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A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA WEB OF SCIENCE: CARACTERÍSTICAS GERAIS E METODOLÓGICAS 1

SCIENTIFIC PRODUCTION ON INTERNATIONALIZATION OF HIGHER EDUCATION IN WEB OF SCIENCE: GENERAL AND METHODOLOGICAL CHARACTERISTICS

RESUMO:

O objetivo deste artigo é analisar a produção científica realizada em uma década de estudos sobre internacionalização da educação superior. Para isso, utilizou-se a base de dados ISI Web of Science/Knowledge como fonte de pesquisa e seleção dos artigos publicados sobre o tema no período de 2004 a 2013. De forma geral os artigos selecionados foram analisados por meio de uma revisão sistemática, com foco nos aspectos metodológicos utilizados pelos artigos mais citados na academia. Os resultados mostram um número crescente de estudos na área, a inexistência de grupos de pesquisa consolidados e a dispersão das publicações em diferentes journals. Além disso, a análise dos artigos mais citados no período analisado aponta para um relativo equilíbrio entre trabalhos teóricos e teórico-empíricos, com predomínio do uso da abordagem qualitativa e do método de estudo de caso nos artigos teórico-empíricos.

Palavras-chave:
Internacionalização; Educação superior; Produção científica; ISI Web of Science/Knowledge

ABSTRACT:

The objective of this paper is to analyze the scientific production carried out on a decade of studies on internationalization of higher education. For this, the database ISI Web of Science/Knowledge was the source for research and selection of articles published about this subject from 2004 to 2013. In general, the analysis of selected articles has used a systematic review, focusing on methodological aspects used by the most cited articles in the academy. Results have shown an increasing number of studies in this area, the lack of consolidated research groups and the dispersion of publications in different journals. Moreover, the analysis of the most cited articles during that period indicates a relative balance between theoretical and theoretical-empirical studies, with the use of qualitative approach and the method of case study in theoretical-empirical articles being predominant.

Keywords:
Internationalization; Higher education; Scientific production; ISI Web of Science/Knowledge

Introdução

A noção de internacionalização da educação superior data dos anos de 1990 (DE WIT, 2002DE WIT, H. Internationalization of Higher Education in the United States of America and Europe: a historical, comparative and conceptual analysis. Greenwood Studies in Higher Education. Wesport: Greenwood Press, 2002.). Algumas publicações anteriores, anos de 1970 e 1980, podem ser encontradas simplesmente com o termo "internacionalização". Porém, somente nos anos de 1990 é que esse termo realmente assume a educação internacional por meio da descrição dos diferentes caminhos pelos quais a dimensão internacional toma forma na educação superior. Essa alteração é reflexo do aumento da importância dessa dimensão e da transferência gradual das atividades internacionais da educação superior das margens para o centro e para um processo mais abrangente (JONES; DE WIT, 2012JONES, E.; DE WIT, H. Globalization of internationalization: thematic and regional reflections on a traditional concept. The International Journal of Higher Education and Democracy, Albany, v. 3, p. 35-54, 2012.).

Nessa mudança, a internacionalização tem se movido de uma discussão estratégica reativa para proativa, de valor adicionado ao mainstream, com seu foco, escopo e conteúdo avançados substancialmente. O aumento da competição na educação superior tem mudado o valor tradicionalmente atrelado à cooperação, ao intercâmbio e às associações. Ao mesmo tempo, a internacionalização do currículo e do processo de ensino e aprendizagem tem se tornado tão relevante quanto o foco tradicional sobre mobilidade acadêmica (DE WIT, 2011DE WIT, H. Globalisation and internationalization of higher education. Revista de Universidad y Sociedad del Conocimiento, Barcelona, v. 8, n. 2, p. 241-248, 2011.).

Em um contexto histórico, os países desenvolvidos ou do Norte ocupam a posição de produtores do conhecimento, e aos demais países, em desenvolvimento ou do Sul, têm restado o papel de meros consumidores desse conhecimento (CELANO; GUEDES, 2014CELANO, A. C.; GUEDES, A. L. Impactos da globalização no processo de internacionalização dos programas de educação em gestão. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 45-61, 2014.). Essa característica também se evidencia na prática da internacionalização pelas Instituições de Ensino Superior (IES), com uma reconhecida tradição das instituições europeias e americanas na mobilidade acadêmica internacional e o despertar recente de países emergentes, como o Brasil, por exemplo, para os benefícios da internacionalização das atividades de ensino e pesquisa praticadas pelas IES no desenvolvimento nacional.

No campo da produção científica, há um crescente interesse pela área e uma extensa literatura sobre o tema, com discussões voltadas às dinâmicas da competição global/nacional, à mobilidade acadêmica, ao desenho do currículo, entre outras. Muitos desses estudos estão relacionados ao contexto norte-americano ou europeu, como os de Warwick (2014WARWICK, P. The international business of higher education: a managerial perspective on the internationalization of UK universities. The International Journal of Management Education, Hampshire, v. 12, p. 91-103, 2014.), Jones e Oleksiyenko (2013JONES, G. A.; OLEKSIYENKO, A. The internationalization of Canadian university research: a global higher education matrix analysis of multi-level governance. Higher Education, Dordrecht, v. 61, p. 41-57, 2013.) e De Wit (2002)DE WIT, H. Internationalization of Higher Education in the United States of America and Europe: a historical, comparative and conceptual analysis. Greenwood Studies in Higher Education. Wesport: Greenwood Press, 2002.. Por outro lado, surgem estudos focados em países emergentes ou em outras regiões do mundo, como os de Berry e Taylor (2014BERRY, C.; TAYLOR, J. Internationalisation in higher education in Latin America: policies and practice in Colombia and Mexico. Higher Education, Dordrecht, v. 67, p. 585-601, 2014.), Didou Aupetit (2013)DIDOU AUPETIT, S. Trends in student and academic mobility in Latin America: from "brain drain" to "brain gain". In: BALÁN, J. (Ed.). Latin America's New Knowledge Economy: higher education, government and international collaboration. USA: Institute of International Education, 2013. e De Wit et al. (2005)DE WIT, H. et al. Higher Education in Latin America: the international dimension. Washington, DC: The World Bank, 2005..

