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“SETE DIAS NA BABILÔNIA” LÍNGUAS E EXÍLIO NA VIDA DE ALEXANDER LENARD

“SEVEN DAYS IN BABYLON” LANGUAGES AND EXILE IN THE LIFE OF ALEXANDER LENARD

Resumo

Neste artigo, analisamos a atitude do tradutor e escritor Alexander Lenard (1910-1972) perante seu ambiente durante seus anos de exílio no Brasil. Lenard ficaria autoexilado no interior do estado de Santa Catarina, de 1952 até sua morte. Nascido na Hungria, onde é considerado um grande escritor nacional, a família de Lenard se mudou para a Áustria em 1920. Em Viena, ele estudaria medicina. De origem judaica, Lenard fugiu para a Itália quando, em 1938, a Áustria foi anexada ao Reich alemão. Em Roma, ele viveu escondido até o final da guerra. Por medo do conflito na Coréia se espalhar, Lenard mudou-se para o Brasil em 1952. Ele jamais voltaria para a Europa. Durante quase vinte anos, Lenard viveu entre os “colonos” de língua alemã em Santa Emma (SC), onde exerceu a profissão de farmacêutico, e, ocasionalmente, de médico. Lenard se expressava principalmente em alemão. No Brasil, ele continuou escrevendo e traduzindo de, e para, um grande número de idiomas estrangeiros. No entanto, apesar de sua longa estadia no Brasil, ele nunca se expressaria em português. Nos anos sessenta, Lenard deu uma série de palestras, transmitidas pela Norddeutsche Rundfunk alemã, que foram publicadas sob o título Sieben Tage Babylonisch [Sete Dias na Babilônia] (1964). Neste pequeno volume, Lenard dá sua opinião sobre sete idiomas: húngaro, catarinense, português brasileiro, botocudo, francês acadêmico, romano e neolatim. No presente artigo, nos debruçamos sobre os três idiomas relacionados com o Brasil e, portanto, com a situação de exílio de Lenard. Sua visão sobre estes idiomas mostra como ele havia interrompido seu processo de integração, em contraste com o que havia feito antes na Áustria e na Itália.

Palavras-chave
Alexander Lenard; Exílio; Tradução; Integração

Abstract

This article analyses the attitude of translator and writer Alexander Lenard (1910-1972) towards his environment during his exile in Brazil. He would live self-exiled in the interior of the state of Santa Catarina, from 1951 until his death. Born in Hungary, where he is considered a great national writer, Lenard moved with his family to Austria in 1920. In Vienna, he studied medicine. Because he was of Jewish origin, Lenard fled to Italy when, in 1938, the German Reich annexed Austria. In Rome, he lived in hiding until the end of the war. Due to the conflict in Korea, which Lenard feared would turn into a new world war, Lenard moved to Brazil in 1952. He would never return to Europe. For almost twenty years, Alexander Lenard lived among German-speaking “settlers” in Santa Emma (SC), where he worked as a pharmacist and occasionally as a doctor. Lenard expressed himself mainly in German. In Brazil, he continued writing and translating, making use of his ample knowledge of foreign languages. However, despite his extended stay in Brazil, he would never express himself in Portuguese. In the 1960s, Lenard gave a series of lectures broadcast by the German Norddeutsche Rundfunk. These were published under the title Sieben Tage Babylonisch [Seven Days in Babylon] (1964). In this small volume, Lenard presents his views on seven languages: Hungarian, ‘Catarinense’, Brazilian Portuguese, Botocudo, Academic French, Roman and New Latin. In the present article, we focus on the three languages that have a bearing on Brazil and thus on Lenard’s exile. His views on these languages show how Lenard seems to have stopped any integration process, in contrast to what happened previously in Austria and Italy.

Keywords
Alexander Lenard; Exile; Translation; Integration

Introdução

Nascido em 1910 em Budapeste, Sándor Lénárd1 1 O próprio Lenard usava várias grafias do seu nome dependendo da língua em que publicava: Alexander Lenard, Sándor Lénárd. foi o primeiro filho de Jenő Lénárd. Este nasceu em Krefeld, Alemanha, com o nome claramente judeu de Eugen Isak Levy.2 2 Veja Péter Siklós: Von Budapest bis zum Tal am Ende der Welt. Sándor Lénárds romanhafter Lebensweg. s.d. http://mek.oszk.hu/kiallitas/lenard/cv/indexde.html. Último acesso: 14/03/2021 (Siklós) Ele mudaria seu nome depois para Lenard. “Dentro de cada livro, Sándor e seus pais tinham meticulosamente transformado seu sobrenome obviamente judeu Levy em um Lenard mais húngaro”.3 3 Lynne Sachs. “Alexander Lenard: A Family Correspondence”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 93–104. Sachs também fez um documentário experimental, The Last Happy Days (2009), sobre a vida de Lenard como exilado.(Sachs) A família posteriormente se converteria ao protestantismo.4 4 Veja Siklós: Von Budapest bis zum Tal am Ende der Welt (sem página). Durante a guerra, o pai de Sándor, que era poliglota como Sándor se tornaria, foi voluntário no exército austríaco. Ele seria mantido como prisioneiro de guerra até janeiro de 1919; em seguida, a família emigrou para a Áustria.

Em 1920, a família mora em Viena. Em 1925, o amado pai e mentor de Sándor morre. Quando chegou a hora de ir para a universidade, Lenard está dividido entre Filosofia, Filologia e Ciências Naturais.5 5 Veja Lenard: Die Kuh auf dem Bast, p. 10 (Lenard, Die Kuh auf dem Bast). Ele, finalmente, estudaria medicina durante quatorze semestres, mas não está claro se ele terminou seus estudos. Em Am Ende der Via Condotti, traduzido do húngaro e recentemente publicado pela DTV Verlag, ele escreve: “Aqui na farmácia, eu posso aprender tantas coisas melhor do que se eu tivesse me formado na universidade com uma coroa de louros”6 6 “Hier in der Apotheke kann ich so vieles besser lernen, als wenn ich die Universität mit Lorbeerkranz absolviert hätte” Lénárd, Sándor. Am Ende der Via Condotti Römische Jahre. Traduzido por Ernö Zeltner. München 2017, p. 173. Esta recente publicação parece atestar uma recente renovação de interesse no trabalho da Lenard. Em 2013 foi publicada uma tradução para o português de Die Kuh auf Dem Bast (Sándor, Lénárd. O Vale do Fim do Mundo. Traduzido por Paulo Schiller. São Paulo: Cosac Naif, 2013.) e no mesmo ano uma tradução inglesa do original húngaro de Am Ende der Via Condotti (Sándor, Lénárd. Stories of Rome. Traduzido por Baczoni Márk, Budapeste, 2013.) , o que põe em dúvida se ele acabou obtendo o diploma de médico. É certo, porém, que em vários momentos de sua vida ele praticou como médico. É igualmente certo que ele aprendeu muitas outras habilidades e idiomas nas bibliotecas onde ele passou grande parte do tempo durante seu exílio na Itália. Enquanto estava na Áustria, Lenard casou-se e teve um filho. Com a anexação em 1938, porém, Lenard tinha considerado mais seguro fugir para a Itália, deixando para trás sua esposa e filho “arianos”.

Lenard se estabeleceu em Roma7 7 Esta parte da biografia sobre o período romano de Alexander Lenard se baseia em Zsuzsanna Vajdovics (2005), que teve contato pessoal com sua viúva. Veja neste contexto Zsuzsanna Vajdovics, “Gli anni romani di Sándor Lénard”. Annuario. Studi e Documenti Italo-Ungheresi. Roma-Szeged (2005). http://docplayer.it/285414-Gli-anni-romani-di-sandor-lenard-in-annuario-studi-e-documenti-italo-ungheresi-rom a-szeged-2005.html. Último acesso: 7 de julho 2017. (Vajdovics, ‘Gli anni romani di Sándor Lénard’). . Ele aprendeu italiano, mas também espanhol, holandês e norueguês. No início, tudo parecia uma nova aventura, uma mudança radical como ilustra a citação a seguir:

Começar uma nova vida! Quem ainda não tomou a decisão de recomeçar sua vida? [...] Se você realmente quer começar uma nova vida, arrume sua mala e vá para um país estrangeiro. Não leve dinheiro com você, porque mais cedo ou mais tarde você só comprará sua vida antiga […]8 8 Ein neues Leben beginnen! Wer hat nicht schon einmal den Entschluss gefasst, sein Leben ganz neu anzufangen? […] Wenn du wirklich ein neues Leben beginnen willst, so packe dein Köfferchen und geh in ein fremdes Land. Geld nimm keines mit, denn früher oder später kaufst du dir damit doch nur dein altes Leben: besorgst dir deine Lieblingsbücher, die vertrauten Noten, korrespondierst mit alten Freunden, richtest dir deine Bleibe so ein, wie du sie schon immer gern mochtest. Du wirst wie daheim einen Schreibtisch haben, dazu die passende Lampe, und die gleiche Tinte benutzen, die gleichen Medikamente schlucken und Pflanzen um dich haben, deren Blüten dir auch früher gefielen. Hängst dir die Fotos der Eltern an die Wand, und deine alten Tagebücher wirst du natürlich bei dir haben. Aus den Gegenständen, die dich bisher begleiteten und die deine treuen Diener waren, steigt dein früheres Leben auf und stranguliert dein neues Lénárd: Am Ende, p. 4–5. (Lénárd)

Foi assim que Lenard viu seu exílio no início, como uma oportunidade para recomeçar a vida. Se o início pôde ter tido algo idílico, logo a realidade de ter que viver em um estado fascista apareceria, ainda mais quando os nazistas invadiram Roma e Mussolini havia perdido o controle. Durante toda a guerra, Lenard teria o cuidado de nunca colocar seu nome em nenhum papel que testemunhasse sua presença na Itália, fato ao qual ele mais tarde atribuiria sua sobrevivência. Ele se escondia trabalhando na Biblioteca do Vaticano, fazendo pesquisas e traduções do latim.

