Acessibilidade / Reportar erro

Pesquisas sobre a febre amarela (1881-1903): uma reflexão visando contribuir para o ensino de ciências

Research on yellow fever (1881-1903): a reflexion aiming to contribute to Science Education

Resumos

O presente artigo focaliza episódios históricos relacionados à pesquisa médica acerca da febre amarela (1881-1903), buscando discutir (a) a influência que os fatores econômicos, sociais e políticos exercem sobre a pesquisa científica; (b) o caráter coletivo, controvertido e não-linear do processo de produção de conhecimentos na ciência; (c) a natureza arbitrária dos conhecimentos científicos, no sentido de que representam "formas de ver", e não são perenes ou elaborados apenas sobre bases racionais; (d) o papel pouco cabal desempenhado pelas demonstrações experimentais, que não se mostram "irrefutáveis"; e (e) o papel desempenhado pelos paradigmas, que conduzem não apenas a caminhos frutíferos, mas também a becos sem saída. O intuito é proporcionar subsídios que sejam úteis tanto aos pesquisadores como aos professores que atuam na área do Ensino de Ciências.

História da Ciência; Ensino de Ciências; febre amarela


This paper focuses on historical episodes related to medical research concerning yellow fever (1881-1903), and attempts to discuss (a) the influence that economic, social and political factors exert on scientific research; (b) the collective, polemical and nonlinear nature of the process of production of knowledge in science; (c) the arbitrary characteristic of scientific knowledge, in that it represents "a certain point of view", and it"s not perennial or elaborated exclusively on objective grounds; (d) the limited role played by experimental demonstrations, that are not "irrefutable"; and finally (e) the role played by paradigms, that lead not only to fruitful ways, but also to dead-ends. The intention is to provide suggestionss that are useful both to the science education researchers and teachers.

History of Science; Science Education; yellow fever


ARTIGOS

Pesquisas sobre a febre amarela (1881-1903): uma reflexão visando contribuir para o ensino de ciências

Research on yellow fever (1881-1903): a reflexion aiming to contribute to science education

Fernando BastosI; Myriam KrasilchikII

IProfessor Assistente Doutor, Departamento de Educação, Faculdade de Ciências, Unesp, Bauru (SP)

IIProfessora Titular, Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada, Faculdade de Educação, USP, São Paulo (SP)

RESUMO

O presente artigo focaliza episódios históricos relacionados à pesquisa médica acerca da febre amarela (1881-1903), buscando discutir (a) a influência que os fatores econômicos, sociais e políticos exercem sobre a pesquisa científica; (b) o caráter coletivo, controvertido e não-linear do processo de produção de conhecimentos na ciência; (c) a natureza arbitrária dos conhecimentos científicos, no sentido de que representam "formas de ver", e não são perenes ou elaborados apenas sobre bases racionais; (d) o papel pouco cabal desempenhado pelas demonstrações experimentais, que não se mostram "irrefutáveis"; e (e) o papel desempenhado pelos paradigmas, que conduzem não apenas a caminhos frutíferos, mas também a becos sem saída. O intuito é proporcionar subsídios que sejam úteis tanto aos pesquisadores como aos professores que atuam na área do Ensino de Ciências.

Unitermos: História da Ciência, Ensino de Ciências, febre amarela.

ABSTRACT

This paper focuses on historical episodes related to medical research concerning yellow fever (1881-1903), and attempts to discuss (a) the influence that economic, social and political factors exert on scientific research; (b) the collective, polemical and nonlinear nature of the process of production of knowledge in science; (c) the arbitrary characteristic of scientific knowledge, in that it represents "a certain point of view", and it"s not perennial or elaborated exclusively on objective grounds; (d) the limited role played by experimental demonstrations, that are not "irrefutable"; and finally (e) the role played by paradigms, that lead not only to fruitful ways, but also to dead-ends. The intention is to provide suggestionss that are useful both to the science education researchers and teachers.

Keywords: History of Science, Science Education, yellow fever.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos:

Aos pareceristas de Ciência & Educação, pelas críticas e sugestões valiosas.

  • ANTUNES, J. L. F. São Paulo: saúde e desenvolvimento (1870-1903): a instituição da rede estadual de saúde pública. In: ANTUNES, J. L. F., et al (Org.). Instituto Adolfo Lutz: 100 anos do laboratório de saúde pública. São Paulo: Letras & Letras, 1992. p. 15-41.
  • BASTOS, F. História da Ciência e Ensino de Biologia: a pesquisa médica sobre a febre amarela (1881-1903). São Paulo, 1998a. 212 p. Tese (Doutorado em Educação)-Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
  • ________. O ensino de conteúdos de história e filosofia da ciência. Ciência & Educação, Bauru, v. 5, n. 1, p. 55-72, 1998b.
  • BENCHIMOL, J. L. (Coord.). Manguinhos, do sonho à vida: a ciência na belle époque. Rio de

