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Sentidos de tempo livre para trabalhadores offshore

Meanings of free time for offshore workers

Resumo

Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa que objetivou compreender quais os sentidos sobre tempo livre produzidos por trabalhadores offshore em seu cotidiano de trabalho. A pesquisa utilizou abordagem qualitativa, tendo como principal fonte de informação entrevistas compreensivas realizadas com trabalhadores de ambos os gêneros da Bacia de Campos/Rio de Janeiro. Foi possível consolidar dois eixos de análise: os tempos lá, relativos à vida dos trabalhadores quando estão embarcados nas plataformas de petróleo, e os tempos cá, referentes à sua vida em terra. Foram discutidos elementos substanciais acerca da vida cotidiana dos trabalhadores no período do embarque e as relações temporais concebidas em seu cotidiano de trabalho. Concluiu-se que as experiências temporais vivenciadas pelos trabalhadores offshore são intensas e pautadas na produção, enquanto os sentidos de tempo livre são de descanso e recuperação da força de trabalho.

Palavras-chave:
Espaço e tempo; Percepção do tempo; Produção de sentidos; Trabalho confinado; Trabalho offshore

Abstract

This article reports the partial results of a research that was aimed at understanding the meanings of free time attributed by offshore workers in their daily work. The qualitative approach was adopted for the research, which was carried out based on comprehensive interviews conducted with workers of Bacia de Campos (a coastal sedimentary basin of the Northern region of the state of Rio de Janeiro, Brazil). Two major aspects were analyzed: the time there, referring to the lives of workers while on board of offshore oil platforms and the time here, referring to their lives while on land. Substantial elements of the daily life of workers during their time on the platform and the temporal relationships established in their daily work were discussed. It was concluded that the temporal experiences of offshore workers are based on production, whereas free time means rest period and time to recover from the efforts and restore energy to continue the work.

Keywords:
Space and time; Time perception; Production of meanings; Confined work system; Offshore work

Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa de mestrado, a qual teve como objetivo compreender quais os sentidos sobre tempo livre produzidos por trabalhadores offshore, de ambos os gêneros, em seu cotidiano de trabalho. A pes-quisa situa-se no campo da Psicologia Social do Trabalho e discorre sobre a temática da produção de sentidos a partir do Construcionismo Social. Em tal abordagem, a realidade é compreendida como uma construção social, vivenciada por meio do inter-câmbio entre as pessoas que cotidianamente, ao conversarem, processam narrativas e produzem sentidos como forma de se situarem no mundo (Gergen, 2009Gergen, K. J. (2009). O movimento do construcionismo social na Psicologia moderna. Revista Internacional INTERthesis, 6(1), 299-325. http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2009v6n1p299
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2009...
; Pinheiro, 2004Pinheiro, O. G. (2004). Entrevista: uma prática discursiva. In M. J. P. Spink (Org.), Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas (3ª ed., pp.156-187). São Paulo: Cortez .).

Em acordo com a posição epistemológica construcionista, tanto o sujeito como o objeto são concebidos como "construções sócio-históricas" que precisam ser problematizadas e desnatura-lizadas (Spink, 2010Spink, M. J. (2010). Linguagem e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. , p.55). A realidade não existe desanexada da maneira como as pessoas a com-preendem, pois as ações produzidas no cotidiano, no espaço/tempo do aqui e agora, constituem rela-ções sociais que são sempre historicamente datadas e culturalmente localizadas (Berger & Luckman, 2004Berger, P., & Luckmann, T. (2004). Modernidade, plura-lismo e crise do sentido: a orientação do homem moderno. Petrópolis: Vozes.; Spink, 2010Spink, M. J. (2010). Linguagem e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. ).

A seguir, pontuam-se algumas configurações do trabalho offshore e expõem-se considerações sobre os tempos sociais na contemporaneidade. Após, apresentam-se o método e os resultados par-ciais da pesquisa, com enfoque nas temporalidades vividas pelos trabalhadores durante o período do embarque, os "tempos lá".

Trabalho offshore

A expressão offshore é aplicada, segundo Figueiredo (2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. , p.19) "às atividades de exploração e produção de petróleo em alto-mar". A exploração do petróleo, "principal fonte de energia do século XX", ganhou destaque e relevância mundial à pro-porção que avançou a industrialização (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. , p.41). Atualmente o petróleo encontra-se difundido na sociedade devido ao alto consumo de seus derivados (óleo combustível, óleo diesel, asfalto, plástico, produtos de limpeza, entre outros), e sua indústria mobiliza um enorme contingente de trabalhadores ao redor do mundo.

No contexto brasileiro, durante as décadas de 1980 e 1990, com a reestruturação produtiva e a introdução das tecnologias nas fábricas (Antunes, 2013Antunes, R. (2013). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II. São Paulo: Boitempo .), observa-se o cenário da reestruturação pro-dutiva, marcado pelas políticas de ajuste neoliberal, com diversas mudanças: colocou o mercado como regulador da sociedade, desestruturou o Estado de Bem-Estar Social, abriu os mercados nacionais a fim de acirrar a competitividade entre as empresas, pri-vatizou as empresas estatais e flexibilizou a legis-lação trabalhista (Antunes, 2002Antunes, R. (2002). Os sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e a negação do trabalho (6ª ed.). São Paulo: Boitempo.; Lapis, 2011Lapis, N. L. (2011). Acumulação flexível. In A. D. Cattani & L. Holzmann (Orgs.), Dicionário de trabalho e tecnologia (2ª ed., pp.27-32). Porto Alegre: Zouk.). A Petrobras, após aprovação da Lei nº 9.478, abriu o mercado para o investimento do capital privado (Barbosa, Borges, Cavalcanti, & Portela, 2007Barbosa, S. C., Borges, L. O., Cavalcanti, E. A. F., & Portela, S. A. (2007). A Petrobras: o contexto socioeconômico e o modelo gerencial. In L. O. Borges & S. C. Barbosa (Orgs.), Aspectos psicossociais do trabalho dos petroleiros: dois estudos empíricos no Rio Grande do Norte (pp.59-86). Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.), que-brando o monopólio sobre as atividades de "explo-ração, produção, refino e transporte de petróleo, derivados e gás natural, possibilitando que empresas operadoras e prestadoras de serviços, sejam elas nacionais ou estrangeiras, viessem a competir com a empresa estatal em todos esses segmentos de atividades" (Furtado, 2003Furtado, A. T. (2003). Mudança institucional e inovação na indústria brasileira de petróleo. In Coloquio Internacional "Energia, Reformas Institucionales y Desarrollo em América Latina" (ERID), Universidade PMF de Grenoble, México, 5-7. Recuperado en Septiembre 10, 2013, de Recuperado en Septiembre 10, 2013, de http://www.posgrado. economia.unam.mx/p-cientifica/coloquio-erdal/10CaAndreFurtadoPortugLtt.pdf
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, p.8).