Sendo “pau para toda obra” intelectual, Lenard caracterizou sua instabilidade profissional, resumindo sua vida na Itália da seguinte forma:

Eu fui ajudante de cozinha; medi pressão arterial, indo de casa em casa; fui médico da Academia Húngara em Roma; fui mendigo; servi como antropólogo no Exército Americano, montando esqueletos de pequenos pedaços ao pé da vinha de Maquiavel, ao lado do pitoresco Monte Vesúvio... Além disso, escrevi história da arte, dissertações arqueológicas e médicas atrás das grossas paredes de tijolos da Biblioteca Nazionale e da Biblioteca do Vaticano [...]. Por um tempo, toquei duetos de piano com um diretor de banco em troca de um jantar, enquanto seu cozinheiro - que era mais sensível à minha situação - me tirou batatas de sua despensa para que eu também tivesse algo para comer no dia seguinte. Fui tradutor do primeiro congresso de criadores de cães do pós-guerra. Eu tive muitos pacientes [...]. Tratei as varizes de um bispo e pedi palmilhas para os pés chatos de um superior quando o santo fundador da ordem não estava disposto a ajudar...

(Tradução nossa, como as seguintes em que não haja menção do tradutor, do inglês de Helga Lénárt-ChengLénárt-Cheng, Helga. “A Multilingual Monologue: Alexander Lenard’s Self-Translated Autobiography in Three Languages”. Hungarian Cultural Studies. vol. 7, januari, (2015): 337. CrossRef, https://doi.org/10.5195/AHEA.2014.3.
https://doi.org/10.5195/AHEA.2014.3...
)9 9 Helga Lénárt-Cheng. “A Multilingual Monologue: Alexander Lenard’s Self-Translated Autobiography in Three Languages”. Hungarian Cultural Studies 7 (January 9, 2015), p. 337. (Lénárt-Cheng)

Lenard se apaixona por uma mulher italiana, Andrietta Arborio di Gattinara10 10 A esposa de Lenard descreve seu primeiro encontro da seguinte forma: “Un bel giorno mi apparve in ufficio uno strano tipo, molto scuro, con un vecchio loden e un cappellaccio tutto sformato. Il volto era quasi nascosto dai baffi, ma gli occhi… oh, i suoi occhi ardenti, teneri, dolorosi, indimenticabili. Era Sándor. Veniva a prendere dei testi da tradurre. Si trattava di didascalie da mettere sotto alle riproduzioni di radiografie dei polmoni, nella dispensa di un docente medico. […] Già la seconda volta che ci siamo visti, mi porge muto un foglio manoscritto con una poesia in tedesco, gira i tacchi e se ne va.” Andrietta Arborio di Gattinara in Vajdovics: Gli anni, p. 3. , se envolveu com o Movimento de Resistência Italiano, e conseguiu sobreviver ileso à guerra. Seu irmão judeu, que havia ficado na Áustria, não sobreviveria a uma marcha da morte no final da guerra.

Em 1946, Andrietta Arborio deu à luz um filho. Na época, Lenard trabalhava em Nápoles para o Exército dos EUA como intérprete e antropólogo no Serviço de Registro de Tumbas, identificando os restos mortais de soldados americanos. Ele também escreveu uma série de livros de divulgação sobre tópicos médicos, tais como Il bambino sano e ammalato (1947) e Partorire senza dolore (1950).

Como o próprio Lenard declararia em uma carta a Klára Szerb, viúva de Antal Szerb: “Vivi em Roma durante quinze anos, quase o dobro do tempo de Budapeste.”11 11 Siklós, Péter. “The Klára Szerb–Alexander Lenard Correspondence”. The Hungarian Quarterly. 189, (2008): 42–61. Para mais informações sobre a biografia de Lenard, veja também a entrevista com Klára Szerb; László Rapcsányi/Klára Szerb. “Who was Alexander Lenard? An Interview with Klára Szerb”. The Hungarian Quarterly. 189, (2008): 26–30. (Rapcsányi & Szerb) Zsuzsanna Vajdovics teve a oportunidade de perguntar à viúva de Lenard sobre sua relação com os italianos:

Um exilado indocumentado, ilegal e clandestino procura a companhia de seus pares, portanto de outros exilados ou emigrantes, húngaros ou austríacos, alemães etc. Ele os conhece bem, após duas sentenças trocadas sabe perfeitamente qual é a posição política deles e se pode confiar neles. Com os italianos não era tão fácil, e assim, como precaução, não sabendo se eram italianos fascistas ou não, ele tentou evitá-los. Os amigos italianos são do povo, o barbeiro, certos pacientes, o farmacêutico, e mais tarde os camaradas da resistência, excelentes pessoas, mas não homens de letras.12 12 “Un esule senza documenti, illegale e perseguitabile cerca la compagnia dei suoi simili, quindi di altri esiliati o emigrati, ungheresi o austriaci, tedeschi, p. li conosce bene, dopo due frasi scambiate sa perfettamente qual è la loro posizione politica e se può fidarsi di loro. Con gli italiani non era così facile, e quindi, per precauzione, non sapendo se si trattasse di italiani fascisti o meno, cercava di evitarli. Gli amici italiani sono del popolo, p. il barbiere, certi pazienti, il farmacista, e più tardi i compagni della resistenza, ottima gente, ma non uomini di lettere.” Andrietta Arborio di Gattinara, in Vajdovics: Gli anni, p. 7.

Por mais verdadeiro que isso seja, causa alguma surpresa que Lenard não tenha tido nenhum contato com a intelligentsia italiana. Isto, aliás, se repetiria notavelmente em seu próximo país de exílio, o Brasil.

Em 1951, por causa da guerra na Coreia, Lenard estava convencido de que uma Terceira Guerra Mundial estava se aproximando. Ele, cuja vida havia sido estilhaçada duas vezes pela guerra, não queria correr riscos e, apesar de uma oferta para se tornar professor de História da Medicina em Budapeste, ele decide emigrar: “Não voltarei a lutar e ficarei, durante a próxima guerra, absolutamente neutro.”13 13 “Io però questa volta non combatterò più/ E rimango, nella prossima guerra, assolutamente neutrale.” Vajdovics: Gli anni, p. 8. Lenard havia chegado à conclusão de que, mesmo após a derrota dos nazistas, “o ódio não só tinha sobrevivido, como também estava mais forte do que nunca”. A Europa e o mundo tinham encontrado um novo e santo pretexto para o ódio.14 14 Veja Sachs: Alexander Lenard Sachs (Nota de rodapé 5).

Com a esposa e o filho, Lenard decide emigrar para o Brasil. O fato de ele ter trabalhado para a Organização Internacional de Refugiados facilitaria esta decisão. No Paraná, ele trabalharia por algum tempo em uma mina de chumbo como enfermeiro, já que seu diploma médico não era reconhecido, ou era inexistente. A história conta que ele tinha que ensinar latim aos filhos de um engenheiro-chefe francês e teve a ideia de traduzir o Winnie the Pooh de E. Milne para o latim. A estadia na mina e chumbo não durou muito tempo: “Minha idílica existência terminou quando fui demitido. Eu havia sugerido aos mineiros e fundidores de chumbo que saíssem daí e isso não era o que o superintendente queria que eu fizesse.”15 15 Lenard, Alexander. “A Few Words About Winnie Ille Pu”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 87–92. Ele havia usado anteriormente Winnie the Pooh para ensinar inglês a um membro da Resistência italiana durante a guerra. Lenard trabalharia nesta tradução por sete anos. Quando, finalmente, foi publicada e Lenard já havia se mudado para uma pequena vila no interior do estado de Santa Catarina, ele escreve para um primo nos Estados Unidos:

Caro primo William, [...] pela mais estranha coincidência do mundo, eu me tornei um escritor mais vendido - ou pelo menos um tradutor. Graças a Winnie ille Pu. LIFE publicou um artigo sobre minha vida e meu trabalho. [...] Pela primeira vez desde 1938, eu sonho com uma vida estabelecida. Atualmente, isto é apenas um sonho, porque mesmo após a publicação de 84.000 exemplares nos EUA, eu não recebi um contrato para o livro, muito menos um centavo.16 16 Ibid., p. 96. (Lenard, ‘A Few Words About Winnie ille Pu’) 15 15 Lenard, Alexander. “A Few Words About Winnie Ille Pu”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 87–92.

