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PROCEDIMENTOS, TRADUÇÕES E EDIÇÕES: POR QUE DISCUTIR A ESTRUTURA ESQUEMÁTICA E O TERMO JOGO DO TEXTO A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA NO SÉCULO XXI, APÓS OS 80 ANOS DE MORTE DE WALTER BENJAMIN?

PROCEDURES, TRANSLATIONS AND EDITIONS: WHY DISCUSS THE SCHEMATIC STRUCTURE AND THE TERM “JOGO” IN THE TEXT THE WORK OF ART IN THE AGE OF TECHNICAL REPRODUCIBILITY IN THE 21ST CENTURY, 80 YEARS AFTER THE DEATH OF WALTER BENJAMIN?

Resumo

o presente trabalho surgiu com um método, um tanto diferente e incomum, de todo artigo científico em geral. Surgiu como uma dúvida e não como um objetivo. Por que a palavra jogo aparece muitas vezes na primeira publicação em 1936 do texto “A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica”? Dessa forma, o presente artigo visa sanar a presente questão a respeito da repetição do termo, partindo da complexidade e da importância que este termo tem na filosofia de Walter Benjamin e nos procedimentos tradutórios do texto. Para validarmos essa pesquisa foi realizada uma contagem de palavras, através de uma ferramenta de análise de corpus, o SKETCH ENGINE - SkE. Após essa verificação, foi possível comprovar quais considerações são importantes para possivelmente sanar o questionamento a respeito da repetição da palavra jogo. Assim, com a perspectiva de revisar a estrutura esquemática deste texto clássico de Benjamin, abrimos esta chave de análise do seu presente ensaio.

Palavras-chave
Tradução; Jogo; Texto de Partida; Texto de Chegada; Versão

Abstract

the present research arose with a somewhat different and unusual method of scientific investigation. It came up as a doubt and not as a goal. Why does the word jogo occur often in the first publication of the text The Work of Art in the Age of Technical Reproducibility, in 1936? Thus, this article aims to address this question about the frequency of the term, starting with a discussion about the complexity and importance that this term has both in Walter Benjamin’s Philosophy, and in the translation procedures the text underwent. To validate this research, a word count was carried via the corpus-based tool SKETCH ENGINE - SkE. Following this verification, it was possible to prove which considerations are important to possibly answer the questioning about the repetition of the word “jogo”. Thus, with the perspective of reviewing the schematic structure of this classic text by Benjamin, we open this key of analysis of his present essay.

Keywords
Translation; Jogo; Source Text; Target Text; Version

Introdução

Apresentamos como corpus dessa pesquisa traduções feitas para duas línguas (francês e português), do texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”1 1 A partir de agora, iremos nos referir ao texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, somente como “A Obra de Arte”. . A principal questão acerca da tradução desse texto é, tentar compreender por que há diferenças entre as traduções feitas nas duas línguas. Durante a análise, buscamos compreender quais foram as razões da supressão de determinados termos e até mesmo de partes inteiras pelas edições publicadas nestes dois países: França e Brasil, referentes ao que Benjamin havia escrito.

Constatamos que em todas as versões que utilizamos nesta análise, os procedimentos de tradução e publicação do texto benjaminiano, como também os objetivos das alterações feitas no corpo do texto, tiveram razões diversas, entre elas: questões políticas, questões técnicas, questões teológicas, entendimentos/desentendimentos a respeito da proposta de Benjamin, da mesma forma como recusas a sua discussão. De Scholem a Horkheimer, passando por Adorno, até a finalização de sua primeira publicação em língua francesa traduzida e revisada por Pierre Klossowski nossa hipótese inicial é a de que uma tradução para o português do Brasil, mais integral, ainda se faz necessária. Ou seja, não só necessitamos de uma nova versão traduzida, como se faz importante ter o conhecimento de tudo aquilo que foi retirado do texto.

Desse modo, quando comparamos os textos de Benjamin “A Obra de Arte” nas seguintes versões (francês e português do Brasil), identificamos que foram anexados pontos de vista próprios aos excursos e às suas ideias, de forma que o texto, macroestrutural, a princípio, não condiz com sua versão política, ideal e inicial. Nesse ponto, podemos afirmar que nos deparamos com um grande quebra-cabeça.

Para entendermos como remontar este quebra-cabeça, será necessário seguir o fio condutor não daquilo que está posto no próprio texto, mas aquilo que foi discutido e retirado dele, tendo como objetivo buscar o que salta aos olhos, ou seja, sua estrutura de composição.

Algumas passagens foram suprimidas, partes de suas ideias remodeladas, enquanto em outras partes, foram acrescentados outros elementos. Algumas modificações tiveram a permissão do autor, outras não. Assim, alongando/reduzindo a estrutura do texto, sem comentar as alterações com relação às escolhas lexicais que ocorrem em algumas de suas versões, o texto e o autor ainda sofrem uma injustiça quanto a sua tradução integral.

Com essa perspectiva, compreendemos que os estudos da tradução, encontram-se como norte para o procedimento da contextualização e compreensão de todo o procedimento ocorrido durante a publicação do texto de Benjamin. Além disso, compreender o caminho investigativo e reflexivo que fundamenta a filosofia de Benjamin, bem como o que o autor pensa a respeito dos procedimentos da tarefa do próprio tradutor circunda os fenômenos linguísticos e políticos que formam a base dos seus textos, em específico deste texto, “A Obra de Arte”.

Se, de um lado, temos uma determinada percepção e compreensão do texto, do outro lado, temos os seguintes questionamentos; será que há uma compreensão similar do texto quando o lemos em suas diversas línguas, neste caso, nas línguas alemã, francesa e portuguesa? É possível alcançar uma compreensão geral de fato do presente ensaio? Ou, ainda, será que existem lacunas na compreensão do seu texto que precisem ser melhoradas para uma compreensão mais integral na língua portuguesa? Vejamos.

Este, sem dúvida é um dos textos mais famosos de Benjamin no Brasil e no mundo. Sua recepção foi muito difundida, como explica Günter Pressler (2006)Pressler, Gunter Karl. Benjamin, Brasil: a recepção de Walter Benjamin, de 1960 a 2005: um estudo sobre a formação da intelectualidade brasileira. São Paulo: Annablume, 2006., a partir do ano de 19742 2 Gunter Pressler provavelmente não teve conhecimento das demais versões publicadas no Brasil. Da mesma forma, ele deve não ter tido acesso à primeira versão do texto que foi publicada em 1954 e não em 1974. , por apresentar uma reflexão politizada da arte, através do cinema, como veículo locomotor e revolucionário da classe trabalhadora. Afinal, para Benjamin, a massa poderia alcançar a revolução através da Arte. Pensamos que esta possibilidade ainda é válida.

Sem falar que, o impacto que esta obra tem nos séculos XX e XXI ainda perdura nas discussões acadêmicas contemporâneas gerando mais investigações sobre o tema, bem como novos desdobramentos de entendimento a respeito do que o autor explicitou em seu ensaio. Por isso, para compreender quais são os problemas que foram vistos no decorrer da nossa pesquisa, partimos inicialmente de uma revisão bibliográfica, na qual foi feito um levantamento histórico de todos os textos “A Obra de Arte” publicados no Brasil. Entre estes, podemos atestar que suas disposições nas três línguas (francês, alemão e português) seguem da seguinte forma: uma versão em língua francesa, três versões em língua alemã e onze versões em língua portuguesa do Brasil. Como resultado deste levantamento, decidimos e nos propusemos a determinar o que seria o texto de partida para nós (primeiro texto publicado), texto publicado em francês em 1936 e o que será o texto de chegada, suas variadas versões para o português do Brasil. Utilizamos esta primeira publicação e a relacionamos com as demais versões, para que pudéssemos nos ancorar na mais recente versão publicada em 2017 no Brasil, pela Editora Autêntica com tradução de João Barrento.

A tabela abaixo apresenta a cronologia da publicação do texto “A Obra de Arte” nas três línguas.

Tabela 1
Cronologia de publicação de “A Obra de Arte”

Após este levantamento histórico, observamos que alguns itens lexicais provenientes do latim, as vezes eram traduzidos para a língua em que o texto era publicado e, às vezes, não. Esta variação de procedimento tradutório, chamou nossa atenção. Desse modo, iniciamos uma verificação, bem como uma reflexão a respeito do presente termo e decidimos comparar se este termo era traduzido tanto na língua francesa quanto na alemã em comparação com as versões brasileiras analisadas. O termo em específico identificado foi hic et nunc.

No entanto, percebemos que a tradução ou não deste termo em suas diferentes versões poderia afetar a compreensão do conteúdo, pois a falta de tradução, ou mesmo a omissão, pode comprometer o sentido do texto de partida. Mas, a partir de uma verificação das subdivisões do texto, o modo de organização/distribuição de títulos, numeração e quantidade de excursos da obra, em todas as versões analisadas, surgiu uma outra dúvida e um direcionamento do olhar para outros itens lexicais.

