Open-access O uso de tecnologias digitais nas práticas de trabalhadores comunitários de saúde: uma revisão internacional de escopo

El uso de las tecnologías digitales en las prácticas de los trabajadores comunitarios de la salud: una revisión internacional del alcance

Resumo

Este artigo objetiva mapear a literatura sobre as aplicações e percepções acerca do uso de tecnologias digitais nas práticas de trabalhadores comunitários de saúde. Trata-se de uma revisão de escopo realizada na PubMed, Bireme, SciELO, Web of Science, Embase e Scopus. Foram incluídos 63 artigos que relatam o uso de tecnologias digitais por esses trabalhadores em 24 países. Como resultados, identificou-se que o suporte à saúde materno-infantil é a condição com maior predomínio das práticas. Os benefícios identificados envolvem ampliação do acesso, melhoria da gestão do trabalho, qualificação, diversificação, ampliação da formação e ganho de legitimidade da categoria. Os desafios se traduzem nas limitações em relação ao vínculo com a comunidade, longitudinalidade do cuidado, acesso à internet, energia elétrica e alfabetização digital. Como conclusão, corrobora-se com análises acerca da irreversibilidade do uso de tecnologias de informação e comunicação no mundo do trabalho, destacando-se a necessidade do seu uso racional dessas com a garantia do acesso de forma integral, universal e equitativa.

Palavras-chave: atenção primária à saúde; agentes comunitários de saúde; saúde digital

Resumen

Este artículo tiene por objeto mapear la literatura sobre las aplicaciones y percepciones acerca del uso de tecnologías digitales en las prácticas de los trabajadores comunitarios de la salud. Se trata de una revisión del alcance realizada en PubMed, Bireme, SciELO, Web of Science, Embase y Scopus. Se han incluido 63 artículos sobre el uso de tecnologías digitales por parte de estos trabajadores en 24 países. Como resultado, se ha identificado que el apoyo a la salud maternoinfantil es la condición con mayor predominio de las prácticas. Los beneficios identificados implican la ampliación del acceso, mejora de la gestión del trabajo, calificación, diversificación, ampliación de la formación y aumento de la legitimidad de la categoría. Los desafíos se traducen en limitaciones en relación con el vínculo con la comunidad, la longitudinalidad de la atención, el acceso a Internet, la energía eléctrica y la alfabetización digital. En conclusión, se corrobora con análisis sobre la irreversibilidad del uso de las tecnologías de la información y la comunicación en el mundo del trabajo, y se destaca la necesidad de su uso racional con la garantía del acceso de manera integral, universal y equitativa.

Palabras clave: atención primaria de salud; trabajadores comunitarios de la salud; salud digital

Abstract

This article aims to map the literature on the applications and perceptions regarding the use of digital technologies in the practices of community health workers. This is a scoping review conducted on PubMed, Bireme, SciELO, Web of Science, Embase, and Scopus. A total of 63 articles reporting the use of digital technologies by these workers in 24 countries were included. As a result, it was identified that support for maternal and child health is the most prevalent condition in these practices. The identified benefits involve increased access, improved work management, qualification, diversification, expanded training, and increased legitimacy of the profession. The challenges are reflected in limitations regarding community engagement, continuity of care, internet access, electricity, and digital literacy. In conclusion, it supports analyses regarding the irreversibility of the use of information and communication technologies in the world of work, emphasizing the need for their rational use while ensuring comprehensive, universal, and equitable access.

Keywords: primary health care; community health workers; telemedicine

Introdução

Experiências de cuidados leigos em saúde, utilizando moradores locais, com base territorial e orientação familiar, têm sido reconhecidas desde 1920, a partir do trabalho dos médicos de pés descalços na China. Praticamente 100 anos depois, ao menos 38 países, incluindo o Brasil, em todos os continentes, foram mapeados com atuação de trabalhadores comunitários de saúde desenvolvendo um importante papel na consolidação dos princípios da Atenção Primária à Saúde (APS) (Méllo, Santos e Albuquerque, 2023).

Os impactos positivos da implantação de trabalhadores comunitários nos sistemas de saúde e nos indicadores epidemiológicos são bem descritos na literatura, particularmente no que diz respeito à redução das internações sensíveis à APS (Pinto e Giovanella, 2018), cuidado a pacientes crônicos (Trump e Mendenhall, 2017; Khetan et al., 2018), acesso à saúde (Berini, Bonilha e Simpson, 2022), e indicadores de saúde materno-infantil (Santos et al., 2020). Salienta-se que esta categoria de profissionais no Brasil é conhecida como agente comunitário de saúde (ACS) e representa, aproximadamente, 260 mil trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), a maioria mulheres (Nogueira, 2019).