O dinheiro para sua tradução viria. Provavelmente não foi uma coincidência que na remota aldeia onde Lenard instalara sua casa, existisse uma grande comunidade de colonos alemães, descendentes relativamente prósperos dos alemães que haviam imigrado para Santa Catarina em meados do século XIX, principalmente da região de Hunsrück.17 17 Veja Mosimann, João Carlos. Catarinenses: Gênese e História. Florianópolis: Fundação Catarinense, 2010. (Mosimann). Para mais informações sobre os colonos alemães no Brasil, veja Kroener, Sebastian. Das Hospital auf dem Palmenhof. Pionierarbeit im Siedlungsgebiet deutscher Einwanderer in Südbrasilien. Norderstedt, 2016. (Kroener). Na avaliação de Karl Ilg sobre os pioneiros da língua alemã no Brasil (e no Peru), o romance de Lenard Die Kuh auf dem Bast é um exemplo de vida típica dos colonos. See Ilg, Karl. Pioniere in Brasilien. Innsbruck/Wien/München: Tyrolia, 1972, p. 36. Graças a um concurso radiofônico sobre Bach, compositor que ele conhecia bem, Lenard conseguiu ganhar um prêmio em dinheiro suficiente para comprar uma farmácia em Dona Emma, onde poderia praticar como médico “sub specie apothecarii”.18 18 Lenard: Die Kuh, p. 80. Em uma carta de 1970 a um membro da família nos EUA, Lenard confessa como, apesar de todas as suas manifestações escritas de felicidade com seu novo lar, a saudade de casa nunca está longe:

Caro William, meu filho me diz que todos vocês vivem perto uns dos outros. Quase toda a minha vida foi uma série de dores de cabeça e o resto foi nostalgia e saudade de casa. Minhas dores de cabeça passaram, mas a nostalgia e saudades de casa estão aqui mais do que nunca e eu invejo aqueles que podem dizer ‘Estamos todos em casa’ - Abrasos [sic], Sándor.19 19 Sachs: Alexander Lenard, p. 98.

No contexto desta experiência de quase sem-teto, a reflexão intelectual, a leitura, a escrita e a aprendizagem, desempenharam um papel importante na tentativa de aceitar esta agitação contínua como uma espécie de escrivaninha móvel (mobiler Schreibtisch), uma encarnação intelectual de uma pátria espiritual.

2. Escrever no exílio

Alexander Lenard foi um escritor prolífico. Ser um forasteiro fez com que ele tomasse consciência de suas especificidades e diferenças culturais. De fato, a condição exílica de alteridade e alienação forçou-o a ver a sociedade de outras maneiras. O caráter experimental da escrita no exílio, como Paul Michael Lützeler observa, é uma das principais características do exílio literário:

É ser um forasteiro que aguça o olho para coisas novas, faz da alegria da experimentação uma segunda natureza, permite fazer novas perguntas e tomar caminhos incomuns. O fato de ser um outsider contribuiu para a expulsão da pátria, e essa condição raramente se perde no exílio.20 20 “Es ist das Außenseitertum, das den Blick für Neues schärft, die Experimentierfreude zur zweiten Natur macht, dazu befähigt, neue Fragen zu stellen und ungewöhnliche Wege zu gehen. Das Außenseitertum trug zur Vertreibung aus der Heimat bei, und es verliert sich nur selten im Exil.” Paul Michael Lützeler: Migration und Exil in Geschichte, Mythos, und Literatur. In: Bettina Bannasch/Gerhild Rochus (Eds.): Handbuch der deutschsprachigen Exilliteratur: Von Heinrich Heine bis Herta Müller. Berlin/Boston 2013, p. 3–25. (Bannasch en Rochus)

Egon Schwarz, o famoso literato austríaco-judaico que nasceu em Viena em 1922 e fugiu em 1938 após a anexação da Áustria, teve uma trajetória através da Europa, da América do Sul e do Norte que é semelhante à de Lenard em sua dinâmica transnacional. Sua fuga via Bratislava (Pressburg) para Praga e Paris, após o qual ele passou dez anos na Bolívia, Chile e Equador, finalmente o levou aos Estados Unidos para encontrar um lar permanente. As experiências transculturais e a influência que tiveram em sua visão de mundo se refletem em sua autobiografia Keine Zeit für Eichendorff (1992, republicada em 2005 como Unfreiwillige Wanderjahre). O texto expressa como ele, como Lenard, ganhou uma “outra perspectiva” (weiteren Ausblick) em seu pensamento e escrita através, ou talvez até graças às experiências de fuga e exílio:

Proclamar que Hitler foi bom para mim seria um escárnio [...]. No entanto, é um fato que fui lançado ao ar livre pelas explosivas erupções do Hitlerismo, onde ganhei um fôlego mais amplo e uma visão mais ampla do que se eu tivesse permanecido nos confins da minha pátria.21 21 “Zu verkünden, daß Hitler für mich gut war, wäre eine Verhöhnung […]. Dennoch ist es eine Tatsache, daß ich durch die explosionsartigen Ausbrüche des Hitlerismus in die freie Luft geschleudert wurde, wo ich einen längeren Atem und einen weiteren Ausblick gewonnen habe, als wenn ich in der heimatlichen Enge geblieben wäre.” Egon Schwarz: Unfreiwillige Wanderjahre. Auf der Flucht vor Hitler durch drei Kontinente. München: C.H. Beck Verlag, 2005, p. 233. (Schwarz)

Em suas numerosas traduções, poemas, ensaios e romances autobiográficos, que serão apresentados abaixo, Alexander Lenard expressa a experiência da pluralidade cultural e linguística, buscando a soberania física e a libertação intelectual no exílio.22 22 Alexander Lenard tem recebido até o momento pouco interesse pelo campo literário. No entanto, gostaríamos de chamar a atenção do leitor para duas antologias de texto, nas quais Lenard está representado. Três de seus poemas estão reunidos em uma antologia sobre a poesia austríaca no exílio em Miguel Herz-Kestranek/Konstantin Kaiser/Daniela Strigl (Eds.): In welcher Sprache träumen sie? Österreichische Lyrik des Exils und des Widerstands. Wien 2007 [Series Volume 21: Antifaschistische Literatur und Exilliteratur], p. 310–311.(Herz-Kestranek e.a.) Além disso, um artigo (com um trecho de Roman Stories e um poema inédito, “For C.”) em uma antologia de escritores poliglotas europeus é dedicada a Lenard em Kató Lomb: Harmony of Babel. Profiles of Famous Polyglots of Europe. Tradução de Ádám Szegi. Editado por Scott Alkire. Berkeley/Kyoto 2013, p. 64–69. (Lomb e.a.)O proeminente romancista e dramaturgo húngaro György Spiró enfatiza em uma entrevista como a experiência de Lenard no exílio o inspirou em seu trabalho dramático: “Ele [=Alexander Lenard] é uma grande figura cuja vida trágica me deu o tema para minha última peça.” György Spiró/Eve Maria Kallen: No politics, no ideology, just human relations. In: Hungarian Letter 92 (2014), p. 4–7. (Spiró & Kallen) Em Cultura e Imperialismo (1993), Edward Said destaca que a libertação como missão intelectual é profundamente encarnada pelo imigrante e afirma que a consciência da libertação “é a do intelectual e do artista no exílio, a figura política entre domínios, entre formas, entre lares e entre línguas”.23 23 “is that of the intellectual and the artist in exile, the political figure between domains, between forms, between homes, and between languages.” Edward Said: Culture and Imperialism. New York 1993, p. 332. (Said)

3. Traduções

Lenard foi ativo como tradutor durante a maior parte de sua vida. Entre suas traduções podemos citar o mais famoso, Winnie the Pooh para o latim, e também os poetas húngaros Petôfi, Babits e Heltai traduzidos para o alemão, e Faust de Goethe para o húngaro. Logo livros de medicina alemã para o italiano, Bonjour Tristesse de Françoise Sagan para o latim, Antal Szerb’s A királyné nyaklánca [O Colar da Rainha] do húngaro para o alemão, além do romance de György G. Kardos Avraham Bogatir hét napja [Sete Dias na Vida de Abraham Bogatir] também do húngaro para o alemão.24 24 de suas traduções: Vajdovics, Zsuzsanna. “Alexander Lenard: ‘Portrait d’un traducteur émigrant’”. Atelier de Traduction. 9, (2008): 185–191. (Vajdovics) Sua tradução mais bem-sucedida seria Winnie-the-Pooh (Winnie Ille Pu), dos quais inicialmente apenas 300 cópias foram impressas em São Paulo por um linotipista húngaro, mas no final, 150.000 exemplares seriam vendidos.

O fato de traduzir se tornaria da maior importância para a sobrevivência intelectual de Lenard ou, como diz Zsuzsanna Vajdovics: “A vida inteira de Lenard será uma sucessão de viagens em busca de duas das três coisas mais importantes: paz e independência, mas com o risco de perder a terceira, a cultura europeia. Traduzir é estar apegado a esta cultura.”25 25 “Toute la vie de Lenard sera une succession de déplacements à la recherche de deux choses parmi les trois plus importantes: la paix et l’indépendance, mais au risque de perdre la troisième, la culture européenne. Traduire, c’est s’attacher à cette culture.” Ibid., p. 189. Na verdade, para Lenard, a tradução significava comunicar com a diversidade da cultura europeia.

