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A CONTRIBUIÇÃO DAS MARCAS DIATÉCNICAS PARA TRADUTORES TÉCNICOS: USUÁRIOS DAS LÍNGUAS DE ESPECIALIDADE

THE CONTRIBUTION OF DIATECHNICAL LABELS TO TECHNICAL TRANSLATORS: USERS OF LANGUAGES FOR SPECIAL PURPOSES

RESUMO

Tendo em vista que a variação linguística é recorrente, um sentido dicionarizado marcado em função de sua variação diatécnica (HAUSMANN, 1977 apud WELKER, 2004WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149.) poderá guiar a escolha do tradutor, sobretudo aqueles em formação, com o intuito de ressaltar que uma determinada lexia deve ser utilizada em um contexto de uso singular e restrito. A partir disso, neste artigo, evidenciamos as relações entre Tradução e Terminologia sob a perspectiva da tradução especializada e da análise de questões terminológicas que os tradutores enfrentam, bem como estratégias e recursos mais adequados para saná-los, dentre eles, o olhar para as marcas de uso diatécnicas em verbetes de dicionários. Baseando-nos em Fajardo (1997)FAJARDO, A. (1997). Las marcas lexicográficas: concepto y aplicación práctica en la Lexicografía española. Revista de Lexicografía, v. 111, p. 31-57., Strehler (1998)STREHLER, R. G. (1998). As marcas de uso nos dicionários. In: OLIVEIRA, A. M. P.; ISQUERDO, A. N. (org.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. v. I. Campo Grande: Ed. UFMS, p. 169-178., Garriga Escribano (2003)GARRIGA ESCRIBANO, C. (2003). Marcas. In: GUERRA, A. M. M. (coord.). Lexicografía española. España: Editorial Ariel, S. A., p. 115-119. e Welker (2004)WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149., analisamos as marcas de uso que evidenciam um domínio especializado por meio da linguagem técnica presentes em unidades lexicográficas e seus respectivos equivalentes terminológicos em obras dicionarísticas escolares bilíngues impressas e on-line produzidas pelo grupo Michaelis que compõem o corpus deste estudo. Por fim, enfatizamos que as marcas de uso presentes em microestruturas de dicionários são uma forte aliada ao processo tradutório e apresentamos os diferentes graus de envolvimento terminológico que os tradutores podem se deparar durante o processo tradutório de seus textos. (Apoio: CAPES - DS/CNPq - PD 2).

Palavras-chave:
processo tradutório; Terminologia; dicionários bilíngues; microestrutura; marcas de uso

ABSTRACT

Considering linguistic variation is recurrent, a dictionarized sense marked according to its diatechnical variation (HAUSMANN, 1977 apud WELKER, 2004WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149.) may guide translator’s choice; especially those in training, in order to emphasize a given lexis must be used in a context of singular and restricted use. In this paper, we showed the relations between Translation and Terminology from a perspective of specialized translation and analysis of terminological issues that translators face, as well as the most adequate strategies and resources to solve them, among them, a look at the diatechnical labels in dictionary entries. Based on Fajardo (1997)FAJARDO, A. (1997). Las marcas lexicográficas: concepto y aplicación práctica en la Lexicografía española. Revista de Lexicografía, v. 111, p. 31-57., Strehler (1998)STREHLER, R. G. (1998). As marcas de uso nos dicionários. In: OLIVEIRA, A. M. P.; ISQUERDO, A. N. (org.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. v. I. Campo Grande: Ed. UFMS, p. 169-178., Garriga Escribano (2003)GARRIGA ESCRIBANO, C. (2003). Marcas. In: GUERRA, A. M. M. (coord.). Lexicografía española. España: Editorial Ariel, S. A., p. 115-119. and Welker (2004)WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149., we analyze labels that evidence a specialized domain through technical language in lexicographic units and their respective terminological equivalents in printed and online bilingual school dictionaries produced by Michaelis group that are corpus of this study. Finally, we emphasize labels in dictionaries’ microstructures are a strong ally to translation process and present different degrees of terminological involvement that translators may face during the translation process of their texts. (Supported by: CAPES - DS/CNPq - PD 2).

Keywords:
translation process; Terminology; bilingual dictionaries; microstructure; labels

INTRODUÇÃO

Tradução e Terminologia mantêm uma relação intrínseca abordada amplamente por vários autores (mencionados na próxima seção), tanto no campo dos Estudos de Tradução quanto na Terminologia. A partir disso, neste artigo, apontamos as relações entre Tradução e Terminologia sob a perspectiva da tradução especializada e da análise de questões terminológicas que os tradutores enfrentam, bem como estratégias e recursos mais adequados para saná-los, dentre eles, o olhar para as marcas de uso diatécnicas em verbetes de dicionários.

Almejamos trazer, partindo da TCT (Teoria Comunicativa da Terminologia), de modo sucinto, alguns princípios norteadores da Terminologia (CABRÉ, 1993CABRÉ, M. T. (1993) La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida.), bem como conceitos levantados por Hurtado Albir (2011)HURTADO ALBIR, A. (2011). Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. 5. ed. Madrid: Cátedra. sobre o processo tradutório. Pretendemos apontar aspectos que levam a Terminologia a contribuir não apenas durante o processo tradutório, mas também na elaboração de obras terminográficas, tais como os glossários, além de tratarmos a respeito da relação entre o tradutor e suas opções tradutórias para busca pela resolução de questões terminológicas no decorrer de seu trabalho.

Por fim, esperamos conseguir destacar a necessária reflexão, por parte dos tradutores, entre essas duas fundamentais áreas do conhecimento, pois Tradução e Terminologia mantêm estreita proximidade prática, visto que, ao ter um melhor (re)conhecimento terminológico, esses profissionais poderão otimizar eficientemente seu ofício.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A relação da Terminologia com outras áreas de especialidade nos motiva a desenvolver este estudo, pois interessa-nos relacioná-la aos Estudos da Tradução (com ênfase ao processo tradutório) e à Lexicografia (focando no registro das marcas de uso). Para tanto, trazemos, a seguir, autores e teorias que fundamentam nossas análises.

1.1 Terminologia e suas questões teóricas

Graças a Eugen Wüster, a Terminologia se consolida como disciplina científica ao criar a Teoria Geral da Terminologia (TGT), a qual se insere na Linguística Aplicada, proferida no III Congresso Internacional de Linguística Aplicada, suscintamente, da seguinte forma:

Pertencer à linguística aplicada é precisamente o que caracteriza, em larga medida, o estudo geral da terminologia. [...] Ela vai além da linguística por reunir conhecimentos linguísticos em todos os domínios da vida e torná-los úteis a todos os domínios da vida (WÜSTER, 1974 apud KRIEGER; FINATTO, 2004KRIEGER, M. G.; FINATTO, M. J. B. (2004). Introdução à terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto., p. 21).

A partir da perspectiva de que a Terminologia se relaciona com todos os domínios da vida e sua decorrente utilidade, Wüster afirma que os termos técnico-científicos se ocupam das funções primordiais de representação e transmissão dos conhecimentos especializados em todas as áreas do saber técnico-científico. Além disso, entende que a Terminologia se associa à tarefa de verificar e articular os usos dos termos em qualquer parte do planeta.

