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Genaro |
(...) eu venho de duas culturas né. Fui criado tanto no interior de |
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São Benedito, com meus parentes indígenas. Como fui criado |
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aqui na Bela Vista. Então eu tenho digamos assim... |
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Claudiana |
Ele é tapuyia kariri, é parente nosso. |
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Genaro |
Lá de São Benedito. Essa ideia que ele falou do rapaz no Rio né. |
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Disse que é uma cultura né... |
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Daniel |
... Cultura de sobrevivência |
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Genaro |
Cultura de sobrevivência. E essa história de o estado estar |
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oprimindo tanto um quanto o outro, eu venho dessas duas |
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questões. Lá a gente luta tanto pela terra quanto/ a gente é |
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colocado à margem. É índio, é não sei o quê. É o brasileiro, |
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cidadão, que por mais que tenha sangue indígena não se vê índio. |
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E aqui também o cidadão de bem contra a pessoa da favela. |
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[[interrupção]] |
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Pois é, é isso. Eu procuro não deixar o medo tomar conta de |
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mim. O medo existe. Mas eu não deixo o medo me paralisar. |
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Dentro da própria Universidade Estadual do Ceara apontaram |
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uma arma pra mim, no dia da Semana Universitária. Estávamos |
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sentados em frente ao bloco L, conversando. Chegam 4 rapazes, |
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dizendo que são policiais, à paisana, perguntando por que a gente |
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estava ali. Perguntando cadê as drogas. Que nem a música do |
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Bezerra né, "não tem flagrante porque a fumaça subiu" E aí |
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foram muito truculentos com a gente, deram um tapa na cara de |
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um amigo nosso. Aí eu voei em cima do cara. Quando eu voei |
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em cima do cara ele puxou a arma pra mim. E aí eu comecei a |
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gritar: 'Atira, no meio da universidade, em mim. Pode atirar, |
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mata'. E todos os professores, que tavam acontecendo nas salas |
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apresentação de trabalhos. Teve uma professora que olhou e |
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falou: 'falem mais baixo aí que o fulano tá apresentando |
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trabalho'. Eu olhei e falei: 'minha senhora, você não tá vendo |
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que esse cara tá apontando uma arma pra mim não?' Um outro |
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professor de filosofia, olhou, e nem pra dizer: 'olha, é meu aluno. |
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É , meu aluno', nem pra dizer isso. |