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A ENTONAÇÃO EXPRESSIVA NA INTERPRETAÇÃO PARA LÍNGUA DE SINAIS TÁTIL EM CONFERÊNCIAS

THE “INTERPRETATION” OF EXPRESSIVE INTONATION FOR TACTILE SIGN LANGUAGE AT CONFERENCES

Resumo

A guia-interpretação para pessoas surdocegas corresponde a uma especialização do trabalho do Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS). O objetivo deste estudo é apresentar considerações fundamentais sobre a guia-interpretação para a Língua Brasileira de Sinais Tátil (Libras Tátil) em contexto de conferências, mais especificamente no que se refere às adaptações e ao léxico específico para interpretação da entonação expressiva dos enunciados, considerando os efeitos de modalidade de língua e condições de produção e recepção. Para tanto, foram analisados três registros em vídeo de guia-interpretação em conferências e diário de campo no trabalho em equipe em outras conferências. Observamos o uso de diferentes unidades lexicais assumindo a função de entonação expressiva para sentenças afirmativas e negativas, substituindo morfemas produzidos pelo parâmetro marcação não manual (expressões faciais e corporais) ou pelo parâmetro movimento. Consideramos que, na atividade de interpretação para a Libras Tátil, um item lexical simples pode vir a assumir diferentes funções gramaticais. Aparentemente sobressalente ou redundante, ele se apresenta como termo que se desloca para ser empregado como elemento de entonação expressiva. Por isso, a atuação em conferências demanda do profissional guia-intérprete, além de competências de descrição e tradução, competência linguística específica.

Palavras-chave
Guia-interpretação; Entonação expressiva; Libras tátil; Conferências

Abstract

The guide-interpreter for deaf-blind people corresponds to a specialization of work of Sign Language Translator and Interpreter (Portuguese abbreviation: TILS). The aim of this study is to provide fundamental considerations about the guide-interpretation within the context of conferences for the Brazilian Tactile Sign Language (Libras Tátil). These considerations regard more specifically to adaptations and specific lexicon for interpretation of expressive intonation of the utterances, considering effects of language modality and conditions of production and reception. For this purpose, three conferences guide-interpretation video records and a teamwork field diary of other conferences were analyzed. We observed the use of different lexical units assuming the function of expressive intonation for affirmative and negative sentences, replacing morphemes produced by non-manual elements (facial and body expressions) or by movement. We consider that in the interpretation activity for Libras Tátil, a simple lexical item can assume different grammatical functions. It seems spare or redundant, but it becomes an element of expressive intonation. For this reason, acting in conferences requires specific linguistic competence from the professional guide-interpreter, in addition to description and translation skills.

Keywords
Guide-interpretation; Expressive intonation; Tactile Libras; Conferences

Introdução

O objetivo deste estudo é apresentar considerações fundamentais sobre a guia-interpretação para a Língua Brasileira de Sinais Tátil (Libras Tátil) em contexto de conferências, mais especificamente no que se refere às adaptações e ao léxico específico para interpretação da entonação expressiva dos enunciados, considerando os efeitos de modalidade de língua e condições de produção e recepção.

A guia-interpretação para pessoas surdocegas corresponde a uma especialização do trabalho do Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS), e entre as tarefas desse profissional está a de descrever tudo o que cerca a pessoa surdocega e de atuar na sua orientação e mobilidade, além de transmitir as enunciações e mediar a comunicação. Um bom profissional guia-intérprete conhece diferentes formas de comunicação e tem a facilidade de se adaptar às necessidades comunicativas e ergonômicas do surdocego. A saber, as principais formas de comunicação são: Libras campo reduzido; Libras tátil; escrita na palma da mão; braille tátil, alfabeto na palma da mão; tadoma; fala ampliada; placas alfabéticas; sistema pró-tátil, entre outras.

Há que se fazer um pequeno parêntese aqui. Essas diferentes formas de comunicação estarão relacionadas a uma língua: no nosso caso, ou ao português ou à Libras. Como podemos observar, a comunicação por meio do alfabeto na palma da mão utiliza-se das palavras da língua portuguesa; já a Libras tátil corresponde a uma adaptação ou extensão da Libras sobre a qual vamos discorrer mais a fundo no decorrer deste artigo.

A atividade do guia-intérprete envolve, além da transmissão das enunciações e da mediação da comunicação, a descrição das pessoas e do ambiente, para que o surdocego possa se orientar de acordo com o contexto. E, no momento em que ele precise se locomover, esse profissional guia o surdocego, intermediando a comunicação entre ele e os demais participantes de um determinado evento. O guia-intérprete também faz a leitura de documentos essenciais para a participação do surdocego.

Ressaltamos também que o trabalho do guia-intérprete não termina quando a palestra finaliza ou quando a conversa acaba. Ele atua com dedicação exclusiva ao surdocego e não pode se ausentar, deixando-o desatendido; portanto, raríssimas vezes pode trabalhar sozinho. Seu cliente não é totalmente independente para se comunicar, tampouco para atender suas necessidades fisiológicas básicas, como se alimentar ou ir ao banheiro em um lugar desconhecido. Assim, sua tarefa é de alta complexidade no que diz respeito à responsabilidade para com a informação e comunicação, e igualmente complexa com relação à segurança da pessoa surdocega (Santiago 9Santiago, Vânia de Aquino Albres. “Tradução e Interpretação de e para Libras: Um guia para quem quer contratar serviços de tradução e interpretação de Libras - língua brasileira de sinais”. São Paulo, FEBRAPILS; ABRATES – SINTRA – Instituto Singularidades, 2016, https://drive.google.com/file/d/0B7ZxCOYQ0QJmV3dTMWhfOUtFYkk/view. Accessed 5 jun. 2020.
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).

A seguir, para entender o trabalho do guia-intérprete, considera-se que é necessário entender a surdocegueira, trazida neste texto pela perspectiva da comunicação, a partir da condição sensorial apresentada pela pessoa surdocega.

Surdocegueira

Surdocega é a pessoa que apresenta perdas visual e auditiva combinadas. Algumas pessoas surdocegas têm perdas totais desses sentidos, outras não, podendo manter resíduos auditivos e/ou visuais. Vários autores, como WriterWriter, J. A movement-based approach to the education of students who are sensory impaired/multihandicapped. In: Goetz, L., and D. Guess, and K. Strenel-Campbell. Innovative program design for individuals with dual sensory impairments, tradução de Antonio Ballesteros Jaraiz, Baltimore, Paul H. Brookes, 1987, pp. 191-223., FreemanFreeman, Peggy. “El bebé sordo ciego. Um programa de atención temprana”. Madrid, Editora ONCE, 1991., Wheeler and GriffinWheeler, Linda and Griffing, Harold. C. A movement based approach to language developement in children who are deaf-blind. Americans Annals of deaf, v. 142, n. 56, December 1997, pp. 387-390,. e McInnesCader-Nascimento, Fatima Ali Abdalah Abdel, and Maria da Piedade Resende da Costa. Mediação pedagógica no processo de desenvolvimento da comunicação em crianças Surdocegas. Temas em Psicologia da SBP, 2003, v. 11, n. 2, p. 85-96, http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1413-389X20030002&lng=pt&nrm=i. Accessed 5 jun. 2020.
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defendem a surdocegueira como única, não como a soma de dois comprometimentos sensoriais (Cader-Nascimento and Costa 20Cader-Nascimento, Fatima Ali Abdalah Abdel, and Maria da Piedade Resende da Costa. Mediação pedagógica no processo de desenvolvimento da comunicação em crianças Surdocegas. Temas em Psicologia da SBP, 2003, v. 11, n. 2, p. 85-96, http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1413-389X20030002&lng=pt&nrm=i. Accessed 5 jun. 2020.
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).

