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A institucionalização da cooperação: uma análise do trabalho institucional em uma comunidade vulnerável da região amazônica

Resumo

Objetivo

Fornecer uma perspectiva mais ampla de como a institucionalização da cooperação (rede) por meio das práticas de trabalho de atores locais pode gerar impacto social positivo e reduzir a vulnerabilidade social.

Metodologia

Analisamos a experiência de muitos atores locais, na região amazônica brasileira, que cooperam na extração e processamento da castanha-do-pará até a formação de uma rede colaborativa. Foram realizadas entrevistas e ficamos imersos no campo. Além disso, utilizamos documentos secundários.

Resultados

A cooperação em rede em torno da extração e processamento da castanha-do-pará se desdobra em fases sequenciais ao longo de projetos colaborativos e ajuda a reduzir a vulnerabilidade social.

Contribuições

Descobrimos uma relação hierárquica entre os tipos de trabalho institucional para institucionalizar a cooperação e destacamos que alguns tipos de trabalho institucional podem desenvolver diferentes condições para o estabelecimento de redes de negócio.

Palavras-chave
Cooperação; Trabalho institucional; Práticas de trabalho

Abstract

Purpose

To provide a broader perspective on how the institutionalization of cooperation (in a network) through the work practices of local actors can generate a positive social impact and reduce social vulnerability

Design/methodology/approach

We analyzed the experience of many local actors in the Brazilian Amazon region, who cooperate in the extraction and processing of Brazil nuts, up to the formation of a collaborative network. Interviews were conducted and we became immersed in the field. In addition, we used secondary documents

Findings

The network cooperation around the extraction and processing of Brazil nuts unfolds over sequential phases throughout collaborative projects that help to reduce social vulnerability.

Originality/value

We discovered a hierarchical relationship between the types of institutional work carried out to institutionalize cooperation and we highlighted that some types of institutional work can develop different conditions for the establishment of business networks.

Keywords
cooperation; institutional work; work practices

1 Introdução

A vulnerabilidade social caracteriza a condição de grupos de indivíduos socialmente excluídos, principalmente devido a fatores socioeconômicos. Para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a vulnerabilidade persistente ameaça o desenvolvimento humano. O relatório Rumo à resiliência humana: sustentando o progresso dos objetivos de desenvolvimento do milênio em uma era de incerteza econômica aponta para o fato de que, embora o número de pessoas que vivem em vulnerabilidade social tenha reduzido em todo o mundo nos últimos anos, quase 1,5 bilhão de pessoas em 91 países em desenvolvimento ainda vivem na pobreza e não têm acesso a programas básicos de saúde e educação e a um padrão de vida adequado (Organização das Nações Unidas, 2006).

Ao abordar a questão da vulnerabilidade, o PNUD destaca a necessidade de políticas e normas sociais para que o progresso possa ser equitativo e sustentável. Nesse sentido, parece importante entender que tipos de políticas, normas, comportamentos e práticas sociais foram bem-sucedidos no combate à vulnerabilidade social. Algumas iniciativas importantes demonstraram que a cooperação entre os atores locais pode desenvolver práticas que promovam mudanças em seu contexto socioeconômico. Assim, entender a dinâmica do relacionamento interorganizacional pode ser uma forma de as comunidades que vivem em condições adversas alcançarem resultados importantes em termos de desenvolvimento local (Geddes, 2014Geddes, M. (2014). Relacionamentos interorganizacionais no desenvolvimento de parcerias locais e regionais. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxham, & P. S. Ring. Handbook de relações interorganizacionais da Oxford (pp. 183-207). UK: Bookman.).

A teoria do trabalho institucional tem sido útil para entender como as redes de cooperação foram criadas para promover mudanças no ambiente institucional. Seu foco foi a compreensão do papel dos atores em relação às instituições e suas influências mútuas (Lawrence, Suddaby & Leca, 2011Lawrence, T., Suddaby, R., & Leca, B. (2011). Institutional work: Refocusing institutional studies of organization. Journal of Management Inquiry, 20(1), 52-58.). Em ambientes hostis, cujos atores individuais têm condições limitadas para influenciar e alterar suas condições sociais e econômicas, a cooperação se torna um mecanismo relevante, particularmente no que diz respeito ao acesso e complementaridade de recursos escassos. Portanto, este estudo tem como objetivo responder à seguinte pergunta: como ocorre a institucionalização da cooperação com base em práticas de trabalho entre atores locais em uma comunidade vulnerável? Para responder a essa pergunta, buscamos entender as práticas de atores locais que consolidaram a cooperação para o desenvolvimento de uma comunidade vulnerável na Amazônia, conhecida na região como Assentamento Vale do Amanhecer (AVA).

2 Teoria do trabalho institucional

A teoria do trabalho institucional busca compreender a relação entre atores e instituições e entender o papel do indivíduo em relação às instituições e a influência mútua entre o indivíduo e as instituições (Lawrence et al., 2011Lawrence, T., Suddaby, R., & Leca, B. (2011). Institutional work: Refocusing institutional studies of organization. Journal of Management Inquiry, 20(1), 52-58.). Para Lawrence et al. (2011), instituições são elementos da vida social que afetam o comportamento e as crenças dos atores. As ações sociais para manutenção institucional devem apoiar, reparar ou criar mecanismos sociais que garantam a conformidade com os padrões estabelecidos. Assim, as instituições são mantidas devido à sua submissão a normas, regras e crenças (Lawrence & Suddaby, 2006). “Trabalho” pode ser considerado como qualquer esforço físico ou mental realizado com um objetivo determinado e pode criar, manter ou interromper uma instituição (Lawrence et al., 2011). As instituições não controlam a conduta humana, mas é o trabalho institucional que estabelece e mantém rotinas diárias, de acordo com os objetivos dos atores (Willmott, 2011Willmott, H. (2011). Institutional work for what? Problems and prospects of institutional theory. Journal of Management Inquiry, 20(1), 67-72.).

Como o trabalho institucional sugere a mudança de uma macro para uma microperspectiva na análise da teoria institucional, surgiu outra perspectiva teórica, destacando o papel dos indivíduos na dinâmica institucional. Essa perspectiva, conhecida como empreendedorismo institucional, também traz o indivíduo como principal ator de rupturas nas instituições (DiMaggio, 1988DiMaggio, P. (1988). ‘Interest and agency in institutional theory’. In L. Zucker (ed.). Institutional patterns and culture .Cambridge (pp. 3- 22), MA: Ballinger Publishing Company.), mas lida com uma visão voluntarista (Willmott, 2011Willmott, H. (2011). Institutional work for what? Problems and prospects of institutional theory. Journal of Management Inquiry, 20(1), 67-72.). A distinção entre as duas perspectivas é bastante tênue, mas algumas características são importantes para a diferenciação. O trabalho institucional concentra-se nas práticas e estratégias cotidianas pelas quais indivíduos e grupos de indivíduos moldam intencionalmente os padrões institucionais em que operam (Dover & Lawrence, 2010Dover, G., & Lawrence, T. B. (2010). A gap year for institutional theory: Integrating the study of trabalho institucional and participatory action research. Journal of Management Inquiry, 12(1), 1-12.), um processo contínuo que evolui e se ajusta ao longo do tempo (Styhre, 2014Styhre, A. (2014). Gender equality as trabalho institucional: The case of the Church of Sweden. Gender, Work & Organization, 21(2), 105-121.). Essa visão vai além do simples ato heroico suscitado pela perspectiva do empreendedorismo institucional (Willmott, 2011). Enquanto o trabalho institucional se concentra nas práticas que levam à dinâmica institucional, o empreendedorismo institucional se concentra no próprio indivíduo e em seu esforço intencional para questionar os padrões institucionais (Styhre, 2014).

