Acessibilidade / Reportar erro

Culturas das Ciências Naturais

Cultures of Natural Sciences

Resumos

Este artigo apresenta subsídios para o ensino de História das Ciências, considerando particularmente o campo da História da História Natural e das Ciências Naturais. Sem ser uma revisão completa da historiografia desses campos de conhecimento sobre o mundo natural, retoma alguns traços gerais desses longos processos de definição de campos disciplinares que se configuram desde a Renascença até o final do século XVIII. Considera diversas tradições culturais e historiográficas que contribuíram para os nossos entendimentos atuais, de como a História Natural do Renascimento foi abandonando seus antigos quadros conceituais, assumindo novas práticas e se constituindo nas tradições da História Natural do século XVIII. Comenta esses processos, em que tanto a Botânica, a Zoologia, a Mineralogia se individualizam como áreas de conhecimentos apoiadas em práticas locais e coleções globais, indo além de sua subordinação à utilidade médica; bem como suas organizações em áreas de conhecimento, por começarem a se colocar questões relativas à origem e à historicidade dos seres e processos naturais, dados os avanços das temáticas classificatórias e das discussões envolvendo temporalidades.

História da Ciência; História Natural; Ciências Naturais; historiografia


This paper provides insights into the teaching of the History of Science, especially the field of the History of Natural History and Natural Sciences. Although not claiming to be a complete historiographic review of these areas of knowledge about the natural world, it outlines the general traits of the long process of definition of disciplines that were shaped from the Renaissance to the end of the XVIII century. It encompasses various cultural and historiographic traditions that contributed to our present understanding of how Renaissance Natural History abandoned its ancient conceptual frameworks and assumed new practices and shaped itself in the tradition of XVIII century Natural History. The paper comments on these processes by which Botany, Zoology and Mineralogy were individualized as knowledge supported by local practice and global collections, beyond their subordination to medical use. It deals also with their organization as areas of knowledge arising from questioning the origins and historicity of natural beings and processes, due to advances in the realms of ordering and classification and discussions about temporality.

History of Science; Natural History; Nature Sciences; historiography


Culturas das Ciências Naturais

Cultures of Natural Sciences

Maria Margaret Lopes

Professora Associada da Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino. Instituto de Geociências. E-mail: mmlopes@ige.unicamp.br

RESUMO

Este artigo apresenta subsídios para o ensino de História das Ciências, considerando particularmente o campo da História da História Natural e das Ciências Naturais. Sem ser uma revisão completa da historiografia desses campos de conhecimento sobre o mundo natural, retoma alguns traços gerais desses longos processos de definição de campos disciplinares que se configuram desde a Renascença até o final do século XVIII. Considera diversas tradições culturais e historiográficas que contribuíram para os nossos entendimentos atuais, de como a História Natural do Renascimento foi abandonando seus antigos quadros conceituais, assumindo novas práticas e se constituindo nas tradições da História Natural do século XVIII. Comenta esses processos, em que tanto a Botânica, a Zoologia, a Mineralogia se individualizam como áreas de conhecimentos apoiadas em práticas locais e coleções globais, indo além de sua subordinação à utilidade médica; bem como suas organizações em áreas de conhecimento, por começarem a se colocar questões relativas à origem e à historicidade dos seres e processos naturais, dados os avanços das temáticas classificatórias e das discussões envolvendo temporalidades.

Palavras-chave: História da Ciência. História Natural. Ciências Naturais; historiografia.

ABSTRACT

This paper provides insights into the teaching of the History of Science, especially the field of the History of Natural History and Natural Sciences. Although not claiming to be a complete historiographic review of these areas of knowledge about the natural world, it outlines the general traits of the long process of definition of disciplines that were shaped from the Renaissance to the end of the XVIII century. It encompasses various cultural and historiographic traditions that contributed to our present understanding of how Renaissance Natural History abandoned its ancient conceptual frameworks and assumed new practices and shaped itself in the tradition of XVIII century Natural History. The paper comments on these processes by which Botany, Zoology and Mineralogy were individualized as knowledge supported by local practice and global collections, beyond their subordination to medical use. It deals also with their organization as areas of knowledge arising from questioning the origins and historicity of natural beings and processes, due to advances in the realms of ordering and classification and discussions about temporality.

Keywords: History of Science. Natural History. Nature Sciences. historiography.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

Ao CNPq pelas minhas atividades de pesquisa e à Fapesp pelo apoio ao projeto: Emergência e consolidação das ciências naturais no Brasil (1770-1870). Proc. n. 2000/04751-0.

Artigo recebido em março de 2005 e selecionado para publicação em setembro de 2005.

