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Detecção de Meloidogyne enterolobii em mudas de amoreira (Morus nigra L.)

Detection of Meloidogyne Enterolobii in mulberry seedlings (Morus nigra L.)

Resumos

O comércio de mudas sem certificação contribui para disseminação de pragas e doenças, que podem causar sérios danos às plantas cultivadas. Na região de Itapetininga (SP), foram apreendidas, pela equipe da Defesa Agropecuária, mudas de aceroleira, goiabeira e amoreira, comercializadas em caminhões, que apresentavam galhas nas raízes, sintoma típico causado por Meloidogyne spp. A identificação da espécie foi feita através da morfologia da configuração perineal de fêmeas e região labial de machos, bem como através da caracterização do fenótipo enzimático de esterase. Foi constatada a presença de M. enterolobii nas amostras analisadas. Trata-se do primeiro relato do parasitismo de M. enterolobii em mudas de amoreira no mundo.

nematoide; Psidium guajava; Malpighia emarginata.


Trade seedlings without certification contributed to spread pests and diseases which can cause a large damage to grown plants. In Itapetininga (SP), was seized by Agricultural Defense staff, seedlings of barbados cherry, guava and mulberry, sold in trucks, all of that had galls on roots, typical symptom caused by Meloidogyne spp. Specie identification was made by morphology of female perineal pattern and male head, as well as characterization of esterase enzyme phenotype. It was confirmed the presence of M. enterolobii in the samples analyzed. This is the first report of M. enterolobii in mulberry seedlings in the world.

nematode; Psidium guajava; Malpighia emarginata.


No Brasil, a ocorrência de Meloidogyne enterolobii YANG & EISENBACK foi relatada pela primeira vez nos estados da Bahia e Pernambuco em pomares de goiabeira situados no Vale do São Francisco (CARNEIRO et al. , 2001CARNEIRO, R.M.D.G. et al. Primeiro registro de Meloidogyne mayaguensis em goiabeira no Brasil. Nematologia Brasileira, v.25, n.2, p.223-228, 2001. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20252/223-228%20co.pdf>. Acesso em: Jun., 21, 2013.
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). Este nematoide é uma espécie com ampla gama de hospedeiros, e já foi relatada em outros estados, como Ceará e Rio Grande do Norte (TORRES et al., 2004TORRES, G.R.C. et al. Meloidogyne mayaguensis em Psidium guajava no Rio grande do Norte. Fitopatologia Brasileira, v.29, n.5, p.570-570, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-41582004000500020>. Acesso em: Jun. 20, 2013. doi: 10.1590/S0100-41582004000500020
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
; 2005), Piauí (SILVA et al., 2006SILVA, G.S. et al. Ocorrência de Meloidogyne mayaguensis em goiabeira no estado Piauí. Nematologia Brasileira, v.30, n.3, p.307-309, 2006. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20303/307-309%20pb.pdf>.Acesso em: Jun. 20, 2013.
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), Paraná (CARNEIRO et al., 2006aCARNEIRO, R.G. et al. Identificação de Meloidogyne mayaguensis em goiabeira e em plantas invasoras, em solo argiloso, no Estado do Paraná. Nematologia Brasileira, v.30, n.3, p.293-298, 2006. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20303/293-298%20pb.pdf>. Acesso em: Jul. 21, 2013.
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), São Paulo (ALMEIDA et al., 2006ALMEIDA, E.J.et al. Ocorrência de Meloidogyne mayaguensis na cultura da goiaba (Psidium guajava) no estado de São Paulo. Nematologia Brasileira, v.30, p.112, 2006. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20301/97-132%20pb.pdf>. Acesso em: Jun. 08, 2013.
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), Espírito Santo (LIMA et al., 2007LIMA, I.M. et al. Ocorrência de Meloidogyne mayaguensis em goiabeira cv. Paluma no estado do Espirito Santo. Nematologia Brasileira, v.31, n.2, p.132, 2007. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20312/100-162%20co.pdf>. Acesso em: Jun. 10, 2013.
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), Minas gerais (NEVES et al., 2010NEVES, W.S. et al. Primeiro relato de Meloidogyne mayaguensis em goiabeira na Região de Jaíba, Norte de Minas Gerais. Revista Tropica, v.4, n.2, p.8-11, 2010. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/ccaatropica/article/view/150/99>. Acesso em: Jul. 10, 2013.
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), entre outros.

É fato que este fitopatógeno está amplamente disseminado pelas diversas regiões do Brasil e também associado a diversas plantas, tanto cultivadas quanto plantas invasoras (SILVA & OLIVEIRA, 2010SILVA, R.V.; OLIVEIRA, R.D.L. Ocorrência de Meloidogyne enterolobii (sin. M. mayaguensis) em Goiabeiras no Estado de Minas Gerais, Brasil. Nematologia Brasileira, v.34, n.10, p.172-177, 2010. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/n bonline/ol%20343/172-177%20co.pdf>. Acesso em: Jul. 14, 2013.
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). No caso das frutíferas, uma das principais vias de disseminação é através de mudas infectadas. No entanto, apesar de esforços no sentido de restringir ou mesmo impedir a entrada dos fitonematoides em áreas isentas, ainda falta orientação aos produtores. Assim, um pomar formado com essas mudas infectadas com nematoides terá problemas no desenvolvimento e consequente queda na produtividade.

