Acessibilidade / Reportar erro

Por que as cooperativas agropecuárias e agroindustriais brasileiras estão falindo?

Resumos

Este ar tigo evidencia as contradições do Modelo Cooperativista brasileiro em relação ao Modelo Original. Trata- se de incoerências intrínsecas na formação do movimento cooperativo, nos princípios para a sua condução ideológica, bem como na regimentação e operacionalização estatutária. A partir desses desacertos, o artigo mostra as restrições para o exercício da "autogestão". Também sugere mudanças nas "leis"� cooperativistas vigentes, propícias ao exercício da participação dos associados no processo decisório.

Cooperativismo; modelo; falência; participação; autogestão


This article evidences the contradictions of the Brazilian Cooperative System Model in relation to the Original Model. It deals with the intrinsic incoherences existing in the formation of the cooperative movement, in the principles for its ideological conduction, as well as in the regulation and statutory operationalization thereof. As from the analysis of these mistakes, the article shows the restrictions related to the exercise of "self-management", and suggests changes in the cooperative system "laws"� in force, which enable the participation of the associated parties in the decision making process.

Cooperativism; model; bankruptcy; participation; self-management


ORGANIZAÇÃO, RECURSOS HUMANOS E PLANEJAMENTO

Por que as cooperativas agropecuárias e agroindustriais brasileiras estão falindo?

Helnon de Oliveira Crúzio

Professor Doutor em Organização de Cooperativas da Universidade Estadual Paulista, do Instituto Municipal de Bebedouro, da Faculdade Senador Fláquer e da Universidade Bandeirante de São Paulo

ABSTRACT

This article evidences the contradictions of the Brazilian Cooperative System Model in relation to the Original Model. It deals with the intrinsic incoherences existing in the formation of the cooperative movement, in the principles for its ideological conduction, as well as in the regulation and statutory operationalization thereof. As from the analysis of these mistakes, the article shows the restrictions related to the exercise of "self-management", and suggests changes in the cooperative system "laws" in force, which enable the participation of the associated parties in the decision making process.

Key words: Cooperativism, model, bankruptcy, participation, self-management.

RESUMO

Este ar tigo evidencia as contradições do Modelo Cooperativista brasileiro em relação ao Modelo Original. Trata- se de incoerências intrínsecas na formação do movimento cooperativo, nos princípios para a sua condução ideológica, bem como na regimentação e operacionalização estatutária. A partir desses desacertos, o artigo mostra as restrições para o exercício da "autogestão". Também sugere mudanças nas "leis" cooperativistas vigentes, propícias ao exercício da participação dos associados no processo decisório.

Palavras-chave: Cooperativismo, modelo, falência, participação, autogestão.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

NOTAS

1. Segundo Mladenatz, um dos maiores historiadores do cooperativismo, a "autogestão" na forma de cooperação é uma ação emancipadora feita por meio da organização de interesses do trabalho. A organização do trabalho realiza o seu caráter emancipador pela iniciativa dos próprios interessados. Trata-se de uma ação de auto-ajuda, bem distinta da ajuda de caráter filantrópico e da ajuda do poder público, em defesa dos interesses dos mais fracos. Cabe, portanto, ao poder público e/ou privado apoiar as iniciativas de auto-ajuda sem interferir na administração interna, pelas imposições dos controles institucionais ou pela obrigatoriedade de taxas gerais. Ver MLADENATZ, G. Tradução de Turmino. Historia de las doctrinas cooperativas. Buenos Aires: Intercoop, 1969. 249p.

2. Segundo Salvatore, a economia de escala reflete a redução dos custos mediante a escala de produção. Ver SALVATORE, O. Custos de produção. In: _________. Microeconomia. São Paulo: McGraw-Hill, 1977. p.185-95.

3. Para Mladenatz, esse foi o primeiro Modelo de Cooperativa oficialmente registrado. Em meio a uma crise geral, em 1843, nos distritos de Yorkshire e de Lacashire, na região de Rochdale, na Inglaterra, surgiu o Grupo Rochdale. Cerca de 30 operários, após fracassada greve para reaver seus empregos, realizaram freqüentes reuniões durante as quais se discutiu e amadureceu um Modelo de Organização Cooperativa. Por isso, com base nos ideais cooperativistas de William King e Robert Owen, dentre outros, criaram e organizaram a Friendly Society. Essa cooperativa, que cresceu e se solidificou de baixo para cima, inicialmente instalou um armazém para o consumo de víveres, devido às dificuldades gerais que os operários tinham para permanecer no trabalho. Ver MLADENATZ, G. Tradução de Turmino. Historia de las doctrinas cooperativas. Buenos Aires: Intercoop, 1969. 249p.