Nesse cenário, ao longo dos anos 1990, a terceirização e precarização acentuaram-se no setor offshore, com destaque para a Bacia de Campos, RJ, principal região produtora do petróleo no Brasil, a qual contempla uma área em torno de 100 mil km², de Vitória/ES a Arraial do Cabo/RJ (Clemente, 2012Clemente, C. C. (2012). Entre o mar e a terra: uma antropologia do trabalho offshore. Crítica e Sociedade, 2(2), 159-175. Recuperado em dezembro 5, 2013, de Recuperado em dezembro 5, 2013, de http://www.seer.ufu.br/index.php/criticasociedade/article/view/21947
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; Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ; Ribeiro & Sales, 2011Ribeiro, A. M. M., & Sales, V. L. F. (2011). Experiências de (não) reconhecimento entre os trabalhadores offshore na bacia de Campos: uma abordagem a partir de Axel Honneth. Vértices, 13(2), 45-59. http://dx.doi.org/10. 5935/1809-2667.20110013
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).

O regime de trabalho offshore é distinto do da maior parte da população, compreendendo um período de 14 dias em confinamento nas plata-formas marítimas e 21 dias em folga na terra para os trabalhadores concursados da Petrobras (chama-dos "próprios"), e 14 para os terceirizados (Leite, 2009Leite, R. M. S. C. (2009). Vida e trabalho na indústria de petróleo em alto mar na Bacia de Campos. Ciência e Saúde Coletiva, 14(6), 2181-2189. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000600025
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). Devido ao grande contingente de terceiri-zados, a jornada 14x14 é predominante, porém, há muitas variações; dependendo da empresa e/ou da função de cada trabalhador, "um mergulhador chega a passar 28 dias confinado" (Maia, Gon-çalves, Celestino, & Figueiredo, 2003Maia, L. X., Gonçalves, M. S., Celestino, P. G., & Fi-gueiredo, M. G. (2003). Um diagnóstico da organi-zação do trabalho nas plataformas petrolíferas da Bacia de Campos e a influência dos investimentos em meio ambiente, saúde e segurança. In XXIII Encontro Na-cional de Engenharia de Produção, ENEGEP, Ouro Preto. Recuperado em outubro 26, 2012, de Recuperado em outubro 26, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0 401_0679.pdf
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, p.3).

O ambiente de trabalho em uma unidade offshore implica alta periculosidade e insalubridade, pois há produtos químicos inflamáveis, riscos de incêndios, explosões, altos ruídos, calor extremo, ventilação inadequada, vazamentos de gases e vapores tóxicos (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ; Maia et al., 2003Maia, L. X., Gonçalves, M. S., Celestino, P. G., & Fi-gueiredo, M. G. (2003). Um diagnóstico da organi-zação do trabalho nas plataformas petrolíferas da Bacia de Campos e a influência dos investimentos em meio ambiente, saúde e segurança. In XXIII Encontro Na-cional de Engenharia de Produção, ENEGEP, Ouro Preto. Recuperado em outubro 26, 2012, de Recuperado em outubro 26, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0 401_0679.pdf
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).

Durante os 14 dias seguidos de embarque, ao término da jornada de trabalho, os trabalhadores permanecem em seu local de trabalho, em confi-namento. Ao longo das 24 horas diárias, o trabalho se desenrola em dois turnos de revezamento. Os trabalhadores passam sete dias no turno da noite e os outros sete no turno do dia, revezando-se conti-nuamente (Alvarez, Figueiredo, & Rotenberg, 2010Alvarez, D., Figueiredo, M., & Rotenberg, L. (2010). As-pectos do regime de embarque, turnos e gestão do trabalho em plataformas da Bacia de Campos (RJ) e sua relação com a saúde e a segurança dos tra-balhadores. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 35(122), 201-216. http://dx.doi.org/10.1590/S0303-76 572010000200004
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). Ainda, "a adaptação ao regime de turnos é sempre interrompida bruscamente pelo retorno ao ritmo doméstico e vice-versa" (Maia et al., 2003Maia, L. X., Gonçalves, M. S., Celestino, P. G., & Fi-gueiredo, M. G. (2003). Um diagnóstico da organi-zação do trabalho nas plataformas petrolíferas da Bacia de Campos e a influência dos investimentos em meio ambiente, saúde e segurança. In XXIII Encontro Na-cional de Engenharia de Produção, ENEGEP, Ouro Preto. Recuperado em outubro 26, 2012, de Recuperado em outubro 26, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0 401_0679.pdf
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, p.3). No período de folga, os trabalhadores encontram--se de sobreaviso e ficam limitados aos espaços ofe-recidos pelas plataformas, os quais variam muito de uma para outra e podem contemplar camarotes, refeitório, sala de recreação, academia, etc. (Maia et al., 2003Maia, L. X., Gonçalves, M. S., Celestino, P. G., & Fi-gueiredo, M. G. (2003). Um diagnóstico da organi-zação do trabalho nas plataformas petrolíferas da Bacia de Campos e a influência dos investimentos em meio ambiente, saúde e segurança. In XXIII Encontro Na-cional de Engenharia de Produção, ENEGEP, Ouro Preto. Recuperado em outubro 26, 2012, de Recuperado em outubro 26, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0 401_0679.pdf
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).

