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Prevalência de vaginose bacteriana e fatores associados em mulheres que fazem sexo com mulheres* * Artigo extraído da dissertação de mestrado “Prevalência de Infecções Sexualmente Transmissíveis e de Alterações da Microbiota Vaginal e Fatores Associados em Mulheres que Fazem Sexo com Mulheres”, apresentada à Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil. Apoio financeiro da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Brasil, processo nº 2015/04224-6.

RESUMO

Objetivo:

descrever a prevalência de vaginose bacteriana e fatores associados em mulheres que fazem sexo com mulheres.

Método:

trata-se de estudo transversal, descritivo e analítico com 150 mulheres. O padrão de microbiota vaginal foi analisado por microscopia do conteúdo vaginal corado pelo método de Gram. Amostras de secreção endocervical foram coletadas com cytobrush para a pesquisa de endocervicites por Chlamydia trachomatis e para infecção por Papilomavírus Humano por meio de reação em cadeia da polimerase. Dados sociodemográficos, de comportamento sexual e de história clínica foram obtidos por entrevista. Regressão logística foi realizada para identificar fatores de risco independentemente associados à vaginose bacteriana.

Resultados:

dentre as 150 participantes, 71 (47,3%) tinham alguma alteração da microbiota vaginal, 54 (36,0%) vaginose bacteriana e 12 (8,0%) Flora II. A variável independentemente associada com vaginose bacteriana foi o uso de acessórios sexuais [2,37(1,13-4,97), p=0,022].

Conclusão:

a elevada prevalência de vaginose bacteriana entre mulheres que fazem sexo com mulheres aponta a necessidade de rastreio nessa população. O uso de acessórios sexuais associado a esse agravo sugere a possibilidade de transmissão de fluidos sexuais entre as parceiras durante o ato sexual, o que demonstra necessidade de ações de educação em saúde sexual e reprodutiva.

Descritores:
Vaginose Bacteriana; Microbiota; Fatores de Risco; Prevalência; Homossexualidade Feminina; Saúde Sexual e Reprodutiva

ABSTRACT

Objective:

to describe the prevalence of bacterial vaginosis and factors associated among women who have sex with women.

Method:

cross-sectional, descriptive and analytical study with 150 women. The vaginal microbiota profile was analyzed by microscopic examination of vaginal swabs according to the Gram method. Endocervical samples were collected with cytobrush for the investigation of endocervicitis by Chlamydia trachomatis. The polymerase chain reaction was used to diagnosis Human Papillomavirus infection. Socio-demographic data, sexual behavior and clinical history were obtained through an interview. Logistic regression was performed to identify risk factors independently associated with bacterial vaginosis.

Results:

among the 150 participants, 71 (47.3%) presented some alteration in the vaginal microbiota, 54 (36.0%) bacterial vaginosis and 12 (8.0%) Flora II. The variable independently associated with bacterial vaginosis was the use of sexual accessories [2.37(1.13-4.97), p=0.022].

Conclusion:

the high prevalence of bacterial vaginosis among women who have sex with women indicates the need for screening this population and association between use of sexual accessories and this disease suggests the possibility of transmission of sexual fluids between the partners during the sexual act, which demonstrates the need for educational actions on sexual and reproductive health.

Descriptors:
Bacterial Vaginosis; Microbiota; Risk Factors; Prevalence; Female Homosexuality; Sexual and Reproductive Health

RESUMEN

Objetivo:

describir la prevalencia de la vaginosis bacteriana y los factores asociados en mujeres que tienen sexo con mujeres.

Método:

se trata de un estudio transversal, descriptivo y analítico realizado entre 150 mujeres. El patrón de microbiota vaginal se analizó por microscopía del contenido vaginal teñido por el método de Gram. Se recolectaron muestras de secreción endocervical con un citocepillo para investigar la endocervicitis por Chlamydia trachomatis y la infección por el Virus del Papiloma Humano mediante la reacción en cadena de la polimerasa. De la entrevista se obtuvieron datos sociodemográficos, de comportamiento sexual y del historial clínico. Se llevó a cabo una regresión logística para identificar factores de riesgo asociados independientemente a la vaginosis bacteriana.