Hoje sabemos que uma das principais causas da surdocegueira é a Síndrome de Usher, que consiste em um conjunto de doenças genéticas (autossômicas recessivas) caracterizado pela presença de deficiência auditiva neurossensorial, havendo a presença ou não de disfunção vestibular e de retinose pigmentar. Cada pessoa surdocega pode se comunicar por uma língua e também por um tipo de comunicação diferente, a depender da faixa etária em que se deu a perda da visão e/ou da audição. As formas de comunicação1 1 CÓDIGO BRAILLE: Braille tátil (sistema alfabético com símbolos em relevo que faz uso do tato para identificar as letras representadas nas Celas Braille - - seis pontos dispostos em duas colunas preenchidos ou perfurados em combinação diferente para cada letra do alfabeto); Finger Braille e Braille Manual (pontos específicos nos dedos de uma mão ou das duas mãos representam os seis pontos da cela Braille); Máquina braille (máquina de datilografar adaptada às posições da cela braille); Display Braille (código e digitação semelhante à da máquina Braille, porém conectados a softwares de computadores tablets e celulares para leitura tátil da tela e digitação de mensagens). SISTEMA ALFABÉTICO: Alfabeto na palma da mão (letras desenhadas em caixa alta e com movimentos determinados, com o dedo na palma da mão da pessoa surdocega, pode utilizado nas costas ou antebraço); Placas alfabéticas (placas com as letras do alfabeto escritas e caixa alta utilizadas para formar as palavras a partir do tato e apontação); Escrita ampliada (na tela de equipamento eletrônico ou em papel); Sistema Lorm (diferentes pontos do dorso ou da palma da mão pessoa surdocega representa fonemas ou combinação de fonemas, o emissor utiliza as pontas dos dedos para o toque, pressão ou movimento do dedo para formar as palavras); Sistema Malossi (similar ao Lorm, porém apenas utilizando o toque nos pontos referentes a cada letra do alfabeto). FALA ORAL: Tadoma (comunicação em que a pessoa surdocega encosta a mão, tateando o maxilar e a garganta, para sentir a articulação da fala e a vibração das cordas vocais); Fala ampliada (repetição da fala do orador de forma sussurrada próximo ao ouvido com resíduo auditivo da pessoa surdocega, ou por meio de microfone conectado a fone). SINAIS: Língua de sinais campo reduzido; língua de sinais tátil, sistema pró-tatil (sinais de feedback que indicam as expressões dos interlocutores e a presença do interlocutor ou guia-intérprete); Comunicação háptica (sistema de comunicação por meio do toque nos braços ou nas costas que representam informações visuais e ambientais) (Santiago; Almeida; Canuto et al.). também podem ser combinadas, utilizadas concomitantemente, a depender das características e condições sensoriais que serão apresentadas nesse primeiro tópico e também a depender da situação de interação.

De forma geral, a surdocegueira é classificada da seguinte forma:

  • i. Surdocegos pré-linguísticos: normalmente bebês ou crianças que tiveram perdas severas de audição e de visão antes da aquisição de linguagem e de língua, também chamada de surdocegueira congênita, causada pela síndrome de Usher tipo I, ou outras síndromes/patologias.

Esses bebês ou crianças necessitam do instrutor-mediador, que se encarrega de acompanhar a escolarização e desenvolvimento linguístico da criança ou jovem surdocego. Essas crianças podem inicialmente ter aversão ao contato físico. Portanto, é comum o uso de objetos de referência, agendas e outras estratégias táteis para o início do trabalho de desenvolvimento de língua e de linguagem a partir de outros meios de simbolização. No trabalho com crianças surdocegas pré-linguísticas, Van DijkVan Dijk, Jan. Working with Deaf-Blind Children and Adolescents: Jan Van Dijk approach to communication. National Center of Deaf-Blindness, 1987. http://nationaldb.org/library/page/1969. Accessed 5 jun. 2020.
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, na década de 1980, identificou seis fases no desenvolvimento da linguagem simbólica do surdocego: nutrição, ressonância, movimento coativo, referência não representativa, imitação e gesto natural. A partir dessa última fase, do gesto natural, principia a aquisição de linguagem e de língua. A estimulação da aprendizagem de sistemas alternativos de comunicação com crianças surdocegas deve considerar suas particularidades e as especificidades de seu histórico de saúde, contexto social e desenvolvimento cognitivo, e também considerar a participação da família no processo de ganho de autonomia comunicacional, para que na fase da juventude ou da vida adulta esta pessoa passe a precisar somente dos serviços do profissional guia-intérprete.

  • ii. Surdocegos pós-linguísticos: são crianças, jovens ou adultos que tiveram perdas significativas e severas de audição e de visão após a desenvolvimento de linguagem e aquisição de língua vocal ou sinalizada, muitos já alfabetizados. Nesses casos, a elegibilidade do tipo de comunicação é naturalmente da pessoa com surdocegueira.

É importante explicar que a degeneração da visão ou da audição não acontece concomitantemente, e essa condição também vai ser decisiva na elegibilidade do tipo de comunicação pela pessoa surdocega. De modo geral, podemos dizer que pessoas que tiveram perda de audição muito antes de sua visão está comprometida tendem a eleger a língua de sinais como base para sua comunicação, e podemos afirmar também que pessoas que tiveram a perda da visão antes do comprometimento auditivo tendem a eleger um tipo de comunicação que privilegie a língua vocal, visto que normalmente já aprenderam a falar o português, como é nosso caso no Brasil. O profissional da comunicação que atua no atendimento dos surdocegos pós-linguísticos é o guia-intérprete, que é responsável pela mediação da sua interação com pessoas que não sabem a sua forma de comunicação na interpretação de conferências, palestras, aulas ou qualquer informação cotidiana, e também responsável pela orientação e mobilidade2 2 Orientação e mobilidade – O&M: mover-se de forma segura e eficaz orientada e a partir de informações sensoriais. O guia vidente é responsável pela O&M de uma pessoa surdocega, ele guia e orienta uma pessoa com deficiência visual por vários lugares, proporcionando informações corporais e sinestésicas, que ajudam em seu deslocamento, em situações como mudar de direção, passar por lugares estreitos, subir escadas, passar adequadamente por portas, e auxiliam também no manuseio de objetos (Bertola and Costa 2015). .