O trabalho institucional tem como eixo central o foco nas práticas e estratégias cotidianas adotadas por indivíduos ou por um grupo de indivíduos para construir os comportamentos institucionais que eles usam para operar (Dover & Lawrence, 2010Dover, G., & Lawrence, T. B. (2010). A gap year for institutional theory: Integrating the study of trabalho institucional and participatory action research. Journal of Management Inquiry, 12(1), 1-12.). “As práticas são realizadas por atores individuais e coletivos, levando à criação, manutenção ou ruptura de instituições” (Lawrence & Suddaby, 2006, p. 215). Os atores coletivos podem ser organizações estatais (Dobbin, 2001Dobbin, F. (2001). The business of social movements. In J. Jasper, J. Goodwin, F. Polletta. Passionate politics: Emotions and social movements (pp. 74-82). Chicago: University of Chicago Press.), grandes corporações (Garud, Jain & Kumaraswamy, 2002Garud, R., Jain, S., & Kumaraswamy, A. (2002). Institutional Entrepreneurship in the Sponsorship of Common Technological Standards: The Case of Sun Microsystems and Java. The Academy of Management Journal, 45(1), 196-214) ou associações profissionais (Greenwood, Oliver, Sahlin & Suddaby, 2008Greenwood, R., Oliver, C., Sahlin, K., & Suddaby, R. (2008). Introduction. In R. Greenwood, C. Oliver, K. Sahlin, R. Suddaby (eds.). The SAGE Handbook of Organizational Institutinalism (pp. 1-46). Sage Publications.).

O trabalho institucional sugere que a institucionalização ocorre de maneira contínua, permanente e processual. Na área do trabalho institucional, os estudos são projetados e orientados para o desenvolvimento da dinâmica integrativa, que permite aos pesquisadores apreciar a variedade de trabalhos cujo objetivo é criar, manter e interromper instituições no mesmo contexto (Zietsma & Lawrence, 2010Zietsma, C., & Lawrence, T. B. (2010). Institutional work in the Transformation of an Organizational Field: The interplay of boundary work and practice work. Administrative Science Quarterly, 55(2), 189-221.). A literatura oferece diferentes tipificações das práticas do trabalho institucional, dependendo dos objetivos e características. Lawrence e Sudabby (2006) propuseram o esquema principal para tipos de trabalho institucional. Em relação à criação de novas instituições, são retratados três grupos distintos a partir de vários exemplos de práticas de trabalho institucional, como trabalho político, técnico e cultural (Lawrence & Sudabby, 2006). O trabalho político visa influenciar o desenvolvimento de regras, direitos e limites de propriedade e refere-se principalmente ao pilar regulatório das instituições. Também inclui atividades que defendem práticas de outros atores por meio da persuasão social direta, definindo limites entre quem está dentro e quem está fora do sistema social. O trabalho técnico fornece um grau de rigor a uma instituição e garante que esse trabalho possa ser transportado mais facilmente de um ambiente para outro. O trabalho técnico é menos eficaz em trazer e conectar atores à instituição, ao passo que o trabalho cultural envolve a apresentação de uma instituição para agradar a um público mais amplo, além daqueles com interesse imediato ou técnico.

Nas últimas duas décadas do amplo desenvolvimento do estudo do trabalho institucional, as análises se concentraram na incorporação de novas formas de trabalho que envolvem esforços deliberados para moldar facetas organizacionais. A pesquisa sobre o trabalho institucional visa alterar a visão de mudanças sociais em larga escala, para que seja dada mais atenção às relações entre as instituições e os atores que as formam. Para tanto, é necessária uma visão holística da ação institucional, que vai além das relações diádicas e presume que os atores estão às vezes sujeitos a pressões de diferentes instituições e frequentemente precisam responder localmente, com criatividade e reflexividade. As questões se aproximam da compreensão do “por quê” e “como’, em vez de “o quê” e “quando” (Lawrence et al., 2011Lawrence, T., Suddaby, R., & Leca, B. (2011). Institutional work: Refocusing institutional studies of organization. Journal of Management Inquiry, 20(1), 52-58.).

Para responder à pergunta da nossa pesquisa, mobilizamos os seguintes aspectos da teoria do trabalho institucional (vide Tabela 1).

Tabela 1
Aspectos da teoria do trabalho institucional

2.1 Cooperação como uma instituição

Um dos elementos essenciais do trabalho institucional é a definição e caracterização das instituições. O trabalho institucional emerge da abordagem organizacional da teoria institucional. Em primeiro lugar, é importante reconhecer a noção de institucionalização trazida por Selznick (1972Selznick, P. (1972). A liderança na administração: Uma interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.). A institucionalização é um processo que ocorre com a organização ao longo do tempo, no qual as experiências e aspirações das pessoas que nela trabalham, além dos interesses de pequenos grupos e da sociedade em geral, começam a moldar seu desempenho. “Assim, é possível definir a própria instituição como os elementos duradouros da vida social que afetam o comportamento e as crenças de atores individuais ou coletivos, fornecendo padrões de ação, cognição e emoção” (Lawrence, Suddaby & Leca, 2009Lawrence, T. B., Suddaby, R., & Leca, B. Introduction (2009). Theorizing and studying institutional work. In Lawrence, T.B; Suddaby, R.; Leca, B. Institutional work: Actors and agency in institutional studies of organizations (pp. 11-59). Cambridge: University Press.).

Os acordos cooperativos entre os atores organizacionais, para melhorar o desempenho de maneira adequada e alcançar objetivos competitivos, devem conter padrões sociais que moldam a ação e a interação dentro de seus limites. Dessa forma, essa estrutura organizacional é entendida como institucional.

