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Em memória de Lígia Maria de Castro Marcondes Machado - homenagem póstuma à professora Lígia

Posthumous homage to professer Lígia Marcondes Machado

Resumos

O objetivo do artigo é prestar homenagem póstuma à Professora Lígia Maria Marcondes Machado, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, recentemente falecida. Sua atuação como professora foi exemplar, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto sindical. Foi membro da diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (ADUSP), com intensa participação política; a solidariedade foi um traço marcante de sua atuação. Suas contribuições para a Análise do Comportamento vão muito além das pesquisas que realizou e dos artigos que publicou. Contribuiu, através do Programa de Pós-Graduação, na formação de profissionais competentes, orientados com dedicação e bom humor.


The article intends, also, to pay a posthumous homage to Professor Lígia Maria Marcondes Machado, one of the reporters of the Encounter, recently died. Its performance as professor of the Institute of Psychology of USP was exemplary, so much of the academic point of view, as as researcher. It was member's ADUSP, with intense political participation; the solidarity was a fundamental line of its performance. Her contributions to Behavioraf Analysis of the empty space a lot besides the researches that it accomplished and of the goods that it published. She contributed, through the Program of Masters degree, in the competent professionals formation, guided with dedication and good mood.


RESENHA

Em memória de Lígia Maria de Castro Marcondes Machado homenagem póstuma à professora Lígia

Posthumous homage to professer Lígia Marcondes Machado

José Gonçalves Medeiros

Docente do Curso de Psicologia da UFSC (SC)

End. para correspondência End. para correspondência: Caixa Postal 5060, CEP: 88040-197 Campus Universitário, Florianópolis, SC. E-mail: medeiros@mbox1.ufsc.br

RESUMO

O objetivo do artigo é prestar homenagem póstuma à Professora Lígia Maria Marcondes Machado, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, recentemente falecida. Sua atuação como professora foi exemplar, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto sindical. Foi membro da diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (ADUSP), com intensa participação política; a solidariedade foi um traço marcante de sua atuação. Suas contribuições para a Análise do Comportamento vão muito além das pesquisas que realizou e dos artigos que publicou. Contribuiu, através do Programa de Pós-Graduação, na formação de profissionais competentes, orientados com dedicação e bom humor.

ABSTRACT

The article intends, also, to pay a posthumous homage to Professor Lígia Maria Marcondes Machado, one of the reporters of the Encounter, recently died. Its performance as professor of the Institute of Psychology of USP was exemplary, so much of the academic point of view, as as researcher. It was member's ADUSP, with intense political participation; the solidarity was a fundamental line of its performance. Her contributions to Behavioraf Analysis of the empty space a lot besides the researches that it accomplished and of the goods that it published. She contributed, through the Program of Masters degree, in the competent professionals formation, guided with dedication and good mood.

Lígia conseguiu mostrar que teoria e prática não se separam e que é possível atuar concomitantemente a nível da academia e do sindicato. Ela será sempre lembrada pelo conhecimento que produziu e divulgou, além do papel que desempenhou junto à ADUSP.

Sua produção principal era originária do laboratório, contudo sua concepção sobre ele foi além de um local repleto de animais, de instrumentos e de fiação; ela concebia o cotidiano como laboratório. Em dezembro de 96, afirmou... .

"... acho que nossa função de cientista é exatamente a de buscar entender o mundo à nossa volta. E não apenas aquele pedaço de mundo que a gente pode ver no laboratório ..." (p.57)

Mostrou, por exemplo, que a pausa pós-reforçamento, próprio dos esquemas de razão fixa, freqüentemente estudado em pombos e ratos, constitui-se também em um fenômeno humano, comum em nosso cotidiano. Quantas vezes, após os sucessos em nossas empreitadas, não paramos e só retomamos às atividades um pouco mais tarde?

"... um pombo deve bicar a chave especialmente planejada por 15 vezes para que tenha acesso ao alimento. Tipicamente todos os sujeitos submetidos a essa programação trabalham rapidamente até receberem o reforçador. Então, param durante alguns segundos e recomeçam a emitir a resposta experimental com força total. É extremamente intrigante essa parada uma vez que ela representa um prejuízo óbvio para o animal: enquanto ele não emite todas as respostas exigidas, não há maneira de obter o reforçador ... Uma proposta interessante como explicação aborda o chamado efeito inibitório do reforçador: embora, a longo prazo, o efeito do reforçador seja aumentar a probabilidade de ocorrência do comportamento, a curto prazo ele produz uma depressão no comportamento. Essa depressão tem um significado importante pois dá tempo suficiente ao animal para olhar em volta à busca de possíveis predadores. Essa é uma explicação biológica que ilustra claramente a vantagem para os psicólogos de trabalharem em cooperação com os biólogos" (p.82)

Esta era a principal linha de pesquisa desenvolvida que, além do problema, colocava a necessidade do diálogo entre os campos do saber. Mesmo tendo como foco principal de sua atuação, a descrição e análise de variáveis em ambientes restritos, raramente deixava de contribuir na análise de processos comportamentais complexos como, por exemplo, a linguagem. Em relação a este aspecto, o da linguagem, chama-nos atenção sua atuação numa das Reuniões Anuais de Ribeirão Preto, onde procurou caracterizar a proposta da linguagem como ação como um passo intermediário entre uma proposta cognitivista e uma proposta behaviorista...

