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EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONSTRUÇÃO DE CARREIRA: ESTUDO MULTICASOS COM GRADUANDOS

Expansión de la educación universitaria y construcción de carrera: estudio múltiples casos con graduandos

RESUMO

A expansão da educação superior no Brasil nas últimas décadas produziu contextos distintos e heterogêneos, contribuindo para a modificação do perfil sociodemográfico dos estudantes. No âmbito dos estudos sobre construção de carreira no ensino superior e com base no modelo Life Designing, esta investigação examinou o processo de construção de carreira de graduandos de instituições públicas do Alto Uruguai gaúcho, região atingida pela expansão e interiorização da educação superior. Trata-se de um estudo de casos múltiplos com seis graduandos que apresentaram diferentes níveis de adaptabilidade de carreira. Com base nas categorias de análise emergentes, os resultados indicaram que a proximidade das instituições de Ensino Superior, o contexto familiar, a necessidade de conciliar estudo e trabalho e a perspectiva de mobilidade social associada à transição para a vida adulta são temas relevantes no processo de construção de carreira dos participantes, evidenciando a importância das políticas públicas para a educação superior.

Palavras-chave:
desenvolvimento profissional; ensino superior; estudantes universitários

RESUMEN

La expansión de la educación universitaria en Brasil en las últimas décadas producido contextos distintos y heterogéneos, contribuyendo a la modificación del perfil sociodemográfico de los estudiantes. En el ámbito de los estudios sobre construcción de carrera en la enseñanza universitaria y con base en el modelo Life Designing, esta investigación examinó el proceso de construcción de carrera de graduandos de instituciones públicas del Alto Uruguay gaucho, región alcanzada por la expansión e interiorización de la educación universitaria. Se trata de un estudio de casos múltiples con seis graduandos que presentaron distintos niveles de adaptabilidad de carrera. Con base en las categorías de análisis emergentes, los resultados indicaron que la proximidad de las instituciones de enseñanza universitaria, el contexto familiar, la necesidad de conciliar estudio y trabajo y la perspectiva de movilidad social asociada a la transición a la vida adulta son temas relevantes en el proceso de construcción de carrera de los participantes, evidenciando la importancia de las políticas públicas a la educación universitaria.

Palabras clave:
desarrollo profesional; enseñanza universitaria; estudiantes universitarios

ABSTRACT

The expansion of higher education in Brazil in recent decades has produced distinct and heterogeneous contexts, contributing to the change in the sociodemographic profile of students. Within the scope of studies on career construction in higher education and based on the Life Designing model, this investigation examined the process of career construction of undergraduates from public institutions in Alto Uruguai gaúcho, a region affected by the expansion and establishment of universities in the interior of the states of Brazil. This is a multiple case study with six undergraduates who showed different levels of career adaptability. Based on the emerging categories of analysis, the results indicated that the proximity of Higher Education institutions, the family context, the need to reconcile study and work and the perspective of social mobility associated with the transition to adulthood are relevant themes in the process of participants’ career construction, highlighting the importance of public policies for higher education.

Keywords:
professional development; higher education; university students

INTRODUÇÃO

O número de matrículas em instituições públicas e privadas de Ensino superior cresceu de forma expressiva no Brasil nas últimas duas décadas. Entre 2007 e 2017, por exemplo, as matrículas nessa modalidade de ensino aumentaram 56,4%, sendo 53,1% na rede privada e 41,7% na rede pública (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira [INEP], 2018Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. (2018). Censo da educação superior 2017. Brasília, DF: MEC - INEP.). O número de instituições também teve grande expansão, principalmente na rede pública e fora das grandes capitais, por meio da abertura de cursos em regiões historicamente desassistidas pela educação pública. A interiorização da Educação Superior é considerada fundamental para combater o desequilíbrio no desenvolvimento regional e alcançar estudantes sem condições de se deslocar para outras regiões, possibilitando a democratização do acesso, descentralização do conhecimento e o favorecimento da inclusão social de setores que historicamente não tinham acesso a essa etapa da escolarização (Ministério da Educação & Secretaria de Ensino Superior, 2014Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Superior. (2014). A democratização e expansão da educação superior no país: 2003 - 2014. (Balanço Social 2003-2014). Brasília, DF.).

O processo de expansão e interiorização do Ensino Superior configura espaços com atores e estruturas cada vez mais distintos e heterogêneos (Silva, 2014Silva, L. F. C. (2014). Prefácio. In. T. I. Pereira (Ed.), Universidade pública em tempos de expansão: entre o vivido e o pensado (pp. 7-10). Erechim: Evangraf .). Esse processo, assim como o sistema de cotas para o ingresso em instituições públicas de Ensino Superior e os programas do Ministério da Educação destinados a conceder auxílio financeiro a graduandos, contribuiu para a diversificação do perfil dos alunos. A literatura tem mostrado que as características e necessidades dos estudantes de cursos superiores no país ainda são pouco conhecidas, evidenciando a importância de estudos que busquem compreender as peculiaridades do mundo acadêmico e as características do perfil dos estudantes (Santos, Polydoro, Scortegagna, & Linden, 2013Santos, A. A. A.; Polydoro, S. A. J.; Scortegagna, S. A.; Linden, M. S. E. (2013). Integração ao ensino superior e satisfação acadêmica em universitários. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(4), 780-793. https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000400002.
https://doi.org/10.1590/S1414-9893201300...
; Silva & Bardagi, 2016Silva, S.; Bardagi, M. P. (2016). Intervenções de carreira no ensino superior: estrutura dos serviços na grande Florianópolis. Revista Psicologia em Foco, 8(12), 14-32.). Como resultado da ruptura com o modelo elitista de acesso ao Ensino Superior e ao saber especializado (Silva, 2014), observam-se mudanças significativas em relação ao perfil dos graduandos que até então predominava em cursos superiores, inclusive no que diz respeito às possibilidades de escolha profissional e de expressão dos anseios em termos ocupacionais (Buscacio & Soares, 2017Buscacio, R. C. Z.; Soares, A. B. (2017). Expectativas sobre o desenvolvimento da carreira em estudantes universitários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(1), 69-79. http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p69
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; Bardagi & Albanaes, 2015Bardagi, M.P.; Albanes, P. (2015). Relações entre Adaptabilidade de carreira e personalidade: Um estudo com universitários ingressantes brasileiros. Revista Psicologia, 29(1), 35-44. Recuperado de:http://www.scielo.mec.pt/pdf/psi/v29n1/v29n1a04.pdf
http://www.scielo.mec.pt/pdf/psi/v29n1/v...
).

