Resumo
A problemática que orientou esta pesquisa foi: o que se encontra nos artigos publicados no periódico Bolema no quinquênio de 2013-2017 quando se procura pelo termo aprendizagem? Para responder a tal questão realizamos um levantamento em que a seleção dos artigos teve como disparador de busca as expressões aprend e learn, representativas da palavra aprendizagem. De posse desses documentos assumimos os procedimentos interpretativos indicados pela Análise de Conteúdo. Quanto aos resultados, os primeiros movimentos com o corpus evidenciaram quatro categorias: quem aprende; o que aprende; em que contexto aprende e como aprende, enfatizando os seguintes sujeitos da aprendizagem: alunos do Ensino Fundamental, licenciandos em Matemática e professores que ensinam Matemática. Tais sujeitos aprendem sobre conceito matemático, conteúdo matemático e prática docente. Pode-se perceber tal fato em contextos como as abordagens/tendências da Educação Matemática, em comunidades práticas, no estágio supervisionado e como produto educacional por meio da Resolução de Problemas, da Investigação Matemática e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O segundo movimento que emergiu da primeira análise revelou a associação da aprendizagem com o ensino, e quem se destaca para ensinar esses sujeitos é o pesquisador e o professor pesquisador.
Aprendizagem; Matemática; Educação Matemática; Bolema
Abstract
The problem that guided this research was: what is found in the articles published in the journal Bolema in the 2013-2017 five-year period when looking for the term learning? To answer this question, we carried out a survey in which the selection of articles had as a search trigger the expressions aprend and learn, representative of the word learning. In possession of these documents, we assume the interpretative procedures indicated by the Content Analysis. As for the results, the first movements with the corpus showed four characteristics of Mathematics learning: who learns; what you learn; in what context do you learn and how do you learn, emphasizing the following subjects of learning: Elementary School students, Mathematics undergraduates and teachers who teach Mathematics. Such subjects learn about mathematical concepts, mathematical content, and teaching practice. This fact can be noticed in contexts such as Mathematics Education approaches/trends, in practical communities, in supervised internships, and with educational products through Problem Solving, Mathematics Investigation, and Information and Communication Technologies (ICT). The second movement that emerged from the first analysis revealed the association of learning with teaching, and who stands out to teach these subjects is the researcher and the research teacher.
Learning; Mathematics; Mathematical Education; Bolema
1 Introdução
A aprendizagem da Matemática é um dos temas pesquisados na área da Educação Matemática. Por se tratar de um conceito amplo – a aprendizagem – e sobre o qual há diversos entendimentos, consideramos que uma análise na produção bibliográfica de artigos publicados na área de Educação Matemática possa trazer evidências a respeito da aprendizagem da Matemática. As justificativas pela escolha do periódico Bolema serão apresentadas na seção intitulada: Acervo e constituição do corpus analítico.
Uma das finalidades de pesquisa na produção bibliográfica em periódicos é colocar o pesquisador em contato direto com o que foi escrito sobre determinado assunto. Dessa maneira, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi escrito sobre certo assunto; contudo, permite uma análise minuciosa de um tema sob uma nova perspectiva ou abordagem, chegando a resultados inovadores (Lakatos; Marconi, 2003).
Deste modo, percorreu-se um caminho que indicasse o que os autores/pesquisadores da área de Educação Matemática consideram em seus artigos sobre a aprendizagem da Matemática e que trazem esse tema como foco da discussão.
Diante desse fato, e inspirados em discussões relativas à aprendizagem, este artigo apresenta resultados de uma pesquisa cuja versão completa pode ser encontrada em Oliveira (2019), na qual a questão de investigação levantada para orientar nosso movimento foi assim formulada: o que se encontra nos artigos publicados no periódico Bolema no quinquênio de 2013-2017 quando se procura pelo termo aprendizagem?
Na continuidade, trazemos alguns destaques que nos orientaram em relação ao tema aprendizagem, aspectos metodológicos e relacionados à constituição do corpus investigativo, detalhes pertinentes aos dados e às interpretações que nos conduziram à resposta da questão norteadora.
2 Aprendizagem
Existe um grande número de teorias relativas à aprendizagem que podem ser consideradas: umas com concepções mais tradicionais e outras procurando explorar novas possibilidades e modos de pensar. De acordo com Moreira (2016), uma teoria é um ensaio humano para sintetizar uma área do conhecimento, um modo peculiar de ver as coisas, de explicar e prever observações, de solucionar problemas.