  • A CRISE das cooperativas agropecuárias. Gazeta Mercantil, São Paulo, 6 abr. 1994. p.1-6.
  • ALIANÇA COOPERATIVA INTERNACIONAL - ACI. Desenvolvimento do cooperativismo internacional. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa São Leopoldo: Unisinos, 1991. 416p.
  • ARAÚJO, S. M. P. de. Eles: a cooperativa: um estudo sobre a ideologia da participação. PA, 1982. 215p. (Projeto).
  • AUOZANI, L. Análise do serviço de comunicação e educação cooperativa PA: Fecotrigo, 1989. (Mimeogr.
  • BARRETO, N. Processo de participação em cooperativas de produtores rurais do Rio Grande do Sul. In: Perspectiva econômica Cooperativismo 6, São Leopoldo: Unisinos, v.27, 1980. p.99-205.
  • BENETTI, M. D. Origem e formação do cooperativismo empresarial no Rio Grande do Sul: uma análise do desenvolvimento da COTRIJUÍ, COTRISA e FECOTRIGO - 1957/ 1980. Teses 5, PA: FEE, 1982.
  • BUGARELLI, W. A nova legislação cooperativista brasileira. In: PINHO, D. B. A problemática cooperativista no desenvolvimento econômico São Paulo: Artegráfica, 1973.
  • CAC abandonou colonizadores do Cerrado. Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 jun. 1993. Agrofolha.
  • CAVENDISH, S. Cooperativismo e dominação. In: LOUREIRO M. R. Cooperativas agrícolas e capitalismo no Brasil São Paulo: Cortez, 1981. p.75-95.
  • COLE, G. D. H. As primeiras cooperativas antes de Rochdale. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.30-41.
  • CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Belém: Banco da Amazônia S.A., 1988. 272p.
  • COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DA REGIÃO DE CASA BRANCA - COAPECAB. Edital de Convocação: Assembléia Geral Ordinária. Casa Branca, SP, 1994. 1p. (Mimeogr.
  • ________. Ata de Assembléia Geral. v. 1979a, 1980, 1981, 1982, 1983, 1984, 1985, 1986a, 1987, 1988, 1989a, 1990, 1991, 1992a. Casa Branca, SP. 41p. (Mimeogr.
  • ________. Estatuto Social v. 1979b, 1986b, 1989b. Casa Branca, SP. 82p. (Mimeogr.
  • ________. Cadastro de Fornecedores v. 1992b, 1993, 1994. Casa Branca, SP. 10p. (Mimeogr.
  • CORADINI, O. L. Agricultura, cooperativas e multinacionais Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
  • CRÚZIO, Helnon de O. Problemas organizacionais e administrativos das cooperativas agropecuárias e agroindustriais do Estado da Bahia Lavras, 1989. 135p. Dissertação (Mestrado) - Esal.
  • _________. Problemas estruturais e decisórios das cooperativas agropecuárias e agroindustriais do Estado de Rondônia Porto Velho, 1991. Projeto de Pesquisa - APQ/CNPq, Unir, Anpad.
  • _________. Anomalias de uma organização, estrutura, administração e fiscalização que inviabilizam a comercialização do pequeno produtor na cooperativa. 1993. Projeto de Pesquisa - APQ/CNPq, EAESP/FGV-SP.
  • ________. Ideologia e autogestão, contradição do cooperativismo agropecuário/industrial brasileiro: o caso da inversão decisória. 1994. 282p. Tese (Doutorado) - EAESP/FGV-SP.
  • DESROCHE, H. Coopération et developpement, mouvents coopératifs et stratégie du developpement Paris: PUF, 1964. 225p. (Col. Tiers Monde).
  • DUARTE, L. M. G. Capitalismo e cooperativismo no R.G.S: o cooperativismo empresarial e a expansão do capitalismo no setor rural do Rio Grande do Sul. PA: Anpocs, 1986. 96p.
  • ESCHENBURG, R. Idéias para o aprimoramento da auditoria em cooperativas no Brasil São Leopoldo: Unisinos, 1986. p.19- 56. (Cooperativismo).
  • FLEURY, M. T. L. Cooperativas agrícolas e capitalismo no Brasil. São Paulo: Global, 1983. 125p.
  • FRANTZ, T. Cooperativismo empresarial e desenvolvimento agrícola: o caso da COTRIJUÍ, IJUÍ. Paraná: Cotrijuí/Fidene, 1982.
  • GERBER, H. H. Medidas práticas para recuperar os obstáculos à atuação do cooperativismo nos países em desenvolvimento. São Paulo: Artegráfica, 1973. 354p.
  • HAYASHI, M. Colapso da Cooperativa Cotia. Isto É, São Paulo, n.1253, 2 jun. 1993.
  • INSTITUTO DE COOPERATIVISMO E ASSOCIATIVISMO - ICA. Estatuto de cooperativas singulares: agrícolas, agrícolas mistas e pecuária São Paulo: ICA, 1993a. 39p.