Considerando que o Ensino Superior se constitui como um importante ambiente de desenvolvimento pessoal e profissional, evidencia-se a necessidade de estudar os processos de construção de carreira no contexto das modificações das características sociodemográficas dos graduandos. O interesse pela compreensão de aspectos relacionados à construção de carreira dos estudantes durante a realização do curso superior tem sido crescente na literatura. Tais estudos contribuem para a compreensão das condições relacionadas à permanência, evasão, desempenho, satisfação e desenvolvimento psicossocial dos estudantes. Embora não se refiram especificamente ao fenômeno da expansão do Ensino Superior, muitas pesquisas indicam a influência de variáveis sociodemográficas e psicossociais nos processos de construção de carreira, que incluem condições socioeconômicas, situação de trabalho e família (Ambiel, Martins, Tofoli, & Campos, 2019Ambiel, R. A. M.; Martins, G. H.; Tofoli, L.; Campos, L. P. (2019). Variáveis acadêmicas e extracurriculares predizem adaptabilidade de carreira. Psicologia para América Latina, (31), 1-11. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31/a02n31.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31...
; Buscacio & Soares, 2017Buscacio, R. C. Z.; Soares, A. B. (2017). Expectativas sobre o desenvolvimento da carreira em estudantes universitários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(1), 69-79. http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p69
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; Cardoso, Garcia, & Schroeder, 2015Cardoso, L. M.; Garcia, C. S.; Schroeder, F. T. (2015). Vivência acadêmica de alunos ingressantes no curso de Psicologia. Psicologia Ensino & Formação, 6(2), 5-17. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pef/v6n2/v6n2a02.pdf
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).

Buscas realizadas na literatura nacional3 3 A busca foi operacionalizada com a combinação do termo “carreira” com “ensino superior” e com “universitários” nas bases de dados SciELO e Pepsic. Dos 35 estudos que se enquadraram no escopo do tema (excluídos os artigos de revisão de literatura, relatos de experiências e construção ou validação de instrumentos, e incluídos apenas estudos empíricos brasileiros) verificou-se que 21 eram de natureza quantitativa, 12 qualitativos e 02 mistos. demonstram, ainda, que são poucos os estudos de natureza qualitativa sobre o tema, havendo o predomínio de pesquisas quantitativas, o que também já havia sido apontado na revisão de Zatti, Luna, Silva e Feigel (2017Zatti, F.; Luna, I. N.; Silva, N.; Feigel, G. L. R. (2017). Desenvolvimento de carreira de estudantes durante a graduação: análise de fundamentos epistemológicos em estudos nacionais. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 17(3), 150-158. http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2017.3.13269
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), e é uma constatação recorrente em análises sobre a produção científica em Orientação Profissional e de Carreira (Ambiel, Campos & Campos, 2017Ambiel, R. A. M.; Campos, M. I.; Campos, P. P. T. V. Z. (2017). Análise da Produção Científica Brasileira em Orientação Profissional: Um Convite a Novos Rumos. Psico-USF, 22(1), 133-145. https://doi.org/10.1590/1413-82712017220112
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). Todavia, estudos que abordam as experiências dos estudantes a partir de uma perspectiva qualitativa são relevantes na área, especialmente quando se considera a natureza do fenômeno estudado e a abordagem teórica utilizada.

O modelo Life Designing, utilizado neste estudo, ressalta o contexto socioeconômico contemporâneo e subsidia a aplicação prática da Teoria de Construção de Carreira (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress., 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.). Nessa perspectiva, a carreira é entendida como uma construção subjetiva constituída por significações atribuídas a memórias passadas, experiências atuais e expectativas e aspirações futuras (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.; Savickas et al, 2009Savickas, M.; Nota, L.; Rossier, J.; Dauwalder, J-P.; Duarte, M. E.; Guichard, J.; Soresi, S.; Van Esbroeck, R.; Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.004
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). Assim sendo, enfatiza a narrativa como uma ferramenta teórica e prática de grande relevância (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.).

No modelo Life Designing destaca-se a adaptabilidade de carreira, construto estudado em diversos países, inclusive no contexto do Ensino Superior com vistas a compreender sua relação com variáveis acadêmicas e de carreira (Ambiel, Santos, & Dalbosco, 2016Ambiel, R. A. M.; Santos, A. A. A.; Dalbosco, S. N. P. (2016). Motivos para a evasão, vivências acadêmicas e adaptabilidade de carreiras em universitários. Psico, 47(4), 288-297. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2016.4.23872
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). Trata-se de um construto psicossocial que denota a prontidão e os recursos do sujeito para lidar com tarefas atuais e previstas, transições e experiências emocionais negativas relacionadas ao desenvolvimento de carreira (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.). Os sujeitos mais adaptáveis são aqueles que possuem a capacidade de pensar e se preparar para os desafios da carreira, tentam aumentar o controle pessoal sobre o futuro profissional, apresentam curiosidade para desenvolver o autoconhecimento e explorar possíveis cenários de carreira e acreditam em sua própria capacidade de fazer escolhas e implementar planos profissionais (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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). Observa-se que distintos contextos socioeconômicos tendem a demonstrar diferentes níveis de promoção da capacidade de adaptabilidade de carreira, haja vista que proporcionam oportunidades e recursos específicos (Fiorini, Bardagi, & Silva, 2016Fiorini, M. C.; Bardagi, M. P.; S, N. (2016). Adaptabilidade de carreira: paradigmas do conceito no mundo do trabalho contemporâneo. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 16(3), 236-247. http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2016.3.676
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).

Desta forma, considerando a escassez de estudos sobre o desenvolvimento de carreira que considerem como ponto de partida a expansão da educação superior, o objetivo principal da presente investigação foi compreender o processo de construção de carreira de estudantes de cursos superiores de instituições públicas do Alto Uruguai do Rio Grande do Sul, região atingida pela expansão e interiorização da educação superior pública. De modo específico, procurou identificar, adicionalmente, diferenças nesse processo em virtude do escore geral de adaptabilidade de carreira dos participantes. Na interseção entre educação e carreira, este estudo considera o contexto no qual os sujeitos se inserem essencial na compreensão dos processos envolvidos na construção de carreira, analisando desde dimensões sociais mais amplas até aspectos individuais das significações constituídas nas singularidades.

MÉTODO

Caracterização geral do estudo

Para compreender a construção de carreira de estudantes de cursos superiores face à expansão e interiorização da educação superior pública, utilizou-se de um método de natureza qualitativa e corte transversal. A investigação foi conduzida por meio do delineamento de estudo de casos múltiplos (Yin, 2015Yin, R. K. (2015). Estudo de caso: planejamento e métodos. (5. ed.). Porto Alegre: Bookman.).

Contexto de estudo

A região Alto Uruguai situa-se ao norte do estado do Rio Grande do Sul e compreende 32 municípios (Fundação de Economia e Estatística, 2019Fundação de Economia e Estatística (2019). Perfil Socioeconômico COREDES. Recuperado de: http://www.fee.rs.gov.br/perfil-socioeconomico/coredes/
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). A expansão da educação superior tem uma história recente no Alto Uruguai gaúcho, que até o ano de 2001 possuía apenas uma instituição, de natureza privada, com oferta de cursos superiores, a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI. Atualmente, além das instituições privadas, conta com três instituições públicas com cursos superiores (UERGS, implantada em 2001; UFFS, implantada em 2010; IFRS implantado em 2011). A cidade de Erechim, “Capital do Alto Uruguai”, que possui a maior oferta de vagas no Ensino Superior na região, ocupa a terceira posição geral entre os municípios gaúchos com mais de 100 mil habitantes no Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), referente a 2015, que considera a situação socioeconômica dos municípios quanto à educação, à renda e à saúde, e o primeiro lugar no bloco educação (Fundação de Economia e Estatística, 2020Fundação de Economia e Estatística (2020). Índice de Desenvolvimento Socioeconômico 2015. Recuperado de: https://arquivofee.rs.gov.br/indicadores/indice-de-desenvolvimento-socioeconomico/
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).

