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A Escola Técnica Nacional e a ditadura civil-militar: história e memória de uma escola e da luta dos estudantes (1960-1966)

The Escola Técnica Nacional and the civil-military dictatorship: history and memory of a school and the struggle of students (1960-1966)

Resumo:

O artigo analisa a trajetória da Escola Técnica Nacional entre os anos 1960 e 1966. Dirigida no período por Celso Suckow da Fonseca, a luta e o cotidiano estudantis foram marcados pela reforma do ensino industrial e polarização entre esquerda e direita. O golpe de 1964 e a mobilização anticomunista de professores e estudantes contra a esquerda estudantil foi um marco nas reformas do ensino industrial e na mudança de nome da instituição em 1967 para Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. O artigo faz uso do jornal estudantil O Micron e da pesquisa na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, para compreender as transformações no cotidiano escolar.

Palavras-chave:
Ditadura civil-militar; Movimento estudantil; golpe de 1964; Escola Técnica Nacional; Celso Suckow da Fonseca (1905-1966)

Abstract:

The article analyzes the transformations of the Escola Técnica Nacional between 1960 and 1966. Directed by Celso Suckow da Fonseca, the student struggle and the daily life of schools was marked by the industrial education reform and the polarization between left and right. The 1964 coup and the mobilization of professors and students against the left was a milestone in the reforms of industrial education and in the change of name of the institution, which was renamed Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca in 1967. In the analysis, we used the student newspaper O Micron and the research in the Digital Hemeroteca of the National Library, to understand the transformations in the daily school life.

Keywords:
Civil-military dictatorship; Student movement; Coup of 1964; Escola Técnica Nacional; Celso Suckow da Fonseca (1905-1966)

Quando encerrávamos os trabalhos dessa edição recebemos o triste comunicado da morte de um homem que por mais de vinte anos labutou pela Escola Técnica Nacional e lutou pelo ensino técnico em todo o Brasil. Celso Suckow da Fonseca morreu lutando pela melhoria do ensino técnico industrial, morreu lutando para trazer do exterior aos seus compatriotas tudo que de mais novo houvesse no campo da técnica industrial.

Celso Suckow era um entusiasta de um Brasil industrializado, era um entusiasta de uma juventude sadia e especializada, para dar ao Brasil aquilo de que mais ele necessita - dizia Celso - ‘progresso, desenvolvimento e independência’.

O Micron e a Agremiação Estudantil Técnica e Industrial, neste momento de pesar para todos os alunos da Escola Técnica Nacional, senão para os estudantes técnicos de todo o Brasil, sente-se deveras entristecida pelo desaparecimento deste seu amigo e colaborador que foi Celso Suckow (Morreu..., 1 out. 1966).

O presente artigo dialoga com a história e a memória das instituições de ensino e da luta dos estudantes nos anos 1960, mediado pelas recentes discussões sobre a cultura política e a história social na ditadura. Procuramos compreender o significado do projeto político e educacional de uma “juventude sadia e especializada” articulado em torno do engenheiro e educador Celso Suckow da Fonseca na Escola Técnica Nacional (ETN). Como se observa no obituário do jornal estudantil O Mícron, esse projeto chegou a ser compartilhado pela comunidade escolar, pelos alunos e alunas da ETN e por professores que atuaram na instituição.

Ao lidar com a memória da juventude e dos estudantes, enfrenta-se o desafio de analisar as memórias da geração de 1968. Angélica Müller (2020MÜLLER, Angélica. História oral e movimento estudantil: entre demanda social e produção historiográfica. In: GOMES, Angela de Castro. História oral e historiografia: questões sensíveis. São Paulo: Letra e Voz, 2020. p.37-57.) considera que as representações do movimento estudantil na história do Brasil mobilizam muitas memórias mas poucas análises histórias, e que elas constituem um espaço no qual o “efêmero tempo da militância estudantil” confunde-se com o tempo em que o “pesquisador se debruça sobre esse objeto” (p. 37). Ou seja, múltiplas imaginações do passado estudantil elipsam processos, conflitos e mediações sócio-históricas em favor de uma identidade e de um projeto político, através de memórias que reafirmam um ethos de juventude. E, ao contrário do campo ético e político do “poder jovem”, especialmente enfatizado na memória dos protestos de 1968, da luta heroica dos estudantes contra o autoritarismo e da resistência da sociedade contra a ditadura (Reis, 2000REIS, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000., 2014a, 2014b; Ridenti, 2000RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro: Record, 2000.; Martins Filho, 2002MARTINS FILHO, João Roberto. A guerra de memória: a ditadura militar nos depoimentos dos militantes e militares. Varia Historia, n. 28, p. 178-201, dez. 2002.; Rollemberg, 2006ROLLEMBERG, Denise. Esquecimento das memórias. In: MARTINS FILHO, João Roberto (org.). O golpe de 1964 e o regime militar: novas perspectivas. São Carlos: EdUfscar, 2006.; Müller, 2011, 2021a; Lima, 2017LIMA, Gabriel Amato Bruno de. Memórias de rondonistas: lembrando de outras maneiras de ser estudante durante a ditadura militar. In: AMADO, Gabriel; DELLAMORE, Carolina; BATISTA, Natália. A ditadura aconteceu aqui: a história oral e as memórias do regime militar brasileiro. São Paulo: Letra & Voz, 2017. p.151-171.), o ethos de juventude da Escola Técnica Nacional nos coloca em contato com comportamentos ambivalentes, indo do protesto à adesão e matizes de posicionamentos indiferentes ou conciliatórios com a modernização autoritária da ditadura.

A trajetória da Escola Técnica Nacional foi profundamente afetada pelo golpe de 1964, com professores e estudantes se engajando na mobilização anticomunista que depôs o governo João Goulart (1961-1964). O projeto de formação de “juventude técnica e sadia”, afastada das esquerdas e do protesto estudantil, caracterizou os anos 1960 e foi um traço das mudanças no cotidiano da Escola Técnica Nacional, o que ficou evidente tanto na Associação dos Estudantes Técnicos da Indústria (Aeti) quanto na direção da instituição, exercida por Celso Suckow da Fonseca. Em 1967, após a morte do referido diretor, o presidente Castelo Branco (1964-1967) autorizou a mudança de nome da escola, que passou a ser denominada Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Construía-se um lugar de memória que apresentava a instituição como modelo para o ideal de desenvolvimento almejado pelo regime militar.