4. Sieben Tage Babylonisch

Em 1964 Alexander Lenard publicou, na Alemanha, um pequeno livro chamado Sieben Tage Babylonisch: Sete dias na Babilônia (Lenard, 1964), que, na realidade, seria: “Sete dias falando de sete línguas”. O livro discute efetivamente sete línguas, o resultado de uma série radiofônica da qual Lenard cuidou, transmitida pela Norddeutsche Rundfunk alemã, provavelmente desde seu “exílio” em Santa Catarina. Os episódios tratam do húngaro, o “catarinense”, o português brasileiro, o botocudo, o francês acadêmico, o dialeto de Roma e o neolatim. As línguas que nos interessam aqui especialmente são as que têm relação com a estadia do autor em terras brasileiras: o “catarinense”, o português brasileiro, e o botocudo.

O catarinense

Até para um habitante de Santa Catarina deve soar estranho escutar falar de uma língua chamada de “catarinense”. Normalmente “catarinense” não corresponderia a um idioma. Entretanto, Lenard está se referindo à língua falada na região onde, em 1964, quando ele escreve sobre essa estranha língua, ele já está morando há cerca de dez anos. Uma língua em que predomina o alemão, misturado com português. A região de Dona Emma, onde Lenard vivia, fora povoada por imigrantes trazidos ao Brasil pelo Dr. Blumenau. Lenard começa seu argumento com a pergunta qual seria a diferença entre um idioma e um dialeto, e a arbitrariedade dessa diferença faz ele elevar o “catarinense” ao status de língua.

Eles tiveram que criá-la [a língua], porque quase ninguém, exceto o clero e os farmacêuticos, tinha aprendido o alto alemão na escola. Os Hunsrückers não entendiam o Pommersch-Platt. Uma linguagem era mais necessária do que um banheiro. Ao mesmo tempo, foi necessário criar um instrumento de comunicação com os outros habitantes do país: os italianos e os portugueses dos Açores.26 26 Sie mussten sie schaffen, denn es gab außer den Geistlichen und einzelnen Apothekern kaum einen, der in der Schule das Hochdeutsche gelernt hätte. Die Hunsrücker verstanden kein Pommersch-Platt. Eine Sprache war notwendiger als das Badezimmer. Gleichzeitig musste ein Verständigungsinstrument gegenüber den anderen Einwohnern des Landes geschaffen werden: den Italienern und den Portugiesen von den Azoren.

Depois Lenard discorre sobre a língua “criada”, não sem humor. Afinal, o título de seu livro mais famoso, que, em 2013, foi finalmente traduzido para o português por Paulo Schiller, é também “catarinense”: Die Kuh auf dem Bast (literalmente: A vaca no pasto). Lenard dá alguns exemplos dessa nova língua, o que certamente deve ter soado estranho para seus ouvintes alemães originais.

Depois do Botschen (bocha), vamos até a venda, bebemos cachaça (leia-se: kaschassa) e comemos um churrasco (shurraskoh), e se for domingueira (domingeira), dançamos.27 27 “Nach dem Botschen gehen wir in die Wende, trinken Cachaça (lies: kaschassa) und essen einen Churrasco (Schurraskoh), und wenn gerade Domingueira (Domingeira) ist, tanzen wir.”

E também:

Eu cuidei do gado pela manhã e fui direto para a roça (rossa) capinar (capienen). Meu marido passou a foice (gefoist) no mato, porque queremos plantar muito aipi [sic]....28 28 “Ich habe in der Früh das Vieh versorgt und bin gleich in die Roça (Rossa) capienen. Mein Mann hat den Mato gefoist, denn wir wollen viel Aipi pflanzen ...”.

Lenard então menciona mais algumas palavras que normalmente se referem a realidades que não existiam nos países de língua alemã. A história toda é bastante divertida, especialmente para alguém que conhece o idioma falado no interior de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É estranho que Lenard não mencione neste contexto este grande vizinho do sul de Santa Catarina, como se não o conhecesse, já que inclusive mais alemães se instalaram lá do que em Santa Catarina.

O que é marcante aqui é a relativa ignorância de Lenard quando se trata do país onde, no momento da publicação do livro, ele vive há mais de doze anos. Por exemplo, em seu relato sobre o catarinense, no qual ele usa poucas palavras em português, é interessante que estas estejam muitas vezes com erros de ortografia. Ela menciona, por exemplo, as palavras “cuja” (cuia); “licentia” (licença); “aipi” (aipim); “foiça” (foice); “barranca” (barranco). Estes erros provavelmente se devem, em parte, precisamente à influência dos alemães, que frequentemente trocam o feminino pelo masculino, mas também ao fato de que o contato de Lenard com o português era puramente oral – ele que lia tanto –, e não com brasileiros não-alemães. Interessante também é o “licentia” latino.

Dá a impressão de que Lenard não tinha nenhum contato com o português escrito. Isto parece surpreendente em alguém que se orgulhava de dominar mais de dez idiomas. A descrição que ele faz da “foice” brasileira também merece menção porque transmite o tipo de olhar de um forasteiro e indica a maneira como ele incorpora o estranho em seu mundo. A foice brasileira, diz Lenard é “um instrumento que parece uma arma do tempo dos lansquenets, uma foice pesada sobre um cabo pesado de madeira, que é balançado com todas as forças”.29 29 “Es kann nur mit einem Instrument gerodet werden, das wie eine Waffe aus der Zeit der Landsknechte anmutet, einer gewichtigen Sichel an schwerem Holzstiel, der mit aller Kraft geschwungen wird, der Foiça.” (27) 28 28 “Ich habe in der Früh das Vieh versorgt und bin gleich in die Roça (Rossa) capienen. Mein Mann hat den Mato gefoist, denn wir wollen viel Aipi pflanzen ...”. Esta comparação com os lansquenets ocorre, naturalmente, também porque ele se dirige a um público alemão e que a referência a uma arma daquela época parecerá familiar a este público, mas não deixa também de projetar seus conterrâneos de volta para a Idade Média. No meio onde Lenard vive, ela não tem concorrência intelectual.

O Português Brasileiro

Quando Lenard descreve a língua oficial do país onde ele reside, ele parece ir um pouco longe em simplificar as coisas, considerando que, embora fosse médico e farmacêutico, ele se considerava antes de tudo um escritor e uma pessoa que fugiu para o Brasil indiretamente por causa do preconceito existente contra os judeus. Nas suas avaliações da língua sempre ressoam preconceitos, como se no Brasil ele nunca tivesse entrado em contato direto com pessoas com uma certa educação. Vale lembrar que no Brasil, na época da qual estamos falando, outros grandes exilados, e muitos judeus e alemães, tinham precedido ele somente de alguns anos, como seu conterrâneo Paulo Rónai.

Vale a pena citar Lenard sobre este tema. Quando ele relata a influência dos escravos na linguagem utilizada pelos patrões, ele menciona o fato de que os fazendeiros tinham seus filhos educados por “mães negras”. Essas mães teriam originalmente falado uma língua africana, mas devido à mistura de escravos de diferentes origens africanas, eles precisavam de uma língua comum, dando origem a uma espécie de português simplificado.

A ‘mãe negra’ mereceu uma estátua de bronze em São Paulo. Ela até teria merecido uma mais valiosa artisticamente, pois criou o sotaque e a entonação da língua brasileira. Teria sido demais pedir à mãe negra que aprendesse e transmitisse as formas gramaticais que vinham do latim. Ela recebeu uma linguagem simplificada - uma linguagem na qual o numquam vidi (eu nunca vi) tinha se tornado nunca vi, e ela simplificou ainda mais, falando como em Ewe ou Suaíli. O fazendeiro, o proprietário das terras, provavelmente riu quando ouviu seu filho falar a língua dos escravos. Seu neto já não sabia outra. O português, que os espanhóis consideram um dialeto de sua língua, já simplifica as palavras: da manzana espanhola (“maçã”) fez maça, da media (a meia) meia, da fidel igles [sic] (os fiéis da igreja, o crente) fregueses, a generación torna-se geração. Os criadores do brasileiro também simplificaram a gramática. A segunda pessoa dos verbos foi abandonada, as formas verbais compostas desapareceram, o uso do subjuntivo foi restrito. Ao mesmo tempo, as palavras abstratas desapareceram, para os quais talvez os idiomas da Costa do Ouro e da Costa do Marfim não tivessem equivalentes. Os nomes das coisas que não existem no interior do Brasil - e são muito numerosos - desapareceram.30 30 Die “schwarze Mutter” hat sich ihr Bronzestandbild in São Paolo redlich verdient. Sie hätte sogar ein künstlerisch wertvolleres verdient, denn sie hat Akzent und Intonation der brasilianischen Sprache geschaffen. Es wäre zu viel verlangt gewesen, wenn die schwarze Mutter, die aus dem Latein gewordenen grammatikalischen Formen hätte lernen und weitergeben sollen. Man gab ihr eine vereinfachte Sprache - eine, in der das numquam vidi (ich habe nie gesehen) zu nunca vi geworden war und sie vereinfachte sie weiter und sprach sie wie Ewe oder Suaheli. Der fazendeiro, der Gutsbesitzer, lachte wahrscheinlich, als er seinen Sohn die Sklavensprache sprechen hörte. Sein Enkel kannte keine andere mehr. Schon das Portugiesische, das die Spanier als einen Dialekt ihrer Sprache betrachten, vereinfacht die Wörter: aus dem spanischen manzana (“Apfel”) macht es maça, aus media (der Strumpf) meia, aus fidel igles (der Getreue der Kirche, der Gläubige) fregues, aus generacion wird geração. Die Schöpfer des Brasilianischen vereinfachten auch die Grammatik. Die zweite Person der Verben fiel weg, die zusammengesetzten Verbalformen verschwanden, der Gebrauch des Konjunktivs wurde eingeschränkt. Gleichzeitig verschwanden die Abstrakta, für die vielleicht die Sprachen der Gold- und Elfenbeinküste keine Äquivalente hatten. Es verschwanden die Namen der Dinge - und sie sind sehr zahlreich -, die im Inneren Brasiliens nicht vorkommen.