Decidimos, então, fazer um outro levantamento, na qual 14 itens lexicais e suas derivações se tornaram mais evidentes. Os termos foram: jogo, técnica de reprodução, técnica, método, arte/artístico, dialética, política/politização, revolução, aqui e agora/hic et nunc, práxis/prática, reprodução, arte, médium, mecanizado.

A partir da leitura da 1º publicação do texto em língua francesa, e comparando com a 1ºversão em língua alemã, foi possível detectar a presença de um item lexical bastante peculiar que pode mudar o entendimento total do texto e que não se fazia presente em outras versões já lidas. O item lexical é a palavra “jogo”. Ao compararmos as versões do texto em francês, alemão e português, e, em específico, com a última versão publicada no Brasil em 2017, encontramos uma disparidade na frequência do termo. Principalmente desde a sua primeira publicação do francês, em relação às publicações em alemão e em português. Somente na primeira publicação em língua francesa e na primeira publicação em língua alemã, o termo “jogo” aparece. Notamos que a frequência deste termo é alta. A comparação dessas duas línguas com a língua portuguesa também difere, tendo pouca frequência em relação às duas línguas investigadas.

Em específico, este termo no português, quase nunca ou praticamente nunca teve relevância neste texto. É tanto, que em algumas das versões analisadas do português, o termo “jogo”, a princípio, não aparece. Logo, para entendermos um pouco mais porque este termo surgiu inicialmente na primeira publicação do texto, em língua francesa, pensamos em entender, ou ainda, problematizar um pouco mais a aparição deste de duas formas. De início, numa interpretação reflexiva de como provavelmente Benjamin entendia o termo juntamente com sua definição geral, e em seguida, como foi a análise feita pela ferramenta tecnológica Sketch Engine – SkE.

Problematizando o termo “jogo”

De maneira objetiva, mas de forma embrionária, apresentamos a problemática do item lexical jogo, revisitamos novamente a leitura do texto “A Obra de Arte”. No entanto, é preciso remeter ao procedimento que o próprio Benjamin apresenta sobre a tarefa do tradutor.

A partir da estética do termo, na estrutura da tradução e sob a perspectiva de Walter Benjamin, para que o tradutor consiga êxito na execução do seu trabalho Benjamin defende que uma boa tradução seria a passagem de um conjunto de códigos, informações, sentidos, Bildung, de uma determinada língua para outra, desde que se mantenha a essência do conteúdo e do teor de verdade que a obra original transmite.

Tal como a tangente toca a circunferência levemente e apenas num ponto, que lhe dita a lei que guiará a sua trajectória rectilínea até ao infinito, assim também a tradução toca o original ao de leve, e apenas naquele ponto infinitamente pequeno no sentido, para seguir na sua órbita própria da luz de uma lei que é a da fidelidade na liberdade do movimento da linguagem.

(Benjamin 96Benjamin, Walter. Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit. Suhrkamp, 2012. Werke und Nachlaß Band 16.).

Fora isso, Benjamin nos adverte sobre a importância da linguagem ser a origem do conhecimento com a capacidade criativa anunciada pela tarefa da tradução. A tradução seria o prenúncio de uma série de mecanismos para se atingir o conhecimento verdadeiro que, para Benjamin, não se caracteriza por uma estrutura completamente fechada, mas se apresenta historicamente em função de uma virtude própria e da ideia do seu teor de verdade.

Segundo o autor, a tradução guarda uma técnica que possibilita o acesso à verdade em seus traços autênticos, quase que numa estrutura de revelação. Por isso, o necessário cuidado em se traduzir um texto que mantenha a essência do conteúdo desejado com a compreensão obtida do texto original. Logo, a tarefa de traduzir não deve apresentar soluções, mas sim expor o conteúdo expresso pelo texto de partida. Todavia, sabemos que este trabalho, o de se traduzir, não é fácil. N fatores podem aparecer como entraves para a sua tradução. Por isso, a tarefa do tradutor deve ser uma tradução mais justa e adequada possível. A época, os editores, os contextos políticos e históricos, podem ser complicadores significativos para o texto que está sendo traduzido. Este entendimento associado ao texto de partida (obra inicial, da qual se parte para o processo de tradução) e ao texto de chegada (o resultado do processo tradutório em outra língua), devem visar da melhor maneira possível o entendimento da obra. Traduzir não é somente por palavras em ordem num outro idioma. Traduzir é alcançar a dimensão do outro (outro ser, outra cultura, outra realidade) com a finalidade de tornar-se ela, enquanto expressão de um significado. Assim, corroboramos o que Benjamin diz sobre a tradução ser a capacidade de reprodução de sentidos que elas possuem no original. (Benjamin 76Benjamin, Walter. Über den Begriff der Geschichte. Suhrkamp, 2010. Werke und Nachlaß Band 19.)

Portanto, o tradutor deve compreender as correlações existentes entre as obras a serem estudadas e traduzidas sem retirar o seu sentido. Porém, no decorrer da nossa investigação, ao verificarmos as estruturas das versões dos textos para o português do Brasil, vimos que, às vezes estes processos não são seguidos de forma justa e adequada. Quando constatamos determinados problemas oriundos das diversas traduções do texto “A Obra de Arte” para o português do Brasil, algumas traduções mostram que os tradutores abusaram de suas “liberdades”, fazendo com que o próprio texto de chegada não se adequasse ao texto de partida, o que nos levou a identificar o termo “jogo”.

Este item lexical carrega uma possível e grande teoria por trás do seu significado. Consultando um tomo das obras completas de Benjamin em alemão (GS – Benjamin – Band VI), nos deparamos com um pequeno texto, ainda sem tradução para o português do Brasil, intitulado “Notas sobre uma teoria do Jogo. Nesse texto, ele cita a leitura que fez de Um Jogador (2011)Dostoiévski, Fiódor. Um jogador. Tradução de Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34. 2011., de Dostoiévski. Nesse texto curto, mas de grande profundidade, afirma que diferentes caminhos podem levar o homem à fortuna ou à desgraça existencial, através de uma aposta que se faz com a própria sorte3 3 Infelizmente não adentramos mais na investigação desta problemática, para não nos desviarmos a nosso objetivo proposto neste trabalho. Contudo, fica um encaminhamento. É necessário traduzir e publicar este texto em língua portuguesa o mais rápido possível. . Mas é na publicação de seu texto “Jogo e Prostituição”, que temos uma melhor compreensão do que o autor entende por “jogo”.

A atração do perigo é subjacente a todas as grandes paixões. Não há volúpia sem vertigem. O prazer mesclado ao medo embriaga. E que há de mais terrível que o jogo? Ele dá e tira, suas razões não são absolutamente as nossa razões. Ele é mudo, cego e surdo. Pode tudo. É um deus. Tem seus devotos e seus santos, que o amam por ele, não pelo que promete, e que o adoram quando os atinge. Se os despoja cruelmente, imputam a culpa a si mesmos, não a ele: - Joguei mal- é o que dizem. Eles se acusam e não blasfemam.

(Benjamin 249Benjamin, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Zouk, 2012. Tradução de Francisco de Ambrosis Pinheiro Machado.)

No jogo, todos são iguais. Para se jogar, não é necessário divisões sociais, independe de gênero, convenções, religião, superstições, entre outros. O jogo é capaz de permitir uma tão grandiosa forma de prazer, que o homem é capaz de abrir mão de tudo, pois de outra maneira não conseguiria alcançar tamanha liberdade.

Vejo nele os prazeres que me proporciona e me delicio. Estes prazeres, vivos e ardentes como relâmpagos, são rápidos demais para me proporcionar desgosto, e por demais diferentes para me entediar. Vivo cem vidas em uma única. Quando viajo, é da forma como viaja a centelha elétrica... Se avarento e guardo meu dinheiro para jogar, é que conheço bem demais o valor do tempo, para gastá-lo como os outros homens. Um prazer que eu me concedesse me custaria mil outros prazeres... tenho prazeres no espírito, e não pretendo outros.

(Benjamin 244Benjamin, Walter. A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica. Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura. Obras Escolhidas. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo, Brasiliense, 1994.).

Em sentido geral, o termo Jogo significa uma brincadeira, ou seja, uma atividade com a finalidade de diversão e entretenimento. Contudo, o sentido dessa palavra, não se aplica somente a este significado no contexto em que está inserido em “A Obra de Arte”. Há algo a mais que o autor expressa com esta palavra em seus estudos. O que Benjamin quer dizer com este termo no texto “A Obra de Arte”? Por que ele aparece em algumas traduções e versões do texto com mais frequência do que em suas diferentes versões traduzidas em outras línguas? Por que um termo tão rico como este, e presente em outros textos de Benjamin, só foi enaltecido em sua versão inicial em língua francesa e não em língua alemã, ou ainda no português? Por enquanto, estes questionamentos ficarão em suspenso, para que possamos entender a questão mais técnica dos procedimentos de tradução e edição do texto de partida e dos textos de chegada do seu ensaio sobre a politização da arte.