A redução da escala de análise em uma instituição escolar permite compreender os diferentes ethos de juventude em disputa nos anos 1960, articulados com a multiplicidade dos repertórios da cultura estudantil, suas conexões com diferentes atores e movimentos sociais - dentro e fora das escolas -, e a profunda transformação das instituições de ensino na ditadura (CNV, 2014; Motta, 2014MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.; Lima, 2019LIMA, Gabriel Amato Bruno de. Aula prática de Brasil no Projeto Rondon: estudantes, ditadura e nacionalismo. São Paulo: Alameda, 2019.; Müller, 2021aMÜLLER, Angélica. O “acontecimento” 1968 brasileiro: reflexões acerca de uma periodização da cultura de contestação estudantil. Revista de História, n.180, p.1-21, 2021a., 2021bMÜLLER, Angélica. O tesouro perdido da “Justiça de Transição brasileira”: a CNV, as comissões universitárias, e o trabalho de historiadores. Tempo e Argumento, v. 13, n. 32, abr.-jan. 2021b.). A história da reforma do ensino industrial na ditadura e dos protestos estudantis nas escolas técnicas merece análise e ênfase da historiografia do tempo presente, que tem se esforçado em compreender a reforma universitária, mas nem sempre enfatiza o cotidiano dessas outras instituições escolares na conjuntura da modernização autoritária.

Para desenvolver a análise, o artigo divide-se em duas partes: primeiro, recupera-se o lugar de Celso Suckow da Fonseca no projeto de ensino técnico industrial, evidenciando seu posicionamento e imagem na ditadura civil-militar; na segunda parte, aborda-se o cotidiano dos protestos estudantis e das reformas educacionais que afetaram a Escola Técnica Nacional, entre 1960 e 1966. A pesquisa foi realizada a partir de dois acervos documentais: o acervo de memória e o jornal estudantil O Mícron, na coleção sob guarda da Associação de Ex-alunos da Escola Técnica Nacional e Centro Federal de Educação Tecnológica, e a consulta à Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, aos periódicos Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário de Notícias, e Última Hora nos anos 1960.1 1 Entre 2017 e 2019, foram realizadas várias entrevistas de história de vida com ex-alunos da Escola Técnica Nacional e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Essas memórias ajudam a compreender a cultura estudantil do ensino industrial, e fragmentos delas foram publicadas em livro e analisadas em artigo (Oliveira, Cardoso, Barreto, 2018, 2023). Todavia, elas não são utilizadas no corpus de documentos deste artigo, por demandar uma reflexão sobre história oral, oralidades e memória social que fugiria ao escopo delimitado deste texto.

A Escola Técnica Nacional (ETN), Celso Suckow da Fonseca e a ditadura civil-militar

Celso Suckow da Fonseca (1905-1966) nasceu no Rio de Janeiro, formou-se em engenharia civil pela Escola Polytecnica do Rio de Janeiro, em 1929, e teve sua trajetória profissional ligada à Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) e à Escola Técnica Nacional (ETN). Entre 1931 e 1966, foi engenheiro da EFCB e chegou às posições de chefe do Departamento de Relações Públicas, de Locomoção e do Departamento de Ensino e Seleção Profissional, instalando dez escolas profissionais no interior do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Ingressou como professor da ETN quando esta foi fundada no Estado Novo, em 1942, sendo diretor indicado pelo Ministério da Educação entre maio de 1943 e 1951, e escolhido pelo Conselho de Representantes da ETN, como primeiro lugar em lista tríplice, entre 1960 e 1966 (Ciavatta, Silveira, 2010CIAVATTA, Maria; SILVEIRA, Zuleide Simas. Celso Suckow da Fonseca. Recife: Editora da Fundação Joaquim Nabuco, 2010.).

Os projetos nacionalistas e desenvolvimentistas marcaram a trajetória de vida do engenheiro-professor. Ciavatta e Silveira (2010CIAVATTA, Maria; SILVEIRA, Zuleide Simas. Celso Suckow da Fonseca. Recife: Editora da Fundação Joaquim Nabuco, 2010.) evidenciaram que ele fez parte de uma geração de educadores - engenheiros com formação humanista - preocupados com a expansão do ensino profissional e da infraestrutura para o desenvolvimento industrial. A partir dos anos 1930, articulados num projeto nacional de modernização, esses engenheiros-professores trabalharam nas principais linhas férreas do país e no ensino técnico e profissional, atuando no “Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP), no Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort) e nas escolas técnicas profissionais” (p. 19).

Em 1961, Celso Suckow publicou História do ensino industrial no Brasil, em dois volumes, onde colocava a educação para o trabalho como tema central do processo de industrialização e superação da condição colonial que enraizou em “nossa civilização o desprezo pelos trabalhos que requerem o uso das mãos” (Fonseca, 1961FONSECA, Celso Suckow. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Escola Técnica Nacional, 1961., p. 19). A história que Celso Suckow escreveu percorreu a Colônia, o Império e a República, enfatizando as transformações e melhorias promovidas no ensino industrial pela “Revolução de 1930” - ele e seu pai, o engenheiro Luís Carlos da Fonseca, tinham orgulho em ter participado do movimento civil-militar que pôs fim à Primeira República (Dias, 1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980., p. 182).

O engenheiro-professor participava das instituições corporativas dos engenheiros2 2 Atuou no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), entre 1946 e 1966, e foi membro do Sindicato dos Engenheiros. Cf. Silva, Neta (2019). e esteve no centro das reformas educacionais articuladas pelo governo João Goulart (1961-1964) e, posteriormente, pelo governo Castelo Branco (1964-1967). Essas reformas educacionais do ensino industrial vinham sendo discutidas desde os anos 1940, em aproximação com a ideologia fordista na organização do trabalho industrial e o ensino técnico nos Estados Unidos. Em 1943, na conjuntura de aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos em função da Segunda Guerra Mundial e dos projetos de industrialização nacional, foi firmado o acordo do Ministério da Educação e Saúde com o Interamerican Educational Foundation Inc. Desse acordo, surgiu a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), que vigorou entre 1947 a 1962. Celso Suckow foi um dos diretores de escolas técnicas do Brasil que realizou uma formação especializada na administração do ensino industrial no Pennsylvania State College, em 1947, e se tornou uma referência para as reformas do ensino industrial (Ciavatta, Silveira, 2010CIAVATTA, Maria; SILVEIRA, Zuleide Simas. Celso Suckow da Fonseca. Recife: Editora da Fundação Joaquim Nabuco, 2010.; Prohman, 2016PROHMAN, Mariana. Americanismo e fordismo nos Boletins da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial. Dissertação (Mestrado em Tecnologia), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2016.; Neto, Costa, 2018Silva-NETO, Oscar; COSTA, David Antônio da. A Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial e o ensino industrial em Florianópolis. In: Seminário temático: Provas, exames e a escrita da história da matemática, 16., 2018, Boa Vista. Anais... Boa Vista: UFRR, 2018. Disponível em: Disponível em: https://xviseminariotematico.paginas.ufsc.br/files/2018/05/SILVA_NETO_COSTA_T1_vf.pdf . Acesso em: 3 ago. 2021.
https://xviseminariotematico.paginas.ufs...
).