A cooperação interorganizacional pode ser definida como qualquer acordo que estabeleça cooperação entre os atores. Ocorre voluntariamente e começa com ações que envolvem troca, compartilhamento ou desenvolvimento conjunto (Gulati & Gargiulo, 1999Gulati, R., & Gargiulo, M. (1999). Where do interorganizational networks come from? American Journal of Sociology, 104(5), 1439-1493.). É a cooperação entre parceiros que atravessa as fronteiras organizacionais (Nolte, Martin & Boenigk, 2012Nolte, I. M., Martin, E. C., & Boenigk, S. (2012). Cross-sectoral coordination of disaster relief. Public Management Review, 14(6), 707-730.). No processo de cooperação interorganizacional, duas ou mais organizações cooperam para alcançar objetivos comuns, ao passo que as decisões de negócio e ações de cada organização permanecem autônomas (Balestrin & Verschoore, 2016Balestrin, A., & Verschoore, J. (2016). Redes de cooperação empresarial: Estratégias de gestão na nova economia (2nd ed.). Porto Alegre: Bookmamn.). Como enfatizam Balestrin e Verschoore (2016) (vide Figura 1), a coordenação, a existência de objetivos comuns e a conectividade entre os membros são essenciais para a obtenção de resultados coletivos.

Figura 1
Condições para o estabelecimento de redes de cooperação

Apoiamos o argumento de que as práticas empregadas pelos atores sociais e pelo trabalho institucional criam uma rede por meio do estabelecimento de objetivos comuns e da coordenação da interação, e isso afeta positivamente o desenvolvimento local e regional (Geddes, 2014Geddes, M. (2014). Relacionamentos interorganizacionais no desenvolvimento de parcerias locais e regionais. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxham, & P. S. Ring. Handbook de relações interorganizacionais da Oxford (pp. 183-207). UK: Bookman.) ou ganho concorrencial no caso de empresas. Nesse modelo colaborativo, os atores sentem-se motivados a trabalhar no sentido de legitimar uma prática considerada importante para o contexto social (Lawrence & Suddaby, 2006Lawrence, T. B., & Suddaby, R. (2006). Institutions and institutional work In: S. R. Clegg, C. Hardy, T. Lawrence, & T. R. Nord. Handbook of organization studies (2nd ed., pp. 215-254). Sage Publications.). Esses esforços são feitos pelas pessoas que criam as instituições ao seu redor para atender às suas necessidades sociais (Styhre, 2014Styhre, A. (2014). Gender equality as trabalho institucional: The case of the Church of Sweden. Gender, Work & Organization, 21(2), 105-121.). O processo de definição do que será desenvolvido como trabalho tem a intenção de obter resultados positivos (Geddes, 2014).

Nas análises que envolvem trabalho institucional, os indivíduos tornam-se agentes, de modo que os relacionamentos, comportamentos e motivações estão diretamente ligados ao seu interesse e atenção (Lawrence et al., 2011Lawrence, T., Suddaby, R., & Leca, B. (2011). Institutional work: Refocusing institutional studies of organization. Journal of Management Inquiry, 20(1), 52-58.). Nesse sentido, o resultado do desenvolvimento local torna-se essencial para estabelecer a cooperação entre organizações (Geddes, 2014Geddes, M. (2014). Relacionamentos interorganizacionais no desenvolvimento de parcerias locais e regionais. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxham, & P. S. Ring. Handbook de relações interorganizacionais da Oxford (pp. 183-207). UK: Bookman.), formando processos colaborativos entre os atores sociais (Balestrin & Verschoore, 2016Balestrin, A., & Verschoore, J. (2016). Redes de cooperação empresarial: Estratégias de gestão na nova economia (2nd ed.). Porto Alegre: Bookmamn.).

3 Metodologia

Para abordar o problema da pesquisa proposta, um único caso foi escolhido. O caso é de um contexto social único, o de uma comunidade inserida na região amazônica com pouca infraestrutura logística, cercada por importantes recursos ambientais e lar de diversas populações (indígenas, extrativistas, agricultores familiares, gestores públicos, administradores de organizações privadas e ONGs). É o único assentamento do Estado do Mato Grosso com reserva legal certificada para a prática de extrativismo da castanha-do-pará.

A pesquisa consistiu em três fases. A primeira, de caráter exploratório, teve como objetivo identificar os principais atores sociais no acordo colaborativo encontrado na comunidade amazônica. Nesta fase, um dos pesquisadores passou 25 dias nessa comunidade, período em que realizou e gravou cinco entrevistas formais e um conjunto de conversas informais registradas em 103 folhas de anotação (em um caderno de campo). O pesquisador participou de atividades coletivas, como reuniões, atividades sociais, cursos e seminários que ocorreram na comunidade. Além das entrevistas, ele fez um inventário dos dados secundários oferecidos pelos atores locais. Vários documentos foram analisados: projetos e relatórios (5), relatórios de reuniões (12) e vídeos institucionais (13). Esse conjunto de dados secundários e as cinco entrevistas principais permitiram aos pesquisadores iniciar a reconstrução da história com a identificação dos principais atores. No entanto, a saturação teórica não foi obtida nesta fase e começamos a planejar uma nova fase para a coleta de dados.

Na segunda fase da pesquisa, perguntamos sobre as práticas de atores individuais e coletivos visando à institucionalização da cooperação no assentamento, as principais motivações para essa ação e o trabalho cotidiano obtido pela institucionalização da cooperação. Os pesquisadores realizaram outras sete entrevistas que também foram gravadas, atingindo um total de 3:56:02 horas de gravação e duas entrevistas por e-mail para validar as percepções coletadas durante o tempo do pesquisador no assentamento. Na terceira fase, um dos pesquisadores permaneceu na comunidade por mais 10 dias para finalizar a coleta de dados. Além de viver a rotina diária do assentamento, ele participou de três reuniões nas aldeias das tribos indígenas Murunduku, Caiaby e Apiaká. As perguntas que nortearam os pesquisadores em todas as fases da coleta de dados foram validadas por 5 especialistas. Interrompemos a coleta de dados quando nenhum entrevistado ou documento secundário trouxe novas informações relacionadas aos objetivos da pesquisa. “Projetos de pesquisa retrospectiva são particularmente úteis para estudar processos e evolução de rede em grandes janelas de tempo. Isso pode ser importante para detectar mudanças substanciais nas redes e o surgimento de padrões temporais claros” (Provan, Fish & Sydow, 2007Provan, K., & Kenis, P. (2007). Modes of network governance: Structure, management, and effectiveness. Journal of Public Administration Research and Theory, 18(2), 229-252.).

A análise dos dados começou durante a coleta de dados. Para desenvolver uma compreensão mais aprofundada dos dados e dos temas e padrões subjacentes, primeiro usamos o mapeamento visual com estratégias de isolamento temporal para orientar a nossa análise e a apresentação dos dados. Essa opção visualiza a complexidade da criação de uma instituição e busca padrões. A organização dos dados em períodos permite a análise dos efeitos dos motivos e ações dos atores e do impacto do contexto de um período sobre outro. Os períodos foram escolhidos com base nas interpretações subjetivas dos atores principais dos eventos marcantes durante o processo de transformação. O isolamento temporal nos permitiu acompanhar o processo de transformação ao longo do tempo e avaliar o resultado de cada fase na forma de institucionalização da cooperação. A reconstrução da história e o mapa visual foram baseados nos dados primários e secundários coletados.