Resultados:

entre las 150 participantes, el 71 (47,3%) tenía alteración de la microbiota vaginal, el 54 (36,0%), vaginosis bacteriana y el 12 (8,0%), Flora II. La variable asociada independientemente a la vaginosis bacteriana se debió al uso de accesorios sexuales [2,37(1,13-4,97), p=0,022].

Conclusión:

la prevalencia elevada de vaginosis bacteriana entre mujeres que tienen sexo con mujeres señala la necesidad de estudiar dicha población, y el uso de accesorios sexuales asociado a este agravante sugiere la posibilidad de transmisión de fluidos sexuales entre las compañeras durante el acto sexual, razón por la cual deben llevarse a cabo acciones de educación en salud sexual y reproductiva.

Descriptores:
Vaginosis Bacteriana; Microbiota; Factores de Riesgo; Prevalencia; Homosexualidad Femenina; Salud Sexual y Reproductiva

Introdução

A microbiota vaginal normal tem sido destacada na literatura como importante fator protetor contra patógenos do trato genital11 Klebanoff SL, Coombs RW. Virucidal effect of lactobacillus acidophilus on human immunodeficiency virus type-1: possible role in heterosexual transmission. J Exp Med. [Internet].1991 Jul 1 [cited Set 6, 2017];174(1):289-92. Available from:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2118880/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
. Dentre as alterações da microbiota vaginal, destaca-se a vaginose bacteriana (VB), que se caracteriza por uma redução ou depleção de lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio e pelo crescimento demasiado de microrganismos anaeróbios ou anaeróbios facultativos, como Gardnerella vaginalis, Mobiluncus spp., Mycoplasma hominis, Prevotella sp., Porphyromonas spp. e Peptostreptococcus spp.22 Marazzo JM. Evolving issues in understanding and treating bacterial vaginosis. Expert Rev Anti-Infect Ther. 2004;2(6):913-22. doi: https://doi.org/10.1586/14789072.2.6.913
https://doi.org/https://doi.org/10.1586/...
-33 Hillier S. Diagnostic microbiology of bacterial vaginosis. Am J Obstet Gynecol. 1993;(169):455-9. doi: https://doi.org/10.1016/0002-9378(93)90340-O
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. É a causa mais comum de conteúdo vaginal anormal e motivo frequente de procura de atendimento ginecológico por mulheres44 Sobel JD. What's new in bacterial vaginosis and trichomoniasis? Infect Dis Clin North Am. 2005;19(2):387-406. doi: https://doi.org/10.1016/j.idc.2005.03.001
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.

A importância da VB se dá não somente pela sua grande prevalência nas diferentes populações, mas, também, pelas complicações obstétricas e ginecológicas associadas, incluindo doença inflamatória pélvica55 Van de Wijgert JHHM, Jespers V. The global health impact of vaginal dysbiosis. Res Microbiol. 2017;168(9-10):859-64. doi: https://doi.org/10.1016/j.resmic.2017.02.003
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, parto prematuro55 Van de Wijgert JHHM, Jespers V. The global health impact of vaginal dysbiosis. Res Microbiol. 2017;168(9-10):859-64. doi: https://doi.org/10.1016/j.resmic.2017.02.003
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e o aumento na aquisição de infecções sexualmente transmissíveis (IST), como cervicites por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae66 Ness RB, Kip KE, Soper DE, Hillier S, Stamm CA, Sweet RL, et al. Bacterial vaginosis (BV) and the risk of incident gonococcal or chlamydial genital infection in a predominantly black population. Sex Transm Dis. 2005;32(7):413-7. doi: 10.1097/01.olq.0000154493.87451.8d
https://doi.org/10.1097/01.olq.000015449...
, além da infecção por Trichomonas vaginalis77 Masha SC, Wahome E, Vaneechoutte M, Cools P, Crucitti T, Sanders EJ. High prevalence of curable sexually transmitted infections among pregnant women in a rural county hospital in Kilifi, Kenya. PLoS ONE. 2017;12(3):e0175166. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0175166
https://doi.org/https://doi.org/10.1371/...
) e pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)88 Cohen CR, Lingappa JR, Baeten JM, Ngayo MO, Spiegel CA, Hong T, et al. Bacterial vaginosis associated with increased risk of female-to-male HIV-1 transmission: a prospective cohort analysis among African couples. PLoS Med. 2012;9(6):e1001251. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1001251
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.