A partir desse entendimento, passamos à explicação sobre as condições da visão subnormal e o que elas representam para uma pessoa surdocega que se comunica por meio da língua de sinais, foco deste estudo, apresentando alguns exemplos. Ressalto que, para o tema deste trabalho, é essencial compreender as condições visuais – ou seja, os tipos e os níveis de perdas visuais – de pessoas surdocegas e, a partir disso, compreender as diferentes formas de comunicação com surdocegos sinalizantes. Neste ponto, é importante ter claro que o surdocego é a melhor pessoa para descrever sua própria condição sensorial, e a atuação do guia-intérprete em língua de sinais vai depender também de saber adequar sua atuação às necessidades e à condição visual da pessoa surdocega.

Em seguida, veremos quatro quadros com imagens que representam as principais condições da pessoa com visão subnormal, e os comentários sobre tipos de comunicação e estratégias, considerando o diálogo ou a comunicação por meio da interpretação para línguas de sinais.

Quadro 1
Representação da condição de visão no caso de perda de visão periférica

A pessoa surdocega que tem perda da visão periférica normalmente se comunica, no caso do Brasil, pela Libras campo reduzido: comunicação em que o guia-intérprete sinaliza com movimentos de menor amplitude e em que a pessoa surdocega precisa se afastar do sinalizador para aumentar seu campo de visão. Com a progressão da perda visual, é muito comum que em determinada fase da vida a comunicação da pessoa surdocega nessa condição passe, primordialmente, para a Libras tátil, comunicação em que o surdocego necessita tatear a sinalização feita pela pessoa com quem ele se comunica.

Quadro 2
Representação da condição de visão no caso de perda de degeneração macular

No caso da comunicação em língua de sinais com a pessoa surdocega que tem degeneração macular, é muito comum que ela procure o posicionamento lateral da cabeça de uma forma confortável para possibilitar a visualização e compreensão da sinalização, já que o resíduo visual está nos pontos periféricos (acima, abaixo e pelas laterais). A guia-interpretação normalmente acontece com surdocego e guia-intérprete sentados lado a lado ou em diagonal e, da mesma forma que na condição apresentada anteriormente, o uso da língua de sinais tátil (com uma ou com as duas mãos) amplia a percepção e compreensão do que está sendo dito em língua de sinais.

Quadro 3
Representação da condição de visão no caso de defeitos refrativos

Os defeitos refrativos normalmente podem ser corrigidos com o uso dos óculos de grau. No entanto, ao passo que a acuidade visual diminui, a pessoa surdocega passa a não enxergar mais detalhes finos da sinalização, tampouco a expressão facial. Nessa condição, a Libras tátil pode ser progressivamente elegida pelo surdocego, assim como nos casos anteriores.

Quadro 4
Representação da condição de visão no caso de perda de visão periférica

Na condição apresentada anteriormente, são comuns os chamados borrões na visão. Nesses casos, a pessoa com esse tipo de visão subnormal tende a movimentar constantemente a cabeça procurando os campos de visão não prejudicados pelas manchas. A movimentação de cabeça pode ser considerada atípica quando não entendemos qual é o tipo de comprometimento na visão. E, da mesma forma que nas outras condições apresentadas, a Libras tátil se coloca como uma forma de comunicação interessante para o conforto visual e linguístico do surdocego.

É importante salientar que, em grande parte, essas condições de visão subnormal evoluem para a cegueira e, portanto, as escolhas pelo tipo de comunicação e posicionamento para interação e interpretação para pessoas surdocegas também são alteradas e adaptadas com o passar do tempo.

Em todas as condições apresentadas anteriormente, o trabalho do guia-intérprete está presente, seja na interpretação em situações de diálogo3 3 A situação de diálogo, seja com a mediação de um guia-intérprete ou com a conversação direta entre dois sinalizadores, exige uma dinâmica específica de troca de turno, de informação pró-tátil e feedback, como, por exemplo, de consentimento ou discordância, retorno amistoso ou hostil. Mesch (2001) sugeriu que os utilizadores surdocegos da linguagem gestual sueca tátil utilizassem diferentes configurações de mãos para a recepção táctil, dependendo de a interação configurar-se como principalmente receptiva ou conversacional (monologic or dialogic). (conversa, entrevista, interação face-a-face) — que não será tratada neste trabalho —, seja na interpretação em situações de apresentações individuais unidirecionais (conferências, aulas, palestras, vídeos), objeto deste estudo.

A Interpretação da Entonação Expressiva

A guia-interpretação por meio da língua de sinais tátil, ou da língua de sinais campo reduzido, representa uma comunicação que se adapta à condição de visão subnormal ou à cegueira, e exige do guia-intérprete uma série de decisões durante a sua atuação a partir da condição sensorial da pessoa surdocega. Envolve, proficientemente e sistematicamente, a língua de sinais e trabalha conscientemente os aspectos gramaticais e expressivos durante a interpretação, no sentido de uma ortoépia dirigida na produção em língua de sinais tátil.

O olhar que abarca a interpretação para uma pessoa surdocega em conferências, além de considerar as condições sensoriais específicas de cada interlocutor surdocego, concentra-se também na diferenciação entre ela e a interpretação para surdos. Sob essa abordagem, os intérpretes sentem que a interpretação para surdocegos é diferente do que eles normalmente fazem e que precisam aprender um conjunto completamente distinto de habilidades de linguagem e de técnicas de interpretação (Petrônio 238Petrônio, Karen. “Deaf-blind interpreting: building on what you already know” In: Quadros, Ronice Muller de. Cadernos de tradução – Tradução e interpretação de Língua de sinais, PGET – UFSC, 2010.).

No início de um trabalho de guia-interpretação, a descrição do contexto é essencial. De entrada, consideramos a descrição de informações visuais (descrição do ambiente/localização das pessoas); descrição de informações sociais (graus de empatia entre as pessoas, estado emocional das pessoas); e interpretação de textos disponíveis no ambiente (faixas, cartazes, banners, placas etc.). Todas essas informações são sempre importantes e vão colaborar no trabalho de guia-interpretação durante o evento. Contudo, aqui trazemos o conceito de interpretação em uma perspectiva valorativa do contexto, atravessada pela subjetividade do guia-intérprete e, portanto, pela sua percepção/recepção dessas informações. Conforme Gabarró-López e Mesch:

Por causa dos diferentes perfis das pessoas surdocegas, as estratégias usadas pelos intérpretes variam muito. Se as pessoas surdocegas têm alguma visão residual e/ou audição residual, elas podem usá-la para obter acesso ao mundo e a uma situação particular para capturar informações linguísticas e ambientais. (Gabarró-López and Mesch 2Gabarró-López, Silvia, and Johanna Mesch. “Conveying Environmental Information to Deafblind People: A Study of Tactile Sign Language Interpreting”. Front. Educ., 2020, 5:157.).