Utilizamos algumas técnicas para arquivar a confiabilidade da pesquisa, com base em Lincoln e Guba (1985Lincoln, Y. S., & Guba, E. G. (1985). Naturalistic inquiry. Newbury Park, CA: Sage Publications.), como: a) Credibilidade: o pesquisador teve envolvimento no campo; b) Transferibilidade: foi fornecida uma descrição do contexto do AVA, o que lhes permitiu entender a realidade vivida pelo conjunto de atores; c) Confiabilidade: utilizamos a amostragem teórica e intencional, conforme descrito nesta seção; e d) Confirmabilidade: gestão cuidadosa dos dados.

4 Histórico do assentamento e apresentação da principal rede de cooperação

A partir da coleta de dados, reproduzimos o histórico da criação da cooperação institucional sob a forma de uma rede interorganizacional. No mapa (vide Figura 2) e nas entrevistas (vide alguns trechos na Tabela 2), é possível encontrar as principais motivações dos atores que adotam práticas institucionais de trabalho e a maneira com que a rede de atores é formada à medida que o trabalho evolui. Ele mostra “instituições e ação como se existissem em um relacionamento recursivo [...] no qual as instituições fornecem modelos para a ação [...] e a ação afeta esses modelos” (Archer, 1995Archer, M. (1995). Realist social theory: The Morphogenetic approach. Cambridge: Cambridge University Press.; Phillips, Lawrence & Hardy, 2004Phillips, N., Lawrence, T. B. & Hardy, C. (2004). Discourse and institutions. Academy of Management Review, 29(4), 635-652.).

Tabela 2
Trechos das entrevistas - Principais motivações

A criação de assentamentos rurais no Brasil começou em 1998. Foram criados em território nacional sob um programa chamado “Novo Mundo Rural”. Um assentamento rural é um conjunto de unidades agrícolas independentes entre si, instaladas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Cada lote é entregue pelo INCRA a uma família que não possui recursos para adquirir e manter uma propriedade rural por outros meios. Os trabalhadores rurais que recebem o lote comprometem-se a viver na terra e a explorá-la para seu sustento usando apenas o trabalho familiar. Além da distribuição de terras, os assentamentos da reforma agrária proporcionam condições de vida e produção e garantem a saúde e a segurança daqueles que vivem em zonas rurais, que antes se encontravam expostos aos riscos de segurança alimentar e social. O “Projeto de Assentamento Vale do Amanhecer” (AVA) é um dos 371 assentamentos criados pelo programa federal e é considerado um modelo para a região amazônica (INCRA/SR-13/T, 1996; Organização das Nações Unidas, 2006).

O assentamento está localizado na cidade de Juruena, no nordeste do estado do Mato Grosso. É uma comunidade rural de 14.715,81 ha, dividida em 250 lotes para a exploração da subsistência econômica e para moradia. Nesse assentamento, “todas as estradas são paralelas aos pequenos afluentes do rio Juruena, para que todos tenham água corrente no fundo de suas terras. Essa estrutura de assentamento pode fazer a diferença em relação à preservação da vida selvagem” (Entrevistado 9). Essa maneira de demarcar propriedades foi tema de debates e discussões entre os moradores da região, representantes políticos locais e outras organizações interessadas na preservação da região amazônica. Todas as atividades do assentamento e os acordos de colaboração apresentados neste estudo estão ligados à exploração da castanha-do-pará.

A história da criação e desenvolvimento do AVA está ligada à história de uma associação parceira, a Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR). Essa associação foi fundada na cidade de Juruena em 1994, com o objetivo de propiciar geração de renda aos agricultores familiares locais e promover a preservação ambiental por meio do manejo sustentável dos recursos naturais, e desenvolvimento de atividades de conscientização e de capacitação para os agricultores (Nunes & Rugnitz, 2011Nunes, P. C., & Rugnitz, M. T. (2011). Semeando esperança, colhendo bens e serviços ambientais: Resultados do projeto Poço de Carbono. Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR). Juruena: ADERJUR.). O primeiro projeto de relevância local do qual a ADERJUR participou foi a criação do AVA em 1996. Na definição do projeto do AVA, os atores locais precisaram estabelecer parcerias para avaliar aspectos sociais e jurídicos.

Após a criação do assentamento, a ADERJUR consolidou-se como proponente e executora de projetos de desenvolvimento local por meio de práticas produtivas sustentáveis na região. Muitos desses projetos foram propostos de forma a favorecer a comunidade rural do AVA e as comunidades indígenas locais. Nas palavras de um dos participantes, “[...] o que motivou a ADERJUR a entrar primeiro no Vale do Amanhecer foi o fato de o assentamento possuir a documentação da terra, sendo uma área de agricultura familiar, um assentamento com a possibilidade de desenvolvendo um projeto de longo prazo com uma perspectiva socioambiental olhando para a comunidade [...] conseguimos realizar várias coisas, manter essas famílias morando na terra...” (Entrevistado 9).

O projeto do AVA terminou em 2008 e logo foi reconhecida a necessidade de buscar alternativas para fortalecer os aspectos econômicos e sociais da força de trabalho. Isso levou ao estabelecimento da Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (COOPAVAM), que representa “um marco para o AVA se tornar um modelo de referência de produtividade sustentável” (Entrevistado 9) por ser uma iniciativa popular de cooperação em parceria com comunidades indígenas.

Entre os atores participantes do AVA estão importantes entidades governamentais, como a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA-MT). A CONAB é responsável por apoiar os produtores rurais na elaboração de projetos para a venda de alimentos. Também ajuda a cooperativa com informações e instruções sobre como comprar alimentos diretamente com o orçamento público e, portanto, é um parceiro importante da COOPAVAM. A SEMA-MT é um departamento fiscal que concede autorizações para a atividade econômica industrial em áreas rurais. Além disso, “a CONAB compra os produtos que a COOPAVAM produz - castanhas, derivados da castanha, óleo, farinha - que são distribuídos nas escolas. Agora estamos trabalhando com sete cidades aqui no entorno de Juruena” (Entrevistado 8).

O governo da cidade, representado pela Prefeitura de Juruena-MT, mantém um relacionamento próximo com a COOPAVAM e se sente estimulado pela troca de benefícios. É motivado a manter a parceria porque o trabalho realizado gera renda aos habitantes e permite a aquisição de produtos para abastecer escolas e hospitais com recursos de outros departamentos governamentais, o que reduz custos administrativos (Entrevistado 10). De acordo com o representante da prefeitura, “o trabalho realizado pelo AVA teve início aproximadamente entre 2007 e 2008, período em que houve a atividade da garimpagem, agravando a violência local [...] com a história da cidade, o desenvolvimento de organizações que possam criar empregabilidade faz a diferença para o desenvolvimento econômico e social” (Entrevistado 10).