Ter um entendimento mais preciso da ciência terminológica e de sua aplicação prática (a Terminografia) implica seguir para uma análise profunda da importância da teoria e da prática terminológica na sociedade contemporânea, cujo fluxo de informação cresce, a cada dia, exponencialmente, tanto na produção oral quanto na escrita, sendo que uma parte significativa dessa informação se direciona para a comunicação entre especialistas em vários campos de pesquisa e desenvolvimento.

É difícil negar que a comunicação de conhecimentos e informações especializadas não dependem, em grande parte, da criação e disseminação de recursos terminológicos que respondam aos usos específicos que os especialistas fazem da linguagem e de sua evolução. Constata-se que a importância da Terminologia não se limita ao campo das ciências experimentais, mas é vital em outros, tais como Direito, Economia, Administração, Saúde, setor turístico, na indústria, dentre outros.

Embora a prática terminológica tenha se desenvolvido em paralelo com o desenvolvimento técnico-científico dos últimos séculos, seu estabelecimento como ciência independente pode ser considerado recente. Não há dúvidas de que a Terminologia, entendida como coleta, descrição, tratamento e apresentação dos termos de uma área específica do conhecimento, não pode ser considerada como “uma atividade prática que se justifique por si só”1 1 Tradução nossa para “una actividad práctica que se justifique por sí sola”. (CABRÉ, 1993CABRÉ, M. T. (1993) La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida., p. 36).

O trabalho dos terminólogos visa facilitar e assegurar o correto fluxo de informações entre especialistas e profissionais; nesse sentido, Cabré (1993CABRÉ, M. T. (1993) La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida., p. 71) afirma que “a terminologia, como todas as áreas científicas interdisciplinares, é uma ciência que se define em relação a outras áreas, das quais empresta um conjunto específico de conceitos”2 2 Tradução nossa para “la terminología, como todas las materias científicas interdisciplinarias, es una disciplina que se define en relación con otras materias, de las que toma prestados un conjunto específico de conceptos”. , ou seja, uma ciência interdisciplinar que também deve ser considerada transdisciplinar, já que não existe uma disciplina estruturada que não utilize Terminologia para comunicar o conhecimento especializado de sua área de estudo.

Essa natureza interdisciplinar não deve diminuir a importância da definição específica do objeto e do campo de estudo da Terminologia, visto que se baseia em elementos retirados de outras disciplinas a fim de elaborá-las e adaptá-las às necessidades dos próprios terminólogos, por vezes, abordando o objeto de estudo sob uma perspectiva diferente ou mesmo compartilhando recursos e metodologias em outras.

Vale mencionar que o aspecto polissêmico da unidade lexical “Terminologia” contribui para sua natureza interdisciplinar, o que a faz uma ciência com múltiplas facetas, dependendo da perspectiva que os pesquisadores adotam para tratar dela. Assim, a depender da atividade fundamental em que estejam envolvidos, os pesquisadores poderão considerá-la como: recurso, conjunto de metodologias e procedimentos, fator essencial no fluxo da comunicação, conjunto de organizações envolvidas em sua criação, estabelecimento e divulgação; disciplina acadêmica. Nós a tomamos como ciência e, portanto, por meio de sua metodologia e bases teóricas, podemos criar produtos terminológicos e estimular novos estudos.

Como destaca Cabré (1993CABRÉ, M. T. (1993) La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Antártida., p. 37), quatro são as funções fundamentais da Terminologia que correspondem a diferentes abordagens: (i) para a Linguística, a Terminologia é parte do léxico especializado por critérios temáticos ou pragmáticos; (ii) para disciplinas técnico-científicas, a Terminologia é o reflexo formal de sua organização conceitual e, consequentemente, um meio inevitável de expressão e comunicação; (iii) da perspectiva do usuário (direto ou intermediário), a Terminologia é um conjunto de unidades de comunicação úteis e práticas, a serem avaliadas com base em critérios de economia, precisão e adequação de expressão; por fim, (iv) do ponto de vista dos planejadores linguísticos, a Terminologia é uma área da linguagem na qual se deve agir para reiterar a existência, utilidade e sobrevivência de uma língua, e para assegurar, por meio de sua modernização, sua continuidade como meio de expressão.

Já no início do século XXI, de acordo com Krieger (2001KRIEGER, M. G. (2001). O termo: questionamentos e configurações. Tradterm, v. 7, p. 111-140., p. 138), uma nova abordagem teórica na Terminologia passa a favorecer aspectos não apenas da textualidade, mas sobretudo da discursividade, compreendendo o termo como “uma unidade linguístico-pragmática que integra os processos de comunicação humana”, por isso os termos sofrem influência dos processos intersubjetivos de comunicação, distinguindo-se dos outros itens lexicais em razão de sua particularidade: vincular-se a conteúdos técnico-científicos.

Segundo Cabré (2005)CABRÉ, M. T. (2005). La Terminología: Representación y Comunicación. Barcelona: IULA / Universitat Pompeu Fabra., é preciso não perder de vista a característica dinâmica das unidades terminológicas, capazes de se deslocarem de uma área de especialidade a outra (banalização) ou do léxico comum para o especializado (terminologização). Sobre esse último deslocamento, em entrevista, essa pesquisadora destacou que vem observando a terminologicidade como um aspecto ligado às unidades do léxico, cuja concepção de termo é considerado como um item que ativa um sentido preciso, em um dado contexto sociocomunicativo particular, pois “os termos não são unidades diferentes das unidades do léxico, e sim unidades do léxico que adquirem características específicas em seu uso discursivo” (KRIEGER; SANTIAGO; CABRÉ, 2013KRIEGER, M. G.; SANTIAGO, M. S.; CABRÉ, M. T. (2013). Terminologia em foco: uma entrevista comentada com Maria Teresa Cabré. Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 11, n. 3, p. 328-332., p. 331).

De uma perspectiva mais contemporânea, Krieger e Santiago (2014KRIEGER, M. G; SANTIAGO, M. S. (2014). Estudos de terminologia para a tradução técnica. Revista de Letras, n. 33, v. 2, p. 42-52. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/revletras/article/view/20447. Acesso em: 12 nov. 2021.
http://www.periodicos.ufc.br/revletras/a...
, p. 45) apontam para uma relevante alteração epistemológica na Terminologia estabelecida por três pontos substanciais:

  1. a introdução dos postulados linguístico-descritivos na Terminologia, o que a tornou, em definitivo, uma área da ciência da linguagem;

  2. a concepção de que o termo, junto à sua dimensão cognitiva, é uma unidade linguístico-pragmática, devendo ser examinado em seus contextos de ocorrência; c) a compreensão de que a comunicação especializada é o habitat das terminologias, o que determina a aproximação com estudos textuais e discursivos e mesmo o avanço do conhecimento sobre os componentes estruturadores das linguagens de especialidade.

A partir dos desdobramentos pelos quais passou sua face linguístico-textual, a Terminologia despertou interesse de investigação para muitos tradutores, pautando-se tanto nos aspectos comunicativos da Terminologia (como um recurso essencial para a comunicação de conhecimentos especializados) quanto nos aspectos linguísticos e metodológicos envolvidos na criação de bases de dados terminológicos como sendo fundamentais.