Procedimentos de pesquisa e participantes

A participação no estudo ocorreu de forma voluntária, de acordo com os preceitos éticos da pesquisa com seres humanos, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina. Inicialmente foi realizada a seleção dos participantes por meio dos resultados obtidos em um questionário sociodemográfico e na Escala de Adaptabilidade de Carreira - CAAS/Career Adapt-Abilities Scale (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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) validada para o Brasil por Teixeira, Bardagi, Lassance, Magalhães e Duarte (2012Teixeira, M. A. P.; Bardagi, M. P.; Lassance, M. C. P.; Magalhães, M. O.; Duarte, M. E. (2012). Career Adapt-Abilities Scale - Brazilian Form: Psychometric properties and relationships to personality. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 680-685. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.007
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). Tais instrumentos foram aplicados nos alunos que frequentavam as instituições de ensino superior públicas da região do Alto Uruguai, tendo como critérios de inclusão ter de 18 a 29 anos e residir na região há pelo menos cinco anos, totalizando 592 respondentes.

Entre os respondentes, foram selecionados seis graduandos para a realização dos estudos de casos, com base em dois critérios: polarização nos índices gerais de adaptabilidade de carreira e residir na região do Alto Uruguai desde o nascimento. Quanto ao primeiro critério, foram selecionados os seis participantes com escores situados nos limites extremos obtidos na Escala CAAS, sendo três com os níveis mais baixos e três com os níveis mais altos (a escala varia de 24 a 120 pontos no escore geral, sendo 92,32 a média e 12,32 o desvio padrão dos 592 respondentes). A Tabela 01 apresenta a caracterização dos estudantes participantes.4 4 Os participantes serão identificados pela letra “P”, seguida da numeração de 1 a 6, que os diferenciará entre si.

Tabela 01
Caracterização dos participantes.

Instrumentos

Para a coleta de dados, além do questionário sociodemográfico e da Escala de Adaptabilidade de Carreira (CAAS) utilizados no processo de seleção dos participantes, foram realizadas entrevistas semiestruturadas de roteiro flexível. Os itens que compuseram o roteiro das entrevistas compreenderam a investigação da construção de carreira dos participantes, considerando tanto dimensões individuais como contextuais, por meio de quatro temas norteadores: contexto de vida geral, processo de escolha do curso superior, experiências no curso superior, e projetos de vida e de carreira.

Análise dos dados

O conteúdo das entrevistas foi analisado mediante Análise de Conteúdo (Bardin, 1977/2011). Tendo como base o modelo Life Designing (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.; 2013; Savickas et al., 2009) e os resultados de pesquisas sobre o processo de construção de carreira de graduandos, a análise do material colhido nas entrevistas permitiu a organização de três categorias temáticas emergentes, a saber: a) Processo de escolha do curso superior: engloba a forma e os critérios utilizados na escolha do curso e da instituição de ensino, o papel da família e o apoio percebido; b) Experiências no curso superior: envolve a adaptação ao curso, dificuldades vivenciadas, satisfação com o curso e atividades desenvolvidas nesse período; c) Projetos de vida e de carreira: diz respeito aos projetos de vida e de carreira dos estudantes após a conclusão do curso, bem como suas projeções futuras. No decorrer da análise, em cada uma das categorias buscou-se observar possíveis diferenças entre os grupos que concentram os participantes com maiores e menores níveis de adaptabilidade de carreira.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir dos temas norteadores das entrevistas e das categorias temáticas emergentes investigaram-se os processos de escolha profissional dos participantes, suas trajetórias acadêmicas e seus projetos de vida e carreira, consoante ao proposto no modelo Life Designing, cujo foco não se encontra apenas na compreensão de como o indivíduo desenvolve-se e progride na carreira, mas também em fatores e processos relacionados à construção da vida (Duarte, 2009Duarte, M. E. (2009). The psychology of life construction. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 259-266. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.06.009
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), aproximando, portanto, a noção de carreira à noção de vida (Savickas et al., 2009Savickas, M.; Nota, L.; Rossier, J.; Dauwalder, J-P.; Duarte, M. E.; Guichard, J.; Soresi, S.; Van Esbroeck, R.; Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.004
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). Assim sendo, foi possível conhecer contextos de vida e caracterizar aspectos familiares, escolares e ocupacionais relacionados à construção de carreira, bem como verificar a existência de diferenças entre os participantes com maior adaptabilidade de carreira (P6, P4 e P2) e os com menor adaptabilidade (P1, P3 e P5) e cotejar os resultados obtidos com outros estudos sobre construção de carreira no Ensino Superior.

1. O processo de escolha pelo curso superior

As razões de escolha pelo curso superior relacionaram-se, basicamente, à localização geográfica, à avaliação positiva das oportunidades de inserção profissional, ao gosto e interesse pela área, ao incentivo por parte de familiares e amigos e ao contato prévio com profissionais. Desse modo, a preferência por um curso localizado na região foi uma das razões de escolha apontadas. P1, que apresentou o menor índice de adaptabilidade de carreira entre os participantes, relata que se sentia inseguro ao pensar em se afastar da família para os estudos, por isso a opção por um curso numa instituição próxima. P5, que também pertence ao grupo com menor adaptabilidade, menciona que não pensou em buscar um curso em outro local em função de questões financeiras, pois caso tivesse que mudar de cidade não teria condições de se manter, nem a família como ajudá-la. Por sua vez, P2, que faz parte do grupo com maior adaptabilidade, justifica sua preferência por um curso localizado na região por não querer deixar a mãe sozinha.

Como é possível observar, a escolha pelo curso superior perpassou diferentes motivações. No caso de P1, a insegurança ao considerar outra cidade para realizar a graduação é consistente com o resultado indicado na escala (CAAS), pois parece evidenciar baixos níveis de confiança, uma das dimensões da adaptabilidade de carreira. Baixa confiança pode ocasionar dificuldades para a ação, uma vez que o sujeito não se sente capaz de realizar seus projetos e pode apresentar uma postura tímida e inibida diante das demandas de carreira (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.). P5 e P2, por sua vez, evidenciam em suas escolhas a influência de aspectos contextuais relacionados a questões financeiras e familiares, situações que também se apresentam congruentes com seus posicionamentos na escala. A primeira parece não explorar as possibilidades de conciliar trabalho e estudo em uma outra cidade (dimensão curiosidade) e a segunda, ao demonstrar cuidado com o bem-estar futuro de sua mãe (dimensão preocupação), evidencia a integração da carreira com os demais espaços de vida, como salienta o modelo Life Designing (Savickas et al., 2009Savickas, M.; Nota, L.; Rossier, J.; Dauwalder, J-P.; Duarte, M. E.; Guichard, J.; Soresi, S.; Van Esbroeck, R.; Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.004
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).