Analisando os dados do SKETCH ENGINE-SKE

Nesta parte da pesquisa, tentamos responder aos questionamentos iniciais a respeito do item lexical jogo. Após a contagem das palavras, verificamos que nas três versões em língua alemã, em comparação com a versão em língua francesa, não são similares. O maior índice de ocorrência do item lexical jogo foram a versão francesa e a primeira publicação em alemão, equivalente à segunda versão do texto, constatando, assim, a necessidade de se compreender melhor porque o tradutor Pierre Klossowski, e até mesmo Benjamin, deram ênfase a este termo. Afinal, o índice de frequência deste termo nas outras duas versões em língua alemã é baixo em relação ao texto em francês.

A contagem feita pela ferramenta linguística SKETCH ENGINE possibilita o fornecimento de meios para identificar e explorar convergências e divergências entre os textos (textos de partida) e as traduções (textos de chegada). A ferramenta técnica também permite uma observação mais precisa sobre as traduções, trazendo maior conscientização a respeito das soluções (ou não), encontradas pelos tradutores.

Logo abaixo temos os resultados obtidos pela ferramenta, representados em um gráfico circular de barras, que fez uma leitura não só do item lexical selecionado, neste caso o termo jogo, mas de toda a derivação que o termo apresenta nos textos analisados. Ou seja, apresenta todas as palavras que rodeiam o termo. Informamos também que a eficiência do programa não é extremamente exata. Palavras com radicais e estruturas similares à palavra jogo, mas com outro significado, também foram capturadas pelo programa. Um exemplo disso acontece com o termo em alemão Spiel, jogo, e a “sujeira”4 4 Definimos aqui como o termo “sujeira”, todas as palavras que apresentam em seu radical estruturas lexicais similares aos do termo investigado. o termo Beispiel. Afinal:

A pesquisa a partir de corpora computadorizados permite a observação do léxico especializado e dos padrões de estilo dos tradutores selecionados para a análise. A observação da linguagem de especialidade utilizada pelos profissionais favorece o levantamento dos termos simples e complexos, das expressões fixas e semifixas e dos fraseologismos específicos de cada área, que possibilitam a compilação de glossários bilíngues.

(Camargo, Rocha e Paiva 8).
Figura 1
Gráfico dos termos

Em Vermelho, pode-se verificar o item lexical jogo em francês, jeu, bem como o mesmo termo em outras conjugações. Jeu em francês é o verbo no infinitivo que significa respectivamente, jogar. Ele aparece com outras sufixações também, mas jeu tem exatamente o mesmo significado comum que em português. Segundo o dicionário bilíngue francês/português Larrouse, podemos conferir, jeu; jogo; distraction, jouer. (LARROUSE, 2008Dicionário Larousse Francês-Português; Português-Francês Mini. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008., p. 193). Na figura acima podemos perceber tanto a frequência de incidência do termo como sua relação com os demais itens capturados nas línguas francesa e alemã.

De todos os resultados obtidos apenas uma palavra não se referia ao item lexical jogo/jeu, foi, jeunes, que significa juventude. Os demais itens em língua francesa foram referentes ao termo jogo/jeu, se dispõem da seguinte maneira: jeu, jogo, é um substantivo masculino, e significa brincadeira, divertimento ou recreação. Logo após, segue o termo jeux, que também é substantivo masculino, só que no plural significa jogos. Tivemos também a presença de joue, forma verbal, no tempo presente, em 3ºpessoa do singular e significa: joga. Jouer, que significa jogar, aqui aparece em forma verbal no infinitivo. Jouera, que aparece em forma verbal conjugado em 3ºpessoa do futuro do indicativo e significa: vai jogar. Por fim, o termo, jouant, gerúndio, significa jogando.

Em Azul, apresentamos os resultados da primeira versão do texto em língua alemã. Na figura apresentamos o item lexical Spiel, que significa jogo. Diferentemente do resultado em língua francesa, na pesquisa que a ferramenta fez em língua alemã houve bastante sujeira. Dessa forma, tivemos que ter mais cuidado na contagem das palavras, para que pudéssemos concluir nosso objetivo que era encontrar a ocorrência ou não, do termo jogo/Spiel no texto em língua alemã. Outro resultado que tivemos nesta busca foi, Spieler, que é um substantivo masculino e significa: jogador. Spielt, que aparece em forma verbal no tempo presente, conjugado em 3ºpessoa do singular e significa: joga. Spielen, que aparece em forma verbal no tempo presente, conjugado em 3º pessoa do plural e significa: jogam, da mesma forma como é a forma do verbo no infinitivo: jogar. Gespielt, que é um adjetivo, aparece em forma verbal conjugado no tempo passado, e significa: jogada. Spielwiese, que significa: técnica de jogo, (Os substantivos em língua alemã, são sempre grafados com inicial maiúscula, dessa forma, é possível diferenciar substantivos, verbos, adjetivos ou advérbios). Agora, os termos Abspielt e Umspielt apresentam definições bem peculiares para aqueles que estão executando determinadas ações, em diferentes contextos. Por exemplo, Abspielt significa algo que está em execução circular, como, por exemplo, algo que gira, da mesma forma que pode ser compreendido como algo que teve um início de execução, ou ainda, em relação à música, uma música que está sendo tocada. Ainda pode ter também o sentido figurado de imaginação.

Já o termo Umspielt, que provém do verbo Umspielen, apresenta bem mais entendimentos que se faz necessário exemplificar aqui. Umspielt pode significar, um drible de futebol, a ação de brincar, jogar dados (um exemplo específico), um redemoinho ou um redemoinho de coisas (num sentido figurado) e quando nos referimos com uma determinada atenção especial (geralmente quando falamos com crianças pequenas).

Em Verde, apresentamos os resultados da segunda versão do texto em língua alemã, assim como o resultado da busca da primeira versão do texto em língua alemã. Esta versão veio também com bastante sujeira, devido ao fato de a língua alemã sofrer muitos processos de prefixação e sufixação. Nesta versão, temos algumas repetições de palavras, como, por exemplo: Spielen, Spielt, Gespielt e Umspielt. Alguns itens lexicais diferentes surgiram como, por exemplo, Spiel, que é um substantivo neutro e significa: jogo. Mitspielt, que significa: entrar no jogo. Spiels, apresenta o substantivo da palavra jogo declinado. Spielmoment, traz o significado de momento jogado, fazendo referência à execução de uma ação durante um jogo.

Em Lilás, apresentamos os resultados obtidos pela ferramenta, da terceira versão do texto em língua alemã. Da mesma forma como suas duas versões anteriores, a busca veio com bastante sujeira, e pelo mesmo motivo, tivemos apenas as repetições dos itens lexicais que apareceram nas outras versões: Spielweise, Gespielt, Spielen, Spielt, Spiel, Mitspiel, Abspielt. Sem nenhum acréscimo de novos termos significantes para a pesquisa.

O fato mais importante do uso dessa ferramenta, e que foi de grande valia, rapidez e assertividade, foi provar que a ferramenta é bem mais eficiente para armazenar, acessar e pesquisar uma grande variedade de informações. Não seria possível a um ser humano realizar essa prática manualmente com igual rapidez. Porém, não devemos nos apoiar apenas na tecnologia, para alcançarmos resultados.

Espera-se que os novos recursos fornecidos pelo uso de corpus tenham um efeito profundo na tradução do futuro. Tentativas de tradução automática têm constantemente demonstrado aos linguistas que eles não têm conhecimento suficiente sobre as línguas em questão para efetuar uma tradução aceitável. Em princípio, os corpora podem fornecer a informação.

(Camargo, Rocha e Paiva 12).

Como se exemplifica na citação é necessário ao tradutor obter esses conhecimentos, para que se faça um trabalho com responsabilidade e comprometimento, ou ainda, de maneira justa e adequada. A ferramenta traz uma listagem técnica para auxiliar o investigador, mas devido à quantidade de sujeira, é imprescindível uma análise responsável do pesquisador. Aliando a capacidade do próprio investigador em conjunto com as funções da ferramenta, a pesquisa é melhorada e otimizada devido ao grande volume de dados no processamento das informações, reduzindo o tempo da pesquisa.

Dito isto, fixamos um ponto importante. Foi com o questionamento de um item lexical em específico, cuja verificação de forma mais acurada ampliou nosso entendimento sobre o texto, que revelou os que o texto de Benjamin passou. Desde sua criação intelectiva até sua procedimentos publicação de fato. Do abstrato ao concreto. Nesta reflexão, houve a observação a respeito das condições em que o texto foi publicado. Nessa análise, os recortes, aprovações e desaprovações ficaram na estrutura da apresentação esquemática do texto “A Obra de Arte”.