Em articulação com a perspectiva de racionalização da organização do trabalho, com adoção do fordismo na formação de um trabalhador especializado para a indústria, Celso Suckow realizou várias transformações nos cursos da ETN nos anos 1960. Em 1963, o diretor da ETN fez um curso na Escola Superior de Guerra (ESG) e, no ano seguinte, entusiasmou-se com a “revolução de 31 de março”. No golpe de 1964, criou uma “Comissão de Expurgos”, visando a colaboração com a “Operação Limpeza” e a aplicação do Ato Institucional n. 1. Segundo o Jornal do Brasil,

Escola Técnica já tem sua comissão:

A comissão instalada para apurar atos de natureza subversiva na Escola Técnica Nacional realizou ontem sua primeira reunião para instruir as investigações sobre as atividades dos funcionários e professores.

O Presidente da Comissão de Investigação, Professor Mário Celso Soares, declarou ao Jornal do Brasil que não houve nenhuma modificação no quadro administrativo e docente da Escola, tendo o diretor da mesma, Celso Suckow da Fonseca, recebido instruções do ministro da Educação no sentido de manter a máxima discrição possível, principalmente, quanto ao corpo discente do estabelecimento.

TRANQUILIDADE:

Informou o Professor Mário Celso que a comissão está composta de dois professores e um funcionário da Escola e que ‘os trabalhos iniciais estão encontrando um ambiente tranquilo e sereno’, considerando-se que o atual diretor foi reeleito para o cargo pelo colegiado da Escola Técnica Nacional depois da revolução de abril, que instituía a obrigatoriedade de investigações em todos os organismos de ensino do país (Chefes..., 20 maio 1964).

A reportagem enfatizava o clima de baixa adesão das instituições públicas do Rio de Janeiro em relação aos inquéritos motivados pelo Ato Institucional (AI-1), que promovia, em nome da “revolução”, o combate à “infiltração comunista” e à “corrupção” nas repartições públicas. Na avaliação feita pelo jornalista, em maio de 1964, enquanto a “maior parte dos chefes das seções das repartições públicas está se recusando a apontar à Comissão de Expurgos o nome de seus subordinados que poderiam ser afastados” e se limitavam a responder “nada a declarar”, a ETN e algumas outras repartições destoavam dessa tendência geral (Chefes..., 20 maio 1964).

Na reportagem do Jornal do Brasil, Mário Celso, o chefe nomeado para presidir a Comissão de Expurgos da ETN, enfatizava que o diretor Celso Suckow, que havia sido escolhido pelo Conselho de Representantes da escola em 1960, tinha sido reeleito no término desse primeiro mandato, em 1963, e confirmado no cargo depois do golpe de 1964; portanto, estava alinhado aos intentos do movimento civil-militar que depôs o governo João Goulart. Da mesma forma, o presidente da Comissão de Expurgos também indicava a solicitação do Ministério da Educação de “máxima discrição” em relação aos estudantes, temendo possíveis protestos liderados pela agremiação dos estudantes técnicos e industriais (Chefes..., 20 maio 1964).

Durante o governo Castelo Branco e com os acordos firmados com os Estados Unidos, Celso Suckow manteve-se engajado nas reformas educacionais. Quando faleceu, em 1966, estava em viagem aos Estados Unidos, observando instalações educacionais americanas para a reforma do ensino industrial e implementação do curso superior de Engenharia de Operações na ETN. Assim como outros militares e lideranças civis que fizeram parte do primeiro governo militar, o engenheiro-professor tinha uma visão da juventude vinculada à colaboração com um projeto nacionalista de superação do subdesenvolvimento e afastada das mobilizações políticas das esquerdas. E, durante o governo Médici (1969-1974), a memória e história oficial da Escola Técnica destacaria Celso Suckow da Fonseca como herói e patrono da escola. Essa perspectiva foi enfatizada durante toda a gestão de Edmar de Oliveira (1966-1986), diretor da instituição escolar indicado pelo Conselho de Representantes após a morte de Celso Suckow e alinhado aos diferentes governos militares.

Além do busto de Celso Suckow na entrada do colégio, inaugurado em 1967, Edmar Oliveira patrocinou uma história oficial da Escola Técnica. O livro Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca foi escrito por Demosthenes de Oliveira Dias (Figura 1), que era historiador e professor aposentado da ETN. Em 1972, ele foi designado pelo Conselho de Representantes da escola para escrever a história da instituição escolar e a primeira edição da obra, publicada em 1973, vinha com um prefácio intitulado “Explicação necessária”, escrito pelo autor.

Nesse prefácio, o historiador e professor da escola argumentava que as reformas educacionais dos militares tinham o efeito de “sanar” o “defeito da educação brasileira”, instituindo a Educação Moral e Cívica e também a reforma da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1971, que transformou a formação técnica em obrigatória a todo o segmento educacional do ensino médio, e deu destaque às escolas técnicas federais como instituições modelo (Dias, 1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980., p. 14).

Figura 1
Capa do livro de Demosthenes de Oliveira Dias (1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980.)

Na conjuntura da modernização autoritária e do “milagre econômico”, o livro Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca deveria contribuir para a construção da história nacional, apontando para o “exemplo dignificante daqueles que, à custa de ingentes sacrifícios, nos legaram não só a imensidão do espaço brasileiro, mas sobretudo o esforço nobre e desinteressado no cumprimento do dever, o que representa o verdadeiro patrimônio cultural” que deveria “ser indicado como exemplo edificante à juventude de hoje” (Dias, 1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980., p.15). E considerando que “somos um povo em desenvolvimento”, Demosthenes Dias afirmava a necessidade urgente de “formar técnicos”, sem descuidar de uma educação “humana” que considerasse “os costumes característicos de nosso povo - tolerância, concórdia, equilíbrio emocional, este às vezes quebrado por excessivas manifestações durante a confecção desse trabalho” (Dias, 1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980., p. 15).