O que chama a atenção neste trecho é uma certa ingenuidade de parte de Lenard no que se refere ao português. Ele, que tinha noções de espanhol, era uma pessoa instruída, conhecia não só a história de Portugal e do Brasil e era, mais do que nada, um latinista informado sobre as línguas neolatinas. Ele necessariamente sabia que o português tinha se desenvolvido, não do espanhol, mas separadamente do latim, e tinha evoluído no Brasil como todos as línguas evoluem. Este, no entanto, não parece ser o seu entendimento, já que, no início do capítulo, ele traz um paralelo com o francês, o inglês e o holandês, todas línguas que, segundo ele, teriam suportado mal o transplante para o Novo Mundo. Resulta surpreendente, embora compreensível, que Lenard, espírito cosmopolita como poucos, mesmo assim estivesse sob a influência imperante da “hierarquia das línguas”31 31 Em Words of the world: The Global Language System, de Swaan (2001) argumenta que há uma hierarquia entre as línguas. Ele sugere que existem quatro classes diferentes de idiomas: periféricos, centrais, supercentrais e hipercentrais. (de Swaan) 30 30 Die “schwarze Mutter” hat sich ihr Bronzestandbild in São Paolo redlich verdient. Sie hätte sogar ein künstlerisch wertvolleres verdient, denn sie hat Akzent und Intonation der brasilianischen Sprache geschaffen. Es wäre zu viel verlangt gewesen, wenn die schwarze Mutter, die aus dem Latein gewordenen grammatikalischen Formen hätte lernen und weitergeben sollen. Man gab ihr eine vereinfachte Sprache - eine, in der das numquam vidi (ich habe nie gesehen) zu nunca vi geworden war und sie vereinfachte sie weiter und sprach sie wie Ewe oder Suaheli. Der fazendeiro, der Gutsbesitzer, lachte wahrscheinlich, als er seinen Sohn die Sklavensprache sprechen hörte. Sein Enkel kannte keine andere mehr. Schon das Portugiesische, das die Spanier als einen Dialekt ihrer Sprache betrachten, vereinfacht die Wörter: aus dem spanischen manzana (“Apfel”) macht es maça, aus media (der Strumpf) meia, aus fidel igles (der Getreue der Kirche, der Gläubige) fregues, aus generacion wird geração. Die Schöpfer des Brasilianischen vereinfachten auch die Grammatik. Die zweite Person der Verben fiel weg, die zusammengesetzten Verbalformen verschwanden, der Gebrauch des Konjunktivs wurde eingeschränkt. Gleichzeitig verschwanden die Abstrakta, für die vielleicht die Sprachen der Gold- und Elfenbeinküste keine Äquivalente hatten. Es verschwanden die Namen der Dinge - und sie sind sehr zahlreich -, die im Inneren Brasiliens nicht vorkommen. (De SwaanDe Swaan, Abram. Words of the world: the global language system. Cambridge: Polity, 2001.), considerando o português uma língua “periférica”.

A maneira de Lenard descrever o português brasileiro beira às vezes a ingenuidade, como quando ele descreve como se usam as expressões “tem” e “quero”, sem se dar conta que o que ele diz do português pode ser falado de qualquer outra língua, o que ele, como poliglota, bem deveria saber.

Um conjunto de palavras simples já permite a comunicação entre pessoas pouco exigentes. Tem significa ‘há’, ‘está ahí’, ‘está disponível’, ‘acredito’, ‘existe’. Não tem nega a existência e significa ‘está ausente’, ‘sinto muito’, ‘não pode ser’, ‘estava, mas já foi’. Quero expressa todos os desejos: ‘Eu quero’, ‘Eu gosto’, ‘Eu concordo’, ‘Eu aceito’, ‘Eu desejo’, ‘Eu aspiro a isso’, ‘Eu gosto...’ Não quero portanto: ‘rejeito’, ‘recuso-me’, ‘não me entrego’, ‘não me convém’, ‘repele-me...’. Por que aquela torrente de palavras para o que pode ser dito tão claramente com quero e não quero? Com as palavras indicando o tempo para comer, beber, dormir, quase tudo pode ser dito que é bom na vida, e com as que indicam trabalho e dor, tudo que é ruim.32 32 Ein Satz einfacher Wörter ermöglicht schon die Verständigung zwischen anspruchslosen Menschen. Tem heißt“es gibt”, “es ist da”, “steht zur Verfügung”, “ich glaube dran”, “es existiert”. Não tem verneint die Existenz und heißt, “es ist abwesend”, “bedaure sehr”, “Sie können es nicht erhalten”, “es war da, aber es ist vergangen”. Quero drückt alle Wünsche aus: “ich möchte”, “ich mag”, “ich bin einverstanden”, “ich pflichte bei”, “ich sehne mich danach”, “ich strebe es an”, “ich will es . . .” Não quero demnach: “ich lehne ab”, “ich weigere mich”, “ich gebe mich dazu nicht her”, “es liegt mir nicht”, “es widerstrebt mir ...” wozu die Flut von Wörtern für das, was mit quero und não quero so klar gesagt ist? Mit den Zeitwörtern für essen, trinken, schlafen ist so gut wie alles gesagt, was im Leben gut ist, mit jenen für arbeiten und schmerzen alles, was schlecht ist.

Em nenhum momento do livro Lenard se refere a outras expressões culturais, mais sofisticadas, a literatura para citar o exemplo mais evidente, que também se expressam em português brasileiro. Às vezes, o desconhecimento chega a alturas surpreendentes: “O que distingue o português de sua língua irmã maior, o espanhol, é a ausência de ‘grande literatura’. O nome do único poeta conhecido, Camões, nunca ultrapassou as fronteiras.”33 33 „Das, was das Portugiesische von der großen Schwestersprache, dem Spanischen, unterscheidet, ist schon das Fehlen der “großen Literatur”. Der Name des einzig bekannten Dichters, Camões, ist nie über die Grenzen gedrungen.” Lembremos que na época em que Lenard escreve estas palavras é a época de Cecília Meireles, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e outros.

Isto, aliás, é uma característica da obra de Lenard, nos anos em que ele viveu no Brasil, que em nenhum momento ele se refere ou mostra ter algum conhecimento do mundo intelectual que o rodeava.

Os fatos conhecidos mostram que, apesar de continuar escrevendo e traduzindo poesia de várias línguas, ele parece, aos 53 anos, estar cansado de guerra. Como ele diz literalmente em Die Kuh auf dem Bast (1963): “Die Kriege haben mein Leben Bestimmt / As guerras definiram minha vida”.34 34 Lenard, Alexander. Die Kuh auf dem Bast. Stuttgart: Anstalt, 1963, p. 8. E as consequências dessas guerras o levariam ao isolamento, em vez de à integração.

O Botocudo

A atitude de Lenard, no entanto, parece bem diferente quando se trata do Botocudo e ele anuncia, provavelmente de maneira retórica: “Eu gostaria de aprender o botocudo! Eu quero sinceramente, e farei um esforço. Gostaria de poder começar hoje.”35 35 “Ich möchte gerne Botokudisch lernen! Ich wünsche es aufrichtig, und ich werde mich bemühen. Ich wollte, ich könnte heute beginnen.” (45) Na realidade, o capítulo sobre o botocudo trata da extinção das línguas indígenas. Segundo Lenard, o italiano tem que ser aprendido por causa da arte, o espanhol para poder ler o Dom Quixote, o francês “se quiser ler” simplesmente, o inglês para poder “analisar o clima” e entender a língua do computador, e o botocudo porque está morrendo.

Na realidade, os índios dos quais Lenard está falando, e que ele situa como morando numa reserva catarinense perto de Ibirama, não podem ser os Botocudos, e sim os Xoclengues, Caingangues ou Guaranis, e é tentador pensar que Lenard conhecia mais do que nada os Botocudos, sendo uma das tribos mais retratadas no curso da história, entre outros pelas populares gravuras do pintor alemão Johann Moritz Rugendas.