Dada a importância desta força de trabalho nos sistemas de saúde, estudos internacionais têm chamado atenção para a abordagem das iniciativas de distintos países que incorporam trabalhadores comunitários na área da saúde. Os resultados de alguns estudos apontam para a necessidade da garantia de um financiamento robusto para sua implantação e desenvolvimento (Masis et al., 2021), governança (Lewin, Lehmann e Perry, 2021), apoio e legitimidade política (Zulu e Perry, 2021), intersetorialidade (Afzal et al., 2021), supervisão adequada (Westgate et al., 2021), desprecarização do trabalho (Colvin, Hodgins e Perry, 2021), recrutamento justo com formação continuada (Schleiff et al., 2021), amplas atribuições (Glenton, Javadi e Perry, 2021), além de avaliação e monitoramento que considerem aspectos qualitativos e contextuais do seu trabalho territorial (Kok et al., 2021). O objetivo maior seria reverter um cenário de ainda subutilização dessa força de trabalho para garantia do acesso universal à saúde e qualidade da oferta assistencial (Hartzler et al., 2018; Hodgins et al., 2021).

A pandemia da Covid-19, um dos maiores desafios sanitários já enfrentados pela humanidade, incidiu diretamente na atuação das ACSs no Brasil e no mundo, com suas atividades sendo canceladas ou reduzidas (Méllo et al., 2021; 2022b). Ao mesmo tempo, houve a indispensabilidade do seu trabalho na garantia do monitoramento de pacientes crônicos, vulneráveis, inclusive com a Covid-19, por meio de uma nova modalidade de acompanhamento e cuidado mediada por tecnologias digitais na saúde (Caetano et al., 2020; André e Ribeiro, 2020; Méllo et al., 2021; Méllo, Santos e Albuquerque, 2022).

Embora o cenário pandêmico de 2020 tenha sido um disparador para maior uso dessas tecnologias na APS (Caetano et al., 2020; André e Ribeiro, 2020; Méllo et al., 2021; Méllo, Santos e Albuquerque, 2022), sua estratégia de implementação é recomendada desde 2005 pela Organização Mundial de Saúde (World Health Organization, 2005). Segundo Celuppi et al. (2021, p. 2), a pandemia exigiu uma superação do modelo tradicional de atendimento na saúde, com investimentos em soluções tecnológicas, não obstante “acredita-se que o avanço em tecnologias interativas em saúde pode ser uma opção efetiva e segura para facilitar o contato entre profissionais da saúde e pacientes”. Por outro lado, no Brasil, o papel dessas ferramentas digitais no processo de trabalho das ACSs não foi um consenso entre gestores e a própria categoria (Lotta et al., 2020; Méllo et al., 2021).

Existe um embate sobre os conceitos e definições envolvidos no uso das tecnologias digitais na saúde, como os oriundos da telemedicina, depois telessaúde e atualmente saúde digital, mas percebe-se um fio condutor desses novos paradigmas de cuidado, o uso de tecnologias de informação e comunicação no suporte aos serviços tanto na assistência quanto na vigilância, educação e informação em saúde (André e Ribeiro, 2020; Caetano et al., 2020; Lisboa et al., 2023).

Ainda como legado da pandemia de Covid-19, houve um movimento global de implantação ou ampliação do contingente de trabalhadores comunitários na área da saúde em diversos países, como resposta à crise sanitária, sobretudo em países de alta renda como Estados Unidos e Inglaterra (Haines et al., 2020; Waters, 2020; Méllo, Santos e Albuquerque, 2022).

Essa ampliação e consolidação do trabalho comunitário na área da saúde, bem como do emprego de novas tecnologias digitais, requer o desenvolvimento de estudos que possam ajudar na reflexão e orientação de políticas que permitam localizar esses trabalhadores dentro de um escopo ampliado de saberes, funções, instrumentos e práticas (Hartzler et al., 2018; Méllo et al., 2021; Méllo, Santos e Albuquerque, 2022). Um aspecto a ser considerado nas análises acerca desta modalidade de trabalho é que as necessidades em saúde não são estáticas, mas variam com o período histórico, visto que cada contexto introduz mudanças no trabalho a ser desenvolvido e nos seus instrumentos de uma forma que dê resposta às novas demandas da sociedade e do Estado (Boiteux, Sarti e Lima, 2020). Ou seja, quando olhamos para o Brasil, o próprio trabalho das ACSs hoje não é o mesmo executado na origem desta categoria e nem deverá ser o mesmo no futuro, porque um determinado processo de trabalho e sua conformação na profissão partirão das necessidades de saúde da população mediadas por interesses da categoria, do Estado e do mercado (Yasbek, 2009; Méllo et al., 2021).