A imagem de Celso Suckow na capa do livro (Figura 1), um busto com olhar visionário para o futuro, trajando o paletó e gravata, que o distinguia das fotografias de outros diretores da escola técnica exibidas num panteão ao longo do livro de Demosthenes Dias, não deixa dúvida que o patrono da instituição exibia os valores éticos e cívicos necessários para o desenvolvimento do Brasil. Pode-se vincular a imagem do diretor Celso Suckow à imaginação do governo Médici e aos “anos de ouro” do milagre econômico (Cordeiro, 2008CORDEIRO, Janaína. Anos de chumbo ou anos de ouro? A memória social sobre o governo Médici. Estudos Históricos, v. 22, n. 43, p. 85-104, 2008.): a escola técnica é um dos loci para a construção do consentimento no regime militar, através de sua reforma educacional em favor do desenvolvimento e se contrapondo aos protestos estudantis e à agitação política dos anos 1960. Essa memória também evoca a conciliação como um traço do repertório da cultura política brasileira (Motta, 2014MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014., 2016MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.), pregando o “equilíbrio emocional” e a “cordialidade”, e negando o radicalismo dos anos 1960, visto como “excessivos”.

Nessa memória oficial da escola, o protesto estudantil e os diferentes embates que marcaram a reforma do ensino técnico industrial foram relegados ao silêncio. E a memória hegemônica constituída na transição brasileira para a democracia e a historiografia da educação e do ensino industrial transformou esse silêncio em um ponto cego. Na historiografia da educação, tem-se enfatizado o projeto de ensino técnico e a teoria do capital humano no regime militar, sublinhando a relação entre educação, capitalismo e mercado na modernização conservadora e as propostas golpistas do empresariado e dos civis que conspiraram contra o nacionalismo do governo de João Goulart (Saviani, 2008SAVIANI, Demerval. O legado educacional do regime militar. Cadernos Cedes, v. 28, n. 76, p. 291-312, 2008.; Ferreira Jr., Bittar, 2008); contudo, essa historiografia que frisa as transformações ocorridas no ensino por meio da análise de normas e legislações, das mudanças da estrutura social, pouco tem enfatizado o cotidiano nas instituições de ensino e as lutas que transcorreram para essa transformação. E, no caso da análise de Celso Suckow da Fonseca, um importante intelectual da educação, enfatiza-se sua contribuição nacionalista e humanista para organizar e compreender o ensino técnico (Ciavatta, Silveira, 2010CIAVATTA, Maria; SILVEIRA, Zuleide Simas. Celso Suckow da Fonseca. Recife: Editora da Fundação Joaquim Nabuco, 2010.; Silva, Neta, 2019SILVA, Juan Carlos da Cruz; NETA, Olívia Morais de Medeiros. História do ensino industrial no Brasil: uma análise historiográfica da obra de Celso Suckow da Fonseca. Revista Brasileira de História da Educação, v. 19, p. 1-24, 2019.), sem considerar seus vínculos com o projeto da reforma da educação dos governos militares.

O “Dr. Celso” e a “juventude sadia e especializada”: e as reformas educacionais e a luta estudantil no ensino técnico industrial

No ciclo de protestos ocasionado pelas reformas educacionais e radicalização da luta entre a esquerda e direita nos anos 1960, a ETN foi um dos loci de organização de manifestações estudantis. O movimento social na escola era articulado pela Associação dos Estudantes Técnicos da Indústria (Aeti): a agremiação foi criada em 1944, publicava semestralmente, desde 1945, o jornal O Micron, e tinha uma tradição de protestos contra as condições da vida estudantil no cotidiano escolar. As “greves da boia”, contra as más condições da alimentação no refeitório, foram uma constante nos anos 1950 e 1960, uma vez que a maior parte dos alunos estudava em condição de internato ou semi-internato, ficando grande parte do dia na escola.

Os estudantes que faziam a opção pelo ensino industrial eram de famílias de trabalhadores, muitos moravam no subúrbio carioca, e escolhiam essa modalidade de ensino para facilitar o ingresso no mercado de trabalho. A legislação educacional de 1940 a 1960 estabeleceu um ensino dicotomizado entre a formação secundária “científica”, que habilitava o estudante para a escolha de qualquer curso superior, e a “técnica”, que não permitia a continuidade de estudos no ensino superior. Somente após a Lei de Diretrizes e Bases de 1962 os estudantes dos cursos médios técnicos podiam escolher cursar faculdades que tivessem afinidades com a respectiva formação profissional adquirida no secundário. Os cursos técnicos industriais eram uma opção para os filhos da classe trabalhadora, que tinham um perfil popular, distinto das classes médias e altas que optavam pelo “científico” que dava acesso às universidades (Silveira, 2010; Romanelli, 2014ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2014.).

As performances de protesto das “greves da boia”, que ganhavam especial repercussão no jornal Última Hora, e o busto de Getúlio Vargas, erigido na década de 1940 e deslocado para o pátio da escola após a sua morte em 1954, não deixam dúvidas quanto aos vínculos dessa cultura estudantil popular com a cultura operária. E em uma gestão conturbada, Celso Suckow enfrentou duas “greves da boia”, em 1960 e 1963, reivindicando melhorias no refeitório, além de um piquete para a instalação de semáforos nas proximidades da escola, após a morte de um estudante por atropelamento (Alunos..., 8 out. 1960ALUNOS da ETN continuarão em greve até destituir diretoria. Última Hora, p. 3, 8 out. 1960.; Greve..., 18 fev. 1963GREVE da “boia” entra na 2ª semana. Última Hora, p. 2, 18 fev. 1963.; Polícia..., 23 mar. 1963POLÍCIA metralhou estudantes: dez feridos. Última Hora, p. 5, 23 mar. 1963.). Em confronto com a Aeti, o diretor tentava desclassificar essas manifestações como “políticas”, sendo várias vezes interpelado pela representação estudantil, que justificava os protestos com base na experiência dos estudantes no cotidiano escolar e na luta por melhores condições de vida. Em 1960, um dos representantes da Aeti foi à sede do jornal Última Hora para desmentir o diretor:

O Dr. Celso confundiu ou quis torcer os fatos ao afirmar que o movimento teria sentido político. Queremos deixar bem claro que o nosso objetivo é unicamente lutar por um tratamento digno para todos que procuram, naquele estabelecimento de ensino, adquirir os conhecimentos técnicos que lhes proporcionem um futuro certo e tranquilo. Para isso, foi elaborado abaixo-assinado, que contou com o apoio de cerca de quinhentos alunos, convocando uma assembleia geral, na qual pediremos a destituição da atual diretoria, que nada tem feito (Alunos..., 8 out. 1960).