1.2 Estudos da Tradução e os tradutores

Segundo Farghal (1994)FARGHAL, M. (1994). Ideational Equivalence in Translation. In: BEAUGRANDE, R.; SHUNNAQ, A.; HELIEL, M. H. Language, Discourse and Translation in the West and Middle East. Amsterdam: J. Benjamins. p. 55-63., há variados aspectos que abarcam o processo tradutório, dentre os quais criatividade, registro, expressão, informação, além da proximidade entre as línguas e as culturas. À vista disso, esse autor traz à cena a questão da equivalência, sustentando que

a tradução é um modo de comunicação em que as escolhas são ainda sujeitas a um princípio de equivalência entre um texto-fonte numa língua e um texto-alvo noutra. O termo ‘equivalência’ designa, mais essencialmente, a correspondência de efeitos, ou seja, aqueles do original, no público da língua-fonte, versus aqueles da tradução no público da língua-alvo (FARGHAL, 1994FARGHAL, M. (1994). Ideational Equivalence in Translation. In: BEAUGRANDE, R.; SHUNNAQ, A.; HELIEL, M. H. Language, Discourse and Translation in the West and Middle East. Amsterdam: J. Benjamins. p. 55-63., p. 57).3 3 Tradução nossa para “Translation is a mode of communication where choices are further subjected to a principle of equivalence between a Source Text in one language and a Target Text in another. The term ‘equivalence’ most essentially designates the correspondence of effects, i.e., those of the original on the Source Language audience versus those of the translation on the Target Language audience”.

É preciso reforçar que é equivocada a concepção de que o processo tradutório corresponda a uma busca biunívoca pelos equivalentes linguísticos. Com isso, não argumentamos a favor da convicção sobre a impossibilidade tradutória, ao contrário, pois, assim como atesta Armstrong (2005ARMSTRONG, N. (2005). Translation, Linguistics, culture: A French-English handbook. Clevedon: Multilingual Matters., p. 9), julgamos que, independentemente de sua natureza, o conceito pode ser linguisticamente expresso. Para esse mesmo autor, a equivalência é concebida de maneira ineficaz, visto que cada significante não corresponde somente a um significado, quer dizer, os signos linguísticos possuem nuanças de carga semântica variável e mais relevante de uma determinada cultura para outra.

De acordo com Hurtado Albir (2011)HURTADO ALBIR, A. (2011). Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. 5. ed. Madrid: Cátedra., ao ser influenciada por variáveis e realizada em diversos espaços comunicativos, a tradução é um complexo ato comunicativo e, portanto, é um tipo de unidade textual que nasce em meio a um determinado contexto social. Em conformidade com a autora, Cronin (2006)CRONIN, M. (2006). Translation and Identity. New York: Routledge. realça a necessidade do reconhecimento das diferenças e a atenção às peculiaridades dos sistemas linguísticos utilizados por seus falantes, uma vez que se não ocorressem essas particularidades não haveria, como prática, a tradução. Considerando-o como um ato comunicativo, o texto traduzido pode ser encarado como uma prática ideológica, visto desenvolver-se em contextos sociais que sofrem influência de aspectos comunicativos, pragmáticos, bem como semióticos, geradores da comunicação.

Além do mais, Hurtado Albir (2011)HURTADO ALBIR, A. (2011). Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. 5. ed. Madrid: Cátedra. reforça que é a natureza social e semiótica que descreve as associações entre ideologia e tradução, uma vez que

a tradução, assim como a linguagem, é uma prática social que se produz em uma complexa interação com o contexto social, incidindo nela todos os tipos de condicionamentos e restrições (relações de poder, de censura etc.). Se todo processo de escrita é permeável pelos contextos ideológicos do meio e pelos do próprio autor, a reescrita, isto é, a tradução, também é o reflexo dos mecanismos ideológicos. No caso da tradução, a questão é mais complexa, já que o autor do texto original e o tradutor se inserem em dois espaços semióticos diferentes; por estarem imersos em contextos distintos (sociais, políticos, históricos), podem apresentar motivações ideológicas diferentes (HURTADO ALBIR, 2011HURTADO ALBIR, A. (2011). Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. 5. ed. Madrid: Cátedra., p. 616).4 4 Tradução nossa para “La traducción, como el lenguaje, es una práctica social que se produce en una compleja interacción con el contexto social, incidiendo en ella todo tipo de condicionamientos y restricciones (relaciones de poder, censura, etc.). Si todo proceso de escritura es permeable a los condicionamientos ideológicos del entorno y a los propios del autor, la reescritura que es la traducción también es reflejo de los mecanismos ideológicos. En el caso de la traducción, la cuestión es más compleja, ya que el autor del texto original y el traductor se insertan en dos espacios semióticos diferentes; al estar inmersos en contextos distintos (sociales, políticos, históricos) pueden tener motivaciones ideológicas diferentes”.

Destacamos o papel singular do tradutor, encarregado por construir pontes entre culturas ao realizar sua tradução, cumprindo função primordial ao identificar diferenças entre os sistemas linguísticos e preservá-las durante o processo tradutório; é um profissional cuja formação

[...] é composta por experiências diárias que lhe dão possibilidades de determinar através dos textos escritos a história e o tempo do outro. Uma dinâmica constante que depende de sua consciência, da sua conduta e da sua atitude como sujeito social dentro de um processo comprometedor e único (SANTOS; MARQUES, 2012SANTOS, F. E.; MARQUES, A. L. S. (2012). Tradução e língua: visão de mundos, mundos de visões. Conexão Letras, Porto Alegre, v. 7, n. 7, p. 73-80. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/conexaoletras/article/view/55461. Acesso em: 13 nov. 2021.
https://www.seer.ufrgs.br/conexaoletras/...
, p. 78).

À vista disso, salientamos que a tradução revela-se como uma prática social que almeja intermediar a comunicação entre diferentes culturas, pretendendo manter sua identidade e diversidade. Os variados contextos sócio-histórico-político-culturais, evidenciados pelo processo tradutório, confirmam o quão complexa é a tradução, sujeita às circunstâncias impostas pelo relacionamento mútuo ocorrido entre as culturas com as quais esteja envolvida. Conforme destacado por Rosa (2010ROSA, M. C. (2010). Introdução à (Bio)Linguística: linguagem e mente. São Paulo: Contexto., p. 171), “as línguas são diferentes, mas as traduções são evidências de que o que se diz numa língua pode ser traduzido em outra. As línguas não diferem no que pode ser expresso, mesmo que uma tradução não permita apreender um jogo de palavras na outra língua”.

Logo, constatamos que as particularidades correspondentes a cada cultura são formas de entender o mundo e, por consequência, o texto traduzido busca expressá-lo linguisticamente, transpondo a perspectiva tradicional de tradução literal (palavra por palavra) ou mesmo de adaptação entre os sistemas linguísticos. Ao contrário, o texto traduzido se revela, verdadeiramente, como uma releitura de contextos diversos, sendo, portanto, um processo que não se restringe às palavras, mas sim deve levar em consideração ambos os contextos, linguístico e extralinguístico.