Como dá para perceber, o português brilha de novo pela ausência, embora não totalmente. Os remanescentes dos botocudos, diz Lenard, moram no interior de Santa Catarina, onde eles “falam um pouco de português; eles já podem mendigar em uma língua filha de Roma.”36 36 “Sie sprechen ein wenig portugiesisch; sie können schon in einer Tochtersprache Roms betteln.” Chama a atenção aqui novamente, primeiro, que o português é colocado numa situação de pura utilidade prática, pelo menos para os “botocudos”. Serve para mendigar. Chama a atenção de novo a referência a Roma, pátria do latim que era o seu grande amo. A perspectiva é eurocêntrica, embora isso não tenha nada de surpreendente. Lenard era europeu e, pode-se assumir, já tinha passado da idade em que se poderia esperar mudanças drásticas na sua constituição identitária.

A maneira de falar do botocudo é de traçar suas origens até a idade da pedra, o que parece lhe dar “lettres de noblesse”. O botocudo aparece como uma língua com um longo pedigree, o que o distingue das outras línguas que evoluíram do nobre Latim, ou de outra língua. O botocudo, aos olhos de Lenard, conservou uma certa inocência e autenticidade, de uma época em que a humanidade era uma só.

O que se percebe aqui é menos uma atitude de desprezo pelo Brasil e pelo português do que a reação de alguém que teve que fugir primeiro da Hungria, depois da Áustria, depois da Itália e que, finalmente, encontrou um lar num reduto onde se fala sua língua e que, pelo estado das comunicações ainda nos anos sessenta, oferece uma certa proteção por causa do isolamento. Esse isolamento, ele o compartilha com os botocudos. Toda inserção no meio em que ele se encontra é doravante experimentado como uma ameaça à sua identidade. Perante os botocudos, Lenard mostra uma autêntica compaixão e até admiração:

Nosso senso de superioridade se desvanece quando pensamos nas características do homem da floresta. Eles conseguem aprender nossas letras, manusear nossos utensílios. Nós nem mesmo podemos encontrar nossa comida diária na floresta com uma flecha pronta, muito menos trabalhar uma ponta de flecha da rocha com uma pedra!37 37 Unser Gefühl der Überlegenheit schwindet, wenn wir an die Züge des Waldmenschen denken. Sie können unsere Buchstaben lernen, unsere Geräte handhaben. Wir können nicht einmal mit dem fertigen Pfeil die tägliche Nahrung im Walde finden, geschweige denn, mit einem Stein eine Pfeilspitze aus dem Felsen schlagen! 36 36 “Sie sprechen ein wenig portugiesisch; sie können schon in einer Tochtersprache Roms betteln.”

Por estarem mais distantes de sua cultura, e a assimilação a ela ser menos provável ou ameaçadora, Lenard parece sentir mais proximidade e mais abertura perante os botocudos sobre os quais, querendo ou não, ele tem a superioridade do branco que ele herdou da situação, e que ele não tem perante os brasileiros.

Há um panegírico da sabedoria e dos conhecimentos dos indígenas que parece autêntico, mesmo porque segue uma crítica à colonização, não só dos indígenas brasileiros, mas também dos negros da África, onde os males provocados não têm mais volta. Cada vez que um país se torna independente, diz Lenard, uma constituição é promulgada na língua do antigo colonizador, escrito no alfabeto desse mesmo colonizador.

5. Conclusão

O que podemos concluir desta incursão de um escritor exilado judeu húngaro-alemão no domínio das línguas? A língua, logicamente, é uma preocupação primordial para um escritor, e mais ainda para alguém que se gaba do seu conhecimento de línguas e que ficou famoso mais do que nada, por causa de uma tradução para o latim. A língua é também o primeiro veículo para a inserção numa sociedade, e como húngaro Lenard não teve dificuldade para aprender o alemão na Áustria, e depois o italiano, para se integrar na Itália. E podemos dizer também, para aprender o latim para se integrar na Biblioteca do Vaticano.

Os textos de Lenard mostram dinâmicas culturais que vão além da oposição estrangeiro/ doméstico. Assim, elas começam com a observação fundamental de que as culturas não podem ser claramente contornadas ou demarcadas umas das outras, mas sim representam uma rede multiplicada de influências mútuas e diversas que não podem ser rastreadas até uma origem espacial ou linguisticamente localizável. Sieben Tage Babylonisch nos permite ver como culturas, temas, textos caracterizados por diversas influências culturais e contatos - austríacos, alemães, húngaros, brasileiros, italianos, romanos - consequentemente não mais permitem uma atribuição de especificidade cultural, mas permitem que coisas culturalmente novas apareçam de uma forma complexa.

Lenard apresenta, assim, um paradoxo cultural que consiste fundamentalmente no fato de que as culturas, por um lado, são concebidas como entidades específicas, com seus próprios códigos, características e história, que são capazes de explicar a “especificidade” cultural. Neste contexto, Michael Werner destaca que, dada tal conceituação, as relações culturais podem ser descritas como contato, mediação, transferência ou intercâmbio. A visão oposta, por outro lado, enfatiza precisamente o que é processual na cultura. A cultura é, inerentemente, negociação e já está sempre determinada situacionalmente pelos atores e pelo contexto: “A cultura neste sentido é, em si mesma, troca e transferência”3738 38 “Kultur in diesem Sinne ist selbst Austausch und Transfer.” Werner, Michael. “Konzeptionen und theoretische Ansätze zur Untersuchung von Kulturbeziehungen”. Lexikon der deutsch-französischen Kulturbeziehungen nach 1945. Colin, Nicole et al. (Hg.). Tübingen: Narr 2013. S. 23-31. (Colin e.a.) . A mediação cultural de Lenard como ator, integrado em redes, sejam elas agrupamentos ou estados-nação, é fundamental neste processo de transferência, pois são os atores - como escritores e tradutores - que fazem a seleção.

O que se constata, e ficou corroborado por outras testemunhas citadas acima, foi que Lenard, logo que chegou ao Brasil, e ao contrário do que aconteceu nas outras vezes em que mudou de país, quis se isolar da população local. Não aprendeu a língua, aparentemente por falta de interesse cultural. Terá havido eurocentrismo? Provavelmente, mas também houve a rejeição a uma nova integração que poderia levar a novos desapontamentos.