Desse modo, pode-se afirmar que o regime de embarque desorganiza a vida social dos trabalha-dores, ao exacerbar a separação entre tempo/espa-ço de trabalho e vida privada/doméstica, fazendo com que ocorra uma interrupção/suspensão cons-tante entre os períodos de embarque e a vida em terra (Barbosa et al., 2007Barbosa, S. C., Borges, L. O., Cavalcanti, E. A. F., & Portela, S. A. (2007). A Petrobras: o contexto socioeconômico e o modelo gerencial. In L. O. Borges & S. C. Barbosa (Orgs.), Aspectos psicossociais do trabalho dos petroleiros: dois estudos empíricos no Rio Grande do Norte (pp.59-86). Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.; Sampaio, Borsoi, & Ruiz, 1998Sampaio, J., Borsoi, I., & Ruiz, E. (1998). Saúde mental e trabalho em petroleiros de plataforma: penosidade, rebeldia e conformismo em petroleiros de produção (onshore/offshore) no Ceará Fortaleza: Flacso.).

Temporalidades contemporâneas

A compreensão acerca do tempo é funda-mental para a organização do mundo social, já que é a partir da vivência temporal que é possível po-sicionar-se "perante a vida e a finitude desta", en-quanto sujeito histórico e datado (Araújo & Duque, 2012Araújo, E. (2012). A espera e os estudos sociais do tempo e sociedade. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo. Um debate para as ciências sociais e humanas (pp.9-26). Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade ., p.7).

Desde as épocas remotas a sociedade mediu o tempo para estabelecer suas mais diversas ativi-dades, os períodos ideais de colheita e plantio, assim como os períodos de celebração e festas (Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade.). Cada momento era dispendido para uma atividade específica. A compreensão do tempo era orientada por essas tarefas e era utilizada como uma importante ferramenta de organização social (Cherman & Vieira, 2008Cherman, A., & Vieira, F. (2008). O tempo que o tempo tem: porque o ano tem 12 meses e outras curiosidades sobre o calendário Rio de Janeiro: Jorge Zahar.; Le Goff, 1979Le Goff, J. (1979). Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no ocidente. Lisboa: Es-tampa.; Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade.). Ao lon-go da história da sociedade capitalista, a construção do tempo afastou-se "dos códigos estabelecidos na agricultura familiar" e dos ritmos regidos pelo tempo da natureza, de modo que a compreensão acerca do tempo ganhou complexidade, pois o tem-po passou a imperar - nessas novas sociedades -, em um sentido de uso econômico (Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade., p.100).

O acesso geral às mais diversas tecnologias juntamente com as transformações em curso no mundo do trabalho (tecnológicas, gerenciais e in-formacionais) apresentam novas configurações nas formas de gerir o tempo de trabalho, podendo o tempo assumir diversos sentidos e envolver mais dimensões do que aquelas propostas "no âmbito estrito do uso de instrumentos de medição, como relógio ou calendário" (Araújo, 2012Araújo, E. (2012). A espera e os estudos sociais do tempo e sociedade. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo. Um debate para as ciências sociais e humanas (pp.9-26). Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade ., p.10).

Para Araújo e Duque (2012Araújo, E. (2012). A espera e os estudos sociais do tempo e sociedade. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo. Um debate para as ciências sociais e humanas (pp.9-26). Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade .), as configura-ções do tempo na contemporaneidade sinalizam disparidades entre as temporalidades exigidas no cotidiano e as temporalidades determinadas pelos vários sistemas sociais existentes. Isto é, a noção de um "tempo mecânico, o tempo abstrato do relógio e outros instrumentos e formas de medição" (Araújo & Duque, 2012Araújo, E. (2012). A espera e os estudos sociais do tempo e sociedade. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo. Um debate para as ciências sociais e humanas (pp.9-26). Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade ., p.7), utilizada pelas sociedades oci-dentais, entra em colapso quando as pessoas são, instantânea e simultaneamente, solicitadas para a resolução das mais diversas tarefas que perpassam a vida cotidiana, em que a própria separação entre o tempo/espaço de trabalho e o tempo/espaço de não trabalho, antes definidos e separados com cla-reza, se confundem (Araújo & Duque, 2012Araújo, E. (2012). A espera e os estudos sociais do tempo e sociedade. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo. Um debate para as ciências sociais e humanas (pp.9-26). Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade .; Car-doso, 2007Cardoso, A. C. M. (2007). Tempos de trabalho, tempos de não trabalho: disputas em torno da jornada do trabalhador São Paulo: Annablume.; Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade.).

A partir dessas interações vivenciadas e/ou instituídas socialmente, as pessoas produzem uma pluralidade de sentidos de tempo, conforme os contextos culturais e sociopolíticos em que vivem, com implicações em todas as esferas da vida social, revelando a atualidade da presente investigação (Araújo & Duque, 2012Araújo, E. (2012). A espera e os estudos sociais do tempo e sociedade. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo. Um debate para as ciências sociais e humanas (pp.9-26). Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade .; Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade.).