Sendo assim, frente às mudanças aceleradas pela pandemia da Covid-19, às recentes ampliações de estratégias nacionais de trabalhadores comunitários de saúde e também ao intenso uso de tecnologias digitais na APS, o objetivo deste artigo é mapear a literatura sobre as aplicações e percepções das tecnologias digitais nas práticas de trabalhadores comunitários na saúde.

Metodologia

Esta revisão de literatura se enquadra na abordagem de escopo, seguindo as diretrizes propostas pelo Joanna Briggs Institute - JBI (2015). Apresenta como características a capacidade de mapear evidências e conceitos, sistematizando-os como forma de guiar construções teóricas, apontando lacunas e tendências em um campo específico do conhecimento (Daufenback et al., 2022). Este tipo de revisão é frequentemente utilizada nos estudos de política, planejamento e gestão em saúde subsidiando também a tomada de decisão (Méllo, Santos e Albuquerque, 2022).

Na construção teórica da pergunta condutora, empregou-se a estratégia Population, Concept e Context (PCC) (Joanna Briggs Institute, 2015), sendo: P - Trabalhadores comunitários de saúde; C - Tecnologias digitais; e C - Práticas, o que convergiu no questionamento: De que forma os trabalhadores comunitários de saúde têm aplicado as tecnologias digitais em suas práticas, e quais os benefícios e desafios dessas ferramentas?

A tradução direta para o inglês da expressão ‘agentes comunitários de saúde’ usada no Brasil é community health workers. No entanto, sabendo que há experiências análogas em outros países nos quais a nomenclatura deste profissional muda consideravelmente, e na intenção de tornar os resultados deste artigo mais robustos, empregamos os descritores referenciados por Méllo, Santos e Albuquerque (2022) em sua revisão internacional também sobre ACS. Não obstante, para a recuperação de artigos sobre tecnologias digitais na saúde, adotamos os termos Telemedicine; Mobile Health; Health, Mobile; mHealth; Telehealth; eHealth, além dos operadores booleanos OR e AND (Santos, Pimenta e Nobre, 2007). No Quadro 1, é apresentada a estratégia de busca, juntamente com as bibliotecas virtuais/bases consultadas entre 26 e 31 de agosto de 2022.

Quadro 1
Biblioteca virtual/base de dados e estratégia de busca empregada.

Os critérios de elegibilidade foram: a) inclusão: estudos que abordem aplicações ou percepções do uso das tecnologias digitais nas práticas de trabalhadores comunitários de saúde; b) exclusão: estudos duplicados; revisões de literatura; documentos emitidos pela administração pública, teses, dissertações ou anais de congressos; estudos que, embora sirvam-se do descritor da estratégia de busca, o profissional objeto do estudo é outro ator que não um trabalhador comunitário de saúde; estudos que, embora mencionem trabalhadores comunitários e tecnologias digitais, abordam como tema central o desenvolvimento de softwares, aplicativos ou protocolos de estudo sem qualquer resposta à pergunta condutora.

Não houve delimitação de tempo mínimo para a recuperação dos artigos, mas como data limite estabeleceu-se o ano de 2021. Também não houve limitação em relação ao idioma de publicação dos artigos.

A busca dos artigos foi realizada por dois revisores de forma independente (RC e LS), e as divergências foram resolvidas pela consulta a uma terceira revisora (LM). Em uma primeira fase, usou-se a chave de busca para identificação dos artigos; na segunda fase, selecionaram-se os artigos após leitura dos títulos e resumos. Na terceira fase, todos os artigos selecionados foram lidos na íntegra para inclusão final, contemplando as orientações da JBI e do checklist adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (Prisma) (Joanna Briggs Institute, 2015) (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma indicando o processo de seleção dos estudos adaptado do Prisma.

Por fim, construiu-se o corpus da revisão com 63 estudos incluídos (Figura 1), com posterior organização e extração dos dados de interesse dos artigos em um formulário padrão no Excel® contendo: autor, ano, país, papel das tecnologias digitais nas práticas dos trabalhadores comunitários de saúde, condição social/de saúde objeto das tecnologias digitais, descrição da tecnologia, instrumento utilizado, método, benefícios e desafios do uso da tecnologia.

Resultados

Dos lugares, objetos, instrumentos e papéis das tecnologias digitais nas práticas dos trabalhadores comunitários de saúde

Foram mapeados 63 estudos (Figura 1) que relatam o uso das tecnologias digitais por trabalhadores comunitários de saúde em 24 países, tendo no continente africano 35 estudos, no americano, 19, e no asiático, 14. Considerando os países mais mencionados de cada continente, tem-se África do Sul, Estados Unidos e Índia, com 7, 9 e 9 relatos, respectivamente. Não houve achados para Europa, Oceania e Antártida (Figura 2).

Figura 2
Distribuição por continente das experiências mapeadas e número de estudos por países.