Nesse contexto, o objetivo deste artigo é analisar a produção científica de uma década de estudos sobre internacionalização da educação superior. Como fonte de pesquisa, utilizou-se uma base de dados de artigos publicados sobre o tema, no período de 2004 a 2013, pesquisada no ISI Web of Science/Knowledge2BERRY, C.; TAYLOR, J. Internationalisation in higher education in Latin America: policies and practice in Colombia and Mexico. Higher Education, Dordrecht, v. 67, p. 585-601, 2014.. Esses artigos foram analisados por meio de uma revisão sistemática, de uma forma geral em um primeiro momento. Em seguida, uma seleção dos artigos mais citados foi analisada com foco nos aspectos metodológicos empregados pelos autores.

Na sequência, este artigo está organizado da seguinte forma: a) referencial teórico que sustenta o tema, envolvendo globalização e internacionalização da educação superior; b) método que delineia o trabalho, com detalhamento sobre os procedimentos da pesquisa; c) fases da pesquisa, envolvendo o levantamento das publicações e a análise dos artigos mais citados sobre o tema; d) considerações finais.

Internacionalização da educação superior

Apesar de constituir-se como prática ancestral que remonta praticamente ao tempo da fundação das primeiras universidades medievais, a internacionalização universitária atravessa, no mundo todo, uma fase de grande intensificação. Isso se deve, sobretudo, a três ordens de razões: a) à massificação do acesso à educação superior ocorrida ao longo do século XX, o que confere outra escala e relevância social neste grau educacional; b) à globalização da economia e da sociedade, o que torna imprescindível e valoriza a aquisição de competências facilitadoras das interações entre países; c) ao processo de integração europeia, que a partir dos anos de 1970 contou com as primeiras experiências de internacionalização do sistema científico e, a partir dos anos de 1980, com os programas de mobilidade acadêmica reconhecidos em todo o mundo e nascedouro do Espaço Europeu de Ensino Superior (SANTOS; ALMEIDA, 2012SANTOS, F. S.; ALMEIDA, N., Filho. A quarta missão da universidade: internacionalização universitária na sociedade do conhecimento. Brasília: Editora Universidade de Brasília; Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012.).

Boa parte das ações de internacionalização decorre do fenômeno da globalização dos mercados, a qual provoca impactos em diversos setores da economia, inclusive na educação, e em diferentes contextos culturais, políticos, sociais e econômicos. Isso pode ser relacionado com o apontado por Pimenta e Duarte (2007PIMENTA, R. D.; DUARTE, R. G. O processo de internacionalização de Escolas de Negócios: o caso da Fundação Dom Cabral. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO, 31., 2007, São Paulo. Anais... São Paulo: Anpad, 2007.), os quais afirmam que o crescimento do comércio internacional e o de investimentos diretos estrangeiros favorecem o fluxo e o intercâmbio entre indivíduos de diferentes nacionalidades e culturas, o que, por sua vez, indica a necessidade de profissionais com uma mentalidade mais internacional e dotados de competências interculturais.

Nesse sentido, a economia globalizada do século XX trouxe consequências para o sistema acadêmico internacional devido à pressão de adaptação às novas circunstâncias. Inevitavelmente, as universidades sofrem os impactos da globalização, apesar de sempre terem sido ambientes internacionais e de suas origens forjadas por fortes influências internacionais, por meio da presença de professores oriundos de diversas partes do mundo (MIURA, 2009MIURA, I. K. O processo de internacionalização da Universidade de São Paulo: um estudo de três áreas de conhecimento. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO, 33., 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: Anpad, 2009.). Dessa forma, com o incremento da globalização econômica, política e cultural, surgem movimentos que delineiam um ambiente acadêmico distinto, como o incremento da mobilidade estudantil, o crescimento da educação à distância, a consolidação da dimensão internacional das atividades de ensino e pesquisa e o surgimento de padrões internacionais de currículos. Como resposta a esses movimentos, as IES têm formulado políticas, estratégias e ações no sentido de acrescentar uma dimensão internacional às suas atividades (KNIGHT, 2002KNIGHT, J. Trade tal: an analysis of the impact of trade liberalization and the General Agreement on Trade in services on higher education. Journal of Studies in International Education, Thousand Oaks, v. 6, n. 3, p. 209-229, 2002.).

É importante destacar que, no contexto do esforço de reconstrução do pós-guerra, os países europeus realizaram um percurso notável de integração econômica e política, que evoluiu com naturalidade para uma interpretação supranacional do conceito de sociedade do conhecimento. Em função disso, a contribuição da Europa evidencia a necessidade de valorização do conhecimento para a construção de uma economia moderna competitiva. Tendo em vista um espaço politicamente fragmentado como o europeu, esse objetivo só poderia ser atingido por meio da internacionalização do sistema científico e universitário, a exemplo da internacionalização dos sistemas econômico e financeiro (SANTOS; NASCIMENTO; BUARQUE, 2013SANTOS, F. S.; NASCIMENTO, E. P.; BUARQUE, C. Mudanças necessárias na universidade brasileira: autonomia, forma de governo e internacionalização. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 29, n. 1, p. 39-61, 2013.).