O AVA recebe recursos de projetos apresentados pela COOPAVAM e pela Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA) através de editais de licitação. As principais agências de fomento são a Petrobras e o Banco da Amazônia, que funcionam como parceiros de cofinanciamento de atividades para atender às metas sociais. A AMCA, um empreendimento nascido na COOPAVAM, surgiu em um processo de conflito de gênero e local de trabalho. No entanto, atualmente há uma troca de trabalho entre os empreendimentos, divisão de recursos em projetos apresentados às agências de desenvolvimento e divisão de espaço na área industrial do assentamento.

Figura 2
Mapa temporal.

Um dos órgãos públicos importantes que demonstra um maior envolvimento e comprometimento na realização das atividades rotineiras do AVA é a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Ao propor um projeto, como colher e vender a castanha-do-pará das aldeias indígenas para a COOPAVAM, são necessários a participação e o apoio logístico da FUNAI para desenvolver reuniões, seminários, acompanhamento com resultados econômicos e sociais e fiscalização de questões ambientais. Os técnicos da FUNAI são importantes elos de comunicação entre os povos indígenas e os membros do AVA/COOPAVAM.

As associações indígenas ACAIM, PASSAPKAREEJ, KAWAIETÉ e Instituto Munduruku também mantêm um relacionamento próximo. O papel dos representantes das associações indígenas é mediar o diálogo entre os trabalhadores indígenas e a COOPAVAM com as comunidades, organizar a recepção e a venda da castanha e distribuir os recursos recebidos entre os indígenas que trabalham na extração do produto. O relacionamento com a liderança das associações indígenas é fundamental para a manutenção de projetos de colaboração, pois o acesso ao produto ocorre por meio da associação. É necessária uma comunicação clara e transparente. Todas essas atividades são monitoradas pela FUNAI de acordo com a lei. A Natura Cosméticos (uma das principais empresas de cosméticos do Brasil) está motivada a desenvolver atividades com a COOPAVAM e “fazer parte do acordo colaborativo, pois o trabalho desenvolvido no assentamento tem relevância social e está legalizado, favorecendo a parceria e permitindo à empresa contribuir e se beneficiar com a aquisição de produtos de qualidade e obtenção de certificados. Por outro lado, a COOPAVAM se beneficia com contratos devidamente negociados de forma participativa, recebendo treinamento em gestão organizacional, saúde e segurança do trabalhador” (Entrevistado 1).

Como evidência da institucionalização da cooperação no assentamento, destaca-se uma série de atividades conjuntas. A iniciativa mais antiga foi o projeto Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas Fronteiriças do Noroeste do Mato Grosso, desenvolvido em 2001 por meio da colaboração entre o Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility - GEF), o PNUD e a SEMA-MT em 2001. Entre os principais produtos desse projeto estão o mapeamento de castanhas e a análise de viabilidade da produção extrativa (Nunes & Rugnitz, 2011Nunes, P. C., & Rugnitz, M. T. (2011). Semeando esperança, colhendo bens e serviços ambientais: Resultados do projeto Poço de Carbono. Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR). Juruena: ADERJUR.).

Em 2006, o projeto denominado Recuperação e Conservação de Recursos Naturais foi proposto no Projeto de Assentamento Vale do Amanhecer, em Juruena-MT, no qual o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o INCRA atuaram como apoiadores do desenvolvimento do projeto local ADERJUR. Assim, em 2007, o MDA, o INCRA e a ADERJUR realizaram uma reunião sobre a implantação da fábrica da COOPAVAM para o processamento da castanha-do-pará. Em 2009, o Programa de Treinamento em Inventário e o Programa de Compras para Doação da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) foram estabelecidos como uma parceria formal entre a CONAB e a COOPAVAM (Nunes, 2013Nunes, P. (2013) Projeto sentinelas da floresta. Aprovado pelo Banco Fundo da Amazônia. Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer. Juruena: COOPAVAM.; Nunes & Rugnitz, 2011).

Dois projetos deram maior visibilidade à comunidade na mídia nacional. O primeiro foi o Projeto Poço de Carbono, criado coletivamente com os grupos sociais e apresentado à ADERJUR. Este projeto teve duas edições, sendo a primeira proposta apresentada em 2009 e com início das operações em 2010, e a segunda proposta apresentada em 2012 para dar continuidade às atividades em 2013. Os principais objetivos foram: a) plantar um sistema agroflorestal; b) conscientizar os agricultores, professores e alunos sobre a necessidade de recuperar áreas degradadas; c) estimular a conservação de remanescentes florestais; d) desenvolver atividades extrativistas de produtos florestais não madeireiros, que incluem a castanha-do-pará; e) buscar formas de promover a segurança alimentar e a geração de renda para as comunidades e a estabilidade climática. Os principais parceiros dos projetos financiados pela Petrobras foram ADERJUR, COOPAVAM, FUNAI, Instituto Munduruku, CONAB, Fundação Banco do Brasil e os governos municipais de Juruena-MT, Juína, Juara e Aripuanã. Vale ressaltar que os governos municipais das cidades próximas a Juruena participaram da parceria através de publicidade e aquisição de produtos produzidos pela AMCA para atender à demanda por alimentos de jardins de infância, escolas, hospitais e asilos (Nunes & Rugnitz, 2011Nunes, P. C., & Rugnitz, M. T. (2011). Semeando esperança, colhendo bens e serviços ambientais: Resultados do projeto Poço de Carbono. Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR). Juruena: ADERJUR.).

Em 2013, o Projeto Sentinelas Florestais foi apresentado ao Banco da Amazônia, que também contribuiu de forma significativa com apoio financeiro (R$ 5,5 milhões). Este projeto teve como atores principais: COOPAVAM como proponente e o Fundo Amazônia como financiador. Também incluiu a ADERJUR e outros parceiros envolvidos na execução do projeto: Associações Indígenas (Passapkareej, Instituto Munduruku e Associação Kawaieté), FUNAI, CONAB, Natura, Mãe Terra e o Governo Municipal de Juruena. O objetivo principal era aumentar a escala de produção e fortalecer a cadeia produtiva da castanha-do-pará, da coleta e processamento à comercialização, aumentando a renda das comunidades extrativistas que vivem dos produtos florestais da região (Nunes, 2013Nunes, P. (2013) Projeto sentinelas da floresta. Aprovado pelo Banco Fundo da Amazônia. Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer. Juruena: COOPAVAM.).

Durante todo o processo de desenvolvimento do assentamento, várias instituições de ensino superior e institutos de pesquisa estiveram presentes. Durante a fase de pesquisa, descobriu-se que a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desenvolviam atividades de pesquisa e extensão na comunidade do AVA. Outras instituições parceiras no processo de treinamento foram o SEBRAE, SENAC e PRONATEC. Em 2015, houve a expansão da Unidade de Produção de Castanha-do-Pará em Juruena-MT, um projeto complementar às Sentinelas da Floresta, ação colaborativa entre o Fundo Amazônia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a COOPAVAM.