Por conseguinte, as estratégias, as escolhas lexicais e a construção sintático-semântica, assim como a decisão por soletrar manualmente uma palavra durante a interpretação de uma palestra ou conferência, vão depender do tipo de discurso e do nível de linguagem. Da mesma forma, dependerão do conhecimento de mundo e da vivência de cada surdocego em relação ao assunto. Ademais, essas estratégias e escolhas ocorrerão a partir do horizonte valorativo do guia-intérprete na percepção de intenções, ironias, emotividade, informações essas importantes na interpretação dos discursos.

A partir de agora, procuraremos compreender as distinções entre língua de sinais visual e língua de sinais tátil a partir de parâmetros linguísticos, refletindo sobre como esses parâmetros influenciam as estratégias de interpretação.

Conforme os estudos de XavierXavier, André Nogueira. Descrição fonético-fonológica dos sinais da língua brasileira de Sinais (Libras). Dissertação, São Paulo, USP, 2006, https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-18122007-135347/pt-br.php Accessed 5 jun. 2020.
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, o estudo fonético-morfológico descreve detalhadamente os parâmetros articulatórios constitutivos dos sinais da Língua Brasileira de Sinais (Libras). São eles: configuração de mão, ponto de contato e localização, orientação da palma da mão, movimento do sinal, marcações não manuais — faciais e corporais (Dissertação 100), e, mais recentemente, a partir da análise segmental dos sinais da Libras, destaca: a direção do movimento/apontação do sinal em coarticulação com o ponto de chegada do movimento, e o parâmetro número de mãos no que diz respeito a duplicação/unificação (Tese 127).

Na imagem, a seguir, apresentamos a comparação da percepção/recepção das articulações entre a língua de sinais e da língua de sinais tátil, com o exemplo do sinal da Libras “trabalhar”. Na interação em língua de sinais, o interlocutor focaliza o todo do corpo do sinalizante; já na língua de sinais tátil, a atenção da recepção está na articulação das mãos e braços, em movimento coativo de percepção sinestésica.

Quadro 5
Distinção entre língua de sinais e língua de sinais tátil4 4 Os desenhos apresentados nesse capítulo são de autoria do desenhista e tradutor/intérprete de Libras-português Erik Romão.

Dos parâmetros constitutivos dos sinais da Libras, os parâmetros marcadores não manuais (faciais e corporais) não são, parcialmente ou totalmente, percebidos pela pessoa surdocega. Essas expressões faciais e o movimento são especialmente responsáveis nas línguas de sinais por indicar informações tanto afetivas quanto gramaticais. Observamos também que a impossibilidade de ver o ambiente e de visualizar o espaço de sinalização em diferentes graus pode influenciar a sinalização no que diz respeito ao uso de referentes no espaço e a indexação.

Concordamos com Rodrigues (303)Rodrigues, Carlos Henrique. “Competência em Tradução e Línguas de Sinais: a modalidade gestual-visual e suas implicações para uma possível competência tradutória intermodal”. Trabalhos Em Linguística Aplicada, v. 51, 2018, pp. 287-318, https://www.scielo.br/pdf/tla/v57n1/0103-1813-tla-57-01-0287.pdf. Accessed 5 jun. 2020.
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, em relação ao tema da intermodalidade de língua na atividade de tradução e de interpretação, quando o autor afirma que “a competência tradutória seria afetada, inclusive, pela modalidade das línguas envolvidas no processo de tradução”. Segundo o autor, é necessário olhar para as possibilidades de produção e de recepção, e seus efeitos e não efeitos.

Quinto-Pozos (452)Quinto-Pozos, David. “Deictic points in the visual/ gestural and tactile/gestural modalities”. In: Meier, Cormier & Quinto-Pozos (eds.). Modality and Structure in signes and spoken languages, Cambridge Universit Press, Cambridge, England, 2002, pp. 442–467., investigando a dêixis e as diferenças em narrativas sinalizadas por surdos em Língua de Sinais Americana (ASL) e por surdocegos em Língua de Sinais Tátil - Americana (TSL), explica que, basicamente, a indicação de referentes acontece em 4 tipos: I – terceira pessoa à direita ou à esquerda no espaço de sinalização; II – com classificador de pessoa em um ponto arbitrário no espaço de sinalização; III – indicação de objeto no espaço de sinalização a partir da sua localização no ambiente ou de forma arbitrária quando o objeto não está fisicamente presente; IV - segunda pessoa do singular, direcionando ao destinatário da narrativa um questionamento que seria para uma personagem da narrativa.

Um dos resultados da pesquisa de Quinto-Pozos, observando uma narrativa que continha duas personagens a dialogar sobre um evento que estavam planejando, é que, enquanto os sujeitos surdos utilizaram os quatro tipos, os sujeitos surdocegos utilizaram uma dêixis visual diferenciada, e optaram exclusivamente pelo tipo IV na situação de perguntas, direcionando-as todas sempre para o interlocutor. Segundo o autor, também Colins e Petrônio observaram esse tipo de indexação, tanto em construções interrogativas quanto no contexto de declarações afirmativas. Quinto-Pozos observa que, por esse motivo, os “surdocegos fizeram uso de soletração manual para nomear o referente antes de apresentar a ação do referente” (453)Quinto-Pozos, David. “Deictic points in the visual/ gestural and tactile/gestural modalities”. In: Meier, Cormier & Quinto-Pozos (eds.). Modality and Structure in signes and spoken languages, Cambridge Universit Press, Cambridge, England, 2002, pp. 442–467..

Petrônio (247)Petrônio, Karen. “Deaf-blind interpreting: building on what you already know” In: Quadros, Ronice Muller de. Cadernos de tradução – Tradução e interpretação de Língua de sinais, PGET – UFSC, 2010., em sua pesquisa sobre interpretação para pessoas surdocegas e diferenças entre ASL e TSL em diferentes situações comunicacionais, elencou doze diferentes funções para os sinais manuais SIM e NÃO. Dessas, nove funções se referem ao movimento/aceno da cabeça positivo/negativo na ASL, e as outras três funções se referem a outras informações que não dependem do aceno de cabeça. Sua pesquisa contempla a interpretação para diferentes pessoas com surdocegueira, desde pessoas com diferentes tipos de visão subnormal até pessoas que somente se comunicam pela língua de sinais tátil. Segundo a autora, “o uso de um continuum entre a visibilidade e o modelo de subgrupo de sinais permite que os intérpretes vejam quais dos recursos linguísticos que estão usando atualmente também são usados com sucesso na comunicação tátil” (267, tradução nossa).