No Quadro 2, observa-se que a saúde materna (21) foi a condição de saúde mais abordada como foco das tecnologias digitais pelos trabalhadores comunitários nos territórios, seguido da saúde infantil (19) e das condições crônicas (15). O celular ou smartphone como principal recurso tecnológico (48), e as funções das tecnologias digitais nas práticas desses trabalhadores apresentam destaque para coleta de dados (33), apoio às decisões clínicas durante as visitas domiciliares (22) ou de telemonitoramento dos usuários do sistema de saúde (18).

Quadro 2
Caracterização do objeto, instrumento e papel das tecnologias digitais nas práticas dos trabalhadores comunitários de saúde.

Os benefícios sobre o uso das tecnologias digitais nas práticas dos trabalhadores comunitários de saúde têm apontado vantagens para o sistema de saúde e para esses trabalhadores.

Há uma convergência de que o uso das ferramentas tecnológicas implica em ampliação do acesso à saúde em termos de sua cobertura universal (Schuttner et al., 2014; Ayiasi et al., 2015; Mengesha et al., 2018; Patterson et al., 2018; Shah et al., 2019; Shah et al., 2021), qualificação do cuidado territorial (Palazuelos et al., 2013; Ayiasi et al., 2015; Bonnell et al., 2018; Laktabai et al., 2018; Arnaert et al., 2019; Schaeffer et al., 2019; Zakus et al., 2019; Kenna et al., 2019), descentralização de diagnósticos ou exames (Gaziano et al., 2015; Laktabai et al., 2018; Van Wyk et al., 2019; Schaeffer et al., 2019; Shinn et al., 2019; Adam et al., 2021; Vaughan et al., 2021), prevenção de desfechos adversos na gestação, em doenças agudas ou crônicas (Atnafu et al., 2015; Shah et al., 2019; Duffy et al., 2020; David, Utulu e Tyndall, 2021; Vaughan et al., 2021) e uma solução a curto prazo para a escassez da força de trabalho na saúde (Laktabai et al., 2018; Patterson et al., 2018; Willems et al., 2021).

Para a categoria profissional nos diferentes países de sua atuação, observa-se ganho de maior legitimidade e reconhecimento do trabalho entre a equipe de saúde, ou no território, no qual a comunidade passa a respeitar e ter maior confiança na atuação desses trabalhadores pelo fato de usarem algum recurso tecnológico (Palazuelos et al., 2013; Gaziano et al., 2015; Thondoo et al., 2015; Ayiasi et al., 2015; Tiase et al., 2017; Coetzee et al., 2018; Steege et al., 2018; Ilozumba et al., 2018; Namatovu e Kanjo, 2019; Gopalakrishnan et al., 2020; Venkataraghavan et al., 2021; Kinshella et al., 2021; Janevic et al., 2021; Adam et al., 2021; David, Utulu e Tyndall, 2021). Além de haver maior visibilidade desse trabalho pelo fato de as mulheres possuírem um aparelho digital em comunidades onde tradicionalmente apenas homens possuíam celulares (Steege et al., 2018) (Quadro 3).

Quadro 3
Caracterização das tecnologias digitais incorporadas nas atividades de trabalhadores comunitários de saúde

De modo geral, na gestão desse trabalho cita-se um aumento ou aperfeiçoamento na supervisão e colaboração entre trabalhadores comunitários de saúde e outros profissionais da equipe de saúde (Neupane et al., 2014; Thondoo et al., 2015; Braun et al., 2016; Pimmer et al., 2017; Steege et al., 2018; Laktabai et al., 2018; Ilozumba et al., 2018; Arnaert et al., 2019; Namatovu e Kanjo, 2019; Shah et al., 2019); um aumento também da organização, precisão ou agilidade das informações coletadas (Palazuelos et al., 2013; Iyengar e Florez-Arango, 2013; Neupane et al., 2014; Surka et al., 2014; Brown e Mickelson, 2016; Schoen et al., 2017; Pimmer et al., 2017; Schaeffer et al., 2019; Hackett et al., 2019; Venkataraghavan et al., 2021); a diminuição dos custos de viagens aos centros de saúde devido ao fato de que trabalhadores comunitários passaram a poder descarregar os relatórios do território em suas casas com uso da internet (Thondoo et al., 2015); a economia de tempo por evitarem visitas domiciliares presenciais desnecessárias e passarem a usar aplicativos ou até ligações telefônicas (Zaidi et al., 2020; Venkataraghavan et al., 2021); a redução da carga de trabalho (Iyengar e Florez-Arango, 2013; Bhardwaj et al., 2020; Adam et al., 2021) e o aumento da satisfação pelo trabalho (Iyengar e Florez-Arango, 2013; Braun et al., 2016) (Quadro 3).