Na perspectiva de Charlot (2000, p. 67),
Aprender é exercer uma atividade em situação: em um local, em um momento da sua história e em condições de tempo diversas, com a ajuda de pessoas que ajudam a aprender. A relação com o saber é relação com o mundo, em um sentido geral, mas é, também, relação com esses mundos particulares nos quais a criança vive e aprende [...].
Por admitirmos que a aprendizagem possa ser compreendida por múltiplos vieses, não aceitando uma definição única e consensual, nesta caminhada investigativa consideramos que “[...] a aprendizagem pode ser definida de maneira ampla, como qualquer processo que, em organismos vivos, leve a uma mudança permanente em capacidades e que não se deva unicamente ao amadurecimento biológico ou ao envelhecimento [...]” (Illeris, 2013, p. 16). Para evidenciar essa amplitude sobre o que a aprendizagem pode abarcar, Illeris (2013) elaborou um esquema que reproduzimos na Figura 1.
No esquema, como podemos observar, há uma delimitação de áreas de estudo da aprendizagem, sugeridas por Illeris (2013), e que representam a Estrutura da teoria. A figura toma como base a teoria de aprendizagem em suas condições psicológicas, biológicas e sociais. No centro, a aprendizagem, em sua estrutura, considera seus processos e dimensões, os diferentes tipos de aprendizagem e os obstáculos, além das condições internas e externas que estão envolvidas na aprendizagem; e, por fim, suas possíveis aplicações.
De acordo com Illeris (2013), na aprendizagem deve-se considerar a interação de dois processos distintos: um processo externo e um processo interno. O processo externo é o de interação entre o indivíduo e seu ambiente social, cultural ou material, e o processo interno – psicológico – é de elaboração e aquisição. Esses dois processos influenciam, assim como estão envolvidos diretamente na aprendizagem.
3 Análise de Conteúdo
De acordo com Lüdke e André (1986), a análise de documentos é uma técnica importante na abordagem qualitativa que busca por novos aspectos de um tema ou problema. Para as autoras, tais documentos podem ser considerados como “[...] leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares [...]” (p. 38, grifo nosso). Impelidos por essas colocações, assumimos que as revistas ou os periódicos existentes e que se dedicam a divulgar resultados de investigações relativas à área de Educação Matemática são documentos na forma de textos impressos ou eletrônicos que podem ser usados como fonte de informação.
Diante disso, realizamos um levantamento que considerou as expressões aprend e learn (representativas da palavra aprendizagem) como disparador de busca para constituir um acervo. Na continuidade consideramos os procedimentos interpretativos estabelecidos pela Análise de Conteúdo, tomando como teóricos Bardin (2011) e Moraes (1999), para analisar o que era apresentado em cada documento selecionado.
Segundo Moraes (1999, p. 9), a “[...] Análise de Conteúdo constitui-se por uma metodologia de pesquisa apropriada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos [...]”. Dessa forma, a exploração qualitativa das mensagens e das informações que se procura interpretar está presente nos artigos que irão constituir o acervo e, posteriormente, o corpus – “[...] conjunto de documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos [...]” (Bardin, 2011, p. 126).
A análise de conteúdo, em sua vertente qualitativa, parte de uma série de pressupostos, os quais, no exame de um texto, servem de suporte para captar seu sentido simbólico. Este sentido nem sempre é manifesto e o seu significado não é único. Poderá ser enfocado em função de diferentes perspectivas [...] (Moraes, 1999, p. 8).
Essa forma de análise permite a reinterpretação das mensagens, uma compreensão de seus significados que vão além de uma leitura comum, ou seja, procura atingir uma leitura descritiva (inicialmente) e compreensiva (posteriormente) dos textos. Todavia, para que resultados representativos sejam atingidos, é preciso considerar os procedimentos de análise estabelecidos.
Sendo assim, em resumo, destacamos, a seguir, as principais etapas da Análise de Conteúdo que assumimos no processo investigativo que culminou nos resultados que aqui trazemos. A pré-análise – momento da organização; a leitura flutuante – consiste em estabelecer contato com os documentos a serem analisados; a formulação das hipóteses e dos objetivos – etapa em que a investigação toma uma direção; a exploração do material – fase em que nos dedicamos a codificar, decompor ou enumerar, em função de regras previamente formuladas; a categorização – que tem por intuito agrupar os dados mediante critérios definidos durante o processo de desenvolvimento da pesquisa; o tratamento dos resultados, inferência e interpretação – momento em que o pesquisador, de posse dos resultados obtidos, pode elaborar inferências e interpretações relacionadas aos seus dados e textos ou representações que expliquem as informações compostas nas unidades de análise.