Método

De acordo com Morin, Ciurana e Motta (2007Morin, E., Ciurana, E. R., & Motta, R. D. (2007). Educar na era planetária (2ª ed.). São Paulo: Cortez., p.19), "ninguém pode basear um projeto de aprendizagem e conhecimento num saber defi-nitivamente verificado e edificado sobre a certeza". Sendo assim, o método foi compreendido como um caminho, no qual foi possível (re)aprender, refletir e criar a cada passo do percurso.

O principal instrumento utilizado para le-vantar as informações foi a entrevista compreensiva, entendida como parte do processo de construção do objeto de estudo, e não apenas como uma técni-ca (Zago, 2003Zago, N. (2003). A entrevista e seu processo de cons-trução: reflexões com base na experiência prática de pesquisa. In N. Zago, M. P. Carvalho, & R. A. T. Vilela (Orgs.), Itinerários de pesquisas: perspectivas quali-tativas em sociologia da educação (pp.287-309)Rio de Janeiro: DP&A.). A entrevista compreensiva é um processo que necessita da proximidade entre o pes-quisador e o informante e, por não ter uma estrutura rígida, possibilita uma fala livre ao pesquisado, am-pliando vários aspectos não abordados no roteiro (Zago, 2003Zago, N. (2003). A entrevista e seu processo de cons-trução: reflexões com base na experiência prática de pesquisa. In N. Zago, M. P. Carvalho, & R. A. T. Vilela (Orgs.), Itinerários de pesquisas: perspectivas quali-tativas em sociologia da educação (pp.287-309)Rio de Janeiro: DP&A.).

As primeiras aproximações com o campo da pesquisa iniciaram ainda na etapa de construção do projeto, em que foram realizadas viagens fre-quentes ao Rio de Janeiro, região que comporta grande número de operações offshore. Ao longo da fase exploratória foram realizadas sete entrevistas com funcionários de empresas do ramo offshore, dirigentes sindicais e trabalhadores, com intuito de ampliar a compressão dessa realidade e aprimorar as perspectivas do campo de pesquisa; tais entre-vistas foram consideradas complementares. A partir dos contatos e indicações levantadas, Macaé (cidade onde embarcam os trabalhadores da Bacia de Cam-pos) revelou-se como um campo possível para a realização da pesquisa, de forma que todas as entre-vistas da pesquisa foram realizadas em diferentes locais desta cidade.

Na cidade de Macaé, a pesquisadora entrou em contato com trabalhadores que, no momento das observações de campo, se encontravam no Sin-dicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, no Sindicato dos Trabalhadores Offshore do Brasil ou no aeroporto da cidade, onde aguardavam o próxi-mo embarque. Após os esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram realizadas as entrevistas, gravadas em áudio e com duração entre 35min e 1h40min. Nos Sindicatos foi cedida uma sala para a realização das mesmas, e no aero-porto as entrevistas foram realizadas nas salas de embarque.

Foi realizado um total de dez entrevistas. Para efetivar a análise em profundidade foram utili-zados os seguintes critérios de diversidade: terceiri-zados e concursados da Petrobras; homens e mulhe-res; menor e maior tempo de embarque; e variedade de funções (cargos).

A partir de tais critérios, foram selecionadas seis entrevistas para serem analisadas em profun-didade. Três dos entrevistados eram terceirizados: Walter (bombeiro, torrista, plataformista e auxiliar de plataforma, com 17 anos de embarque), Gustavo (engenheiro mecânico coordenador de equipes, com 2 anos de embarque) e Marília (nutricionista e comissária de bordo, com 3 anos de embarque); e outros três eram concursados da Petrobras: Patrícia (operadora de produção, com 10 anos de embar-que), Tiago (auxiliar administrativo, com 10 anos de embarque) e Rafael (inspetor de ultrassom, com 33 anos de embarque). As demais entrevistas tam-bém foram consideradas complementares. Cabe ressaltar que todos os nomes dos entrevistados são fictícios.

O procedimento de análise do material ini-ciou-se com uma imersão no conjunto de infor-mações levantadas, "procurando deixar aflorar os sentidos, sem encapsular os dados em categorias, classificações ou tematizações definidas a priori" (Spink & Lima, 2004Spink, M. J. P., & Lima, H. (2004). Rigor e visibilidade: a explicitação dos passos da interpretação. In M. J. P. Spink (Org.), Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e meto-dológicas (3ª ed., pp.71-99). São Paulo: Cortez ., p.83). A organização e a aná-lise do material foram baseadas na análise temática de narrativas, a qual busca investigar principalmente qual conteúdo a narrativa comunica (Riessman, 2008Riessman, C. K. (2008). Narrative methods for the human sciences. Califórnia: Sage.). As narrativas foram organizadas em temá-ticas e articuladas com as proposições teóricas, refle-tindo o problema de pesquisa e os objetivos espe-cíficos, conforme apontado por Riessman (2008)Riessman, C. K. (2008). Narrative methods for the human sciences. Califórnia: Sage..

Foi possível consolidar dois eixos de análise, os quais abarcaram os "tempos lá", os aspectos que compreendem a vida dos trabalhadores quando estão embarcados nas plataformas de petróleo, e "os tempos cá", os aspectos que compreendem suas vidas em terra. A seguir, apresentam-se alguns resultados e discussões referentes ao período em que os trabalhadores estão embarcados, os "tem-pos lá".

O projeto de pesquisa foi submetido e apro-vado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade na qual se inserem as autoras, respeitando os parâmetros éticos vigentes na época, de acordo com a Resolução nº 196/96, a qual:

Incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, benefi-cência, justiça e equidade, dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado (Brasil, 2012, p.1).

Resultados e Discussão

Para compreender as percepções dos tra-balhadores sobre o tempo, é necessário conhecer o cotidiano de trabalho offshore, uma vez que o cotidiano é o lugar/base material onde as pessoas constroem suas experiências sociais e produzem sentidos (Berger & Luckman, 2004Berger, P., & Luckmann, T. (2004). Modernidade, plura-lismo e crise do sentido: a orientação do homem moderno. Petrópolis: Vozes.).