Sobre a teleducação tanto para a formação dos trabalhadores comunitários de saúde quanto para a educação em saúde da própria comunidade, mediada por videoconferências, vídeos ou outros recursos, aponta-se que, independentemente da estratégia virtual empregada, foi possível um ganho na aquisição dos conhecimentos, influenciando nos resultados do trabalho, tanto na organização, no engajamento, na educação em saúde como na tomada de decisão (Melo et al., 2010; Conceição e Barreira-Nielsen, 2014; Heisler et al., 2014; Prentiss et al., 2018; Coetzee et al., 2018; Hackett et al., 2019; Keegan et al., 2020; Gopalakrishnan et al., 2020; Suryavanshi et al., 2020; Ward et al., 2020; Janevic et al., 2021; Hicks et al., 2021; Willems et al., 2021; Vaughan et al., 2021). Quando observada como recurso de treinamento das ACSs, alguns estudos mencionaram que haveria qualidade similar entre a tecnologia aplicada e o método tradicional de formação (O’donovan et al., 2018; Kenna et al., 2019; Vaughan et al., 2020) (Quadro 3).

Nos estudos em que os trabalhadores comunitários de saúde utilizaram aplicativos para auxílio na decisão clínica durante as visitas domiciliares, como triagem de pacientes, é relatado tanto economia financeira para diagnósticos (Gaziano et al., 2015) como economia de tempo em relação às fichas de estratificação de risco clínico em papel (Palazuelos et al., 2013; Surka et al., 2014; Schaeffer et al., 2019; Hackett et al., 2019). Há menções também a um aumento nas taxas de encaminhamento de pacientes (Shinn et al., 2019; Zakus et al., 2019; Van Wyk et al., 2019), e a melhor adesão ao tratamento ou medicação (Vedanthan et al., 2019; Duffy et al., 2020; David, Utulu e Tyndall, 2021) (Quadro 3).

Os desafios (Quadro 3) para o uso das tecnologias digitais em relação às práticas dos trabalhadores comunitários de saúde podem ser explicados pela limitada alfabetização digital destas profissionais ou da comunidade, o que se impõe como uma das principais barreiras para o seu uso no território (Schuttner et al., 2014; Pimmer et al., 2017; Venkataraghavan et al., 2021), associada à baixa conectividade ou qualidade da internet (Atnafu et al., 2015; Medhanyie et al., 2015; Biemba et al., 2017; Ilozumba et al., 2018; Mannik et al., 2018; Mengesha et al., 2018; Gopalakrishnan et al., 2020; Venkataraghavan et al., 2021; David, Utulu e Tyndall, 2021) ou ao escasso fornecimento de energia elétrica para recarregar os aparelhos, sobretudo quando se pensa no trabalho em áreas remotas (Schuttner et al., 2014; Atnafu et al., 2015; Medhanyie et al., 2015; Braun et al., 2016; Mannik et al., 2018; Mengesha et al., 2018; Gopalakrishnan et al., 2020).

Os idiomas de configuração dos celulares, tablets ou aplicativos, quando não adaptados à língua local, também se apresentam como uma dificuldade para o uso deste recurso (Thondoo et al., 2015; Medhanyie et al., 2015); assim como os elevados custos financeiros da rede telefônica ou de dados móveis da internet quando não subsidiado pelo governo, implicando em pagamento direto pelos trabalhadores (Steege et al., 2018; Zaidi et al., 2020); pouca segurança no território, associado ao medo de roubo dos aparelhos (Coetzee et al., 2018); a baixa motivação (Musabyimana et al., 2018), a insuficiente escolaridade ou formação dos trabalhadores comunitários (Musabyimana et al., 2018; Bhardwaj et al., 2020; Venkataraghavan et al., 2021; Kinshella et al., 2021; Shah et al., 2021); insuficiente colaboração de outros profissionais para a realização do trabalho (Ayiasi et al., 2015); e o uso intensivo da tecnologia menosprezando a interação física são outros desafios que emergiram nos estudos (Schoen et al., 2017). Salienta-se que surgiram estudos mencionando um aumento da carga de trabalho promovido pelas tecnologias digitais, divergindo de outras experiências que citam sua redução (Steege et al., 2018; Mengesha et al., 2018; Namatovu e Kanjo, 2019; Shah et al., 2019; Hicks et al., 2021) (Quadro 3).

Discussão

Os estudos aqui mapeados sobre o uso de tecnologias digitais por trabalhadores comunitários de saúde se concentram em países de baixa e média renda. Essa característica demonstra a importância destes trabalhadores para o fortalecimento dos sistemas de saúde, principalmente no que diz respeito à garantia do direito à saúde para o conjunto das populações.

