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Tradução e adaptação transcultural do instrumento de avaliação do quadril Hip Fracture Recovery Score Estudo desenvolvido no Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Instituto Doutor José Frota de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil.

RESUMO

OBJETIVO:

O questionário Hip Function Recovery Score consiste em um instrumento desenvolvido para avaliação da recuperação funcional de pacientes acima de 60 anos submetidos a tratamento cirúrgico devido a fraturas do quadril. O objetivo deste estudo foi fazer a tradução transcultural de forma criteriosa do questionário e adaptá-lo às características individuais e culturais da população brasileira.

MÉTODO:

Este método consiste em tradução inicial, retrotradução, elaboração de uma versão de consenso e pré-teste comentado com posterior elaboração de uma versão final após as alterações necessárias sem modificar a semântica das perguntas do texto original.

RESULTADOS:

A versão de consenso foi aplicada em 30 pacientes, acima de 60 anos, que foram submetidos a tratamento cirúrgico devido a fraturas do quadril. Foram observadas, entretanto, algumas dificuldades no entendimento de algumas palavras e expressões, as quais foram substituídas por termos de mais fácil entendimento. Após a elaboração da versão final, reaplicou-se essa versão aos mesmos pacientes e obteve-se um entendimento total.

CONCLUSÃO:

A tradução transcultural do questionário terá impacto imediato na avaliação funcional dos pacientes com mais de 60 anos operados devido a fraturas do quadril e, posteriormente, outros trabalhos nacionais podem usar esse questionário padronizado e adaptado à nossa cultura para comparação de resultados e enriquecer a produção científica do Brasil.

Palavras-chave:
Quadril/cirurgia; Avaliação funcional; Tradução; Questionário

ABSTRACT

OBJECTIVE:

The Hip Function Recovery Score questionnaire is an instrument that was developed for evaluating the functional recovery of patients over 60 years of age who undergo surgical treatment due to hip fractures. The objective of this study was to make a thorough transcultural translation of this questionnaire, with adaptation to the individual and cultural traits of the Brazilian population.

METHOD:

This translation method consisted of initial translation, back translation, drafting of a consensual version and pretesting with comments invited. Subsequently, a final version was drawn up after making the necessary adjustments, without altering the semantics of the questions in the original text.

RESULTS:

The consensual version was applied to thirty patients over the age of 60 years who had undergone surgical treatment due to hip fractures. However, some difficulties in understanding some words and expressions were observed, and these were then replaced with terms that were more easily understood. After the final version had been drawn up, this was applied to the same patients and full understanding was achieved among some of them, without altering the semantics of the questions of the original text.

CONCLUSION:

The transcultural translation of the Hip Function Recovery Score will have an immediate impact on functional evaluations on patients over 60 years of age who underwent surgery due to hip fracture. It will subsequently be possible for other Brazilian scientific studies to use this questionnaire, which has been standardized and adapted to Brazilian culture, in order to make comparisons between results, thereby enriching Brazilian scientific production.

Keywords:
Hip/surgery; Functional evaluation; Translation; Questionnaire

Introdução

As fraturas do quadril incluem o conjunto das fraturas intertrocantéricas, cabeça/colo femoral e acetábulo. Esse conjunto incide em todas as faixas etárias e constitui um grande problema de saúde pública brasileiro. A população mais envolvida nesse problema está na faixa etária geriátrica, já que a incidência de fraturas do quadril aumenta com a idade e dobra a cada 10 anos depois dos 50 anos.11. Skinner HB. Current diagnosis & treatment in orthopedics. 4th ed. Califórnia: Lange Medical Books/McGraw-Hill; 2006.

O crescente aumento da expectativa de vida da população nas últimas décadas, associado a um estilo de vida mais ativo dos idosos e às comorbidades presentes nessa população, como a redução da massa magra, do equilíbrio, dos reflexos e da densidade mineral óssea, resulta em osteopenia e osteoporose e tem levado a um aumento de fraturas na população geriátrica.22. Woo J, Hong A, Lau E, Lynn H. A randomised controlled trial of Tai Chi and resistance exercise on bone health, muscle strength and balance in community-living elderly people. Age Ageing. 2007;36(3):262-8.