1.3 Variação linguística

Muitos lexicógrafos e terminógrafos reconhecem e destacam a variação linguística em suas obras. Dentre eles, a fim de auxiliar na padronização das marcas de uso que a ressaltam, Hausmann (1977) propõe o seguinte agrupamento:

diacrônicas (por exemplo, antiquado, envelhecido, neologismo); diatópicas (aplicadas a acepções restritas a certas regiões ou países); diaintegrativas (usadas para assinalar estrangeirismos); diamediais (diferenciam entre as linguagens oral e escrita); diastráticas (por exemplo, chulo, familiar, coloquial, elevado); diafásicas (diferenciam entre as linguagens formal e informal); diatextuais (assinalam que o lexema - ou acepção - é restrito a determinado gênero textual; por exemplo, poético, literário, jornalístico); diatécnicas (informam que a acepção pertence a uma linguagem técnica, a um tecnoleto); diafreqüentes (em geral: raro, muito raro); diaevaluativas (mostram que o falante, ao usar o lexema, revela certa atitude; por exemplo, pejorativo, eufemismo); dianormativas (indicam que o uso de certa acepção - ou lexema - é errado pelas normas da língua padrão) (HAUSMANN, 1977 apud WELKER, 2004WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149., p. 131).

À primeira vista, poderíamos acreditar que a lista proposta por Hausmann seria capaz de sistematicamente gerar um padrão a ser seguido, bastando somente adequar as acepções dos verbetes a um dos 11 agrupamentos supramencionados. Entretanto, segundo Welker (2003WELKER, H. A. (2003). Uma pequena introdução à lexicografia. Brasília: Thesaurus., p. 100), poderíamos nos deparar com microssistemas que fugiriam à regra, por exemplo, tomando-se os estrangeirismos (rapidamente identificáveis), é difícil precisar o momento em que deixam de sê-lo, quer dizer, a grande discussão diz respeito a determinar as fronteiras e demarcá-las de modo seguro. Da mesma maneira, há claras dificuldades para se precisar marcas diatópicas (regionalismos), por exemplo, em obras dicionarísticas da língua inglesa; o que se nota é a presença das variantes britânica e norte-americana em detrimento a outras de menor prestígio mundial.

1.4 Marcas de uso

Baseando-nos em Fajardo (1997)FAJARDO, A. (1997). Las marcas lexicográficas: concepto y aplicación práctica en la Lexicografía española. Revista de Lexicografía, v. 111, p. 31-57., Garriga Escribano (2003)GARRIGA ESCRIBANO, C. (2003). Marcas. In: GUERRA, A. M. M. (coord.). Lexicografía española. España: Editorial Ariel, S. A., p. 115-119. e Welker (2004)WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149., analisamos as marcas de uso que evidenciam um domínio especializado por meio da linguagem técnica presentes em itens lexicais e seus respectivos equivalentes terminológicos.

As marcas de uso (na literatura, conhecidas similarmente por rótulos, rubricas ou etiquetas) propiciam uma melhor descrição das unidades lexicográficas. Segundo Lara (2004)LARA, L. F. (2004). O dicionário e suas disciplinas. In: ISQUERDO, A. N.; KRIEGER, M. da G. (org.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. v. II. Campo Grande: Editora UFMS, p. 133-152., ao se etiquetar as acepções, a obra lexicográfica contribui para o entendimento do item lexical em contextos específicos. Da mesma forma, Strehler (1998STREHLER, R. G. (1998). As marcas de uso nos dicionários. In: OLIVEIRA, A. M. P.; ISQUERDO, A. N. (org.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. v. I. Campo Grande: Ed. UFMS, p. 169-178., p. 172) afirma que são importantes recursos que acentuam a variação linguística, pois “[...] caracterizam as palavras que fogem, sob certos aspectos, ao uso corriqueiro, normal, da língua de uma comunidade linguística”.

De acordo com Garriga Escribano (2003)GARRIGA ESCRIBANO, C. (2003). Marcas. In: GUERRA, A. M. M. (coord.). Lexicografía española. España: Editorial Ariel, S. A., p. 115-119., as marcas de uso são recursos linguísticos que servem para realçar os contextos em que devem figurar os itens lexicais em função de sua restrição de uso, por essa razão sua presença é fundamental para os consulentes, principalmente para os profissionais especializados, como os tradutores. Na descrição do verbete, seus consulentes pressupõem encontrar informações referentes: (i) à hodiernidade (antiquado, em desuso ou arcaico); (ii) à disposição geográfica (espaço por onde o termo circula); (iii) ao registro (informal, literário ou gíria) em que o termo é utilizado; (iv) ou mesmo ao efeito de sentido que tal uso possa causar (jocosidade ou pejoratividade).

Lara (1996)LARA, L. F. (1996). Teoría del diccionario monolingüe. México: El Colegio de México, Centro de Estudios Lingüísticos y Literarios. afirma que esses rótulos estabelecidos, por vezes arbitrários, são normativos, dado que alertam os consulentes a respeito do uso e, no caso dos termos, de sua perspectiva técnica, os quais, na atualidade, têm se mostrado mais descritivos que normativos, almejando localizar com maior precisão seus contextos técnicocientíficos. Como a relação entre as marcas e outros elementos do verbete que podem gerar imprecisões à medida que a etiquetagem se refira a apenas uma ou a diversas acepções, Welker (2004WELKER, H. A. (2004). Marcas de uso. In: WELKER, H. A. Dicionários: uma pequena introdução à lexicografia. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Thesaurus, p. 130-149., p. 134) reforça o valor das marcas de uso na elaboração dos verbetes e decorrente consulta:

[...] apesar de todas as dificuldades, seria desejável que houvesse mais marcas de uso do que se verificam na maioria dos dicionários. Elas são imprescindíveis quando se precisa de ajuda na produção de textos, mas também são importantes na recepção, pois sem elas não se alcança uma compreensão exata do texto.

Em virtude da presença das marcas, o consulente é capaz de verificar os limites de uso para determinado termo, por isso Garriga Escribano (2003)GARRIGA ESCRIBANO, C. (2003). Marcas. In: GUERRA, A. M. M. (coord.). Lexicografía española. España: Editorial Ariel, S. A., p. 115-119. propõe uma subdivisão das marcas em diafásicas, diacrônicas, diastráticas, diatópicas, diatécnicas (foco deste estudo) e marcas de transição semântica.

Para Fajardo (1997)FAJARDO, A. (1997). Las marcas lexicográficas: concepto y aplicación práctica en la Lexicografía española. Revista de Lexicografía, v. 111, p. 31-57., mesmo havendo muitos problemas a respeito do uso das etiquetas nas obras lexicográficas - desde a ausência de uma definição clara dos conceitos atribuídos a cada marca usada até a sobreposição de valores (o que diferencia popular e coloquial? E arcaico e obsoleto?), existe a necessidade de se padronizar as marcas de uso a fim de suprimir possíveis imprecisões.

Logo, a ausência de um sólido aporte teórico que sustente o estabelecimento de uma categorização unânime referente às marcas de uso pode levar a abordagens subjetivas e discordantes nas obras dicionarísticas. Por conseguinte, torna-se necessária a verificação, reflexão e análise da tipologia de etiquetagem existente, sobretudo quando se trata de dicionários bilíngues (DBs), visto que otimizam o processo tradutório.

2. METODOLOGIA

Sob a perspectiva de Hurtado Albir (2011HURTADO ALBIR, A. (2011). Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. 5. ed. Madrid: Cátedra., p. 151), os estudos de tradução podem ser divididos em teóricos, aplicados e descritivos. Dentre eles, interessa-nos o caráter descritivo, dado nosso foco nas possíveis escolhas do tradutor durante o processo tradutório.

Neste estudo, apontamos as relações entre Tradução e Terminologia sob a perspectiva da tradução especializada e da análise de questões terminológicas que os tradutores enfrentam, bem como estratégias e recursos mais adequados para saná-los, dentre eles, o olhar para as marcas de uso diatécnicas em verbetes de dicionários.