Análise estrutural/esquemática das publicações de “A Obra de Arte”

A supressão de determinadas partes do texto A Obra de Arte foi feita devido a questões de edição, de cunho político, o que nos faz notar o contraste com as demais versões. Segundo algumas cartas de Benjamin a Horkheimer, houve um grande desentendimento a respeito das questões políticas que Benjamin levantava em seu ensaio. Em adição a esta situação, outro ponto de divergência a respeito da tradução do primeiro texto para a língua francesa, foram as alterações que Pierre Klossowski fez no texto. Mesmo tentando justificar a necessidade de permanência de seus posicionamentos, Benjamin teve que ceder às revisões feitas por Horkheimer, o que não o deixou muito satisfeito com esta primeira publicação. Sua insatisfação foi tamanha que posteriormente, ele apresentou uma nova versão, a primeira publicada em língua alemã, mas segunda enquanto versão, com alterações, reformulações, notas de rodapé, em 1938/1939. Contudo, ainda haviam sido feitas mais duas versões em língua alemã, ambas publicadas postumamente, uma em 1955 e a outra em 1974. Por conta disso, Benjamin se viu na necessidade de constantes revisões e alterações. Como resultado, estas reformulações proporcionaram, infelizmente, uma fragmentação maior do texto.

Os cortes foram tantos, e de exemplos mais específicos e ilustrativos, que, de certa forma, modificaram significativamente a compreensão do conteúdo. Estes eventos ficaram explícitos também na redução do número de excursos. De dezenove partes que existiam em sua primeira publicação em francês, publicada em 1936, o texto foi reduzido a quinze excursos, numerados em algarismos romanos.

Para entendermos melhor a disposição na tabela já apresentada, é necessário entender como fomos reconstruindo cronologicamente as publicações feitas. Decidimos não analisar a frequência da palavra jogo em português, diante dos problemas que as versões brasileiras apresentaram, cada uma com suas particularidades. Sem falar que, se o objetivo final desta investigação é propor, enquanto encaminhamento, uma nova e integral tradução revisada deste texto nos atemos somente à estruturação esquemática do ensaio.

Para a varredura dos textos nas diferentes versões em alemão e em comparação com a publicação francesa, fizemos uso de uma ferramenta on-line de processamento da linguagem e metodologias, que embasa as pesquisas em Linguística de Corpus (Berber e Sardinha 2004). A ferramenta utilizada foi Sketch Engine5 5 A ferramenta encontra-se disponível no endereço eletrônico http:// e foi desenvolvida pela Lexical Computing. . Geralmente, as outras ferramentas linguísticas trabalham somente com o formato TXT. No entanto, o programa Sketch Engine6 6 Com o objetivo de não tornar o a leitura do texto cansativa abreviaremos o termo Sketch Engine para SkE. facilitou nossa investigação, fazendo não somente a análise em TXT, mas também em PDF. O programa igualmente faz conversões entre TXT e PDF.

Entendemos por versão do texto todos os textos do Benjamin, aos quais se teve acesso, publicados após sua primeira publicação em francês. Por versão, também entendemos os textos que passaram por alterações, sejam elas feitas pelo próprio autor, pelos editores ou pelos tradutores do texto. Como o texto benjaminiano passou por diversas edições, com e sem consentimento dele, entendemos por versão um texto que tenha sido analisado com o objetivo de apresentar as reflexões do autor.

É importante esclarecer que chamaremos de versões os primeiros registros do texto em língua portuguesa, uma vez que não se trata de uma discussão aurática, sobre o valor de culto e o valor de exposição do texto, mas sim, do alcance que as cópias têm para com o público. Afinal, em se tratando da discussão teórica que o texto expressa sobre o rompimento da aura, temos que concordar com todos os pressupostos teóricos apresentados no próprio ensaio. Discordar não é o objetivo desta investigação, mas sim o da possibilidade de se compor uma versão mais integral, com o acréscimo de tudo o que Benjamin quis expressar, desde a sua primeira publicação. Ou, de maneira negativa, de se conhecer tudo aquilo que foi retirado nas edições do texto.

Desse modo, é necessário esclarecer que a primeira versão do texto alemão é tida como a terceira publicação, e condiz com a primeira publicação do texto em francês. Apesar de sabermos que a seguinte versão original escrita em alemão desapareceu após sua morte, temos o conhecimento de que ela existiu, como consta nas cartas trocadas entre Benjamin e Horkheimer. Ainda que haja os relatos entre Benjamin e Horkheimer, em suas cartas, esta versão (tida como a original) foi encontrada anos depois no arquivo pessoal de Horkheimer. “Desse manuscrito (que desapareceu), terão sido feitos dois datiloscritos (a terceira versão), um dos quais foi enviado por Benjamin a Horkheimer e o outro a Bernhard Reich, para eventual publicação na revista de emigrados alemães Das Wort, o que acabaria por não acontecer.” (BENJAMIN, 2017Benjamin, Walter, 1892-1940. Estética e sociologia da arte. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. Edição e tradução de João Barrento., p.183).

Consultando um dos tomos das obras completas (GS – Benjamin – Band II) do autor em alemão, verificamos a existência de um quadro, que apresenta todo o processo de edição desse texto, bem como uma discussão teórica das cartas entre Benjamin e seus editores. Porém, percebemos também que essa mesma apuração sobre as versões em língua portuguesa jamais havia sido feita até a publicação de mais uma nova versão para o português – 9PORT, em 2013. Todas as vezes que tentávamos acompanhar o total de registros no Brasil do texto “A Obra de Arte”, existia uma série de confusões e equívocos nas informações técnicas apresentadas.

Em que consiste de fato a estrutura esquemática do texto? Supomos que as características que a obra de maneira integral deveria ter desde a sua primeira publicação em 1936, seria: 0– Título, 1– Epígrafes de abertura, 2–Prólogo, 3– Divisão dos excursos por títulos temáticos, 4 – Epílogo. Contudo, esta estrutura não tem um padrão muito rígido. Por exemplo, a primeira publicação do texto em francês só apresenta: 0 – Tútulo, 1 – Divisão dos excursos em algarismos romanos. Assim, como foi possível visualizar, a depender das versões e variações do texto, as estruturas são distintas. Para esta análise, tomamos por base a última versão publicada no Brasil, que apresenta: 0– Título, 1– Epígrafes de abertura, 2–Prólogo/Prefácio, 3– Divisão dos excursos em algarismos romanos, 4 – Epílogo/Posfácio. Nesta versão, há também notas de rodapé escritas pelo Benjamin e pelo tradutor.

Para um melhor acompanhamento das características das versões, utilizaremos siglas referenciadas para sabermos de qual versão estamos nos referindo.

Versão francesa

1FRA- A primeira versão do texto A Obra de Arte foi escrita em 1935 e foi publicada em 1936. Com inúmeros cortes feitos pelo editor da Revista de Investigação Social, Hans Klaus Brill, do Instituto de Pesquisas Sociais, encerrado pelos nazistas em 1933 e refundado pelo então diretor da revista, Marx Horkheimer, em Nova Iorque no ano de 1934. O texto em língua francesa é o maior e apresenta uma variação de excursos, que não ocorrem nas demais versões. O atraso na publicação se deveu ao processo de revisão do texto, entre sua versão original em língua alemã, com o texto traduzido para a língua francesa. Na carta de Benjamin a Horkheimer, datada de 27/02/1936, Benjamin informa que chegarão às suas mãos o texto original e a primeira tradução feita por Pierre Klossowski.

Dentro de um, no máximo dois dias, envio-lhe o manuscrito em francês do meu ensaio. A conclusão, como o senhor Brill já lhe deve ter comunicado, atrasou-se muito e eu pensaria duas vezes antes de solicitar a sua atenção para uma pequena retrospectiva da história desta tradução, se as experiências nela contidas não tivessem certa importância para a programada tradução do seu livro.

(Benjamin 191Benjamin, Walter. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Tradução de Mônica Krausz Bornebusch, Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34. 2009.)

Esta primeira versão em língua francesa é composta por dezenove excursos, numerados e divididos por algarismos romanos, não possui notas de rodapé e foi redigida pelo próprio autor e revisada pelo tradutor da revista, Pierre Klossowski.

Recebeu o nome de « L’œuvre d’art à l’époque de sa reproduction mécanisée ». Em 08/04/1936, em uma reunião com a presença do próprio autor, do editor Brill e do diretor da redação Alcan, o sr. Pollock, Benjamin autoriza a publicação do texto em língua francesa em forma definitiva. É sabido que nesta primeira versão em língua francesa, a totalidade do prólogo que situa a reflexão de Marx, juntamente do primeiro excurso e das notas de tradução do texto, foram todos cortados. Neste trecho da carta de Horkheimer diretor da revista, editor da revista, datada de 18/03/1936, pode-se constatar supressões no texto.

Mas precisamente por se tratar de um texto com opiniões tão arriscadas, temos de nos reservar o direito de introduzir alterações. Quando a publicação não é tão premente, as passagens cortadas podem ser substituídas por outras, reescritas pelo autor. Um exemplo é o da primeira seção do seu trabalho. Depois de conversar várias vezes com todos os colaboradores daqui, chegamos à conclusão de que esse capítulo não pode aparecer. O fato de Brill o ter cortado não se deve a nenhuma arbitrariedade dele, mas resulta de uma observação que eu lhe fiz logo a seguir à primeira leitura...

(Benjamin 200Benjamin, Walter. A tarefa renúncia do tradutor. Trad. Susana K. Lages. A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português, Castelo Branco, Lúcia (Org.), Belo Horizonte: Fale /UFMG, 2008.).