"... todas estas características são um caminhar na direção da maneira de trabalhar de um behaviorista, embora vinculadas a suposições cognitivistas. Como boa behaviorista, eu traduziria este caminhar dizendo que se trata de um cognitivista se comportando como um behaviorista. E, como comportamento é o meu objeto de análise, isto me parece muito importante. Talvez seja esta a forma pela qual possamos construir uma psicologia unifi cada (grifo meu). Se um número cada vez maior de pesquisadores começar a se comportar de formas parecidas, talvez possamos atingir uma massa crítica de semelhanças em lugar de diferenças. Então, as posições de onde partiram os pesquisadores poderiam ser abandonadas sem maiores perdas e sofrimentos. Isto, para mim, caracteriza o caminhar de uma idéia a outra" (p.150).

Repartia sua vivência acadêmica entre o laboratório e o sindicato dos docentes, semelhantemente ao "caminhar de uma idéia a outra". Como membro da diretoria, defendeu com determinação os direitos da categoria e um ensino público, gratuito e de qualidade, voltado para a maioria da população. Defendeu igualmente o direito e o dever dos professores de produzirem conhecimento significativo com a finalidade de tornar o país auto-suficiente.

Defendia com determinação o trabalho dos intelectuais, não apenas o dos professores estáveis mas também daqueles que, passando pelo mesmo processo rigoroso de seleção, vivem em situação precária. Em um artigo denominado "Contratos precários: por que isso tem que acabar? critica esse tipo de contrato e mostra que as obrigações dos professores contratados precariamente são exatamente as mesmas que aquelas dos docentes efetivos. Esta situação é muito parecida com a política de contratação dos professores substitutos nas Universidades Federais, quer do ponto de vista de um discurso discriminatório que Ihes impinge a academia quando os classifica de "substitutos", "precários", quer no âmbito do direito, das garantias sociais. Tais professores não tem garantido qualquer direito advindo do contrato de trabalho. Esses professores vivem a constante ameaça de que são precários e que, ao final do ano, serão dispensados. Que qualidade acadêmicapode advir de situação tão aversiva? E onde fica, como diz Lígia, "a emoção da descoberta, a satisfação de compreender o mundo, a alegria de dividir o conhecimento e ver o outro crescer?...

"...o pagamento de salários é um avanço óbvio em relação à escravidão; mas, o uso de um salário padronizado como algo que pode ser interrompido a menos que os empregados trabalhem de uma dada maneira não significa um progresso tão grande". Skinner, 1953, p. 388.

E, por fim, conclama: "Vamos deixar que alguém mais assuma, compactuando com a escravidão de nossos próprios colegas?"

Lígia foi como uma estrela, símbolo de luta, significando para nós a esperança na construção de um amanhã melhor, onde a solidariedade seja o resultado principal de nossa atuação... "hay que endurecer pero sin perder Ia ternura"

REFERÊNCIAS

MACHADO, L. M. M. (1988). Estudando juntos o comportamento: a perspectiva da Análise Experimental do Comportamento. Biotemas, 1 (1), 76-94.

MACHADO, L. M. M. (1986). Sentinela. Revista ADUSP (Revista da Associação dos Docentes da USP - Seção Sindical da ANDES), 8, 56-58.

MACHADO, L. M. M. (1991). Análise funcional do comportamento verbal. In: Simpósio "Linguagem como ação". Anais da XXI Reunião Anual da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, p.145-150.

MACHADO, L. M. M. (1996). Contratos precários: por que isso tem que acabar? Revista ADUSP (Revista da Associação dos Docentes da USP-Seção Sindical da ANDES), 5, 29-31.

SKINNER, B.F.(1953). Science and human behavior. New York: Macmillan.

  • MACHADO, L. M. M. (1988). Estudando juntos o comportamento: a perspectiva da Análise Experimental do Comportamento. Biotemas, 1 (1), 76-94.
  • MACHADO, L. M. M. (1986). Sentinela. Revista ADUSP (Revista da Associação dos Docentes da USP - Seção Sindical da ANDES), 8, 56-58.
  • MACHADO, L. M. M. (1996). Contratos precários: por que isso tem que acabar? Revista ADUSP (Revista da Associação dos Docentes da USP-Seção Sindical da ANDES), 5, 29-31.
  • SKINNER, B.F.(1953). Science and human behavior. New York: Macmillan.
  • End. para correspondência:
    Caixa Postal 5060, CEP: 88040-197
    Campus Universitário, Florianópolis, SC.
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Ago 2014
    • Data do Fascículo
      Ago 1999
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