A mortalidade após fraturas de quadril se aproxima de 10% no primeiro mês e cerca de 30% em um ano. Entre os pacientes que sobrevivem, grande parte evolui com uma redução da mobilidade e do grau de independência.33. McBride TJ, Panrucker S, Clothier JC. Hip fractures: public perceptions. Ann R Coll Surg Engl. 2011;93(1):67-70.

A maioria dos estudos tem o enfoque, principalmente, na mortalidade causada por esses traumas. No entanto, os estudos que avaliam a morbidade, ou seja, a perda de função pós-fratura, são menos comuns.44. Guimarães FAM, Lima RR, Souza AC, Livan B. Avaliação da qualidade de vida em pacientes idosos um ano após o tratamento cirúrgico de fraturas transtrocanterianas do fêmur. Rev Bras Ortop. 2011;46 Suppl. 1:48-54. O tratamento das fraturas do quadril com cirurgia é considerado o padrão-ouro, posto que reduz algumas complicações relacionadas à imobilização prolongada, como eventos tromboembólicos e úlceras de decúbito.55. Legnani C, Dondi A, Pietrogrande L. Conservative treatment of a femoral neck fracture following nail removal. J Midlife Health. 2013;4(3):191-4.

Devido à incidência crescente de fraturas de quadril e, consequentemente, a um maior número de procedimentos cirúrgicos para esse tipo de trauma, torna-se fundamental a avaliação do grau de qualidade de vida e independência dos pacientes após terem sido submetidos à cirurgia. Uma forma de avaliar os resultados funcionais após o tratamento cirúrgico de fraturas do quadril é por meio de questionários, com o objetivo de acompanhar a melhoria ou não das funções do cotidiano do paciente.

Um estudo aplicou um questionário em 537 idosos com fratura de quadril com três parâmetros, self-care, transfers e locomotion, para mensuração do grau de independência dos pacientes após correção cirúrgica. 66. Cornwall R, Gilbert MS, Koval KJ, Strauss E, Siu AL. Functional outcomes and mortality vary among different types of hip fractures: a function of patient characteristics. Clin Orthop Relat Res. 2004;(425):64-71. Posteriormente, outra pesquisa envolveu 154 fraturas do terço proximal do fêmur tratadas cirurgicamente e usou o questionário Hip Function Recovery Score () elaborado por Zuckerman et al. 77. Zuckerman JD, Koval KJ, Aharonoff GB, Hiebert R, Skovron ML. A functional recovery score for elderly hip fracture patients: I. Development. J Orthop Trauma. 2000;14(1):20-5.,88. Zuckerman JD, Koval KJ, Aharonoff GB, Skovron ML. A functional recovery score for elderly hip fracture patients: II. Validity and reliability. J Orthop Trauma. 2000;14(1):26-30.and99. Zuckerman JD. Hip fracture. N Engl J Med. 1996;334(23):1519-25. Esse consiste em 11 perguntas relacionadas às atividades de vida diária: quatro relacionadas à independência nas atividades básicas, seis às atividades instrumentais e uma à mobilidade.1010. Guerra MTE, Thober TA, Bigolin AV, Souza MP, Echeveste S. Fratura do quadril: avaliação pós-operatória do resultado clínico e funcional. Rev Bras Ortop. 2010;45(6):577-82. No entanto, esse questionário foi usado em sua forma original, a partir da língua inglesa, traduzido de maneira literal.1010. Guerra MTE, Thober TA, Bigolin AV, Souza MP, Echeveste S. Fratura do quadril: avaliação pós-operatória do resultado clínico e funcional. Rev Bras Ortop. 2010;45(6):577-82.