(…) Peço-lhe que se ocupe da correção do resumo, que agora se referirá às 19 seções mantidas. Ainda uma palavra sobre os “Valores de eternidade”. Essa passagem, sobre a qual falamos aí, é também equívoca em francês. Para não deixar a impressão errônea de que o próprio autor acredita em tais valores de eternidade, um erro que nem o final do ensaio poderia evitar, sugerimos que a expressão “Valeurs éternelles” apareça entre aspas...

(Benjamin 201Benjamin, Walter. Obra de arte na época de suas técnicas de reprodução. Tradução de José Lino Grünnewald. São Paulo: Abril Cultural, 1975. Benjamin, Horkheimer, Adorno e Habermas.).

(…) Não me parece que seja necessária uma nota sobre a tradução, porque isso só iria suscitar uma série de conjecturas sobre as razões por que o ensaio não é publicado em alemão. Todas as explicações que dermos não excluirão essas conjecturas.

(Benjamin 201Benjamin, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985.).

Quando comparada com a posterior versão, primeira em língua alemã conhecida como “final”, esta primeira versão francesa, evidencia as hesitações de Benjamin, por culpa de branqueamento nos termos políticos exigidos pelos editores da revista. Por isso, o autor escolheu ficar no campo do materialismo histórico.

Assim no que diz respeito à difusão de suas teses, Benjamin ficou preso à tradução francesa feita por Pierre Klossowski, que pôde aparecer na revista Revista de Pesquisa Social em 1936, depois de um longo vaivém. Contudo, nela não faltavam apenas todos os conceitos politicamente relevantes, mas mais ainda: o caráter programático do todo foi obscurecido pela supressão da primeira seção, significativa para a contextualização histórica e política. Horkheimer fundamentava essas intervenções, feitas sob sua injunção, com a tentativa de “preservar a revista, como órgão científico, de ser envolvida nas discussões políticas da imprensa.”

(Witte 117Witte, Bernd. Walter Benjamin: Uma biografia. Tradução de Romero Freitas. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2017.)

Versões em alemão

1ALE- A primeira publicação do texto em língua alemã, sendo esta uma segunda versão do texto, foi publicada entre os anos 1938/1939, editada e discutida por Scholem, Adorno e Horkheimer. Esta versão adquire o teor de um manifesto e possuí um viés bem mais político. Inclui uma citação de Paul Valéry na abertura do texto, logo em seguida vem o prólogo com uma reflexão de Marx e recebe notas de rodapé, para explicação de determinados termos citados no texto. Possui também um epílogo. Esta versão conta comquinze excursos, que só começam a ser numerados após o prólogo, separados em algarismos romanos, e perdeu em sua edição os títulos temáticos que havia tido na primeira versão em língua alemã publicada em 1974, referente ao que deveria ser a primeira publicação em língua francesa.

O original alemão do ensaio sobre “A obra de arte...” que constituiu a base da primeira publicação em 1955 é a cópia do datiloscrito elaborado em Paris em 1937/38, de que Gretel Adorno datilografou uma outra cópia na primavera em 1938. Essa versão, antes designada de terceira, corresponde no essencial à quinta e última, na forma, na estrutura e no desenvolvimento da argumentação.

(Barrento 184Barrento, João. Limiares sobre Walter Benjamin. Florianópolis: ED-UFSC, 2013.)7 7 A contagem apresentada por João Barrento se encontra desatualizada e um pouco equivocada. Segundo o autor, que desconhece todas as publicações do texto no Brasil, ou seja, na contagem do João Barrento ainda faltam mais seis versões, já publicadas no Brasil.

2ALE- A segunda versão do texto em língua alemã foi publicada em 1955 em Gesammelte Schriften, sob a responsabilidade de Rolf Tiedemann e Hermann Schweppenhauser, em Frankfurt. Essa versão possui o prólogo presente na versão anterior da mesma língua e tem o acréscimo de notas de rodapé. É separada em quinze excursos numerados por algarismos romanos e foi a que teve maior influência na recepção do texto. É conhecida por ser a versão mais radical e ousada, pois apresenta o que Benjamin desejava, ou seja, uma versão com o seu posicionamento mais direto.

3ALE- A versão “final”, ou seja, referente a que deveria ser a primeira versão em língua alemã teve sua escrita iniciada também em 1935, mas só foi publicada, muito posteriormente, em 1974. Esta versão possui dezenove excursos, porém todos receberam títulos temáticos que definiam o assunto a ser tratado em cada um deles. O curioso é que esta versão possui em sua estrutura uma introdução com a reflexão de Marx e esta introdução é contada como excurso do texto. Esta versão foi escrita pelo próprio autor, no entanto, sofreu edições e cortes pelos organizadores da publicação, Max Horkheimer e Adorno. O texto possui também em sua abertura uma citação em francês de Madame de Duras.

Versões em português do Brasil

1PORT- Em língua portuguesa, no Brasil, temos onze versões publicadas. A primeira versão em língua portuguesa foi publicada em 1959, traduzida por Dora Rocha. Possui 15 excursos, citação de Paul Valéry, prólogo, notas de rodapé e epílogo. A tradutora afirma que sua tradução provém da versão em língua francesa. Quando Gunter Pressler fez o levantamento das publicações no Brasil, afirmou que esta versão é referente à primeira publicação do texto em língua francesa (PRESSLER, 2006Pressler, Gunter Karl. Benjamin, Brasil: a recepção de Walter Benjamin, de 1960 a 2005: um estudo sobre a formação da intelectualidade brasileira. São Paulo: Annablume, 2006., p. 359). Mas a estrutura do texto difere da primeira publicação do texto em francês, como também difere na disposição do conteúdo presente na primeira publicação em francês. Possivelmente, esta primeira publicação do texto de Benjamin no Brasil, é tradução de uma tradução. Dora Rocha fez a tradução do francês para o português. No entanto, a versão em francês foi uma tradução da segunda versão do texto em alemão. Essa versão francesa se refere à publicação do texto de 1938/1939, sendo a primeira publicação do texto em língua alemã e não a primeira publicação do texto em língua francesa. (BENJAMIN, 1959Benjamin, Walter. Narrador, O. Trad. Erwin Theodor Rosental. São Paulo: Abril Cultural, 1974., p.15)

2PORT- A segunda versão e tradução do texto em língua portuguesa foi publicada na revista Civilização Brasileira, feita em 1968, por Carlos Nelson Coutinho. Esta versão segue a segunda versão do texto em língua alemã. Possui citação de Paul Valéry em sua abertura, prólogo com texto de Marx, e é dividida em quinze excursos com numeração ordinal, possuindo algumas notas de rodapé e epílogo no final do texto. Levantamos a hipótese de que esta segunda versão em português seja referente à segunda versão do texto em língua alemã. Chegamos a essa conclusão, principalmente, devido à estrutura dos excursos. Entramos em contato com a editora, e obtivemos a informação de que eles não reeditaram mais esse trabalho. Como o órgão que publicou essa tradução era uma revista que circulava na década de 60 no Brasil, chamada “Revista Civilização Brasileira 19/20”, a informação técnica do texto não é apresentada. Por isso, suspeitamos que o tradutor tenha utilizado a segunda versão do texto, a primeira publicada em língua alemã, para fazer a tradução. (Benjamin 1968Benjamin, Walter. L´oeuvre d´art à l´époque de sa reproduction mécanisée. Trad. Pierre Klossowski. Cahier nº 1, Lib. Alcan. Paris, 1936.)

No entanto, de acordo com a edição de 1959, mencionada por Dora Rocha, pensamos que esta versão possa também ter um pequeno problema. Como a estrutura do texto coincide com a versão publicada por Dora Rocha, seguidos da segunda versão do texto de Benjamin e sendo a primeira publicação em língua alemã, inferimos que esta segunda publicação do texto do Benjamin seja uma adaptação e uma tradução da tradução, ou seja, o tradutor Carlos Nelson Coutinho refez a tradução do francês da Dora Rocha, e lançou essa versão, já que há uma lacuna entre as publicações de quase 10 anos. Entramos em contato com a editora por telefone, e explicamos a situação, solicitando informações técnicas sobre a presente tradução. A editora ficou encarregada de nos dar um retorno, para saber de qual língua ele fez a tradução. Até o término e revisão deste trabalho, a editora, que entraria em contato com a viúva do tradutor não nos retornou.

3PORT- A terceira versão em língua portuguesa foi publicada no livro A idéia do cinema, feita no ano de 1969, traduzida por José Lino Grünewald. O tradutor afirma que esta tradução é referente à versão única do texto em língua francesa. Porém sua estrutura difere do da primeira publicação do texto em francês, porque possui quinze excursos em sua abertura, traz citação de Paul Valéry, prólogo com texto de Marx, notas de rodapé e epílogo. De acordo com esta publicação de 69, a versão é informada como sendo traduzida da tradução em francês. Contudo, sua estruturação obedece ao padrão da segunda versão do texto de Benjamin e primeira publicação em alemão.