Para Leite (2009Leite, R. M. S. C. (2009). Vida e trabalho na indústria de petróleo em alto mar na Bacia de Campos. Ciência e Saúde Coletiva, 14(6), 2181-2189. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000600025
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), estar confinado é estar off da vida social. A condição de isolamento social e confinamento durante os 14 dias ininterruptos de trabalho, no mesmo local, ocasiona uma não divisão entre o espaço/tempo laboral e o pessoal/privado (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ). Lociser (1995Lociser, E. (1995). A procura da subjetividade: a organi-zação pede análise. In E. Davel & J. Vasconcellos (Orgs.), Recursos humanos e subjetividade (pp.68-79). Petrópolis: Vozes .), em es-tudo com trabalhadores confinados, pondera que o efeito totalizante pode acontecer em condições de confinamento e periculosidade, em que o tra-balhador é submetido por um longo período a um regime de trabalho em que há grande controle, normatização e pressão da gerência. Para Lociser (1995Lociser, E. (1995). A procura da subjetividade: a organi-zação pede análise. In E. Davel & J. Vasconcellos (Orgs.), Recursos humanos e subjetividade (pp.68-79). Petrópolis: Vozes ., p.79), "este efeito provocava uma forte tendência a 'instituir o total' no sentido de interferir na totalidade da vida do trabalhador (inclusive no período de folga)". Uma maneira encontrada para enfrentar o confinamento, conforme relatam as en-trevistas, foi tentar separar os momentos do tra-balho embarcado da vida pessoal em terra, como evidenciado na fala de um trabalhador:

A pessoa vai embarcar e tem que focar no trabalho, se não você fica doido, só quer descer [da plataforma], tudo te irrita. Foi uma forma que eu achei, assim: embarcou, você muda o botão, né? Como se pudesse fazer [risos]. Trabalho, só trabalho. Quando desce, troca de novo o botão, em terra é em terra, desliga do trabalho, é família (Tiago).

Para Figueiredo (2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ), a maioria dos tra-balhadores atua em regime de doze horas de tra-balho e doze horas de folga, sendo que, na primeira semana, cumprem-se as horas no turno diurno e, na segunda, no turno noturno, gerando mais um fator de estresse apontado pela entrevistada Marília: "... pior pra mim por causa da cama, travesseiro diferente, e balanço, balança bastante, ficava enjoada no começo, depois o labirinto acostuma, né? Mas aí você troca de turno e aí, ah, já viu, né? Tudo de novo". Alguns trabalhadores ainda estão submetidos ao sobreaviso, e suas jornadas podem exceder o período de 12 horas "por conta das de-mandas vinculadas à sua atividade" (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. , p.182).

Os horários e as atividades variam de acordo com as atividades/funções específicas de cada cargo e, ainda, de empresa para empresa. No caso dos trabalhadores entrevistados, pôde-se constatar que quatro apresentaram uma escala de turnos fixa, cada uma com suas especificidades, relacionadas às funções exercidas, conforme ilustrado a seguir:

Meu turno é de doze horas de trabalho, é das sete da manhã às dezenove e das sete da noite às sete da manhã. E tem alguém que me substitui a bordo, né? Meu back [expressão do entrevistado] ... (Gustavo).

Eu acho assim, eu trabalho das seis às dezoito, mas lá tem vários turnos, tem de seis às dezoito, dezoito às seis, de meio-dia a meia-noite, de meia-noite a meio-dia, são quatro turnos diferentes. Mas por eu ser comissária eu não tenho back, né?... . Então acaba se estendendo minha jornada, eu trabalho demais, eu não tenho nem tempo de pensar muita coisa. Ah, e eu estou presa lá, é muito trabalho, muito trabalho (Marília).

Em relação à expressão "back" utilizada por Marília e Gustavo, esta designa os colegas que substituem seu posto de trabalho no outro turno, no mesmo embarque.

Já em relação aos outros dois entrevistados, eles atuam em regime diverso do estipulado em seus contratos de trabalho - no caso de Rafael, o regime de 14x14 e, no caso de Tiago, 14x21:

Hoje minha jornada não é mais 14x21, mas pra empresa eu continuo 14x21, mas nem sempre é assim, é meio que, vamos dizer assim, não é formalizado. Às vezes eu fico fazendo coisas no escritório e não embarco tanto (Tiago).

Lá, às vezes, dependendo da necessidade da plataforma, sua jornada de trabalho co-meça normalmente seis, sete da manhã, né? Precisou, eu vou. Dois, três dias, cinco dias. É difícil ficar porque a diária do inspetor é muito alta. Então eu sou a pessoa mal vista financeiramente [risos]. Apesar de ser 14x21, na realidade não é assim não (Rafael).

Apesar de os trabalhadores atuarem nos seus regimes formais de trabalho, observa-se que todos os entrevistados relataram já terem sido chamados pela empresa, muitas vezes, em caráter "emergen-cial", logo após terem desembarcado, o que confi-gura o regime de sobreaviso. A ilustração a seguir expressa o que acontece com muitos trabalhadores offshore. Rafael foi entrevistado no aeroporto, algu-mas horas antes de embarcar novamente:

Tanto em terra quanto no trabalho, você passa a ser dono só do seu corpo, sabe? Você não pode estar doente, tem que estar cumprindo horário, tem limitações, fica dependendo sempre do serviço, você nunca pode fazer o que quer. Eu vejo os colegas aí, às vezes, querendo fazer curso e tudo mais, um projeto de vida. Mas como? Tem que se afastar, ficar sempre de sobreaviso. Eu mesmo desembarquei anteontem, foi an-teontem? É, eu tive que fazer um treina-mento na empresa, e nesse mesmo dia, foi ontem, eu vim pra cá, me chamaram e vou embarcar de novo. Sempre assim, precisou, eu vou (Rafael).