Escassos estudos têm sido conduzidos no mundo sobre as alterações da microbiota vaginal em mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM)99 Forcey DS, Vodstrcil LA, Hocking JS, Fairley CK, Law M, McNair RP, et al. Factors associated with bacterial vaginosis among women who have sex with women: a systematic review. Plos One. 2015;10(12):e0141905. doi: 10.1371/journal.pone.0141905.
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e os que existem apontam a VB como a principal alteração1010 Bailey JV, Farquhar C, Owen C. Bacterial vaginosis in lesbians and bisexual women. Sex Transm Dis. 2004;31(11):691-4. doi: 10.1097/01.olq.0000143093.70899.68
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11 Marrazzo JM, Koutsky LA, Eschenbach DA, Agnew K, Stine K, Hillier SL. Characterization of vaginal flora and bacterial vaginosis in women who have sex with women. J Infect Dis. 2002; 185(9):1307-13. doi: https://doi.org/10.1086/339884
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-1212 Pinto VM, Tancredi MV, Tancredi A Neto, Buchalla CM. Sexually transmitted disease/HIV risk behavior among women who have sex with women. AIDS. 2005;19(4):64-9. doi: 10.1097/01.aids.0000191493.43865.2a
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. O número de parceiras sexuais femininas foi um dos principais fatores de risco relacionados a tal alteração, entre as MSM1010 Bailey JV, Farquhar C, Owen C. Bacterial vaginosis in lesbians and bisexual women. Sex Transm Dis. 2004;31(11):691-4. doi: 10.1097/01.olq.0000143093.70899.68
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-1111 Marrazzo JM, Koutsky LA, Eschenbach DA, Agnew K, Stine K, Hillier SL. Characterization of vaginal flora and bacterial vaginosis in women who have sex with women. J Infect Dis. 2002; 185(9):1307-13. doi: https://doi.org/10.1086/339884
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. No Brasil, apenas um artigo foi publicado em 2005 sobre o tema e demonstrou alta prevalência de VB entre as MSM investigadas1212 Pinto VM, Tancredi MV, Tancredi A Neto, Buchalla CM. Sexually transmitted disease/HIV risk behavior among women who have sex with women. AIDS. 2005;19(4):64-9. doi: 10.1097/01.aids.0000191493.43865.2a
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.

A magnitude e transcendência da VB e lacunas na literatura justificam a presente investigação, que teve como objetivo descrever a prevalência e os fatores associados à VB em MSM.

Método

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e analítico, que integra pesquisa mais ampla com objetivo de avaliar o acesso aos serviços de saúde e à saúde sexual e reprodutiva de MSM. Foi desenvolvido no Município de Botucatu, São Paulo (SP), interior paulista, localizado no centro do estado.

A população-alvo do estudo foi constituída por mulheres que declararam fazer sexo com mulheres ou com mulheres e com homens, a partir dos 18 anos, residentes nos municípios das microrregiões de saúde Pólo Cuesta, Vale do Jurumirim, Bauru e Jaú, pertencentes ao Departamento Regional de Saúde VI - Bauru.

Constituíram-se critérios de inclusão no estudo ser mulher, referir fazer sexo com mulher ou com homem e mulher e ter idade igual ou superior a 18 anos. O critério de exclusão foi não aceitar participar de todas as etapas propostas pelo estudo - responder ao questionário, realizar exame ginecológico e amostra vaginal ou endocervical inadequada para realização dos exames laboratoriais.