Randin, em seus estudos linguísticos nos Estados Unidos da América (EUA), ao observar as diferenças gramaticais entre ASL (Língua de Sinais Americana) e TSL (Língua de Sinais Tátil - Americana), explica que há distinções, porém há também um continuum entre o ASL e o TSL. Uma pessoa que está perdendo sua visão pode progredir em todas as etapas, enquanto outras podem permanecer em um passo intermitente no continuum se mantiverem alguma visão funcional.

Gabarró-López e Mesch (157)Gabarró-López, Silvia, and Johanna Mesch. “Conveying Environmental Information to Deafblind People: A Study of Tactile Sign Language Interpreting”. Front. Educ., 2020, 5:157., que pesquisam sobre interpretação para a Língua de Sinais Tátil Sueca, concordam com autores norte-americanos e europeus, entendendo que as linguagens de sinais táteis são uma adaptação das linguagens de sinais visuais usadas pelas diferentes comunidades surdas, e que o grau e o tipo de adaptação dependerão do interlocutor surdocego e da língua de sinais da comunidade em que ele vive.

Na guia-interpretação para a modalidade língua de sinais tátil, quando uma parte do sinal, ou seja, um dos parâmetros, não consegue ser percebida/compreendida pelo interlocutor, algumas estratégias são estabelecidas. Podemos observar em muitos casos, por exemplo, a modificação de uma informação que seria indicada pela expressão facial, substituída pela repetição ou alongamento do movimento do sinal, ou pela adição de um sinal, como vemos também na comparação entre ASL e TLS.

Randin (4)Radin, Michelle. An overview of Tactile American Sign Language. Special Education Service Agency, 2014, https://www.signup4.net/Upload/USTR10A/ASSE34E/RADIN%20Tactile%20Sign%20Language.pdf. Accessed 5 jun. 2020.
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observa que, na ASL, as expressões faciais normalmente marcam a diferença entre perguntas e afirmações, e na TSL, essa diferença deve ser sinalizada explicitamente para que as perguntas e afirmações não sejam confundidas. No final de uma frase, os surdocegos usam o sinal de “pergunta” para marcar um enunciado como uma interrogação; por exemplo, você pode sinalizar em ASL “sick you question?” para dizer “Are you sick?”.

Segundo a autora, os operadores negativos, como a palavra “não”, também devem ser apresentados nas sentenças TSL. Em ASL, a frase “don’t understand” é realizada com o sinal “understand” acompanhado da expressão facial negativa, ou seja, na ASL palavra “não” é substituída pela expressão facial. Outro exemplo: a frase “Eu não a encontrei”, que em ASL se pareceria com “find-it i”, com uma expressão facial negativa, se tornaria “find-it i no no no” em TSL (5). O mesmo acontece entre a Libras e Libras tátil. Na interpretação para a Libras tátil, palavras/sinais são acrescentadas às frases para fazer a função do que não pode ser visto/percebido pelo surdocego na sinalização, como veremos nos resultados preliminares.

Nessa mesma direção, Gabarró-López e Mesch (158)Gabarró-López, Silvia, and Johanna Mesch. “Conveying Environmental Information to Deafblind People: A Study of Tactile Sign Language Interpreting”. Front. Educ., 2020, 5:157. explicam que as línguas de sinais visuais comunicam alguma parte da sintaxe e compartilham informações pragmáticas usando elementos não manuais. Esses elementos podem ser percebidos por algumas pessoas surdocegas em diferentes graus, mas não por todas. Assim, segundo as autoras, essas pessoas precisam receber essas informações por meios táteis, como, por exemplo, mudar a ordem das palavras, adicionar um sinal léxico para indicar uma pergunta etc.

Na Libras, as expressões ou marcadores não manuais podem ser classificadas em afetivas e gramaticais, e essas expressões também fazem a função de entonação expressiva e de prosódia na língua de sinais (Quadros, Pizzio, and Rezende 7Quadros, Ronice Muller de, and Aline Lemos Pizzio and Patrícia Luiza Ferreira Rezende. “Língua brasileira de sinais II”. Florianópolis, UFSC - Centro de Comunicação e Expressão (CCE) - Licenciatura em Letras/Libras na Modalidade a Distância, 2008, http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/linguaBrasileiraDeSinaisII/assets/482/Lingua_de_Sinais_II_para_publicacao.pdf. Accessed 5 jun. 2020.
http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasL...
). Nessa perspectiva, as expressões afetivas na Libras demonstram se o interlocutor ou o locutor/palestrante está amistoso numa interação, ou se a interação é desagradável; assim, também as expressões afetivas são responsáveis por apresentar o estado de ânimo e os sentimentos. As expressões gramaticais na Libras, que podem ser morfológicas e/ou sintáticas, são obrigatoriamente constituintes das enunciações e operam em diferentes funções.

Os marcadores não manuais, ou seja, os movimentos da face, dos olhos, da cabeça e do tronco, constituem os níveis fonológico, morfológico e sintático na Libras, marcam diferenciação de itens lexicais, como por exemplo os movimentos do rosto que podem especificar graus de intensidade e adjetivação. Conforme Quadros and KarnopQuadros, Ronice Muller de, and Lodenir Karnopp. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre, ArtMed, 2004., os marcadores não manuais marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa, adverbio, grau ou aspecto. Os marcadores não manuais de nível sintático na Libras são expressões faciais e corporais responsáveis por indicar determinados tipos de frases, também fazem macacão de construções sintática, diferenciando sentenças interrogativas sim-não, interrogativas QU-, orações relativas, topicalizações, concordância e foco (60-61).

Na Libras, geralmente os marcadores não manuais (expressão facial e corporal) acompanha parte ou quase toda a frase. Isso importa porque, no caso da produção em Libras tátil, esse tipo de informação gramatical necessita de outro arranjo que faça a função da entonação expressiva, atividade essencialmente valorativa, que exige do guia-intérprete na atividade de interpretação simultânea para a língua de sinais tátil o conhecimento das diferenças linguísticas entre língua de sinais visual e língua de sinais tátil, para que possa atuar em diferentes contextos. Podemos afirmar que na Libras tátil para referência específica a intensidade do movimento, a duração, a expansão da amplitude do movimento e a repetição podem fazer a função de referência específica, ou também a adição de léxico relativo à gradação.

Canuto, et al (78)Canuto, Beatriz Santana; Carlos Alberto Santana Júnior; Hélio Fonseca de Araújo; and Katia Regina Conrad Lourenço. Práticas de interpretação tátil e comunicação háptica para pessoas com surdocegueira. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2019., explicam que uma técnica de guia-interpretação para a Libras Tátil acontece por meio da seleção fonética específica sobrepondo dois ou mais sinais ou modificando a articulação de um sinal, como por exemplo a redução articulatória, forma de adaptação que substitui o ponto de articulação na cabeça/face pela mão aberta ou fechada. Podemos dizer que no caso da guia-interpretação ou comunicação com surdocegos, essa adaptação é importante não somente para apresentar os tipos de expressões faciais que acompanham a fala, como também para evitar a aproximação ou contato indesejado das mãos com o rosto do guia-intérprete ou da pessoa que se comunica com o surdocego.