Diante desses esclarecimentos, cabe destacar que, para o desenvolvimento desta investigação, buscamos por elementos que pudessem representar a aprendizagem da Matemática, segundo aquilo que os autores/pesquisadores descreviam em seus artigos.
4 Acervo e constituição do corpus analítico
Nesta investigação foi realizado um levantamento a respeito do que os autores/pesquisadores, de artigos publicados em um periódico nacional da área de Ensino e que é um dos mais antigos vinculados à área de Educação Matemática, apresentavam sobre a aprendizagem da Matemática, ou seja, de que forma eles caracterizam a aprendizagem.
Para a pesquisa selecionamos o periódico Bolema: Boletim de Educação Matemática. A escolha deste único periódico justifica-se por ele ter sua origem vinculada ao primeiro programa do Brasil em sua área. Além disso, tem estrato qualis1 A1 da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) na área de Ensino. Ademais, em seu escopo a intenção é disseminar a produção científica em Educação Matemática, que se relacionam ao ensino e à aprendizagem de Matemática e/ou o papel da Matemática e da Educação Matemática na sociedade.
Para a constituição do acervo, optamos por analisar um quinquênio em função da grande quantidade de artigos publicados a cada ano e pelo tempo de vigência do nosso projeto de pesquisa. Por termos iniciado a pesquisa no ano de 2017, selecionamos o último quinquênio de publicação do periódico Bolema que contempla os anos de 2017, 2016, 2015, 2014 e 2013 (2013-2017). Pelo sítio eletrônico do periódico acessamos todos os artigos publicados e disponibilizados. Tendo por disparadores as expressões “aprend” para artigos em língua portuguesa ou espanhola e “learn” para os artigos de língua inglesa, abrimos todos os artigos do acervo com o objetivo de encontrar aqueles que traziam alguma caracterização da aprendizagem da Matemática.
Na Tabela 1 trazemos informações a respeito dos artigos que constituíram nosso acervo e, também, nosso corpus, organizados ano a ano, volume a volume, por número do exemplar, segundo a quantidade de artigos acervados, a quantidade que apresentava algum dos disparadores de busca e, na última coluna, a quantidade de artigos interpretados por exemplar. Por fim, na última linha inserimos alguns totais, com o intuito de destacar a produção e divulgação relativa ao tema aprendizagem de um quinquênio do Bolema.
Constatamos no periódico Bolema, no quinquênio de 2013-2017, a presença de 301 artigos, dos quais 291 traziam os disparadores de busca selecionados, ou seja, as expressões aprend ou learn em seu corpo textual e que constituíram nosso acervo.
À vista disso, buscamos o que se encontra nos artigos publicados no periódico Bolema no quinquênio de 2013-2017, quando se faz uma busca usando as expressões aprend e learn, representativas do termo aprendizagem.
Como, segundo os procedimentos analíticos instituídos pela Análise de Conteúdo, em uma de suas etapas, é sempre preciso ter o controle sobre a origem das informações interpretadas, para facilitar uma busca dentre os artigos selecionados e essas informações nos remeterem de volta ao original adequado, codificamos cada um dos artigos de acordo com a letra inicial do periódico; os dois últimos dígitos do ano de publicação; o número do referido volume; o número do exemplar; a página inicial e final, em que o artigo estava inserido (por exemplo, o artigo do periódico Bolema v. 29, n. 51, do ano de 2015, das páginas 1 a 17 ficou assim identificado – B15v29n51p1-17).
De posse de todos esses fragmentos textuais, e por meio de uma leitura flutuante, evidenciaram-se quatro categorias emergentes e que consideramos representativas dos 291 artigos analisados, na qual elencamos os aspectos descritos para a criação delas: quem aprende, o que aprende, em que contexto aprende e como aprende. Pela limitação de páginas que temos em um artigo para apresentar nossos resultados investigativos, optamos por trazer, neste momento, as conclusões a respeito daqueles que possuíam pelo menos duas das categorias evidenciadas, procedimento este que nos levou de um total de 291 artigos para 70 deles (ver Apêndice ao final do artigo). Apesar de neste artigo trazermos somente os resultados obtidos desta delimitação analítica, a listagem com os 291 artigos pode ser consultada em Oliveira (2019).