Para divulgação da pesquisa, com vistas à captação da amostra, criou-se um nome e logotipo do Projeto, o qual foi intitulado pela prática sexual: “Projeto Cuidando da Saúde da Mulher que faz Sexo com Mulher”. Foram criados página no Facebook (www.facebook.com/cuidandodasaudedamulher), e-mail (projetocsmsm@gmail.com), cartaz e panfleto que foram distribuídos em bares e boates, grupos de ativismo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), instituições de ensino e de saúde. Além desses meios de comunicação, o projeto também foi divulgado em rádios, jornais da cidade, colegiados regionais de gestores, reuniões de enfermeiros da região, campanha Fique Sabendo, Unidades de Saúde de Botucatu, em palestras, nas atividades desenvolvidas pelas agentes estratégicas de saúde do Programa Municipal de DST/Aids de Botucatu-SP e pelas próprias mulheres participantes, às quais era solicitado que disponibilizassem o contato telefônico de outras MSM de seu convívio, aplicando-se a Técnica de Amostragem em Bola de Neve1313 Handcock MS, Gile KJ. Comment: On the concept of snowball sampling. Sociol Methodol. 2011;41(1):367-71. doi: https://doi.org/10.1111/j.1467-9531.2011.01243.x
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.

De posse dos telefones, as pesquisadoras entraram em contato com as mulheres indicadas por profissionais de saúde, lideranças LGBT ou por participantes da pesquisa e fizeram o convite, esclarecendo os objetivos, a forma de participação no estudo e o agendamento de data e horário. Dessa forma, foram identificadas 323 MSM, sendo o contato realizado com 293 delas, uma vez que 30 mulheres não foram localizadas após três ligações telefônicas, em dias e horários distintos. Dentre as contatadas, 35 recusaram-se a participar do estudo e 18 não atenderam aos critérios de inclusão, totalizando uma amostra de 240 mulheres. Destas, 60 não compareceram para a coleta de dados após três agendamentos realizados e 30 foram excluídas (24 não aceitaram fazer o exame ginecológico e a amostra cervical de seis mulheres foi inadequada para a realização do diagnóstico laboratorial das infecções pela Chlamydia trachomatis e papiloma vírus humano - HPV). A amostra final foi composta por 150 MSM, com o detalhamento de sua constituição explicitado no diagrama a seguir (Figura 1).

Figura 1
Diagrama de Constituição da amostra

A variável desfecho foi vaginose bacteriana (sim/não), sendo, a seguir, descritas as variáveis independentes analisadas. As variáveis sociodemográficas foram idade em anos (<19, 20-29, 30-39, 40-49, ≥50), cor da pele (branca/não branca), situação conjugal (casada/união estável, solteira) e anos de estudo concluídos. Com relação ao consumo de substâncias, comportamento e práticas sexuais, incluíram-se uso de tabaco (sim/não), número de parceiros 3 meses, número de parceiras 3 meses, parceira eventual 3 meses (sim/não), parceira fixa (sim/não), uso de ducha vaginal (sim/não), recebe penetração vaginal (sim/não), usa acessórios sexuais (sim/não), compartilha acessórios sexuais (sim/não), uso de preservativo - considerou-se uso em todas as relações sexuais anais e vaginais - (sim/não), recebe penetração anal (sim/não), faz ducha vaginal (sim/não). As variáveis clínicas foram contraceptivo hormonal (sim/não), infecção pela Chlamydia Trachomatis (sim/não) e infecção pelo HPV (sim/não).

Os dados foram obtidos de janeiro de 2015 a abril de 2017 pelos autores por meio da aplicação de um questionário, que abordou as variáveis acima relacionadas, e da realização de exame ginecológico. Durante o exame, foi realizada a coleta de conteúdo vaginal para análise do padrão da microbiota vaginal por exame microscópico do conteúdo vaginal, corado pelo método de Gram1414 Nugent RP, Krohn MA, Hillier SL. Reability of diagnosing bacterial vaginosis is improved by a standardized method of gram stain interpretation. J Clin Microbiol. [Internet].1991 Feb [cited Set 6, 2017];29(2):297-301. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC269757/pdf/jcm00038-0081.pdf
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. Candidose vaginal foi diagnosticada pela visualização de blastoconídeos e/ou pseudo-hifas. Os diagnósticos de infecção pelo HPV e Chlamydia trachomatis foram obtidos por reação em cadeia da polimerase (PCR). Todos os exames foram realizados no Laboratório de Imunopatologia da Relação Materno-Fetal, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