Sabemos da importância da tradução para a língua portuguesa de questionários escritos na língua inglesa e da adaptação também desses questionários às características individuais e culturais da população local para torná-los adequados ao contexto cultural da população-alvo.1111. Oliveira LP, Moura CT, Nunes CDC, Cavalheiro QM, Cavalli PG. Tradução e adaptação cultural do Hip Outcome Score para a língua portuguesa. Rev Bras Ortop. 2014;49(3):297-304.and1212. Marx FC, Oliveira LM, Bellini CG, Ribeiro MCC. Tradução e validação cultural do questionário algofuncional de Lequesne para osteoartrite de joelhos e quadris para a língua portuguesa. Rev Bras Reumatol. 2006;46(4):253-60. Portanto, uma tradução padronizada de questionários da língua inglesa para a portuguesa torna-se fundamental para uma avaliação fidedigna das informações extraídas a partir desses questionários traduzidos, o que permite uma melhor comparação entre trabalhos científicos que abrangem diferentes técnicas operatórias e distintos programas de reabilitação dos pacientes vítimas de fraturas que envolvem o quadril e que foram submetidos a tratamentos cirúrgicos.

Portanto, temos como objetivo fazer a tradução transcultural de forma criteriosa do questionário Hip Function Recovery Score elaborado por Zuckeman et al.77. Zuckerman JD, Koval KJ, Aharonoff GB, Hiebert R, Skovron ML. A functional recovery score for elderly hip fracture patients: I. Development. J Orthop Trauma. 2000;14(1):20-5.and88. Zuckerman JD, Koval KJ, Aharonoff GB, Skovron ML. A functional recovery score for elderly hip fracture patients: II. Validity and reliability. J Orthop Trauma. 2000;14(1):26-30. e adaptá-lo às características individuais e culturais da população brasileira.

Material e métodos

O estudo em questão consistiu em um estudo de coorte, qualitativo e observacional, tendo em vista que não fizemos qualquer intervenção na forma em que os pacientes foram acompanhados pela equipe de traumatologia do hospital. Proporcionamos, assim, apenas uma avaliação sobre os questionários e buscamos as possíveis dificuldades de entendimento por partes dos participantes da pesquisa.

O método de tradução e adaptação cultural do questionário Hip Function Recovery Score(tabela 1) para a língua portuguesa usou os critérios descritos por Guillemin et al.1313. Guillemin F, Bombardier C, Beaton D. Cross- cultural adaptation of health- related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol. 1993;46(12):1417-32. e Heruti et al.1414. Heruti RJ, Lusky A, Barell V, Ohry A, Adunsky A. Cognitive status at admission: does it affect the rehabilitation outcome of elderly patients with hip fracture? Arch Phys Med Rehabil. 1999;80(4):432-6. e revisados por Beaton et al.,1515. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross- cultural adaptation of self- report measures. Spine (Phila Pa 1976). 2000;25(24):3186-91. que consistem em um conjunto de instruções padronizadas para adaptação cultural de instrumentos de qualidade de vida que resumidamente incluem quatro etapas: tradução inicial, retrotradução, tradução de consenso e pré-teste.

Tabela 1
Tradução do questionário Hip Function Recovery Score

Essa padronização visa a obter uma adaptação cultural de expressões para que não haja perda da semântica durante o processo de tradução.1616. Carneiro MB, Alves DPL, Mercadante MT. Fisioterapia no pós-operatório de fratura proximal do fêmur em idosos. Revisão da literatura. Acta Ortop Bras. 2013;21(3):175-8. Esse método de tradução consiste em tradução inicial seguida de uma retrotradução e, posteriormente, uma apreciação das versões com elaboração de uma versão de consenso e pré-teste comentado com elaboração da versão final.

Inicialmente o questionário Hip Function Recovery Score, em sua versão original em inglês, foi traduzido para o português por dois tradutores juramentados, independentes e bilíngues que tinham como língua principal o português e fluência na língua inglesa (tabela 1). Posteriormente, as duas versões foram confrontadas e se chegou a uma versão de consenso. Essa foi, então, retrotraduzida à língua inglesa por outros dois tradutores bilíngues, cuja língua principal é o inglês e que apresentam fluência na língua portuguesa e residem no Brasil (tabela 2). Os tradutores responsáveis pela retrotradução não tinham conhecimento da versão original do questionário em inglês.