5 Apresentação e análise dos dados
O Quadro 1, com remissão aos 70 artigos (codificados na coluna 1), foi elaborado com a intenção de identificar aqueles que possuíam as quatro categorias evidenciadas por esta investigação e que foram acomodadas nas colunas 2, 3, 4 e 5 (os quais sombreamos e totaliza 17 artigos).
Cabe informar que, além dos fragmentos textuais que traziam os disparadores de busca, outros que não possuíam as expressões aprend ou learn também foram copiados dos artigos, pelo fato de permitirem fundamentar o que se procurava. Tais fragmentos, detalhes organizacionais e de interpretação, podem ser consultados em Oliveira (2019).
A fim de não restringir o nosso corpus para os 17 artigos que traziam todas as categorias emergentes, reconsideramos nosso processo seletivo, verificando a existência de uma categoria presente em todos eles, a qual está acomodada na coluna 2. Isto é, constatou-se que quando os autores/pesquisadores referiam-se à aprendizagem da Matemática, referiam-se a um sujeito2, seja ele: aluno, estudante ou professor. Em função disso, esta foi a categoria denominada por C1 e nominada – quem aprende. Cabe esclarecer que foi necessário criar alguns critérios para essas identificações dos sujeitos, por isso, consideramos: alunos, aqueles que estavam cursando o Ensino Fundamental I, II e o Ensino Médio; estudantes, os que cursavam graduação e, também, pós-graduação e que estavam envolvidos em nível de mestrado ou doutorado; os professores (que ensinavam Matemática). Cabe frisar que a distinção assumida para alunos e estudantes, diz respeito ao nível de ensino – os primeiros alunos – relativos aos que estão matriculados na Educação Básica e os demais – estudantes – consideramos os que frequentam os cursos de graduação ou pós-graduação, o que nos permite diferenciar esses dois públicos pesquisados e presentes nas descrições dos artigos.
A segunda categoria (C2), estabelecida após o delineamento da C1, foi constituída em função do seguinte questionamento: tendo aprendizes, o que eles estão aprendendo? Por isso a denominação para C2: o que aprende. Encontrou-se 7 itens que auxiliaram na caracterização do que estavam aprendendo: o primeiro dizia respeito às abordagens/tendências da Educação Matemática; o segundo referia-se à aprendizagem do diálogo; o terceiro item foi o conceito matemático; o quarto tratou do conteúdo matemático; o quinto foi relacionado à caracterização da profissão; a prática docente ficou inserida no sexto item; e, por fim, no sétimo item, temos a teoria dos campos conceituais.
A categoria em que contexto aprende (C3) contemplou 18 itens. Pelos textos descritos em cada artigo, consideramos contexto de aprendizagem aquelas remissões que destacavam algo físico e/ou social, e também uma inter-relação de circunstâncias que acompanhavam um fato ou uma situação em que o sujeito aprendia. Estes contextos foram assim denominados: abordagens/tendências da Educação Matemática; banco comunitário; caderno pedagógico; clube de Matemática; comunidade prática; comunidade quilombola; curso de formação continuada; estágio supervisionado; na prática docente; narrativas; oficinas; oficinas do PIBID3, sala de aula invertida, portfólio, produto educacional, Pronatec4, prova em fases, e o último contexto de aprendizagem é trajetória hipotética de aprendizagem.
A quarta categoria (C4), como aprende, referia-se à maneira com que os sujeitos apresentados nos artigos estavam aprendendo, o que nos levou a um destaque de 12 itens: por meio da aprendizagem expansiva; por meio da avaliação; por meio da Etnomatemática; por meio da História da Matemática; por meio da Modelagem Matemática; por meio da Resolução de Problemas; por meio de Investigação Matemática; por meio de Jogos; por meio de Narrativas; por meio de Produto Educacional; por meio de TIC; por meio do Ensino Exploratório.
Pode-se observar, no Quadro 1, que pelo menos duas categorias estão presentes em cada artigo e há uma única categoria presente nos 70 artigos do corpus: C1, quem aprende. Diante dessa constatação, a categoria C1 foi eleita para conduzir os próximos movimentos analíticos.
Na Tabela 2 trazemos alguns resultados quantificados de informações detalhadas a respeito de quem aprende. Cabe verificar que a quantidade de sujeitos é maior que a quantidade de artigos, pois alguns artigos apresentaram mais de um sujeito aprendiz em seus relatos. As linhas sombreadas apresentam os maiores escores: Professores que ensinam Matemática (21); Alunos do Ensino Fundamental (14); Licenciandos em Matemática (14).