Portanto, a partir dos DBs de nosso corpus, coletamos entradas, aleatoriamente, nas quais suas acepções estão etiquetadas com marcas diatécnicas a fim de levantar reflexões acerca das escolhas tradutórias. Em seguida, analisamos as marcas de uso que evidenciam um domínio especializado por meio da linguagem técnica presentes nas acepções dessas unidades lexicográficas e seus respectivos equivalentes terminológicos em obras dicionarísticas escolares bilíngues impressas e on-line (português-francês/espanhol/inglês/italiano, doravante PT-FR, PT-ES, PT-IN, PT-IT, respectivamente) produzidas pelo grupo Michaelis que compõem o corpus deste estudo.

3. TERMINOLOGIA, EQUIVALÊNCIA E O PROCESSO TRADUTÓRIO

Bevilacqua e Kilian (2017BEVILACQUA, C. R.; KILIAN, C. K. (2017). Tradução e Terminologia: relações necessárias e a formação do tradutor. Domínios de Lingu@ gem, v. 11, n. 5, p. 1707-1726., p. 1712) reiteram que o texto especializado se encontra em uma zona de intersecção entre a Tradução e a Terminologia por serem áreas inter- e transdisciplinares, considerando “o texto e a situação comunicativa como fatores fundamentais”, em que pesem a “identificação das características dos textos (situação comunicativa, temática, estrutura textual etc.) para realizar suas atividades específicas”.

À vista disso, é preciso reforçar que o termo é o objeto de estudo da Terminologia, a qual não se ocupa da palavra, apesar de ambos serem itens lexicais. Ao tomarmos em mãos obras lexicográficas - como é o caso de nosso corpus - não podemos nos furtar do cuidado em verificar que, segundo Krieger (2013KRIEGER, M. G. (2013). A heterogeneidade do léxico especializado e perfis terminológicos. In: In: MURAKAWA, C. A. A.; NADIN, O. L. (org.). Terminologia: uma ciência interdisciplinar. Araraquara: Cultura Acadêmica, p. 262-282., p. 31), “no caso da palavra, o significado é variável, porque contextual, o que explica a polissemia lexical. Da mesma forma, a TCT preconiza que os termos também devem ser entendidos a partir da sua contextualização, em seu habitat natural de uso, circulando, portanto, por vários domínios especializados, cada um com seu significado singular.

Portanto, os conceitos, bem como suas denominações, são assimétricos nos variados sistemas linguísticos, por conseguinte, em suas culturas. Em razão disso, os conceitos variam pela influência de diferentes fatores em uma comunidade linguística, sendo que aqueles conceitos que advêm de uma área de especialidade se organizam conforme a perspectiva de cada comunidade científica, gerando aproximação ou distanciamento a esses conceitos, o que podemos entender como graus de equivalência entre as línguas.

3.1 Equivalência total

Nesse nível de equivalência, presume-se que todos os traços semânticos de um termo são contemplados por outro. Conforme Adamska-Salaciak (2010ADAMSKA-SALACIAK, A. (2010). Examining Equivalence. International Journal of Lexicography, Oxford, v. 23, n. 4, p. 387-409., p. 407), com relação aos DBs, a equivalência significa a relação de equiparação entre aspectos funcionais, semânticos e pragmáticos de dois ou mais termos. Acerca disso, Atkins e Rundell (2008)ATKINS, B. T. S.; RUNDELL, M. (2008). The Oxford Guide to Practical Lexicography. New York: Oxford University Press. entendem que

as relações […] são estabelecidas entre uma unidade lexical (simples ou complexa em um de seus sentidos), na Língua Fonte (LF), e uma unidade lexical na Língua Alvo (LA). É perda de tempo tentar traçar todas as possibilidades de relações entre um lema na LF e seus possíveis equivalentes na LA e vice-versa. As traduções das entradas da LF são oferecidas dentro dos limites de uma unidade lexical, o que significa que são traduções da entrada em um sentido único (ATKINS; RUNDELL, 2008ATKINS, B. T. S.; RUNDELL, M. (2008). The Oxford Guide to Practical Lexicography. New York: Oxford University Press., p. 468).5 5 Tradução nossa para: “The relationships [. . .] are between a lexical unit (a word or MWE [multi-word expression] in one of its 47 senses) in the SL, and a lexical unit in the TL. It’s a waste of time to try to plot out all the panoply of relationships between one SL lemma and all its possible TL equivalents, and vice versa. Translations of SL headwords are offered within an LU, that is, they are translations of the headword in a single sense”.

A persistente busca pela equivalência total, perfeita, raramente se confirma em obras dicionarísticas (DUVAL, 2008DUVAL, A. (2008). Equivalence in bilingual dictionaries. In: FONTENELLE, T. (ed.). Practical Lexicography: A Reader. New York: Oxford University Press, p. 273-282.), pois dificilmente um DB conseguirá oferecer ao seu consulente uma absoluta série de equivalentes possíveis verificáveis nas mais diversas contextualizações. Definitivamente, a provável equivalência total encontrada serve somente para reforçar a ideia de que a obra bilíngue é um repositório de itens lexicais estanques nos diversos pares de línguas.

Selecionando, aleatoriamente, algumas unidades lexicográficas, notamos uma tendência de se acreditar em uma equivalência total, principalmente, quando o consulente se vê frente a um item lexical em língua estrangeira idêntico ao significante em sua própria língua, levando-o a aceitar como verdadeiro e fiel também seu significado.

Iniciemos a análise dos verbetes transcritos6 6 Os verbetes foram transcritos tais quais se apresentam nos seus respectivos dicionários, porém, foi retirada a parte que descrevia suas expressões por não interessarem ao escopo desta pesquisa, exceto quando a presença das marcas de uso técnicas se fizeram relevantes para as análises. a partir do Quadro 1.

Quadro 1
Itens lexicais que apresentam equivalência total entre as línguas

As entradas cacto e caule possuem todos seus equivalentes, nas quatro línguas em estudo, marcados como termos da botânica (BOT); já as unidades cassar, citação e legado possuem o sentido dos termos almejados em português, porém, somente aquelas que estão etiquetadas pelas marcas de uso (seja por DIR ou JUR)7 7 DIR e JUR são abreviaturas, respectivamente, das marcas de uso ‘Direito’ e ‘Jurídico’. poderão otimizar o processo tradutório, visto que os equivalentes não marcados levarão seus tradutores a buscar pela confirmação sobre sua restrição contextual de uso, sendo que a língua italiana é aquela que mais oferece esse recurso linguístico.