     Janeiro: Fundação Instituto Oswaldo Cruz, 1990. 248p.
  • ________.; TEIXEIRA, L. A. Cobras, lagartos & outros bichos: uma história comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1993. 225 p.
  • BIER, O. Bacteriologia e imunologia 4. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1949. 791p.
  • BOTELHO, J. O. Climate and hygiene fo Rio de Janeiro. In: PAN AMERICAN SCIENTIFIC

    CONGRESS, 2, 1915-1916, Washington. Proceedings... Washington: Gov. Print. Off., 1917. v. 1. p. 613-5.
  • BRAZIL, V. Emilio Ribas. Archivos de Hygiene e Saude Publica, São Paulo, v. 1, p. 7-12, 1936.
  • BREILH, J. Epidemiologia: economia, política e saúde. São Paulo: Hucitec, 1991. 276 p.
  • DIRECTORIA DO SERVIÇO SANITARIO DE SÃO PAULO. A febre amarella e o mosquito.

    Archivos de Hygiene e Saude Publica, São Paulo, v. 1, p. 119-42, 1936.
  • FERREIRA, R. F.; MARTINS, R. A. Os estudos de Pasteur sobre os bichos-da-seda e a gênese da teoria microbiana das doenças. Perspicillum, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 113-175, 1995.
  • GALVÃO, P. A. A.; BOMFIM, P. C.; MA, C. A. P. Uma mensagem ao Instituto Adolpho Lutz. In: ANTUNES, J. L. F.; NASCIMENTO, C. B.; NASSI, L. C.; PREGNOLATTO, N. p. (Org.).

    Instituto Adolfo Lutz: 100 anos do Laboratório de Saúde Pública. São Paulo: Letras & Letras, 1992.

    p. 137-9.
  • GORGAS, W. C. Yellow fever and its erradication. In: PAN AMERICAN SCIENTIFIC CONGRESS, 2, 1915-1916, Washington Proceedings... Washington: Gov. Print. Off., 1917. v. 1, p. 7-9.
  • HUBERMAN, L. História da riqueza do homem 21. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. 313 p.
  • LUTZ, A. Resposta. In: MENDONÇA, A. (Comp.). Febre amarella: a doutrina bacteriana de

    Sanarelli... São Paulo: Escola Typographica Salesiana, 1903. p. 16-20.
  • ______. Reminiscencias da febre amarella no Estado de São Paulo. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 24, n. 3, p. 127-42, 1930.
  • MENDONÇA, A. (Comp.). Febre amarella: a doutrina bacteriana de Sanarelli... São Paulo: Escola Typographica Salesiana, 1903. 136p.
  • NEIVA, A. A obra de Oswaldo Cruz e sua projeção na medicina brasileira. In: RIBEIRO, L.

    Medicina no Brasil Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1940. p. 59-66.
  • NOGUEIRA, P. The early history of yellow fever. In: SYMPOSIUM ON YELLOW FEVER, 1955, Philadelphia Yellow fever: a symposium in commemoration of Carlos Juan Finlay. Philadelphia: Jefferson Medical College, 1955. p. 1-13.
  • O BRAZIL-MÉDICO. Rio de Janeiro: Faculdade de Medicina, 1887-1930. Semanal.
  • OSOL, A (Ed.). Dicionário médico Blakiston 2. ed. São Paulo: Organização Andrei, 1987. 1169 p.
  • PESSÔA, S. B.; MARTINS, A.V. Parasitologia Médica 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1974. 1002 p.
  • REED, W.; CARROLL, J.; AGRAMONTE, A. The etiology of yellow fever. An additional note.

    Journal of the American Medical Association, Chicago, v. 36, n. 7, p. 431-40, feb. 1901.
  • RIBAS, E. A extincção da febre amarella no Estado de S. Paulo (Brasil) e na cidade do Rio de Janeiro. Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v. 12, n. 10, p. 198-205, 1909.
  • ______. Nota sobre a extincção completa da febre amarella no estado de S. Paulo (Brasil). In: PAN AMERICAN SCIENTIFIC CONGRESS, 2, 1915-1916, Washington Proceedings... Washington: Gov. Print. Off., 1917. v. 1, p. 123-6.
  • ROSEN, G. Uma história da saúde pública São Paulo: Hucitec, 1994. 423 p.
  • SALLES GUERRA, E. Oswaldo Cruz: o saneador: o renovador da higiene e da medicina no Brasil. In: RIBEIRO, L. Medicina no Brasil Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1940. p. 66-94.
  • STEPAN, N. Gênese e evolução da ciência brasileira: Oswaldo Cruz e a política de investigação científica e médica. Rio de Janeiro: Artenova, 1976. 188 p.
  • STERNBERG, G. M. Report on the etiology and prevention of yellow fever Washington: Government Printing Office, 1890. 271 p.
  • SYMPOSIUM ON YELLOW FEVER, 1955, Philadelphia Yellow fever: a symposium in

    commemoration of Carlos Juan Finlay. Philadelphia: JeffersonMedicalCollege, 1955. 101 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2004
Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências, campus de Bauru. Av. Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Campus Universitário - Vargem Limpa CEP 17033-360 Bauru - SP/ Brasil , Tel./Fax: (55 14) 3103 6177 - Bauru - SP - Brazil
E-mail: revista@fc.unesp.br