– Sujeitos que aprendem e que estão descritos nos artigos do Bolema nos anos de 2013 a 2017
Considerando os artigos que apresentaram os três sujeitos mais evidenciados, percebeu-se que, ao analisar o que os autores/pesquisadores da área de Educação Matemática no periódico Bolema registraram, verificou-se a ênfase ao ensino, ou seja, durante os destaques que davam ao aprender eles o relacionavam com o ensinar.
Considerando essa inter-relação entre aprendizagem e ensino evidenciada nos artigos analisados, após diversas tentativas interpretativas, chegamos à elaboração de três esquemas que, segundo nossas interpretações e acomodações, auxilia tanto na caracterização da aprendizagem da Matemática (nosso foco investigativo), quanto do ensino.
Na Figura 2 temos um esquema que determina quais características os artigos do corpus evidenciam em relação ao aprender e ao ensinar Matemática, quando o sujeito que aprende são os alunos do Ensino Fundamental (seguimos esta sequência de apresentação em função das acomodações na Tabela 2).
O sujeito que está aprendendo foi inserido no centro do esquema (ele representa nossa categoria C1), pois foi o deflagrador da elaboração das outras categorias, por esse motivo as setas saem do sujeito que está aprendendo.
Na parte superior desta situação central temos os sujeitos que ensinam esses que aprendem: o pesquisador, o professor e o professor pesquisador. Na ordem indicada pelas setas, após quem ensina acomodamos o que ensina, que segundo nossas interpretações e evidenciações analíticas levam-nos a caracterizar também o que aprende (neste caso conceito5 matemático e o conteúdo matemático). Por conseguinte, completando o percurso, chegamos à categoria em que contexto ensina, que diz respeito a em que contexto aprende, composta pelo clube de Matemática, Comunidade Quilombola, Etnomatemática, Portfólio e Produto Educacional, finalizando (o percurso) pela última categoria do esquema – como ensina, diretamente implicada com o como aprende, na qual tem-se: por meio da Aprendizagem Expansiva, por meio da Etnomatemática, por meio da Investigação Matemática, por meio da Resolução de Problemas, por meio de TIC e por meio do Ensino Exploratório.
Na Figura 3 replicamos um esquema similar, todavia posicionando ao centro os licenciandos em Matemática – também com 14 indicações nos artigos, como aprendizes – seguindo o mesmo caminho interpretativo: Quem aprende; Quem ensina; O que ensina; Em que contexto ensina; Como ensina.
Assim, como no esquema anterior, a construção começa pelo sujeito que está aprendendo, que são os licenciandos em Matemática. Acima, temos quem ensina que são: o pesquisador, o professor formador, o professor formador e pesquisador e o professor pesquisador. Acompanhando a seta temos o que ensina, que compreende as abordagens/tendências da Educação Matemática, a aprendizagem do diálogo, o conteúdo matemático, a caracterização da profissão e a prática docente. A seguir, na categoria em que contexto ensina tem-se: caderno pedagógico, comunidades práticas, estágio supervisionado, narrativas, PIBID e produto educacional. E, por fim, como ensina consta-se: por meio da Investigação Matemática, por meio da Modelagem Matemática, por meio de Jogos e por meio de TIC.
Da mesma forma com que enfatizamos anteriormente, damos destaque que os comentários apresentados pelos autores dos artigos, ao falarem de aprender, enfatizavam o ensinar. Por esse motivo, no esquema, os títulos que o compõem dão ênfase a estas evidências provenientes do material analisado.
A Figura 4 representa as características do aprender e do ensinar presentes nos artigos quando os sujeitos são os professores que ensinam Matemática.
– Esquema representativo da aprendizagem e do ensino dos Professores que ensinam Matemática
No centro, surge o sujeito que está aprendendo, referindo-se aos professores que ensinam Matemática, de acordo com os artigos analisados. Acima, aparece a categoria quem ensina, em acordo com o esquema: o pesquisador e o professor pesquisador. Seguindo a seta, há a categoria o que ensina, que possui os seguintes itens: abordagens/tendências da Educação Matemática, conceito matemático, conteúdo matemático, caracterização da profissão, prática docente e a teoria dos campos conceituais. Em seguida, aparece em que contexto ensina, que contém os itens: comunidades práticas, curso de formação continuada, narrativas, oficinas, prática docente e produto educacional. E, por último, a categoria como ensina, elencando: por meio da Etnomatemática, por meio da História da Matemática, por meio da Investigação Matemática, por meio da Resolução de Problemas, por meio de Jogos, por meio de Narrativas e por meio de TIC.