Nos anos 1960, Celso Suckow enfrentou várias mudanças no repertório de ação coletiva dos estudantes que confrontavam sua autoridade. Após a publicação do Regulamento do Ensino Industrial, de 1959, que previa o Conselho de Representantes como órgão gestor das escolas técnicas e locus para escolha da lista tríplice que indicava a escolha do diretor da escola (Brasil, 1959), os estudantes passaram a fazer assembleias e abaixo-assinados para terem a sua representação reconhecida na gestão dos assuntos da escola. No caso mencionado, solicitavam a destituição do diretor, que fora escolhido sem o aval dos estudantes, que não eram representados no Conselho de Representantes. Em 1963, em meio a uma greve da boia que durou dois meses, os estudantes se uniram aos professores, solicitando “democratização” do Conselho de Representantes, o pagamento do 13º salário, e também se contrapondo às reformas implementadas por Celso Suckow que colocariam fim ao curso básico industrial e ao regime de semi-internato e internato na escola (Greve..., 18 fev. 1963GREVE da “boia” entra na 2ª semana. Última Hora, p. 2, 18 fev. 1963.; 2 mar. 1963b). Nessas manifestações estudantis, o diretor da ETN chegou a solicitar intervenção de militares para se contrapor aos protestos estudantis.

Além da demanda de democratização da instituição escolar e melhora das condições para estudo, a Aeti foi atravessada pelo crescimento dos movimentos da esquerda comunista e nacionalista. Em 1960, a Escola Técnica sediou o Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), quando os estudantes discursaram abertamente em favor da revolução cubana e do comunismo (Cuba..., 23 jul. 1960CUBA transforma quartéis em escolas: ministro Hart. Última Hora, p. 2, 23 jul. 1960.). Formavam-se núcleos políticos ligados a partidos políticos de esquerda no interior da ETN. O lema da Aeti era “a formação de técnicos é um empreendimento com as proporções de uma campanha de libertação nacional”. Sendo repetido no jornal O Micron entre meados dos anos 1950 e início de 1960 (O Micron, abr. 1956MORREU cumprindo o dever. O Micron. ano 20, n. 50, p. 1, out. 1966.), o lema podia ser interpretado tanto como uma dimensão do nacionalismo revolucionário, da luta pela libertação nacional na visão promovida nos movimentos anticoloniais e anti-imperialistas, quanto como um reforço do vínculo dos estudantes técnicos com o desenvolvimento industrial e o nacionalismo trabalhista presente na cultura sindical e trabalhista carioca.

Celso Suckow e alguns grupos de estudantes, que também se manifestavam a favor do diretor e contra os representantes da Aeti nas reportagens que cobriam os conflitos no cotidiano da ETN, não concordavam com essa aproximação com as esquerdas. Ao longo de sua vida, o engenheiro-professor atuou para se aproximar dos Estados Unidos, de sua tradição educacional que enfatizava uma pedagogia vinculada à prática e à técnica. Nos anos 1960, agiu para vincular os cursos técnicos industriais com as demandas dos empresários do estado da Guanabara. E, em 1964, reforçando as reformas do ensino técnico industrial que vinham sendo implementadas, a ETN pagou uma matéria no Jornal do Brasil:

Sob o lema “O Brasil precisa de novos técnicos”, a Escola Técnica Nacional, subordinada ao Ministério da Educação e cultura, está realizando uma grande campanha para a formação do maior número de especialistas possível para o país (...)

O grande estabelecimento-modelo do ensino técnico no Brasil possui seis cursos técnicos, com a duração de quatro anos cada, sendo que o último consta unicamente de prática, realizado em forma de estágio numa das grandes firmas do estado da Guanabara, o que possibilita ao aluno, quando já técnico formado, a imediata iniciação profissional (Escola..., 26 jan. 1964ESCOLA Técnica Nacional: a grande campanha começou para diplomar técnicos. Jornal do Brasil, p. 3, 26 jan. 1964.).

Na visão de Celso Suckow e do Conselho de Representantes que autorizou o pagamento da publicação da matéria de propaganda, o fim do curso básico industrial e do regime de semi-internato e internato tinha a vantagem de expandir o número de vagas e estabelecer um modelo de cursos técnicos industriais de quatro anos, nos turnos da manhã e da tarde. Essa mudança teve o efeito de aumentar o número de vagas e matrículas na escola: entre 1962 e 1966, a escola saiu do patamar de 896 matrículas para 3.591 (Dias, 1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980., p. 229). No “novo técnico”, o último ano seria focado numa atividade de estágio prático, numa grande empresa. Entre 1962 e 1964, a ETN reformulou o setor de estágio e já havia feito parcerias com cerca de 35 empresas do estado da Guanabara.

Um destaque das reformas educacionais era a implementação do curso de Engenharia de Operações: um curso superior de três anos, implementado numa parceria entre a ETN e a Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), através de uma articulação feita entre 1963 e 1966 para atender a demanda de força de trabalho especializada nas grandes indústrias no estado da Guanabara. Em 1965, como parte dos debates em função da mudança de status do Rio de Janeiro, que havia deixado de ser capital do Brasil, e das comemorações do quarto centenário da cidade, a Escola Técnica Nacional teve seu nome alterado para Escola Técnica da Guanabara. A escola e o projeto educacional que ela expressava alinhavam-se ao projeto de desenvolvimento industrial e educacional do governo Lacerda (1960-1965PEREZ, Maurício Domingues. Lacerda na Guanabara: a reconstrução do Rio de Janeiro nos anos 1960. Rio de Janeiro: Odisseia, 2007.), que promoveu uma rearticulação do distrito industrial da cidade através do Plano Doxiadis, ampliou os investimentos educacionais e perseguiu os movimentos operários de esquerda (Motta, 2000MOTTA, Marly. Saudades da Guanabara: o campo político da cidade do Rio de Janeiro (1960-1975). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.; Perez, 2007PEREZ, Maurício Domingues. Lacerda na Guanabara: a reconstrução do Rio de Janeiro nos anos 1960. Rio de Janeiro: Odisseia, 2007.).