Ao analisarmos capitular, notamos a presença de equivalentes em outras línguas, porém, um tradutor inexperiente poderá se iludir caso deseje a acepção do termo que equivalha a “vtd 7 JUR Concentrar acusações em capítulos: O promotor capitulou um rol de acusações” (MICHAELIS, on-line), visto que nenhum dos equivalentes propostos abrange esse sentido. Em espanhol, francês e italiano, são apresentados equivalentes que podem levar um tradutor técnico inexperiente a optar por elas. No entanto, em italiano, capitolare não possui essa acepção registrada na Treccani (on-line)TRECCANI. (2021). Vocabolario della lingua italiana. Disponível em: https://www.treccani.it/vocabolario/. Acesso em: 11 nov. 2021.
https://www.treccani.it/vocabolario/....
, mas aparece com a marca OB (obsoleto) em Rizzo (2000RIZZO, D. (Coord.) (2000). Dicionário Italiano De Mauro versão 1.0.3.5. Torino: Paravia Bruno Mondadori Editori. - “subdividir em capítulos”8 8 Tradução nossa para “suddividere in capitoli”. ); já em espanhol, uma das acepções do homônimo capitular2 registra “intr. Dispor, ordenar, resolver”9 9 Tradução nossa para “intr. Disponer, ordenar, resolver”. (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, on-lineREAL ACADEMIA ESPAÑOLA DE LA LENGUA. (2021). Sítio Web de la Real Academia Española de la Lengua. Disponível em: https://dle.rae.es/. Acesso em: 10 nov. 2021.
https://dle.rae.es/....
), em que se pode considerar certa aproximação ao sentido do termo que se deseja em português; por fim, em francês, não há registro desse sentido (LE PETIT ROBERT, 2009ROBERT, P. (2009). Le Nouveau Petit Robert. Dictionnaire de la langue française, sous la direction de Marianne Durand, version numérique du Petit Robert. Paris: Le Robert Casa Editrice.).

3.2 Equivalência parcial

É prudente repensar a pretensa equivalência total em razão de nenhuma, ou pouca, semelhança, seja na forma ou no conteúdo do termo. Portanto, faz-se necessário considerar a constante ocorrência de um grau de equivalência parcial em que itens lexicais associados tenham um relacionamento semântico não pleno. Sob a perspectiva de Haensch et al. (1982)HAENSCH, G. (1982). El problema de las equivalencias léxicas. In: HAENSCH, G.; WOLF, L; ETTINGER, S.; WERNER, R. La lexicografia. Madrid: Editorial Gredos, p. 518-524., em meio às dificuldades para se alcançar equivalência interlinguística, é preciso distinguir a polissemia efetiva no item lexical da língua fonte ou ainda a mudança de categoria gramatical na língua de chegada.

Quadro 2
Itens lexicais que apresentam equivalência parcial entre as línguas10 10 Na versão on-line, ‘Elet’ se apresenta grafada de modo diferente das outras marcas de uso do mesmo verbete, configurando-se um exemplo de incoerência lexicográfica com relação ao tratamento das marcas.

Liparini Campos e Braga (2019LIPARINI CAMPOS, T.; BRAGA, C. (2019). As Subcompetências Estratégica e Instrumental na Formação em Tradução. Domínios de Lingu@ gem, v. 13, n. 2, p. 577-603., p. 591-592), em suas pesquisas, apontam para o fato de que, nas traduções técnico-científicas, os tradutores em formação tendem a realizar mais pausas durante o processo de tradução e de revisão do que para outros tipos de textos a serem traduzidos, pois reconhecem os textos técnicos como de maior dificuldade para serem traduzidos, associando-se a tradutores novatos ou em formação. Por isso, quanto mais familiar o tradutor estiver junto à descrição na microestrutura, maior sucesso terá em seu processo tradutório; consequentemente, as marcas diatécnicas poderão contribuir enormemente à sua realização.

Ao se utilizar uma distinção das acepções por meio das marcas de uso, contribui-se para o melhor entendimento dos consulentes; assim, o tradutor se beneficia dessa presença na microestrutura, principalmente se esse profissional transita por mais de duas línguas, pois, ao encontrar a mesma etiquetagem nos dicionários, será levado a compreender se tratar do equivalente almejado. Por exemplo, ao encontrar ANAT11 11 ANAT é abreviatura da marca de uso ‘Anatomia’. como etiqueta para a entrada bexiga, consequentemente, será levado a compreender que se trata do mesmo equivalente nas diferentes línguas. Da mesma forma, na tradução técnica de um texto da flora ou da arquitetura, a entrada planta poderá ter seus equivalentes nas quatro línguas encontrados.

A respeito dos termos que equivalem a dispositivo (em português), temos dispositivo (em espanhol) e dispositif (em francês) que não possuem marcas de uso que discriminem os diferentes contextos. Embora não haja mudança do termo, é necessário que estejam presentes as marcas referentes aos campos da mecânica e do direito. Essa sugestão é mais válida quando nos referimos à língua inglesa, visto que gadget, device e mechanism não são marcados e correspondem a uma mesma acepção; por consequência, surge a dúvida ao tradutor sobre qual item escolher, visto que será preciso averiguar qual será o termo mais adequado à sua tradução, o que não ocorre no DB italiano por estar contextualmente marcado.

Para a entrada cadência, o tradutor pode desconfiar que é um termo pertencente a áreas específicas e, então, buscar sua confirmação terminológica para contextos de uso em língua espanhola ao comparar os equivalentes das línguas românicas marcados em francês e italiano.

Com relação aos termos estrangeiros que equivalem à herança, nas línguas românicas, conseguimos identificar seus dois contextos de uso (DIR ou JUR e FISIOL)12 12 FISIOL é abreviatura da marca de uso ‘Fisiologia’. , porém, em inglês, as três diferentes acepções não estão marcadas e, desse modo, obrigam o tradutor a procurar por cada um de seus contextos de uso, e decidir qual é aquele que lhe interessa para sua tradução.

Nas entradas tromba, tronco e zangão, temos uma não marcação em espanhol e inglês e, portanto, o tradutor precisará verificar se são equivalentes pertencentes à Zoologia (abreviada por ZOOL) e, em seguida, seu conteúdo semântico; já, tronco possui um uso muito produtivo da etiquetagem nas microestruturas, colaborando para uma maior rapidez e objetividade durante o processo tradutório; por fim, enquanto os termos românicos para zangão estão marcados por ZOOL, em inglês, a etiqueta ENTOM (entomologia), especifica mais diretamente seu termo, uma vez que é o ramo da Zoologia que estuda os insetos.

A ausência de marcas não se configura em válvula e vanguarda, ao contrário, há uma presença constante delas, exceto no DB espanhol. Trouxemos esses exemplos para refletir sobre a ordenação dos termos, visto não ser essa uma informação explicitada nas obras do corpus. Já sabemos que o uso das marcas é fundamental para auxiliar seus consulentes sobre a escolha terminológica, entretanto, no DB francês, temos a ordem valvule, soupape e não soupape, valvule; essa ordenação influenciaria na escolha? Valvule seria o termo mais frequente nas três áreas? Por que os termos militares em italiano avanguardia e fronte vêm nessa sequência? Pela ordem alfabética? Não sabemos porque os DBs não nos informam e, para um consulente especializado, como um tradutor, acreditamos que seja relevante ter essa informação disponibilizada.

Caso não existam as marcas de uso para apartar os termos, a polissemia poderá gerar dúvidas no momento da escolha tradutória, pois os termos equivalentes, localizados nas respectivas microestruturas dos DBs do corpus possuem traços semânticos que os conectam.

Como se constata, é extremamente complexa a relação entre os termos equivalentes, dado que as semelhanças e as divergências terminológicas que ocorrem nas cinco línguas deste estudo poderiam ser sanadas ou minimizadas pela inserção recorrente das marcas de uso.