A análise dos dados foi realizada por estatística descritiva e as associações entre as variáveis independentes com diagnóstico de VB foram realizadas por meio de modelo de regressão logística simples. As variáveis que mais influenciaram no desfecho (p<0,20) foram levadas para modelo de regressão logística múltiplo, para identificação daquelas independentemente associadas ao desfecho (p<0,05). Utilizou-se para as análises o software SPSS 21.0.

O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMB-UNESP, sob o parecer 837.447, e cumpre todos os preceitos para pesquisas envolvendo seres humanos. Após esclarecimento sobre o trabalho, as mulheres foram convidadas a participar e aquelas que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todas as mulheres com resultados positivos foram encaminhadas para tratamento e acompanhamento.

Resultados

Dentre as 150 MSM incluídas no estudo, predominaram aquelas que se encontravam na faixa etária de 20 a 49 anos (83,3%), brancas (74,7%), solteiras (73,3%), com 12 ou mais anos de estudo concluídos (51,3%). Grande parte delas era tabagista (43,3%). Quanto às práticas sexuais, a maioria não se relacionou com homens nos últimos três meses (88,0%), teve apenas uma parceira sexual nesse mesmo período (82,0%), recebia penetração vaginal (88,0%) e sexo oral (96,0%). Quase um terço (31,3%) fazia uso de acessórios nas práticas sexuais e 21,3% compartilhavam esses objetos. O uso consistente de preservativos nas relações sexuais anais e vaginais foi relatado por apenas 18,0% das mulheres incluídas no estudo e 20,0% delas realizavam ducha vaginal (Tabela 1). A totalidade das mulheres não utilizava preservativo nas relações sexuais orais.

Tabela 1
Características sociodemográficas, relativas ao consumo de substâncias, comportamento e práticas sexuais de mulheres que fazem sexo com mulheres (n=150). Botucatu, SP, Brasil, 2015-2017

O padrão da microbiota vaginal das mulheres incluídas no estudo está apresentado na Tabela 2. Observou-se que quase metade (47,3%) das MSM investigadas tinha alguma alteração da microbiota vaginal, sendo a VB a mais prevalente (36,0%), seguida da Flora II (8,0%). Candidose vaginal foi detectada em quatro mulheres (2,7%) (Tabela 2).

Tabela 2
Padrão da microbiota vaginal de mulheres que fazem sexo com mulheres (n=150). Botucatu, SP, Brasil, 2015-2017

Apresentam-se na Tabela 3 as associações entre VB e variáveis sociodemográficas, relativas ao consumo de substâncias, comportamentos e práticas sexuais e clínicas.

Tabela 3
Associação entre vaginose bacteriana e variáveis sociodemográficas, relativas ao consumo de substâncias, comportamentos e práticas sexuais e clínicas. Botucatu, SP, Brasil, 2015 - 2017

As variáveis que mais se associaram à VB na regressão logística simples foram uso de tabaco [1,72(0,88-3,37), p=0,116], usa acessórios sexuais [2,53(1,25-5,18), p=0,010], usa contraceptivo hormonal [2,10(0,78-5,61), p=0,137] e infecção pelo HPV [1,69(0,86-3,32), p=0,124] (Tabela 3).

Na análise multivariada, apenas a variável usa acessórios sexuais foi independentemente associada à VB. Mulheres que faziam uso de acessórios sexuais apresentaram chance duas vezes e meia maior de terem diagnóstico positivo para VB do que aquelas que não faziam uso [2,37(1,13-4,97), p=0,022] (Tabela 4).

Tabela 4
Análise multivariada das varáveis de risco para vaginose bacteriana. Botucatu, SP, Brasil, 2015 - 2017

Discussão

O presente estudo, que teve por objetivo investigar a prevalência de VB e fatores associados em uma amostra de MSM, identificou alta prevalência desse agravo e uso de acessórios sexuais como variável independentemente associada.