Assim como um dos principais motivos da escolha pelo curso foi sua localização (P1, P2 e P5), o fato de a instituição ser pública e oferecer cursos gratuitos constituiu-se como uma razão para a escolha apontada pelos participantes (P2, P3, P4, P5 e P6). Observa-se que, mesmo não sendo pago, se o curso for localizado em outra região, uma série de custos adicionais de moradia, alimentação e transporte precisam ser considerados. Além disso, de acordo com a narrativa de P6, muitas vezes não basta que a instituição seja pública e gratuita, mas ela precisa ainda oferecer cursos noturnos para que o aluno possa conciliar trabalho e estudo. Frente a isso, as opções de cursos ponderadas foram as existentes nas instituições públicas da região, o que, apesar de torná-las circunscritas, apresenta-se como um fator de incentivo para a realização do Ensino Superior e uma mediação efetiva para a construção da carreira, conforme foi possível observar na narrativa dos participantes.

As oportunidades contextuais repercutem na construção de carreira na medida em que as demandas de ordem social são incorporadas pelo sujeito no processo de construção das crenças, expectativas e valores sobre o mundo do trabalho. Desse modo, as condições presentes no contexto social são elementos centrais na definição dos significados atribuídos às trajetórias pessoais, compondo a dimensão biográfica da carreira (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.; Super, Savickas & Super, 1996Super, D. E.; Savickas, M. L.; Super, C. M. (1996). The life-span, life-space approach to careers. In D.Brown; L. Brooks & Associates (Eds.), Career Choice and Development(pp. 121-178). San Francisco: Jossey Bass .). Da mesma forma, a adaptabilidade de carreira se desenvolve a partir da interação das dimensões subjetiva e social e se relaciona fortemente com papéis específicos e contingências contextuais (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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).

No processo de circunscrever e eliminar opções, os indivíduos podem excluir alternativas de seu mapa ocupacional de forma não refletida, desconsiderando ocupações potencialmente congruentes com interesses e habilidades (Gottfredson, 2002Gottfredson, L. S. (2002). Gottfredson’s theory of circumscription and compromise and self-creation. In D. Brown & L. Brooks (Eds.), Career choice and development (4 ed., pp. 85-148). San Francisco: Jossey Bass.). Isso pode levar ao comprometimento prévio com opções consideradas mais acessíveis, em detrimento de outras alternativas possíveis. Neste sentido, embora os indivíduos organizem ativamente suas experiências em histórias de vida únicas, construindo significados que podem ser reinventados a cada momento (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.), muitas vezes zonas de alternativas aceitáveis tendem a se cristalizar (Gottfredson, 2002Gottfredson, L. S. (2002). Gottfredson’s theory of circumscription and compromise and self-creation. In D. Brown & L. Brooks (Eds.), Career choice and development (4 ed., pp. 85-148). San Francisco: Jossey Bass.).

Assim sendo, a existência de cursos superiores públicos em regiões próximas ao local de residência dos estudantes pode favorecer a inclusão de projetos de formação superior em seus mapas ocupacionais. Considerando que o ingresso no Ensino Superior se encontra atrelado à possibilidade de mobilidade social (Dias & Sá, 2014Dias, D.; Sá, M. J. (2014). O estatuto sociocultural familiar como vetor da decisão vocacional: promessas e (des)ilusões da entrada na educação superior. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 51- 64. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v15n1/07.pdf
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), para algumas famílias, como afirma P6, “o que importa é estudar, é estar fazendo alguma coisa”. Essa concepção parece estar associada aos desafios impostos pelo mundo do trabalho contemporâneo, que cada vez mais exige que as pessoas elevem seus níveis de qualificação (Cardoso & Duarte, 2019Cardoso, P.; Duarte, M. A. (2019). Life Design Counseling com universitários. In M. A. Ribeiro; M. A. P Teixeira; M. E Duarte (Eds.), Life Design: um paradigma contemporâneo em orientação profissional e de carreira(pp. 83-93). São Paulo: Vetor Editora.), bem como às oportunidades de formação disponíveis. Tal cenário, presente em uma sociedade turbulenta e instável como a atual, demanda frequentemente capacidades adaptativas (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.), essenciais para que os indivíduos possam construir suas carreiras em um ambiente e contexto de mundo não linear, em constante mudança (Savickas et al., 2009Savickas, M.; Nota, L.; Rossier, J.; Dauwalder, J-P.; Duarte, M. E.; Guichard, J.; Soresi, S.; Van Esbroeck, R.; Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.004
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).

Desse modo, para uma parcela da população, atribui-se maior importância ao ingresso em um curso superior do que à escolha de determinado curso propriamente dita. Assim, a escolha de um curso compatível com preferências pessoais pode assumir um papel secundário (Bardagi & Albanaes, 2015Bardagi, M.P.; Albanes, P. (2015). Relações entre Adaptabilidade de carreira e personalidade: Um estudo com universitários ingressantes brasileiros. Revista Psicologia, 29(1), 35-44. Recuperado de:http://www.scielo.mec.pt/pdf/psi/v29n1/v29n1a04.pdf
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). Ainda assim, o gosto e o interesse pela área também estiveram entre os principais motivadores da escolha dos participantes, o que já é apontado de forma recorrente pela literatura. A predileção e a facilidade em relação a determinadas matérias (P1 e P2), a experiência anterior em cursos técnicos ou profissionalizantes (P5 e P6) e experiências de trabalho e contato com profissionais (P3 e P4) foram critérios para a escolha profissional dos graduandos investigados.

As razões de escolha apresentadas pelos participantes remetem à importância do comportamento exploratório no processo de tomada de decisão. A dimensão curiosidade da adaptabilidade de carreira expressa essa capacidade exploratória do indivíduo frente a si mesmo e ao universo ocupacional e se constitui na busca pelo conhecimento e pela iniciativa de investigar opções a fim de identificar atividades nas quais gostaria de se engajar. Quando o recurso curiosidade não está suficientemente desenvolvido, o indivíduo pode demonstrar posturas ingênuas, pobreza de exploração e baixo conhecimento de si e da realidade, o que acarreta decisões de carreira pouco consistentes e uma visão limitada do mundo do trabalho (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.). Por outro lado, as pessoas mais conscientes a respeito de suas escolhas tendem a explorar em maior frequência as opções profissionais, estão engajadas em atividades de planejamento e gerenciamento de carreira e são mais aptas a enfrentar os desafios de carreira (Super, Savickas, & Super, 1996Super, D. E.; Savickas, M. L.; Super, C. M. (1996). The life-span, life-space approach to careers. In D.Brown; L. Brooks & Associates (Eds.), Career Choice and Development(pp. 121-178). San Francisco: Jossey Bass .).