A Obra de Arte na Época das Técnicas de Reprodução (traduzido por nós da edição em francês) faz parte de uma coletânea de ensaios de Walter Benjamin, onde avultam outros trabalhos de maior significação, como seu estudo de BaudelaireBaudelaire, Charles, 1821-1867. Sobre a modernidade: O pintor da vida moderna. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1996. Organizado por Teixeira Coelho. 4 ed., aquêle sôbre tradução (A Tradução é forma), sobre o narrador ou a respeito de Wahlverwandtschaften, de Goethe.

(Grünewald 8Grünewald, José Lino. A ideia do cinema. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1969.)

Por mais que esta informação seja apresentada no prefácio desenvolvido pelo o tradutor, a estruturação é distinta. Principalmente porque esta versão apresenta quinze excursos, com prólogo e epílogo e a citação de abertura do Paul Valéry. Ou seja, completamente distinta da versão francesa com citação de Madame de Duras, tópicos temáticos e dezenove excursos. Aponta-se este problema aqui, porque a nossa sexta publicação deste texto em português, será a mesma tradução exposta aqui como a décima publicação no Brasil. Contudo, com informação distinta. A sexta publicação do Brasil informará que a obra foi traduzida da tradução francesa e a décima publicação no Brasil (como se poderá confirmar mais adiante), informa que foi traduzida do original alemão. No entanto, o título que aparece na citação acima obedece ao padrão francês e não ao alemão. O que nos leva a pensar que 1) ou houve uma confusão técnica nesta nota, 2) ou esta primeira versão não é traduzida do francês, mas sim do alemão, 3) ou o autor fez uma tradução da tradução, já que a primeira publicação foi feita em francês 4) ou este texto foi traduzido com as duas versões do texto, uma em francês e outra em alemão, obedecendo, no entanto, à estruturação do texto alemão, 5) ou não houve honestidade no processo de tradução e os tradutores fizeram somente uma tradução da tradução, não correspondendo assim ao que o próprio Benjamin apresenta no seu texto A tarefa do tradutor, que é a de se fazer uma tradução com o objetivo de se aproximar ao máximo da língua que está sendo traduzida. (Benjamin 97-98Benjamin, Walter. Das kunstwerk in zeitalter seiner technischen reproduktzierbarkeit. Suhrkamp. Frankfurt, 1974.)

4PORT- A quarta versão foi publicada no livro Teoria da cultura de massa, feita também no ano de 1969, organizada por Luiz Costa Lima. Em sua abertura, traz citação de Paul Valéry, prólogo com texto de Marx, foi dividido em quinze excursos separados em algarismos romanos, algumas notas de rodapé e epílogo no final do texto. O curioso é que a tradução desta versão é assinada por Carlos Nelson Coutinho no final da obra. Esta tradução é referente à segunda versão do texto em língua alemã.

5PORT- A quinta versão em língua portuguesa foi traduzida por Gilberto Velho. Possui quinze excursos, citação de Paul Valéry, prólogo, notas de rodapé e epílogo. O tradutor afirma, em nota de rodapé, que sua tradução é referente à segunda edição do texto em língua alemã. Esta quinta publicação no Brasil segue o mesmo modelo da publicação de 1959, sendo uma republicação. Não há nada de novo.

6PORT- A sexta versão foi publicada em uma coleção da editora Abril, no ano de 1975, intitulada Os pensadores e traduzida novamente por José Lino Grünewald. Juntamente com este texto de Benjamin, constam do livro textos de outros autores como Horkheimer, Adorno e Habermas. Esta versão tem em sua abertura, a citação de Paul Valéry, possui prólogo com o mesmo texto de Marx e foi dividida em quinze excursos, e, ao fim do texto, possui um epílogo. Segundo as análises que realizamos, esta tradução é equivalente à terceira versão do texto em língua alemã. É necessário informar também que, no início do texto do Benjamin, há uma nota de rodapé informando que esta tradução havia sido feita diretamente do alemão, o que não é correto, pois a referência dada é o livro A ideia do cinema, que já informamos trazer uma tradução do francês e não do alemão. Provavelmente, quando o tradutor informou que esta tradução provinha do alemão, ele se baseou na tradução francesa do alemão e não do texto alemão, conforme já apresentamos. Ou seja, volta para um dos cinco pontos que apresentamos referente à tradução 3PORT.

7PORT- A sétima versão em língua portuguesa foi publicada no ano de 1985, pela Editora Brasiliense, em uma coletânea de obras que reuniu textos de Benjamin sobre autores como Kafka e Proust. Teve sua tradução feita por Sérgio Paulo Rouanet e o prefácio por Jeanne Marie GagnebinGagnebin, Jeanne Marie. Limiar, aura e rememoração: ensaios sobre Walter Benjamin. São Paulo: Editora 34, 2014.. Foi dividido em dezenove excursos, todos com títulos temáticos, voltando ao seu formato original da primeira versão em alemão, mas correspondendo à terceira publicação em 1974. O que chama a atenção nesta versão é que não se sabe se por problemas de edição ou de revisão técnica, o texto repete o excurso nove, intitulado “Fotografia e cinema como arte”. Essa versão possui em sua abertura uma citação em francês de Madame de Duras, mas o prólogo permanece o mesmo com o texto de Marx. Possui também algumas notas de rodapé referentes ao texto, com destaque para a primeira nota de rodapé. Nessa nota, o tradutor afirma que a publicação é uma tradução da segunda versão do texto em língua alemã. Em 1994, Sérgio Paulo Rouanet, apresenta uma reedição pela Editora Brasiliense, onde retira o excurso que se repete na primeira publicação e retira também a citação em francês, que fazia a abertura de sua versão anteriormente. Porém, em sua primeira nota de rodapé, o tradutor afirma que esta é uma tradução da segunda versão do texto em língua alemã. Nesta publicação, há uma novidade. O tradutor apresenta esta tradução como proveniente do alemão. No entanto, a nota de rodapé diz o seguinte:

O texto aqui publicado é inédito no Brasil. O ensaio traduzido em português por José Lino Grünewald e publicado em A ideia do cinema (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1969) e na coleção Os Pensadores, da Abril Cultural, é a segunda versão alemã, que Benjamin começou a escrever em 1936 e só foi publicada em 1955.

(Benjamin 165Benjamin, Walter; Schottker, Detlev; Buck-Morss, Susan; Hansen, Miriam. Benjamin e a obra de arte técnica, imagem, percepção. Tradução de Marijane Lisboa e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.).

Afirmamos que é impossível que esta obra tenha sido traduzida somente do texto em alemão, por um detalhe que passou despercebido. A estruturação do texto obedece à estruturação da publicação francesa com dezenove excursos. A diferença é que não há separação entre prólogo e epílogo, o que configuraria a primeira redução no número de excursos, e a citação do Paul Valéry não está presente. Aqui temos a citação de Madame de Duras. Ou seja, provavelmente esta versão foi uma tradução feita usando as duas versões do texto. Uma versão em francês e outra em alemão, pois os capítulos são separados de maneira temática, referente à primeira publicação do texto em francês pela revista do Instituto de Pesquisa Social. E por mais que se tente justificar que esta tradução seria proveniente da versão alemã publicada em 1974, sendo esta referente à primeira publicação do texto em língua francês, com suas devidas correções, para a época em que este texto foi publicado, a repetição do erro, ou a não apresentação de uma tradução comparada entre as línguas francesa e alemã justificaria a urgência em que esta edição deveria ser revista.

8PORT- A oitava versão em língua portuguesa foi publicada, no ano de 2012, pela editora Zouk, e traduzida por Francisco de Ambrosis Pinheiro de Machado. É uma versão que tem sérios problemas de tradução e estruturação do texto. É dividido em dezenove excursos e o tradutor afirma em nota de rodapé que o texto foi traduzido do alemão. Segundo uma nota sobre a presente tradução, temos a informação:

Tradução publicada na Revista Civilização Brasileira (Rio de Janeiro, 1968, ano IV, n. 19-20) e depois na coletânea organizada, prefaciada e comentada por Luiz Costa Lima, Teoria da Cultura de Massas, em 1969 (Benjamin, 2000aBenjamin, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora 34, 2002.). Ainda em 1969, o ensaio recebeu outras duas publicações: uma coletânea organizada e prefaciada por Jose Lino Grünnewald, em A ideia do cinema (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira), outra de Dora Rocha, no livro Sociologia da arte IV, organizada por Gilberto Velho (Rio de Janeiro: Zahar). Entre os pioneiros na recepção deste ensaio no Brasil na década de 1960, podemos citar José Guilherme Merquior, Leandro Konder, Roberto Schwarz, Benedito Nunes e Augusto de Campos.

(Benjamin 5-6Benjamin, Walter. Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. Tradução de José Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.)