Dentre as alterações de microbiota vaginal, a VB foi a mais prevalente. A prevalência geral de alteração da microbiota vaginal obtida na presente investigação foi superior à obtida em estudo realizado nos Estados Unidos da América (EUA) com MSM (47,3% vs 36,0%), e semelhante à obtida em outro estudo americano que investigou MSM afro-americanas (47,5%). Ambos estudos avaliaram o padrão de microbiota vaginal empregando-se os mesmos critérios utilizados nesta investigação1414 Nugent RP, Krohn MA, Hillier SL. Reability of diagnosing bacterial vaginosis is improved by a standardized method of gram stain interpretation. J Clin Microbiol. [Internet].1991 Feb [cited Set 6, 2017];29(2):297-301. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC269757/pdf/jcm00038-0081.pdf
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.

A prevalência de VB entre as MSM incluídas neste estudo (36,0%) foi superior à encontrada em outros estudos americanos1111 Marrazzo JM, Koutsky LA, Eschenbach DA, Agnew K, Stine K, Hillier SL. Characterization of vaginal flora and bacterial vaginosis in women who have sex with women. J Infect Dis. 2002; 185(9):1307-13. doi: https://doi.org/10.1086/339884
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,1515 Marrazzo JM, Fiedler LT, Srinivasan S, Thomas KK, Liu C, Ko D, et.al. Extravaginal reservoirs of vaginal bacteria as risk factors for incident bacterial vaginosis. J Infect Dis. 2012;205(10):1580-8. doi: 10.1093/infdis/jis242
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-1616 Marrazzo JM,1 May A, Agnew K, Hillier SL. Distribution of genital lactobacillus strains shared by female sex partners. J Infect Dis. 2009;199(5):680-3. doi: 10.1086/596632
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e australiano1717 Bradshaw CS, Walker SM, Vodstrcil LA, Bilardi JE, Law M, Hocking JS, et.al. The influence of behaviors and relationships on the vaginal microbiota of women and their female partners: the WOW health study. J Infect Dis. 2014;209(10):1562-72. doi: 10.1093/infdis/jit664
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com MSM, que também utilizaram os mesmos critérios privilegiados nesta investigação1414 Nugent RP, Krohn MA, Hillier SL. Reability of diagnosing bacterial vaginosis is improved by a standardized method of gram stain interpretation. J Clin Microbiol. [Internet].1991 Feb [cited Set 6, 2017];29(2):297-301. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC269757/pdf/jcm00038-0081.pdf
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para diagnóstico, cujos resultados variaram entre 25,0% a 28,7%. Entretanto, foi inferior a estudos americanos realizados em 20131818 Muzny CA, Sunesara IR, Austin EL, Mena LA, Schwebke JR. Bacterial vaginosis among african american women who have sex with women. Sex Transm Dis. 2013;40(9):751-5. doi: 10.1097/OLQ.0000000000000004
https://doi.org/10.1097/OLQ.000000000000...
e 20181919 Olson KM, Boohaker LJ, Schwebke JR, Aslibekyan S, Muzny CA. Comparisons of vaginal flora patterns among sexual behaviour groups of women: implications for the pathogenesis of bacterial vaginosis. Sex Health. 2018;15(1):61-7 doi: https://doi.org/10.1071/SH17087
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com MSM, que obtiveram prevalência de 40,3% e 56,0%, respectivamente. Essa diferença pode ser justificada em função da amostra, uma vez que os estudos americanos1919 Olson KM, Boohaker LJ, Schwebke JR, Aslibekyan S, Muzny CA. Comparisons of vaginal flora patterns among sexual behaviour groups of women: implications for the pathogenesis of bacterial vaginosis. Sex Health. 2018;15(1):61-7 doi: https://doi.org/10.1071/SH17087
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-2020 Cherpes TL, Hillier SL, Meyn LA, Busch JL, Krohn MA. A delicate balance: risk factors for acquisition of bacterial vaginosis include sexual activity, absence of hydrogen peroxide-producing lactobacilli, black race, and positive herpes simplex virus type 2 serology. Sex Transm Dis. 2008;35(1):78-83. doi: 10.1097/OLQ.0b013e318156a5d0
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) conduziram suas investigações com mulheres afro-americanas. A raça negra já foi demonstrada como fator associado à VB em estudo anterior2020 Cherpes TL, Hillier SL, Meyn LA, Busch JL, Krohn MA. A delicate balance: risk factors for acquisition of bacterial vaginosis include sexual activity, absence of hydrogen peroxide-producing lactobacilli, black race, and positive herpes simplex virus type 2 serology. Sex Transm Dis. 2008;35(1):78-83. doi: 10.1097/OLQ.0b013e318156a5d0
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.