Após o início das atividades da COOPAVAM e dos projetos na região, o número de parceiros aumentou gradualmente, consolidando as práticas de trabalho que buscam cooperação. Os parceiros não são permanentes. Alguns têm compromissos formais com os termos de cooperação, enquanto outros estão envolvidos informalmente nas atividades desenvolvidas no AVA, conforme exigência das ações do projeto, necessidades da população, aspectos legais ou outros, devido à dinâmica do trabalho e à vida social da comunidade. A cooperação ocorre por meio de projetos colaborativos temporários que têm começo, meio e fim. Nesse sentido, é possível dizer que houve a institucionalização da cooperação, uma vez que os projetos surgiram como alternativas aos problemas enfrentados por essa comunidade e seus membros. As parcerias continuaram em díades e tríades. As díades ocorrem frequentemente entre a COOPAVAM e os outros parceiros, enquanto as tríades são estabelecidas quando há a necessidade da assistência de um órgão regulador ou de supervisão (como, por exemplo, a FUNAI). Uma vez identificados os principais atores sociais do assentamento, procuramos identificar as principais motivações para o trabalho institucional que estão relacionadas à cooperação.

4.1 Discussão dos resultados

4.1.1 Motivações para a institucionalização da cooperação

Para facilitar a apresentação dos principais fatores motivacionais para as práticas do trabalho institucional, a Tabela 3 destaca algumas evidências empíricas obtidas neste estudo.

Tabela 3
Fatores motivacionais para o trabalho institucional

Na Tabela 3, podemos ver que os nossos resultados corroboram o argumento de que os atores sociais se sentem motivados e intencionalmente envidam esforços para criar e manter uma nova realidade social em contextos de vulnerabilidade (Lawrence & Suddaby, 2006Lawrence, T. B., & Suddaby, R. (2006). Institutions and institutional work In: S. R. Clegg, C. Hardy, T. Lawrence, & T. R. Nord. Handbook of organization studies (2nd ed., pp. 215-254). Sage Publications.). Deve haver uma ou mais razões para a existência de práticas de trabalho. No nosso caso, essas razões são múltiplas (por exemplo, geração de renda, preservação ambiental, alavancagem comercial etc.). A racionalidade presume que os atores sociais têm a capacidade de refletir sobre suas crenças e dar atenção a ações que mudam o cotidiano dos indivíduos (Schildt, Mantere & Vaara, 2011Schildt, H. A., Mantere, S., & Vaara, E. (2011). Reasonability and the Linguistic Division of Labor in Trabalho Institucional. Journal of Management Inquiry, 20(1), 82-86.). A intencionalidade e motivação começam com atores sociais que refletem sobre sua responsabilidade social, condições de vida e desejos de mudança e/ou transformação social (Lawrence, Leca & Zilber, 2013). Assim, no contexto social do nosso caso, surgem agentes que, individual ou coletivamente, desejam construir novas formas institucionais. Portanto, as práticas não são mais apenas o que as pessoas fazem, buscando atender às expectativas sociais (Whittington, 2006Whittington, R. (2006). Completing the practice turn in strategy research. Organization Studies, 27(5), 613-634.).

Na realidade social do AVA, percebe-se que diferentes atores trabalharam com o objetivo de criar uma nova instituição capaz de garantir a melhoria da qualidade de vida no assentamento.

Nesse contexto social, surge a motivação dos atores sociais para transformar a realidade local. São as pessoas que criam instituições para atender às necessidades da sociedade (Styhre, 2014Styhre, A. (2014). Gender equality as trabalho institucional: The case of the Church of Sweden. Gender, Work & Organization, 21(2), 105-121.). As ações intencionais influenciam a institucionalização de práticas (Hwang & Colyvas, 2011Hwang, H., & Colyvas, J. (2011). Problematizing actors and institutions in Trabalho Institucional. Journal of Management Inquiry, 20(1), 62-66.). A motivação das pessoas é o ponto de partida para entender o comportamento e a ação. Portanto, o eixo central do trabalho institucional se concentra nas práticas estratégicas e cotidianas das quais indivíduos ou grupos de indivíduos se encarregam intencionalmente (Dover & Lawrence, 2010Dover, G., & Lawrence, T. B. (2010). A gap year for institutional theory: Integrating the study of trabalho institucional and participatory action research. Journal of Management Inquiry, 12(1), 1-12.). Os atores sociais se tornam a força motriz buscando melhorias no ambiente em que vivem. Assim, visam transformar sua condição de vulnerabilidade social.

4.1.2 Trabalho institucional e cooperação

As principais práticas de trabalho técnico identificadas estão listadas na Tabela 4.

Tabela 4
Práticas de trabalho institucional técnico

Nossos resultados confirmam que a cooperação interorganizacional é um comportamento relevante para o desenvolvimento de comunidades que vivem em situações de vulnerabilidade social, à medida que surgem ações como atender às necessidades sociais, promover novas formas de pensar e criar parcerias entre repartições governamentais (Gyapong, Selby & Anakwah, 2011Gyapong, J. O., Selby, R. A., & Anakwah, K. A. (2011). Challenges in linking health research to policy: A commentary on developing a multi-stakeholder response to orphans and vulnerable children in Ghana. Health Research Policy and Systems, 9(14), 1-6.), além de parcerias que buscam o desenvolvimento local e regional e que normalmente incluem atores da comunidade, sociedade civil e organizações públicas formais e sem fins lucrativos (Geddes, 2014Geddes, M. (2014). Relacionamentos interorganizacionais no desenvolvimento de parcerias locais e regionais. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxham, & P. S. Ring. Handbook de relações interorganizacionais da Oxford (pp. 183-207). UK: Bookman.).

A dinâmica diária do trabalho institucional no AVA torna-se complexa, pois envolve atores sociais que vivem em contextos diversos nas atividades produtivas que formam a cooperação interorganizacional. Os esforços dos nativos ocorrem em uma realidade de trabalho extrativo, entre seus pares e dentro de um contexto cultural próprio. No entanto, os esforços de trabalho nas áreas do assentamento ocorrem em diferentes contextos culturais, considerando as diferentes origens dos trabalhadores. Além disso, há atores sociais externos a esses ambientes, que fazem parte de organizações públicas e privadas e ONGs, cujas práticas de trabalho buscam recursos para atender às demandas de grupos sociais anteriores. Assim, encontrar sincronia entre todos esses atores e executar práticas de trabalho que atendam ao objetivo comum de mudar a realidade local por meio da cooperação se torna uma tarefa desafiadora. A complexidade do trabalho ocorre principalmente em ambientes de produção. Embora o objetivo comum seja claro, individualmente e nas ações diárias de trabalho, os trabalhadores nem sempre entendem a interdependência das atividades, interna ou externamente. Para que essas diferenças sejam respeitadas e compreendidas, as pessoas devem prestar atenção aos atores externos que propõem mudanças no contexto social da vulnerabilidade com base em projetos de promoção e na busca de possibilidades para a institucionalização das atividades cooperativas.