Destaca-se que todos os seis participantes trabalham ou já trabalharam, o que é frequente entre os graduandos da região (48,48% dos respondentes do questionário sociodemográfico inicial da pesquisa indicaram que trabalham, sendo que 25,09% declararam trabalhar mais de 40 horas semanais). Não obstante a necessidade de conciliação entre trabalho e estudos frequentemente prejudique o desempenho escolar e se encontre associada à repetência e à evasão (Junior, Santos, & Maciel, 2016Júnior, F. T.; Santos, J. R.; Maciel, M. S. (2016). Análise da evasão no sistema educacional brasileiro. Revista Pesquisa e Debate em Educação, 6(1), 73-92. Recuperado de:http://www.revistappgp.caedufjf.net/index.php/revista1/article/view/142/94
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), em certos casos experiências de trabalho encontram-se relacionadas ao desenvolvimento da responsabilidade, autonomia e confiança (Ambiel et al., 2019Ambiel, R. A. M.; Martins, G. H.; Tofoli, L.; Campos, L. P. (2019). Variáveis acadêmicas e extracurriculares predizem adaptabilidade de carreira. Psicologia para América Latina, (31), 1-11. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31/a02n31.pdf
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), que se associam à adaptabilidade de carreira e podem contribuir para o processo de escolha profissional. Nessa direção, trabalhadores-estudantes têm um desenvolvimento de carreira particular quando comparado às pessoas que desempenham esses papéis de forma não simultânea. O manejo exigido pela simultaneidade de papéis influencia na forma com que os trabalhadores-estudantes organizam os diversos papéis e a saliência que estes apresentam, estabelecendo um padrão característico que, vinculado à adaptabilidade de carreira, determina o seu engajamento ao contexto social (Saldanha, 2013Saldanha, M. B. C. (2013). Adaptabilidade de carreira em trabalhadores-estudantes do ensino superior (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.).

Ainda que a conclusão do curso superior tenha deixado de ser determinante para a garantia de emprego (Cardoso & Duarte, 2019Cardoso, P.; Duarte, M. A. (2019). Life Design Counseling com universitários. In M. A. Ribeiro; M. A. P Teixeira; M. E Duarte (Eds.), Life Design: um paradigma contemporâneo em orientação profissional e de carreira(pp. 83-93). São Paulo: Vetor Editora.), também se identificou entre as razões de escolha pelo curso a avaliação positiva das oportunidades de inserção profissional (P1, P3 e P6). A avaliação das possibilidades profissionais (dimensões curiosidade e preocupação da adaptabilidade de carreira), no sentido de um mercado favorável, contribui para expectativas de segurança vinculadas à profissão e para a transição de tarefas de carreira (Styker & Burke, 2000Srtyker, S.; Burke, P. (2000). The past, present and future of an identity theory. Social Psychology Quarterly, 63(4), 284-297. Recuperado de:https://pdfs.semanticscholar.org/d9d9/f9f83697e9de8920190d955b3c427030497b.pdf
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).

No que se refere à questão familiar, os participantes indicaram uma percepção de liberdade de escolha e apoio (P1, P2, P3, P5, P6). No entanto, evidenciaram também a carência de discussões sobre as possibilidades e decisões relativas à construção de carreira no âmbito familiar. Observa-se que a metade dos pais dos participantes frequentou apenas o Ensino Fundamental e nenhum deles cursou o Ensino Superior, o que também se configura como uma característica da escolaridade dos pais dos graduandos da região do Alto Uruguai, uma vez que, segundo os dados do questionário sociodemográfico, ela se concentra no Ensino Fundamental completo ou incompleto (51,35% dos pais e 45,61% das mães).

O discurso da família interfere de modo fundamental no processo de construção de si, na medida em que o self é coconstruído nas relações interpessoais (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.), sobretudo com os outros significativos. Assim, o modo como a família percebe o sujeito e se relaciona com ele contribui para a formação do seu sistema de autoconceito (Lassance, Paradiso, & Silva, 2011Lassance, M. C. P.; Paradiso. A. C.; Silva, C. B. (2011). Segunda demanda chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo a desenvolver a sua carreira? Enfoque Desenvolvimentistas e Evolutivo. In M. A. Ribeiro; L. L. Melo-Silva (Eds.), Compêndio de orientação profissional e de carreira: Perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos(pp. 135- 166). São Paulo, SP: Vetor Editora.; Savickas, 1997Savickas, M. L. (1997). Career adaptability: An integrative construct for life-span, life-space theory. The Career Development Quarterly, 45, 247-259. https://doi.org/10.1002/j.2161-0045.1997.tb00469.x
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). Dessa forma, a família possui significativa importância no processo de escolha profissional e no desenvolvimento da adaptabilidade de carreira, desde a infância até a vida adulta, no sentido de oferecer apoio emocional e material, encorajar a exploração dos interesses, respaldar escolhas, dialogar e amparar diante da insegurança (Buscacio & Soares, 2017Buscacio, R. C. Z.; Soares, A. B. (2017). Expectativas sobre o desenvolvimento da carreira em estudantes universitários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(1), 69-79. http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p69
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).

Analisando a construção de carreira dos participantes sob a perspectiva do construto adaptabilidade de carreira, verificou-se que os três participantes com escores mais baixos de adaptabilidade (P1, P3 e P5) relataram dúvidas significativas quanto à escolha do curso, bem como pouca exploração do ambiente e de si mesmo nesse processo. Muitas vezes o ingresso no Ensino Superior não é acompanhado de uma identificação mais precisa do que o indivíduo busca para sua vida no âmbito profissional, ocasionando decisões pouco ponderadas. As informações sobre os cursos e as profissões podem ser superficiais e estereotipadas e o comportamento exploratório prévio à tomada de decisão limitado (Silva & Teixeira, 2019Silva, C. C. S.; Teixeira, M. A. P. (2019). Life Design Counseling para universitários. In M. A. Ribeiro; M. A. P Teixeira; M. E Duarte (Eds.), Life Design: um paradigma contemporâneo em orientação profissional e de carreira (pp. 95-107). São Paulo: Vetor Editora .). Por isso, a dimensão da adaptabilidade de carreira denominada curiosidade, que diz respeito ao comportamento exploratório, é fundamental no processo de escolha profissional (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.).

Nesse sentido, também foram observadas dificuldades no senso de confiança frente às decisões de carreira, especialmente no caso dos participantes P1 e P3. O recurso confiança da adaptabilidade de carreira envolve a crença nas próprias capacidades para realizar atividades, lidar com adversidades e atingir objetivos, aplicando competências pessoais. Déficits relacionados à falta de confiança podem resultar em inibição, que impedem a realização e o alcance de metas (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.).

2. Experiências no curso superior

A partir da efetivação da escolha realizada o estudante ingressa no curso superior, quando então são atribuídos significados às experiências acadêmicas e à decisão de permanência no Ensino Superior. Trata-se de um importante período da construção da carreira e do desenvolvimento da adaptabilidade de carreira (Ambiel et al., 2019Ambiel, R. A. M.; Martins, G. H.; Tofoli, L.; Campos, L. P. (2019). Variáveis acadêmicas e extracurriculares predizem adaptabilidade de carreira. Psicologia para América Latina, (31), 1-11. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31/a02n31.pdf
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), que foi analisado por meio da segunda categoria temática dessa investigação.