Nesse sentido, vale destacar a ação desses profissionais diante do déficit significativo da força de trabalho em saúde no mundo, previsto para 80 milhões de profissionais até 2030, cenário que pode impactar as condições de vida sobretudo dos países da África e Ásia (Tulenko et al., 2013; Méllo, Santos e Albuquerque, 2022).

O objeto da saúde com maior porcentagem de relatos no uso de tecnologias digitais se concentra em aspectos da saúde materno-infantil, sendo inclusive um campo de reconhecida atuação dos trabalhadores comunitários de saúde (Hodgins et al., 2021). Entretanto, nos EUA, país de alta renda, o trabalho desses profissionais se concentrou na orientação às doenças crônicas não transmissíveis, o que está de acordo com outras análises (Méllo, Santos e Albuquerque, 2022; 2023).

Sobre as práticas dos trabalhadores comunitários de saúde, observa-se que as tecnologias digitais são usadas no auxílio das funções típicas dessa profissão, como coordenação do cuidado, aconselhamento em saúde, apoio social, avaliação de saúde, gerenciamento de casos e medicamentos, atendimento clínico em áreas remotas, acompanhamento, administração e educação em saúde (Hartzler et al., 2018; Glenton, Javadi e Perry, 2021).

As tecnologias digitais na saúde parecem articular um novo processo técnico nesta profissão, mediante a relação com as tecnologias médicas e informacionais, configurando novas formas desses trabalhadores comunitários se constituírem no mundo, pensando o local e o global de uma forma instantânea e conectada. No entanto, a forma como o cuidado é prestado na APS tem características específicas e se dá com o encontro presencial. Com essas tecnologias digitais, porém, transmuta-se para outras possibilidades, como o encontro virtual, mediado por aplicativos e redes sociais, emergindo um novo paradigma de cuidado (Rezende et al., 2010; Caetano et al., 2020).

Estudos sobre a realidade brasileira destacam que as visitas domiciliares presenciais se constituem como uma das principais atividades do trabalho das ACSs na APS, sendo extensamente conhecida sua contribuição para o suporte social, troca subjetiva de sentidos e experiências, o que produz formas potentes de cuidado e acesso à saúde. Aqui, o encontro se torna um lugar privilegiado para a escuta, diálogo e interpretação das necessidades das famílias e comunidades, e o estabelecimento de pontes para as demandas da população nos serviços de saúde ou sociais (Alonso, Béguin e Duarte, 2021; Nepomuceno et al., 2021; Costa et al., 2022). No entanto, um alerta se faz com base no estudo de Schoen et al., (2017), no qual o uso intensivo e acrítico da tecnologia pelos trabalhadores comunitários pode secundarizar a interação ACS-paciente, com prejuízos importantes, uma vez que “a maneira com que a interação é estruturada vai refletir em como os profissionais são capazes de construir vínculos com os usuários” (Martins e Carbonai, 2022, p. 6).

Na gestão do trabalho desses profissionais, as tecnologias digitais se apresentam como um vetor importante de qualificação, diversificação de atividades desenvolvidas e formação da categoria em larga escala. Tal estratégia, por outro lado, possibilita contornos aos problemas advindos dos escassos recursos materiais e financeiros para países de baixa renda nos seus sistemas de saúde (Tulenko et al., 2013); por outro lado, reforça a dualidade entre cobertura universal e sistemas universais em saúde (Méllo, Albuquerque e Santos, 2022).

Não obstante, os estudos apontam para um aumento da supervisão e controle direto dos trabalhadores comunitários de saúde (Neupane et al., 2014; Thondoo et al., 2015; Steege et al., 2018; Ilozumba et al., 2018; Namatovu e Kanjo, 2019; Shah et al., 2019), o que reflete na forma como este trabalho é executado. Ao criar valor para atribuições vinculadas aos recursos tecnológicos, atrelados a maior remuneração pelo alcance de metas e indicadores, tendencia-se sua maior execução, desconsiderando aspectos qualitativos deste trabalho (Morosini e Fonseca, 2018; Nogueira, 2019).

Ainda sobre esse aspecto, Antunes (2021, p. 15) alerta para uma nova dependência dos trabalhadores na era digital “na qual celulares, tablets, smartphones e assemelhados cada vez mais se converterão em importantes instrumentos de controle, supervisão e comando”. Nesse sentido, podendo reduzir a autonomia e criatividade dos trabalhadores comunitários de saúde, reforçando a divisão sociotécnica do trabalho.