6 Considerações finais
Assumindo nossas escolhas e posicionamentos teóricos e metodológicos, com relação aos resultados a que chegamos, podemos destacar que: em termos de quantificações, em cinco anos de publicação do periódico Bolema, que é composto por 301 artigos, 291 possuem termos relacionados e que derivam do aprender, o que nos leva a perceber o quanto caracterizações da aprendizagem (ou destaques a ela) estão presentes nas pesquisas da área da Educação Matemática; desse montante, 70 artigos têm como foco principal a aprendizagem, de acordo com os critérios adotados para este estudo; do processo interpretativo desse corpus, emergiram quatro categorias: quem aprende, o que aprende, em que contexto aprende e como aprende.
De acordo com os artigos analisados, identifica-se que os autores/pesquisadores da área de Educação Matemática trabalharam principalmente com: alunos do Ensino Fundamental, licenciandos em Matemática e professores que ensinam Matemática. Salientaram, ainda, que esses sujeitos aprenderam sobre conceito matemático, conteúdo matemático e prática docente. Os contextos em que a aprendizagem da Matemática foi constatada: nas abordagens/tendências da Educação Matemática, na comunidade prática, no estágio supervisionado e no produto educacional. Além do mais, aprenderam por meio da Resolução de Problemas, da Investigação Matemática e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Identificamos que os autores/pesquisadores da área de Educação Matemática, ao falarem da aprendizagem, a inter-relacionam com o ensino, ou seja, o ensinar tem o objetivo de levar ao aprender ou às questões relativas à aprendizagem, sendo para eles o ensinar aquele que deflagra o aprender.
Outra constatação importante diz respeito às abordagens/tendências da Educação Matemática, que estão presentes em três das quatro categorias evidenciadas, colocando-as em nível de manifestação elevado, e relacionadas diretamente com as situações de aprendizagem e ensino da Matemática, pelo menos para esse quinquênio considerado.
As abordagens/tendências da Educação Matemática é algo que vem se destacando cada vez mais na área, como podemos perceber segundo os artigos analisados, pois oportuniza uma aprendizagem da Matemática e faz com que o aprendiz seja o centro deste processo, o que propicia um conjunto de alternativas para ensinar e aprender que vai além das aulas expositivas, o que permite que o próprio aprendiz construa seu conhecimento.
Concordamos com Passos (2009) quando afirmou, ao término de sua tese, em que analisou artigos de diversos periódicos da área de Educação Matemática, em um período que compreendeu 32 anos de publicações, que suas considerações jamais estariam completas devido à atualização diária dos acervos e, principalmente, ao considerarmos que um texto não fala, mas, sim, que é cada leitor que o lê e elabora percepções singulares quanto ao lido.
Agradecimentos
À CAPES e ao CNPq, pelo apoio financeiro.
Referências
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- CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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» https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/ - HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S.; FRANCO, F. M. de M. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
- ILLERIS, K. (org.). Teorias contemporâneas da aprendizagem. Porto Alegre: Penso. 2013.
- LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2003.
- LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
- MORAES, R. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-32, 1999.
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MOREIRA, M. A. Subsídios teóricos para o professor pesquisador em Ensino de Ciências Porto Alegre: Edição do Autor, 2016. Disponível em: http://moreira.if.ufrgs.br/Subsidios5.pdf Acesso em: 27 fev. 2024.
» http://moreira.if.ufrgs.br/Subsidios5.pdf - OLIVEIRA, A. C. de. Um estudo sobre a aprendizagem matemática no periódico Bolema nos anos de 2013 a 2017. 2019. 106 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2019.
- PASSOS, M. M. O professor de matemática e sua formação: análise de três décadas da produção bibliográfica em periódicos na área de Educação Matemática no Brasil. 2009. 328 f. Tese (Doutorado em Educação para a Ciência) - Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2009.
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1
Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Tal processo foi concebido para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação e é baseado nas informações fornecidas por meio do módulo Coleta de Dados da Plataforma Sucupira. Como resultado, disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. Disponível em: http://www.capes.gov.br/pt/acessoainformacao/perguntas-frequentes/avaliacaoda-pos-graduacao/7422-qualis. Acesso em: 11 jun. 2019.
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2
Pessoa indeterminada ou cujo nome não se enuncia (Houaiss; Villar; Franco, 2009).
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3
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência.
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4
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.
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5
Trouxemos essas duas denominações – conceito e conteúdo – respeitando o que foi registrado nos artigos do corpus investigativo.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
29 Abr 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
01 Mar 2022 -
Aceito
04 Set 2023