O presente trabalho teve por objetivo relatar a detecção de M. enterolobii em mudas de aceroleira e goiabeira, e o parasitismo em mudas de amoreira.

Em duas interceptações, realizadas em caminhões ambulantes em Itapetininga (SP), foram apreendidas, pela equipe da Defesa Agropecuária, mudas de aceroleira (Malpighia emarginata DC.), goiabeira (Psidium guajava L.) e amoreira (Morus nigra L.) com sintomas de galhas nas raízes, típicas de Meloidogyne spp.

De cada amostra, foram retiradas dos tecidos radiculares, cerca de 20 fêmeas adultas de coloração branco-leitosa em oviposição, das quais 10 foram usadas para a observação do padrão perineal, preparado conforme a técnica de TAYLOR & NETSCHER (1974TAYLOR, A.L.; NETSCHER, C. An improved technique for preparing perineal patterns of Meloidogyne spp. Nematropica, v.20, p.268-269, 1974. Disponível em: <http://horizon.documentation.ird.fr/exl-doc/pleins_textes/pleins_textes_5/b_fdi_06-07/08288.pdf>. Acesso em: Jul. 18, 2013.
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). As demais foram maceradas para a determinação do fenótipo isoenzimático de esterase, segundo a técnica de ESBENSHADE & TRIANTAPHYLLOU (1990ESBENSHADE, P.R.; TRIANTAPHYLLOU, A.C. Isozyme phenotipes for the identification of Meloidogyne species. Journal of Nematology, v.22, n.1, p.10-15, 1990. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2619005/pdf/10.pdf>. Acesso em: Jun. 18, 2013.
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), utilizando-se sistema de eletroforese vertical (Mini Protean II(r), BIO-RAD). Como padrão enzimático para esterase, foram utilizadas fêmeas de M. javanica (Treub) Chitwood (J3). Os machos foram recuperados pela técnica de CLIFF & HIRSCHMANN (1985CLIFF, G.M.; HIRSCHMANN, H. Evaluation of morphological variability in Meloidogyne arenaria. Journal of Nematology, v.17, n.4, p.445-459, 1985. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2618484/pdf/445.pdf>. Acesso em: Jun. 20, 2013.
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) e montados em lâminas temporárias, para a observação dos caracteres morfológicos da região labial (EISENBACK et al., 1981EISENBACK, J.D. et al. A guide to the four most common species of root-knot nematodes (Meloidogyne species) with a pictorial key. Raleigh: The Departments of Plant Pathology and Genetics of North Carolina State University and United States Agency for International Development, 1981. 48p.). Foram utilizados 10 machos para as observações.

Foi confirmando, através da eletroforese de isoenzima, dos padrões perineais de fêmeas e da região labial dos machos, que as raízes das frutíferas avaliadas estavam parasitadas por M. enterolobii, uma das espécies dos nematoides de galha que nos últimos anos vem causando severos danos em muitas de nossas culturas (Figura 1).

Figura 1 : Meloidoyne enterolobii encontrado nas raízes de amoreira. (A) Região labial do macho, (B) configuração do padrão perineal de fêmeas; e (C) fenótipo isoenzimático de esterase M2 (dir.), com padrão J3 de M. javanica (esq.).

A região do padrão perineal das fêmeas de M. enterolobii, conforme a descrição da espécie, possui arco dorsal e ventral formados por estrias finas e estrias grossas apenas nas laterais da vulva, bem como estriações longitudinais no arco dorsal próximo à região remanescente da cauda. Usualmente, é de formato oval com arco dorsal, variando de moderadamente alto a alto. Os machos de M. enterolobii apresentam região labial lisa, disco labial não proeminente e lábios submedianos fundidos e pouco rebaixados (YANG & EISENBACK, 1983YANG, B.; EISENBACK, J. Meloidogyne enterolobiin. sp. (Meloidogynidae), a root-knot nematode parasitizing pacara earpod tree in China. Journal of Nematology, v.15, p.381-391, 1983. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2618283/>. Acesso em: Jun. 22, 2013.
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; ALMEIDA et al., 2008ALMEIDA, E.J. et al. Novos registros sobre Meloidogyne mayaguensis no Brasil e estudo morfológico comparativo com M. incognita. Nematologia Brasileira, v.32, n.3, p.236-241, 2008. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20323/236-241%20co.pdf>. Acesso em: Jun. 20, 2013.
;http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonli...
). O perfil de esterase encontrado para as amostras analisadas revelou o fenótipo (M2) com duas bandas principais mais fortes e duas bandas secundárias mais fracas, como descrito por CARNEIRO et al. (2001CARNEIRO, R.M.D.G. et al. Primeiro registro de Meloidogyne mayaguensis em goiabeira no Brasil. Nematologia Brasileira, v.25, n.2, p.223-228, 2001. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20252/223-228%20co.pdf>. Acesso em: Jun., 21, 2013.
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) para M. enterolobii (sin.: M. mayaguensis) . As características morfológicas e bioquímicas acima descritas se assemelham às encontradas no presente estudo para M. enterolobii (Figuras 1A, 1B e 1C).