Estudo inglês1010 Bailey JV, Farquhar C, Owen C. Bacterial vaginosis in lesbians and bisexual women. Sex Transm Dis. 2004;31(11):691-4. doi: 10.1097/01.olq.0000143093.70899.68
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realizado em clínica especializada em cuidados à saúde sexual de lésbicas e bissexuais apontou prevalência de VB de 31,4%, e pesquisa nacional1212 Pinto VM, Tancredi MV, Tancredi A Neto, Buchalla CM. Sexually transmitted disease/HIV risk behavior among women who have sex with women. AIDS. 2005;19(4):64-9. doi: 10.1097/01.aids.0000191493.43865.2a
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realizada com MSM no município de São Paulo obteve prevalência de VB de 33,8%. Ambos os estudos obtiveram prevalência próxima à encontrada na presente investigação, apesar de terem empregado critérios diagnósticos2121 Amsel R, Totten PA, Spiegel CA, Chen KC, Eschenbach D, Holmes KK. Non-specific vaginitis; diagnostic criteria and microbial and epidemiologic associations. Am J Med. 1983;74(1):14-22. doi: http://dx.doi.org/10.1016/0002-9343(83)91112-9
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diferentes, não considerados padrão ouro como método diagnóstico para VB.

Dessa forma, constata-se elevada biovulnerabilidade das mulheres investigadas, uma vez que a VB é agravo significativamente associado à aquisição de IST/HIV66 Ness RB, Kip KE, Soper DE, Hillier S, Stamm CA, Sweet RL, et al. Bacterial vaginosis (BV) and the risk of incident gonococcal or chlamydial genital infection in a predominantly black population. Sex Transm Dis. 2005;32(7):413-7. doi: 10.1097/01.olq.0000154493.87451.8d
https://doi.org/10.1097/01.olq.000015449...
,88 Cohen CR, Lingappa JR, Baeten JM, Ngayo MO, Spiegel CA, Hong T, et al. Bacterial vaginosis associated with increased risk of female-to-male HIV-1 transmission: a prospective cohort analysis among African couples. PLoS Med. 2012;9(6):e1001251. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1001251
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.

Na presente investigação, uso de acessórios sexuais associou-se à VB. Estudos anteriores já apontaram o uso desses objetos associados à VB em MSM1111 Marrazzo JM, Koutsky LA, Eschenbach DA, Agnew K, Stine K, Hillier SL. Characterization of vaginal flora and bacterial vaginosis in women who have sex with women. J Infect Dis. 2002; 185(9):1307-13. doi: https://doi.org/10.1086/339884
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,2222 Marrazzo JM, Thomas KK, Agnew K, Ringwood K. Prevalence and risks for bacterial vaginosis in women who have sex with women. Sex Transm Dis. [Internet]. 2010 May[cited Jun 6, 2018]; 37(5): 335-9. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3291172/
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. Assim, os achados da presente investigação corroboram a hipótese de que a VB esteja associada às práticas sexuais que transferem fluidos vaginais entre as parceiras2222 Marrazzo JM, Thomas KK, Agnew K, Ringwood K. Prevalence and risks for bacterial vaginosis in women who have sex with women. Sex Transm Dis. [Internet]. 2010 May[cited Jun 6, 2018]; 37(5): 335-9. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3291172/
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. Entretanto, reitera-se que ainda há necessidade de pesquisas que aprofundem o conhecimento dessa interação2222 Marrazzo JM, Thomas KK, Agnew K, Ringwood K. Prevalence and risks for bacterial vaginosis in women who have sex with women. Sex Transm Dis. [Internet]. 2010 May[cited Jun 6, 2018]; 37(5): 335-9. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3291172/
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e sugere-se que ações educativas sobre uso de preservativos e higiene dos acessórios sexuais sejam efetivadas.