  • 1
    O próprio Lenard usava várias grafias do seu nome dependendo da língua em que publicava: Alexander Lenard, Sándor Lénárd.
  • 2
    Veja Péter Siklós: Von Budapest bis zum Tal am Ende der Welt. Sándor Lénárds romanhafter Lebensweg. s.d. http://mek.oszk.hu/kiallitas/lenard/cv/indexde.html. Último acesso: 14/03/2021 (Siklós)
  • 3
    Lynne SachsSachs, Lynne. “Alexander Lenard. A Family Correspondence”. The Hungarian Quarterly, vol. 199, (2010):. 93–104.. “Alexander Lenard: A Family Correspondence”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 93–104. Sachs também fez um documentário experimental, The Last Happy Days (2009), sobre a vida de Lenard como exilado.(Sachs)
  • 4
    Veja SiklósSiklós, Péter. “The Klára Szerb–Alexander Lenard Correspondence”. The Hungarian Quarterly, 189, (2008): 42–61.: Von Budapest bis zum Tal am Ende der Welt (sem página).
  • 5
    Veja LenardLenard, Alexander. Die Kuh auf dem Bast. Deutsche Verlagsanst., 1963.: Die Kuh auf dem Bast, p. 10 (Lenard, Die Kuh auf dem Bast).
  • 6
    “Hier in der Apotheke kann ich so vieles besser lernen, als wenn ich die Universität mit Lorbeerkranz absolviert hätte” Lénárd, Sándor. Am Ende der Via Condotti Römische Jahre. Traduzido por Ernö Zeltner. München 2017, p. 173. Esta recente publicação parece atestar uma recente renovação de interesse no trabalho da Lenard. Em 2013 foi publicada uma tradução para o português de Die Kuh auf Dem Bast (Sándor, Lénárd. O Vale do Fim do Mundo. Traduzido por Paulo Schiller. São Paulo: Cosac Naif, 2013.) e no mesmo ano uma tradução inglesa do original húngaro de Am Ende der Via Condotti (Sándor, LénárdLénárd, Sándor. Am Ende der Via Condotti Römische Jahre. Vertaald door Ernö Zeltner, Deutscher Taschenbuch-Verlag, 2017.. Stories of Rome. Traduzido por Baczoni Márk, Budapeste, 2013.)
  • 7
    Esta parte da biografia sobre o período romano de Alexander Lenard se baseia em Zsuzsanna Vajdovics (2005)Vajdovics, Zsuzsanna. “Gli anni romani di Sándor Lénard”. Annuario. Studi e documenti italo-ungheresi. Roma-Szeged, 2005, http://docplayer.it/285414-Gli-anni-romani-di-sandor-lenard-in-annuario-studi-e-documenti-italo-ungheresi-roma-szeged-2005.html.
    http://docplayer.it/285414-Gli-anni-roma...
    , que teve contato pessoal com sua viúva. Veja neste contexto Zsuzsanna Vajdovics, “Gli anni romani di Sándor Lénard”. Annuario. Studi e Documenti Italo-Ungheresi. Roma-Szeged (2005). http://docplayer.it/285414-Gli-anni-romani-di-sandor-lenard-in-annuario-studi-e-documenti-italo-ungheresi-rom a-szeged-2005.html. Último acesso: 7 de julho 2017. (VajdovicsVajdovics, Zsuzsanna. “Gli anni romani di Sándor Lénard”. Annuario. Studi e documenti italo-ungheresi. Roma-Szeged, 2005, http://docplayer.it/285414-Gli-anni-romani-di-sandor-lenard-in-annuario-studi-e-documenti-italo-ungheresi-roma-szeged-2005.html.
    http://docplayer.it/285414-Gli-anni-roma...
    , ‘Gli anni romani di Sándor Lénard’).
  • 8
    Ein neues Leben beginnen! Wer hat nicht schon einmal den Entschluss gefasst, sein Leben ganz neu anzufangen? […] Wenn du wirklich ein neues Leben beginnen willst, so packe dein Köfferchen und geh in ein fremdes Land. Geld nimm keines mit, denn früher oder später kaufst du dir damit doch nur dein altes Leben: besorgst dir deine Lieblingsbücher, die vertrauten Noten, korrespondierst mit alten Freunden, richtest dir deine Bleibe so ein, wie du sie schon immer gern mochtest. Du wirst wie daheim einen Schreibtisch haben, dazu die passende Lampe, und die gleiche Tinte benutzen, die gleichen Medikamente schlucken und Pflanzen um dich haben, deren Blüten dir auch früher gefielen. Hängst dir die Fotos der Eltern an die Wand, und deine alten Tagebücher wirst du natürlich bei dir haben. Aus den Gegenständen, die dich bisher begleiteten und die deine treuen Diener waren, steigt dein früheres Leben auf und stranguliert dein neues Lénárd: Am Ende, p. 4–5. (LénárdLénárd, Sándor. Am Ende der Via Condotti Römische Jahre. Vertaald door Ernö Zeltner, Deutscher Taschenbuch-Verlag, 2017.)
  • 9
    Helga Lénárt-Cheng. “A Multilingual Monologue: Alexander Lenard’s Self-Translated Autobiography in Three Languages”. Hungarian Cultural Studies 7 (January 9, 2015), p. 337. (Lénárt-Cheng)
  • 10
    A esposa de Lenard descreve seu primeiro encontro da seguinte forma: “Un bel giorno mi apparve in ufficio uno strano tipo, molto scuro, con un vecchio loden e un cappellaccio tutto sformato. Il volto era quasi nascosto dai baffi, ma gli occhi… oh, i suoi occhi ardenti, teneri, dolorosi, indimenticabili. Era Sándor. Veniva a prendere dei testi da tradurre. Si trattava di didascalie da mettere sotto alle riproduzioni di radiografie dei polmoni, nella dispensa di un docente medico. […] Già la seconda volta che ci siamo visti, mi porge muto un foglio manoscritto con una poesia in tedesco, gira i tacchi e se ne va.” Andrietta Arborio di Gattinara in Vajdovics: Gli anni, p. 3.
  • 11
    Siklós, Péter. “The Klára Szerb–Alexander Lenard Correspondence”. The Hungarian Quarterly. 189, (2008): 42–61. Para mais informações sobre a biografia de Lenard, veja também a entrevista com Klára Szerb; László Rapcsányi/Klára Szerb. “Who was Alexander Lenard? An Interview with Klára Szerb”. The Hungarian Quarterly. 189, (2008): 26–30. (Rapcsányi & SzerbRapcsányi, László; Klára Szerb. “Who Was Alexander Lenard? An Interview with Klára Szerb”. The Hungarian Quarterly. 189, (2008): 26–30.)
  • 12
    “Un esule senza documenti, illegale e perseguitabile cerca la compagnia dei suoi simili, quindi di altri esiliati o emigrati, ungheresi o austriaci, tedeschi, p. li conosce bene, dopo due frasi scambiate sa perfettamente qual è la loro posizione politica e se può fidarsi di loro. Con gli italiani non era così facile, e quindi, per precauzione, non sapendo se si trattasse di italiani fascisti o meno, cercava di evitarli. Gli amici italiani sono del popolo, p. il barbiere, certi pazienti, il farmacista, e più tardi i compagni della resistenza, ottima gente, ma non uomini di lettere.” Andrietta Arborio di Gattinara, in Vajdovics: Gli anni, p. 7.
  • 13
    “Io però questa volta non combatterò più/ E rimango, nella prossima guerra, assolutamente neutrale.” Vajdovics: Gli anni, p. 8.
  • 14
    Veja SachsSachs, Lynne. “Alexander Lenard. A Family Correspondence”. The Hungarian Quarterly, vol. 199, (2010):. 93–104.: Alexander Lenard Sachs (Nota de rodapé 5).
  • 15
    Lenard, AlexanderLenard, Alexander. “A Few Words About Winnie ille Pu”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 87–92.. “A Few Words About Winnie Ille Pu”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 87–92.
  • 16
    Ibid., p. 96. (Lenard, ‘A Few Words About Winnie ille Pu’)
  • 17
    Veja Mosimann, João Carlos. Catarinenses: Gênese e História. Florianópolis: Fundação Catarinense, 2010. (MosimannMosimann, João Carlos. Catarinenses: gênese e história. Florianópolis: Fundação Catarinense, 2010.). Para mais informações sobre os colonos alemães no Brasil, veja Kroener, SebastianKroener, Sebastian. Das Hospital auf dem Palmenhof Pionierarbeit im Siedlungsgebiet deutscher Einwanderer in Südbrasilien. Norderstedt, 2016.. Das Hospital auf dem Palmenhof. Pionierarbeit im Siedlungsgebiet deutscher Einwanderer in Südbrasilien. Norderstedt, 2016. (KroenerKroener, Sebastian. Das Hospital auf dem Palmenhof Pionierarbeit im Siedlungsgebiet deutscher Einwanderer in Südbrasilien. Norderstedt, 2016.). Na avaliação de Karl Ilg sobre os pioneiros da língua alemã no Brasil (e no Peru), o romance de Lenard Die Kuh auf dem Bast é um exemplo de vida típica dos colonos. See Ilg, KarlSee Ilg, Karl. Pioniere in Brasilien. Innsbruck/Wien/München: Tyrolia, 1972.. Pioniere in Brasilien. Innsbruck/Wien/München: Tyrolia, 1972, p. 36.
  • 18
    LenardLenard, Alexander. “A Few Words About Winnie ille Pu”. The Hungarian Quarterly. 199, (2010): 87–92.: Die Kuh, p. 80.
  • 19
    SachsSachs, Lynne. “Alexander Lenard. A Family Correspondence”. The Hungarian Quarterly, vol. 199, (2010):. 93–104.: Alexander Lenard, p. 98.
  • 20
    “Es ist das Außenseitertum, das den Blick für Neues schärft, die Experimentierfreude zur zweiten Natur macht, dazu befähigt, neue Fragen zu stellen und ungewöhnliche Wege zu gehen. Das Außenseitertum trug zur Vertreibung aus der Heimat bei, und es verliert sich nur selten im Exil.” Paul Michael Lützeler: Migration und Exil in Geschichte, Mythos, und Literatur. In: Bettina Bannasch/Gerhild Rochus (Eds.): Handbuch der deutschsprachigen Exilliteratur: Von Heinrich Heine bis Herta Müller. Berlin/Boston 2013, p. 3–25. (Bannasch en RochusBannasch, Bettina; Rochus, Gerhild. (redacteuren). Handbuch der deutschsprachigen Exilliteratur: Von Heinrich Heine bis Herta Müller. Berlim: DE GRUYTER, 2013.)
  • 21