1) não há menção de que a primeira tradução do texto de Benjamin havia sido feita por Dora Rocha, que aparece na citação acima, 2) não aparece o nome do Carlos Nelson Coutinho como um dos tradutores de 1969, 3) reutiliza as versões do José Lino Grünewald, como versões distintas em relação à de Dora Rocha, e apresenta o nome do José Lino com erros de grafia, 4) este texto apresenta uma disposição completamente distinta do texto em francês e em alemão na contagem de parágrafos, com dezenove excursos e a citação de Madame de Duras. Traduz os termos em latim que se mantêm em algumas versões do texto. Ou seja, é uma colagem travestida de tradução (Benjamin 2012Benjamin, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Zouk, 2012. Tradução de Francisco de Ambrosis Pinheiro Machado.).

9PORT- A nona versão foi publicada no ano de 2013, pela L&PM Editores, e foi republicada pela L&PM Pocket na primeira edição da coleção, em novembro de 2017. Teve tradução de Gabriel Valladão Silva e foi organizado e prefaciado por Márcio Seligmann-Silva. Possui dezenove excursos, separados por algarismos romanos, possui prefácio e notas de rodapé. Esta versão contém uma informação de extrema importância. Em anexo, há uma tabela com os cortes e mudanças que a primeira traução para o francês e a edição em alemão feitos pelos editores dos textos. Há também um índice com os títulos dos excursos traduzidos, referente à terceira versão em língua alemã e uma carta de Adorno para Benjamin. Aparentemente, esta versão traz uma proposta de nova tradução do texto, porém em sua estrutura e disposição do conteúdo é muito semelhante à versão publicada pela Zouk Editora, o que podemos considerar como um problema muito sério em termos de tradução. Esta edição, ademais, precisaria passar por uma revisão técnica.

10PORT- A décima versão foi publicada no ano de 2015, pela editora Contraponto. Teve tradução de Marijane Lisboa e foi organizada por Detlev Schöttker. Possui quinze excursos, separados por algarismos romanos, possui em sua abertura uma citação de Paul Valéry, prólogo com a citação de Marx e o epílogo. Esta publicação veio com a promessa de ser uma novíssima tradução. De fato, temos uma nova tradução feita do alemão. O que podemos de novo são algumas notas de rodapé. Nesta publicação, há toda uma discussão a respeito da publicação do texto em língua alemã apresentada por Detlev Schöttker, reconstituindo todo o processo de publicação do texto (Benjamin 2015Benjamin, Walter; Schottker, Detlev; Buck-Morss, Susan; Hansen, Miriam. Benjamin e a obra de arte técnica, imagem, percepção. Tradução de Marijane Lisboa e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.).

11PORT- A décima e última versão analisada em língua portuguesa foi publicada no Brasil no ano de 2017, pela editora Autêntica e traduzida por João Barrento. Esta publicação possui quinze excursos, divididos em algarismos romanos. Possui também muitas notas de rodapé do tradutor, que nos informa que é uma tradução da terceira versão do texto em alemão. Esta versão não possui o prólogo com o texto de Marx e traz como acréscimo ao fim do texto as cartas do autor para Scholem e Adorno, que foram organizadas pela editora Suhrkamp, que detinha os direitos autorais das obras de Benjamin, até elas entrarem em domínio público em 2011. Nesta versão, consta também o debate ocorrido entre Benjamin, Adorno e Scholem a respeito da publicação do seu texto. Foi nesta tradução que nos baseamos para toda esta investigação. O tradutor apresenta a discussão de que sua tradução seria a quinta versão para o português do Brasil. No comentário do tradutor nesta obra, podemos compreender toda a gênese do texto. Para nós, é importante ressaltar que a confusão observada João Barrento em relação às versões dos textos traduzidos de Benjamin no Brasil, ganha mais corpo porque nossa própria pesquisa resultou na saída da confusão.

Pensamos que o problema apontado por João Barrento se explica, talvez, em primeiro lugar, pelo desconhecimento da obra de Günter Pressler no Brasil, que indica como podemos acompanhar a escala evolutiva das publicações brasileiras. Em segundo lugar, se explica pelo próprio processo de “escavação”8 8 Este processo de “escavação” se deu literalmente em tentar encontrar e adquirir todas as publicações impressas do texto A Obra de Arte publicadas no Brasil. De todos os exemplares, somente um foi adquirido em formato digital. Todas as outras foram encontradas e compradas em sebos e livrarias. , que foi feita aqui com a obtenção dos títulos impressos no Brasil. Com a aferição destas publicações, foi possível apresentar este novo quadro sobre as publicações do texto de Benjamin, “A Obra de Arte, que apresentamos no início do texto.

Considerações finais ou considerações iniciais?

Embarcando em processos tradutórios e de edição de um texto, foi possível constatar o quão complexa é a transmissão do conhecimento de uma cultura para outra, sobretudo por ser necessário compreender todo o universo que envolve os procedimentos de uma tradução e a relação entre as diferentes culturas. Se não estivermos atentos a estes processos, provavelmente poderemos perder a oportunidade de transformar a realidade, desmistificar conceitos, derrubar teorias criadas em cima de equívocos.

O que foi apresentado aqui, sobre a confusão nas publicações do texto em questão, já havia sido levantado pelo tradutor português João Barrento a respeito das traduções feitas dos textos de Benjamin para o Brasil. Em sua obra Limiares sobre Walter Benjamin (Barrento 2013Barrento, João. Limiares sobre Walter Benjamin. Florianópolis: ED-UFSC, 2013.) João Barrento retoma novamente esta questão, já explicitada antes.

Pensamos que, apesar de toda análise que desenvolvemos aqui, nos debruçando sobre todas as versões e traduções nas línguas francesa, alemã e portuguesa do Brasil, e diante da nova versão do texto recentemente publicada no Brasil em 2017 em tradução de João Barrento (Benjamin 2017Benjamin, Walter, 1892-1940. Estética e sociologia da arte. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. Edição e tradução de João Barrento.), ainda há muito a ser revisto.

Afirmamos isso porque quando percebemos em que consistem os procedimentos de edição, cortes, revisões feitas no texto do Benjamin, vimos as inadequações feitas das edições. Neste ponto, é necessário dizer algo se perdeu neste caminho.

Ao processarmos os textos com auxílio da ferramenta Sketch Engine, percebemos que palavras que deveriam estar presentes na tradução portuguesa do Brasil não estavam lá. A palavra jogo se iluminou diante de nossos olhos tal qual um relâmpago. E com ela foi possível aprender a jogar o jogo de se traduzir. Ao traduzir nossa leitura do francês para nossa língua materna, encontramos lacunas que faltavam/faltam nas investigações do pensamento de Benjamin (como foram apresentadas na disposição do levantamento histórico das publicações).

Günter Pressler (2006)Pressler, Gunter Karl. Benjamin, Brasil: a recepção de Walter Benjamin, de 1960 a 2005: um estudo sobre a formação da intelectualidade brasileira. São Paulo: Annablume, 2006. já havia apontado o caminho a seguir. Sua obra sobre a recepção dos textos de Benjamin no Brasil apresentou o primeiro levantamento de obras traduzidas para o português brasileiro. Mesmo com lacunas a respeito das publicações do texto “A Obra de Arte”, aperfeiçoamos e continuamos no percurso para nos encontrar com Benjamin ao final desta jornada.

Comprovamos, e dessa vez com o Benjamin dentro de seu próprio texto, que a aura de uma obra de arte é rompida com o avanço da tecnologia, para possibilitar o esclarecimento das massas. Tivemos este esclarecimento quando atualizamos a leitura desse texto com a tecnologia de hoje. Todavia, o que defendemos aqui não é a permanência do texto original, afinal, uma cópia contém dentro de si partículas essenciais da obra original. Ela só é transmitida em formas distintas da obra original. E isso só foi possível com as técnicas de reprodução. O que defendemos aqui é que a técnica utilizada de forma mais justa e adequada sempre liberta. E a técnica de hoje vem continuamente avançando de forma adequada e inadequada. Por isso, quando não a usamos de modo adequado, embrutecemos a nós mesmos, favorecemos a interrupção da transmissão do conhecimento e não seguimos aquilo que Benjamin nos relega ao final do seu ensaio, nós não Politizamos a Arte.

Assim, o que pudemos encaminhar a partir desta investigação? Que devemos sempre rever a história a contrapelo tal qual como Benjamin nos ensinou. Por isso, deixamos aqui dois apontamentos a serem refletidos:

  • É necessário fazer um levantamento mais exaustivo e aprimorar o entendimento a respeito dos termos – chaves – apresentados no texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica;

  • É importante pensar em compor, para o Brasil, uma nova edição do texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, partindo não do que já está exposto, mas sim de tudo o que foi retirado, montando, talvez, uma proposta mais integral tal qual o autor havia pensado.

Encerramos com estes dois posicionamentos, porque recentemente, primeiro em 2019 e em seguida em 2020, comprovamos que o segundo encaminhamento acima já é uma realidade na Alemanha desde 2012. Informamos o primeiro momento em 2019 porque foi com a obtenção do título impresso de Walter Benjamin Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit, conhecida como Werk und Nachlaß, Kritische Gesamtausgabe, Band 16, que comprovamos que na Alemanha a exposição integral do texto A Obra de Arte, foi feita a nível de esclarecimento de todo o processo editorial, tradutório e de publicação deste ensaio. Além disso, conseguimos compreender por que João Barrento, através da edição publicada em 2017 pela Editora Autêntica no Brasil, na qual nos baseamos nesta investigação, chama a atenção para as correções a respeito das versões do texto, na que é conhecida agora como 5º Versão alemã.