Por outro lado, há indícios de que a tecnologia proporcionou aumento da visibilidade dos trabalhadores comunitários de saúde na comunidade, o que não significou apenas ser visto, mas uma forma de ser e estar no mundo no qual sua existência é reconhecida e legitimada (Palazuelos et al., 2013; Gaziano et al., 2015; Thondoo et al., 2015; Ayiasi et al., 2015; Tiase et al., 2017; Coetzee et al., 2018; Steege et al., 2018; Ilozumba et al., 2018; Namatovu e Kanjo, 2019; Gopalakrishnan et al., 2020; Venkataraghavan et al., 2021; Kinshella et al., 2021; Janevic et al., 2021; Adam et al., 2021; David, Utulu e Tyndall, 2021). O que se espera como resultado são relações de poder alteradas entre trabalhadores, comunidade e Estado, com afirmação do valor e da identidade profissional (Romagnoli e Samudio, 2017; Namatovu e Kanjo, 2019).

Os desafios que emergem do emprego da tecnologia pelos trabalhadores comunitários, como treinamento inadequado, baixa formação ou motivação, baixa motivação profissional e insuficiência de recursos são bem descritos na literatura que aborda as estratégias governamentais de gestão deste trabalho (Glenton, Javadi e Perry, 2021). No entanto, algumas barreiras para a execução do trabalho com as tecnologias digitais parecem surgir, especificamente sobre a qualidade, acesso e conectividade da internet, fornecimento de energia elétrica e alfabetização digital, tanto desses trabalhadores quanto da população que receberá o serviço. Assim, a conjuntura que se apresenta intensifica iniquidades em saúde, pela exclusão digital que se conforma (Méllo et al., 2021). Sobretudo, em se tratando da população e dos trabalhadores comunitários com mais idade, dada as evidências que discutem a associação entre o envelhecimento e os desafios para o uso de novas tecnologias de informação e comunicação (Mubarak e Suomi, 2022).

Sobre a carga de trabalho, os estudos são divergentes, ora apontando uma redução (Iyengar e Florez-Arango, 2013; Coetzee et al., 2018; Bhardwaj et al., 2020; Adam et al., 2021), ora um aumento desta carga (Steege et al., 2018; Mengesha et al., 2018; Namatovu e Kanjo, 2019; Shah et al., 2019; Hicks et al., 2021). Embora seja uma reflexão que carece de maiores análises, aponta-se para uma encruzilhada histórica. Se, por um lado, o uso de tecnologias digitais pode tornar mais eficientes os processos produtivos, reduzir seus custos e ampliar sua cobertura (Pereira e Simonetto, 2018; Venturini, Pinto e Oliveira-Neto, 2021), por outro lado, não há consenso sobre os ganhos dessa incorporação tecnológica para o cuidado em saúde e para a valorização profissional desses trabalhadores.

A emergência de novas habilidades e práticas para os trabalhadores comunitários de saúde, mediante o uso de tecnologias digitais em saúde, torna urgente pensar nos significados dessa mudança na própria constituição desses profissionais como sujeitos e trabalhadores em uma realidade de revolução tecnológica. Os caminhos postos para essa profissão por meio das transformações no mundo do trabalho apontam para as seguintes questões: a) mais que responder às necessidades de saúde, no atual ciclo do capitalismo, a revolução tecnológica poderá responder às necessidades do mercado, precarizando ainda mais estes trabalhadores, objetificando-os e tornando-os apenas mais uma fonte de extração de mais valia no mundo digital (Souza e Mendonça, 2017); ou b) seu reconhecimento ou não como profissionais indispensáveis para a reorientação do modelo de atenção à saúde, cuidado integral, territorial e comunitário (Gomes et al., 2010).

Uma pista sobre o futuro do trabalho nessa era digital, até mesmo para os trabalhadores comunitários de saúde, parece emergir nas análises críticas apontadas por Antunes (2020), pois tais tecnologias não têm a capacidade de extinguir a força de trabalho; mas parecem lhe agravar os contornos de precarização, porque envolve a classe trabalhadora em uma nova morfologia, potencializando a exploração, o controle, a repetição e a alienação.

Nesse contexto, corre-se o risco de um caminho em direção a uma mediação tecnológica apoiada em uma dupla desumanização, o indivíduo assistido é reduzido à doença que possui ou a mero consumidor de um serviço, tendo sua saúde alienada de si. E o trabalhador da saúde, por sua vez, tem sua subjetividade (sua inteligência, poder de análise, criatividade) subordinada à tecnologia (Souza, 2021, p. 7).

Por fim, conforme ainda pondera Graham e Anwar (2021), se trabalhadores podem fazer o seu trabalho baseado em informação, sem o necessário contato com o objeto do trabalho, podendo ser transmitido ao redor do mundo, então esse trabalho pode, em teoria, ser feito de qualquer lugar e por qualquer pessoa (Graham e Anwar, 2021, p. 47).

Desta forma, há que se considerar que as tecnologias digitais na saúde têm produzido ajustes que parecem ser disruptivos não apenas nas condições do trabalho, mas nas formas de produção do cuidado e contato com os usuários dos serviços de saúde.