O "efeito totalizante" é acentuado pelos longos turnos, pelo descanso insuficiente e inter-rompido, pela troca de turnos e, ainda, pelos em-barques sucessivos e pelo regime de sobreaviso (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ):

Ah, bem estressante, é bem estressante, é muito diferente o estresse que a gente tem quando sabe que a gente tá confinado... . Tudo é muito intenso. Assim, todo mundo fala que quem embarca fica doido, porque as sensações lá [na plataforma] que a gente tem são tudo mais a flor da pele... se eu tivesse em terra é uma coisa, lá é gravíssimo, é uma ofensa, mas eu acho que é pela jornada de trabalho, né? É pelo estresse de estar confinado, de não ter lazer, de não ter nada (Marília).

Para Figueiredo (2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ), cria-se um deslo-camento social com repercussões nas relações com a família, amigos, vizinhos, parentes, o que afeta o convívio social e a vida afetiva dos embarcados, fazendo com que compreendam suas vidas de maneira dicotômica e exacerbada (Leite, 2009Leite, R. M. S. C. (2009). Vida e trabalho na indústria de petróleo em alto mar na Bacia de Campos. Ciência e Saúde Coletiva, 14(6), 2181-2189. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000600025
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009...
). Tais fatores são acentuados quando se trata dos terceiri-zados, pois seu tempo de folga é significativamente menor quando comparado aos trabalhadores pró-prios, fazendo com que sintam com maior frequên-cia e intensidade os aspectos dos embarques suces-sivos e do regime do confinamento, como se obser-va no relato de Gustavo:

Ou curte muito esse regime de trabalho, ou detesta, não quer mais trabalhar dessa for-ma, se sente preso lá. Porque o trabalho offshore, você tem duas formas gritantes de trabalhar. Ou você se vê como preso, numa prisão durante seis meses do ano; ou você se vê livre durante seis meses do ano. Você pode enxergar de duas formas, é muito oito ou oitenta, né? ... .

Nesse cenário, o trabalho offshore se confi-gura como um contexto de trabalho produtor de sofrimento e, em decorrência, os trabalhadores atribuem ao tempo um sentido de perdido, e ao trabalho o sentido de penosidade. O trabalho pe-noso "diz respeito aos contextos de trabalho gera-dores de incômodo, esforço e sofrimento físico e mental, sentido como demasiados, sobre os quais o trabalhador não tem controle" (Sato, 1993Sato, L. (1993). A representação social do trabalho pe-noso. In M. J. Spink (Org.), O conhecimento no coti-diano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social (pp.188-211). São Paulo: Brasiliense., p.197).

Mesmo no tempo livre do trabalho, as ações nas plataformas são realizadas dentro de regras de conduta específicas e em espaços compartilhados e vigiados pela gerência (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ). Para Venco (2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade.), o capitalismo, enquanto um sistema de controle de tempo, "se empenha em imprimir maior velocidade aos ritmos de trabalho, conco-mitantemente ao desenvolvimento das tecnologias" (Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade., p.101). Em seu processo de trabalho, os trabalhadores offshore vivenciam um tempo calcado na rotatividade, orientado pela normali-zação de regras e procedimentos, pelo controle a partir de normas de disciplina, pelas máquinas e pela tecnologia, sendo muito veloz o tempo que marca as tarefas (Castro & Vinagre, 2009Castro, A. C., & Vinagre, R. R. (2009, Outubro). A per-cepção do tempo subjetivo e o estresse no trabalho offshore. In XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), Salvador. Recuperado em junho 10, 2012, de Recuperado em junho 10, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_094_634_13665.pdf
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).

Assim, para Castro e Vinagre (2009Castro, A. C., & Vinagre, R. R. (2009, Outubro). A per-cepção do tempo subjetivo e o estresse no trabalho offshore. In XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), Salvador. Recuperado em junho 10, 2012, de Recuperado em junho 10, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_094_634_13665.pdf
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), os tra-balhadores offshore concebem o tempo de forma paralela, pois, além da condição de confinamento e do acelerado processo de produção, todo o tempo de embarque é percebido com uma intensidade "avassaladora", de maneira "pesada", ou seja, os trabalhadores atribuem ao tempo em que se encon-tram embarcados um sentido dedicado totalmente ao trabalho, desvinculados que se sentem do tempo da família, do tempo dos amigos, do tempo do lazer e de quaisquer outros tempos e atividades sociais externas às plataformas marítimas (Castro & Vina-gre, 2009Castro, A. C., & Vinagre, R. R. (2009, Outubro). A per-cepção do tempo subjetivo e o estresse no trabalho offshore. In XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), Salvador. Recuperado em junho 10, 2012, de Recuperado em junho 10, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_094_634_13665.pdf
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).

Castro e Vinagre (2009Castro, A. C., & Vinagre, R. R. (2009, Outubro). A per-cepção do tempo subjetivo e o estresse no trabalho offshore. In XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), Salvador. Recuperado em junho 10, 2012, de Recuperado em junho 10, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_094_634_13665.pdf
http://www.abepro.org.br/biblioteca/eneg...
) apontam que o sen-tido do tempo se apresenta como um elemento estressante para os trabalhadores embarcados. As horas no embarque são marcadas "como um peso, um fardo... o tempo não é newtoniano, objetivo e constante" (Castro e Vinagre, 2009Castro, A. C., & Vinagre, R. R. (2009, Outubro). A per-cepção do tempo subjetivo e o estresse no trabalho offshore. In XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), Salvador. Recuperado em junho 10, 2012, de Recuperado em junho 10, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_094_634_13665.pdf
http://www.abepro.org.br/biblioteca/eneg...
, p.5), não se encontra nos ponteiros do relógio. Essa questão foi apontada pelos autores em uma pesquisa realizada com trabalhadores offshore:

