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CORPOS DISSIDENTES, SAÚDE SEXUAL E MICROBIOPOLÍTICAS DE RESISTÊNCIA NA AMAZÔNIA ATLÂNTICA

QUEER BODIES, SEXUAL HEALTH AND THE MICRO-BIOPOLITICS OF RESISTANCE IN THE BRAZILIAN AMAZON

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar as disputas metapragmáticas sobre o cuidado em saúde sexual estabelecidas na relação entre uma biopolítica oficial e as práticas de cuidado em saúde de corpos dissidentes no território da Amazônia Atlântica contemporânea. Ao examinar discursos oficiais, como os presentes no Plano Nacional de Saúde Integral LGBT (BRASIL, 2013BRASIL. (2013) Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília: 1. ed., 1. reimp. Ministério da Saúde.), assim como a efetiva operacionalização de princípios da Promoção à Saúde (AYRES; PAIVA; FRANÇA JÚNIOR, 2012AYRES, R.; PAIVA, V.; FRANÇA JR, I. (2012) Conceitos e Práticas de prevenção: da história natural da doença ao quadro da vulnerabilidade e direitos humanos. In: AYRES; PAIVA; BUCHALLA (Org.) Vulnerabilidade e direitos humanos: prevenção e promoção da saúde: da doença a cidadania. Curitiba: Juruá Editora, p.71-94.), a pesquisa detecta o funcionamento de uma política de silenciamento e precarização das demandas da saúde sexual LGBTI+ no contexto local, a qual é confrontada por estratégias microbiopolíticas de resistência. Para realizar o estudo, foi desenvolvido um trabalho etnográfico (PEIRANO, 2008PEIRANO, M. (2008) Etnografia, ou a teoria vivida. Ponto.Urbe (USP), v. vol. 2, versao 2.0.; 2014PEIRANO, M. (2014) Etnografia não é método. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 20, n. 42, p. 377-391.) ao longo dos anos de 2016-2019, com jovens LGBTI+ no contexto de festas, afterparties e convivências domésticas em repúblicas estudantis na região dos Caetés. Fundamentado pelas teorizações sobre biopolítica (FOUCAULT, 1999FOUCAULT, M. (1999) História da Sexualidade I: A vontade de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal.) e performatividade (BUTLER, 2004BUTLER, J. (2004) Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguair. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.), o foco analítico centra-se nas performances narrativas (MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. (2006) Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. Parábola Editorial: São Paulo, 2006.) encenadas por sujeitos LGBTI+, as quais encenam disputas metapragmáticas (SILVERSTEIN, 1998SILVERSTEIN, M. (1998) The uses andutilityofideology: a commentary. In: SCHIEFFELIN, B. ; WOOLARD,K. A.; KROSKRITY, P. Language Ideologies: Practice and theory. Oxford. OUP, p. 123-148.) em torno do discurso oficial do Estado, criticando o lugar que este relega à promoção do cuidado em saúde sexual da população LGBTI+. Conclui-se que as práticas de resistências microbiopolíticas identificadas nas experiências sociais locais questionam o discurso oficial e a manutenção de um regime LGBTfóbico.

Palavras-chave:
vulnerabilidade em saúde; LGBTI+; performatividade; metapragmática; biopolítica; Amazônia

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