A partir disso, o papel das universidades passa a ser fundamental como protagonistas da cooperação internacional e como promotoras do processo de integração, visto como uma ação para reduzir barreiras entre povos e nações, por meio do aprimoramento dos desenvolvimentos científico, tecnológico, social e cultural. Logo, a integração não pode ser entendida apenas como incorporação, substituição ou introdução de algo, mas como um processo de aproveitamento de elementos necessários em determinados setores, a fim de melhorar o equilíbrio dos componentes do meio (STALLIVIERI, 2004STALLIVIERI, L. Estratégias de internacionalização das universidades brasileiras. Caxias do Sul: Educs, 2004.).

Independente da integração econômica, as universidades são os atores que desempenham papel preponderante para assegurar o desenvolvimento e a aproximação dos povos e das nações e a cooperação baseada na solidariedade e no respeito às especificidades de cada população. Além disso, as universidades asseguram a visualização de parcerias não somente para a disseminação dos diferentes patrimônios do conhecimento, mas para a criação de uma cultura de paz e de desenvolvimento equilibrado para diferentes nações (STALLIVIERI, 2004STALLIVIERI, L. Estratégias de internacionalização das universidades brasileiras. Caxias do Sul: Educs, 2004.).

Em geral, a internacionalização da educação superior pode ser analisada sob diferentes planos, como pelo plano do sistema de educação superior e por meio do plano da instituição universitária. Para fins de compreensão do fenômeno, esses planos estão interconectados, pois as instituições estão alocadas em um país que regula, avalia e supervisiona a educação superior (MOROSINI, 2011MOROSINI, M. C. Internacionalização na produção de conhecimento em IES brasileiras: cooperação internacional tradicional e cooperação internacional horizontal. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 27, n. 1, p. 93-112, 2011.).

Conceitualmente, a internacionalização da educação superior é um processo complexo e multifacetado, com importantes implicações econômicas, políticas, sociais e culturais para os países, as instituições e as pessoas envolvidas (REPPOLD; TORRES; CARDOSO; VAZ, 2010REPPOLD, A. R., Filho; TORRES E CARDOSO, L.; VAZ, M. A. A Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a internacionalização da educação superior. MovimentoPorto Alegre v. 16, p. 217-238, 2010.). Também é definida por Knight (2004KNIGHT, J. Internationalization remodeled: definition, approaches and rationales. Journal of Studies in International Education, Thousand Oaks, v. 8, n. 1, p. 5-31, 2004.) por meio de termos que valorizam a dimensão internacional e os relacionam com o papel da educação na sociedade, ou seja, a "internacionalização em nível nacional, setorial e institucional é definida como o processo no qual se integra uma dimensão internacional, intercultural ou global nos propósitos, funções e oferta de educação pós-secundária" (KNIGHT, 2003KNIGHT, J. Updating the definition of internationalization. International Higher Education, Chestnut Hill, v. 33, n. 3, p. 2-3, 2003., p. 2).

Nesse sentido, a dimensão internacional da educação afeta ou é afetada pelas políticas no nível nacional, setorial e institucional. No nível nacional, as políticas relacionam-se à área de relações exteriores, imigração, educação, ciência e tecnologia, cultura e história, desenvolvimento social, indústria e comércio, entre outros. Tratando-se do nível setorial de educação, as políticas estão relacionadas a propósito, acreditação, licença, captação de recursos, currículo, ensino, pesquisa e regulação da educação pós-secundária. E, em relação ao nível institucional, as políticas podem ser interpretadas de duas formas: a) a mais restrita, que se refere às declarações relacionadas à dimensão internacional na missão da instituição, bem como a propósitos, valores, funções e políticas (estudo no exterior, recrutamento de estudantes, ligações e parcerias internacionais, oferta de cursos transfronteira, licenças para estudo - sabbaticals - internacionais); e b) a mais ampla, caracterizada pelas políticas no nível institucional relacionadas ao planejamento de diretrizes para analisar as implicações da/para a internacionalização, ou seja, verifica se a IES tem adotado uma abordagem integrativa e sustentável, incluindo manutenção da qualidade, planejamento, pessoal, finanças, desenvolvimento de professores, apoio aos estudantes, entre outros (KNIGHT, 2004KNIGHT, J. Internationalization remodeled: definition, approaches and rationales. Journal of Studies in International Education, Thousand Oaks, v. 8, n. 1, p. 5-31, 2004.).

Por outro lado, Hawawini (2011HAWAWINI, G. The internationalization of higher education institutions: a critical review and a radical proposal. INSEAD Working Papers Collection, Fontainebleau, Issue 112, p. 1-47, 2011.) afirma que essa definição não captura a essência do processo de internacionalização, cuja meta fundamental deveria estar na integração da instituição ao conhecimento global emergente e rede de aprendizagem, em detrimento da integração da dimensão internacional ao ambiente institucional existente. O processo, então, deveria consistir no olhar para fora em vez de olhar para dentro, enfatizando a capacidade e a habilidade da instituição para se tornar parte integral do ecossistema de aprendizagem e conhecimento do mundo, não somente para se beneficiar dele, mas também para contribuir com seu desenvolvimento. Nesse sentido, o autor define internacionalização como o processo de integrar a instituição e seus stakeholders chaves - estudantes, docentes e corpo de funcionários - ao mundo globalizado.

Similarmente e repensando a internacionalização, Hudzik (2011HUDZIK, J. K. Comprehensive internationalization: from concept to action. Washington, DC: NAFSA, 2011.) apresenta o conceito de internacionalização abrangente, o qual se define como o comprometimento, confirmado pela ação, para introduzir as perspectivas comparativa e internacional por meio das missões de ensino, pesquisa e serviço. Nessa visão, é essencial que todos os stakeholders se envolvam em um imperativo institucional, não apenas como uma possibilidade desejável. O conceito de internacionalização abrangente impacta não somente a vida no campus, mas também as relações e os parceiros externos.