O petroleiro sabe que seu tempo de trabalho efetivo, seu descanso, a quantidade de tra-balhos realizados e o tempo de duração de cada atividade são criteriosamente aferidos. Assim sendo, é interessante perceber em sua fala que, quando ele se refere ao "tempo real" indica, na mesma frase, um outro tem-po, percebido em termos bem coercitivos - "o tempo todo" (Castro & Vinagre, 2009Castro, A. C., & Vinagre, R. R. (2009, Outubro). A per-cepção do tempo subjetivo e o estresse no trabalho offshore. In XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), Salvador. Recuperado em junho 10, 2012, de Recuperado em junho 10, 2012, de http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2009_TN_STO_094_634_13665.pdf
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, p.6).

Dessa forma, todo o período de embarque é marcado por sentimentos de ansiedade, estresse, cansaço, peso e prisão, e o tempo livre é um tempo destinado à reposição de forças para o trabalho. Todos os entrevistados apontaram um sentido co-mum: um tempo destinado à reposição física e ao descanso, como se pode observar no relato de Walter: "Meu tempo livre é o quê? Você tem que descansar. Tem que dormir, né? Pra recuperar o que você perdeu". Ou também no relato de Tiago: "São doze horas, né? Que você tem folga. Não tem muita opção... . E aí você toma banho, descansa e já dorme". Ou ainda, como vemos na fala de Marília: "Não tem muito lazer não, a gente sempre tá can-sado, é mais pra descansar mesmo".

Apesar de alguns entrevistados utilizarem alguns espaços das plataformas no tempo liberado do trabalho, a maioria utiliza esse tempo para descansar. De acordo com Aquino e Martins (2007Aquino, C. A. B., & Martins, J. C. O. (2007). Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho. Revista Mal-estar e Subjetividade, 7(2), 479-500. Recuperado em junho 28, 2016 de Recuperado em junho 28, 2016 de http://www.ufsj. edu.br/portal-repositorio/File/dcefs/Prof._Adalberto_ Santos/4-ocio_lazer_e_tempo_livre_na_sociedade_ do_consumo_e_do_trabalho_22.pdf
http://www.ufsj. edu.br/portal-repositor...
, p.485), o tempo livre do trabalho configura-se como "um tempo voltado para atividades de reposição física e mental", ou seja, de recuperação para voltar ao trabalho.

Em geral, os espaços oferecidos nas plata-formas fora do expediente do trabalho são se-melhantes para a maioria das pessoas entrevistadas, a saber: sala de televisão e/ou cinema, sala de jo-gos, academia, piscina, salas de computadores com internet Wi-Fi e sala de leitura. Segundo Figueiredo (2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. ), a maioria das plataformas oferece esses espaços. Algumas apresentam, ainda, uma estrutura diferenciada, com quadra de futebol, sala de jogos - incluindo videogames, mesas de pingue-pongue e sauna (Figueiredo, 2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. , p.203). Porém, como visto acima, a maioria dos trabalhadores entre-vistados não ocupa esses espaços, pois ao final da jornada estão sempre exaustos.

Coelho e Paparelli (2010Coelho, L. L. V., & Paparelli, R. R. (2010). A experiência do trabalhador offshore: o caso de operadores de ROV. In AnaisSeminário de Saúde do Trabalhador de Franca, Franca, SP. ) observam que as vivências dos trabalhadores offshore são muito peculiares, assim como sua compreensão acerca do tempo. É uma relação espaço-tempo diferente da-quela que é compartilhada socialmente, ou seja, a intensidade e o ciclo de embarques geram uma noção temporal singular, como se observa no relato de Gustavo:

Essa segunda etapa embarcado [referindo--se à segunda semana do embarque], de 15, 15, 15, 15, me dá muita ansiedade, me deixa muito acelerado, eu estou sempre contando tempo, estou sempre, sempre, sempre con-tando. Quando eu estou a bordo, eu estou contando tempo pra descer, quando eu che-go aqui [em terra] eu estou contando meu tempo... de folga pra aproveitar. Então, eu fico muito ansioso, muito agitado, muito, pra mim é ruim, eu estou sempre, sempre contando tempo, sabe?

Considerando a assimetria de tempos de tra-balho e folga, acentuada no caso dos trabalhadores terceirizados, que se desenvolvem com velocidades distintas, considera-se por fim que os trabalhadores offshore vivem outro tempo - um tempo regres-sivo -, conforme apontado por Figueiredo (2012Figueiredo, M. (2012). A face oculta do outro negro: trabalho, saúde e segurança na indústria petrolífera offshore da Bacia de Campos. Niterói: Universidade Federal Fluminense. , p.195) como o "tempo da ampulheta":

O tempo a bordo é regressivo, né? [risos]. A gente conta assim, o tempo a bordo fun-ciona de trás pra frente em vez de frente pra trás [risos]. Geralmente a gente se encontra no navio e fala: "E aí, faltam quan-tos dias?" "E aí, tá há quanto tempo aí?" "Ah, faltam cinco pra desembarcar" "Ah, desembarco amanhã" "Pô, beleza, tá bem hein, vai desembarcar amanhã, não sei o que" [risos] rola até uma zoação [risos]. Tá pra desembarcar, o outro tá lá gorando "Iiiih, o voo não vem" "Iiiih esse mau tempo aí, né?" "Vi a previsão do tempo, vai chover pra cacete" [risos] "Não vai ter voo". Geral-mente é falado direto com quem vai desem-barcar, então, por isso que eu falo assim: o tempo é regressivo. A gente tá sempre contando pra descer (Gustavo).

