês, o que culminou no seu suicídio ritual, a partir do seppukku (coincidindo com o capítulo final de uma de suas obras). . Em suma, a categorização de um desfecho catastrófico pode ser interpretada como um fenômeno total que vai perturbar instituições e a vida social, dando um fim aos valores que orientam determinada sociedade ou aos padrões de vida circulantes, o que é o certeiro caso da covid-19.

Apesar de não haver uma explícita organização do livro em blocos teóricos ou temáticos6 6 Infelizmente, isso acaba por impactar um pouco a coerência do livro, pois não há uma transição clara entre capítulos: em determinado momento é possível você estar lendo um capítulo etnográfico para depois se deparar com um artigo situado na psicologia social. Isso também dificulta que possíveis leitores que têm interesses em partes específicas do livro encontrem os respectivos conteúdos. , poderíamos articular a existência de três grandes eixos que direcionaram a maioria absoluta das investigações: i) emoções, luto ou psicologia social; ii) marcadores sociais da diferença (principalmente raça, classe e gênero); iii) desigualdades econômicas e sociais. No entanto, mesmo com essa forma de classificação, é imprescindível salientar que houve alíneas que preencheram dois ou mais desses critérios.

Referente ao primeiro eixo, houve uma série de artigos que exploraram desde relatos autoetnográficos até entrevistas e participação em grupos afetados pela doença. Uma contribuição relacionada a essa perspectiva foi o texto de Najmah (et al., 2023NAJMAH, Kusnan et al. Disclosing One's HIV Status During Indonesia's COVID-19 Pandemic: Challenges Faced by Mothers. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition) Routledge. 2023.) que investigou a experiência de mulheres portadoras de HIV na Indonésia durante a pandemia. O recorte consistiu em um grupo composto por vinte mulheres que se encontravam em diferentes estágios da maternidade: algumas estavam grávidas, outras já haviam passado pela experiência da gravidez e outras tinham dado à luz a um filho com HIV durante o primeiro ano da pandemia. Usando uma série de abordagens qualitativas, tais como entrevistas virtuais, diários de interlocutoras e etnografia, a complexa pesquisa apontou inúmeros desafios para o acesso dessas pessoas à saúde. Os autores demonstraram como hospitais priorizaram incessantemente pacientes com covid-19 e, desse modo, foi possível dizer abertamente que ser portador de HIV poderia significar que alguém fosse recusado no hospital sem receber o devido tratamento. Narraram-se, nesse sentido, os casos dramáticos de algumas mulheres vivendo com HIV que deram à luz em hospitais sem divulgar seu status; elas sabiam que isso colocaria a si mesmas, a seus bebês e equipe médica em risco, mas não viam outra opção (Najmah et al., 2023). Tão grave era a situação vivenciada, que uma das principais interlocutoras, Oneng, faleceu por complicações do HIV (possivelmente também relacionadas à covid-19) em junho de 20217 7 Essa situação impactante dizia muito sobre como este grupo foi negligenciado por políticas públicas durante a pandemia: os pesquisadores não conseguiram dizer exatamente a causa morte da principal interlocutora da pesquisa, apesar de um deles ter conseguido ir visitar pessoalmente a família após o funeral. .

Outra investigação marcante relativa ao primeiro eixo se tratou das políticas da morte e do luto do famoso cemitério público Hart Island, em uma ilha relativamente próxima ao Bronx, em Nova York. Operando em uma dicotomia de análises entre historicidades e sociabilidades que o cemitério aglutinou ao longo de sua trajetória, Bray (2023BRAY, R. S. Carceral Archipelago and Gulag of Grief: Hart Island. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023.) discutiu como o local se tornou um arquipélago carcerário, assim como um gulag do luto durante a pandemia. Historicamente, percebeu-se que o cemitério transcreveu uma ampla tensão entre cuidado e confinamento, devido ao fato de que a ilha esteve sob gestão e controle de um sistema carcerário, no qual prisioneiros ao longo de décadas enterraram milhares de mortos, uma prática descrita como parte de um padrão social mais profundo de ocultação daquilo que é socialmente indesejável (Hunt, 1998HUNT, Melinda. The Nature of Hart Island. In M. Hunt & J. Sternfeld (Eds.), Hart Island (pp. 1-20). Berlin: Scalo. 1998.; Bray, 2023). Por outro lado, conforme a covid-19 se alastrou por Nova York, o cemitério ganhou um protagonismo global, pois imagens de sepultamentos capturadas por drones foram divulgadas pela mídia, representando a escala horrível e irreconciliável da morte em massa causada pelo coronavírus no epicentro da pandemia nos Estados Unidos. Há um olhar extremamente peculiar e criativo para como uma doença conseguiu diminuir a distância entre os mortos e os vivos, ao mesmo tempo em que obliterou o legado controverso de um cemitério no qual prisioneiros foram, ao longo de décadas, coercivamente incumbidos da tarefa de sepultamento.