3.3 Equivalência vazia

Conforme apontado por Szende (apud BÉJOINT; TROIRON, 1996BÉJOINT, H.; TROIRON, P. (org.). (1996). Les dictionnaires bilingues. Louvain: Duculot., p. 113), todos os sistemas linguísticos revelam vãos, dado que, “em uma perspectiva contrastiva, há lacunas cada vez que um signo da língua de partida não encontra equivalente na língua de chegada”13 13 Tradução nossa para: “Dans une perspective contrastive il y a lacune chaque fois qu’un signe de la langue de départ ne trouve pas d’équivalent dans la langue d’arrivée”. . De fato, a questão a respeito da equivalência pode ser evidenciada em duas esferas (do real ou da língua), levando-nos a refletir se: “O real existe ou não na cultura dos locutores? A palavra que o designa existe ou não na língua dos locutores?”14 14 Tradução nossa para: “Le réel existe-t-il ou non dans la culture des locuteurs? Le mot qui le désigne existe-t-il ou non dans la langue des locuteurs?” .

Ao tratarmos do processo tradutório, há mais de uma língua envolvida; sendo assim, a utilização de dicionários e glossários é matéria que instiga nossas reflexões, já que “é indiscutível que os sistemas linguísticos, a cultura e a visão de mundo na nomeação da realidade divirjam” (XATARA, 1998XATARA, C. M. (1998). A tradução para o português de expressões idiomáticas em francês. 1998. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara., p. 4). Sob esse ponto de vista, Rey-Debove (1998)REY-DEBOVE, J. (1998). La linguistique du signe: une approche sémiotique du langage. Paris: Armand Colin. afirma que as obras (lexicográficas e terminográficas) colaboram para evidenciar as relações existentes entre signos de diferentes sistemas linguísticos, porém, pouco se constata a respeito do extralinguístico, uma vez que, na trajetória em que um signo linguístico parte de uma língua e chega a outra, há a tendência de preservação do mesmo conteúdo semântico, apesar de sabermos que não ocorre sinonímia perfeita entre línguas diferentes.

Blanco (1997BLANCO, X. (1997). Lexicographie bilingue (français-espagnol) et traduction: l’exemple. Meta, v. 42, n. 2, p. 133-141., p. 133) aponta para o fato de que, como consulentes de obras bilíngues, não somente buscamos a “equivalência de uma palavra, mas também da capacidade de compreender (decodificação), de produzir (codificação) ou mesmo de traduzir formas que pertencem a um determinado discurso”15 15 Tradução nossa para: “L’équivalence ‘d’un mot dans une autre langue’, mais pour mener à bien des tâches de décodage (compréhension), d’encodage (production) ou de traduction de formes appartenant à un discours”. . Ingenuamente, diversos usuários inclinam-se para considerar que “a tradução é sempre possível e que existe necessariamente uma equivalência”16 16 Tradução nossa para: “la traduction est toujours possible et une équivalence existe nécessairement”. (SZENDE apud BÉJOINT; TROIRON, 1996BÉJOINT, H.; TROIRON, P. (org.). (1996). Les dictionnaires bilingues. Louvain: Duculot., p. 119), aliando-se à presunção de que a principal função dessas obras seja oferecer equivalência a toda e quaisquer unidades lexicográficas nos sistemas linguísticos envolvidos.

Segundo Zgusta (1971ZGUSTA, L. (1971). Manual of Lexicography. Mouton: Paris., p. 325),

uma explicação do significado da unidade lexical da língua-fonte deve ser sempre dada, sem importar como o lexicógrafo tenta preencher o vazio onomasiológico na língua-alvo a não ser que se espere que o usuário tenha um bom conhecimento da língua-fonte ou faça uso frequente de outro dicionário, particularmente, de um dicionário monolíngue (DM) da língua-fonte.17 17 Tradução nossa para: “an explanation of the meaning of the source-language lexical unit is Always to be given, irrespective of how the lexicographer tries to fill the onomasiological gap in the target language unless the user is expected to have a good knowledge of the sourcelanguage or to make frequent use of another dictionary, especially of a monolingual dictionary of the source-language”.

Verifica-se que as entradas em português nem sempre possuem um equivalente direto em uma das quatro línguas estrangeiras deste estudo, o que leva o tradutor a consultar outras obras ou mesmo especialistas da área a fim de descobrir o termo apropriado ou então lançar mão de paráfrases definitórias nos casos de equivalência zero, conforme exemplos no Quadro 3.

Quadro 3
Itens lexicais que apresentam ausência de equivalentes entre as línguas

Ao verificarmos as entradas anta e tapir, observamos que a língua espanhola não registra equivalência; a língua italiana oferece o mesmo equivalente para ambas entradas; a língua francesa reconhece equivalência para anta, mas não para tapir; e, por fim, a língua inglesa não entende anta como sinônimo de tapir; assim, enquanto anta possui uma tradução parafrásica relacionada à arquitetura (marca de uso utilizada), tapir é marcado como animal da fauna brasileira. Com isso percebemos que tradutores poderão se deparar com termos da fauna ou da flora, além de incorrer em equívocos tradutórios. Uma maneira para conferir se, de fato, os equivalentes são aqueles presentes nas obras dicionarísticas é verificar seu nome científico nas línguas envolvidas, por exemplo, Tapirus terrestris refere-se à anta (ou tapir), portanto, encontramos tapir amazónico, danta, anta, tatabra, mbeorí, mboreví o sachavaca (em espanhol).

Em conversível, constatamos que o termo substantivo equivalente está caracterizado por uma informação lexicográfica entre parênteses (Automóvil) que não é a etiqueta convencionada (AUTOM18 18 AUTOM é a abreviatura da marca de uso ‘Automobilismo’. ); ademais, particularmente, esse dicionário bilíngue traz várias informações complementares para seus verbetes.

Outro item lexical a ser analisado é culposo, pois, em espanhol e francês, não há equivalentes lematizados. Embora em inglês o adjetivo seja dicionarizado, em italiano, a marca de uso DIR aponta sua restrição de sentido para o campo jurídico, fato que contribui para as traduções técnicas dessa área.

Com relação a estribo, constatamos que há variada oferta de equivalentes, sobretudo pela indicação de usos via marcas restritivas, facilitando a busca dos tradutores que necessitam dos termos para contextos específicos, tais como AUTOM, EQUIT19 19 EQUIT é a abreviatura da marca de uso ‘Equitação’. e ANAT.

Já para a entrada fuselagem, a busca por termos técnicos em espanhol e francês é em vão nos dicionários bilíngues do grupo Michaelis; por sua vez, no bilíngue inglês-português, além do termo, há sua definição, apesar de não haver nenhuma marca de uso que chancele sua restrição terminológica, a qual figura no bilíngue italiano antes do termo equivalente AER (aeronáutica).

Da mesma maneira, um tradutor de textos religiosos não encontra termos equivalentes para a entrada núncio em espanhol e italiano, mas sim em francês e inglês, sendo que somente no DB de língua inglesa irá encontrar a marca de uso ECLES (eclesiástico) ideal para sua tradução.

Com relação à busca do termo equivalente a inciso, o tradutor técnico precisará pesquisar suas definições em dicionários monolíngues, uma vez que a equivalência oferecida nas línguas francesa, inglesa e italiana não possui marcas de uso que o auxiliam na escolha tradutória. Na busca pelo termo que equivalha a pajé, em português, os DBs espanhol e francês não ajudarão, porém, nos DBs inglês e italiano sim, uma vez que além do mais são etiquetados pela restrição geográfica de uso brasileiro. Por fim, na entrada têmpera, sua linguagem técnica relacionada à área da pintura leva um tradutor direto para seu termo almejado.