Considerações Finais

Neste artigo foram apresentados recortes de uma pesquisa que objetivou compreender e analisar as narrativas produzidas sobre o tempo livre no coti-diano de trabalho de petroleiros offshore da Bacia de Campos, RJ. Por meio da análise das narrativas dos sujeitos, foi possível compreender diversos aspectos que compõem suas vidas cotidianas nas plataformas de petróleo em alto-mar.

A configuração do regime offshore revelou--se como um contexto de trabalho adoecedor, caracterizado por um expediente de 12 horas exaus-tivas de trabalho, com turnos de revezamento e estado de sobreaviso, distância da família e da vida em terra como um todo, convívio prolongado com os colegas de trabalho, falta de privacidade e difi-culdades de adaptação ao trabalho noturno e ao sono, sentimentos de ansiedade e estresse extre-mos e constantes, acentuados pelo confinamento e pelos sucessivos embarques/desembarques, os quais rompem bruscamente os vínculos sociais e desorganizam os pensamentos, sentimentos e a vida cotidiana dos trabalhadores.

Tais aspectos reiteram a necessidade de se problematizarem as condições em que se desenrola o trabalho offshore, em busca de "mudanças estru-turais e organizacionais do mercado de trabalho e das empresas" (Seligmann, Bernardo, Maeno, & Kato, 2010Seligmann, S. E., Bernardo, M. H., Maeno, M., & Kato, M. (2010). O mundo contemporâneo do trabalho e a saúde mental do trabalhador. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional , 35(122), 187-191. http://dx.doi. org/ 10.1590/S0303-76572010000200002
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, p.189), como a equiparação dos di-reitos, remuneração, jornada e benefícios dos tra-balhadores terceirizados aos dos trabalhadores próprios.

As narrativas dos entrevistados em relação ao tempo dedicado ao trabalho revelam sentidos associados ao trabalho pesado e penoso. O desgaste decorrente da permanência num ambiente de alto risco, em regime de turnos e sobreaviso, somado à intensificação da velocidade da produção, é acen-tuado pela vivência do confinamento e implica "des-gaste para sua saúde física, podendo também le-var a um desgaste mental" (Coutinho, Diogo, & Joaquim, 2011Coutinho, M. C., Diogo, M. F., & Joaquim, E. P. (2011). Cotidiano e saúde de servidores vinculados ao setor de manutenção em uma universidade pública. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional , 36(124), 227-237. http://dx.doi.org/10.1590/S03037657201100020 0006
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, p.232).

Em relação às atividades realizadas nas plata-formas, foi possível identificar similaridades nas narrativas. Todos os trabalhadores disseram utilizar as horas livres para reposição e descanso, com ativi-dades de alimentação, higiene e repouso. Todos também argumentaram que o tempo liberado do trabalho é muito curto. Assim, estar embarcado é estar todo tempo focado no trabalho. Tempo livre embarcado é tempo de descanso.

Os discursos dos trabalhadores entrevistados revelam o quanto o tempo de trabalho se estende e invade os tempos liberados do trabalho na plata-forma. Essas experiências temporais pautadas na produção reiteram o quanto os tempos sociais con-temporâneos se configuram como "objetivação econômica e como forma social de dominação" (Cardoso, 2007Cardoso, A. C. M. (2007). Tempos de trabalho, tempos de não trabalho: disputas em torno da jornada do trabalhador São Paulo: Annablume., p.29), fazendo com que o trabalha-dor, cada vez mais, se esvazie do seu próprio tempo. A cultura temporal contemporânea é caracterizada pelo ritmo acelerado de relações que as pessoas constroem entre si, com as coisas e com os lugares. A existência de uma pluralidade de tempos sociais, acentuada pela inovação tecnológica, acaba por invadir e sobre determinar todo e qualquer tempo social (Venco, 2012Venco, S. (2012). A história e a atualidade da compressão do tempo e do espaço. In E. Araújo & E. Duque (Eds.), Os tempos sociais e o mundo contemporâneo: um debate para as ciências sociais e humanas (pp.99-116)Portugal: Centro de Estudos de Comunicação e So-ciedade.).

Num momento em que há um grande aumento do contingente de trabalhadores offshore no Brasil e no mundo, principalmente com a desco-berta recente do pré-sal em territórios brasileiros, ressalta-se a necessidade de pesquisas que inves-tiguem esse contexto de trabalho e ofereçam resul-tados consistentes para a melhora efetiva das con-dições laborais e para uma possível reestruturação da jornada 14x14, uma vez que a terceirização, caracterizada pela precariedade e pelos acidentes de trabalho, cresce demasiadamente nesse setor.

Por fim, a pesquisa em Psicologia com base no Construcionismo Social pode utilizar a narrativa como forma de dar conta de uma realidade tomada como uma construção social (Bruschi & Guareschi, 2007Bruschi, M. E., & Guareschi, N. M. F. (2007). A narrativa como escrita dos trabalhos em construcionismo social. In Anais Eletrônicos 14º Encontro AbrapsoRe-cuperado em agosto 29, 2015, de Re-cuperado em agosto 29, 2015, de http://www. abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/pdf/trab_completo_275.pdf
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). Assim, a narrativa foi uma alternativa utili-zada para, por meio de palavras, re-narrar a reali-dade dos trabalhadores offshore e realçar que as experiências vividas cotidianamente nas plataformas são construções sociais específicas contemporâneas, próprias de uma sociedade capitalista voltada para o trabalho.

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  • 2
    Artigo elaborado a partir da dissertação de T.R. MADERS, intitulada "Trabalho e temporalidades: sentidos produzidos por petroleiros offshore". Universidade Federal de Santa Catarina, 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017

Histórico

  • Recebido
    10 Dez 2015
  • Revisado
    18 Mar 2016
  • Aceito
    31 Mar 2016
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