Tabela 2
Retrotradução da versão consenso do questionário Hip Function Recovery Score

As duas traduções obtidas foram avaliadas por um grupo, composto por tradutores, médicos pesquisadores e professor da língua portuguesa, para que, por meio de comparação com o texto original, ocorresse a correção de discrepâncias e fosse elaborada uma versão de consenso (tabela 2).

A versão de consenso foi empregada como pré-teste e aplicada a 30 pacientes e cuidadores de pacientes vítimas de fraturas do quadril acima de 60 anos que foram submetidos a tratamento cirúrgico em um hospital de referência em traumatologia, para avaliação da compreensão e da aceitabilidade do instrumento e para a estimativa de possíveis necessidades de alterações devido a dificuldades encontradas pelos pesquisadores e pacientes no momento da aplicação dos questionários. Não se aplicou o questionário a pacientes ou cuidadores que não tinham um grau razoável de orientação e/ou cognição satisfatório na resposta aos questionários, para que não houvesse interferência nos resultados sobre o entendimento das perguntas.

Todos os pacientes convidados a participar da pesquisa foram orientados sobre os princípios do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa em questão foi avaliada e aprovada por um Comitê de Ética em Pesquisa e está em conformidade com a Resolução 466/12.

Após a aplicação da versão de consenso, ocorreram reuniões com um cirurgião de quadril, também membro da equipe envolvida na pesquisa, para avaliar as dificuldades encontradas pelos pacientes e aplicadores na versão de consenso. Com base nas sugestões, foi elaborada a versão final em português do questionário de Recuperação Funcional de Fratura em Idosos (), incluindo algumas explicações entre parênteses para aquelas expressões consideradas de difícil compreensão. Posteriormente, o novo questionário, dessa vez com as alterações necessárias, foi reaplicado aos mesmos pacientes.

Resultados

Foi obtida uma grande semelhança entre as versões dos dois tradutores (T1 e T2). Quando os termos não eram idênticos, optamos pela tradução que considerávamos de mais fácil entendimento por parte dos indivíduos pesquisados. A tabela 1 apresenta a versão original em conjunto com as duas traduções feitas por tradutores juramentados.

Entre as diferenças encontradas nas traduções, optamos pela versão do tradutor 1 no item "banho", já que percebemos que utensílio banheira não está no cotidiano da maior parte da população brasileira. Optamos pela tradução de capacidade de tomar banho. No item "alimentação", escolhemos a tradução 2, pois julgamos de mais fácil entendimento a expressão manipular comida em vez de manuseio de alimento, além de elegermos o termo sonda em detrimento de tubo de alimentação, pois melhor caracteriza o uso de instrumento de auxílio para nutrição. Percebemos ainda, diferenças na tradução do termo bedpan e obtivemos como traduções as palavras aparador e comadre. Selecionamos o termo aparador, inicialmente traduzido pelo tradutor 1. Outro tópico que gerou discussão foi a tradução da palavra bending no item "trabalho em casa", demonstrada como "flexão" (T1) e "curvar-se" (T2). Nesse caso optamos pela expressão usada pelo tradutor 1. Outra disparidade importante ocorreu no componente "mobilidade", no qual optamos pela tradução 2, já que faz referência a caminhar ao ar livre, não usa a expressão caminhar em ambiente externo.

Após a elaboração da versão de consenso, aplicamos essa versão a 30 pacientes, com o intuito de avaliar a compreensão, a equivalência semântica, possíveis discrepâncias culturais e analisar a conceituação da tradução proposta. Do ponto de vista de entendimento do questionário, não se observou dificuldade na compreensão das palavras traduzidas. No entanto, houve dificuldade em relação a alguns costumes da população brasileira. Nos itens que têm referência a "lavagem de roupa", "trabalho em casa" e "preparação de comida", observou-se que os idosos do sexo masculino não costumavam fazer atividades domésticas, têm dificuldade de responder esses itens. No item "compra de alimentos/comida", ampliamos as possibilidades de compras em lojas para compras em supermercado, padaria e mercearia, pois culturalmente as mulheres no Brasil fazem mais compras em supermercados, enquanto que os homens fazem compras usuais do dia a dia em padarias e mercearias (ex: comprar pão). No item "trabalho doméstico" optou-se por colocar entre parênteses as palavras "erguer" e "curvar-se" como referência às palavras elevação e flexão, respectivamente, com o uso de tal artifício para aumentar o entendimento por parte dos pesquisados.