    “Zu verkünden, daß Hitler für mich gut war, wäre eine Verhöhnung […]. Dennoch ist es eine Tatsache, daß ich durch die explosionsartigen Ausbrüche des Hitlerismus in die freie Luft geschleudert wurde, wo ich einen längeren Atem und einen weiteren Ausblick gewonnen habe, als wenn ich in der heimatlichen Enge geblieben wäre.” Egon Schwarz: Unfreiwillige Wanderjahre. Auf der Flucht vor Hitler durch drei Kontinente. München: C.H. Beck Verlag, 2005, p. 233. (SchwarzSchwarz, Egon. Unfreiwillige Wanderjahre: auf der Flucht von Hitler durch drei Kontinente. C. H. Beck, 2005.)
  • 22
    Alexander Lenard tem recebido até o momento pouco interesse pelo campo literário. No entanto, gostaríamos de chamar a atenção do leitor para duas antologias de texto, nas quais Lenard está representado. Três de seus poemas estão reunidos em uma antologia sobre a poesia austríaca no exílio em Miguel Herz-Kestranek/Konstantin Kaiser/Daniela Strigl (Eds.): In welcher Sprache träumen sie? Österreichische Lyrik des Exils und des Widerstands. Wien 2007 [Series Volume 21: Antifaschistische Literatur und Exilliteratur], p. 310–311.(Herz-Kestranek e.a.Herz-Kestranek, Miguel, e.a. In welcher Sprache träumen Sie? Österreichische Lyrik des Exils und des Widerstands. Wien: Theodor Kramer Gesellschaft, 2007.) Além disso, um artigo (com um trecho de Roman Stories e um poema inédito, “For C.”) em uma antologia de escritores poliglotas europeus é dedicada a Lenard em Kató Lomb: Harmony of Babel. Profiles of Famous Polyglots of Europe. Tradução de Ádám Szegi. Editado por Scott Alkire. Berkeley/Kyoto 2013, p. 64–69. (Lomb e.a.Lomb, Kató, e.a. Harmony of Babel: Profiles of Famous Polyglots of Europe. Cambridge: Berkeley/Kyoto, 2013.)O proeminente romancista e dramaturgo húngaro György Spiró enfatiza em uma entrevista como a experiência de Lenard no exílio o inspirou em seu trabalho dramático: “Ele [=Alexander Lenard] é uma grande figura cuja vida trágica me deu o tema para minha última peça.” György Spiró/Eve Maria Kallen: No politics, no ideology, just human relations. In: Hungarian Letter 92 (2014), p. 4–7. (Spiró & KallenSpiró, György; Kallen, Eve Maria. “No politics, no ideology, just human relations.” Hungarian Letter, vol. 92, (2014): 4–7.)
  • 23
    “is that of the intellectual and the artist in exile, the political figure between domains, between forms, between homes, and between languages.” Edward Said: Culture and Imperialism. New York 1993, p. 332. (SaidSaid, Edward W. Culture and Imperialism. Vintage, 1994.)
  • 24
    de suas traduções: Vajdovics, ZsuzsannaVajdovics, Zsuzsanna. “Alexander Lenard: Portrait d’un traducteur émigrant”. Atelier de Traduction. vol. 9, (2008): 185–91.. “Alexander Lenard: ‘Portrait d’un traducteur émigrant’”. Atelier de Traduction. 9, (2008): 185–191. (VajdovicsVajdovics, Zsuzsanna. “Alexander Lenard: Portrait d’un traducteur émigrant”. Atelier de Traduction. vol. 9, (2008): 185–91.)
  • 25
    “Toute la vie de Lenard sera une succession de déplacements à la recherche de deux choses parmi les trois plus importantes: la paix et l’indépendance, mais au risque de perdre la troisième, la culture européenne. Traduire, c’est s’attacher à cette culture.” Ibid., p. 189.
  • 26
    Sie mussten sie schaffen, denn es gab außer den Geistlichen und einzelnen Apothekern kaum einen, der in der Schule das Hochdeutsche gelernt hätte. Die Hunsrücker verstanden kein Pommersch-Platt. Eine Sprache war notwendiger als das Badezimmer. Gleichzeitig musste ein Verständigungsinstrument gegenüber den anderen Einwohnern des Landes geschaffen werden: den Italienern und den Portugiesen von den Azoren.
  • 27
    “Nach dem Botschen gehen wir in die Wende, trinken Cachaça (lies: kaschassa) und essen einen Churrasco (Schurraskoh), und wenn gerade Domingueira (Domingeira) ist, tanzen wir.”
  • 28
    “Ich habe in der Früh das Vieh versorgt und bin gleich in die Roça (Rossa) capienen. Mein Mann hat den Mato gefoist, denn wir wollen viel Aipi pflanzen ...”.
  • 29
    “Es kann nur mit einem Instrument gerodet werden, das wie eine Waffe aus der Zeit der Landsknechte anmutet, einer gewichtigen Sichel an schwerem Holzstiel, der mit aller Kraft geschwungen wird, der Foiça.” (27)
  • 30
    Die “schwarze Mutter” hat sich ihr Bronzestandbild in São Paolo redlich verdient. Sie hätte sogar ein künstlerisch wertvolleres verdient, denn sie hat Akzent und Intonation der brasilianischen Sprache geschaffen. Es wäre zu viel verlangt gewesen, wenn die schwarze Mutter, die aus dem Latein gewordenen grammatikalischen Formen hätte lernen und weitergeben sollen. Man gab ihr eine vereinfachte Sprache - eine, in der das numquam vidi (ich habe nie gesehen) zu nunca vi geworden war und sie vereinfachte sie weiter und sprach sie wie Ewe oder Suaheli. Der fazendeiro, der Gutsbesitzer, lachte wahrscheinlich, als er seinen Sohn die Sklavensprache sprechen hörte. Sein Enkel kannte keine andere mehr. Schon das Portugiesische, das die Spanier als einen Dialekt ihrer Sprache betrachten, vereinfacht die Wörter: aus dem spanischen manzana (“Apfel”) macht es maça, aus media (der Strumpf) meia, aus fidel igles (der Getreue der Kirche, der Gläubige) fregues, aus generacion wird geração. Die Schöpfer des Brasilianischen vereinfachten auch die Grammatik. Die zweite Person der Verben fiel weg, die zusammengesetzten Verbalformen verschwanden, der Gebrauch des Konjunktivs wurde eingeschränkt. Gleichzeitig verschwanden die Abstrakta, für die vielleicht die Sprachen der Gold- und Elfenbeinküste keine Äquivalente hatten. Es verschwanden die Namen der Dinge - und sie sind sehr zahlreich -, die im Inneren Brasiliens nicht vorkommen.
  • 31
    Em Words of the world: The Global Language System, de Swaan (2001)De Swaan, Abram. Words of the world: the global language system. Cambridge: Polity, 2001. argumenta que há uma hierarquia entre as línguas. Ele sugere que existem quatro classes diferentes de idiomas: periféricos, centrais, supercentrais e hipercentrais. (de Swaan)
  • 32
    Ein Satz einfacher Wörter ermöglicht schon die Verständigung zwischen anspruchslosen Menschen. Tem heißt“es gibt”, “es ist da”, “steht zur Verfügung”, “ich glaube dran”, “es existiert”. Não tem verneint die Existenz und heißt, “es ist abwesend”, “bedaure sehr”, “Sie können es nicht erhalten”, “es war da, aber es ist vergangen”. Quero drückt alle Wünsche aus: “ich möchte”, “ich mag”, “ich bin einverstanden”, “ich pflichte bei”, “ich sehne mich danach”, “ich strebe es an”, “ich will es . . .” Não quero demnach: “ich lehne ab”, “ich weigere mich”, “ich gebe mich dazu nicht her”, “es liegt mir nicht”, “es widerstrebt mir ...” wozu die Flut von Wörtern für das, was mit quero und não quero so klar gesagt ist? Mit den Zeitwörtern für essen, trinken, schlafen ist so gut wie alles gesagt, was im Leben gut ist, mit jenen für arbeiten und schmerzen alles, was schlecht ist.
  • 33
    „Das, was das Portugiesische von der großen Schwestersprache, dem Spanischen, unterscheidet, ist schon das Fehlen der “großen Literatur”. Der Name des einzig bekannten Dichters, Camões, ist nie über die Grenzen gedrungen.”
  • 34
    Lenard, Alexander. Die Kuh auf dem Bast. Stuttgart: Anstalt, 1963, p. 8.
  • 35
    “Ich möchte gerne Botokudisch lernen! Ich wünsche es aufrichtig, und ich werde mich bemühen. Ich wollte, ich könnte heute beginnen.”
  • 36
    “Sie sprechen ein wenig portugiesisch; sie können schon in einer Tochtersprache Roms betteln.”
  • 37
    Unser Gefühl der Überlegenheit schwindet, wenn wir an die Züge des Waldmenschen denken. Sie können unsere Buchstaben lernen, unsere Geräte handhaben. Wir können nicht einmal mit dem fertigen Pfeil die tägliche Nahrung im Walde finden, geschweige denn, mit einem Stein eine Pfeilspitze aus dem Felsen schlagen!
  • 38
    “Kultur in diesem Sinne ist selbst Austausch und Transfer.” Werner, Michael. “Konzeptionen und theoretische Ansätze zur Untersuchung von Kulturbeziehungen”. Lexikon der deutsch-französischen Kulturbeziehungen nach 1945. Colin, Nicole et al. (Hg.). Tübingen: Narr 2013. S. 23-31. (Colin e.a.Colin, Nicole, e.a. Lexikon der deutsch-französischen Kulturbeziehungen nach 1945. Narr Francke Attempto, 2015. Open WorldCat, https://public.ebookcentral.proquest.com/choice/publicfullrecord.aspx?p=5043845.
    https://public.ebookcentral.proquest.com...
    )

Agradecimentos

Philippe Humblé (ORCID 0000-0002-3426-3218) agradece o apoio do CNPq, que lhe concedeu uma bolsa para pesquisador visitante na Universidade Federal de Santa Catarina. Projeto de pesquisa: ‘Imigração, exílio e tradução. Autotradução e autobiografia em Sándor Lenard e Roberto Schopflocher.’ (Processo: 302104/2020-8)

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    17 Abr 2021
  • Aceito
    15 Ago 2021
  • Publicado
    Set 2021
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