Em termos gerais, o processo de internacionalização das IES pode ser determinado por diferentes variáveis. Os docentes, por exemplo, podem influenciar direta e indiretamente esse processo, por meio do estímulo, do incentivo e do aconselhamento aos estudantes para o desenvolvimento de uma carreira internacional ou, ainda, por meio do desenvolvimento de currículos, programas e cursos coerentes com o atual ambiente acadêmico (SANDERSON, 2008SANDERSON, G. A foundation for the internationalization of the academic Self in higher education. Journal of Studies in International Education, Thousand Oaks, v. 12, n. 3, p. 276-307, 2008.). Essa influência dos docentes no processo de internacionalização das IES é enfatizada no estudo de Duarte et al. (2012DUARTE, R. G. et al. O papel dos relacionamentos interpessoais na internacionalização de Instituições de Ensino Superior. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p. 343-370, 2012.), o qual aponta o docente como o catalisador do processo e o centro da formação de redes de relacionamentos entre pesquisadores e IES.

Apesar disso, os relacionamentos formais entre as IES têm importante participação no processo de internacionalização, pois dão garantia aos acadêmicos de que seus estudos no exterior serão válidos e reconhecidos em seu país de origem. Normalmente, esses acordos são negociados pelos reitores e são próprios das áreas responsáveis pelas relações internacionais das IES, além de estarem mais voltados para os aspectos administrativos e operacionais, tais como: admissões e transferências de alunos, apoio estudantil, equivalências curriculares e crédito acadêmico (DENMAN, 2002DENMAN, B. Globalisation and its impact on international university cooperation. Globalization, Athabasca, v. 2, n. 1. 2002. Disponível em: <Disponível em: http://globalization.icaap.org/content/v2.1/04_denman.html >. Acesso em: 8 ago. 2015.
http://globalization.icaap.org/content/v...
).

Com a finalidade de descrever e avaliar a maneira como a internacionalização está sendo implementada por países e instituições, a noção de abordagem tem sido utilizada no sentido de refletir os valores, as prioridades e as ações adotadas no processo de promoção e implementação da internacionalização da educação superior. Apesar de não haver the best way, inicialmente as IES adotam uma abordagem que enfatiza as atividades, por meio da cooperação internacional, das relações acadêmicas internacionais e da mobilidade de estudantes estrangeiros. No entanto, à medida que as atividades das IES avançam quantitativa e qualitativamente no âmbito internacional, por meio do aumento da mobilidade de estudantes e professores e da ênfase no desenvolvimento de competências internacionais, necessita-se da adoção da abordagem de processo, a qual objetiva a integração da dimensão internacional, intercultural ou global nas propostas e nas funções tradicionais da universidade - ensino, pesquisa e serviços -, inclusive por meio da oferta de programas educacionais de educação superior (KNIGHT, 2004KNIGHT, J. Internationalization remodeled: definition, approaches and rationales. Journal of Studies in International Education, Thousand Oaks, v. 8, n. 1, p. 5-31, 2004.).

Contudo, como vários outros processos, a internacionalização possui benefícios e riscos. Os benefícios podem ser constatados nos novos padrões, em metodologias, materiais e práticas de ensino trazidas de/por IES estrangeiras para melhorar a educação superior local, oportunizando aos estudantes experiências de aprendizagem que seriam impossíveis sem essa quebra de barreiras. Por outro lado, os riscos residem nos esforços nacionais de controle de qualidade dos cursos e na criação de credenciais adicionais que outorguem status e prestígio para as IES estrangeiras (SCHWARTZMAN, 2003SCHWARTZMAN, S. Quality, Standards and Globalization in Higher Education. In: Conference of the International Network for Quality Assurance Agencies in Higher Education (INQAAHE), Conference Centre, Dublin Castle, 2003.).

Portanto, dada a dificuldade de uma sociedade fechar-se às influências internacionais e às oportunidades de cooperação internacional, cada país deve ter a habilidade de canalizar os esforços para que a internacionalização beneficie a educação superior local, desenvolvendo capacidades internas e ligações com tecnologias avançadas e centros de pesquisa. Caso contrário, a internacionalização pode ser um caminho para o brain drain (evasão de cérebros) e mais prejudicial ainda nos casos em que o país de origem financiou a educação prévia e forneceu bolsas de estudos para a mobilidade acadêmica. Além disso, outros riscos referem-se à transformação das universidades clássicas em distribuidoras de educação superior em massa, à supremacia do modelo americano de educação superior, ao domínio da língua inglesa e à transformação de ciência, tecnologia e educação em uma grande área de negócios (SCHWARTZMAN, 2003SCHWARTZMAN, S. Quality, Standards and Globalization in Higher Education. In: Conference of the International Network for Quality Assurance Agencies in Higher Education (INQAAHE), Conference Centre, Dublin Castle, 2003.).

Hawawini (2011HAWAWINI, G. The internationalization of higher education institutions: a critical review and a radical proposal. INSEAD Working Papers Collection, Fontainebleau, Issue 112, p. 1-47, 2011.), com olhar crítico à internacionalização, afirma que é improvável as IES se transformarem em instituições verdadeiramente globais. Isso não se deve à falta de liderança ou recursos, mas ao peso da história institucional arraigada no ambiente doméstico, à existência de inércia organizacional (HANNAN; FREEMAN, 1984HANNAN, M. T.; FREEMAN, J. Structural inertia and organizational change. American Sociological Review, Thousand Oaks, v. 49, n. 2, p. 149-164, 1984.) e à presença de barreiras institucionais e regulatórias que dificultam a implementação da mudança radical dentro das IES.