Essa realidade contribuiu para a reflexão em contextos de problemas sociais complexos, conforme apresentado por Dover e Lawrence (2010Dover, G., & Lawrence, T. B. (2010). A gap year for institutional theory: Integrating the study of trabalho institucional and participatory action research. Journal of Management Inquiry, 12(1), 1-12.), que destacam a necessidade de os atores sociais estarem constantemente atuando em negociações que envolvem contestação e cooperação (Zilber, 2007Zilber, T. B. (2007). Stories and the discursive dynamics of institutional entrepreneurship: The case of Israeli hightech after the bubble. Organization Studies, 28(7), 1035-1054).). Essas negociações ocorreram principalmente entre as comunidades rurais e indígenas porque alguns dos cooperantes e muitos nativos não entendem a burocracia da gestão de projetos, mas priorizam as necessidades individuais de seus grupos em detrimento do que foi acordado coletivamente nos projetos. As negociações constantes são coordenadas pelo gestor do projeto, técnicos e até parceiros que atuam nos cursos oferecidos às comunidades, que promovem a integração de práticas de trabalho entre os diversos atores sociais, conforme observado por Zietsma e Lawrence (2010Zietsma, C., & Lawrence, T. B. (2010). Institutional work in the Transformation of an Organizational Field: The interplay of boundary work and practice work. Administrative Science Quarterly, 55(2), 189-221.).

A construção do referencial teórico revelou que o trabalho institucional pode ser classificado como político, técnico e cultural (Zietsma & Lawrence, 2010Zietsma, C., & Lawrence, T. B. (2010). Institutional work in the Transformation of an Organizational Field: The interplay of boundary work and practice work. Administrative Science Quarterly, 55(2), 189-221.).

Ao identificar a contribuição do trabalho técnico para a criação da instituição, verificou-se que ele aumenta a coerência entre os parceiros da rede em formação. Ou seja, os vários trabalhos técnicos desenvolvidos pelos atores dessa comunidade ajudaram a definir objetivos comuns. O trabalho técnico institucional, na medida em que auxilia na definição dos objetivos comuns do acordo colaborativo, constitui os antecedentes de outros trabalhos técnicos e facilita o surgimento de um ambiente de cooperação que represente os interesses de todos os participantes (Balestrin & Verschoore, 2016Balestrin, A., & Verschoore, J. (2016). Redes de cooperação empresarial: Estratégias de gestão na nova economia (2nd ed.). Porto Alegre: Bookmamn.). Como trabalho institucional político, que influencia regras, leis e limites de propriedade e representa o pilar regulador das instituições, as seguintes práticas foram identificadas e estão apresentadas na Tabela 5:

Tabela 5
Práticas de trabalho político

O trabalho político é o aspecto mais presente no contexto das práticas de trabalho voltadas à promoção de parcerias para a cooperação. Esse tipo de trabalho está intimamente ligado à estrutura e coordenação dos atores envolvidos e ajuda no desenvolvimento de um elemento importante da rede: a governança. O foco da governança de rede envolve o uso de estruturas para coordenar e controlar a ação conjunta (Provan & Kenis, 2007Provan, K., & Kenis, P. (2007). Modes of network governance: Structure, management, and effectiveness. Journal of Public Administration Research and Theory, 18(2), 229-252.), como podemos ver na coluna com impacto das práticas da instituição. Em nossa opinião, o trabalho político ajuda a institucionalização da “cooperação” da instituição porque ajuda a criar mecanismos de governança para os atores. O trabalho político está intimamente ligado à coordenação da rede em formação. As redes de governança compartilhada consistem em grupos de organizações que trabalham coletivamente.

Por fim, o trabalho cultural promove atividades de trabalho que identificam os grupos sociais a partir do desenvolvimento da prática que valoriza o estilo de vida do grupo. Nesse sentido, no AVA, procuraram realizar processos produtivos com produtos regionais, apoiar atividades pertencentes à cultura local, como as extrativistas de produtos florestais, promover e valorizar as atividades. As principais práticas do trabalho cultural são apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6
Práticas do trabalho institucional cultural

Ao analisar o tipo de impacto promovido pelo trabalho institucional cultural, descobrimos que esse tipo de trabalho é importante para a criação da instituição, pois aumenta a conectividade dos atores. Segundo Balestrin e Verschoore (2016Balestrin, A., & Verschoore, J. (2016). Redes de cooperação empresarial: Estratégias de gestão na nova economia (2nd ed.). Porto Alegre: Bookmamn.), a possibilidade de uma rede atingir seus objetivos comuns está intimamente ligada à capacidade de seus membros em estabelecer conexões entre si, pois promove a criação de fortes laços na comunidade.

Todas essas práticas foram usadas intencionalmente, motivadas pela série de objetivos listados na Tabela 3 e parecem ter sido bem-sucedidas na consolidação da colaboração como uma alternativa importante às usadas diariamente na comunidade AVA. Considerando as constatações sobre os tipos de trabalho institucional na comunidade, afirmamos que os três tipos de trabalho institucional foram capazes de criar as condições para o estabelecimento de redes cooperativas: objetivos comuns, governança e conectividade.

4.1.3 Principais resultados obtidos com a institucionalização da cooperação

A pesquisa de campo com os residentes da AVA destaca que o trabalho desenvolvido na comunidade e entre os parceiros contribuiu para alterar positivamente a realidade da região. Por exemplo, as declarações de I1, I3, I5, I7, I8 e I9 (vide Tabela 7) possibilitaram listar algumas mudanças no AVA, considerando suas percepções sobre aspectos econômicos, sociais e ambientais.

Tabela 7
Principais resultados obtidos com a institucionalização da cooperação.

Os principais resultados econômicos são: 1) Geração de renda para a comunidade do AVA; 2) Geração de renda para os povos indígenas; 3) Diversificação da produção agrícola. Os principais resultados sociais são: 4) Legalidade do assentamento; 5) Acesso ao consumo; 6) Pessoas capazes de retomar os estudos após um longo período de tempo (2 para o ensino superior, 2 para o ensino fundamental e médio); 7) Acesso à informação; 8) Cursos de treinamento em diferentes áreas; 9) Os povos indígenas estão aprendendo a lidar com o dinheiro; 10) Prática e disseminação da língua materna e dos costumes para os filhos dos povos indígenas; 11) Construção de residências para os povos indígenas; 12) Cultivo de práticas culturais indígenas (caça, pesca familiar); 13) Inclusão das mulheres nos processos produtivos. Os principais resultados ambientais são: Conscientização sobre o meio ambiente; 14) Geração de poucos resíduos; 15) Certificação orgânica da produção; 16) Atividade que não prejudica a natureza; 17) Conservação da floresta e de áreas de assentamento; 18) Incentivo ao cultivo da castanha-do-pará e à preservação da floresta; 19) Minimização das atividades de extração de madeira e minério em áreas indígenas; 20) Preservação ambiental; 21) Conscientização sobre a importância da floresta.