Verificamos que diferentes autores descrevem as línguas de sinais táteis a partir de distintos pontos de vista e características, mas sempre fazendo referência a sua forma de produção e percepção: Colins e Petrônio se referem à língua de sinais tátil como uma variação de modalidade da língua americana de sinais; Quinto-Pozos trata de descrever língua de sinais visual e tátil como modalidades distintas; Randin explica que há um continuum entre ASL e TSL; Willoughby et alWilloughby, Louisa; Manns, Howard; Iwasaki, Shimako and Bartlett, Meredith. ““From seeing to feeling: how do deafblind people adapt visual sign languages?”. Dynamic language changes: Looking within and across languages, ed. K. Allan (Cham: Springer Nature), 2020. Accessed 15 jan. 2021.. explicam que entre língua de sinais visual e língua de sinais tátil acontece um processo de adaptação a depender de diferentes elementos; e para Gabarró-López e Mesch, a Língua de Sinais Tátil Sueca se organiza em diferentes graus e tipos de adaptação a partir da língua de sinais visual da comunidade em que vive o surdocego.

Volochínov (252), estudioso da linguagem em uma perspectiva dialógica, a respeito de diferenças essenciais entre a recepção ativa da enunciação de outrem e sua transmissão no interior de um contexto, explica que essa transmissão leva em consideração uma terceira pessoa a quem as enunciações citadas estão sendo transmitidas, e também a apreensão valorativa do discurso. A partir dessa perspectiva, para Nascimento (51)Nascimento, Marcus Vinicius Batista. “Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de sentidos”. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2011, https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/13551. Accessed 5 jun. 2020.
https://sapientia.pucsp.br/handle/handle...
, os tradutores/intérpretes, e aqui incluímos o guia-intérprete, são enunciadores mediadores que também selecionam os recursos linguísticos mais adequados para conduzir o discurso da língua fonte para a língua alvo a partir de um espaço-tempo específico. No entanto, sua tradução/interpretação não fica estagnada no nível linguístico, caso contrário sua atuação seria limitada aos componentes abstratos e à busca de correspondentes linguísticos e terminológicos.

Os tradutores e intérpretes e guias-intérpretes fazem uso desses componentes linguísticos para mobilizar discursos, pois a palavra é uma expressão da comunicação social, e a formação da língua é uma exterioridade da formação da comunicação discursiva, que não pode existir sem materialidade, signo verbal, estrutura gramatical e relações semântico-objetais. Por esse motivo, e diante do exposto, o significado da interpretação ganha outros contornos na atuação do guia-intérprete, a partir da sua compreensão sobre a língua de sinais tátil e sobre como a condição da surdocegueira afeta a produção e a compreensão de enunciados nessa língua.

3. Estudos preliminares – Unidades Lexicais e Entonação Expressiva

Para este trabalho, foram analisados três registros em vídeo de guia-interpretação em conferências — realizados pela própria autora — e também o registro em diário de campo no trabalho em equipe com guias-intérpretes ouvintes e surdos em outras diferentes conferências, sem registro em vídeo e, portanto, somente com a possibilidade de recorrer à memória da observação e às anotações, com o método de diário de campo.

Quadro 6
Imagens de guia-interpretação para libras tátil em contexto de conferências

Neste estudo, observamos o uso de diferentes unidades lexicais assumindo a função de um morfema que seria produzido pelo parâmetro marcação não manual (expressões faciais e corporais) ou pelo parâmetro movimento. Salientamos que, neste artigo, não é objetivo distinguir e assinalar a classe gramatical dos itens lexicais na língua alvo, porque, para tanto, seria necessária outra metodologia de análise, mais aprofundada, para cada sentença em relação ao seu respectivo discurso com foco na transposição de elementos na comparação entre texto na língua fonte e o texto na língua alvo. O objetivo central é o de observar e identificar elementos que, a princípio, simulam informações adicionais no texto alvo.

A partir das anotações em diário de campo e da observação dos vídeos, pudemos catalogar a ocorrência de diferentes unidades lexicais, substantivos, advérbios, verbos e pronomes deslocados da sua categoria gramatical, assumindo a função de entonação expressiva para sentenças afirmativas e negativas, no caso deste estudo. Não foram consideradas, para este artigo, as sentenças interrogativas, apesar de algumas ocorrências. No entanto, sabemos que, no comparativo entre uma língua de sinais e uma língua de sinais tátil, as sentenças interrogativas também se organizam de forma diferente e bem marcada.

No Brasil, FaulstichFaulstich, Enilde. “Especificidades semânticas e lexicais: a criação de Sinais-termo na Língua Brasileira de Sinais”. In: Bidarra, Jorge, and Tânia Aparecida Martins, and Márcia Sipavicius Seide (org.). Entre a libras e o português: desafios face ao bilinguismo, Cascavel, Edunioeste; Londrina, EDUEL, 2016., nos estudos lexicais e terminológicos, inaugura, na Universidade Federal de Brasília (UnB), as pesquisas sobre o viés da socioterminologia, com a prática do trabalho terminológico fundamentada na análise das condições de circulação do termo, assentada no funcionamento da linguagem. “Socioterminologia, como disciplina descritiva, estuda o termo sob a perspectiva linguística na interação social” (Faulstich 1Faulstich, Enilde. “Socioterminologia, mais que um método de pesquisa, uma disciplina”. Ciência da Informação, Brasília, v. 24, n. 3, 1995, pp. 281-288.). Apreciando esse olhar socioterminológico que considera a circulação dos termos e seu funcionamento na linguagem, nos baseamos em alguns conceitos desta teoria para compreender a atividade de guia-interpretação e a diferença entre um sinal comum que se refere ao léxico geral e seu rearranjo na interpretação para língua de sinais tátil, em especial no que tange à designação de aspectos morfológicos-prosódicos.

No estudo das unidades morfológicas construcionais da Libras, conforme Faria-Nascimento (83)Faria-do-Nascimento, Sandra Patrícia. A organização dos morfemas libres e presos em LSB: reflexões preliminares. In: Quadros, Ronice Muller de, Mariane Rossi Stumpf e Tarcísio de Arantes Leite. Estudos da Língua Brasileira de Sinais I, Florianópolis, Insular, 2013., podemos classificar essas unidades em morfemas livres (independentes) e morfemas presos (dependentes, que nunca aparecem sozinhos). Ao olhar para a língua de sinais tátil, podemos observar que existe uma produtividade diferenciada e necessária dos parâmetros da língua de sinais, já que as unidades morfológicas produzidas pela expressão facial e corporal vão precisar de uma outra unidade morfológica para operar no mesmo sentido pretendido. Nesse aspecto, um morfema considerado livre pode passar a ser dependente de outra unidade morfológica ou, ao contrário, um morfema preso se desprende e é substituído por uma unidade lexical.