Essas reflexões tornam a internacionalização da educação superior ainda mais desafiadora. Os resultados do estudo de Duarte et al. (2012DUARTE, R. G. et al. O papel dos relacionamentos interpessoais na internacionalização de Instituições de Ensino Superior. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p. 343-370, 2012.) apontam que um dos principais desafios do processo de internacionalização das IES reside na institucionalização do processo informal, o que reduziria a dependência da instituição em relação ao docente. Entretanto, essa institucionalização parece inviável, considerando a autonomia e a independência dos docentes na formação e na utilização das redes de relacionamentos, o que lhes assegura uma posição de poder em relação às IES. Portanto, a internacionalização das IES reveste-se da relação de dependência da instituição em relação ao docente.

Método

Este estudo caracteriza-se pela abordagem quantitativa-qualitativa e pelo viés descritivo. Trata-se também de um estudo documental realizado por meio da técnica de revisão sistemática. Similar a outros tipos de estudos de revisão, a revisão sistemática é uma forma de pesquisa que utiliza a literatura sobre determinado tema como fonte de dados, por meio da aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação selecionada (SAMPAIO; MANCINI, 2007SAMPAIO, R. F.; MANCINI, M. C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 11, n. 1, p. 83-89, 2007.; TRANFIELD; DENYER; SMART; 2003TRANFIELD, D.; DENYER, D.; SMART, P. Towards a methodology for developing evidence-informed management knowledge by means of systematic review. British Journal of Management, Londres, v. 14, n. 3, p. 207-222, 2003.). Logo, é um estudo retrospectivo e secundário e depende da qualidade da fonte primária (SAMPAIO; MANCINI, 2007SAMPAIO, R. F.; MANCINI, M. C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 11, n. 1, p. 83-89, 2007.).

Dessa forma, este estudo foi realizado com base em duas fases principais: o levantamento das publicações e a análise dos artigos mais citados. A fase do levantamento se refere à análise, de uma forma geral, de uma década da produção científica sobre internacionalização da educação superior, ou seja, de 2004 a 2013. A busca se restringiu a esse período em função do incremento marginal do número de artigos publicados sobre o tema à medida que se estendia o período analisado, o que pode ser constatado na Tabela 1. Além disso, há inúmeros trabalhos publicados em reconhecidos periódicos que envolvem análise da produção científica baseados em um período de 10 anos, ou acerca disso, como os de Figueiró e Raufflet (2015FIGUEIRÓ, P. S.; RAUFFLET, E. Sustainability in higher education: a systematic review with focus on management education. Journal of Cleaner Production, Kidlington, v. 106, p. 22-33, 2015.), Raasch et al. (2013RAASCH, C. et al. The rise and fall of interdisciplinary research: the case of open source innovation. Research Policy, Amsterdã, v. 42, n. 5, p. 1138-1151, 2013.) e Caldas e Tinoco (2004CALDAS, M. P.; TINOCO, T. Pesquisa em gestão de recursos humanos nos anos 1990: um estudo bibliométrico. RAE - Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 44, n. 3, p. 100-114, 2004.), o que permite identificar o comportamento dessa atividade científica em determinada área. A partir disso, a segunda fase se volta para a análise das características metodológicas utilizadas em uma seleção dos artigos mais citados.

Na fase de levantamento, os artigos foram pesquisados na base de dados ISI Web of Science/Knowledge, com pesquisa inicial pelas palavras "internationali*ation higher education", no campo "tópico", e no período dos 10 anos mencionados. Essa busca resultou em 585 artigos, a qual foi refinada pelo tipo de documento "artigo", restando 351 artigos. Desses, três foram considerados inválidos pela inconsistência das informações, resultando em 348 artigos como base final. Esses artigos foram analisados de acordo com a evolução temporal, os principais journals e os autores que mais publicaram no período. Nessa fase da pesquisa, os softwares Ucinet 6.0 e NetDraw 2.143CALDAS, M. P.; TINOCO, T. Pesquisa em gestão de recursos humanos nos anos 1990: um estudo bibliométrico. RAE - Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 44, n. 3, p. 100-114, 2004. foram utilizados como ferramentas de análise.

Na segunda fase, os 348 artigos foram organizados de acordo com o número de citações, selecionando-se os artigos que receberam, no mínimo, 10 citações no período analisado. O uso desse critério resultou em 35 artigos, o que representa cerca de 10% da base de artigos utilizada. Esses artigos foram analisados com base nos seguintes critérios: natureza da análise, natureza da pesquisa, métodos e técnicas de pesquisa utilizadas. A partir da classificação da natureza da análise, somente os artigos teórico-empíricos foram considerados nos demais critérios, os quais, via de regra, dependem de bases empíricas para classificação. A Figura 1 sintetiza o processo de revisão sistemática empregado.

FIGURA 1
Processo de revisão sistemática utilizado.

Fase 1: o levantamento das publicações

Esta fase da pesquisa apresenta o número de artigos encontrados na busca, de acordo com os critérios utilizados, sua distribuição anual, os principais journals e os autores que mais publicaram na área de internacionalização da educação superior. A Tabela 1 mostra os 348 artigos resultantes da busca distribuídos pelos 10 anos pesquisados. Pode-se observar o pequeno número de artigos publicados sobre o tema nos primeiros 5 anos do período pesquisado e também o crescente número de artigos publicados ao logo dos 10 anos. Nos últimos 5 anos do período pesquisado, há um incremento significativo do número de artigos publicados sobre o tema, representando cerca de 80% dos artigos publicados no período. Só o último ano, 2013, representa mais de 25% do número de artigos publicados no período em questão, o que indica um tema em ascensão.

TABELA 1
Número de artigos publicados por ano

Em relação à distribuição dos artigos sobre o tema nos journals, há uma dispersão expressiva dos 348 artigos analisados, os quais foram publicados em cerca de 140 diferentes journals. A Tabela 2 apresenta a lista dos 10 journals que possuem o maior número de artigos publicados sobre o tema. Observa-se que há uma concentração expressiva em 2 principais journals - Journal of Studies in International Education e Higher Education - sendo o primeiro destacado pelo maior número de publicações nos últimos anos, com duas edições especiais sobre o tema em 2013, e o segundo pela maior regularidade das publicações ao longo dos 10 anos analisados.