A estrutura proposta considerou que as práticas de trabalho desenvolvidas por um grupo de atores sociais promovem a institucionalização do comportamento cooperativo que, por sua vez, promoverá resultados nos aspectos social, econômico e ambiental em uma comunidade vulnerável localizada na Amazônia.

Nossa análise de dados aponta que a institucionalização da cooperação ocorre por meio do desenvolvimento de projetos conjuntos entre os atores locais. É a partir da apresentação dos projetos conjuntos que os atores percebem e criam novos objetivos comuns. A existência de objetivos comuns é a força motriz na formação das redes (Balestrin & Verschoore, 2016Balestrin, A., & Verschoore, J. (2016). Redes de cooperação empresarial: Estratégias de gestão na nova economia (2nd ed.). Porto Alegre: Bookmamn.).

Nossa análise mostrou que o trabalho técnico institucional é o primeiro a se desenvolver na comunidade, funcionando como motivador para os demais tipos de trabalho e suas práticas. As práticas de trabalho político verificadas no assentamento contribuem para o desenvolvimento das regras e para o funcionamento da rede. Mostramos que o processo de tomada de decisão é participativo; há pouca formalização de regras e pouca centralização de decisões, e as práticas identificadas proporcionam uma forma de governança participativa (Provan & Kenis, 2007Provan, K., & Kenis, P. (2007). Modes of network governance: Structure, management, and effectiveness. Journal of Public Administration Research and Theory, 18(2), 229-252.) para a rede formada no AVA. O trabalho cultural institucional fortalece os vínculos entre os atores de uma rede, pois cria oportunidades de interação, criação de amizades e criação de uma identidade coletiva. A existência de objetivos comuns é a força motriz na formação das redes, mas as estratégias coletivas dificilmente trarão ganhos substanciais sem uma conectividade robusta entre os membros (Todeva, 2006Todeva, E. (2006). Business networks: Strategy and structure. London: Routledge.).

5 Considerações finais

Segundo Mair e Marti (2009Mair, J., & Marti, I. (2009). Entrepreneurship in and around institutional voids: A case study from Bangladesh. Journal of Business Venturing, 24(5), 419-435.), há poucas pesquisas dedicadas a estudos que consideram o papel da falta de recursos, da falta de poder e de atores periféricos considerados atores marginais. Nessas situações, seria impossível esperar que um ator sozinho alcançasse resultados que modificassem a realidade local e, portanto, a cooperação parece ser uma opção importante. Neste estudo, apresentamos como a criação de uma instituição pode ser fundamental para reduzir a vulnerabilidade social. A instituição criada neste estudo era uma rede de negócios entre os atores.

A cooperação nesse cenário ocorre por meio de projetos colaborativos temporários que têm começo, meio e fim. Como a literatura observa, o trabalho institucional é dinâmico e processual, o que demonstra que é possível criar novas instituições a partir de modelos organizacionais, conforme sugerido por Clemens (1993Clemens, E. S. (1993). Organizational repertoires and institutional Change: Women´s groups and the transformation of US politics, 1890-1920. American Journal of Sociology, 98(4), 755-798.). Nesse sentido, a formação de redes de cooperação é estabelecida neste estudo como um modelo organizacional (Thompson, 1967Thompson, J. W. (1967). Organizations in Action. (Reprinted from New Brunswick, ed. 2003, NJ: Transaction Publishers). New York: McGraw Hill.) que norteia o processo de criação de uma instituição. Os projetos foram desenvolvidos sistematicamente desde a fundação do AVA, envolvendo diferentes atores do ambiente institucional em que o assentamento está inserido: governo, famílias, comunidades indígenas, universidades e a comunidade civil. Os projetos desenvolvidos no AVA utilizaram diferentes formas de cooperação.

Como indicado na Figura 2, no entanto, um novo arranjo foi formado, no qual a COOPAVAM é um elo importante na configuração de diferentes díades e tríades. Foi confirmado que todas as práticas de trabalho ocorrem recursivamente com os resultados do trabalho desenvolvido lá (Lawrence & Suddaby, 2006Lawrence, T. B., & Suddaby, R. (2006). Institutions and institutional work In: S. R. Clegg, C. Hardy, T. Lawrence, & T. R. Nord. Handbook of organization studies (2nd ed., pp. 215-254). Sage Publications.), o que significa que, conforme as práticas atendem às suas demandas, os resultados promoverão a manutenção das práticas de trabalho que promovam a cooperação e a criação de outras práticas. As relações interorganizacionais no contexto social da comunidade são formalizadas para promover o desenvolvimento local a partir de relacionamentos estabelecidos com prazos determinados, seguindo uma agenda de atividades ou projetos apresentados a agências de desenvolvimento.

Este estudo apresenta as seguintes contribuições teóricas e empíricas: a) contribui para o campo do trabalho institucional em contextos socialmente vulneráveis; b) apresenta um conjunto de práticas que podem ser replicadas em realidades sociais semelhantes; c) descobrimos uma relação hierárquica entre os tipos de trabalho relacional para criar a instituição cooperativa; d) destacamos que alguns tipos de trabalho institucional podem desenvolver diferentes condições para o estabelecimento de redes de negócio; e e) as práticas e limitações de trabalho encontradas nesse contexto social podem servir de guia para o estabelecimento de políticas públicas que atendam efetivamente às demandas desses grupos sociais.

Foi possível identificar práticas de trabalho que estabelecem cooperação nas demandas e ações cotidianas das comunidades, ou seja, na criação da instituição. A cooperação como instituição é dinâmica e processual, conforme apresentado pelos autores dessa lente teórica. O grande desafio enfrentado por essa comunidade é manter essa instituição. Enfatizamos que, para manter uma instituição ou rede recém-criada, um trabalho institucional que garanta a aderência a novos modos de funcionamento e que introduza fundamentos normativos do novo perfil nas rotinas diárias e nas práticas de trabalho do público-alvo deve ser executado continuamente. Estudos futuros podem se dedicar à identificação de práticas de trabalho institucional para a manutenção da rede. Além disso, casos de redes que se dissolveram poderiam ser estudados para entender quais práticas podem destruir uma instituição.

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  • Há versão preliminar apresentada em congresso ou derivada de tese/dissertação?

    Não.
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    Onde se lia:
    “Rev. Bras. Gest. Neg. São Paulo v.21 n.4 out-dez. 2019 p. 683-705.”
    Leia-se:
    “Rev. Bras. Gest. Neg. São Paulo v.21, Special Issue. 2019 p. 683-705”

Editado por

Editor responsável:

Prof. Dr. João Maurício Gama Boaventura

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2020
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    29 Dez 2017
  • Aceito
    16 Jan 2019
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