Ressaltamos que, para este estudo, deixamos em suspenso a análise da distinção do parâmetro movimento na análise contrastiva entre a Libras e a Libras tátil. No entanto, verificamos que o parâmetro movimento também é produzido de forma diferente na língua de sinais tátil, no que diz respeito à amplitude, prolongamento e duração, com efeito de compensação ou substituição dos morfemas produzidos pelas marcações não manuais. Nesse sentido, indicamos que outro estudo deveria ser feito para observar em específico o parâmetro movimento com o cuidado e a profundidade que ele demanda.

Observamos que as pessoas surdas que se servem da interpretação para a Libras em um contexto de conferências ou em uma aula podem ter em seu campo de visão tanto o orador falando em português quanto o intérprete sinalizando em Libras, muitas vezes posicionados lado a lado. Isso significa que a pessoa surda pode acompanhar tanto a gestualidade (prosódia corporal) da pessoa que enuncia em português quanto a prosódia em Libras do intérprete. Nesses casos, para além do conteúdo verbal apresentado pelo orador na língua fonte e também pelo intérprete, todas as informações que são fortemente visuais serão complementares entre si na produção de sentido, tanto para audiência surda como também para a audiência ouvinte. No caso das pessoas surdocegas, todo esse conteúdo visual não lhes é acessível, tornando a atividade do guia-intérprete muito mais complexa.

Assim sendo, passamos para o primeiro excerto, uma sentença afirmativa ao final de uma palestra. Para ilustrar esse aspecto, apresentamos, no quadro a seguir, dois exemplos com a mesma informação na língua fonte, que está em português, reformulada em Libras; e, na última linha, a sentença produzida na Libras tátil.

Quadro 7
Recorte de sentença afirmativa português/Libras/Libras tátil

Nesse exemplo, observado em uma das situações, com recorte de uma sentença afirmativa, observamos que a reduplicação da unidade lexical PODE, sinal que designa “permissão”, é uma informação importante no contexto, e observamos também o sinal LIVRE, que nessa sentença e nesse contexto tem o sentido de “ficar à vontade”. E ainda se pode notar a adição da unidade lexical SIM em substituição ao morfema “aceno positivo com a cabeça”. Esse é um exemplo bem simples, mas de grande importância nos usos sociais da linguagem expressiva na língua de sinais tátil no contexto de interpretação. Portanto, vamos compreender o porquê.

Na situação em que uma pessoa ouvinte ou surda participa de um evento e o evento é finalizado, mesmo que estas pessoas não tenham prestado atenção no enunciado “estão dispensados”, ao observar os demais se movimentando, guardando seus pertences nas bolsas e se levantando, elas têm certeza de que o evento terminou. Entretanto, a pessoa surdocega não acompanha toda essa informação, que é visual e precisa ser comunicada de forma clara e assertiva. Muitas vezes, mesmo o guia-intérprete, por meio da Libras tátil, comunicando o fim da palestra ou do evento, a pessoa surdocega não se levanta, tende a aguardar mais informações para ter certeza do encerramento, com o intuito de não passar constrangimentos, ou pede a confirmação se os demais participantes estão se movimentando. O surdocego pode não querer se levantar enquanto os demais ainda estão sentados ou pode querer confirmar a informação para poder se dirigir a uma pessoa próxima, evitando fazê-lo enquanto as apresentações ainda estão acontecendo. Dessa forma, a partir desse exemplo e das observações do estudo, fazemos o apontamento de que as construções afirmativas na língua de sinais tátil também precisam ser bem marcadas.

Apresentamos, no quadro a seguir, as unidades lexicais observadas na interpretação de português para a Libras tátil para sentenças afirmativas em diferentes recortes. Mesmo que estes sinais sejam considerados como parte do léxico comum, essas unidades lexicais foram consideradas morfologicamente correspondentes e/ou complementares prosódicos, pois assumiram outras funções na organização sintático-semântica, como, por exemplo, na ocorrência de reduplicação de termos, na redundância e no uso de léxico específico, configurando-se como linguagem expressiva. É interessante ressaltar que, quanto mais fortes são as marcações prosódicas, mais a construção em Libras tátil se reelabora para dar conta da entonação expressiva e faz uso de diferentes sinais manuais, aparentemente sobressalentes nas sentenças que observamos.

Quadro 8
Unidades lexicais complementares para sentenças afirmativas

Petrônio, em sua pesquisa, sugere que os intérpretes fluentes em ASL fazem escolhas de linguagem dependentes das condições de visibilidade em que interpretam para os surdos/surdocegos. Segundo ela, “a interpretação para indivíduos surdocegos usando comunicação tátil envolveria o uso de uma frequência ainda maior de sinais manuais” (267, tradução nossa). Concordando com a perspectiva da autora, observamos que essas escolhas de sinais específicos vão formando um “subgrupo” de recursos linguísticos, que na experiência da interpretação para língua de sinais tátil configura-se como repertório lexical.

Sob a mesma perspectiva, no quadro a seguir, apresentamos um recorte com sentença “negativa”, com a mesma organização: a informação na língua fonte, o português, reformulada em Libras e, na última linha, a sentença na Libras tátil.

Quadro 9
Recorte de sentença negativa português/Libras/Libras tátil

No exemplo da sentença negativa, observamos a substituição do morfema expressão facial pela unidade lexical de negação NÃO, mais a unidade lexical intensificadora DESCONFIAR que simula a prosódia da fala original. Em muitos casos, para acompanhar a entoação expressiva do falante, a interpretação próxima do literal para surdocegos não faz o menor sentido, e a reduplicação de pronomes, a redundância e uso de léxico específico configuram-se como linguagem expressiva para dar conta da prosódia na organização das sentenças.

Apresentamos a seguir diferentes unidades lexicais observadas na interpretação de português para a Libras tátil observadas em sentenças afirmativas. Os sinais foram considerados complementares, pois assumiram outras funções na organização sintático-semântica, que, com um olhar mais superficial, poderiam ser considerados apenas termos redundantes; porém, essa redundância e escolhas lexicais específicas configuram-se como linguagem expressiva.

Quadro 10
Unidades lexicais complementares para sentenças negativas

Observamos que a utilização de uma unidade lexical comum ou outra com emprego de linguagem expressiva, em decorrência da condição de visibilidade das unidades morfêmicas produzidas pelo parâmetro marcação não manual — expressão facial e até mesmo corporal do sinalizante —, pode ser caracterizada por duas principais ocorrências: o uso de léxico adicional (NÃO, SIM, IMPOSSÍVEL etc.) para substituir o morfema constituído por expressões faciais como traços segmentais; ou o uso de léxico adicional (DETESTAR, QUE-DROGA etc.) que ressignifica a entonação expressiva responsável pela prosódia na produção em sentenças na articulação da Libras tátil, ou ainda os dois usos ao mesmo tempo.