Marcadores sociais da diferença também são um importante ponto de reflexão de parcela significativa dos trabalhos que compõem a coletânea e, por isso, se tornam um importante eixo de direcionamento para o livro. É o caso da investigação de Khan (2023aKHAN, N. The Delta Variant, Child Mortality, and the New Racism. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023a.), que argumentou como a pandemia em conjunção com fatores estruturalmente reificados fez com que crianças indígenas, negras e latinas fossem objetos de um novo tipo de eugenia. Partindo do conceito de eugenia pandêmica, que se distingue historicamente de outros projetos de natureza racial, marcados por terminologias ou retóricas explicitamente racistas, Khan descreve um novo tipo de modelo que se utilizou também do Estado e da ciência como mecanismos para alcançar objetivos de um capitalismo racial que negligencia certas populações e favorece outras. Tal conceito tenta explicar a gravidade das estatísticas, que apontam no total que crianças de cor representam 70% das mortes infantis relacionadas à covid-19 nos Estados Unidos, mais uma vez muito acima de sua representação na população infantil. A explicação ocorreria na intersecção de raça e classe, demonstrando a disparidade em termos de doença e mortalidade na infância (Khan, 2022b).

Em outra perspectiva, autoras como DeWees e Miller (2023) criativamente analisaram a cobertura de mídias digitais norte-americanas em relação a perturbações menstruais durante a covid-19 (principalmente relacionadas ao uso de vacinas). O estudo quantitativo problematizou uma grande visão androcêntrica no país que obscureceu, estigmatizou e limitou a autonomia feminina. Partindo de uma visão foucaultiana e de economia política feminista, foi construída a argumentação de que nem todos os corpos e comportamentos são sujeitos aos mesmos níveis de controle e disciplina. Isso seria parcialmente reproduzido na mídia hegemônica norte-americana durante a crise, reificando uma série de pressuposições estereotipadas sobre o que as mulheres fazem ou deveriam fazer, sugerindo que as principais preocupações de saúde para todas as mulheres durante a covid-19 eram a fertilidade e a reprodução (DeWees e Miller, 2023). Por esse ponto de vista, as pesquisadoras denunciam como o aparato midiático se tornou um elemento significativo para refletir um viés masculino de percepção de gênero.

Para concluir, o eixo final aglutinou trabalhos que tematizam a experiência de desigualdades vividas por populações ou etnias a partir da covid-19. Grande parte deles se apoia em comparações como estratégia de análise de pesquisa, incluindo dados históricos, demográficos, diferentes contextos. Um caso interessante referente ao exposto anteriormente tratou da produção de um panorama entre a insegurança alimentar nos Estados Unidos durante a crise de 2008 e a pandemia. As pesquisadoras Mook e Swanson (2023MOOK, A., & SWANSON, E. Food Insecurity in the United States of America: A Comparison Between the Great Recession and the COVID-19 Pandemic. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023.), apoiando-se de uma série de fontes de dados8 8 Um aspecto bastante rico da abordagem das pesquisadoras foi a comparação e intersecção de uma série de fontes de dados providos por diferentes agências do governo federal norte-americano (como o Federal Bureau of Statistics), que incluiu: i) preços de comida durante as crises; ii) desemprego no pico das crises; iii) Seguro-desemprego e Licença Remunerada do Empregado; iv) Programa de Assistência Nutricional Suplementar (PAN); e v) Bancos de Alimentos e o Programa Caixa de Alimentos dos Agricultores para as Famílias. Esse esforço proveu uma análise mais confiável para interpretações de possíveis efeitos causados pelo vírus. , concluem que a pandemia, distinguindo-se abruptamente da grande recessão de 2008 (que afetou principalmente carreiras dominadas por homens, como a construção civil), atingiu sobretudo profissões predominantemente femininas, como aquelas nos setores de lazer e educação. Sob uma ótica diferente, autores como Ryan e Nanda (2022) produziram um panorama sobre a vacinação mundial, problematizando como a maior campanha de vacinação da história foi feita de forma antiética devido a uma distribuição desigual de recursos farmacêuticos. A grande contribuição foi a reflexão sociológica de que a pressa exacerbada, conduzida por potências mundiais, assim como conglomerados farmacêuticos, estiveram menos ligados a um esforço humanitário e cooperativo global, e, sim, como uma corrida capitalista pelo lucro. A crítica foi especialmente direcionada para grandes empresas que, na corrida para desenvolver uma cura, apoderaram-se de bilhões dos cofres públicos, mas fizeram pouco para publicamente compartilharem os resultados de suas pesquisas (Ryan e Nanda, 2023).

Após a leitura de todos os capítulos, o livro demonstrou ser uma compilação de inestimável importância para todos aqueles interessados em se aprofundar em pesquisas em ciências sociais relacionadas ao contexto de pandemia, seja durante ou depois dela. É possível afirmar que a originalidade teórica e metodológica são marcas de grande parte dos trabalhos, impulsionando reflexões que permeiam a relação entre sociedade e saúde pública. Dessa forma, o conjunto de saberes aglutinados por esses atores remonta a uma necessidade incansável em prover respostas aos desafios impostos por esse excepcional período histórico, de forma a revelar não só problemas, mas jornadas e caminhos a possíveis soluções para as controvérsias vividas no contexto pandêmico.