TABELA 2
Os 10 journals que mais publicaram sobre o tema

Os artigos publicados sobre o tema nos 2 principais journals representam mais de 60% dos artigos publicados nos 10 principais journals e mais de 28% do total de artigos publicados sobre o tema no período analisado. Os demais journals possuem no máximo 10 artigos publicados ao longo dos 10 anos analisados, distribuídos de maneira não uniforme. Além disso, a concentração das publicações nos últimos 5 anos analisados também está refletida nos 10 principais journals, pois representa 83% dos artigos sobre o tema neles publicados.

Similarmente à dispersão das publicações nos journals, há uma elevada dispersão dos artigos em relação à autoria. A Figura 2 mostra a rede social dos autores que mais publicaram no período analisado. Observa-se que os autores que mais publicaram no período - Hugo Horta e Rui Yang - possuem apenas quatro artigos publicados na área ao longo dos 10 anos analisados. Todos os demais autores destacados na Figura 2 possuem, cada um, quatro artigos publicados na área no período analisado. Os demais autores da base analisada possuem um ou dois artigos publicados no período em questão.

FIGURA 2
Autores que mais publicaram sobre o tema no período

Além dessa baixa concentração das publicações por autores, a Figura 2 mostra que não há ligação entre os autores que mais publicaram sobre o tema no período analisado, o que indica que não há a formação de grupos de pesquisa consolidados na área. Outra constatação está no fato de que a maioria dos estudos realizados é formada por dois autores, o que caracteriza a necessidade de aproximação dos grupos e a participação conjunta na realização dos estudos, possibilitando uma maior abrangência entre os pesquisadores. Observa-se ainda a concentração das publicações nos últimos 5 anos, pois apenas três artigos dos autores destacados foram publicados nos 5 anos iniciais do período analisado.

Outra consideração, a partir dos autores mostrados na Figura 2, é que os grupos apresentados se encontram dispersos em diversas universidades ao redor do mundo, com destaque para a Universidade de Hong Kong e a Universidad del País Vasco/EHU na Espanha, as quais possuem mais de um pesquisador sobre o tema. Além disso, a análise dos grupos aponta que, com o crescimento do número de publicações e do interesse dos pesquisadores sobre o tema, pode-se seguir o mesmo foco de pesquisas por parte de alguns autores e se estabelecer uma maior aproximação deles para o desenvolvimento de estudos correlacionados, trazendo à discussão novas perspectivas para uma educação global e para o desenvolvimento sustentável em toda a educação superior.

Cabe destacar que a utilização dos softwares Ucinet e NetDraw foi relevante para a elaboração da rede de relações da área e a verificação das propriedades estruturais e posicionais de cada ator na rede, além de possibilitar a avaliação da influência da estrutura da rede na produção científica em questão. Para as medidas posicionais da rede, foram utilizadas as análises de equivalência estrutural e a técnica de blockmodeling, pela qual foi extraída a visão global dos relacionamentos, a partir da permutação dos relacionamentos baseados em medidas categóricas, como a posição de autoria (primeiro ator, segundo ator e assim sucessivamente), o que possibilitou uma distinção entre os níveis de centralidade, densidade e intermediação dos pesquisadores da área. Outro ponto importante dessa análise das propriedades estruturais foi a possibilidade de demonstração de grupos independentes e inter-relacionados sobre o tema e uma visualização para futuras pesquisas e aproximações entre os atores identificados.

Fase 2: os artigos mais citados

Para esta fase da pesquisa, os 348 artigos da base analisada foram ordenados de acordo com o número de citações recebidas. Dessa lista, foram selecionados os artigos que receberam, no mínimo, 10 citações no período analisado. Como mencionado, 35 artigos atenderam a esse critério, representando cerca de 10% da base de artigos utilizada. Observou-se que os dois primeiros artigos se destacam em relação ao número de citações recebidas (103 e 90, respectivamente) e se distanciam dos demais, seguidos dos três próximos artigos que receberam números aproximados de citações (63, 51 e 45, respectivamente). Os 30 demais artigos possuem números relativamente próximos de citações, variando de 10 a 29 citações recebidas.

Em função da baixa concentração das publicações por autores e da ausência de grupos consolidados de pesquisa, há poucos autores com mais de um trabalho dentre os 35 artigos mais citados no período analisado. Outra constatação se refere aos principais journals, evidenciando novamente os dois destacados na fase anterior da pesquisa, porém de forma inversa, ou seja, o Higher Education, com 12 artigos publicados, seguido pelo Journal of Studies in International Education, com 7 artigos publicados, dentre os 35 mais citados. Em relação ao período, os artigos mais citados se distribuem nos 8 primeiros anos do período analisado, com destaque para 2009, quando foram publicados 10 dos 35 artigos mais citados.

No que tange aos assuntos abordados, os 35 artigos mais citados tratam, de maneira transversal, da educação internacional ou transnacional, da globalização ou competição global e da mobilidade acadêmica ou fluxo cross-border. Na sequência, os artigos mais citados foram analisados de acordo com suas características metodológicas, por meio dos seguintes critérios: natureza da análise, natureza da pesquisa, métodos e técnicas de pesquisa utilizadas. Como mencionado, exceto o primeiro critério, os demais foram utilizados apenas nos artigos classificados como teórico-empíricos.