Considerações finais

No Brasil, os estudos sobre as línguas de sinais seguem em efervescência, assim como as pesquisas sobre tradução e interpretação no par linguístico Libras-português. Muitos pesquisadores, surdos e ouvintes, trabalham, hoje, no campo da linguística descritiva, cognitiva e, também, aplicada, assim como nos ETILS – Estudos da Tradução e Interpretação de Línguas de Sinais. No entanto, a pesquisa sobre a língua de sinais tátil carece ainda de um olhar mais particular, no que diz respeito à sua estrutura sintático-semântica, aos seus aspectos discursivos e, ainda, à tarefa de interpretação para pessoas surdocegas em línguas de sinais táteis.

No estudo apresentado acima, o que se sugere é que, na atividade de interpretação para uma pessoa surdocega, diferentemente da conversação em língua de sinais tátil sem mediação, e, não obstante, diferentemente da interpretação em línguas de sinais para uma pessoa surda, um item lexical simples pode vir a produzir outros diferentes sentidos, a depender da situação de uso e da função que assume na sentença. Aparentemente sobressalente ou redundante, ele se apresenta como termo que se desloca das significações comuns no seu emprego para elemento de entonação expressiva. Isso demanda do profissional, guia-intérprete, além de competências de descrição e de tradução, certa competência linguística específica.

Diante do exposto, afirmamos, tendo em vista o apresentado, a necessidade de se ressignificar o conceito de interpretação para línguas de sinais táteis, pois a interpretação de conferências distancia-se em muito da literalidade, uma vez que, independentemente de a língua de fonte ser o português oral ou a Libras, em nenhum desses casos a interpretação para Libras tátil reproduz precisamente a organização sintático-semântica da língua fonte do discurso, o que se deve, também, à ocorrência da utilização de termos que incorporam a entonação expressiva das sentenças.

Nessa perspectiva, observamos que, na situação em que uma unidade lexical assume a função de elemento prosódico, e também nos casos em que uma unidade lexical assume a função de um morfema, essa combinação nos remete ao conceito de linguagem especializada, não pela área do conhecimento ou pelo léxico terminológico, mas pelo uso, na atuação do guia-intérprete, a partir da condição de recepção/percepção diferenciada que influencia sua interpretação, que se reorganiza para produzir sentido entre descrição visual e interpretação dos enunciados, que se organiza no continuum entre o gestual-visual de recepção visual e uma modalidade gestual-visual produzida para a recepção tátil.

  • 1
    CÓDIGO BRAILLE: Braille tátil (sistema alfabético com símbolos em relevo que faz uso do tato para identificar as letras representadas nas Celas Braille - - seis pontos dispostos em duas colunas preenchidos ou perfurados em combinação diferente para cada letra do alfabeto); Finger Braille e Braille Manual (pontos específicos nos dedos de uma mão ou das duas mãos representam os seis pontos da cela Braille); Máquina braille (máquina de datilografar adaptada às posições da cela braille); Display Braille (código e digitação semelhante à da máquina Braille, porém conectados a softwares de computadores tablets e celulares para leitura tátil da tela e digitação de mensagens). SISTEMA ALFABÉTICO: Alfabeto na palma da mão (letras desenhadas em caixa alta e com movimentos determinados, com o dedo na palma da mão da pessoa surdocega, pode utilizado nas costas ou antebraço); Placas alfabéticas (placas com as letras do alfabeto escritas e caixa alta utilizadas para formar as palavras a partir do tato e apontação); Escrita ampliada (na tela de equipamento eletrônico ou em papel); Sistema Lorm (diferentes pontos do dorso ou da palma da mão pessoa surdocega representa fonemas ou combinação de fonemas, o emissor utiliza as pontas dos dedos para o toque, pressão ou movimento do dedo para formar as palavras); Sistema Malossi (similar ao Lorm, porém apenas utilizando o toque nos pontos referentes a cada letra do alfabeto). FALA ORAL: Tadoma (comunicação em que a pessoa surdocega encosta a mão, tateando o maxilar e a garganta, para sentir a articulação da fala e a vibração das cordas vocais); Fala ampliada (repetição da fala do orador de forma sussurrada próximo ao ouvido com resíduo auditivo da pessoa surdocega, ou por meio de microfone conectado a fone). SINAIS: Língua de sinais campo reduzido; língua de sinais tátil, sistema pró-tatil (sinais de feedback que indicam as expressões dos interlocutores e a presença do interlocutor ou guia-intérprete); Comunicação háptica (sistema de comunicação por meio do toque nos braços ou nas costas que representam informações visuais e ambientais) (SantiagoSantiago, Vânia de Aquino Albres. “Tradução e Interpretação de e para Libras: Um guia para quem quer contratar serviços de tradução e interpretação de Libras - língua brasileira de sinais”. São Paulo, FEBRAPILS; ABRATES – SINTRA – Instituto Singularidades, 2016, https://drive.google.com/file/d/0B7ZxCOYQ0QJmV3dTMWhfOUtFYkk/view. Accessed 5 jun. 2020.
    https://drive.google.com/file/d/0B7ZxCOY...
    ; AlmeidaAlmeida, Wolney Gomes. O guia-intérprete e a inclusão da pessoa com surdocegueira. Tese. Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia. 2015.; Canuto et al.).
  • 2
    Orientação e mobilidade – O&M: mover-se de forma segura e eficaz orientada e a partir de informações sensoriais. O guia vidente é responsável pela O&M de uma pessoa surdocega, ele guia e orienta uma pessoa com deficiência visual por vários lugares, proporcionando informações corporais e sinestésicas, que ajudam em seu deslocamento, em situações como mudar de direção, passar por lugares estreitos, subir escadas, passar adequadamente por portas, e auxiliam também no manuseio de objetos (Bertola and Costa 2015Bertola, Vanise Cristina Bussolo and Maria da Piedade Resende Costa. A mobilidade para pessoas com surdocegueira. Surdocegueira: estudos e reflexões, São Carlos, Pedro & João, 2015.).
  • 3
    A situação de diálogo, seja com a mediação de um guia-intérprete ou com a conversação direta entre dois sinalizadores, exige uma dinâmica específica de troca de turno, de informação pró-tátil e feedback, como, por exemplo, de consentimento ou discordância, retorno amistoso ou hostil. Mesch (2001)Mesch, Johanna. Tactile Sign Language: Turn taking and question in signed conversations of deaf-blind people. Hamburg, Signum, 2001 sugeriu que os utilizadores surdocegos da linguagem gestual sueca tátil utilizassem diferentes configurações de mãos para a recepção táctil, dependendo de a interação configurar-se como principalmente receptiva ou conversacional (monologic or dialogic).
  • 4
    Os desenhos apresentados nesse capítulo são de autoria do desenhista e tradutor/intérprete de Libras-português Erik Romão.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    19 Nov 2021
  • Aceito
    10 Jan 2022
  • Publicado
    Fev 2022
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