A adaptação dos participantes ao Ensino Superior envolveu sobretudo as mudanças percebidas em relação a experiências anteriores de formação. O contato inicial com a nova modalidade de ensino foi marcado pela percepção de um contexto diferenciado quanto a características da turma, heterogeneidade etária dos colegas e metodologia utilizada pelos professores (P1), o desafio de integração com os pares (P2) e a importância de participar de atividades acadêmicas não obrigatórias (P4). No caso de P5, a familiaridade que já possuía com a instituição foi descrita como um facilitador da adaptação, pois ela já havia frequentado um curso técnico na mesma instituição.

A fase de ingresso no Ensino Superior, dadas as particularidades e os desafios inerentes a esse período de transição, demanda dos estudantes uma diversidade de capacidades adaptativas. Em períodos como esse, os recursos de adaptabilidade de carreira são fundamentais para o gerenciamento de situações desafiadoras, pois auxiliam na constituição das estratégias usadas para direcionar os comportamentos adaptativos (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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).

No que se refere às dificuldades vivenciadas na realização do curso, destacaram-se a falta de hábito de estudo (P1), problemas de baixo desempenho, falta de motivação e identificação relacionados a determinadas disciplinas (P3, P4 e P5) e a necessidade de conciliar trabalho e estudo (P1, P3 e P6). P1, por exemplo, relatou que no período da entrevista já se sentia um pouco mais adaptado à rotina, tendo em vista que trabalha há muito tempo, porém, no inicial do curso, as dificuldades foram mais significativas.

No grupo de estudantes com escores menores de adaptabilidade, foram verificadas dificuldades na organização e planejamento das atividades relacionadas ao curso e às disciplinas, as quais repercutem no desempenho, considerado por eles não satisfatório. Diferentemente, no grupo de estudantes com escores mais elevados observou-se maior senso de controle e organização frente às demandas e dificuldades do curso. Observa-se que a dimensão controle da adaptabilidade de carreira destaca a responsabilidade do indivíduo pela construção de sua carreira e, nesse sentido, envolve autorregulação, senso de autodireção e responsabilidade pessoal pelo futuro (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.), o que favorece a exploração das oportunidades presentes no curso superior. Em outra direção, quando o recurso controle encontra-se pouco desenvolvido, verifica-se indefinição, procrastinação, indecisão e baixo engajamento pessoal na construção da carreira. Isso acaba por acarretar, inclusive, hesitação e incerteza sobre as escolhas de carreira (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.).

Assim sendo, especificamente em relação às decisões de carreira, P1 e P5 relataram possuir dúvidas sobre a escolha do curso e, inclusive, afirmaram que já pensaram na possibilidade de abandoná-lo. P3, por sua vez, declarou que mesmo diante das dificuldades encontradas, nunca pensou em desistir do curso, pois considera a formação superior necessária para conseguir um emprego mais qualificado; em suas palavras, “se eu parar de estudar, vou continuar trabalhando no chão de fábrica para sempre.” Recorda-se que P1, P3 e P5 pertencem ao grupo com menor adaptabilidade de carreira, de acordo com a escala CAAS. A identificação com o curso e com a profissão se refletem no comprometimento e na probabilidade de evasão ou permanência, de modo que estudantes mais satisfeitos e identificados podem avaliar as dificuldades e barreiras de carreira de forma mais positiva (Bardagi & Hutz, 2010Bardagi, M. P.; Hutz, C. S. (2010). Satisfação de vida, comprometimento com a carreira e exploração vocacional em estudantes universitários. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62(1), 159-170. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v62n1/v62n1a16.pdf
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).

Além das questões que envolvem a dimensão controle, as dificuldades descritas também podem ser relacionadas à dimensão curiosidade da adaptabilidade de carreira. A curiosidade, associada ao comportamento exploratório, favorece o conhecimento do mundo do trabalho e o autoconhecimento. A falta de curiosidade, por sua vez, limita a exploração e leva a aspirações e expectativas irrealistas sobre o futuro (Hartung & Cadaret, 2017Hartung, P. J.; Cadaret, M. C. (2017). Career adaptability: Changing self and situation for satisfaction and success. In K. Maree (Ed.), Psychology of career adaptability, employability and resilience(pp. 15-28). Berlin: Springer.).

Quanto à participação em atividades extracurriculares ou curriculares não obrigatórias, que contribuem para o desenvolvimento da adaptabilidade de carreira (Ambiel et al., 2019Ambiel, R. A. M.; Martins, G. H.; Tofoli, L.; Campos, L. P. (2019). Variáveis acadêmicas e extracurriculares predizem adaptabilidade de carreira. Psicologia para América Latina, (31), 1-11. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31/a02n31.pdf
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), do comportamento exploratório e do autoconhecimento (Bardagi & Hutz, 2010Bardagi, M. P.; Hutz, C. S. (2010). Satisfação de vida, comprometimento com a carreira e exploração vocacional em estudantes universitários. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62(1), 159-170. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v62n1/v62n1a16.pdf
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) identificou-se, no grupo de entrevistados, estudantes que participam de atividades regulares, tais como monitoria, pesquisa e extensão (P2, P4 e P5), e estudantes que participam apenas de atividades esporádicas, como palestras e eventos (P1, P3 e P6). O tipo de participação esteve associado à situação ocupacional dos estudantes, haja vista que aqueles que trabalham relataram a impossibilidade de participação em função do trabalho ou da escassez de tempo.

Observa-se, assim, que a necessidade de conciliar trabalho e estudo restringe a vivência de experiências universitárias, reduzindo-as muitas vezes a aulas ministradas em horários estabelecidos. Desse modo, essa necessidade pode impossibilitar o envolvimento do aluno com atividades acadêmicas não obrigatórias (Ronsoni, 2014Ronsoni, M. L. (2014). Permanência e Evasão de estudantes da UFFS Campus Erechim. In. T. I. Pereira(Ed.), Universidade pública em tempos de expansão: entre o vivido e o pensado (pp. 17-31). Erechim: Evangraf.), que podem contribuir para o desenvolvimento das quatro dimensões da adaptabilidade de carreira (preocupação, controle, curiosidade e confiança) (Ambiel et al., 2019Ambiel, R. A. M.; Martins, G. H.; Tofoli, L.; Campos, L. P. (2019). Variáveis acadêmicas e extracurriculares predizem adaptabilidade de carreira. Psicologia para América Latina, (31), 1-11. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31/a02n31.pdf
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).

Ademais, Cardoso et al. (2015Cardoso, L. M.; Garcia, C. S.; Schroeder, F. T. (2015). Vivência acadêmica de alunos ingressantes no curso de Psicologia. Psicologia Ensino & Formação, 6(2), 5-17. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pef/v6n2/v6n2a02.pdf
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) constataram em uma investigação com graduandos de psicologia, que os estudantes que trabalham apresentam-se menos competentes em relação a hábito de estudo e gestão do tempo. O desempenho simultâneo desses papéis (estudante e trabalhador) exige uma mobilização intensa de recursos de adaptação (Super, Savickas, & Super, 1996Super, D. E.; Savickas, M. L.; Super, C. M. (1996). The life-span, life-space approach to careers. In D.Brown; L. Brooks & Associates (Eds.), Career Choice and Development(pp. 121-178). San Francisco: Jossey Bass .; Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.), que quando não suficientes podem ocasionar dificuldades e resultar em problemas de diferentes ordens, inclusive na evasão do curso.