Todas essas mudanças seriam feitas com a “colaboração” dos estudantes. Na reportagem paga na imprensa, o diretor da ETN era explícito em negar os conflitos estudantis. Dizia que as “relações entre alunos e diretoria, coisa difícil hoje em dia, na Escola Técnica Nacional são de perfeita harmonia, chegando muitas vezes à colaboração direta, que resulta sempre em benefício da Escola”. Assim, os “alunos estão organizados numa Agremiação Estudantil Técnica Industrial, que promove atividades culturais e esportivas. Todos os esportes são praticados realizando-se campeonatos internos e externos com as equipes de várias firmas industriais” (Escola..., 26 jan. 1964ESCOLA Técnica Nacional: a grande campanha começou para diplomar técnicos. Jornal do Brasil, p. 3, 26 jan. 1964.). A visão do lugar da Aeti e da luta estudantil se coadunava com o projeto de reforma educacional defendido por Celso Suckow e silenciava sobre os protestos estudantis dos anos 1960.

E esse ideal de uma “juventude sadia e especializada”, em alinhamento e colaboração com o diretor, foi compartilhado por um segmento de estudantes que também faziam parte do movimento estudantil da Aeti e ganhou maior expressão após o golpe de 1964. Em 1964, a ETN sofreu uma intervenção militar promovida pela Comissão de Expurgos, e isso ficou evidente no cotidiano escolar e no periódico O Micron que, em sua primeira página da edição do mês de maio de 1964, publicou uma interpelação à mobilização da juventude:

O Jovem e o Mundo Técnico

Meu caro amigo de juventude, porque sou jovem também é que pretendo colocar alguns problemas para refletires comigo sobre eles.

Se estudas nessa escola certamente enveredar-te-ás pelo caminho da técnica, por isso mesmo reflitas um pouco, amigo.

Sem dúvida alguma concordarás que o mundo atual é um mundo técnico, isto é, no qual se manifesta o domínio crescente do homem sobre as forças da natureza (...) (Vicente, maio 1964VICENTE. O jovem e o mundo técnico. O Micron, p. 1-8, maio 1964., p. 1).

O texto acima era destaque no jornal O Micron, e foi publicado pelo estudante “Vicente” - autoria identificada pelo primeiro nome, sem sobrenome, por ser um estudante conhecido na escola. Disputando com as imagens da esquerda nacionalista e comunista, o artigo abordava vários problemas nacionais e sua relação com a juventude. Exaltava o papel da técnica no progresso da humanidade, e enfatizava que o “subdesenvolvimento” é uma questão ligada a um “desequilíbrio social da humanidade” e ao comportamento egoísta do homem, e concluía indicando a necessidade de mudança de comportamento, atendendo aos princípios cristãos. Ao final de seu artigo, frisava que “viver aqui é agir, integra-se na vida da Igreja”, que era a “comunidade de salvação, comunidade de fé, de esperança e de caridade”; assim, ser “cristão é viver o Cristo na situação concreta em que se encontra, quer numa escola técnica, no lar e em qualquer lugar. E isto é ser jovem, o homem integrado em Cristo aberto, receptivo para o que é belo, bom e grande” (Vicente, maio 1964VICENTE. O jovem e o mundo técnico. O Micron, p. 1-8, maio 1964., p. 8).

O texto de Vicente foi uma colaboração de um estudante alinhado à mudança editorial experimentada em razão do golpe de 1964. Marcello Furtado assumiu a direção do jornal e do Departamento de Imprensa da Aeti a convite da direção da entidade naquele momento, tendo em vista uma operação de saneamento do meio estudantil. Como explicou, ele atendia aos “interesses da entidade, como também de nossa escola”, e “procuraríamos, outrossim, isolar de nós aqueles que quisessem tirar proveito de nosso meio estudantil para difundir, muitas vezes, pensamentos influenciadores e de aceitação certa por elementos em estado de formação” (Furtado, maio 1964FURTADO, Marcello. Conversa do diretor. O Micron, p. 5, maio 1964.). Na edição impressa, várias são as frases de efeito convocando a participação do estudante naquele momento, como “Prestigia a Aeti, os teus direitos ela defende” e “O futuro do Brasil depende de você”.

Essas manifestações estudantis, de viés nacionalista autoritário e cristão conservador, tinham uma clara conotação anticomunista. Em junho de 1964, os estudantes da Aeti, o professor e presidente da Comissão de Expurgos, e lideranças de movimentos sociais do Rio de Janeiro promoveram um evento em conjunto com a Força Brasileira de Rearmamento Moral. Após a exibição e debate do filme Homens doBrasil (1960)BRASIL. Lei n.3552, de 16 de fevereiro de 1959. Dispõe sobre nova organização escolar e administrativa de ensino industrial do Ministério da Educação e Cultura, e dá outras providências. Disponível em: Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-3552-16-fevereiro-1959-354292-normaatualizada-pl.htm l. Acesso em: 25 ago. 2021.
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, que abordava a infiltração comunista entre os portuários do Rio de Janeiro, foi lido um manifesto em favor do movimento “revolucionário” de 1964. Reproduzo abaixo um trecho do manifesto que foi lido no auditório da ETN e reproduzido no jornal Diário de Notícias:

Reconhecemos as dificuldades de agora mas não tememos, pois temos fé no futuro do Brasil.

Numa época em que milhões de irmãos passam fome, não têm trabalho, nem onde morar, não podemos deixar que essas necessidades básicas do homem sejam objeto de jogo político, nem permitir que a ambição cruel de alguns possa aniquilar as legítimas esperanças da grande maioria de nosso povo.

Sabemos que no Brasil há o suficiente para a necessidade de todos, mas não o bastante para a ganância de alguns.

Apelamos para toda Nação e para cada Cidadão em particular, a fim de que insuflem o hábito de Padrões Morais Absolutos em nosso País (...)

Apelamos, por isso, e com insistência, para os Três Poderes da República, para as Igrejas das Religiões escolhidas livremente pelo nosso Povo, para a Imprensa, o Rádio e a Televisão, para as Associações e Sindicatos de Empregadores e Empregados, para as Associações civis democráticas, para a Família brasileira e para todo o Povo brasileiro, a fim de que, reunidos e vibrantes do patriotismo, possamos realizar.

Uma Revolução do Caráter [sic], que venha modelar uma nova sociedade, fundada no bom senso, na decência, na honestidade e nos princípios cristãos, que devem reger o nosso País, para que o Brasil possa tornar-se um exemplo para o mundo e o precursor de uma nova civilização, dirigida por homens governados por Deus (Rearmamento..., 19 jun. 1964REARMAMENTO Moral mostra filme na ETN. Diário de Notícias, Caderno 1, p. 2, 19 jun. 1964.).