A superação de tais desdobramentos no mundo do trabalho perpassará o estabelecimento de outras formas de analisar e responder às necessidades de saúde, cada vez mais complexas, apoiadas em bases cognitivas e racionalidades que não estejam implicadas com a exploração da força do trabalho e desenvolvimento capitalista. Que ainda mesmo em um cenário digital, com um amplo uso de tecnologias, as condições de trabalho e formação desses profissionais impulsione a sua autonomia, o fortalecimento das relações humanas e a consciência de sujeito do seu trabalho. Mas isso apenas se dará, também, a partir da luta de classes em sintonia com a luta por saúde universal (Souza, 2021).

Conclusão

Os resultados sistematizados por esta revisão corroboram com análises acerca da irreversibilidade do uso de tecnologias de informação e comunicação no mundo do trabalho. As tecnologias digitais nas práticas dos trabalhadores comunitários de saúde parecem se caracterizar como estratégia importante no desenvolvimento de ações e no cuidado em saúde.

Sobre o período de publicação dos artigos, observa-se que a busca inicial não foi realizada com a demarcação de tempo, justamente para que se pudesse identificar as primeiras publicações acerca da temática. Nesse sentido, o primeiro artigo mapeado é de 2010, com maior produção anual concentrada no ano de 2018 (13 artigos ou 20,6%), integrando a produção dos quatro anos (2018, 2019, 2020 e 2021), que reuniu 70% do total das produções. Embora tenha sido identificado um maior contingente de publicações no período mencionado e haja algumas hipóteses que justifiquem esta constatação, a exemplo do aumento do uso de tecnologias digitais no período da pandemia de Covid-19 ou do próprio avanço das tecnologias na área da saúde, evidencia-se a necessidade de maiores análises que identifiquem condições, determinantes e consequências do uso destas tecnologias na área da saúde.

Os benefícios do uso das tecnologias digitais na saúde apresentam duas perspectivas. Na primeira, há uma ampliação do acesso aos cuidados em saúde na APS, mas que necessitam de maiores estudos para compreensão dos impactos nos atributos que caracterizam esse nível de atenção, em especial longitudinalidade e vínculo. Na segunda, nota-se as mudanças no próprio trabalho dos trabalhadores comunitários de saúde com qualificação, diversificação, ampliação da formação e ganho de legitimidade da categoria.

Os desafios, por sua vez, reafirmam velhos e novos problemas, com destaque para aqueles que se constituem como específicos da nova conformação do trabalho: a limitada alfabetização digital tanto dos profissionais como da comunidade; o escasso fornecimento de energia elétrica nos territórios, que impossibilita a recarga dos aparelhos celulares ou tablets; além dos problemas de conectividade à internet.

Por outro lado, sobre a carga de trabalho que é atravessada pela tecnologia, os artigos mapeados divergem sobre seu aumento ou redução, também carecendo de maiores análises para se entender até que ponto a inserção das tecnologias digitais se constituiria como mais um fator de precarização do trabalho.

Adicionalmente, sugere-se o desenvolvimento de estudos que abordem as novas configurações desse trabalho comunitário, levando em consideração a mediação do uso de tecnologias nas dimensões de cuidado, vigilância, educação, comunicação em saúde, mobilização social e articulação intersetorial.

Por fim, formuladores de política, ao planejarem ações e serviços de saúde que têm como elemento chave trabalhadores comunitários de saúde, precisam considerar na decisão de incorporação tecnológica uma clareza das suas potencialidades no que se refere aos seguintes aspectos: acesso à saúde para populações remotas; descentralização do cuidado, constituição e fortalecimento de redes em saúde, e a possibilidade de monitoramento e formação a distância; bem como os limites que se conformam no pouco estabelecimento do vínculo territorial; acesso a equipamentos e conectividades; além dos custos associados à incorporação destas tecnologias.

Vale destacar igualmente que todo incremento tecnológico deve ser assegurado na perspectiva de qualificar as respostas de sistemas e serviços de saúde diante das necessidades de saúde das populações, principalmente em contextos nos quais as iniquidades são aprofundadas e que a complexidade dos problemas requer respostas igualmente complexas e intersetoriais.

Referências

  • Financiamento
    A pesquisa recebeu financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio de bolsa de mestrado (código de financiamento 001) concedida a Romário Correia dos Santos.
  • Apresentação prévia
    Este artigo é resultante da dissertação de mestrado intitulada Processo de trabalho das agentes comunitárias de saúde no contexto da revolução tecnológica 4.0, de autoria de Romário Correia dos Santos, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, com previsão de defesa para janeiro de 2024.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Jan 2023
  • Aceito
    03 Maio 2023
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