Pelo recorte de entradas do Quadro 3, notamos que a língua espanhola é aquela que oferece menos equivalentes, além de não indicar nenhuma restrição terminológica de uso; já a língua inglesa é a que mais oferece equivalentes e definições parafrásicas. Por outro lado, as línguas francesa e italiana, desse grupo de dicionários bilíngues, são aquelas que não apenas oferecem equivalentes tradutórios, mas principalmente os etiquetam com marcas de uso que auxiliam na busca mais precisa e desejada pelos tradutores técnicos.

Após analisarmos as possibilidades de equivalência, vale a pena discorrermos sobre o fato de que muitos tradutores, ao se familiarizarem com determinadas áreas do conhecimento, decidem se manter nelas e, com isso, otimizam sua produtividade terminológica, o que tende a beneficiar sua prática, conforme aponta Krieger (2006KRIEGER, M. G. (2006). Do ensino da terminologia para tradutores: diretrizes básicas. Cadernos de tradução, v. 1, n. 17, p. 189-206., p. 204),

por este viés, o futuro profissional já poderá escolher uma área de especialização para seu trabalho, ampliando sua competência, ao conhecer e, mesmo dominar, os termos e conceitos de um campo de especialidade. Adentrar na especialidade é um requisito sempre necessário ao tradutor técnico.

Logo, possuindo um conhecimento mais aprofundado, por exemplo, em virtude do reconhecimento das marcas de uso, poderão diminuir os níveis de dificuldade para o tratamento e manejo dos termos, sendo que a gestão terminológica se mostrará próspera se estiver alinhada a um conhecimento teórico mínimo sobre a elaboração, contextualização e funcionamento das terminologias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo, esperamos ter deixado evidente a relação entre Tradução e Terminologia, além de realçar que as marcas diatécnicas presentes nas obras dicionarísticas podem auxiliar no processo tradutório. Pela perspectiva terminológica, é possível (re)conhecer os termos e as formas de dizer de uma área do conhecimento ou mesmo de uma comunidade linguística, sendo que, de posse desse conhecimento, o tradutor de textos técnicos terá maior segurança no momento de sua escolha tradutória.

À vista disso, acreditamos que este seja um estudo que contribui outrossim para os estudantes de tradução, uma vez que os DBs do corpus são muito utilizados por tradutores em formação, os quais precisam ter subsídios para a organização e escolha do material de consulta (dicionários, glossários etc.) para realização de seus estudos e atividades, bem como para a estruturação do conhecimento das áreas específicas. Parece-nos pertinente essa instrumentalização da prática tradutória.

Conscientes das marcas de uso, sobretudo, das diatécnicas, os tradutores profissionais ou em formação podem otimizar sua prática em função do tempo despendido para traduzir e revisar suas traduções, além de identificar o modo mais eficaz de pesquisa para descobrir soluções tradutórias apropriadas e traçar melhor as estratégias de tradução.

Por fim, sustentamos que as marcas de uso presentes em microestruturas de dicionários são uma forte aliada ao processo tradutório, conforme pode ser notado a respeito dos diferentes graus de envolvimento terminológico que os tradutores podem se deparar durante o processo tradutório de seus textos. Um olhar atencioso às marcas de uso permitirá que o tradutor conheça bem o funcionamento dos termos nas variadas situações comunicativas em que se manifestam. Nesse sentido, fica assegurado que os textos traduzidos se mantenham apropriados tanto do ponto de vista linguístico quanto do especializado.

  • 1
    Tradução nossa para “una actividad práctica que se justifique por sí sola”.
  • 2
    Tradução nossa para “la terminología, como todas las materias científicas interdisciplinarias, es una disciplina que se define en relación con otras materias, de las que toma prestados un conjunto específico de conceptos”.
  • 3
    Tradução nossa para “Translation is a mode of communication where choices are further subjected to a principle of equivalence between a Source Text in one language and a Target Text in another. The term ‘equivalence’ most essentially designates the correspondence of effects, i.e., those of the original on the Source Language audience versus those of the translation on the Target Language audience”.
  • 4
    Tradução nossa para “La traducción, como el lenguaje, es una práctica social que se produce en una compleja interacción con el contexto social, incidiendo en ella todo tipo de condicionamientos y restricciones (relaciones de poder, censura, etc.). Si todo proceso de escritura es permeable a los condicionamientos ideológicos del entorno y a los propios del autor, la reescritura que es la traducción también es reflejo de los mecanismos ideológicos. En el caso de la traducción, la cuestión es más compleja, ya que el autor del texto original y el traductor se insertan en dos espacios semióticos diferentes; al estar inmersos en contextos distintos (sociales, políticos, históricos) pueden tener motivaciones ideológicas diferentes”.
  • 5
    Tradução nossa para: “The relationships [. . .] are between a lexical unit (a word or MWE [multi-word expression] in one of its 47 senses) in the SL, and a lexical unit in the TL. It’s a waste of time to try to plot out all the panoply of relationships between one SL lemma and all its possible TL equivalents, and vice versa. Translations of SL headwords are offered within an LU, that is, they are translations of the headword in a single sense”.
  • 6
    Os verbetes foram transcritos tais quais se apresentam nos seus respectivos dicionários, porém, foi retirada a parte que descrevia suas expressões por não interessarem ao escopo desta pesquisa, exceto quando a presença das marcas de uso técnicas se fizeram relevantes para as análises.
  • 7
    DIR e JUR são abreviaturas, respectivamente, das marcas de uso ‘Direito’ e ‘Jurídico’.
  • 8
    Tradução nossa para “suddividere in capitoli”.
  • 9
    Tradução nossa para “intr. Disponer, ordenar, resolver”.
  • 10
    Na versão on-line, ‘Elet’ se apresenta grafada de modo diferente das outras marcas de uso do mesmo verbete, configurando-se um exemplo de incoerência lexicográfica com relação ao tratamento das marcas.
  • 11
    ANAT é abreviatura da marca de uso ‘Anatomia’.
  • 12
    FISIOL é abreviatura da marca de uso ‘Fisiologia’.
  • 13
    Tradução nossa para: “Dans une perspective contrastive il y a lacune chaque fois qu’un signe de la langue de départ ne trouve pas d’équivalent dans la langue d’arrivée”.
  • 14
    Tradução nossa para: “Le réel existe-t-il ou non dans la culture des locuteurs? Le mot qui le désigne existe-t-il ou non dans la langue des locuteurs?”
  • 15
    Tradução nossa para: “L’équivalence ‘d’un mot dans une autre langue’, mais pour mener à bien des tâches de décodage (compréhension), d’encodage (production) ou de traduction de formes appartenant à un discours”.
  • 16
    Tradução nossa para: “la traduction est toujours possible et une équivalence existe nécessairement”.
  • 17
    Tradução nossa para: “an explanation of the meaning of the source-language lexical unit is Always to be given, irrespective of how the lexicographer tries to fill the onomasiological gap in the target language unless the user is expected to have a good knowledge of the sourcelanguage or to make frequent use of another dictionary, especially of a monolingual dictionary of the source-language”.
  • 18
    AUTOM é a abreviatura da marca de uso ‘Automobilismo’.
  • 19
    EQUIT é a abreviatura da marca de uso ‘Equitação’.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    30 Nov 2021
  • Aceito
    01 Fev 2022
  • Publicado
    14 Fev 2022
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