Após as modificações sugeridas em concordância pelos autores durante a aplicação da versão de consenso, foi elaborada a versão final do questionário de Recuperação Funcional de Fratura em Idosos. Essa versão pode ser vista no e foi aplicada aos 30 pacientes anteriormente pesquisados. Na reaplicação, houve entendimento total por parte desses pacientes no que diz respeito à semântica.

Discussão

Ortopedistas usualmente avaliam seus resultados cirúrgicos baseados em parâmetros como posicionamento do material de síntese, taxa de consolidação óssea, percentual de infecção e arco de movimento. Entretanto, particularmente em idosos, uma cirurgia satisfatória, do ponto de visto técnico, não necessariamente resulta em bons resultados funcionais. Baseados nisso, buscamos trazer para a comunidade médica brasileira a tradução padronizada transcultural de um questionário de avaliação funcional mundialmente difundido, inclusive com diversas citações na literatura médica nacional, anteriormente usado na sua tradução literal, porém sem haver a preocupação de adaptar para a realidade cultural do nosso país, o que prejudica até a comparação entre artigos nacionais.

Dentre os fatores que mais influenciam a perda da capacidade funcional estão a dependência funcional prévia à fratura, o número de comorbidades, a idade avançada, a perda da capacidade cognitiva e a baixa capacidade funcional no momento da alta hospitalar.1717. Guimarães FAM, Lima RR, Souza AC, Livani B, Belangero WD. Avaliação da qualidade de vida em pacientes idosos um ano após o tratamento cirúrgico de fraturas transtrocanterianas do fêmur. Rev Bras Ortop. 2011;46 Suppl. 1:48-54. Fatores como gênero feminino, ausência de diabetes mellitus, capacidade de deambulação independente e não viver sozinho antes da fratura podem ser fatores de melhor prognóstico. 1818. Semel J, Gray JM, Ahn HJ, Nasr H, Chen JJ. Predictors of outcome following hip fracture rehabilitation. PMR. 2010;2(9):799-805.

As comorbidades associadas têm sido relacionadas como precursoras da mortalidade após fraturas do quadril. O efeito das comorbidades sobre a mortalidade tem sido medido tanto pela quantidade de doenças coexistentes quanto pelo seu tipo. Pacientes com maior número de doenças coexistentes têm maior possibilidade de morrer.1919. Souza RC, Pinheiro RS, Coeli CM, Camargo Junior KR, Torres TZG. Aplicação de medidas de ajuste de risco para a mortalidade após fraturar proximal de fêmur. Rev Saúde Pública. 2007;41(4):625-31.

Neste tipo estudo, optou-se por alterar ao mínimo a estrutura do instrumento original, não incluir ou excluir itens do questionário, a fim de não promover maiores alterações das propriedades psicométricas e permitir a comparação das versões.

Buscou-se assegurar uma uniformidade entre as versões, alterar apenas pequenas diferenças de hábitos culturais de vida pertinentes à população local. Os tradutores juramentados que participaram do trabalho eram intérpretes/tradutores de áreas diferentes da saúde, com o intuito de minimizar termos técnicos que pudessem dificultar o entendimento pela população em geral.

No pré-teste, existiram algumas dificuldades de compreensão em alguns termos, que após nova discussão e elaboração da versão final, apresentou a nova aplicação se com fácil reprodutibilidade e entendimento entre os pacientes.

Conclusão

O processo de tradução e adaptação cultural de questionários elaborados em língua estrangeira deve ser feito de maneira criteriosa, como fizemos com o questionário Hip Function Recovery Score. Obtivemos um excelente entendimento, por parte dos entrevistados, das perguntas do questionário após a elaboração da versão final brasileira. Os artigos científicos posteriores poderão usar esse questionário padronizado, que poderá servir como comparação de resultados na avaliação dos diversos programas de tratamento e reabilitação de pacientes idosos operados devido a fraturas do quadril e enriquecer a produção científica nacional.