  • ________. Manual de procedimentos na Junta Comercial para sociedades cooperativas São Paulo: ICA, 1993b. 27p. (Série orientação).
  • JOUVENEL, B. de. O cooperativismo acima do voto censitário. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.84-93.
  • JUNQUEIRA, J. O. G. Ação do governo junto à Cotia. O Estado de S. Paulo, 11 jun. 1993. Economia.
  • KERINEC, R. Principais obstáculos à reforma das estruturas. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.115-20.
  • LACROIX, J. La coopération de consumation comme experience de participation. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.115-20.
  • LAMBERT, P. La doctrina cooperativa Tradução de J. G. Hernandez. 3. ed. Buenos Aires: Intercoop, 1970.
  • LASSERE, G. Democracia cooperativa. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa. São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.149-66.
  • LAUSCHNER, R., SCHNEIDER, J. O. O cooperativismo no Brasil: evolução e situação atual do cooperativismo brasileiro: enfoque, análise e contribuições. São Leopoldo: FNS & Assoler, 1974. p.5-7.
  • LEGISLAÇÃO COOPERATIVISTA. Resoluções do Conselho Nacional de Cooperativismo Brasília: OCB, 1971. 97p.
  • LOUREIRO, M. R. G. Cooperativas agrícolas e capitalismo no Brasil. São Paulo: Cortez, 1981. 155p.
  • LUZ, F. L. Filho. História do cooperativismo brasileiro. In: SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.241-60.
  • MACEDO, M. Gigantismo. In: O risco do dominó. Veja, São Paulo, ano 26, n.21, 26 maio 1993. Economia e negócios.
  • MAGALHÃES, M. H. de. Recuperação de cooperativas. In: PINHO, D. B. A problemática cooperativista no desenvolvimento econômico São Paulo: Artegráfica, 1973. p.80-235.
  • MINISTRO omitiu informações sobre empréstimos do BNCC. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 out. 1989. Agricultura.
  • MOURA, V. Caráter e tendências do movimento cooperativo no Brasil. In: PINHO, D. B. A problemática cooperativista no desenvolvimento econômico São Paulo: Artegráfica, 1973. p.73-100.
  • MÜLLER, G. Cotrijuí: tentativa de criação de um conglomerado de capital nacional. In: LOUREIRO, M. R. G. Cooperativas agrícolas e capitalismo no Brasil São Paulo: Cortez, 1981. 155p.
  • NOVAES, J. R. P. Cooperativismo: acumulação e mundo social. In: LOUREIRO, M. R. G. Cooperativas agrícolas e capitalismo no Brasil. São Paulo: Cortez, 1981. 155p.
  • ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS - OCB. Educação e capacitação cooperativista do sistema Brasília: OCB, 1996. 46p.
  • O RISCO do dominó. Veja, São Paulo, ano 26, n.21, 26 maio 1993. Economia e Negócios.
  • PAAS, D. Participación y democracia cooperativa en los países en desarrollo Santiago: Universidad Católica de Chile, CEC, n.11, 1974.
  • PERIUS, V. Problemas estruturais do cooperativismo. Porto Alegre: Ocergs, 1983.
  • PINHO, D. A problemática cooperativista no desenvolvimento econômico. São Paulo: Artegráfica, 1973. 359p.
  • RIOS, G. Sá L. Cooperativas agrícolas no Nordeste brasileiro e mudança social Piracicaba, 1976. 205p. Dissertação (Mestrado) - Esalq/USP.
  • RODRIGUES, R. Por que é preciso apoiar a Cotia. O Estado de S. Paulo, 25 maio 1993a. Opinião.
  • ________. A cooperativa em crise de identidade. Folha de S. Paulo, 13 jun. 1993b. Agrofolha.
  • SCHNEIDER, J. O. Democracia-participação e autonomia cooperativa. São Leopoldo: Unisinos, 1991. 417p.
  • TABLIAPIETRA, J. R. C. O princípio de identidade e participação numa organização burocrática Porto Alegre, 1979. 275p. Dissertação (Mestrado) - UFRGS.
  • TIBÚRCIO, J. C. O cooperativismo no fio da navalha. O Estado de S. Paulo, 27 maio 1993. Economia.
  • WATKINS, W. P. Reflexiones sobre el futuro del movimiento cooperativo internacional. In: SCHNEIDER, J. O. Democraciaparticipação e autonomia cooperativa. São Leopoldo: Unisinos, 1991. p.261-305.
  • ZYLBERSZTAJN, D. Dificuldades de gerenciamento. Gazeta Mercantil, 6 abr. 1994. p.1-16.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1999
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br