Bibliografia

  • BRAY, R. S. Carceral Archipelago and Gulag of Grief: Hart Island. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023.
  • CORSI, Marcella, & RYAN, J. M. The Impact of the COVID-19 Pandemic on the Social Sciences. International Review of Sociology, 32(1), 1-9. 2022.
  • DEWEES, M. A., & MILLER, A. C. Managing COVID-19 (and Gender): An Analysis of US News Coverage on Reported Menstrual Disruptions and Vaccines. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023.
  • HUNT, Melinda. The Nature of Hart Island. In M. Hunt & J. Sternfeld (Eds.), Hart Island (pp. 1-20). Berlin: Scalo. 1998.
  • KHAN, N. The Delta Variant, Child Mortality, and the New Racism. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023a.
  • _____________ (Ed.). COVID-19 and Childhood Inequality. London: Routledge. 2022b.
  • MOOK, A., & SWANSON, E. Food Insecurity in the United States of America: A Comparison Between the Great Recession and the COVID-19 Pandemic. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition). Routledge. 2023.
  • NAJMAH, Kusnan et al. Disclosing One's HIV Status During Indonesia's COVID-19 Pandemic: Challenges Faced by Mothers. In COVID-19: Surviving a Pandemic (1st Edition) Routledge. 2023.
  • RYAN, J. M. (Ed.). Introduction. In: COVID-19: Surviving a Pandemic (1st ed.). Routledge. 2023.
  • RYAN, J. M., & NANDA, S. Vaccines: Are We Really All in This Together? In COVID-19: Surviving a Pandemic. Routledge. 2023.
  • SINGER, M. Introduction to Syndemics: a Critical Systems Approach to Public and Community Health (1st ed.). San Francisco (CA): Jossey-Bass. 2009.
  • STELLMACH, D., Beshar, I., Bedford, J., et al. Anthropology in public health emergencies: what is anthropology good for? BMJ Global Health, e000534. 2018.
  • 2
    É professor associado de sociologia na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão. Ele já ocupou cargos acadêmicos em Portugal, Egito, Equador e Estados Unidos da América. Além disso, também é o editor fundador da série "The COVID-19 Pandemic" da Routledge.
  • 3
    Cabe destacar que, apesar de admitir a influência deste conceito na obra de uma maneira geral, Ryan não explorou em profundidade essa importante teorização para a antropologia e sociologia da saúde norte-americana. Isso acarretou uma perda contextual significativa dos capítulos apresentados.
  • 4
    Como exceção a essa problemática, haveria alguns artigos que se aproximam da psicologia social. Apesar de reconhecermos a importância dos tópicos levantados, uma parcela significativa dos autores não explorou profundamente teorias comportamentais e acabou se limitando a uma mera descrição, o que impactou na análise e interpretação dos dados qualitativos adquiridos.
  • 5
    Um exemplo disso pode ser visto na própria literatura do país. Uma manifestação icônica do fim da sociedade japonesa pode ser encontrada no dramaturgo e escritor Yukio Mishima, que percebeu a influência ocidental no país a partir da erosão dos valores tradicionais, incluindo estruturas sociais hierárquicas, disciplina e honra, tão característicos da sociedade japonesa, como também atestado na obra de Ruth Benedict. Tamanho foi o descontento de Mishima com tal situação, que ele tentou um golpe de estado em 1970, tentando restaurar o império japonês, o que culminou no seu suicídio ritual, a partir do seppukku (coincidindo com o capítulo final de uma de suas obras).
  • 6
    Infelizmente, isso acaba por impactar um pouco a coerência do livro, pois não há uma transição clara entre capítulos: em determinado momento é possível você estar lendo um capítulo etnográfico para depois se deparar com um artigo situado na psicologia social. Isso também dificulta que possíveis leitores que têm interesses em partes específicas do livro encontrem os respectivos conteúdos.
  • 7
    Essa situação impactante dizia muito sobre como este grupo foi negligenciado por políticas públicas durante a pandemia: os pesquisadores não conseguiram dizer exatamente a causa morte da principal interlocutora da pesquisa, apesar de um deles ter conseguido ir visitar pessoalmente a família após o funeral.
  • 8
    Um aspecto bastante rico da abordagem das pesquisadoras foi a comparação e intersecção de uma série de fontes de dados providos por diferentes agências do governo federal norte-americano (como o Federal Bureau of Statistics), que incluiu: i) preços de comida durante as crises; ii) desemprego no pico das crises; iii) Seguro-desemprego e Licença Remunerada do Empregado; iv) Programa de Assistência Nutricional Suplementar (PAN); e v) Bancos de Alimentos e o Programa Caixa de Alimentos dos Agricultores para as Famílias. Esse esforço proveu uma análise mais confiável para interpretações de possíveis efeitos causados pelo vírus.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    09 Jun 2023
  • Aceito
    18 Jul 2023
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