Agradecimentos

A todos os pacientes que contribuíram para a feitura deste estudo.

Anexo 1. Versão final do questionário deRecuperação Funcional de Fratura em Idosos

Banho
(P) Você pode tomar um banho ou ducha por si mesmo(a)?
(4) a. Capaz de tomar um banho, banho com esponja ou chuveiro (pode incluir o uso de acessórios: tamborete, banco, cadeira, corrimão);
(3) b. Precisa de ajuda com a lavagem de uma única parte do corpo (por exemplo, costas, extremidade deficiente ou pés) ou precisa de um observador;
(2) c. Precisa de ajuda para entrar e sair da banheira;
(1) d. Precisa de ajuda para lavar mais de uma parte do corpo;
(0) e. Sempre precisa ser banhado(a) por outras pessoas.
Vestir
(P) Você pode vestir-se por si mesmo(a)?
(4) a. Capaz de vestir as roupas, calçar sapatos, meias e lidar com botões/zíperes (exclui atar os cadarços);
(3) b. Precisa de ajuda com botões e zíperes;
(2) c. Precisa de ajuda com sapatos e meias (em uma ou ambas as pernas);
(1) d. Precisa de ajuda com até 3 itens;
(0) e. Sempre precisa ser vestido(a) por outras pessoas.
Alimentar-se
(Q) Você consegue se alimentar?
(4) a. Consegue apanhar a comida do prato, cortar e colocar na boca;
(3) b. Necessita de outros para pré-cortar sua carne;
(2) c. Necessita de assistência para manipular a comida (ex. passar manteiga no pão);
(1) d. Sempre necessita ser alimentado por outros;
(0) e. Não come nada, alimenta-se por via intravenosa ou alimentação por sonda;
Ir ao banheiro
(P) Você pode usar o banheiro por si mesmo(a)?
(4) a. Capaz de ir ao banheiro, sentar e levantar do sanitário, manusear as roupas e limpar os órgãos de excreção (pode incluir o uso de suportes mecânicos);
(3) b. Precisa de ajuda para sentar e levantar do sanitário; OU
c. Manuseia o próprio aparador (apenas para uso durante a noite);
(2) d. Precisa de ajuda com sentar e levantar do sanitário e ajustar as roupas;
(1) e. Precisa de ajuda com a limpeza dos órgãos de excreção;
(0) f. Veste fraldas ou usa um cateter, pinico ou aparador em todos os momentos.
Compra de alimentos
(P) Você pode comprar os seus próprios alimentos?
(4) a. Capaz de ir até a loja (supermercado, padaria e mercearia), escolher alimentos, colocar os itens no carrinho e carregar/mover sobre rodinhas os alimentos para casa;
(3) b. Precisa de ajuda para ir até a loja (supermercado, padaria e mercearia); OU
c. Capaz de fazer pequenas compras de forma independente; OU
d. Precisa de ajuda para levar os alimentos para casa; OU
e. O paciente é capaz de fazê-lo, mas outra pessoa o faz mesmo assim.
(2) f. Precisa de ajuda com a escolha dos alimentos: inseguro(a) sobre o que precisa comprar; OU
g. Sempre deve ser acompanhado(a) (por exemplo, deficiências físicas, psicológicas, visuais);
(1) h. Precisa de ajuda com duas ou mais tarefas associadas às compras de alimentos;
(0) i. Completamente incapaz de fazer compras.
Trabalho doméstico
(P) Você pode trabalhar por si mesmo(a)?
(4) a. Capaz de manter o lar sozinho(a) ou com ajuda ocasional (por exemplo, ajuda doméstica para limpeza pesada);
(3) b. Capaz de executar todas as tarefas de manutenção do lar com assistência (por exemplo, elevação [erguer-se]/flexão [curvar-se]); OU
c. Paciente é capaz de fazê-lo, mas outra pessoa o faz mesmo assim;
(2) d. Capaz de executar as tarefas diárias durante o dia que não requerem flexão (curva-se);
(1) e. Precisa de ajuda com as tarefas domésticas leves;
(0) f. Não pode participar em quaisquer tarefas de limpeza do lar.