A classificação dos artigos quanto à natureza da análise se baseou nas categorias propostas por Demo (2000DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.), como teórico ou teórico-empírico4CELANO, A. C.; GUEDES, A. L. Impactos da globalização no processo de internacionalização dos programas de educação em gestão. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 45-61, 2014.. No caso dos artigos teóricos, procurou-se basear no trabalho de Whetten (1989WHETTEN, D.A. What constitutes a theoretical contribution? The Academy of Management Review, Briarcliff Manor, v. 14, n. 4, p. 490-495, 1989.) que aborda o processo de desenvolvimento de uma teoria em torno de três aspectos: os elementos que constituem uma teoria; o que é uma contribuição legítima que agrega valor ao desenvolvimento de uma teoria; e os fatores considerados na avaliação de artigos conceituais. Essa análise também foi embasada nos argumentos de Sutton e Staw (2003SUTTON, R. I.; STAW, B. M. O que não é teoria. Revista de Administração de Empresas - RAE, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 74-84, 2003.), os quais apontam algumas razões pelas quais os artigos são considerados teoricamente fracos na área de Organizações.

No caso dos teórico-empíricos, os artigos foram classificados quanto à natureza da pesquisa como qualitativo, quantitativo ou quantitativo-qualitativo5CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.. A Tabela 3 mostra a distribuição dos artigos mais citados em relação à natureza da análise e da pesquisa.

TABELA 3
Classificação dos artigos quanto à natureza da análise e da pesquisa

Entre os artigos mais citados sobre o tema, pode-se observar um relativo equilíbrio entre os trabalhos teóricos e teórico-empíricos, com predomínio da abordagem qualitativa. Este fato merece destaque, pois boa parte dos artigos foi elaborada apenas sob construções teóricas e dados secundários, o que em outras áreas mais aplicadas do conhecimento se observaria o maior número de trabalhos teórico-empíricos em detrimento daqueles somente teóricos, como evidenciado nas pesquisas de Hoppen (1998HOPPEN, N. Sistemas de informação no Brasil: uma análise dos artigos científicos dos anos 90. Revista de Administração Contemporânea - RAC, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 151-177, 1998.) e de Souza, Roglio e Takahashi (2011SOUZA, C.; ROGLIO, K. D. D.; TAKAHASHI, A. R. W. Meta-análise da produção acadêmica em gestão de pessoas no Brasil (2001-2010). In: ENCONTRO DE GESTÃO DE PESSOAS E RELAÇÕES DE TRABALHO, 3., 2011, João Pessoa. Anais... João Pessoa: Anpad, 2011.).

Além disso, Sutton e Staw (2003SUTTON, R. I.; STAW, B. M. O que não é teoria. Revista de Administração de Empresas - RAE, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 74-84, 2003.) argumentam que os artigos que se propõem ao desenvolvimento de teorias devem estar amarrados a um conjunto de argumentos convincentes e logicamente interconectados, além da permissão de se estenderem além do que os dados empíricos podem justificar. De fato, alguns artigos não atenderam aos itens apontados por Whetten (1989WHETTEN, D.A. What constitutes a theoretical contribution? The Academy of Management Review, Briarcliff Manor, v. 14, n. 4, p. 490-495, 1989.) como essenciais para a construção de uma teoria, respondendo às seguintes indagações: o que é novo? A teoria provavelmente mudará a prática da ciência na área? É convincente?

Os artigos teórico-empíricos, por sua vez, foram classificados em relação aos métodos de pesquisa empregados pelos seus autores. Para essa classificação, adotou-se o proposto por Creswell (2010CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.), o qual destaca os métodos etnográfico, grounded theory, estudo de caso e fenomenológico como os mais utilizados nas pesquisas de natureza qualitativa, e survey e experimental como os mais utilizados nas pesquisas de natureza quantitativa. Nos 16 artigos teórico-empíricos, os principais métodos empregados foram: estudo de caso (10 artigos) e survey (3 artigos)6DANCEY, C. P.; REIDY, J. Estatística sem matemática para psicologia. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013..

Em relação às técnicas de pesquisa utilizadas nos artigos teórico-empíricos analisados, a classificação também se baseou no proposto por Creswell (2010CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.), o qual aborda entrevistas (estruturada, semiestruturada ou não estruturada), questionários (com perguntas abertas e fechadas), observação e escalas, como as técnicas de coleta de dados que mais se destacam, e análise de conteúdo, análise do discurso, análise documental e técnicas estatísticas descritivas, uni ou multivariadas, como as técnicas mais destacadas de análise de dados.

Nos 16 artigos teórico-empíricos, as principais técnicas utilizadas para a coleta de dados foram: entrevistas (10 artigos); questionários (7 artigos); e grupo focal (4 artigos)7DE WIT, H. Internationalization of Higher Education in the United States of America and Europe: a historical, comparative and conceptual analysis. Greenwood Studies in Higher Education. Wesport: Greenwood Press, 2002.. Quanto à análise dos dados, alguns artigos não mencionaram de forma objetiva a técnica utilizada, o que levou, em alguns casos, ao trabalho de inferência a partir dos instrumentos e das linhas discursivas dos artigos. Mesmo assim, restaram alguns não classificados pela impossibilidade ou pela incoerência de se criar uma inferência. Nesse sentido, as principais técnicas de análise de dados utilizadas foram: análise de conteúdo (8 artigos); estatística descritiva (2 artigos) e estatística multivariada (2 artigos)8DE WIT, H. Globalisation and internationalization of higher education. Revista de Universidad y Sociedad del Conocimiento, Barcelona, v. 8, n. 2, p. 241-248, 2011..

Considerações finais

A internacionalização da educação superior tem sido importante tema na pauta do desenvolvimento de vários países, dado o contexto do mundo globalizado. Os impactos da globalização na educação superior têm provocado a revisão das políticas nacionais, setoriais e institucionais, a fim de qualificar a formação profissional e avançar em termos de ciência e tecnologia. No que tange às IES, os movimentos realizados por aquelas que competem com base na qualidade orientam para o desenvolvimento de uma cultura de internacionalização no meio acadêmico, com reflexos na sociedade em geral.