O Movimento de Rearmamento Moral foi fundado em 1938, por lideranças fundamentalistas e conservadoras nos Estados Unidos, em oposição tanto ao liberalismo quanto ao comunismo, e se constituiu nos anos 1960 no contexto da mobilização anticomunista contra o governo Goulart, em vista da revolução social na América Latina após a Revolução Cubana. Promovendo debates, assembleias e congressos, e grandes eventos - chegando a ocupar o Maracanã no segundo semestre de 1961 -, o Rearmamento Moral compreendia que o Brasil estava sendo alvo de um governo esquerdista, de grupos que exploravam a fome, miséria e subdesenvolvimento para implantar um regime anticristão, “comunista” e “totalitário”. O filme Homens do Brasil (1960), produzido pelo Rearmamento Moral e dirigido pelo fotógrafo e cineasta germano-brasileiro Franz Eichhorn (1902-1982), já tinha sido exibido em outros eventos, entre 1961 e 1964, para prevenir a classe trabalhadora sobre o risco da “agitação” comunista dos meios operários (Motta, 2002MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva; Fapesp, 2002.).

O filme Homens do Brasil (1960) e o Rearmamento Moral foram patrocinados na mobilização articulada pelo complexo de instituições alinhadas ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes) e Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), envolvendo a ação de empresários e do governo norte-americano para desestabilizar o governo de João Goulart. Em sua investigação sobre a mobilização anticomunista no Brasil no ciclo de manifestações dos anos 1960, Motta (2002MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva; Fapesp, 2002.) observou que o Movimento de Rearmamento Moral teve adesão em “meio da alta oficialidade militar, com destaque para o marechal Juarez Távora” (p. 240). No auditório da ETN, falaram lideranças estudantis, professores da escola, e o general Calmirio dos Santos. Ex-professor da Academia Militar, envolvido no Movimento de Rearmamento Moral e membro de grupos militares que apoiavam o uso extremo da violência para combater o comunismo, ele discursou no auditório nos seguintes termos:

(...) ‘esta é uma revolução ideológica verdadeira e contínua’ e que os membros do Rearmamento Moral ‘prosseguirão pregando aquela ideologia por todo o mundo, que por sinal a está recebendo com muito entusiasmo’.

Lembrou ainda o ex-professor da Academia Militar, o êxito obtido por Adolfo Hitler na pregação de seu idealismo, frisando que ‘se ele conseguiu implantá-lo, nós o conseguiremos também’ (Rearmamento..., 19 jun. 1964REARMAMENTO Moral mostra filme na ETN. Diário de Notícias, Caderno 1, p. 2, 19 jun. 1964.).

A evocação de Hitler como um dos fundamentos da “revolução de 31 de março” de 1964 evidencia a complexidade da mobilização anticomunista que justificou o golpe contra o governo João Goulart e legitimou o governo militar que viria a se instalar. Nesse movimento conservador, podiam se articular segmentos de perfis nacionalistas autoritários, liberais conservadores, cristãos tradicionalistas, e também militares e civis de perfil fascista, identificados com a extrema direita. Esses agentes sociopolíticos partilhavam de uma utopia autoritária, do ideal de transformação radical da sociedade através da violência contra os grupos estigmatizados como comunistas e de esquerda, e estavam engajados ou consentiam nas Comissões de Expurgo e nos Inquéritos Policiais Militares que foram característicos da primeira onda de repressão (Fico, 2001FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da ditadura: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Record, 2001., 2012FICO, Carlos. Além do Golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura. Rio de Janeiro: Record, 2012.).

Numa plateia composta de estudantes provenientes de famílias de trabalhadores, que escolhiam o ensino industrial para ingressar no mundo do trabalho, os discursos e o evento na escola justificavam a cassação e repressão que ocorriam principalmente nas associações sindicais e partidos de esquerda. A primeira onda de repressão após o golpe de Estado atingiu, principalmente, os sindicatos, justificando a deposição de várias lideranças operárias, a nomeação de interventores, o fechamento das organizações intersindicais e o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), que tensionavam a estrutura corporativista legitimada pela legislação brasileira e, por isso, eram vistas como foco de “demagogia”, “corrupção” e “comunismo”. Como explica Nagasava (2018NAGASAVA, Heliene. O sindicato que a ditadura queria: o Ministério do Trabalho no governo Castelo Branco (1964-1967). Jundiaí: Paco, 2018.), o golpe de 1964 e a onda repressiva que o sucedeu tinham caráter explicitamente empresarial, alinhados aos interesses desses setores.

Além disso, o evento na escola justificava a ação de Celso Suckow e da Comissão de Expurgos em favor da construção de uma “juventude sadia e especializada”, afastada da mobilização política de esquerda e disciplinada para exercer funções e trabalhos especializados em grandes empresas. Entre 1964 e 1965, o jornal da Aeti teve três edições publicadas. Nos três números, as ações que marcaram a repressão estudantil na onda repressiva do Ato Institucional, a destruição da sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Lei Suplicy Lacerda não foram comentadas nem citadas no O Micron. Essas ações conservadoras do governo militar também animaram a direção da ETN, na reforma educacional que Celso Suckow vinha implementando, e os estudantes da Aeti.

No cotidiano escolar, os protestos estudantis contra a ditadura ocorreram de forma paulatina, mas só viriam a ganhar força na Aeti em 1966. Como mostra Rodrigo Borba (2017BORBA, Rodrigo Cerqueira do Nascimento. Entre a técnica e tática: movimentos estudantis na Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca (1967-1978). Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2017.), a eleição de Iuri Xavier, militante comunista que se vinculou à Aliança Libertadora Nacional (ALN), para presidente da Aeti foi central na transformação do jornal O Micron em órgão de oposição, e na definição de táticas de tensionamento e crítica do autoritarismo da escola. Foi a partir dessa mudança que os estudantes da Aeti participaram das manifestações contra a ditadura em 1968 e se confrontaram com Edmar Oliveira - sucessor de Celso Suckow na direção da Escola Técnica Nacional e que dirigiu a instituição até 1986. Os estudantes da Escola Técnica também participaram das manifestações no campo da esquerda, desiludidos com as transformações ocorridas a partir do golpe de 1964 e engajados na luta anti-imperialista do romantismo revolucionário e nacionalista que agitou o universo cultural e político do período (Ridenti, 2000RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro: Record, 2000., 2010RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: Editora Unesp, 2010.; Borba, 2017BORBA, Rodrigo Cerqueira do Nascimento. Entre a técnica e tática: movimentos estudantis na Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca (1967-1978). Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2017.).