Nas raízes, os sintomas observados foram intensa formação de galhas, muitas coalescentes gerando engrossamentos maiores. Na parte aérea, não foram observados sintomas aparentes.

Em relação à amoreira, dispõe-se de pouca informação acerca da sua hospedabilidade à Meloidogyne spp. No Irã, China e Paquistão, já foi reportada para a cultura a presença de M. incognita (Kofoid & White) Chitwood (ESFAHANI & AHMADI, 2010ESFAHANI, M.N.; AHMADI, A. Field observations on the reaction of medicinal plants to root-knot nematodes in Isfahan, Iran. International Journal of Nematology, v. 20, n.1, p.107-112, 2010. Disponível em: <http://www.cabdirect.org/abstracts/20103306450.html;jsessionid=D6F0C9A03FE10D602A5F21D97986F242> Acesso em: Mar.10, 2013.
http://www.cabdirect.org/abstracts/20103...
; QIAO et al., 2011QIAO, L. et al. Remove from marked records investigations on mulberry parasitic nematodes in Guangxi. Journal of Southern Agriculture, v.42, n.11, p.1344-1349, 2011. Disponível em: <http://cabdirect.org/abstracts/20123158950.html;jsessionid=7F847CE8A957423F9E548 4E92978F808>. Acesso em: Jul.14, 2013.
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; YOUSSEF & EL-NAGDI, 2005YOUSSEF, M.M.A.; EL-NAGDI, W.M.A. Cellular alterations in black mulberry roots following infection by Meloidogyne incognita and Rotylenchulus reniformis. Pakistan Journal of Nematology, v.23, n.2, p. 297-303, 2005. Disponível em: <http://pjn.com.pk/fi les/vol%2023%20no.%202/pdf/11.pdf>. Acesso em: Jul. 23, 2013.
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). Outros nematoides também foram encontrados associados a esta frutífera, tais como: Helicotylenchus exallus Sher, Criconemella informis (Micoletzky) Taylor, Paratylenchus sp., Psilenchus hilarulus Man, Filenchus sp., Tylenchorhynchus sp., Aphelenchus sp.,Gracilacus sp. na China (QIAO et al., 2011QIAO, L. et al. Remove from marked records investigations on mulberry parasitic nematodes in Guangxi. Journal of Southern Agriculture, v.42, n.11, p.1344-1349, 2011. Disponível em: &lt;http://cabdirect.org/abstracts/20123158950.html;jsessionid=7F847CE8A957423F9E548 4E92978F808&gt;. Acesso em: Jul.14, 2013.
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) Rotylenchulus reniformis Lindford & Oliveira no Paquistão (YOUSSEF & EL-NAGDI, 2005YOUSSEF, M.M.A.; EL-NAGDI, W.M.A. Cellular alterations in black mulberry roots following infection by Meloidogyne incognita and Rotylenchulus reniformis. Pakistan Journal of Nematology, v.23, n.2, p. 297-303, 2005. Disponível em: <http://pjn.com.pk/fi les/vol%2023%20no.%202/pdf/11.pdf>. Acesso em: Jul. 23, 2013.
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) e Rotylenchus unisexus Sher na Bulgaria (KATALAN-GATEVA, 1980KATALAN-GATEVA, S. Plant-parasitic nematodes from the families Longidoridae and Hoplolaimidae in the rhizosphere of fruit trees in south-western Bulgaria. Khelmintologiya, n.10, p.29-37, 1980. Disponível em: &lt;http://www.cabdirect.org/abstracts/19800877909.html&gt;. Acesso em: Jun. 04, 2013.
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).

No Brasil, SILVA et al. (1992)SILVA, J.F.V. et al. Ocorrência de Paecilomyces lilacinus parasitando ovos de Meloidogyne incognita em Amora no Noroeste do Paraná. Nematologia Brasileira, v. 16, n.1 e 2, p. 74-76, 1992. afirmaram que a amoreira é suscetível a M. incognita. Na tentativa de provar a infectibilidade de M. ethiopica Whitehead sobre algumas frutíferas, SOMAVILLA et al. (2009SOMAVILLA, L. et al. Reação de diferentes frutíferas a Meloidogyne ethiopica, Nematologia Brasileira, v.33, n.3, p.252-255, 2009. Disponível em: &lt;http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20333/252-255%20co.pdf&gt;. Acesso em: Ago. 02, 2013.
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) verificaram que este nematoide não foi capaz de infectar a amoreira.

No presente trabalho diagnosticou-se pela primeira vez o parasitismo de M. enterolobii em mudas de amoreira no mundo.

AGRADECIMENTOS

Ao Assistente Agropecuário da Coordenadoria de Defesa Agropecuaria Rhadyson Reinaldo Silva do Nascimento pelas suas contribuições através da apreensão das mudas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Maio 2015

Histórico

  • Recebido
    15 Mar 2013
  • Aceito
    27 Ago 2014
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