Todavia, de acordo com os resultados da pesquisa de Ambiel et al. (2019Ambiel, R. A. M.; Martins, G. H.; Tofoli, L.; Campos, L. P. (2019). Variáveis acadêmicas e extracurriculares predizem adaptabilidade de carreira. Psicologia para América Latina, (31), 1-11. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psilat/n31/a02n31.pdf
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) com estudantes universitários provenientes de diferentes cursos, trabalhar durante a graduação também pode propiciar oportunidades de desenvolvimento de recursos pessoais vinculados à carreira, especificamente das dimensões controle (responsabilidade e autonomia) e confiança (capacidade de acreditar em si mesmo para atingir objetivos profissionais). A depender da natureza e área da atuação profissional, o trabalho ainda pode favorecer o desenvolvimento do recurso curiosidade, ao ampliar a visão acerca do mundo do trabalho e ensejar a busca de novas informações relacionadas à profissão escolhida (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.).

3. Projetos de vida e de carreira

A terceira categoria temática emergente na investigação refere-se aos projetos de vida e de carreira dos estudantes após a conclusão do curso, uma vez que as expectativas e aspirações futuras, além das memórias passadas e das experiências atuais, compõem a carreira, de acordo com o modelo Life Designing (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.; Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown; R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2ª. ed., pp. 147-183). Hoboken: Wiley.; Savickas et al, 2009). As expectativas que os estudantes têm acerca de sua carreira no futuro podem estar relacionadas, inclusive, com as decisões de permanência ou desistência do curso (Ambiel et al., 2016Ambiel, R. A. M.; Santos, A. A. A.; Dalbosco, S. N. P. (2016). Motivos para a evasão, vivências acadêmicas e adaptabilidade de carreiras em universitários. Psico, 47(4), 288-297. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2016.4.23872
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).

Os projetos profissionais após a formatura envolveram diferentes possibilidades, diferenciando-se sobremaneira da realidade vivenciada no contexto familiar dos entrevistados e de grande parte dos jovens da região. Nesse sentido, o curso superior mostra-se como potencializador de novas perspectivas de vida e carreira nesse contexto. Não obstante este fato, apenas dois participantes (P1 e P4) afirmaram que trabalhar em outra região é um objetivo de carreira.

Importa mencionar que P1, antes de ingressar no curso, não considerou realizar sua formação em outra localidade, pois não se sentia seguro para isso. Chegando ao final do curso, todavia, passou a considerar a opção de atuar profissionalmente em outra região. Observa-se, nesse sentido, que a adaptabilidade de carreira se relaciona estreitamente com papéis específicos e contingências contextuais e se desenvolve a partir da interação das dimensões subjetiva e social (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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). Os contextos, por sua vez, se diferenciam no grau em que impulsionam o avanço da adaptabilidade, em conformidade com exigências, oportunidades e condições para o desenvolvimento das competências de adaptação (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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). Nesse sentido, experiências de formação no Ensino Superior podem contribuir para o desenvolvimento dos recursos de adaptabilidade de carreira, especialmente da confiança, ao modificar o sistema de autoconceito do indivíduo (Savickas, 1997Savickas, M. L. (1997). Career adaptability: An integrative construct for life-span, life-space theory. The Career Development Quarterly, 45, 247-259. https://doi.org/10.1002/j.2161-0045.1997.tb00469.x
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).

Cabe destacar que ficaram nítidas algumas dificuldades iniciais frente ao tema proposto, principalmente no caso dos participantes P1 e P5, que pertencem ao grupo com menores valores de adaptabilidade de carreira. Ao solicitar aos participantes que realizassem uma projeção futura de 10 anos, P1 e P5 não conseguiram descrever como se imaginavam. Observa-se que a dificuldade de explorar futuros cenários de carreira representa uma das características de pessoas que possuem índices menos elevados de adaptabilidade (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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). Os demais participantes descreveram sua projeção nas dimensões ocupacional, familiar e financeira, que incluíram conseguir um emprego mais qualificado que exija nível superior (P2, P3, P4 e P6), ser empreendedor (P3, P4, P6), casar e/ou ter filhos (P2, P3, P4, P6) e adquirir bens, inclusive casa própria e automóvel (P3).

Nas narrativas dos estudantes que descreveram planos futuros, observou-se que a conclusão do curso superior apareceu associada à transição para a vida adulta. Conforme aborda Arnett, Zukauskiene e Sugimura (2014Arnett, J.J.; Zukauskiene, R.; Sugimura, K. (2014). The new life stage of emerging adulthood at ages 18-29 years: implications for mental health, The Lancet Psychiatry, 7, 569 - 576. https://doi.org/10.1016/S2215-0366(14)00080-7
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) ao tratar da adultez emergente, a implementação de projetos profissionais, bem como as escolhas amorosas e as relacionadas a valores e crenças, é uma tarefa que leva à definição do que é ser adulto. Assim, os projetos profissionais descritos pelos entrevistados, associados a projetos pessoais, como casar, ter filhos, adquirir bens e ter uma vida estável, remetem à aquisição do papel de adulto e consequente independência. A transição para a vida adulta dos jovens investigados, por meio da conclusão do curso de graduação, também evidencia a expectativa de alcançar condições de vida que se diferenciam da realidade vivenciada pelas famílias de origem na região do Alto Uruguai. Nesse sentido, a trajetória acadêmica no Ensino Superior apresenta-se associada a uma perspectiva de mobilidade social, relacionada às novas oportunidades de formação profissional e construção de carreira proporcionadas pela expansão da educação superior pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente investigação confirmou alguns resultados de pesquisas anteriores a respeito da construção de carreira no Ensino Superior e, especificamente, evidenciou questões vinculadas às novas condições de formação e carreira proporcionadas pela expansão do ensino superior. Quanto ao processo de escolha pelo curso e pela instituição, além do gosto e interesse pela área e da avaliação das oportunidades de inserção profissional, destacaram-se questões relacionadas às novas possibilidades de formação que surgiram em virtude da expansão e interiorização da educação superior. A proximidade das instituições de Ensino Superior públicas, as experiências prévias de trabalho e as condições de apoio familiar, considerando o grau de escolarização das famílias de origem, foram temas emergentes e demonstraram a relação indissociável da pessoa com o seu contexto na construção de carreira (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L.; Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80, 661-673. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.011
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).

No que se refere às experiências vivenciadas na realização do curso superior, acompanhando o que já aponta a literatura sobre o assunto, relevaram-se como temas significativos o processo de adaptação dos participantes ao novo contexto do Ensino Superior, a integração com os pares, a identificação e motivação relacionadas às disciplinas e ao próprio curso e a possibilidade de participação em atividades extracurriculares ou curriculares não obrigatórias, em razão da necessidade de conciliar estudo e trabalho. Denota-se, assim, a relevância de políticas públicas que favoreçam o acesso de jovens de diferentes regiões do país ao Ensino Superior, uma vez que esse nível de ensino se apresenta como um importante contexto de desenvolvimento pessoal e de carreira (Silva & Teixeira, 2019Silva, C. C. S.; Teixeira, M. A. P. (2019). Life Design Counseling para universitários. In M. A. Ribeiro; M. A. P Teixeira; M. E Duarte (Eds.), Life Design: um paradigma contemporâneo em orientação profissional e de carreira (pp. 95-107). São Paulo: Vetor Editora .), o qual demanda recursos de adaptabilidade de carreira e, ao mesmo tempo, também pode promovê-los.

