EDITORIAL

Este número da Revista Brasileira de Educação é aberto com um artigo lembrando a morte de Pierre Bourdieu, um dos maiores sociólogos do século XX e um dos mais proeminentes intelectuais de nosso tempo, que soube reunir a pesquisa acadêmica com posições corajosas ante as agudas questões sociais, em especial contra a política neoliberal dominante. Angela Xavier de Brito destaca a contribuição de Bourdieu no campo teórico, através dos conceitos fundamentais de campo e de habitus, por ele desenvolvidos, e situa, entre seus principais colaboradores, aqueles que poderão vir a substituí-lo. Recoloca ainda o que supõe que deva ser o trabalho de brasileiros, em especial na sociologia da educação, no desdobramento das propostas de análise feitas por Bourdieu. Com a publicação desse trabalho, prestamos uma homenagem àquele que influenciou fortemente os estudos sociológicos de todo o mundo, particularmente no campo educacional.

E tomamos a liberdade de lembrar que, recentemente, no número 17 de nossa revista, publicamos o artigo de Afrânio Catani, Denice Barbara Catani e Gilson Pereira, sobre "As apropriações da obra de Pierre Bourdieu no campo educacional brasileiro, através de periódicos da área", com um extenso anexo, no qual estão referidos todos os textos localizados. Como os próprios autores disseram, esse trabalho "articula os resultados obtidos através de pesquisa que se realiza acerca da obra de Pierre Bourdieu, buscando compreender as várias modalidades de apropriação que marcaram o ingresso dos estudos do sociólogo francês no campo educacional brasileiro".

A revista apresenta, a seguir, a reflexão teórica de Jorge Larrosa Bondía sobre a experiência e o saber da experiência, tema que tem perpassado muitas de nossas discussões, inicialmente no campo da educação popular, mas que tem sido colocado presentemente como um dos pontos polêmicos derivados da atual LDB, no que diz respeito à validação do saber adquirido na vida, quando do acesso tardio à escolarização ou na oportunidade do retorno à mesma. De certa forma, essa reflexão é complementada pela abordagem de Victor Valla, na análise feita a partir do campo da saúde, de como as emoções são a pedra-de-toque da população pobre, canalizadas pelas igrejas, na tentativa de melhor entendimento e cura dos problemas da saúde.

Os artigos de Lílian do Valle e Nora Krawczyk constituem-se em importantes aportes derivados de pesquisas, de caráter histórico o primeiro e político o segundo. Por sua vez, o conjunto formado pelo ensaio de Ana Lúcia Valente e pelos textos de Alda Judith Alves-Mazzotti e Rosilda Arruda Ferreira, esses últimos também frutos de pesquisas, abordam temáticas atuais, explorando os fundamentos das atualmente designadas "políticas afirmativas".

Como nos números anteriores da revista, mais uma vez, foi reservado espaço para a apresentação de um grupo de trabalho, no caso o GT História da Educação, através das pesquisas por ele produzidas, conforme levantamento e análise feitos por Denice Barbara Catani e Luciano Mendes de Faria Filho. E procurando marcar os 25 anos da ANPEd, foram reproduzidos, na sessão Documentos, entrevista realizada em 1986 sobre a criação dos grupos de trabalho e talvez a primeira avaliação realizada sobre os mesmos, em 1992, que deu origem à nova proposta de sistemática de atuação. Complementarmente, foi elaborada uma cronologia da criação dos grupos de trabalho, indicando seus primeiros coordenadores.

O Espaço Aberto, por sua vez, ainda publica intervenções feitas na 24ª Reunião Anual. O texto de Maria Teresa Esteban aborda a avaliação como prática inovadora em uma escola; o de Carlos Augusto Abicail, a relação entre os direitos humanos e a cidadania e situa, nessa relação, a educação como um campo de conflito.

Como de costume, as Resenhas e as Notas de Leitura apresentam aos leitores e leitoras, com comentários, os livros atuais e importantes aos pesquisadores e pesquisadoras em educação.

A Comissão Editorial

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Abr 2011
• Data do Fascículo
  Abr 2002