Em síntese, os resultados deste estudo mostram que a internacionalização da educação superior é uma área caracterizada por estudos concentrados nos últimos cinco anos pesquisados (2009 a 2013) e que vem despertando interesse pelos pesquisadores por meio do aumento do número de publicações sobre o tema. Em função desse predomínio de estudos relativamente recentes, pode-se considerar como um tema emergente e com várias discussões e debates ainda não consolidados ou em aberto. Por outro lado, os resultados também apontam para a ausência de grupos de pesquisa consolidados na área e de publicações com mais discussão entre os seus autores. A baixa concentração das publicações por autores e a falta de elos entre os autores que mais publicaram indicam a necessidade de avanços na produção científica da área. Além disso, a veiculação das publicações em inúmeros journals contribui para essa dispersão.

Especialmente em relação aos artigos mais citados no período analisado, constatou-se um relativo equilíbrio entre trabalhos teóricos e teórico-empíricos, o que por um lado encontra explicação em razão da importância do tema para a formulação de políticas setoriais e nacionais e da elevação da discussão para o nível de nação ou bloco econômico. Por outro lado, o desenvolvimento de forma mais acentuada de trabalhos com base em evidências empíricas, tanto qualitativas quanto quantitativas, pode sustentar de forma mais convincente o avanço da área e a geração de novas proposições teóricas. No conjunto dos artigos classificados como teórico-empíricos, a análise revelou a preferência pelo uso da abordagem qualitativa e do método de estudo de caso.

Por fim, sugere-se a análise da produção científica na área em questão por meio de outras bases de dados e por um conjunto maior de artigos teórico-empíricos para a formação de uma base mais sólida em relação aos aspectos metodológicos empregados pelos autores, bem como estudos mais integrados em relação à sua abrangência e à sua aplicabilidade. Em termos gerais, a internacionalização da educação superior se mostra como um campo de significativa relevância acadêmica, para as IES e a sociedade em geral no atual contexto globalizado. Do ponto de vista da pesquisa, é um campo fértil para a investigação de questões latentes, por meio do estabelecimento de novos enlaces teóricos e da evidenciação empírica.

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  • YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
  • 1
    Este artigo teve sua versão preliminar apresentada no IX Simpósio Internacional de Administração e Marketing / X Congresso de Administração, promovido pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo, 10 a 11 de novembro de 2014.
  • 2
    Designação comum dada a um conjunto de bases de dados também conhecidas como Science Citation Indexes, compiladas pelo ISI - Institute for Scientific Information. O Web of Science é uma plataforma que hospeda e permite pesquisar diferentes bases de dados de forma conjunta ou individualmente.
  • 3
    O Ucinet é um programa especializado na análise de dados provenientes de redes sociais, que possui diversas ferramentas para o desenvolvimento de estatísticas e demonstrações integradas. O NetDraw também é utilizado para visualização de dados de redes sociais, porém é um software livre.
  • 4
    A pesquisa teórica é aquela "{...} dedicada a reconstruir teoria, conceitos, ideias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos" (DEMO, 2000, p. 20). De acordo com esse autor, a pesquisa teórica requer rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada e capacidade explicativa. A pesquisa teórico-empírica, por sua vez, é a pesquisa "{...} dedicada ao tratamento da face empírica e fatual da realidade; produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e fatual" (DEMO, 2000, p. 21). Nessa abordagem, esse autor aborda que o significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, porém agrega impacto pertinente, sobretudo na facilitação da aproximação prática.
  • 5
    Creswell (2010) afirma que uma pesquisa de natureza qualitativa deve estar em conformidade com os pressupostos do paradigma qualitativo, ou seja, definida como um processo de compreensão de um problema social ou humano, com base na construção de um quadro complexo e holístico formado por palavras, relatos detalhados dos informantes e conduzido em um cenário específico. Por outro lado, o mesmo autor descreve uma pesquisa de natureza quantitativa como uma investigação de um problema social ou humano, baseada no teste de uma teoria composta de variáveis, mensurada por números e analisada por meio de procedimentos estatísticos, a fim de determinar se as generalizações preditivas da teoria podem ser corroboradas.
  • 6
    O estudo de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos e permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real. Além disso, o estudo de caso examina acontecimentos contemporâneos, quando comportamentos relevantes não podem ser manipulados (YIN, 2005YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.). As pesquisas de levantamento ou survey "...se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se a solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes aos dados coletados" (GIL, 1999GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999., p. 70).
  • 7
    "A entrevista é um encontro de duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional" (MARCONI; LAKATOS, 2003MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003., p. 195). O questionário, por sua vez, "...é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador" (MARCONI; LAKATOS, 2003MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003., p. 201). Já o grupo focal "...é um tipo de entrevista em profundidade realizada em grupo, cujas reuniões têm características definidas quanto à proposta, ao tamanho, à composição e aos procedimentos de condução. O foco ou o objeto de análise é a interação dentro do grupo" (OLIVEIRA; FREITAS, 2010OLIVEIRA, M.; FREITAS, H. Focus group: instrumentalizando o seu planejamento. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.; SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010., p. 325-326).
  • 8
    A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Busca a geração de indicadores, quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens (BARDIN, 2011BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.). Por sua vez, a estatística descritiva é utilizada para descrever amostras (DANCEY; REIDY, 2013) e a estatística multivariada se refere à análise simultânea de múltiplas medidas sobre indivíduos ou objetos sob investigação (HAIR et al., 2009HAIR, J. F. JR. et al. Análise multivariada de dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    14 Ago 2015
  • Aceito
    28 Out 2015
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