Estudo internacional que avaliou os fatores associados relacionados à VB em MSM na Inglaterra1010 Bailey JV, Farquhar C, Owen C. Bacterial vaginosis in lesbians and bisexual women. Sex Transm Dis. 2004;31(11):691-4. doi: 10.1097/01.olq.0000143093.70899.68
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demonstrou que o maior número de parceiras sexuais femininas, raça e tabagismo aumentaram o risco das mulheres participantes do estudo apresentarem esse desfecho. Outro estudo conduzido nos EUA1111 Marrazzo JM, Koutsky LA, Eschenbach DA, Agnew K, Stine K, Hillier SL. Characterization of vaginal flora and bacterial vaginosis in women who have sex with women. J Infect Dis. 2002; 185(9):1307-13. doi: https://doi.org/10.1086/339884
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com MSM também demonstrou o aumento do número de parceiras sexuais como fator independentemente associado à VB e que aquelas que recebiam sexo oro-anal apresentaram maior chance de terem VB. Revisão de literatura99 Forcey DS, Vodstrcil LA, Hocking JS, Fairley CK, Law M, McNair RP, et al. Factors associated with bacterial vaginosis among women who have sex with women: a systematic review. Plos One. 2015;10(12):e0141905. doi: 10.1371/journal.pone.0141905.
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conduzida nos EUA com objetivo de encontrar fatores associados à VB em MSM apontou como fatores associados o número de parceiras sexuais, diagnóstico positivo comprovado das parceiras sexuais, tabagismo e período do ciclo menstrual. Esses estudos divergem dos achados da presente investigação, que não encontrou associação de variáveis sociodemográficas, relativas ao uso de substâncias, clínicas e comportamentais investigadas, à exceção do uso de acessórios sexuais.

Constituiu-se em limitação deste estudo o fato de ter sido realizado em nível regional e com amostra não randomizada. Entretanto, ressalta-se a dificuldade de captação da população-alvo, demonstrada anteriormente, e destaca-se sua importância, tendo em vista a constatação de revisão de literatura99 Forcey DS, Vodstrcil LA, Hocking JS, Fairley CK, Law M, McNair RP, et al. Factors associated with bacterial vaginosis among women who have sex with women: a systematic review. Plos One. 2015;10(12):e0141905. doi: 10.1371/journal.pone.0141905.
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, conduzida em 2015, acerca da pouca quantidade de estudos no mundo relacionados a essa temática e grupo populacional.

Esta pesquisa vem contribuir com o aumento do conhecimento na área, uma vez que enfoca importante agravo à saúde desse grupo. Dessa forma, contribui, também, com a prática dos profissionais de saúde, uma vez que seus resultados sugerem necessidade de abordagem profissional individualizada, voltada à saúde sexual e reprodutiva, pautada em ações preventivas, diagnósticas e terapêuticas, com vistas ao seu cuidado integral.

Conclusão

A elevada prevalência de VB entre MSM aponta a necessidade de rastreio nessa população e o uso de acessórios sexuais associado à VB sugere a possibilidade de transmissão de fluidos sexuais entre as parceiras durante o ato sexual, o que demonstra necessidade de ações de educação em saúde sexual e reprodutiva.

Agradecimentos

Ao Espaço Saúde Cecília Magaldi, Secretaria Municipal da Saúde de Botucatu, Programa de DST/aids de Botucatu e suas equipes pelo acolhimento e comprometimento com a pesquisa. Ao Laboratório de Imunopatologia da Relação Materno-Fetal -FMB pelas análises laboratoriais. A todos os profissionais que se envolveram de alguma forma com a pesquisa e às mulheres que participaram do estudo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    04 Out 2017
  • Aceito
    29 Ago 2018
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