Lavar a roupa
(Q) Você faz a lavagem de roupa sozinho?
(4) a. Consegue ir à lavanderia/área de serviço, carregar e descarregar a máquina de lavar e usar a máquina ou consegue lavar tudo a mão;
(3) b. Necessita de assistência para ir à lavanderia/área de serviço; OU
c. Necessita de assistência para pendurar a roupa (incapaz de alcançar); OU
d. O paciente conseguiria lavar a roupa se ele/ela tivesse máquina de lavar em casa; OU
e. O paciente é capaz de fazer isso, mas outra pessoa faz;
(2) f. Consegue roupas delicadas e pessoais à mão; OU
g. Necessita de assistência para carregar e descarregar a máquina de lavar;
(1) h. Consegue ir à lavanderia, mas precisa de outros para fazer todo o resto;
(0) i. Toda a lavagem de roupa deve ser feita por outros.
Preparar a comida
(Q) Você consegue preparar sua comida sozinho?
(4) a. Consegue ficar de pé ou sentar na cozinha e preparar uma pequena refeição ou sanduíche;
(3) b. O paciente consegue fazer isso, mas outra pessoa faz;
(2) c. Consegue preparar uma pequena refeição ou sanduíche se tiver os ingredientes à mão;
(1) d. Consegue apenas reaquecer comidas preparadas;
(0) e. Deve ter todas as refeições preparadas por outros.
Banco/Finanças
(P) Você pode fazer as suas próprias operações bancárias e cuidar de suas finanças?
(4) a. Capaz de gerir questões financeiras (vai ao banco, faz transações, lida com dinheiro e conta corrente e mantém o controle de renda);
(3) b. Precisa de ajuda para ir ao banco e voltar; OU
c. Faza pagamentos e operações bancárias por correio; OU
d. Não pode ir até o banco, mas é capaz de executar todas as outras tarefas financeiras; OU
e. Paciente é capaz de fazê-lo, mas outra pessoa o faz mesmo assim;
(2) f. Capaz de gerir as compras do dia a dia, mas precisa de ajuda com operações bancárias e grandes compras;
(1) g. Precisa ser levado até o banco e requer outras pessoas para lidar com transações e todas as outras necessidades financeiras;
(0) h. Incapaz de lidar com quaisquer questões financeiras.
Uso de transporte
(P) Você pode usar o ônibus, trem, carro ou táxi por si mesmo(a)?
(4) a. Capaz de viajar de forma independente no transporte público (ou seja, capaz de entrar e sair do ônibus ou trem) ou dirigir o próprio carro;
(3) b. Organiza a própria viagem de táxi, mas não usa ônibus ou trem; OU
c. Precisa de ajuda para subir e descer escadas;
(2) d. Deve estar sempre acompanhado(a) (por exemplo, deficiências físicas, psicológicas, visuais);
(1) e. Viagem limitada a ambulância, táxi ou carro com assistência;
(0) f. Totalmente incapaz de viajar.
Mobilidade
(Q) Você consegue caminhar ao ar livre/dentro de casa sozinho?
(4) a. Consegue caminhar ao ar livre sem uma bengala ou andador (inclui carrinho de compras, assistência pessoal);
(3) b. Consegue caminhar ao ar livre com uma bengala, muletas ou andador;
(2) c. Incapaz de caminhar ao ar livre, mas consegue caminhar em casa sem uma bengala, muletas ou andador;
(1) d. Incapaz de caminhar ao ar livre, mas consegue caminhar em casa com uma bengala, muletas ou andador;
(0) e. Totalmente incapaz de caminhar; usa uma cadeira de rodas para se movimentar ou fica na cama.

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  • Estudo desenvolvido no Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Instituto Doutor José Frota de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    23 Jul 2015
  • Aceito
    17 Ago 2015
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