  • ALLEN, D. E. Walking the swards: medical education and the rise and spread of the botanical field class. Archives of Natural History, v. 27, n. 3, p. 335-367, 2000.
  • ALMAÇA, C. The beginning of the Portuguese mammalogy. Lisboa: Univ. de Lisboa. Museu de História Natural (Museu Bocage), 1991.
  • ASHWORTH, W. B. Emblematic natural history of Renaissance. In: JARDINE JR., N. et al. (ed.). Cultures of Natural History Cambridge: Cambridge University Press, 1997, p. 17-37.
  • ASHWORTH JR., W. B. "Natural history and the emblematic world view". In: LINDENBERG, D. C.; WESTMAN, R. S. (eds.). Reappraisals of the Scientific Revolution. Cambridge: Cambridge University Press, 1990, p. 303-332.
  • BARRETO, L. F. Rumos do saber em Portugal do Renascimento ao Iluminismo. In: GAGO, J. M. (coord.). Ciência em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1991, p. 17-24.
  • BELTRÁN, A. La historia natural de Buffon: la eternidad en la historia. In: BUFFON, G. L. Las epocas de la naturaleza. Madrid: Alianza Editorial, 1997, p. 11-122.
  • BLANCKAERT, C. et al. Le Muséum au premier siècle de son histoire. Paris: Éditions du Muséum national d´Histoire naturelle, 1997.
  • BRIGOLA, J. C. P. Coleções, gabinetes e museus em Portugal no Século XVIII. Portugal: Universidade de Évora, 2000.
  • CAREY, S. The problem of totality. Collecting Greek art, wonders and luxury in Pliny the Elder´s Natural History. Journal of the History of Collections, v. 12, n. 1, p 1-13, 2000.
  • DONADO, J. V. (ed.) Aristóteles Historia de los Animales. Madrid: AKAL, 1990.
  • DROUIN, J. M.; HULIN, N. Introduction. Rev. Hist. Sci. v. 51, n. 4, p. 403-407, 1998.
  • FERREIRA, A. R. Viagem filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Memórias Zoologia e Botânica. Rio de Janeiro: Conselho Federal da Cultura, 1972.
  • FINDLEN, P. Controlling the experiment: rethoric, court patronage and experimental method of Francesco Redi. Hist. Sci. v. 31, p. 35-64, 1993.
  • ______. Possessing Nature Museums, collecting, and Scientific culture in Early modern Italy. Berkeley: University of California Press, 1996.
  • FOUCAULT, M. As palavras e as coisas. (Uma Arqueologia das Ciências Humanas). São Paulo: Martins Fontes, s/d.
  • FRÄNGSMYR, T. (ed.) The Structure of Knowledge: Classifications of Sciences and Learning Since the Renaissance. Berkeley: University of California, 2001, p. 77-91.
  • ______. Linnaeus and the classification tradition in Sweden. In: FRÄNGSMYR, T. (ed.). The Structure of Knowledge: Classifications of Sciences and Learning Since the Renaissance. Berkeley: University of California, 2001.
  • GEORGE, W. Sources and background to discoveries of new animals in the sixteenth and seventeenth centuries. Hist. Sci., v. 18, p. 79-104, 1980.
  • JARDINE, N.; SECORD, J. A.; SPARY, E. C. Introduction. Cultures of Natural History Cambridge. 1997.
  • KUHN, T. S. A tensão essencial Lisboa: Edições 70, 1977.
  • KURY, L. B. Entre utopia e pragmatismo: a História Natural no Iluminismo tardio. In: SOARES, L. C. (org). Da Revolução Científica à Big (Business) Science São Paulo: Hucitec, 2000, p. 105-153.
  • LAFUENTE, A.; MOSCOSO, J. (eds.) Georges-Louis Leclerc Conde de Buffon (1707- 1788). Histoire Naturelle, 1749. Madrid: CSIC, 1999.
  • LIMOGES, C. The Development of the Museum d'Histoire Naturelle of Paris, c. 1800-1914. In: FOX, R.; WEISZ, G. (eds.). The Organization of Sciences and Technology in France 1808- 1914, Paris: Maison des Sciences de l'Homme, 1980, p. 211-240.
  • LOPES, M. M. et al. Scientific culture and activities related to mineralogical sciences in the Luso-Brazilian Empire - emphasis on the work of João da Silva Feijó (1760-1824). In: Ceará (Northeast of Brazil). Science in Context, 2005, p. 201-224.
  • MAcGREGOR, A. A magazin of all manner of inventions. Museums in the quest for "Salomon's House" in seventeenth-century England. Journal of History of Collections, v. 1, n. 2, 1989, p. 207-212.
  • MAYR, E. O desenvolvimento do pensamento biológico Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 1998.
  • ORTA, G. Colloquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinaes da Índia e assi de alumas fructas achadas nella (Várias cultivadas hoje no Brazil) Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1872.
  • REY, R. La classification des Sciences. Revue de synthèse, n. 1-2, janvier-juin. Tomo CXV, 1994.
  • ROSSI, P. A Ciência e a Filosofia dos modernos São Paulo: Ed. Unesp, 1992.
  • ______. Francis Bacon: De la magia a la ciencia. Madrid: Alianza Editorial, 1990a.
  • ______. Las arañas y las hormigas. Una apología de la Historia de la ciencia. Barcelona: Crítica, 1990.
  • ______. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru: Edusc, 2001.
  • RUDWICK, M. The meaning of fossils Episodes in the History of Paleontology. Chicago: The University of Chicago Press, 1987.
  • SCHIEGINGER, L. O Feminismo mudou a ciência? Bauru: Educ, 2001.
  • SHAPIN, S. The Scientific Revolution Chicago: The University of Chicago Press, 1996.
  • SLOAN, P. R. Natural History. In: OLBY, R. et al. (eds.). Companion to the History of Modern Science. London, New York: Routledge, 1996, p. 295-313.
  • TOULIN, S.; GOODFIELD, J. El Descubrimiento del Tiempo Paidós: Barcelona, 1990.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Maio 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2005

Histórico

  • Aceito
    Set 2005
  • Recebido
    Mar 2005
Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências, campus de Bauru. Av. Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Campus Universitário - Vargem Limpa CEP 17033-360 Bauru - SP/ Brasil , Tel./Fax: (55 14) 3103 6177 - Bauru - SP - Brazil
E-mail: revista@fc.unesp.br