Todavia, na morte de Celso Suckow, em 1966, o corpo do professor e diretor foi velado na escola, em grande comoção, mobilizando estudantes, professores e funcionários. Celso Suckow foi lembrado como um benfeitor da instituição e exemplo de professor dedicado aos seus estudantes, querido por grande parcela dos “ex-alunos”. No obituário escrito no jornal da Aeti e que abriu este artigo, o lema “progresso, desenvolvimento e independência” por um Brasil industrializado foi usado para representar o propósito das ações de Celso Suckow ao longo de sua vida (Morreu..., 1 out. 1966MORREU cumprindo o dever. O Micron. ano 20, n. 50, p. 1, out. 1966.). Num clima de conciliação e apaziguamento, não se falava dos confrontos com o movimento estudantil e das ações repressivas apoiadas pelo ex-diretor. Assim, o nome da instituição foi alterado em sua homenagem: em 1967, passou a se chamar Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, e um busto em frente ao de Getúlio Vargas foi erigido em homenagem ao professor, diretor e patrono da escola.

A comunidade escolar da Escola Técnica via com otimismo a expansão da escola na reforma educacional liderada por Celso Suckow, que aumentava o número de vagas e prometia ingresso imediato no mercado de trabalho na expansão desenvolvimentista do governo militar. E as visões de direita e esquerda conciliavam-se no projeto nacionalista da modernização autoritária. Nos discursos em homenagem ao patrono da escola, agradecia-se ao presidente Castelo Branco (1964-1967) pela homenagem ao ex-diretor, evocava-se o exemplo de Celso Suckow como pai de família dedicado, engenheiro modelo, professor dedicado e “revolucionário”. Todavia, não se abordava sua participação na “revolução de 31 de março”, que era foco de controvérsia no ciclo de protestos estudantis contra a ditadura na segunda metade da década de 1960, mas na Revolução de 1930. Essa imagem de conciliação era especialmente enfatizada pela presença dos dois monumentos na frente da escola, dando destaque ao busto de Celso Suckow, colocado no hall de entrada da escola, na frente do busto de Vargas.

Na história oficial escrita por Demosthenes Dias, que reproduziu as homenagens realizadas em 1967, há um discurso intitulado “A ordem do dia não cumprida”, escrita por Lazinha Luiz Carlos em homenagem ao seu irmão. Na anedota contada pela irmã, identificava-se o irmão Celso Suckow com a imagem do pai que “não era nem um revolucionário, nem um defensor do regime” deposto em 1930, mas um “cumpridor do dever”. Durante as lutas do movimento civil-militar, o pai teria aconselhado Celso Suckow a se retirar do “caos” e “desordem” da Revolução de 1930, para cuidar da família, e o mesmo teria respondido: “Pois eu não cumpro: estamos em uma revolução! Não me retirarei daqui!” (Dias, 1980DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 1980., p. 184). Estamos diante da imagem de um revolucionário de 31 de março que tem sua representação modulada em razão do aumento do ciclo de protestos que culminaria no ano de 1968 e que afetou o cotidiano da Escola Técnica Celso Suckow da Fonseca.

Considerações finais

A identificação de Celso Suckow como patrono da escola transcorreu durante a ditadura civil-militar brasileira e seus projetos de reforma educacional da modernização autoritária, visando a construção de uma “juventude sadia e especializada” distante dos protestos estudantis da esquerda. A reforma do ensino técnico industrial liderada pelo diretor levou ao fim dos cursos básicos industriais, ao regime de internato e semi-internato, e promoveu a oferta de cursos médios e técnicos de quatro anos e o curso de Engenharia de Operações, fortemente atrelado aos interesses dos segmentos industriais da Guanabara. O golpe de 1964 foi estratégico para as mudanças que transcorreram nesse processo, estabelecendo uma ponte entre as reformas educacionais que vinham sendo discutidas no início dos anos 1960 e a modernização autoritária que se instaurou na ditadura.

Diferente de um ethos de juventude resistente que se apresenta como dominante na imaginação histórica dos anos 1960, o artigo evidencia três repertórios da cultura estudantil na Associação dos Estudantes Técnicos da Indústria. A tradição de protestos das “greves da boia” focadas no cotidiano escolar de uma instituição voltada para o ensino industrial às famílias de trabalhadores, o repertório de radicalização da luta política nacionalista e anti-imperialista dos anos 1960, e uma tradição conservadora e nacionalista autoritária que ganhou evidência em mobilizações anticomunistas e no golpe de 1964. Ao longo de nossa análise, acompanhando os protestos estudantis e manifestações no jornal O Mícron, evidenciam-se momentos em que esses repertórios ganharam destaque na cena pública nas disputas do cotidiano escolar, mas nas memórias de ex-alunos é possível observar um convívio tenso, simultâneo e contínuo dessas vertentes da cultura estudantil no cotidiano da instituição escolar.

Assim, a análise do artigo tenta alargar as análises sobre a história e memória da juventude dos anos 1960, enfocando os embates constitutivos das reformas educacionais, o projeto de Celso Suckow da Fonseca e as lutas estudantis da Aeti. A redução da escala de análise a uma instituição de ensino permite uma compreensão complexa do processo sócio-histórico, dando ênfase às diferentes temporalidades que se articulam na luta social e na construção da memória histórica.

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  • VICENTE. O jovem e o mundo técnico. O Micron, p. 1-8, maio 1964.
  • 1
    Entre 2017 e 2019, foram realizadas várias entrevistas de história de vida com ex-alunos da Escola Técnica Nacional e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Essas memórias ajudam a compreender a cultura estudantil do ensino industrial, e fragmentos delas foram publicadas em livro e analisadas em artigo (Oliveira, Cardoso, Barreto, 2018, 2023). Todavia, elas não são utilizadas no corpus de documentos deste artigo, por demandar uma reflexão sobre história oral, oralidades e memória social que fugiria ao escopo delimitado deste texto.
  • 2
    Atuou no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), entre 1946 e 1966, e foi membro do Sindicato dos Engenheiros. Cf. Silva, Neta (2019).
  • **
    A pesquisa contou com financiamento da Faperj, do Cefet-RJ e do CNPq. O autor agradece aos estudantes Alexia Vital, Augusto Peres, Daniel Rocha, Julia Aranha, Kathellyn Cristina, Letícia Andrade, Marina Brito e Marcella Costa, do grupo “Prosas - História Pública e Educação” (https://historiaemprosa.com.br/), por participarem da pesquisa em jornais da Biblioteca Nacional e lerem a primeira versão deste artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2021
  • Aceito
    27 Out 2021
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