No entanto, não entendemos, o porquê de tanto João Barrento quanto a Editora Autêntica, terem se limitado somente a publicação da sua tradução adaptada do português de Portugal, datada de 2006 pela editora Assírio & Alvim em Lisboa, para o português do Brasil, sem ter colocado tudo o que já está publicado na Alemanha segundo esta nova edição crítica datada de 20129 9 Basta conferir o volume da tradução da edição alemã Werk und Nachlß e a versão brasileira editada em 2017. A discrepância é notável em termos de volume físico. . Chamamos a atenção para este ponto, porque os equívocos, ou erros técnicos a respeito da tradução dos textos de Benjamin continuam, o que nos levam ao segundo fato no ano seguinte, em 2020.

No segundo semestre do ano de 2020 no Brasil, em específico no mês de setembro, foi lançado, através de um financiamento coletivo, à publicação de sete textos inéditos do autor alemão para o português do Brasil. Este esforço conjunto de várias pessoas que conhecem, admiram e pesquisam o pensamento de Walter Benjamin, trazem ao público brasileiro, novos conhecimentos sobre sua filosofia. Contudo, o erro continua. Ao não se informar de forma justa e adequada dados históricos a respeito das obras do autor, desde a sua entrada no Brasil em 1959 e a perpetuação do seu conhecimento agora em 2021 com a publicação de seus textos inéditos, vemos que a obra de Benjamin mais uma vez sofre um revés no Brasil.

Walter BenjaminBenjamin, Walter. Das Passagen- Werk. Frankfurt/M.: Suhrkamp. 1983. é um filósofo extensamente discutido na academia brasileira. Recebido no Brasil a partir da década de 198010 10 Grifo nosso. , principalmente, sua obra encontrou repercussão principalmente a partir dos textos “A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica”, “O Narrador” e “Sobre o conceito de História”.

(Racy 185Racy, Gustavo. Walter Benjamin está morto. Organização e tradução de Gustavo Racy. São Paulo: Sobinfluência Edições, 2020.)

Tal fato nos mostra que devemos continuar atentos ao que ele afirma em sua tese V da obra Sobre o conceito de História (BENJAMIN, 2010Benjamin, Walter. Über den Begriff der Geschichte. Suhrkamp, 2010. Werke und Nachlaß Band 19.).

Das wahre Bild der Vergangenheit huscht vorbei. Nur als Bild, das auf Nimmerwiedersehen im Augenblick seiner Erkennbarkeit eben aufblitz, ist die Vergan<en>heit festzuhalten. ,,Die Wahrheit wird uns nicht davonlaufen”

(Benjamin 71Benjamin, Walter. Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. Tradução de José Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.)11 11 A verdadeira imagem do passado escapa. Somente como imagem, que jamais voltará no exato momento do seu reconhecimento, o passado é apreendido. A Verdade não nos escapará. Tradução livre.

Afinal, entre o passado e o futuro, o que permanece é a imagem do momento.

  • 1
    A partir de agora, iremos nos referir ao texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, somente como “A Obra de Arte”.
  • 2
    Gunter Pressler provavelmente não teve conhecimento das demais versões publicadas no Brasil. Da mesma forma, ele deve não ter tido acesso à primeira versão do texto que foi publicada em 1954 e não em 1974.
  • 3
    Infelizmente não adentramos mais na investigação desta problemática, para não nos desviarmos a nosso objetivo proposto neste trabalho. Contudo, fica um encaminhamento. É necessário traduzir e publicar este texto em língua portuguesa o mais rápido possível.
  • 4
    Definimos aqui como o termo “sujeira”, todas as palavras que apresentam em seu radical estruturas lexicais similares aos do termo investigado.
  • 5
    A ferramenta encontra-se disponível no endereço eletrônico http:// e foi desenvolvida pela Lexical Computing.
  • 6
    Com o objetivo de não tornar o a leitura do texto cansativa abreviaremos o termo Sketch Engine para SkE.
  • 7
    A contagem apresentada por João Barrento se encontra desatualizada e um pouco equivocada. Segundo o autor, que desconhece todas as publicações do texto no Brasil, ou seja, na contagem do João Barrento ainda faltam mais seis versões, já publicadas no Brasil.
  • 8
    Este processo de “escavação” se deu literalmente em tentar encontrar e adquirir todas as publicações impressas do texto A Obra de Arte publicadas no Brasil. De todos os exemplares, somente um foi adquirido em formato digital. Todas as outras foram encontradas e compradas em sebos e livrarias.
  • 9
    Basta conferir o volume da tradução da edição alemã Werk und Nachlß e a versão brasileira editada em 2017. A discrepância é notável em termos de volume físico.
  • 10
    Grifo nosso.
  • 11
    A verdadeira imagem do passado escapa. Somente como imagem, que jamais voltará no exato momento do seu reconhecimento, o passado é apreendido. A Verdade não nos escapará. Tradução livre.

Referências

  • Barrento, João. Limiares sobre Walter Benjamin Florianópolis: ED-UFSC, 2013.
  • Baudelaire, Charles, 1821-1867. Sobre a modernidade: O pintor da vida moderna Rio de Janeiro: Paz e terra, 1996. Organizado por Teixeira Coelho. 4 ed.
  • Benjamin, Walter. Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit. Suhrkamp, 2012. Werke und Nachlaß Band 16
  • Benjamin, Walter. Über den Begriff der Geschichte. Suhrkamp, 2010. Werke und Nachlaß Band 19
  • Benjamin, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica Porto Alegre: Zouk, 2012. Tradução de Francisco de Ambrosis Pinheiro Machado.
  • Benjamin, Walter. A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica. Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura. Obras Escolhidas Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo, Brasiliense, 1994.
  • Benjamin, Walter, 1892-1940. Estética e sociologia da arte Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. Edição e tradução de João Barrento.
  • Benjamin, Walter. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe Tradução de Mônica Krausz Bornebusch, Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34. 2009.
  • Benjamin, Walter. A tarefa renúncia do tradutor. Trad. Susana K. Lages. A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português, Castelo Branco, Lúcia (Org.), Belo Horizonte: Fale /UFMG, 2008.
  • Benjamin, Walter. Obra de arte na época de suas técnicas de reprodução Tradução de José Lino Grünnewald. São Paulo: Abril Cultural, 1975. Benjamin, Horkheimer, Adorno e Habermas.
  • Benjamin, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985.
  • Benjamin, Walter. Narrador, O. Trad. Erwin Theodor Rosental São Paulo: Abril Cultural, 1974.
  • Benjamin, Walter. L´oeuvre d´art à l´époque de sa reproduction mécanisée Trad. Pierre Klossowski. Cahier nº 1, Lib. Alcan. Paris, 1936.
  • Benjamin, Walter. Das kunstwerk in zeitalter seiner technischen reproduktzierbarkeit Suhrkamp. Frankfurt, 1974.
  • Benjamin, Walter; Schottker, Detlev; Buck-Morss, Susan; Hansen, Miriam. Benjamin e a obra de arte técnica, imagem, percepção Tradução de Marijane Lisboa e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
  • Benjamin, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação São Paulo: Editora 34, 2002.
  • Benjamin, Walter. Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo Tradução de José Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
  • Benjamin, Walter. Das Passagen- Werk. Frankfurt/M.: Suhrkamp. 1983.
  • Dostoiévski, Fiódor. Um jogador Tradução de Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34. 2011.
  • Gagnebin, Jeanne Marie. Limiar, aura e rememoração: ensaios sobre Walter Benjamin São Paulo: Editora 34, 2014.
  • Gorz, André; Guimarães, Renato; Houaiss, Antônio; Benjamin, Walter; Mello, Gentile de. Revista civilização Brasileira 19/20. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S. A. 1968.
  • Grünewald, José Lino. A ideia do cinema Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1969.
  • Lages, Susana Kampff. Walter Benjamin: Tradução e Melancolia São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
  • Moles, Abraham et al Teoria da cultura de massa Tradução de Luiz Costa Lima. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000.
  • Pressler, Gunter Karl. Benjamin, Brasil: a recepção de Walter Benjamin, de 1960 a 2005: um estudo sobre a formação da intelectualidade brasileira São Paulo: Annablume, 2006.
  • Racy, Gustavo. Walter Benjamin está morto Organização e tradução de Gustavo Racy. São Paulo: Sobinfluência Edições, 2020.
  • Witte, Bernd. Walter Benjamin: Uma biografia Tradução de Romero Freitas. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2017.

Dicionários

  • Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
  • Dicionário Larousse Francês-Português; Português-Francês Mini São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    07 Fev 2022
  • Aceito
    28 Abr 2022
  • Publicado
    Ago 2022
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