Quanto à participação em atividades acadêmicas não obrigatórias e às experiências de trabalho, ambas as situações podem se configurar como oportunidades para o desenvolvimento da adaptabilidade de carreira, como indicam estudos sobre construção de carreira. Entretanto, as demandas do trabalho, muitas vezes necessário para viabilizar a realização do curso superior, também podem comprometer e até mesmo levar ao abandono da formação em função das exigências inerentes à articulação dos papéis de estudante e trabalhador que mobilizam diversos recursos de adaptação (Super, Savickas, & Super, 1996Super, D. E.; Savickas, M. L.; Super, C. M. (1996). The life-span, life-space approach to careers. In D.Brown; L. Brooks & Associates (Eds.), Career Choice and Development(pp. 121-178). San Francisco: Jossey Bass .; Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.).

Esse é um fenômeno complexo em contextos de interiorização e expansão da educação superior, especialmente considerando que o sistema de educação superior está estruturado, com frequência, para contemplar o estudante que dispõe de tempo integral e não aquele que compõe hoje um de seus maiores contingentes, o de estudantes-trabalhadores e trabalhadores-estudantes (Vargas & Paula, 2013Vargas, H. M.; Paula, M. F. C. (2013). A inclusão do estudante-trabalhador e do trabalhador-estudante na educação superior: desafio público a ser enfrentado. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior(Campinas), 18(2), 459-485. https://doi.org/10.1590/S1414-40772013000200012
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).

A análise das narrativas dos participantes sobre seus projetos de vida e carreira revelou que a conclusão do curso se associa à transição para a vida adulta, bem como que seus planos se diferenciam significativamente do que foi vivido até o momento por suas famílias de origem, pelo fato de incluir a mediação do Ensino Superior no desenvolvimento de suas carreiras e, assim, uma perspectiva de mobilidade social consoante às demandas atuais do mundo do trabalho. Tendo em vista a diversidade sociocultural do público que frequenta o Ensino Superior nos últimos anos e o contexto de transformações e instabilidade que envolve as trajetórias de vida na atualidade (Cardoso & Duarte, 2019Cardoso, P.; Duarte, M. A. (2019). Life Design Counseling com universitários. In M. A. Ribeiro; M. A. P Teixeira; M. E Duarte (Eds.), Life Design: um paradigma contemporâneo em orientação profissional e de carreira(pp. 83-93). São Paulo: Vetor Editora.), evidencia-se a relevância de investigações sobre desenvolvimento de carreira que integrem os processos de formação profissional e de trabalho com outras dimensões da vida, em uma perspectiva psicossocial.

Quanto à adaptabilidade de carreira, que é determinada por fatores tanto socioeconômicos como psicossociais e envolve as dimensões preocupação, controle, curiosidade e confiança, observou-se uma tendência no sentido dos participantes com menor adaptabilidade, de acordo com a Escala de Adaptabilidade de Carreira (CAAS), apresentarem maiores dúvidas em relação à escolha do curso, exploração limitada do ambiente e de si próprios, baixo senso de confiança frente às decisões de carreira, maior dificuldade relacionada à organização e planejamento das atividades e disciplinas do curso e, especificamente em relação aos estudantes P1 e P5, dificuldades de imaginar e planejar cenários futuros de vida e carreira. Tais observações encontram-se consistentes com os achados de investigações anteriores sobre o modelo Life Designing e o construto adaptabilidade de carreira e evidenciam sua pertinência e relevância para a compreensão dos processos de carreira na contemporaneidade e, assim, para o avanço do conhecimento a respeito do tema e para a elaboração de intervenções de carreira (Teychenne et al., 2019Teychenne, M.; Parker, K.; Teychenne, D.; Sahlqvist, S.; Macfarlane, S.; Costigan, S. 2019). A pre-post evaluation of an online career planning module on university students’ career adaptability. Journal of Teaching and Learning for Graduate Employability, 10(1), 42-55. https://doi.org/10.21153/jtlge2019vol10no1art781
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; Koen, Klehe, & Van Vianen, 2012Koen, J.; Klehe, U. C.; Van Vianen, A. E. M. (2012). Training career adaptability to facilitate a successful school-to-work transition. Journal of Vocational Behavior, 81(3), 395-408. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.10.003
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; Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In Lent, R. W.; Brown, S. D. (Eds.), Career Development and counseling: Putting theory and research to work. EUA: Library of Congress.).

O estudo dos processos de construção de carreira de estudantes de graduação considerando as novas oportunidades de formação superior é uma agenda de pesquisa multidisciplinar. Tomando como foco as teorias de carreira, envolve as áreas da psicologia, da educação e do trabalho, uma vez que o desenvolvimento da carreira e dos recursos de adaptabilidade são determinados pelo contexto psicossocial. Dessa forma, os resultados desta investigação podem contribuir para a compreensão dos processos de construção de carreira em outros contextos nos quais a educação superior pública também se apresentou como uma realidade recente.

Os conhecimentos produzidos sobre construção de carreira no Ensino Superior reforçam a necessidade de as instituições de ensino desenvolverem políticas de assistência estudantil e de combate à evasão (Ronsoni, 2014Ronsoni, M. L. (2014). Permanência e Evasão de estudantes da UFFS Campus Erechim. In. T. I. Pereira(Ed.), Universidade pública em tempos de expansão: entre o vivido e o pensado (pp. 17-31). Erechim: Evangraf.), favorecerem a participação dos estudantes em atividades acadêmicas não obrigatórias e promoverem intervenções de carreira com graduandos (Silva & Bardagi, 2016Silva, S.; Bardagi, M. P. (2016). Intervenções de carreira no ensino superior: estrutura dos serviços na grande Florianópolis. Revista Psicologia em Foco, 8(12), 14-32.) e de orientação profissional em parceria com escolas de ensino médio. Revelam, enfim, a importância de políticas públicas de educação que proporcionem o acesso mais igualitário e a permanência no Ensino Superior a um maior número de jovens e, assim, aumentem suas possibilidades de desenvolver carreiras congruentes com seus projetos de vida.

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    » https://doi.org/10.17652/rpot/2017.3.13269
  • 3
    A busca foi operacionalizada com a combinação do termo “carreira” com “ensino superior” e com “universitários” nas bases de dados SciELO e Pepsic. Dos 35 estudos que se enquadraram no escopo do tema (excluídos os artigos de revisão de literatura, relatos de experiências e construção ou validação de instrumentos, e incluídos apenas estudos empíricos brasileiros) verificou-se que 21 eram de natureza quantitativa, 12 qualitativos e 02 mistos.
  • 4
    Os participantes serão identificados pela letra “P”, seguida da numeração de 1 a 6, que os diferenciará entre si.
  • Este trabalho contou com o apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Ago 2020
  • Aceito
    30 Jul 2021
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